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As geminações vimaranenses
As geminações vimaranenses
Equipa redatorial
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A cidade-berço, conjuntamente com Maribor, na Eslováquia, partilharam em 2012 a distinção de Capital Europeia. Todavia, nomeadamente a nível Cultural, Guimarães mantém relações de amizade, intercâmbio e solidariedade com várias cidades, no contexto das geminações. De facto, num mundo cada vez mais globalizado que, em teoria, o tornaria mais pequeno, mas que, na prática, é cada vez maior na distância entre pessoas, sociedades e culturas, as geminações pretendem escutar e conhecer melhor as cidades gémeas. Com efeito, Guimarães, na esteira de Jean Barth, um dos principais fundadores do Conselho de Municípios Europeus, tem protocoladas várias geminações. De facto, na conceção do citado, visa-se e pretende-se, neste encontro dos municípios, proclamar uma associação, quer no sentido de agir e confrontar os problemas, quer em desenvolver entre eles laços de amizade cada vez mais estreitos, em especial de âmbito social, desportivo e cultural. Ora, Guimarães encontra-se geminada com várias cidades do mundo. Aliás, a cidade chegaria mesmo a organizar uma Feira das Geminações no Jardim da Alameda, em junho de 2002, para dar conta deste trabalho específico, praticamente desconhecido dos vimaranenses.
No entanto, se hoje fosse repetida a pergunta da altura, “sabe quais as cidades geminadas com Guimarães”, quantos responderiam acertadamente? Aqui ficam as respostas:
As geminações europeias
Na Europa sobressaem as geminações com as cidades francesas como Brive (1993), região de muitos emigrantes portugueses, cuja mediateca está também geminada com a Biblioteca de Guimarães, Raúl Brandão, secundando o acordo entre os municípios; e ainda Compiègue (2006/2007), a cidade de assinatura dos armistícios das guerras mundiais. Estas colaborações têm-se fundamentalmente centrado a nível cultural, sobretudo a nível do folclore, intercâmbios escolares e artísticos, feiras de livros e realizações de exposições. Porém, as raízes históricas são também e por vezes um traço de união com cidades francesas, como é o caso de Dijon (2017). Com efeito, nesta cidade gaulesa, capital da região vinhateira da Borgonha, nasceu o conde D. Henrique, pai do nosso primeiro rei. Além disso, ambas as cidades são Património Mundial da Humanidade
e têm em comum a preservação do ambiente como objetivo de partilha. Porém, nas geminações francesas conta-se ainda Moutluçon (2016).

Assinatura de geminação com Dijon, entre Domingos Bragança e Sladana Zivkovic, responsável autárquica local, na Salle des États da Mairie de Dijon, em 31 de outubro de 2015
Kaiserslautern (2000), no sul do Estado da Renânia Palatinado, na Alemanha, e Igualada (1995), na Província de Barcelona, na Comunidade autónoma da Catalunha, Espanha e Tacoronte (1997), nas Ilhas Canárias, são outras geminações europeias destacadas. Entre estas geminações europeias, a cidade alemã possui, no Parque da Cidade de Guimarães, no denominado Lago Cidade de kaiserslautern, a escultura “Peixes” representativa desta cidade; e junto desta área, a Praceta Cidade de Kaiserslautern. Em contrapartida, a Praça Cidade de Guimarães marca presença na cidade alemã, junto da estação ferroviária, anterior “Porta da Cidade”. Para esta geminação terá certamente contribuído a presença de muitos emigrantes portugueses na cidade alemã e as relações da Universidade do Minho com instituições de ensino superior daquela urbe germânica, que teria sofrido violentamente com os conflitos históricos das invasões napoleónicas e com os bombardeamentos em massa, no decurso da II Grande Guerra. Deste modo, para além de encontros sociais, designadamente de nadadores, jovens e escuteiros, as

Escultura “Peixes”, no Lago Cidade de Kaiserslautern – Parque da Cidade - representativa do símbolo da cidade de Kaiserslautern. Os peixes foram decorados pelo arquiteto Vimaranense Vasconcelos

representações teatrais e musicais têm também ocorrido como permutas culturais predominantes. Por sua vez, com Igualada, além dos intercâmbios económicos, são de destacar as trocas culturais nos domínios da música, teatro, dança, bem como jornadas, conferências e seminários culturais. Curiosamente, uma cidade cuja economia se centra na indústria do Couro, tal como Guimarães em tempos idos.

