








FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 22 • número 80 • Divisão F • jun-ago 2025
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Benone e Caio Aperam Bio
Brígida Valente Eldorado
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Carine Setter UF-Santa Maria
Carlos Guerreiro TTG
Cristiane e Alisson Embrapa
Daniel Moura Plantar
Cristiane Pedrazzi UF-Santa Maria
Delane Porto UF- Lavras
Fernando Campos Sotreq
Edimar Cardoso Aperam SA
Fernanda Rodrigues Diálogo Florestal
Franco Quevedo CMPC
Paulo Souza Reflorestar
Capa: José Luiz Stape
Índice: Acervo ArcelorMittal
José Leonardo Esalq-USP
Paulo Squariz Suzano
Maristela e Venâncio UF-Santa Maria e UF-Viçosa
Pedro Cademartori UF-Paraná
Saulo Guerra PCMAF-IPEF
Eldorado
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1. Um Brasil Florestal de Fato
Enquanto as políticas dos Fundos de Investimentos Setoriais aos Reflorestamentos (FISETs) e dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) das décadas de 1960 a 1980 fizeram jus às vantagens comparativas do Brasil na produção de celulose, dando-lhes cara nova, a crise financeira internacional de 2008, conciliada com o crescimento pujante da economia chinesa, a pôs, celeremente, no topo do pódio dos exportadores no mundo, haja vista a derrocada dos antigos players concorrentes e predecessores como Canadá, Suécia e Finlândia.
O expressivo spread entre custo CIF da celulose brasileira e seu preço no mercado internacional tem atraído indústrias de outros países e levado as nacionais a expandirem a produção a um menor
custo via fusões (Suzano e Fíbria) ou novos empreendimentos em regiões de terras planas, extensas e baratas, vide a mesorregião leste do Mato Grosso do Sul e o sul do Maranhão, porém de solos pobres e arenosos e de clima seco e altas temperaturas, uma vez que as áreas mais nobres são ocupadas com a produção de grãos, principalmente café, soja e milho, ou, no mínimo, cana-de-açúcar e pastagens, dada a maior rentabilidade.
Em que pese terras planas, extensas e baratas, mas com limitações hídricas e de fertilidade, refletindo numa baixa produtividade florestal, ainda há o agravante do distanciamento até os portos, sobretudo o de Santos-SP, que está a quase 1.000 km delas. Apesar de o frete ferroviário ser menor que o rodoviário, a distância e a necessidade da construção dos ramais interligando as fábricas à linha principal da ferrovia afetam a lucratividade. Isso sem dizer que são eldorados em cidades minúsculas não apropriadas para receber novos contingentes de milhares de trabalhadores, sem infraestrutura urbana para tal, como hospitais, clínicas médicas, residências, mercados, restaurantes e estruturas de entretenimento, requerendo investimentos massivos a contento.
(Pelo cenário exposto), significa que mais indústrias serão construídas aqui no País. No entanto, indaga-se em que região se instalarão, haja vista que a oeste já se encontram esgotadas? "
Sebastião Renato Valverde Professor de Engenharia Florestal da UF-Viçosa
Além disso, tem-se os problemas sociais e ambientais devido à concentração de reflorestamentos, praticamente, numa única região que, malconduzidos, podem trazer conflitos com as comunidades locais, seja pela questão hídrica, seja pelo movimento intenso de caminhões pesados nas comunidades onde as construções, moradias simples, não suportam tal tráfego, ocasionando rachaduras e outros inconvenientes.
Embora o leste sul-mato-grossense já possuísse expressiva área de reflorestamento devido aos incentivos fiscais dos FISETs, não é suficiente para hospedar as três indústrias instaladas desde 2008 e mais as duas projetadas para o final desta década que, juntas, produzirão próximo de 15 milhões de toneladas secas de celulose ao ar (tsa). Se com as atuais produzindo algo em torno de 7,5 mi tsa já está difícil o abastecimento, quiçá quando estiverem as cinco. É nítida a situação de colapso onde se tem uma expansão geométrica da demanda por madeira para celulose em contrapartida de uma aritmética da oferta.
Já no restante do País, o que se tem é uma redução da oferta dada a queda nos preços da madeira após 2008. Isso gerou uma frustração generalizada dos produtores independentes, que tinham sido incentivados com a atividade de reflorestamento. Porém, devido ao fracasso de alguns programas de fomento florestal e ao aviltamento dos preços da madeira asfixiados pelas próprias indústrias de celulose, hoje têm de amargar o custo elevado de transporte rodoviário de milhares de quilômetros - quando, paradoxalmente, não deveria ultrapassar 100 km -, sendo que nas propriedades próximas se verifica a ociosidade e, até mesmo, a degradação das terras.
2. Desafios para os atuais e novos projetos em instalação
É fato que, independentemente para quais regiões forem as novas fábricas de celulose, elas encontrarão uma condição de descrença dos proprietários rurais quanto aos investimentos em reflorestamentos. Algo que requererá muito convencimento, mas nada que seja impossível caso se garanta o cumprimento contratual em que preços justos sejam praticados quando da colheita e venda da madeira, num negócio que tem como principal característica o longo prazo
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e, consequentemente, seus riscos e incertezas. Tudo bem que, para contornar isso, basta a parceria com as TIMOs que, indubitavelmente, são essenciais para este negócio, mas não se trata de condição sine qua non para evitar problemas sociais com os proprietários rurais e população local.
Indiscutivelmente, como boa política de vizinhança e garantia do modelo de gestão ESG, bons programas de fomento florestal farão a diferença, não só do ponto de vista social, mas econômico, dado que o custo da madeira via fomento tem tudo para ser menor que o plantio próprio. Sem considerar que não há necessidade de imobilizar capital em terras.
Considerando que no mercado internacional há potencial de demanda para o dobro da quantidade de celulose que o Brasil já produz – sem levar em conta que, após a saturação do mercado chinês, há a perspectiva da entrada do mercado indiano, país com uma população de 1,4 bilhão – obviamente mudanças culturais e estruturais terão que ocorrer no mercado da Índia –, significa que mais indústrias serão construídas aqui no País. No entanto, indaga-se em que região se instalarão, haja vista que a oeste já se encontram esgotadas?
Num cenário atual e futuro de concorrência acirrada pela madeira e de saturação das áreas planas vocacionadas para a atividade florestal e com presença de rios caudais, resta às pretendentes buscarem regiões montanhosas, porém mecanizáveis, sem aptidão para o agronegócio que comprometa a segurança alimentar. Daí, propriedades no sudeste, sobretudo as localizadas no polígono correspondente ao norte e noroeste fluminense (RJ), sul capixaba (ES) e Zona da Mata mineira (MG) se apresentam para tal, que além de terras baratas e argilosas com precipitação pluviométrica melhor que no Centro-Oeste, têm as vantagens de estarem imunes à concorrência com as culturas agrícolas, de possuírem ferrovias que ligam até próximo ao Porto do Açu, atualmente ocioso e possui um dos maiores calados no Brasil, possibilitando o menor frete marítimo, numa conjectura de ter também o menor ferroviário e rodoviário.
Ainda que montanhosa com a desvantagem do maior custo operacional da colheita e transporte da madeira, tal situação pode ;
ser compensada com a maior produtividade das plantações florestais. Com certeza o mesmo esforço em custo para se ter uma produtividade (IMA – Incremente Médio Anual) de 30 a 35 m3/ha/ano nas áreas planas do oeste brasileiro, nas montanhosas do Sudeste se atingiria de 40 a 45 m3/ha.ano, podendo compensar assim os custos da colheita e transporte, ou até mesmo serem menores.
Óbvio que mesmo no Sudeste ainda se tem regiões planas e latifundiárias, como as do norte de Minas Gerais, porém, a elas, já chegaram a soja, o milho e o algodão. Só não chegou à região mais setentrional do norte como em Montes Claros-MG, devido às temperaturas elevadas e chuvas escassas e concentradas em poucos meses do ano, implicando em baixa produtividade.
3. O retorno dos reflorestamentos às regiões de origem
Dado que o que importa é o valor CIF da celulose posto no mercado internacional, tal polígono sugerido promete mais que a região oeste brasileira. Uma vez optando por ele, tais indústrias encontrarão uma condição favorável para os empreendimentos, quer seja pela disponibilidade de plantações de mais de 200.000 ha em eucalipto distribuído em pequenas, médias e grandes propriedades, de terras baratas de melhores condições edafoclimáticas e rios caudais, quer pela infraestrutura existente.
Além do porto e das rodovias e ferrovias, neste polígono encontram-se cidades historicamente bem-estruturadas, oferecendo serviços hospitalares, clínicas médicas, escolas, hotéis, serviços de comunicação e de entretenimento, oficinas mecânicas, indústrias de metalurgias pesadas, concessionárias de energia elétrica, subestações e linhas de transmissão elétrica que favoreçam as fábricas de celulose colocarem no grid a eletricidade da cogeração a um custo significativamente mais baixo em relação a outras regiões. Cabe destacar que possíveis efeitos corrosivos nos equipamentos, máquinas e implementos metálicos nas fábricas mais próximas do litoral deste polígono devido a pluma oceânica (maresia) podem ser contornados com a instalação na Zona da Mata de MG. Às terras planas, os alimentos; às montanhas, as matas; e à Zona da Mata, a cadeia produtiva florestal que, fazendo jus à Mata, nunca deveria ter saído dela.
Eis o importante desafio. n
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Nas últimas décadas, o Brasil consolidou uma posição de destaque mundial no setor florestal, graças ao avanço técnico e à implantação de plantações altamente produtivas de Eucalyptus e Pinus. Com base em ciência, inovação tecnológica e integração entre empresa, universidade e Estado, foi possível atingir patamares impressionantes de produtividade, competitividade e sustentabilidade. No entanto, ao mirar o futuro, torna-se imperativo reconhecer que a continuidade e a expansão da produção industrial florestal sustentável no Brasil encontram-se diante de limitações relevantes e desafios crescentes.
O desafio do acesso à terra e à água:
A base territorial e hídrica é o alicerce físico da produção florestal. A expansão sustentável das plantações está condicionada à disponibilidade de terras aptas, juridicamente seguras e com recursos hídricos adequados, condições cada vez mais restritivas em função de fatores geopolíticos, socioambientais e climáticos.
Por um lado, a competição por terras agricultáveis tem-se intensificado, especialmente no bioma Cerrado e em zonas de transição para a Amazônia, onde culturas como soja e milho avançam rapidamente, impulsionadas pela demanda global por commodities . Essa dinâmica inflaciona os preços da terra, desloca fronteiras agrícolas e cria tensões no planejamento da ocupação do solo. Além disso, o avanço das zonas de amortecimento ambiental e áreas de proteção permanente impõe restrições legítimas, que requerem clareza jurídica e eficiência na definição de parâmetros para o uso sustentável da terra. A insegurança fundiária, a morosidade na titulação de terras e os conflitos com comunidades locais representam entraves significativos, inclusive do ponto de vista da atração de investimentos de longo prazo.
No que se refere à água, os desafios se tornam ainda mais críticos em face das mudanças climáticas. Modelos climáticos projetam redução na regularidade das chuvas e maior frequência de eventos extremos, como estiagens prolongadas e ondas de calor.
Surge uma indagação estratégica de grande relevância: quais são os limites físicos e operacionais para a expansão da base florestal no Brasil e quando eles poderão ser atingidos? "
José Leonardo de Moraes Gonçalves
Professor
Titular de Solos e Nutrição da Esalq-USP
As plantações florestais dependem de uma base hídrica estável para sustentar seu alto rendimento. A escassez hídrica ameaça não apenas a produtividade, mas também a viabilidade de novos empreendimentos silviculturais em determinadas regiões.
Além dos desafios atuais, surge uma indagação estratégica de grande relevância: quais são os limites físicos e operacionais para a expansão da base florestal no Brasil e quando eles poderão ser atingidos? A resposta depende de variáveis regionais como disponibilidade de terras com aptidão silvicultural, pressão por conservação ambiental, capacidade hídrica, infraestrutura de suporte e conflitos fundiários.
Nas regiões Sul e Sudeste, observa-se um cenário de maturidade ou saturação da ocupação florestal, com expansão cada vez mais condicionada a substituição de usos ou recuperação de áreas degradadas. No Centro-Oeste e em parte do MATOPIBA, ainda há potencial técnico de expansão, mas com crescente competição com grãos, pressão por conservação da vegetação nativa e riscos associados à irregularidade hídrica.
Projeções indicam que, mantidas as tendências atuais de uso e ocupação do solo, o limite prático para expansão sustentável da base florestal deverá ser alcançado em menos de duas décadas, especialmente para grandes empreendimentos industriais. Por isso, o setor deve antecipar-se, priorizando o aproveitamento eficiente de áreas já convertidas, a intensificação produtiva das plantações existentes e a valorização de modelos integrados com pequenos e médios produtores.
