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Luiz Silvestre Gomes Coelho, Sucden

a flexibilidade e a capacidade brasileira

Na maioria das vezes que somos convidados a apresentar nossa visão de curto e médio prazos sobre o mercado mundial de açúcar, nós, analistas, costumamos nos concentrar na oferta nos principais países produtores e exportadores e analisamos o consumo de forma generalizada. É muito comum nos depararmos com afirmações do tipo: “para o próximo quinquênio, o consumo deve continuar crescendo, à razão de aproximadamente um ponto e alguns décimos percentuais ao ano”.

Considerando que a produção e os excedentes exportáveis estão concentrados em poucos países, que alguns deles são praticantes do modelo de economia planificada, que o consumo está pulverizado ao redor do globo e, consequentemente, muito difícil de ser quantificado, ainda mais quando se tenta projetar os números do setor industrial e do varejo, é natural que tenhamos essa postura.

Contudo essa questão me intriga bastante e, mesmo ciente do risco de incorrer em análises equivocadas, resolvi tentar divagar sobre o tema com uma abordagem fora do convencional.

Em seu livro Factfulness - O hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos, Hans Rosling nos ensina, através de estatísticas compiladas pelo Banco Mundial e pelas Nações Unidas, a enxergar o mundo de uma forma menos dramática e mais positiva. Um dos dados que mais surpreende a maioria das plateias de suas apresentações mundo afora é que, ao longo dos últimos 20 anos, a proporção da população global vivendo em pobreza extrema caiu pela metade.

Basicamente, ele demonstra que, ao dividirmos o mundo em duas categorias, sejam elas ricos e pobres ou desenvolvidos e em desenvolvimento, distorcemos completamente todas as proporções globais na cabeça das pessoas.

Na análise do autor, a maioria das pessoas (cerca de 75% da humanidade) não vive em países de baixa renda nem em países de alta renda, mas em países de renda média. Juntando-se os países de média e alta rendas, temos 91% da humanidade, com a maioria integrada ao mercado global e com condições de vida decente.

Se aplicarmos esses dados a dois dos países que têm participação representativa no mercado de açúcar, vemos que, enquanto, em 1997, 42% da população da Índia e da China viviam em extrema pobreza, em 2017, esse percentual caiu para 12% na Índia e para impressionantes 0,7% na China. Só nesses dois países, tivemos 770 milhões de pessoas saindo, nos últimos 20 anos, das condições de extrema pobreza.

Normalmente, associada a essa primeira melhora da renda, está a demanda por açúcar e por caloria. Isso provavelmente explica o fato de a China ter se tornado, nos últimos anos, o maior importador de açúcar brasileiro, e tudo indica que esse processo de melhores condições de vida deve continuar, apesar, infelizmente, do retrocesso causado por uma pandemia de consequências tristes e desastrosas. O autor chama também nossa atenção para o crescimento da população mundial nos próximos anos. De forma aproximada, ele cria um código PIN para o mundo 1-1-1-4, indicando que, atualmente, temos cerca de 1 bilhão de habitantes nas Américas, 1 bilhão na Europa, 1 bilhão na África e 4 bilhões na Ásia.

Atualmente temos, de forma aproximada, uma população assim distribuída: 1 bilhão nas Américas, 1 bilhão na Europa, 1 bilhão na África e 4 bilhões na Ásia. "

Luiz Silvestre Gomes Coelho

Trader da Sucden do Brasil

Segundo as projeções da ONU por ele citadas, no final deste século, esse código PIN passará a ser 1-1-4-5, ou seja, 3 bilhões de pessoas a mais na África e 1 bilhão a mais na Ásia. “Mais de 80% da população mundial viverá na África e na Ásia. ”

Indo um pouco além, se as rendas asiáticas e africanas mantiverem a atual expansão, o centro de gravidade do mercado global mudará durante os próximos 20 anos do Atlântico para o oceano Índico. Estima-se que, a partir de 2040, tenhamos mais 2 bilhões de pessoas com maior consumo de alimentos, energia elétrica estável, saneamento básico e com condições até de adquirir uma motocicleta ou um carro popular.

Porém não podemos esquecer que essa melhora nas condições de vida gera, em contrapartida, aumento nas emissões de CO2. Embora suas emissões per capita ainda sejam menores, China e Índia, por exemplo, já emitem mais dióxido de carbono que Estados Unidos e Alemanha, respectivamente. Em outras palavras, esses dois gigantes mundiais também precisarão encontrar urgentemente soluções para as questões ambientais, principalmente para suas grandes metrópoles, onde a péssima condição do ar está causando muitas mortes.

