Opiniões em função de adversidades climáticas, da mecanização da colheita – quando ela implica no arranquio e pisoteamento das soqueiras e na compactação do solo –, da expansão para ambientes de produção mais restritivos e da baixa capacidade de investimento no campo. Isso culminou em canaviais velhos, rendimento agrícola abaixo do potencial, perda de valor dos ativos e aumento sistemático dos custos de produção do setor sucroenergético brasileiro. Nesse contexto, qual a relação entre a produtividade e o custo de produção da matéria-prima? A matéria-prima, conforme estudos do Pecege, representa cerca de 70,85% do custo agroindustrial total, isto é, a área agrícola respondeu, em média, por 70,85% dos custos para a produção dos produtos finais (açúcar e etanol). Além disso, em torno de 86%, 75% e 50% dos custos são fixos, respectivamente, nas áreas agrícola, industrial e administrativa. Dessa forma, fica evidente que a estrutura de custos do setor sucroenergético brasileiro é predominantemente fixa e agrícola. Se a maior parcela dos custos é fixa e o segmento vem gerando menos produto por área (especificamente, tonelada de ATR por hectare), há um aumento do custo fixo médio, o que explica uma parcela da deterioração dos resultados das usinas brasileiras. O custo caixa unitário reflete alavancagem operacional. Dessa maneira, uma menor oferta de matéria-prima – em função da redução da ‑produtividade agrícola – não contribui para uma maior diluição dos custos fixos, por meio da economia de escala. Nesse caso, há uma queda no nível de utilização da capacidade instalada (NUCI), limitando a diluição dos custos fixos e, por conseguinte, o potencial de geração de caixa das usinas sucroenergéticas, majorando os custos unitários de produção, tal como se verificou na última década. A Tabela em destaque apresenta a evolução do custo de produção da cana-de-açúcar culti-
vada pelas próprias usinas na região Centro-Sul, ao longo das últimas dez safras – entre 2011/2012 a 2020/2021. O custo nominal total de produção de cana-de-açúcar, na região Centro-Sul do Brasil, aumentou 44,26% entre as safras 2011/2012 e 2020/2021. Por outro lado, houve uma forte redução do custo de produção da cana-de-açúcar, quando mensurado em dólares, em função da desvalorização cambial ocorrida no período. A moeda brasileira passou por um processo de desvalorização cambial, saltando de R$ 1,70/US$ na safra 2011/2012 para R$ 5,41/US$ na 2020/2021. Isso contribuiu para um aumento da competitividade do Brasil no mercado internacional, mesmo que, em termos de moeda local (reais), tenham sido observados aumentos nominais dos custos de produção. Avaliando especificamente o período mais recente, a combinação de efeitos econômicos da pandemia, como a maior aversão ao risco, baixas taxas de juros e piora do quadro fiscal brasileiro, levaram a uma grande saída de divisas, enfraquecendo a moeda brasileira, a qual sofreu uma desvalorização em relação ao dólar de mais de 30% em 2020. Diante dessa conjuntura, direta e indiretamente, 54,47% do custo caixa agrícola das usinas sucroenergéticas é afetado pela taxa de câmbio, através de 3 (três) grandes vetores, a saber: 1. preço dos insumos agrícolas (fertilizantes, corretivos e defensivos); 2. preço do diesel; e 3. preço do ATR, conforme apurado pelo Consecana/SP. Este último é afetado indiretamente pela taxa de câmbio graças aos preços do açúcar para o mercado externo e do etanol carburante, dada a política de precificação da gasolina adotada pela Petrobrás, que reajusta sua gasolina não apenas pela variação do petróleo no mercado mundial, mas também pela cotação da moeda americana. Nesse cenário, a forte desvalorização do real frente ao dólar combinada com os movimentos ;
INDICADORES TÉCNICOS E CUSTO DE PRODUÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR NA REGIÃO CENTRO-SUL DO BRASIL ÚLTIMOS DEZ ANOS (2011/2012 A 2020/2021) Indicador (Unidade) Produtividade Agrícola (t/ha) Qualidade da Matéria-Prima (kg de ATR/t)
2011/ 2012 68,70
2012/ 2013 74,40
2013/ 2014 79,60
2014/ 2015 73,80
2015/ 2016 84,20
2016/ 2017 78,10
2017/ 2018 76,39
2018/ 2019 74,58
2019/ 2020 76,40
2020/ 2021 77,90
137,54
135,57
133,38
136,45
130,51
133,03
136,60
137,88
138,50
144,72
Toneladas de ATR/hectare (t ATR/ha)
9,45
10,09
10,62
10,07
10,99
10,39
10,43
10,28
10,58
11,27
Idade Média (anos)
3,60
3,55
3,40
3,30
3,31
3,49
3,73
3,78
3,77
3,60
0,4940
0,4753
0,4572
0,4763
0,5499
0,6839
0,5901
0,5826
0,6579
0,7783
Preço do ATR (R$/kg de ATR) Taxa de Câmbio (R$/USD)
1,700
2,012
2,250
2,478
3,593
3,298
3,217
3,786
4,117
5,410
Custo de Produção da Cana-de-Açúcar (R$/t) Custo de Produção da Cana-de-Açúcar (US$/t)
77,21 45,42
80,57 40,05
81,24 36,11
89,03 35,93
92,65 25,78
96,84 29,36
108,12 33,61
110,70 29,24
111,82 27,16
111,39 20,59
Nota: Fonte Pecege 1. Média da taxa de câmbio comercial para venda, divulgada pelo BACEN, durante o período de safra (de abril do ano t a março de t+1). 2. Valores oriundos dos levantamentos de custos conduzidos pelo PECEGE no âmbito do Projeto “Compara Usinas”. * https://radarsucroenergetico.com
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