Nos últimos nove anos (2013 a 2023), segundo o Relatório Anual 2024 do IBÁ, a área de florestas plantadas no Brasil aumentou de 7,0 milhões de hectares (Mha) para 10,2 Mha, representando um acréscimo absoluto de 3,2 Mha, com uma taxa média anual de expansão de aproximadamente 3,51%.
Mantendo-se esse ritmo, projeta-se que, em 2033, a área plantada poderia alcançar 14,4 Mha, o que exigiria uma expansão adicional de 4,1 Mha em relação a 2023. Para 2043, a projeção aponta uma área total de 20,4 Mha, implicando a necessidade de incorporar aproximadamente 10,1 Mha adicionais. Esses números destacam a importância de identificar fontes estratégicas de terra para
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sustentar o crescimento planejado da base florestal brasileira.
Um componente crucial para viabilizar essa expansão sustentável é o aproveitamento das áreas de pastagens degradadas. Segundo estudo recente conduzido por pesquisadores da Embrapa e da Unicamp (Édson Bolfe et al., Land, 2024, v.13), o MATOPIBA possui 14,5 Mha de pastagens com grau intermediário de degradação e 6,1 Mha com degradação severa, totalizando 20,6 Mha. Já o Centro-Oeste concentra 21,6 Mha em degradação intermediária e 16,3 Mha em degradação severa, somando 37,9 Mha. Dos totais dessas regiões, estima-se que cerca de 3,7 Mha no MATOPIBA e 14,1 Mha no Centro-Oeste sejam destinados prioritariamente à conversão para culturas agrícolas graneleiras de sequeiro. Isso significa que, dos 58,5 Mha de pastagens degradadas nessas regiões, aproximadamente 40,7 Mha poderiam ser disputados pela silvicultura, pecuária, indústria canavieira e outras culturas, configurando um espaço estratégico para planejamento integrado e sustentável do uso da terra.
Barreiras econômicas e gargalos logísticos:
Embora o setor florestal se tenha beneficiado historicamente de ganhos de escala e verticalização industrial, hoje enfrenta um ambiente de elevada carga tributária, volatilidade cambial e custos logísticos elevados. O Brasil ainda carece de uma infraestrutura robusta, integrada e multimodal que permita a redução de custos e a maior previsibilidade de fluxos de insumos e produtos.
A cadeia florestal sofre com a dificuldade de acesso ao crédito de longo prazo para investimentos em expansão de base florestal e em inovação tecnológica. A ausência de mecanismos consistentes de financiamento verde que reconheçam o papel das plantações na mitigação climática e na conservação da biodiversidade representa uma lacuna estratégica.
Pressões ambientais e novas exigências regulatórias:
A indústria florestal brasileira vem se adaptando às exigências ambientais crescentes, seja por meio do cumprimento da legislação, como o Código Florestal e as condicionantes de licenciamento, seja pela incorporação de práticas de manejo sustentável certificadas. ;
No entanto, as regulamentações ambientais tendem a se tornar mais rigorosas, e o processo de licenciamento é, em muitas regiões, moroso, fragmentado e sujeito a inseguranças jurídicas.
O desafio atual não é apenas de conformidade, mas de adaptação às novas métricas de desempenho ambiental exigidas pelos mercados internacionais, como a rastreabilidade de cadeias produtivas, a neutralidade de carbono e a conservação da biodiversidade associada às plantações. Trata-se de um novo paradigma, em que a sustentabilidade deixa de ser diferencial e passa a ser uma pré-condição para o acesso a mercados, atração de investimentos e reputação institucional. Responsabilidade social e inclusão territorial:
As plantações florestais estão fortemente associadas aos territórios rurais, onde coexistem comunidades tradicionais, agricultores familiares e populações urbanas em processo de expansão. Nesse contexto, o desafio social da expansão da base florestal está em garantir relações éticas, participativas e sustentáveis com as comunidades vizinhas, evitando conflitos fundiários, promovendo a geração de empregos de qualidade e fomentando o desenvolvimento territorial integrado.
A indústria florestal precisa se reposicionar como parceira no desenvolvimento local, contribuindo para a infraestrutura social, educação, saúde e empreendedorismo rural. Modelos de integração com pequenos e médios produtores, bem como o fortalecimento das cadeias produtivas associadas à floresta (como apicultura, turismo ecológico, extrativismo não madeireiro), representam caminhos promissores.
Inovação tecnológica e transição para uma bioeconomia de base florestal:
O futuro da indústria florestal brasileira, em sintonia com os desafios globais de descarbonização e circularidade, dependerá da capacidade de transitar para uma bioeconomia de base florestal, substituindo materiais fósseis e insumos sintéticos por produtos renováveis, biodegradáveis e de baixo impacto ambiental.
Isso inclui não apenas o avanço em novos materiais derivados da madeira (como nanocelulose, bioplásticos, fibras técnicas e químicos verdes), mas também a intensificação
da implementação de novas tecnologias no setor, por meio do uso de sensoriamento remoto, de inteligência artificial, de sistemas preditivos e da automação nas operações florestais e industriais.
Para isso, será necessário um ecossistema de inovação mais robusto, que conecte centros de pesquisa, universidades, startups e empresas, e que conte com políticas públicas efetivas de incentivo à inovação aberta, à pesquisa aplicada e à formação de recursos humanos.
Considerações finais:
A expansão sustentável da produção florestal e industrial no setor florestal brasileiro é possível e desejável. Para alcançar esse objetivo, requer uma abordagem sistêmica, que enfrente simultaneamente as limitações fundiárias, logísticas, ambientais, sociais e tecnológicas. Mais do que ajustar variáveis de produção, trata-se de repensar o papel do setor florestal na construção de um Brasil mais sustentável, resiliente e justo.
Diante das pressões climáticas globais e da busca por cadeias produtivas mais responsáveis, o setor florestal brasileiro poderá se consolidar como um dos pilares principais da nova economia verde. Para que esse futuro se concretize, é preciso agir desde já com decisões estratégicas imediatas que preparem o setor para os desafios que se anunciam.
Nesse contexto, torna-se essencial que o setor desenvolva um planejamento estratégico integrado de suas bases florestais e industriais. A expansão não pode mais ocorrer de forma meramente oportunista, pautada pela disponibilidade imediata de terras ou incentivos isolados. É preciso articular inteligência territorial, previsibilidade regulatória, logística sustentável e segurança jurídica. As restrições impostas pela limitação de recursos naturais, sobretudo disponibilidade de terra e água, demandam um novo modelo de ocupação territorial, que valorize a eficiência do uso da terra, a multifuncionalidade da paisagem e a sinergia entre conservação e produção.
A construção desse futuro exigirá cooperação entre governo, empresas, academia e sociedade civil. O setor florestal já demonstrou sua capacidade de liderança em sustentabilidade. Agora, é hora de transformar essa liderança em uma estratégia de longo prazo. n
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A silvicultura brasileira ocupa papel de destaque na produção global de madeira, sustentada por níveis de produtividade notoriamente superiores à média mundial.
O setor tem como base os gêneros Eucalyptus e Pinus, cultivados de forma intensiva e com elevado rigor técnico. Ainda assim, manter e ampliar esses índices produtivos não é tarefa simples. Enfrenta-se um cenário de desafios crescentes, especialmente no que se refere à produtividade operacional no campo, à escassez de mão de obra e à necessidade de evolução tecnológica.
Nesse contexto, a mecanização florestal assume papel central na busca por eficiência, segurança e sustentabilidade no setor.
Apesar dos avanços consolidados na mecanização da colheita florestal, é na silvicultura –com suas operações de preparo de solo, plantio, irrigação, adubação e tratos culturais – que se concentram os maiores gargalos.
Os dados mais recentes do Levantamento do Nível de Mecanização na Silvicultura 2024/2025, realizado pelo IPEF – Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, indicam que o setor tem avançado, mas de forma desigual e ainda distante do potencial observado em outras fases do ciclo florestal.
A edição do levantamento, lançado neste mês durante o Congresso de Plantações Florestais - 2025, aponta que, embora haja crescimento da área mecanizada, persistem desafios significativos quanto à uniformidade da adoção tecnológica entre as empresas florestais. Para acessá-lo, clique na imagem em destaque na página seguinte.
É essencial desenvolver metodologias de avaliação operacional, promover formação técnica continuada das novas gerações e adaptar processos às realidades regionais. "
Saulo Philipe Guerra
Líder Científico do PCMAF - Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Florestal do IPEF - Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais
Coautora: Beatriz Balista, Coordenadora Executiva do PCMAF - Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Florestal do IPEFInstituto de Pesquisas e Estudos Florestais
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O índice médio de mecanização de operações como plantio, por exemplo, ainda está aquém do necessário para garantir produtividade elevada com qualidade técnica. Tal lacuna se intensifica em regiões com topografia acidentada ou em empresas com menor capacidade de investimento.
Além das limitações técnicas, há fatores estruturais que afetam diretamente a expansão da mecanização: a escassez de mão de obra qualificada e a dificuldade de retenção de operadores no campo. A migração populacional para centros urbanos, somada à exigência física das funções operacionais, compromete a atratividade dessas atividades.
A mecanização, nesse cenário, representa não apenas uma alternativa tecnológica, mas uma estratégia fundamental para a manutenção das operações silviculturais, reduzindo a dependência de uma força de trabalho cada vez mais escassa. Tecnologias aplicadas vêm sendo progressivamente incorporadas. O uso de plantadoras automáticas, sistemas de irrigação com acionamento remoto e sensores para detecção de falhas de plantio e crescimento é cada vez mais comum, nas empresas florestais.
Tais inovações, amplamente avaliadas em parceria com instituições de ensino e pesquisa, empresas prestadoras de serviços, fabricantes de máquinas e equipamento, que se conectam ao IPEF, têm demonstrado impactos concretos na produtividade e na qualidade das operações. A automação, embora ainda em fase inicial de adoção em muitas empresas, surge como um vetor promissor de transformação do setor, principalmente na área de produção de mudas.
Contudo, a inserção de tecnologia exige mais do que aquisição de máquinas, equipamentos, sensores e sistemas de monitoramento e controles modernos.
É essencial desenvolver metodologias de avaliação operacional, promover formação técnica continuada das novas gerações e adaptar processos às realidades regionais. A diversidade de condições edafoclimáticas, topográficas e socioeconômicas do Brasil demanda soluções específicas, modulares e escaláveis.
A análise dos dados do Levantamento do Nível de Mecanização na Silvicultura 2024/2025 também trouxe inovações importantes, como a mensuração do uso de drones no monitoramento silvicultural e a criação de um indicador específico para o nível de mecanização do combate a incêndios.
Essas abordagens ampliam o entendimento da mecanização como um sistema que não se restringe ao plantio, mas abrange o cuidado, a vigilância e a proteção do ativo florestal ao longo de todo o ciclo produtivo.
O avanço da mecanização deve ser entendido como um processo sistêmico e contínuo, que exige planejamento estratégico, gestão por indicadores e articulação entre ciência, técnica e operação, além de envolver as empresas florestais, as empresas prestadoras de serviços e a academia.
O mapeamento periódico do nível de mecanização tem-se mostrado uma ferramenta poderosa de diagnóstico e apoio à tomada de decisão, fornecendo às empresas subsídios para avaliar suas práticas e direcionar investimentos de forma mais precisa e fundamentada.
A produtividade florestal no Brasil é, sem dúvida, referência global. No entanto, sua manutenção e expansão sustentável dependerão, cada vez mais, de decisões operacionais bem embasadas, da modernização dos processos e da adoção inteligente de tecnologias.
A mecanização não é um fim em si mesma, mas um meio estruturante para garantir qualidade, segurança e competitividade ao setor florestal brasileiro — que precisa ser, acima de tudo, eficiente e resiliente para continuar sendo referência mundial. n
Os desafios para garantir o abastecimento de madeira
O setor florestal brasileiro vive um momento de expansão e transformação. A instalação de novas fábricas de celulose e papel, especialmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, tem intensificado a disputa por madeira e terras, pressionando a cadeia de suprimentos e elevando os custos operacionais.
Esse cenário impõe desafios estratégicos e operacionais para garantir o abastecimento sustentável de madeira, tanto para as unidades industriais
Esse cenário impõe desafios estratégicos e operacionais para garantir o abastecimento de madeira, tanto para as unidades em operação quanto para as em fase de implantação. "
Rodrigo Zagonel
Diretor de Operações Florestais da Suzano UNF Ribas do Rio Pardo - MS
já em operação quanto para as que estão em fase de implantação.
Um dos principais entraves é a inelasticidade da oferta de madeira. Como a formação de florestas demanda tempo, não é possível responder rapidamente a aumentos de demanda. Isso tem levado empresas a enfrentar cenários reais de escassez, com uma escalada nos custos de madeira.
Tal realidade exige uma abordagem integrada que envolva planejamento florestal, estruturação operacional, logística inteligente e estratégias de competitividade.