Nesse contexto de aumento de demanda por alimentos e por energia limpa, não existe outro país tão bem posicionado para suprir as necessidades do mundo quanto o Brasil. Qual país pode, por livre arbítrio, colocar ou retirar, em um único ano, 12 milhões de toneladas de açúcar no mercado global de açúcar? Qual país tem uma matriz energética tão limpa quanto a nossa, fortalecida por uma geração de energia a partir da biomassa sem precedentes no mundo? Qual país gerador de excedentes significativos de açúcar exportável tem padrões de ESG e um programa de geração de créditos de carbono tão desenvolvidos?

A avaliação que faço acerca das perspectivas do mercado sucroalcooleiro mundial, no curto e no médio prazo, é que a demanda vai continuar crescendo e que, dificilmente, outro player terá condições de competir com a nossa indústria.

Temos inúmeros problemas internos a serem vencidos (políticos, fiscais, trabalhistas, etc.), mas também temos recursos naturais, tecnológicos e financeiros que nos colocam na vanguarda da produção de açúcar e etanol e, se continuarmos aumentando nossa eficiência, dificilmente vamos perder essa posição.

Por último, considero que o setor sucroenergético, tão vitorioso, carece da implementação de um projeto de marketing, capaz de disseminar interna e internacionalmente a valiosa contribuição que a atividade vem desempenhando nos campos tecnológico, socioeconômico e ambiental. n

tendências dos preços do açúcar e do etanol

Após um ano de crise pandêmica e econômica global, a qual desencadeou a maior queda anual em demanda de combustíveis já vista na história recente, os mercados iniciaram 2021 buscando alicerces e parâmetros fundamentalistas para pautarem suas estratégias em um ano ainda de muitas incertezas.

Para o setor sucroenergético do Brasil, alguns fatores macroeconômicos, como a forte depreciação do real perante o dólar americano, a queda da inflação global e a busca por alocações em índices de commodities pelos grandes fundos de investimentos, foram direcionadores para a alta na remuneração das usinas, mesmo em um ano de retração econômica.

Sob a óptica dos fundamentos de mercado, a forte queda na produção de açúcar nos países asiáticos abriu espaço para que o Brasil ampliasse a sua produção de açúcar em quase 12 milhões de toneladas na safra 2020-2021, encerrada no último dia 31 de março − uma alta de 43,73% no ano, em um cenário de precificação média 40% superior à safra 2019-2020.

Traduzindo as variações anteriores e com base nos fechamentos do primeiro vencimento do contrato futuro ICE NY11, o açúcar exportado do Brasil na safra 2020-2021 teve um preço médio de 13.51 cents/lb, o que se traduziu em um preço médio de R$ 1.605/tonelada métrica (mt), aplicando-se os fechamentos cambiais diários.

Durante toda a safra 2020-2021, os produtores do Centro-Sul (CS) do Brasil foram financeiramente encorajados a maximizar a produção e a exportação de açúcar, o qual gerou uma remuneração média de R$ 300/mt acima do equivalente a remuneração obtida pela venda do etanol hidratado no mercado doméstico spot.

Tal perspectiva é fundamental para balizar a narrativa que explica a maior remuneração obtida pela venda do etanol combustível no mercado doméstico, mesmo em um ano de forte retração na demanda de combustíveis do ciclo Otto.

apesar do cenário de fortes incertezas sanitárias, políticas e econômicas com as quais o Brasil irá se defrontar em 2021, para o mercado de açúcar e etanol, os fundamentos e o cenário macroeconômico tendem a assegurar remunerações médias acima das observadas nos últimos anos. "

Nicolle Alves Monteiro de Castro

Analista Sênior da S&P Global Platts

Ao passo que a venda de etanol hidratado reportado pelas usinas do CS na safra 2020-2021 expressaram uma queda de 14,25% em relação à safra anterior, o volume total produzido no mesmo período caiu 11,31%, neutralizando parte do superavit gerado pela retração de consumo de combustíveis. Além disso, as vendas de etanol anidro reportadas pelas usinas no acumulado da safra tiveram uma ligeira queda de 0,97%, e a produção total caiu 2,56%, desencadeando, em meados de setembro, uma forte corrida no mercado interno pela aquisição do etanol anidro no mercado spot.

De acordo com dados da S&P Global Platts, o prêmio médio do etanol anidro sobre o etanol hidratado no mercado spot do CS do País, no ano safra 2020-2021, foi, em média, de 14,3%, o recorde para essa avaliação desde que a empresa iniciou a pesquisa em 2014.

Para fins da base de cálculo acima, os tributos de ICMS e PIS e Cofins foram excluídos.

Pela óptica macroecônomica, a forte depreciação do real no ano de 2020 e o retorno da tarifa de importação sobre o etanol não originado em países membros do Mercosul também tiveram um peso significativo para o maior prêmio do etanol anidro, já que a arbitragem para importar o biocombustível do país americano permaneceu fechada na quase totalidade do período safra 2020-2021.