Município de Igualada Perspetiva de Tacaronte. Fonte: Wikipédia

Tacoronte na província se santa Cruz de Tenerife, é outro caso de geminação histórica. Com efeito, esta cidade espanhola, situada nas Ilhas Canárias, foi fundada no século XV pelo vimaranense Sebastião Machado que aí se terá radicado em 1496. Terra de turismo e bons vinhos, como o Acentejo Tacoronte, a cidade motivou visitas oficiais e várias trocas culturais no âmbito do folclore e teatro, bem como exposições diversas.

As geminações americanas e africanas
Também na América, a cidade vimaranense assinaria protocolos de geminação.
Assim, Londrina (1987), cidade brasileira do Paraná, da soja e do café, seria uma das primeiras geminações celebradas. Em Guimarães, a geminação com a cidade do Paraná brasileiro encontra-se memoriada na Praça Cidade Londrina, cuja placa de mármore preto grava e recorda que “não há distância que separe a alma luso-brasileira”. De facto, e parafraseando a “Mensagem” pesso-
“Espaço e Movimento”. Escultura oferecida pelo município de ana que “Deus quis que a Terra fosse toda uma/Que o Londrina, da autoria do escultor Zanzal Mattar, em aço, com 1,90 m de altura - in GuimaraesDigital, 27/07/2022 mar unisse, já não separasse”, a união por geminação


estender-se-ia ainda ao Rio de Janeiro (1999), a cidade maravilhosa, que foi capital do Brasil até 1960 e do império português, na época das invasões napoleónicas. Porém, uma cooperação que não só se tem particularmente desenvolvido no âmbito da UCCLA – União das Cidades Capitais Luso-Africanas-Americanas, como também se tem saldado na troca de experiências entre universidades, palestras e conferências, bem como através de exposições de pintura. Por sua vez, no sudoeste do Uruguai, é de assinalar a geminação com a Colónia de Sacramento (2001/2002), na foz do rio Prata. Uma situação decorrente da visita do Presidente da República uruguaio a Guimarães, em 2000, resultante do facto da Colónia de Sacramento ter sido fundada pelo português Manuel Lobo, em 1680. Uma cidade sita numa área predominantemente agrícola e de criação de gado bovino e caprino, que conserva os seus valores patrimoniais e legados e que por isso foi também declarada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. Acrescente-se que esta geminação está contemplada na toponímica de Guimarães, na freguesia da Costa e nas imediações do Parque da Cidade. Concomitantemente, as geminações vimaranenses aportariam também a África. De facto, o distrito de Me-Zéchi (1989), na ilha de S. Tomé e República de São Tomé e Príncipe, que seria habitada por portugueses a partir de 1470 e que ficaria sob domínio luso até 1975, é uma das geminações elencadas. Uma geminação que assenta, acima de tudo, no apoio financeiro e técnico e no envio de materiais. Ainda em África, saliente-se outrossim a Ribeira Grande de Santiago (2007), na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, cidade que vive da agricultura, pecuária, pesca e do turismo emergente.
Colónia do Sacramento, Uruguai: Rua do Comércio. Fonte: Wikipedia Perspetiva da Cidade Velha, Sede do Concelho com o mesmo nome, em Cabo Verde.

Recorde-se que a antiga cidade da Ribeira Grande foi a primeira cidade construída por europeus na África Subsariana em 1462 e é o berço da nação Cabo-Verdiana; cidade-berço, tal como Guimarães. E por falar em berços: sabia que Zahovic, ex-centro-campista do Vitória, nas épocas de 93-96, veio de Maribor (a cidade parceira de Guimarães na CEC 2012) e que seu filho, também futebolista, tem Guimarães como seu berço?
Coincidências …

No entanto, além destas geminações, Guimarães subscreveu protocolos de cooperação com Kavaderci, na Macedónia (2006), Tourcoing, na França (1997) e Chapada dos Guimarães (2021), uma das sete Chapadas brasileiras, situada no Estado do Mato Grosso, no Brasil. O município da Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, no Brasil, é um exemplo concreto de mais uma “conquista”. De facto, consta que, por volta de 1769, o Mairie de Tourcoing Fonte: Wikipédia
Capitão General Luiz Pinto de Sousa Coutinho, visconde de Balsemão e governador de Mato Grosso, terá aceitado a sugestão dos portugueses naturais de Guimarães de denominar como Santa Ana de Chapada dos Guimarães a cidade que surgiria a partir do aldeamento dos índios Chiquitos, que fora administrada pelo padre jesuíta Estevão de Castro, posteriormente expulso pelo Marquês de Pombal. Porém, outras fontes garantem que o nome Guimarães se deveria a uma homenagem ao conde de Guimarães, por imposição do próprio visconde de Balsemão. Acrescente-se que, neste mesmo município, se situa também o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, famoso pelas suas cachoeiras, cavernas e lagoas.

Igreja de N. S. de Santana, no centro da cidade (Chapada dos Guimarães).