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1. Estruturação de base operacional e planejamento florestal:
A base florestal precisa ser pensada como um ativo estratégico de longo prazo. A formação de florestas comerciais, com ciclos de 6 a 8 anos, exige previsibilidade, escala e governança. A estruturação de uma base sólida passa por:
• Planejamento territorial e fundiário: aquisição de terras em regiões com aptidão florestal, segurança jurídica e proximidade industrial;
• Modelagem de parcerias: contratos de longo prazo com produtores locais, fomentando o cultivo florestal e a geração de renda no entorno das fábricas; e
• Tecnologia e silvicultura de precisão: uso de dados, sensores e inteligência artificial para maximizar produtividade, reduzir perdas e antecipar riscos operacionais.
2. Modal logístico eficiente e competitivo: O papel do Hexatrem:
A logística é um dos principais fatores de custo e risco no abastecimento de madeira. A distância entre as áreas de colheita e as fábricas, combinada com a sazonalidade e a infraestrutura viária limitada, exige soluções logísticas robustas e flexíveis:
• Planejamento de malha florestal: priorizar plantios em raio econômico, com acesso a vias pavimentadas e menor tempo de ciclo logístico;
• Diversificação modal: uso combinado de rodovias, ferrovias e, quando possível, hidrovias, para reduzir custos e emissões;
• Gestão de TPC (tempo pós-corte): controle rigoroso do tempo entre colheita e entrega, evitando perdas de qualidade e gargalos operacionais;
• Uso de torre de controle logística: implantação de centros de controle que monitoram e coordenam toda a cadeia de transporte em tempo real, com uso de tecnologias de geolocalização, IoT e análise preditiva. Isso garante:
• Visibilidade completa e segura do fluxo de madeira;
• Antecipação, analise e rápida resolução de problemas;
• Otimização de rotas e recursos, e
• Melhoria na comunicação entre fornecedores, transportadores e fábricas.
Hexatrem e por que ele é competitivo? É uma inovação logística desenvolvida pela Suzano como uma alavanca operacional de competitividade e segurança. Trata-se de uma composição veicular com até 60 metros de comprimento, composta por cavalo mecânico e seis semirreboques, capaz de transportar até 250 toneladas ou 190 m³ por viagem.
Comparado a modais como Tritrem e Rodotrem, o Hexatrem apresenta ganhos expressivos:
• Opera majoritariamente em vias privadas, com infraestrutura especializada como túneis e pontes exclusivas;
• Redução de custo por tonelada;
• Maior eficiência logística e energética em regiões com MS e BA;
• Expansão da malha viária privada com menor impacto ambiental e urbano, e
• Menor emissão de CO2.
3. Competitividade operacional:
Com o aumento da demanda por madeira e a entrada de novos players no mercado florestal, a competitividade passa a ser um diferencial decisivo. Isso envolve:
• Eficiência de custos: expressiva otimização de recursos, mecanização inteligente e renegociação de contratos logísticos e silviculturais;
• Resiliência climática: desenvolvimento de cultivares adaptadas a diferentes biomas e estratégias de mitigação de riscos climáticos, e
• Capacitação e cultura de excelência: formação de equipes técnicas de alto desempenho, com foco em segurança, produtividade e inovação contínua.
Conclusão:
Garantir o abastecimento de madeira para as atuais e futuras fábricas no Brasil exige, na verdade, mais do que escala: requer inteligência operacional, integração logística — com destaque para o uso de torres de controle para supervisão e tomada de decisão em tempo real — e disciplina estratégica.
A competitividade do setor florestal brasileiro dependerá da capacidade de transformar dados em decisões, ativos em produtividade e florestas em valores sustentáveis. n
Os desafios para garantir o abastecimento de madeira
O desenvolvimento técnico ocorrido no setor florestal entre a década de 1980 e os anos 2000 foi fantástico. Conseguimos ganhos de produtividade em madeira que chegaram a 100% e 200%. Foi uma revolução produtiva. Sem exageros, podemos dizer que cruzamos uma linha de produtividade que nem mesmo os mais otimistas acreditariam nos números que foram alcançados.
Isso foi um passaporte para os ganhos de escala que seguiriam os próximos anos. Para as décadas de 2010 e 2020 vimos grandes projetos sendo implantados com muito sucesso. Empresas do segmento florestal têm ampliado a sua produção, mas nada comparável com as empresas de celulose. As fábricas são cada vez maiores, com escalas que aumentam a viabilidade e competitividade das empresas.
Não há como fugir da responsabilidade, temos vocação para plantios florestais e temos a tecnologia de geração de produtos florestais de qualidade com custos competitivos.
Deparamo-nos todos os dias com grandes oportunidades em diversos segmentos que são supridos por nossas florestas plantadas. A captura dessas oportunidades implica em grande desafio ao gestor florestal. Uma coisa é ter vocação, a outra é desenvolver de forma adequada os dons e as dádivas que recebemos.
O grande desafio é não perder o nosso potencial produtivo. O potencial está consolidado, ninguém duvida mais de produtividades de 35 a 60 m³ de madeira por hectare ano, a depender do sítio de produção. Não há dúvida quanto à viabilidade e à competitividade do setor florestal. Os desafios também já estão mapeados, já é de conhecimento onde é necessário investir. A sustentabilidade da produção florestal é um desafio que deve ser vencido atuando nos fundamentos da silvicultura. Não é uma tecnologia nova, mas a repetição consistente dos fundamentos que foram lançados por aqueles que nos precederam. Quando os fundamentos da boa silvicultura são relativizados, nos tornamos mais fracos frente ao desafio da sustentabilidade da produção florestal.
Deveríamos olhar com cuidado os fundamentos que nos trouxeram até aqui, adotá-los como uma lei inviolável, para que o grande desafio de escalar a nossa produção florestal se consolide, pois o jogo nunca está ganho.
A sustentabilidade da produção florestal é um desafio que deve ser vencido atuando nos fundamentos da silvicultura. Não é uma tecnologia nova, mas a repetição consistente dos fundamentos que foram lançados por aqueles que nos precederam. "
Daniel Carvalho de Moura Diretor Florestal do Grupo Plantar
Creio que não é demais relembrar os fundamentos da boa silvicultura. O casamento perfeito ocorre na cooperação entre as áreas técnica e operacional. Nossas especialidades técnicas são: melhoramento genético, solos e nutrição, e proteção florestal. As áreas de operação são: preparo de solo e plantio, controle a pragas e doenças, controle de matocompetição, e adubação. Além das áreas de apoio e pré-operacionais: conservação de solo e estradas, planejamento florestal e desenvolvimento da mecanização. É fundamental a atuação das áreas socioambiental e segurança, pois, sem elas, não há como perpetuar o negócio.
Toda empresa florestal que busca escalar sua produção conta com essas áreas bem-estruturadas, mas isso por si só não é o suficiente. Colocar esse time para trabalhar com o objetivo comum é o grande desafio do gestor florestal. Muito tempo, energia e dinheiro são gastos para colocar essa seleção de profissionais trabalhando de forma produtiva.
Grandes nomes da silvicultura deveriam ser lembrados pela sua simplicidade e objetividade, pois foram esses que fizeram a diferença quando ainda não sabíamos o caminho. Pensar em Edgar Campinhos nos ensinado sobre clonagem, nos professores Nairam e Novaes nos ensinando sobre solos e nutrição, em Teotônio nos ensinando sobre melhoramento, no professor Ronaldo sobre p roteção contra incêndios, em Gualter Moura sobre empreendedorismo florestal, e tantos outros que merecem o nosso reconhecimento. O meu objetivo é honrar esses nomes pela simplicidade associada à sua genialidade, pois os gênios que não abraçaram a simplicidade não perpetuaram resultados nem mesmo deixaram legado consistente.
A produtividade das florestas é o que gera valor, pois florestas produtivas geram um ciclo virtuoso de desenvolvimento. A consistência de resultados no setor florestal depende de investimentos sistemáticos nas áreas técnicas, operacionais e de apoio ao desenvolvimento do empreendimento. Os inventários florestais deveriam ser mais apreciados do que relatórios bem descritos e ilustrados. Não há problema com um belo relatório, mas ele se torna dispensável quando não é acompanhado de produtividade que expressa o potencial do sítio de produção.
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As ferramentas digitais, georreferenciadas e conectadas são excelentes apoios à gestão, bem como as poderosas ferramentas de análise e planejamento.
Tudo isso associado à presença nos talhões e à visão de campo enriquece muito o processo de decisão e é extremamente benéfico ao desenvolvimento do empreendimento. O comentário parece obvio, mas muitas vezes renunciamos à visão crítica do gestor presente nos talhões e abraçamos os números áridos dos nossos sistemas modernos. Acabamos perdendo a sensibilidade e, por fim, decisões simples, de baixo custo e alto impacto.
A reflexão mais importante é que a altivez é sempre um forte inimigo. Não é sem razão que os provérbios citam que “adiante da honra vai a humildade” e que “a soberba precede a ruína”.
Sempre temos diante de nós restrições que nos levam a eleger prioridades, e é justamente aí que temos de ser muito criteriosos. Em cenários de stress e restrições, cometemos erros, mas também aprendemos sobre tomada de decisões. Aprendemos que uma empresa que não tem caixa, não tem escolha e, sem escolhas, perece.
As florestas atravessam crises hídricas, crises políticas, crises financeiras, crises de governança e, no final, mostram suas perdas. As operações que deveriam ser realizadas são suprimidas, e a produtividade se vai. O desafio do gestor florestal é protegê-las das decisões de curto prazo e levá-las ao final de seu ciclo da melhor forma possível. Pois a produtividade final dos nossos talhões é que gera valor para todas as partes interessadas de nossa sociedade.
Assim, plantar e conduzir florestas produtivas é um exercício de unidade, humildade e responsabilidade do empreendedor florestal. As comunidades e cidades do entorno da floresta são profundamente beneficiadas por empreendimentos prósperos e consistentes.
O objetivo é estimular e encorajar o nosso leitor a se tornar um empreendedor melhor. Aprendendo com o passado e inspirado por aqueles que fizeram o caminho, lançando mão das modernas ferramentas, de forma criteriosa e sistemática, e zelando pelo futuro promissor das nossas florestas plantadas. n
É PERIGOSO À SAÚDE HUMANA, ANIMAL E AO MEIO AMBIENTE; USO AGRÍCOLA; VENDA SOB RECEITUÁRIO AGRONÔMICO; CONSULTE SEMPRE UM AGRÔNOMO; INFORMESE E REALIZE O MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS; DESCARTE CORRETAMENTE AS EMBALAGENS E OS RESTOS DOS PRODUTOS; LEIA ATENTAMENTE E SIGA AS INSTRUÇÕES CONTIDAS NO RÓTULO, NA BULA E RECEITA; E UTILIZE SEMPRE OS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.
ESPLANADE® é um herbicida sistêmico, à base do ingrediente ativo Indazi am, do grupo químico das alquilazinas, indicado para o controle de pré-emergência de plantas daninhas.
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Estratégias para reverter o declínio da produtividade
A fotossíntese é um dos processos mais extraordinários e essenciais para a manutenção da vida na Terra. Diariamente, nosso planeta recebe do Sol cerca de 4,18 bilhões de bilhões de kWh na forma de radiação eletromagnética. Uma fração ínfima dessa energia é utilizada pelas plantas para a fotossíntese, cuja eficiência, em condições ideais, varia entre 0,1% e 0,2% da energia solar incidente. Esse processo converte energia luminosa em energia química, armazenada na forma de biomassa.
Cerca de metade da energia assimilada pelas plantas é consumida pela respiração celular para manter o metabolismo. A outra metade é alocada no crescimento e reprodução. Nas árvores, os primeiros órgãos a receber energia são as copas e as raízes, por sua função na captação de luz, água e nutrientes. Apenas o excedente é destinado ao tronco — parte de maior interesse para a produção florestal. De forma simplificada, a produtividade florestal
pode ser compreendida como o saldo entre o carbono fixado e o carbono perdido, e a árvore perfeita reúne uma série de características que favorecem esta dinâmica.
Do ponto de vista funcional, cabe a nós silvicultores uma missão: prolongar ao máximo as condições ideais para a fotossíntese e minimizar perdas por meio de um manejo eficiente. A fotossíntese depende de CO₂, água e luz solar, e sua eficiência está ligada à temperatura. No Brasil tropical, o intervalo ótimo para as principais espécies de Eucalyptus varia de 20°C a 25°C.
Historicamente, o avanço do eucalipto no País foi marcante. Com incentivos fiscais nos anos 1970, a produtividade saltou de 12 m³/ ha/ano para cerca de 40 m³/ha/ano em plantios clonais na década de 2010. Entretanto, nos últimos 15 anos, houve estagnação ou declínio em várias regiões. Segundo dados da Ibá, a produtividade média nacional atualmente varia entre 33 e 35 m³/ha/ano.