Cálculos da Platts publicados no último dia 16 de abril mostravam que o custo para importar etanol anidro originado na Costa do Golfo Americano e colocado no porto de Suape era de R$4.891/m³, o que, no mesmo dia, representava uma arbitragem fechada em mais de R$1.700/ m³ quando comparado ao benchmark da região, Platts etanol anidro DAP Suape.

Mesmo em um cenário de ainda difícil previsibilidade quanto à demanda de combustíveis no Brasil e no mundo – majoritariamente decorrentes da crise financeira e mudanças no compartamento das empresas quanto à aplicação e à extensão do modelo de home office –, os panoramas fundamentalistas para o mercado de açúcar e etanol do CS do Brasil permanecem altistas na safra 2021-2022, a qual teve início oficial em 1° de abril.

Já é consenso entre os grandes produtores que a escassez hídrica observada desde abril de 2020 irá gerar um impacto negativo no volume total de cana moída na região. Enquanto, no início de março, o mercado operava com uma projeção de 590 milhões de toneladas para a safra 2021-2022, as últimas atualizações apontam para um número mais próximo de 570 milhões de toneladas.

Participantes do mercado estimam que, mesmo com um menor volume de cana a ser moída, o volume total de produção de açúcar deve permanecer estável, na casa dos 35 milhões de toneladas, sugerindo, portanto, que a forte retração seja sentida na produção de etanol.

No primeiro cenário base, ou seja, com uma cana total de 590 milhões de toneladas, os dados da Platts Analytics apontavam para uma produção total de etanol de cana de 25,8 bilhões de litros, uma queda de 2 bilhões comparado à safra anterior. Essa redução seria parcialmente neutralizada pela maior produção de etanol de milho, estimada em 3,3 bilhões de litros, alta de 730 milhões de litros comparado ao ano safra 20202021. Além de uma menor produção doméstica, a importação deve continuar limitada no Brasil, já que a combinação

PLATTS PVU RP HIDRATADO VS ICE NY11

cents/lb

20 18 16 14 12 10 8

6 Abr-19 Jul-19 Out-19 Jan-20 Abr-20 Jul-20 Out-20 Jan-21

NY sugar Fonte: ICE, S&P Global Platts Hydrous (USc/lb sugar equiv.) Abr-21

PREÇOS MÉDIOS - BASE RIBEIRÃO PRETO INCLUSO TRIBUTOS

Real/m³ 3.500

3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JANFEVW MAR Preços médios 5 anos 2019/20 2020/21 Min Máx

da recente alta nos preços internacionais do milho e a forte tendência de um real desvalorizado perante o dólar americano não indicam que a arbitragem possa se abrir.

Considerando os argumentos da demanda, mesmo em um cenário de vacinação no Brasil caminhando a passos mais lentos do que inicialmente previsto, além de um forte consenso sobre o agravamento do cenário econômico e aumento de desemprego no País, é esperada uma alta na demanda de combustíveis de ciclo Otto entre 3% e 6%.

Em um cenário de leve recuperação de demanda e preços de gasolina entre janeiro e abril de 2021, em média acima de R$ 5/litro em todo o País, a demanda pelo etanol hidratado tem se demonstrado forte, mesmo em locais onde a referência da paridade está acima dos 70% do preço da gasolina.

Ao contrário do que vimos no início de 2020, quando houve uma forte migração de consumo do etanol hidratado para a gasolina pelo fator preço, em 2021, o mercado inverteu essa dinâmica, e, até mesmo em regiões como Norte e Nordeste do País − onde não há paridade favorável ao E100 −, a demanda se manteve alta.

Como reflexo dessa maior demanda pelo etanol hidratado no período de entressafra do CS, somado a uma menor produção esperada, os preços médios do hidratado na entressafra (entre 1º de dezembro de 2020 e 31 de março de 2021) foram de R$ 2.815/m³ na base usina em Ribeirão Preto, incluindo tributos. Esse valor representa uma alta de 17% comparado ao mesmo período da safra 2019-2020, de acordo com a avaliação Platts.

Apesar das fortes restrições de mobilidade impostas em todo o território nacional em março, o preço médio do etanol hidratado na base usina Ribeirão Preto, na primeira quinzena de abril de 2021, foi de R$2.972/m3. Esse valor representa alta de 73% ao ano e 34% comparado ao mesmo período de 2019, o qual registrou o maior volume de etanol produzido e comercializado pelas usinas do Centro-Sul do Brasil historicamente.

Tais referências demonstram que, apesar do cenário de fortes incertezas sanitárias, políticas e econômicas com as quais o Brasil irá se defrontar em 2021, para o mercado de açúcar e etanol, os fundamentos e o cenário macroeconômico tendem a assegurar remunerações médias acima das observadas nos últimos anos. n

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