Até os anos 2000, o cultivo se concentrava em Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e sul da Bahia, com cerca de 3 milhões de hectares plantados. A partir de então, houve expansão expressiva, especialmente para o Centro-Oeste, com destaque para o Mato Grosso do Sul, que hoje possui 1,4 milhão de hectares, inseridos em condições mais desafiadoras — solos arenosos, menor fertilidade natural, precipitação entre 1.200 e 1.300 mm e temperaturas que frequentemente ultrapassam 40°C.
Reverter o declínio da produtividade passa por um caminho claro: favorecer a fotossíntese e reduzir as perdas que hoje limitam a conversão da energia solar em madeira. "
Sharlles Christian Moreira Dias
Gerente Geral de Pesquisa e Tecnologia Florestal da Eldorado
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Estudos do TECHS/IPEF indicam que, para cada 100 mm de aumento do déficit hídrico anual, a produtividade pode cair em até 5 m³/ha/ano, e para cada 1°C de aumento médio de temperatura, a redução pode chegar a 5,8 m³/ha/ano. Além das limitações hídricas, estresses oxidativos reduzem ainda mais o potencial fotossintético das plantas.
Outros desafios contribuíram para a queda da produtividade, como o chamado “distúrbio fisiológico”, observado no início dos anos 2010 em regiões litorâneas do sul da Bahia e Espírito Santo, causando paralisia do crescimento em clones antes considerados elites.
As causas ainda não são plenamente compreendidas, mas há forte indício de que variações climáticas atuam em interação com o material genético.
Ambos os problemas descritos são considerados importantes fontes da redução da média da produtividade brasileira e foram experimentados por clones atuais oriundos de espécies tradicionais. Uma importante estratégia para mitigar estas perdas é a diversificação de estratégias de melhoramento genético, incluindo a utilização de espécies não convencionais, como fonte de genes para enfrentamento das condições adversas a partir de características de interesse.
O avanço das pragas florestais representa outro problema para a produtividade. Em 2010, cerca de 14% das áreas apresentavam incidência (exceto formigas); em 2023, esse número saltou para 34%. A depender da praga e da intensidade do ataque, as perdas podem ir de 5 a 30% da produtividade. Em casos extremos podem resultar na mortalidade das plantações florestais.
Neste contexto, o manejo integrado de pragas, em especial o monitoramento constante e precoce de ocorrências e a manutenção de um programa de controle biológico são chaves para revertermos as perdas e, de maneira responsável e sustentável, restringirmos apenas e último caso as pulverizações com defensivos químicos.
A tecnologia pode ser aliada. Com inteligência artificial e big data , é possível entender melhor o comportamento fisiológico dos clones em diferentes ambientes, permitindo ajustar o posicionamento genético e práticas como espaçamento e adubação.
Esse conhecimento contribui para o aumento da eficiência e redução das perdas por mortalidade. Por fim, há um horizonte promissor no uso de ferramentas de engenharia genética, como a edição gênica e transgenia, para acelerar ganhos e respostas a ambientes adversos.
Integradas ao melhoramento genético convencional, essas tecnologias têm o potencial de transformar a produtividade do setor, ainda que careçam de mais abertura e discussão principalmente perante as certificadoras. O setor precisa avançar e falar disto com clareza e profissionalismo!
Reverter o declínio da produtividade passa por um caminho claro: favorecer a fotossíntese e reduzir as perdas que hoje limitam a conversão da energia solar em madeira.
Essa é a essência da busca pela árvore perfeita e uma missão contínua para a ciência florestal brasileira. n
Rapidez na abertura e fechamento dos estômatos
Tolerante à aplicações de defensivos químicos
Resistência à altas temperaturas
Resistência à seca
Tolerância à tempestades e ventos
Propagação Clonal eficiente Raízes profundas e bem distribuídas
Desafios para a produtividade florestal
Fui convidado pela Revista Opiniões para apresentar minha opinião sobre o porquê da produtividade média das florestas plantadas no Brasil ter caído. Trata-se de um tema bastante amplo e interessante, que, após mais de 40 anos atuando no setor, acredito que possa contribuir com algumas ponderações.
Primeiramente, acredito que devamos destacar a questão da falta de um cadastro geral das florestas plantadas no Brasil. Os dados mais utilizados pelo setor atualmente são os publicados anualmente pela Ibá (Indústria Brasileira de Árvores). Com relação à área plantada por região tivemos uma grande evolução na precisão dos dados, com o uso de imagens satelitais. Porém, a estimativa de produtividade dos plantios ainda parte de informações enviadas pelas próprias empresas. Esses dados são muito importantes para diversos fins, mas não creio que possam ser utilizados para uma análise mais profunda e assertiva. O uso de ferramentas de inventário florestal baseadas também em imagens satelitais no futuro vai nos ajudar a ter uma referência mais precisa e confiável para o tema.
Como podemos desenvolver mecanismos de acesso aos materiais genéticos de ponta desenvolvidos pelas empresas integradas? Desenvolvimento cooperativo poderia funcionar no setor florestal? "
Carlos Alberto Guerreiro Diretor de Operações da The Timber Group
Um outro importante ponto a se discutir se refere às diferenças entre os dois principais gêneros utilizados comercialmente no Brasil nas últimas décadas: Pinus spp e Eucalyptus spp. Parece-me que, com relação ao Pinus, não existe uma tendência de decréscimos da produtividade dos plantios. Seja pelas regiões onde esses plantios mais ocorrem (Paraná e Santa Catarina, regiões com menor ocorrência de déficit hídrico e solos mais argilosos), seja pelo constante aprimoramento do material genético disponível no mercado (sementes, híbridos e clones), não se tem notícia de redução na produtividade dos plantios deste gênero.
Parece-me que a discussão sobre a queda de produtividade deva ser mais direcionada aos plantios do gênero Eucalyptus. Mesmo dentro deste gênero, não tenho conhecimento de quedas de produtividade significativas nos plantios conduzidos nos estados de São Paulo e Sul do Brasil.
Aparentemente, os decréscimos de produtividade estão mais concentrados nos plantios conduzidos nos estados do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Maranhão. Um primeiro problema aqui é que a área plantada de Eucalyptus nestes estados representam mais de 60% do total plantado no País. Estas regiões também concentram boa parte dos programas de ampliação das áreas destinadas a esta cultura no País, em especial no Mato Grosso do Sul.
Parece evidente que, nessas regiões, as variações climáticas constituem um dos fatores mais importantes para o decréscimo da produtividade.
Nos últimos 30 anos, a recorrência de períodos prolongados de déficit hídrico, associados a recordes de temperaturas médias mais elevadas, teria contribuído para perdas de produtividade. Períodos com déficit hídrico sempre foram observados nessas regiões, porém a frequência e a intensidade com que têm ocorrido preocupam bastante todos os silvicultores.
Outros problemas associados às variações climáticas que têm prejudicado a produtividade nessas regiões são a ocorrência de diversos tipos de pragas e doenças que, em condições em que as plantas apresentam alto grau de stress hídrico, se proliferam em maior quantidade e intensidade.
Uma terceira situação que também deve ser considerada é a maior proporção de plantios manejados por talhadia (brotações). Muitos plantios realizados há 10 – 15 anos, após serem colhidos, hoje estão sendo conduzidos como brotações. Sob o ponto de vista econômico, esta opção de manejo faz bastante sentido em muitas situações. Porém, de uma forma geral, o manejo de brotações, no qual há maior dificuldade de controle da qualidade das técnicas utilizadas em comparação com a implantação e reforma, pode representar uma menor pro-
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dutividade, com consequente redução do incremento médio dos plantios como um todo.
Entendo que boa parte dos desafios aqui discutidos relacionados às variações climáticas, ataque de pragas, doenças e manejo de brotações pode e deve ser minimizada com o contínuo melhoramento genético do eucalipto.
Clones mais eficientes para a produção de fibras, mais resistentes a variações climáticas e que apresentem maior resistência ao ataque de pragas e doenças estão sendo desenvolvidos pelas grandes empresas integradas.
Esses programas representam um grande investimento em recursos e tempo, sendo muito difícil de serem implementos em empresas de médio/pequeno porte ou mesmo por produtores independentes e fundos de investimentos. Muitos materiais genéticos largamente utilizados foram desenvolvidos há mais de 25, 30 anos.
Observando o mercado de culturas de ciclo curto, como grãos por exemplo, existe o trabalho de empresas privadas especializadas no desenvolvimento e comercialização de materiais genéticos cada vez mais adaptados às mudanças climáticas.
A Embrapa também conta com trabalho admirável de desenvolvimento de materiais genéticos apropriados a diversas novas situações, em especial a novas regiões de fronteira agrícola. Trabalhos semelhantes de desenvolvimento genético compartilhado podem ser observados no setor sucroalcooleiro e de citrus.
Como podemos desenvolver mecanismos de acesso aos materiais genéticos de ponta desenvolvidos pelas empresas integradas? Como desenvolver contratos com segurança jurídica para que esses materiais possam ser plantados por diversos produtores não integrados, que, ao final, irão vender suas florestas para os grandes consumidores industriais? Desenvolvimento cooperativo poderia funcionar no setor florestal?
O grande diferencial de competitividade mundial da indústria de base florestal brasileira é o custo da madeira posto fábrica. Uma maior produtividade florestal, como um todo, deve contribuir para a manutenção dessa vantagem competitiva. n
Desafios para a produtividade florestal
A produtividade florestal é um indicador muito utilizado na silvicultura para medir a eficiência da produção em uma determinada área de terra. Seu monitoramento permite aos produtores, aos empresários e aos investidores avaliar o desempenho de suas plantações e identificar possíveis gargalos e oportunidades de melhorias. Como a produtividade é altamente dependente do material genético utilizado, do ambiente de plantio e da interação destes dois fatores, nota-se que existem diversos desafios inerentes à produtividade.
No que tange ao material genético, deve haver uma adequada escolha da espécie e da procedência, seja no material seminal ou clonal a ser plantado, de acordo com a sua adaptação às condições ambientais do sítio. Além da boa adaptação e da produtividade, é fundamental que o material genético escolhido tenha resistência ou tolerância a fatores bióticos (patógenos e insetos-pragas) e abióticos (geadas, ventos, déficit hídrico, distúrbio fisiológico, fogo etc.) de importância econômica. O material genético também deve possuir adequadas propriedades da madeira, da resina, do látex, do óleo essencial, dentre outras condizentes com o uso final do produto, haja vista que essas propriedades podem afetar a produtividade industrial.
Os fatores ambientais que influenciam direta ou indiretamente na sobrevivência, no crescimento e, consequentemente, na produtividade florestal podem ser climáticos, edáficos, fisiográficos e bióticos. Alguns exemplos de fatores climáticos são: incidência
solar, temperatura, precipitação pluviométrica (quantidade, distribuição e frequência), umidade e incidência de ventos. Os fatores edáficos estão ligados à origem e ao tipo de solo, além de suas propriedades físicas (estrutura, textura, temperatura e porosidade), propriedades químicas (pH, minerais, capacidade de troca catiônica – CTC e compostos orgânicos) e propriedades bióticas (matéria orgânica, plantas e animais). Os fatores fisiográficos dizem respeito ao relevo dos talhões de plantio. Os fatores bióticos estão relacionados não somente a ataques de pragas, mas também incluem aqueles aspectos que podem ser controlados pelo homem como as atividades de manejo silvicultural: data de plantio, densidade populacional/espaçamento, método de preparo do solo, correção e adubação, desramas, desbastes, monitoramento e controle de plantas invasoras e formigas, método de colheita, dentre outros.
Gargalos relevantes que também podem impactar na produtividade florestal, em diferentes graus, são: ausência de treinamento e aperfeiçoamento dos funcionários para condução das atividades de campo e nos maquinários; condições ambientais adversas em decorrência das mudanças climáticas; elevação nos
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Os desafios da produtividade florestal não serão resolvidos com soluções isoladas. Eles exigem uma ação integrada, baseada na cooperação entre empresas, instituições de pesquisa e universidades. "
Cristiane A. Fioravante Reis e Alisson Moura Santos
Pesquisadores da Embrapa Florestas
Tecnologia Tigercat TCi + Expertise Tracbel: uma parceria que transforma a
A silvicultura moderna exige mais do que força. Exige inteligência, precisão e produtividade sustentável. Por isso, os equipamentos Tigercat TCi são projetados para entregar o máximo desempenho nos terrenos mais desafiadores — e, com a Tracbel Florestal e Logística, essa inovação chega onde o Brasil precisa.
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custos de implantação e manutenção das plantações florestais e ausência de valorização da pesquisa e do conhecimento científico (adaptação de materiais genéticos, compreensão da influência de fatores bióticos e abióticos, da nutrição florestal, dentre outros). Neste cenário, é fundamental que haja planejamento e gestão eficientes das plantações florestais. O planejamento florestal busca maximizar o lucro do negócio e racionalizar o uso dos ativos, minimizando os custos de produção e de distribuição dos produtos florestais e assegurando o suprimento sustentável de madeira, no curto e no longo prazos.
No Brasil, os avanços históricos na produtividade de madeira de eucalipto não aconteceram por acaso. Eles foram resultantes de um esforço colaborativo em pesquisa, desenvolvimento, inovação e transferência de tecnologias promovido por diferentes instituições públicas e privadas. Esses ganhos expressivos podem ser observados abaixo na série histórica de produtividade média de madeira do eucalipto obtida em anuários da antiga Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf) e da atual Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
No contexto de plantios com eucalipto, o cenário atual de expansão para áreas com menor aptidão trouxe um novo conjunto de desafios, o que consequentemente afetou a produtividade média nacional. O rápido crescimento das plantações nas regiões com ocorrência de déficit hídrico acentuado, temperaturas elevadas (inclusive noturnas), solos mais pobres e com elevada variação ambiental entre sítios são condições que têm demandado esforços relevantes, sobretudo, na elaboração de novas estratégias de produção.
Além dos desafios edafoclimáticos, o aumento na ocorrência de insetos-pragas e doenças emergentes tem impactado no desempenho das plantações de eucalipto.
Neste caso, destaca-se a ocorrência de pragas como o percevejo bronzeado, o psilídeo-de-concha, a vespa-da-galha, as lagartas desfolhadoras, as formigas cortadeiras (sobretudo com as iminentes limitações no uso de moléculas importantes no controle desta praga).
A escassez de materiais genéticos plenamente adaptados tem sido um problema recorrente, principalmente nas novas fronteiras, onde as condições edafoclimáticas têm-se mostrado desafiadoras.
Levantamentos recentes indicam um aumento na exclusão de clones operacionais de eucalipto nas principais empresas do setor, em decorrência de limitações relacionadas à sua adaptação e à suscetibilidade a fatores bióticos e abióticos. Esse cenário evidencia a necessidade de fortalecer cada vez mais os programas de melhoramento genético, envolvendo o uso de diferentes espécies e estratégias de experimentação visando à obtenção de genótipos/cultivares mais resilientes e com maior adaptação às condições de cultivo em novas fronteiras.
O setor florestal tem também direcionado grandes esforços para inovar e ampliar o uso de soluções que contribuam para a modernização e sustentabilidade do setor.
O uso de agentes de controle biológico, como parasitoides e predadores no manejo integrado de pragas, tem sido cada vez mais empregado. Adicionalmente, a incorporação de novas ferramentas associadas à silvicultura de precisão, como o monitoramento climático em tempo real, a modelagem ecofisiológica e o uso de geotecnologias têm proporcionado avanços significativos no desenvolvimento de plantações florestais mais resilientes.
Contudo, a efetividade dessas estratégias requer tempo, investimento continuado em pesquisa e, sobretudo, articulação entre diferentes atores do setor. Os desafios da produtividade florestal não serão resolvidos com soluções isoladas. Eles exigem uma ação integrada, baseada na cooperação entre empresas, instituições de pesquisa e universidades. A história da silvicultura brasileira demonstra que somos capazes! n
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Discos de corte para Feller: conforme modelo ou amostra
Discos especiais conforme desenho
Detalhe de encaixe para ferramentas de 4 lados
• Disco de corte com encaixe para utilização de até 20 ferramentas, conforme possibilidade devido ao O externo.
• Diâmetro externo e encaixe central de acordo com a máquina
P Usinagem de peças conforme desenho ou amostra: Eixos, acoplamentos, roscas sem-fim transportadoras, roletes e tambores para esteiras transportadoras, tambores para pontes rolantes, cilindros hidráulicos e pneumáticos e outros.
A crescente demanda por alimentos, fibras e energia, aliada às mudanças climáticas e à escassez de recursos naturais, tem impulsionado a transformação digital no setor agroflorestal. Tecnologias digitais como Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA), sensoriamento remoto, Big Data e Sistemas de Informação Geográfica (SIG) precisam estar alinhadas na forma como produtores e gestores florestais tomam decisões, otimizando recursos e aumentando a produtividade de forma sustentável.
Silvicultura digital: eficiência e precisão
A silvicultura digital, ou chamada por alguns de Silvicultura 4.0, busca integrar sensores, drones, softwares de gestão e algoritmos inteligentes para monitorar e gerenciar plantações florestais
em tempo real. Essa abordagem permite, entre outros processos, o monitoramento climático e do solo, com sensores instalados no campo para coletar dados sobre umidade, temperatura, pH e nutrientes do solo, possibilitando ajustes precisos na irrigação e adubação; o mapeamento de produtividade, usando drones, rovers (veículos como robôs autônomos) e imagens de satélite para capturar informações sobre o desenvolvimento das culturas, identificando áreas com baixo desempenho e possibilitando intervenções localizadas; gestão de insumos, com o uso da base em dados georreferenciados, para a aplicação mais assertiva de fertilizantes, defensivos e mudas de forma variável, reduzindo desperdícios e impactos ambientais; e previsão de produtividade e riscos, aplicando modelos preditivos baseados em IA, que auxiliam na antecipação de ataques de pragas, doenças e eventos climáticos extremos, permitindo ações preventivas.
Espera-se que tecnologias emergentes como computação em nuvem, redes 5G, robótica autônoma e biotecnologia digital ampliem ainda mais as possibilidades de inovação no campo. "
Cesar Augusto Valencise Bonine
Gerente de Gestão de Inovação e Propriedade Intelectual da Suzano
Essas ferramentas aumentam a eficiência operacional, reduzem custos e promovem uma silvicultura mais resiliente e sustentável.
Digit alização na silvicultura: monitoramento e sustentabilidade
No nosso setor, as tecnologias digitais têm papel fundamental na gestão de florestas plantadas e nativas, podendo citar algumas aplicações, destacando-se:
• Inventário florestal digital: O uso de drones, LIDAR (Light Detection and Ranging) e imagens de satélite permite estimar volume de madeira, altura das árvores e densidade da vegetação com alta precisão;
• Monitoramento de desmatamento e incêndios: Plataformas como MapBiomas e Global Forest Watch utilizam dados de sensoriamento remoto para detectar alterações na cobertura vegetal quase em tempo real, sendo relevante nos dias atuais, frente a novas regras e políticas contra o desmatamento;
• Gestão de ativos florestais: Softwares de planejamento florestal integram dados de crescimento, colheita e transporte, otimizando a cadeia produtiva e garantindo o manejo sustentável. Exemplos de sistemas para criação de cenários e geração de recomendação de alocação clonal em macroambientes específicos, manejo otimizado de talhadia ou alto fuste, recomendação de adubação são casos concretos que trazem retorno financeiro imediatos.
• Rastreamento e certificação: Tecnologias como blockchain estão sendo exploradas para garantir a rastreabilidade da madeira, desde a origem até o consumidor final, fortalecendo a transparência e a conformidade com normas ambientais.
Big data e Inteligência Artificial: tomada de decisão baseada em dados
A coleta massiva de dados no campo só se torna útil quando transformada em informação relevante. É nesse contexto que a Big Data e a IA ganham destaque. Plataformas analíticas processam grandes volumes de dados históricos e em tempo real para identificar padrões de produtividade e fatores limitantes, otimizar o uso de recursos naturais e insumos, apoiar decisões estratégicas, como o melhor momento para
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plantar, colher ou aplicar defensivos e personalizar recomendações para cada talhão ou propriedade.
Com algoritmos de aprendizado de máquina, os sistemas se tornam cada vez mais precisos e adaptativos, aprendendo com os resultados obtidos e ajustando suas previsões.
Desafios e oportunidades
Apesar dos avanços, a adoção de tecnologias digitais no campo ainda enfrenta desafios importantes:
• Conectividade rural: A falta de acesso à internet em áreas remotas limita o uso de soluções baseadas em nuvem e comunicação em tempo real;
• Capacitação técnica: Ainda há uma lacuna da aplicação de ferramentas digitais, exigindo programas de capacitação e assistência técnica;
• Custo de implementação: O investimento inicial em equipamentos e softwares pode ser elevado, mesmo para grandes empresas;
• Integração de sistemas: A interoperabilidade entre diferentes plataformas e dispositivos ainda é limitada, dificultando a consolidação de dados. Neste caso, a construção de um robusto banco de dados é vital, como a construção de bons alicerces nas edificações.
Por outro lado, o avanço da conectividade via satélite, a popularização de dispositivos móveis e o surgimento de startups agrotecnológicas ( agtechs ) estão tornando essas soluções mais acessíveis e escaláveis.
O futuro da produção agroflorestal digital
O futuro da agricultura e da silvicultura será cada vez mais orientado por dados. Espera-se que tecnologias emergentes como computação em nuvem, redes 5G, robótica autônoma e biotecnologia digital ampliem ainda mais as possibilidades de inovação no campo.
Além disso, a integração entre agricultura e florestas — por meio de sistemas agroflorestais e práticas regenerativas — poderá se beneficiar enormemente da digitalização, promovendo paisagens produtivas mais resilientes, biodiversas e alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). n
Recuperação de áreas degradadas
Naturalmente rico em biodiversidade, esse é o Brasil, com 851 milhões de hectares, que se distribui em ampla latitude (5ºN a 33ºS, respectivamente acima da linha do equador e abaixo o trópico de capricórnio) e longitude (35ºS a 74ºO), com ambientes influenciados pela maritimidade, continentalidade, grandes variações altitudinais, clima equatorial, tropical e temperado.
As características físicas aliadas aos aspectos intrínsecos de cada bioma modulam preliminarmente as aptidões naturais de ocupação do espaço, condição que, atrelando-se aos aspectos culturais e políticos, determinam o diversificado
histórico de uso, conservação e/ou degradação. De acordo com MapBioma, o território nacional tem experimentado intensa degradação, possivelmente com cerca de 25% da vegetação nativa nessa situação, caracterizada como “múltiplas representações, não sendo uma definição simples, mas variável com a perspectiva”. Nesse contexto, revelam que não existe um estado definido para degradação, e assim trataremos no texto, da perspectiva florestal. Lembremos que, historicamente, tudo começou há séculos, com a exploração dos recursos naturais.
Com o tempo, conjuntamente com a tentativa de proteção, surgiram leis e regulamentações mais ou menos rígidas para o controle do desmatamento e, mais recentemente, para a conservação dos ecossistemas naturais (muitas vezes, já antropizados em determinado nível de degradação).
Diante da dimensão do território brasileiro, destacamos que cada região e área representam realidades específicas, devendo ser analisadas e planejadas como tal, quando o conhecimento técnico prevalecerá. "
Sebastião Venâncio Martins
Professores do Departamento de Ciências Florestais da UF-Santa Maria e UF-Viçosa, respectivamente
Enquanto isso, ao setor florestal sempre foram direcionadas grandes proporções de áreas economicamente “marginais” na perspectiva da agricultura e pecuária, e nesses ambientes os reflorestamentos ou florestamentos eram estabelecidos.
Diante das dificuldades vividas, o setor aprendeu a estabelecer rotinas pautadas em análise de sítio, planejamento e operações, associadas à análise econômica do investimento.
Por isso, ainda hoje, converte áreas indesejáveis para outros cultivos em reflorestamentos rentáveis. Consequentemente, engenheiros florestais e profissionais ligados à área conseguem aliar a recuperação de áreas degradadas com o desenvolvimento ambiental, social e econômico.
Entretanto, o investimento requer retorno, e por isso a “matemática” está por trás disso, de modo que, se uma área degradada pode ser regularizada e o reflorestamento for economicamente viável, será destinada a esse fim. Por outro lado, se o nível de degradação for acima do que o investimento suporta, serão utilizadas técnicas que requeiram menor investimento,
Áreas convencionalmente utilizadas para reflorestamento com elevada produtividade diante tratos silviculturais e materiais genéticos apropriados, cumprindo satisfatoriamente seu papel econômico, social e ambiental.
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salvo quando a degradação apresente riscos eminentes e demande maior velocidade da restauração.
Por isso, o papel de equipes multidisciplinares no planejamento de cada propriedade depende de “engenharia”, de modo que estudo de técnicas potenciais e seus respectivos custos são os balizadores da decisão pelo reflorestamento. E, paralelamente, a perspectiva de mercado futuro e do custo da terra ditará até onde cada empreendimento pode ousar ocupar um ambiente degradado com plantios florestais.
A exemplo disso, o litoral norte e sul do Rio Grande do Sul, predominantemente arenoso e com formação de dunas, recentemente vem substituindo áreas com Pinus ssp. (espécie mais rústica) por clones de Eucalyptus spp.
No local, estratégias como o aproveitamento do resíduo da colheita de pinus e seu enleiramento para redução do impacto da areia trazida pelo vento, cobertura do solo e ciclagem, preparo da linha de plantio, adequação de espaçamentos, maior frequência e período de adubação de cobertura, surpreenderam, pois, no ;
Áreas degradada com nível de degradação incompatível com o investimento ou inelegível para o reflorestamento; com matriz de vegetação nativa no entorno, podem ser utilizados plantios em núcleos e RN assistida, visando a recomposição São mantidas como reserva para crédito de carbono
Áreas com determinado nível de degradação após desmatamento, sobrepastoreio ou agricultura extensiva, onde o reflorestamento é compatível com o retorno produtivo, apesar de exigir técnicas específica, maior aporte de insumos e investimento
Áreas degradadas, com baixa resiliência, restritas matriz de vegetação no entorno, depende do plantio com ou sem semeadura, visando restauração De acordo com a posição no local tem a função de preservação ou conservação para crédito de carbono
Áreas degradados, com relevo acidentado ou na beira de rios, demanda auxílio por técnicas de Engenharia Natural, visando estabilização do solo com utilização de espécies adequadas, de acordo com a posição e condição do terreno Ocupa a função de preservação permanente
passado, essas áreas foram consideradas degradadas e inapropriadas a uma silvicultura mais exigente.
Desse modo, áreas consideradas degradadas e problemáticas, devido à formação de dunas, estão sendo recuperadas pela silvicultura.
Paralelamente, acreditamos que a ampliação e o suprimento de volume de madeira para as novas fábricas podem surgir por meio da destinação de áreas de pastagens degradadas, que ocorrem em todo o Brasil, para uso no reflorestamento.
Além disso, mudanças climáticas e extremos meteorológicos têm provocado frustração na produtividade agrícola, por pequenos e médios produtores, com a perda de produção em anos consecutivos e a degradação de áreas ripárias.
Desse modo, pequenas e médias propriedades agrícolas poderiam ocupar maior notoriedade e valorização em parcerias, por empresas do setor florestal, a partir de certificações de gestões florestais em grupo.
Apesar de algumas experiências nessa linha, supõe-se que existe espaço para a ampliação dessa modalidade, pois, mesmo que apresentem determinado nível de degradação, esse é comparativamente baixo e mais facilmente revertido em reflorestamentos com elevada produtividade.
Por outro lado, a restauração em áreas degradadas ou inelegíveis ao reflorestamento (APP – Áreas de Preservação Permanente) e ARL – Áreas de Reserva Legal, entre outras) já é uma prática realizada por grandes empresas florestais, principalmente nas certificadas, que mantêm cerca de 66% das áreas protegidas.
Quando a área é degradada em nível incompatível financeiramente para fins produtivos, receberão práticas de restauração mais ou menos onerosas de acordo com a sua situação, futuramente podendo servir para fins do tão esperado crédito de carbono.
Na condição de degradação em áreas de preservação permanente, cita-se a experiência de casos do rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho e do desastre ambiental de 2024 no Rio Grande do Sul,
onde a restauração se torna mais onerosa, muitas vezes não podendo ser conduzida com técnicas simples.
Nesses casos, são necessárias técnicas de Engenharia Natural, a partir do uso de espécies e materiais inertes adequados, prática ainda conduzida em reduzida escala no Brasil, pelo custo mais elevado.
Cabe destacar também as técnicas de nucleação e de regeneração natural assistida implantadas com sucesso, por exemplo, na restauração de APPs de hortos florestais da CMPC Celulose Riograndense, que reduziram significativamente os custos da restauração florestal, quando comparadas ao reflorestamento em área total. Assim, a simplificação, com a utilização de técnicas inadequadas, pode representar disposição, mas pouca efetividade.
No contexto da mineração, podemos citar alguns projetos desenvolvidos pelo LARF – Laboratório de Restauração Florestal da Universidade Federal de Viçosa, com a recuperação de áreas mineradas, de áreas de compensação e de áreas atingidas por rejeitos.
Na Zona da Mata mineira, os projetos de restauração florestal com a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) têm viabilizado o retorno da floresta estacional semidecidual em poucos anos, tanto em áreas mineradas como em áreas de compensação. No mesmo sentido, parcerias do LARF com a Reparação Bacia Rio Doce e com a Vale têm contribuído com a recuperação de áreas atingidas por rejeitos, na região de Mariana e de Brumadinho.
Em comum estes projetos têm possibilitado a formação de corredores ecológicos e contribuído com a mitigação das mudanças climáticas através do sequestro de carbono.
Portanto, diante da dimensão do território brasileiro, destacamos que cada região e área propriamente representam realidades específicas, devendo ser analisadas e planejadas como tal, quando o conhecimento técnico pautado em experiência prevalecerá. Somente a partir disso é possível classificar o nível de degradação, identificar as técnicas de intervenção e o seu melhor propósito . n
a Reflorestar no mercado de biomassa florestal
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Recuperação de áreas degradadas
As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul, iniciadas no final de abril de 2024, marcaram um dos episódios mais devastadores da história recente do Estado. As enchentes que se seguiram resultaram não apenas em perdas humanas, mas também em uma crise ambiental de grandes proporções. Foi algo devastador. As florestas nativas e suas formações foram particularmente atingidas. E combinado com um histórico severo de desmatamento, resultou em impactos profundos nas áreas de remanescentes florestais.
As consequências das inundações, contudo, vão além da perda física da vegetação. A fragmentação florestal se intensificou reduzindo a conectividade das áreas remanescentes. Isso compromete os fluxos naturais de dispersão de pólen e sementes, fundamentais para a manutenção da diversidade genética das espécies vegetais. Com menor conectividade, animais e insetos também são comprometidos pela eliminação de pontes importantes que estes corredores de conexão faziam entre uma área e outra. De forma geral, fauna e flora se veem comprometidos, reduzindo a variabilidade genética das populações e comprometendo a resiliência das espécies quando expostas a condições ambientais adversas. Diante disso, é fundamental pensar em estratégias de conservação genética da flora, que sejam robustas, especialmente nas áreas diretamente afetadas pelas enchentes.
Assim, o que começou como uma pesquisa de mestrado da UFV - Universidade Federal de Viçosa, focada em soluções inovadoras para a conservação genética de espécies vegetais ameaçadas, transformou-se em um projeto de grande impacto ambiental, social e científico. Desenvolvida no ambiente acadêmico da UFV, a técnica de resgate de DNA vegetal aliada à indução de florescimento precoce demonstrou, ainda em seus primeiros testes, um potencial transformador para a recuperação de áreas degradadas e para a preservação da base genética de espécies nativas.
Diante dos resultados promissores, e o caso de sucesso na Vale, vislumbramos a possibilidade de aplicar essa tecnologia em um contexto real e urgente: a recuperação das áreas afetadas pelas enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul.
E a UFV, sempre próxima da sociedade e com anos de parceria público-privada, viu novamente a responsabilidade de colocar sua tecnologia a serviço da sociedade. O mesmo conhecimento gerado na universidade, que vem sendo utilizado para apoiar na restauração de ecossistemas de forma prática, agora passa a ser aplicado em um novo cenário de urgência ecológica, marcado pela perda massiva de cobertura vegetal, fragmentação florestal e riscos à biodiversidade no Rio Grande do Sul.
Ao compartilhar com o RS uma tecnologia concebida em meio acadêmico, a UFV reforça o papel das universidades como agentes ativos na reconstrução de paisagens naturais e na conservação de recursos genéticos fundamentais para o futuro dos biomas brasileiros. "
Franco Freitas Quevedo Gerente de Pesquisa em Manejo Florestal da CMPC
Neste cenário, a CMPC e o Governo do Estado do RS anunciaram, em abril deste ano, o Projeto Reflora. Com objetivo principal de atuar na conservação e recuperação genética de 30 espécies vegetais nativas afetadas pelas enchentes, com prioridade para aquelas que já se encontram ameaçadas, segundo listas oficiais de conservação.
A estratégia inclui o resgate de indivíduos isolados, em risco de morte ou senescência, permitindo sua manutenção temporária em ambientes protegidos e controlados, até que possam ser reintroduzidos no campo em condições favoráveis.
Um dos diferenciais dessa abordagem está no uso da indução de florescimento precoce, que possibilita que os indivíduos resgatados e propagados iniciem seu ciclo reprodutivo imediatamente após a implantação nas áreas de restauração.
Com isso, espera-se que ocorram cruzamentos entre indivíduos geneticamente distintos, uma vez que os resgastes buscam materiais genéticos não aparentados presentes em diferentes populações e fragmentos florestais, favorecendo o aumento da variabilidade genética intraespecífica, um fator essencial para a resiliência ecológica das populações a longo prazo.
Além disso, ao antecipar a produção de sementes ainda no momento do plantio, o projeto vislumbra uma redução significativa no
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tempo normalmente exigido por mudas seminais para alcançar a maturidade reprodutiva, a qual é variável entre espécies, mas muito comum que sejam entre os 5 e 10 anos. Essa antecipação permite que as mudas produzidas no projeto sejam fontes imediatas de sementes e promovam a aceleração da regeneração natural das áreas afetadas, promovendo uma restauração ambiental mais eficaz, conectada ao contexto genético e ecológico das populações originais.
E a CMPC, uma empresa que foi tão importante nos episódios das chuvas no RS movida pelo senso de responsabilidade social e ambiental, colocou seu corpo científico para atuar em parceria com a UFV, com o Governo do Estado do RS e com as universidades locais como UFSM, UFRGS, Unisc e PUCRS. Os esforços realizados proporcionam que tenhamos um projeto inovador, correto cientificamente e pleno de sucesso.
Logo, mais do que um avanço técnico, o projeto simboliza a capacidade da ciência pública de oferecer respostas concretas a crises ambientais. Ao compartilhar com o Rio Grande do Sul uma tecnologia concebida em meio acadêmico, a UFV reforça o papel das universidades como agentes ativos na reconstrução de paisagens naturais e na conservação de recursos genéticos fundamentais para o futuro dos biomas brasileiros. n
A produtividade florestal, especialmente em plantios clonais de Eucalyptus spp., tem apresentado notável incremento nas últimas décadas, resultado direto da aplicação sistemática de programas de melhoramento genético aliados a práticas intensivas de manejo. Nesse cenário, o Brasil se consolida como referência mundial em silvicultura, alcançando produtividades médias superiores a 40m³/ ha/ano, com registros que ultrapassam 60m³/ ha/ano em ambientes altamente favoráveis. Esses avanços refletem o sucesso do processo de domesticação dessas espécies e ilustram o impacto positivo do investimento contínuo em genética e manejo.
Uma das lições mais valiosas proporcionadas pela genética é que o progresso sustentável da produtividade depende de investimentos contínuos em seleção e recombinação de genótipos superiores. O programa de melhoramento genético do Eucalyptus no Brasil, iniciado nos anos 1960, evoluiu significati-
vamente: da introdução e seleção massal de procedências, avançou para estratégias mais sofisticadas, como a seleção intra e interespecífica, a hibridização controlada e a propagação clonal. Mais recentemente, incorporou ferramentas biotecnológicas e genômicas, assegurando ganhos cumulativos e sustentados, não apenas no volume de madeira produzida, mas também na melhoria da forma do fuste e na resistência a estresses bióticos e abióticos.
Outro aprendizado central reside na importância das avaliações rigorosas e contínuas. A base conceitual do melhoramento repousa na identificação e recombinação de genótipos superiores, a partir de avaliações fenotípicas e genotípicas conduzidas em diversas regiões produtivas. Esses ensaios possibilitam a estimativa de parâmetros genéticos fundamentais, como herdabilidade, variância aditiva e correlações genéticas, sustentando as decisões técnicas com dados robustos. A adoção de sistemas clonais, via micropropagação ou propagação vegetativa, potencializou a multiplicação em larga escala de indivíduos superiores, promovendo a homogeneidade dos plantios e a maximização dos ganhos genéticos por ciclo.
A prática do melhoramento também reforça que produtividade não se resume ao volume de madeira. Embora atributos de crescimento, como incremento médio anual, sejam determinantes, as características de qualidade da madeira, densidade básica, composição química e propriedades anatômicas são igualmente
Uma das lições mais duradouras deixadas pelo melhoramento genético é a necessidade de continuidade e visão de longo prazo. "
Brígida Maria Reis Teixeira Valente
Gerente de Melhoramento, Biotecnologia e Tecnologia da Madeira da Eldorado
críticas, especialmente para a indústria de base florestal. Assim, o melhoramento busca um equilíbrio: elevar a produtividade volumétrica e, simultaneamente, otimizar a qualidade da madeira, adequando os materiais genéticos às crescentes demandas industriais.
Nos últimos anos, consolidou-se outro ensinamento essencial: a necessidade de integrar, de forma efetiva, as ferramentas biotecnológicas em todas as etapas do melhoramento e da gestão florestal. A genotipagem, por exemplo, desempenha papel central na garantia da identidade clonal e na oferta de informações confiáveis para a tomada de decisões, conforme ilustrado na figura X. Além disso, contribui na avaliação da distância genética entre matrizes e na validação da identidade dos materiais ao longo das diferentes fases do Programa de Melhoramento Genético (PMG), assegurando a execução das melhores estratégias e a segurança na seleção de clones promissores.
A análise da interação Genótipos x Ambientes (GxE) evidencia mais um princípio basilar: o sucesso depende da capacidade de compreender e manejar essas interações.
A correta interpretação dessa relação, como demonstrado na figura Y, na página seguinte, é decisiva para maximizar a produtividade, orientando com maior precisão as estratégias de seleção e manejo. Nesse mesmo contexto, a incorporação de métodos de inteligência artificial ampliou significativamente a capacidade de prever o desempenho genético, estimando
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a contribuição de cada variável e possibilitando a definição de níveis críticos de produtividade, além do refinamento contínuo dos critérios de seleção.
Um tema recorrente no setor é a dificuldade em superar clones antigos. Essa situação revela um aprendizado estratégico: o avanço depende da disposição em ajustar manejos e protocolos aos novos materiais, e não o contrário. Muitos procedimentos de manejo e tecnologias foram concebidos tendo como base clones antigos, consolidando uma espécie de "zona de conforto" que pode limitar a inovação, restringindo tanto a elevação da produtividade quanto a adaptação a novos desafios.
Além disso, transformar um clone em um “Clone Comercial” produtivo exige esforços que extrapolam as etapas clássicas do melhoramento genético, tradicionalmente compreendidas em um ciclo de 12 a 14 anos, com avaliações criteriosas, conforme ilustrado na figura Z, na página seguinte.
No entanto, a consolidação efetiva de um clone demanda superar fases frequentemente negligenciadas, como a adaptação ao manejo de viveiro e campo. Não são raros os casos em que clones, mesmo após vencerem todas as etapas técnicas, ficam retidos por dificuldades nessas fases finais, que exigem ajustes específicos. A figura Z sintetiza esse processo, destacando não apenas as etapas tradicionais, da hibridação à recomendação, mas também duas fases complementares e indispensáveis:
X – Genotipagem: ferramenta utilizada para confirmar a identidade clonal, avaliar a distância genética entre matrizes e garantir a confiabilidade nas fases do Programa de Melhoramento Genético e Plantio Comercial.
Pomar de Hibridação
Otimização dos cruzamentos dentro das estratégias de melhoramento
Seleção de Clones em Experimentos Jardim Clonal Viveiro Plantios Comerciais ;
Identificação dos materiais durante resgate, garantindo a identidade
Confirmação de matrizes propagadas em viveiro para plantios précomerciais
Validação dos indivíduos utilizados na caracterização
Y - Representação da interação genótipos x ambientes: ajustando o material genético às variáveis ambientais para máxima produtividade. Análise de interação genótipos-ambientes para 12 materiais genéticos e 4 diferentes ambientes de produção.
a construção de protocolos para produção de mudas e o desenvolvimento de práticas específicas de plantio e manejo silvicultural. Assim, o sucesso de um clone resulta da combinação entre rigor técnico e integração operacional, permitindo a plena expressão de seu potencial produtivo.
Por fim, uma das lições mais duradouras deixadas pelo melhoramento genético é a necessidade de continuidade e visão de longo prazo. O êxito de um Programa de Melhoramento Genético Florestal depende de estratégias claras e sustentadas, com definição de metas, indicadores e adequada gestão da informação, assegurando o armazenamento seguro de dados em sistemas especializados. O programa
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de melhoramento deve ser encarado como uma iniciativa contínua, que requer constância, acompanhamento sistemático e rigor na execução de cada etapa. Mais do que selecionar clones para atender a demandas imediatas, trata-se de construir um legado de ganhos sustentáveis ao longo do tempo.
Ademais, é importante reconhecer que o sucesso de um clone não depende exclusivamente da equipe de melhoramento, mas resulta de um esforço coletivo, envolvendo toda a empresa. A consolidação de materiais genéticos comerciais requer integração entre diferentes áreas, promovendo discussões multidisciplinares e ajustes contínuos de protocolos, de modo a garantir que o potencial genético se traduza em adaptação, produtividade e longevidade no campo. Assim, cabe à organização atuar de forma coordenada e resiliente para impulsionar a produtividade, tanto no presente quanto no futuro, enfrentando com preparo os desafios que certamente surgirão: como novas pragas e doenças emergentes, alterações climáticas e, sobretudo, as novas exigências do mercado por diferentes produtos, que podem demandar rápidas adaptações nos materiais genéticos e nos processos produtivos. n
A silvicultura brasileira viveu uma revolução silenciosa nas últimas décadas. Saímos dos plantios seminais, com produtividade modesta e alta variabilidade, para o uso de clones altamente selecionados, melhorados geneticamente e adaptados a diferentes regiões do País. Isso permitiu ganhos impressionantes em volume, uniformidade e qualidade da madeira, transformando o Brasil em referência mundial em florestas plantadas e produtividade.
Essa transformação foi impulsionada por avanços expressivos na genética florestal, com programas de melhoramento genético convencional baseados em seleções fenotípicas cada vez mais robustas. Nas últimas décadas, esses programas incorporaram ferramentas sofisticadas, como o uso de marcadores moleculares, seleção genômica, biotecnologia e modelos estatísticos avançados. Como resultado, os materiais clonais hoje disponíveis estão mais bem adaptados a condições edafoclimáticas específicas, contribuindo para maior estabilidade produtiva e expansão do cultivo florestal para áreas antes consideradas marginais.
O mercado de mudas, por sua vez, tornou-se um elo estratégico nessa cadeia de inovação. A demanda crescente por materiais genéticos superiores estimulou a profissionalização dos viveiros, exigindo padrões mais elevados de qualidade, rastreabilidade e controle fitossanitário. No entanto, ainda há desafios relacionados à logística, escalabilidade e à adoção de tecnologias modernas por pequenos e médios produtores. A integração entre pesquisa, produção de mudas e aplicação no campo é essencial para garantir que o potencial genético chegue plenamente ao talhão. Nesse cenário, empresas como a Aperam BioEnergia vêm se destacando por investir em programas próprios de melhoramento genético e produção de mudas clonais de alto desempenho, alinhadas às exigências do solo e clima do Vale do Jequitinhonha e outras regiões do Brasil. Mais do que aplicar essa tecnologia em suas próprias operações, a Aperam disponibiliza ao mercado nacional mudas de alta qualidade, contribuindo ativamente para o fortalecimento do setor florestal e apoiando produtores e empresas em todo o País no enfrentamento dos desafios de produtividade e sustentabilidade. Apesar dos avanços, um desafio persistente e imediato permanece: a produtividade real das florestas está aquém do seu potencial máximo. Há um descompasso preocupante entre o volume estimado em pé e o que, de fato, chega à indústria ou o que se esperava de produtividade em áreas plantadas — seja para celulose, serraria ou carbonização.
O futuro da produtividade florestal dependerá da nossa capacidade de combinar genética, ciência, estratégia, execução e responsabilidade socioambiental com equilíbrio e visão integrada. "
Gerente Executivo de P&D e Novos Negócios, e Especialista em Melhoramento Genético na Aperam BioEnergia, respectivamente
Essa perda não se explica apenas por fatores genéticos ou climáticos, mas também por falhas operacionais no manejo, que vão desde o preparo de solo e o controle de pragas até práticas silviculturais inadequadas ou inconsistentes. Superar esse abismo entre potencial e resultado exige uma abordagem integrada, que combine genética de ponta, mudas de alta qualidade, manejo rigoroso e inovação contínua no campo.
A ponte entre genética e campo - o papel dos viveiros: Nesse cenário, o mercado de mudas assume papel estratégico ao ser o elo entre os avanços científicos e a realidade operacional no campo. Viveiros modernos deixaram de ser apenas estruturas produtivas para se tornarem centros de inovação e excelência técnica. Cabe a eles garantir que os materiais genéticos de alta performance cheguem ao campo com qualidade fisiológica, sanidade e rastreabilidade.
A produção de mudas clonais por miniestaquia, micropropagação ou sementes melhoradas exige infraestrutura tecnificada, controle de qualidade e capacitação constante. Falhas nesse processo geram mudas de baixa qualidade que afetam a sobrevivência e produtividade florestal, e mesmo o uso de clones fora da sua zona de adaptação gera prejuízos que se acumulam ao longo de todo o ciclo florestal. A multiplicação em larga escala de genótipos superiores também impõe desafios, já que nem todos os clones respondem bem aos métodos de propagação, e a estabilidade genética deve ser mantida rigorosamente.
Manejo: um gargalo produtivo: Mesmo o melhor material genético não expressa seu potencial se o manejo for falho. Plantios malconduzidos, falhas na correção de acidez do solo, adubação desbalanceada e controle ineficiente de pragas — especialmente a formiga cortadeira — são exemplos de fatores que reduzem a produtividade final. Estima-se que perdas de até 30% possam ocorrer somente por controle inadequado dessa praga.
Além disso, o adensamento dos plantios, muitas vezes adotado para aumentar a produtividade por hectare, exige cuidados técnicos adicionais. Em regiões com déficit hídrico, o espaçamento inadequado pode gerar competição excessiva por recursos, elevando o risco de mortalidade precoce, perda de uniformidade e produtividade.
Mudanças climáticas e o desafio da adaptação: As alterações no regime hídrico, temperaturas extremas e eventos climáticos imprevisíveis já impactam o crescimento das
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florestas plantadas. A seleção e o uso de clones adaptados tornam-se, assim, um dos principais focos dos programas de melhoramento. Em regiões como o Cerrado, com baixa precipitação e solos pobres, o ajuste genético e o manejo integrado são fundamentais para garantir produtividade sustentável.
Colheita e aproveitamento: a ponta do ciclo: Outro ponto crítico é a eficiência da colheita. Restos deixados em campo, como galhos e ponteiros, muitas vezes representam biomassa valiosa que poderia ser aproveitada para fins energéticos, produção de carvão vegetal ou compostagem. A economia circular no setor florestal ainda é subexplorada, apesar do potencial técnico e ambiental que representa. Além disso, o transporte, o planejamento de corte e a qualidade das operações impactam diretamente o rendimento industrial. Perdas logísticas e operacionais, muitas vezes invisíveis aos olhos do planejamento central, também contribuem para o descompasso entre expectativa e realidade produtiva.
Produtividade como construção contínua: A genética florestal avança por trilhas antes inexploradas, com novas tecnologias como CRISPR e transgenia abrindo caminhos promissores. Essas ferramentas ampliam as possibilidades de ganhos rápidos e precisos em características estratégicas, como resistência a pragas, tolerância a estresses ambientais e maior eficiência no uso de recursos naturais. No entanto, o melhoramento genético convencional permanece como uma base sólida e insubstituível. Com décadas de validação em campo, ele segue sendo o motor confiável que sustenta a produtividade florestal no Brasil.
Se o melhoramento tradicional é como um motor de precisão desenvolvido ao longo do tempo, as novas biotecnologias são como turbinas acopladas — capazes de impulsionar ainda mais o desempenho, mas sempre dependentes da estrutura firme que as sustenta. O verdadeiro desafio está em integrar essas inovações de forma harmoniosa, mantendo a consistência técnica, respeitando os marcos regulatórios e assegurando a sustentabilidade de longo prazo. A missão é clara: produzir mais em menos espaço, conservar os recursos naturais e melhorar vidas por meio de uma silvicultura inteligente, inclusiva e regenerativa. O futuro da produtividade florestal dependerá, portanto, da nossa capacidade de combinar genética, ciência, estratégia, execução e responsabilidade socioambiental com equilíbrio e visão integrada. n
Imagine concluir uma operação de colheita florestal e, de imediato, ter acesso a um mapa de produtividade preciso, revelando com clareza quais áreas da floresta entregaram melhor desempenho e quais exigem atenção no próximo ciclo. Imagine, ainda, que essas informações permitem tomar decisões sobre o próximo ciclo de plantio, ajustando o manejo conforme as condições de solo, clima e outros fatores ambientais. Mais do que uma projeção futura, essa possibilidade já é realidade: as tecnologias embarcadas nos equipamentos atualmente utilizados em campo são capazes de gerar dados estratégicos em tempo real. No entanto, apesar da disponibilidade, essas soluções seguem subutilizadas, representando uma lacuna importante entre o que a tecnologia permite e o que, de fato, é aplicado na gestão florestal brasileira. No contexto atual, em que o crescimento da produtividade das florestas se tem estabilizado, mesmo com os avanços genéticos e de manejo, o uso de equipamentos adequados, além dos dados operacionais gerados no campo, se torna essencial. As máquinas modernas utilizadas na colheita florestal, como os harvesters, já possuem tecnologia capaz de registrar o volume individual de cada árvore colhida, junto com sua localização georreferenciada. Esses dados, quando organizados, formam uma camada de informação estratégica sobre a produtividade da área.
O cabeçote do harvester, por exemplo, registra automaticamente o diâmetro, o comprimento e, portanto, o volume da tora.
Ainda existe uma percepção de que adotar tecnologia exige uma ruptura complexa ou investimentos altos. Na prática, há uma gama de ferramentas já embarcadas nas máquinas. "
Fernando Campos
Gerente Geral da Sotreq Florestal
Coautor: Marcelo Chiabai, especialista em soluções para o setor florestal da Sotreq
Esse volume, cruzado com a posição de cada árvore colhida, resulta em um mapa de produtividade de alta resolução. Esse tipo de recurso, embora esteja embarcado nas máquinas há anos, ainda não é plenamente explorado.
Esse potencial, no entanto, vai além da colheita. Hoje, já existem tecnologias embarcadas para todas as etapas da produção florestal. A seguir, destaco os principais avanços:
Preparo de solo — Tratores de esteira com piloto automático: Esses equipamentos utilizam sistemas de GPS para executar a subsolagem com alinhamento preciso, eliminando falhas humanas e otimizando o uso do terreno. O piloto automático garante consistência na operação e melhora o aproveitamento da área.
Plantio — plantadeiras com georreferenciamento: O plantio mecanizado conta com sistemas satelitais que registram a localização exata de cada muda plantada. Esse dado gera um histórico completo da floresta, árvore por árvore. Essa rastreabilidade cria uma nova camada de controle e análise que pode ser usada ao longo de todo o ciclo produtivo.
Colheita — Harvesters com sensores embarcados e mapeamento georreferenciado: Os harvesters não apenas realizam a colheita e processamento da árvore, como também medem automaticamente o volume, o diâmetro e o comprimento da tora,
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georreferenciando cada ponto. Isso permite gerar mapas de calor da produtividade e avaliar variações por talhão. Além disso, os forwarders, que fazem o transporte da madeira, contribuem para preservar a estrutura do solo, evitando compactações excessivas.
Essas tecnologias oferecem uma precisão que muda o patamar da operação florestal. Quando bem utilizadas, elas fornecem elementos valiosos para diagnósticos mais rápidos e ações corretivas mais assertivas. A coleta automatizada de dados permite que a gestão se antecipe aos problemas e planeje com base em evidências, e não apenas em estimativas ou percepções de campo.
Ainda existe uma percepção de que adotar tecnologia exige uma ruptura complexa ou investimentos altos. Na prática, há uma gama de ferramentas já embarcadas nas máquinas. O desafio está na estrutura de apoio, como capacitação e integração com os processos existentes. Entretanto, o benefício é claro: ao transformar os dados de colheita em informações estratégicas, é possível avaliar a performance, entender as razões para a baixa produtividade de uma área e aplicar as correções no próximo ciclo.
Um estudo de caso realizado por Rafael Donizetti Dias, publicado na revista AgriEngineering, demonstrou como é possível obter dados de produtividade com alta precisão usando harvesters equipados com sensores e GNSS (sistema de navegação por satélite). O estudo confirmou a viabilidade de se obter mapas de produtividade em nível de árvore individual, além de correlacionar esses dados com atributos do solo, otimizando a recomendação de fertilizantes, por exemplo.
Atualmente, a prática mais comum para avaliar a produtividade de florestas ainda é baseada em inventários manuais com baixa resolução espacial. Esse método, embora amplamente utilizado, apresenta limitações importantes: é demorado, impreciso e não reflete a variabilidade real da área. Já os mapas gerados a partir das máquinas proporcionam informações mais densas e representativas, permitindo ações mais assertivas e sustentáveis.
O setor florestal brasileiro, reconhecido mundialmente por sua eficiência, tem agora a chance de dar um salto significativo, unindo tecnologia à gestão operacional. O caminho é conhecido, o recurso já está nas máquinas, mas é preciso mudar a mentalidade para transformar dado em decisão, informação em inteligência e operação em produtividade. n
Saiba como a CENIBRA cuida das florestas, da vida e do futuro.
Disponível em www.cenibra.com.br
O setor florestal brasileiro alcançou um nível de excelência que o coloca entre os mais produtivos do mundo. Esse resultado é fruto de décadas de investimento em pesquisa, inovação genética, mecanização e gestão. Contudo, os desafios atuais pedem mais do que avanços pontuais: é necessário integrar técnica, operação e gestão com um olhar estratégico. O caminho para elevar a produtividade florestal de forma sustentável e financeiramente viável passa pela melhoria dos procedimentos operacionais — base fundamental para garantir o desempenho máximo dos materiais genéticos adaptados às diversas regiões do país.
A silvicultura é uma atividade sensível à qualidade da execução. Cada operação, por mais simples que pareça, tem impacto direto no desempenho da floresta ao longo de seu ciclo produtivo.
É essencial analisar a silvicultura não apenas pelo prisma do hectare, mas pelo custo por metro cúbico produzido. É nesse ponto que a visão financeira entra com força."
Preparar o solo com eficiência não é apenas revolver a terra, mas compreender as limitações físicas e químicas locais e aplicar as correções certas, com técnicas apropriadas e no tempo correto. O plantio exige precisão no espaçamento, qualidade na seleção e no manuseio de mudas, profundidade adequada e alinhamento correto, sempre com foco na uniformidade.
Já os tratos culturais envolvem sincronia entre a demanda das plantas e a oferta de insumos, como nutrientes, controle de matocompetição e proteção fitossanitária.
Erros ou desvios operacionais nessas etapas geram perdas irreversíveis, mesmo quando se trabalha com materiais genéticos superiores. Portanto, investir na qualificação das equipes, padronização de processos, uso de tecnologia embarcada
Paulo Gustavo Souza
Gerente de Operações Florestais da Reflorestar
e monitoramento contínuo das operações é imperativo. A excelência operacional deve ser tratada como um ativo estratégico, e não apenas uma meta operacional.
Alta produtividade não é sinônimo de altos gastos. O verdadeiro desafio está em atingir o melhor resultado técnico com o menor custo possível, preservando a sustentabilidade do negócio. Para isso, é essencial analisar a silvicultura não apenas pelo prisma do hectare, mas pelo custo por metro cúbico produzido. É nesse ponto que a visão financeira entra com força. Entender quais operações geram maior valor, quais etapas podem ser otimizadas e onde estão os principais gargalos é o primeiro passo para uma gestão eficiente.
Ferramentas de controle de orçamento, dashboards operacionais e análise de indicadores são instrumentos fundamentais para dar visibilidade e suportar decisões assertivas. O setor já conta com tecnologias capazes de cruzar dados operacionais com resultados financeiros em tempo real, o que permite ajustes rápidos e decisões baseadas em evidências concretas, e não apenas em percepções ou práticas passadas.
A diversidade climática e edafoclimática do Brasil exige soluções regionais e adaptadas. A mesma prática pode ter resultados muito distintos dependendo da região, do tipo de solo, da genética utilizada e da época do ano. Por isso, a padronização das operações deve estar alinhada com a customização técnica — uma equação que requer conhecimento profundo, experiência de campo e uso de dados locais.
Ao regionalizar as práticas silviculturais, aumenta-se a chance de sucesso, pois se respeitam as limitações e potencialidades de cada ambiente. Além disso, essa abordagem permite a construção de conhecimento local, valorização da mão de obra regional e maior eficiência no uso dos recursos disponíveis. Estratégias como redes de experimentação regionais, acompanhamento de produtividade por zona ecológica e benchmarking entre regiões têm contribuído para elevar os padrões de desempenho florestal de maneira consistente.
Melhorar os procedimentos operacionais exige mais do que tecnologia: demanda cultura. Uma cultura de melhoria contínua, com foco em excelência, metas claras,
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indicadores confiáveis e reconhecimento pelo desempenho é o que sustenta os bons resultados ao longo do tempo. Empresas que investem em treinamentos recorrentes, capacitação técnica e envolvimento da equipe de campo conseguem maior adesão aos protocolos e reduzem significativamente a variabilidade operacional.
Outro fator decisivo é a comunicação entre áreas. A comunicação entre áreas, operacional e administrativa, deve ser fluida, colaborativa e orientada a resultados. Somente assim é possível tomar decisões que considerem os impactos técnicos, operacionais e econômicos de forma integrada, gerando mais valor para o negócio e fortalecendo a sustentabilidade do setor como um todo.
O futuro da silvicultura passa pela intensificação sustentável da produção, ou seja, produzir mais em menos área, com menos recursos e menor impacto ambiental. Para alcançar esse objetivo, é fundamental aplicar a máxima eficiência em todas as etapas do processo. Isso significa combinar manejo técnico rigoroso, execução de qualidade, controle financeiro e adaptação regional. A integração entre esses pilares é o que diferencia operações medianas de operações de alta performance.
Nesse contexto, os procedimentos operacionais deixam de ser um detalhe técnico para se tornarem alicerces estratégicos do negócio florestal. Eles são o elo entre o conhecimento científico e o resultado no campo, entre o planejamento e o desempenho, entre o investimento e o retorno. Investir em sua melhoria contínua não é apenas desejável — é essencial para garantir a competitividade do setor no curto, médio e longo prazos.
Elevar a produtividade florestal no Brasil é um objetivo possível, desde que haja compromisso com a excelência operacional. Isso exige foco, disciplina, inovação e, acima de tudo, integração entre técnica e finanças. O setor florestal brasileiro tem as condições, os profissionais e os recursos para continuar sendo referência global — desde que continue a fazer o básico, muito bem-feito. E o básico, neste caso, começa com a melhoria permanente dos procedimentos operacionais de silvicultura, adequados a cada realidade e executados com inteligência técnica, rigor financeiro e visão estratégica. n
A produção florestal brasileira vive um momento de transformação. Líder global no setor, o País precisa agora responder a uma nova equação: aliar eficiência silvicultural, sustentabilidade e foco nas demandas do mercado. Mais do que produzir em larga escala, o desafio é garantir que cada hectare cultivado entregue valor ao cliente final e faça sentido para a sociedade.
Produzir madeira com alto rendimento por hectare continua sendo um objetivo central, mas os critérios de sucesso estão se modificando. A produtividade florestal, hoje, está diretamente ligada à previsibilidade de entrega, à adequação às especificações do cliente, à rastreabilidade da produção e à governança de toda a cadeia de valor.
A cultura agrícola florestal passou a ser vista como o ponto de partida de uma cadeia integrada que precisa operar em sintonia com as exigências de um respectivo mercado.
As métricas de produtividade levadas em consideração atualmente estão muito longe de serem avaliadas somente como volume de madeira por hectare produzido; para este contexto necessitamos vislumbrar o negócio em que estamos inseridos e o que realmente fará a diferença dentro da cadeia produtiva de um determinado produto. A ideia deste texto consiste em contextualizar uma visão mais específica da siderurgia integrada com produção de carvão vegetal.
Produção de carvão vegetal para siderurgia: Um dos modelos de negócio que temos no Brasil é a siderurgia integrada, onde as siderúrgicas utilizam carvão vegetal para abastecer os seus Altos Fornos. Este modelo coloca o Brasil em destaque na produção de aço sustentável.
O produto substituto do carvão vegetal é o carvão mineral, o qual, por sua vez, não é um produto renovável, sendo derivado do petróleo e, quando utilizado pelos Altos Fornos, emite uma grande quantidade de CO2 para a atmosfera.
Ao contrário do carvão mineral, o carvão vegetal, oriundo do cultivo da cultura agrícola do eucalipto, apresenta um balanço positivo na emissão de CO2, pois as florestas plantadas neutralizam praticamente todo o CO2 emitido pelos Altos Fornos.
Temos clones desenvolvidos e direcionados exclusivamente para produção de carvão vegetal. No passado, os clones eram multifunção e não especializados como hoje. "
Edimar de Melo Cardoso
Diretor Industrial na Aperam South America e Presidente do Conselho da AMIF - Associação Mineira da Indústria Florestal
Este balanço positivo retira da atmosfera em torno de 2,9 toneladas de CO2 por tonelada de gusa, através da manutenção dos plantios florestais, da realização de fotossíntese pelas florestas plantadas e das vegetações nativas que são preservadas nos projetos. Hoje, para cada hectare de florestas plantadas de eucalipto, temos em média 0,6 ha de preservação de vegetação nativa.
Além dos atributos ambientais, estes plantios florestais levam desenvolvimento para as regiões onde estão inseridos e fomentam cada vez mais o crescimento sustentável das regiões. Devido a todos estes atributos, várias empresas que possuem uma governança que pratica e compartilha todos estes valores na cadeia de produção se posicionam como produtores de aço verde.
Plantando a floresta com foco no cliente: Neste modelo voltado à produção de carvão vegetal através do cultivo da cultura agrícola do eucalipto, podemos destacar diversos paradigmas que foram quebrados ao longo do tempo, muitos deles por não terem o negócio do aço inserido no planejamento e que tinham somente a visão da produção de madeira por hectare.
Nos dias de hoje, podemos visualizar um melhoramento genético voltado para características que ofereçam um melhor rendimento nos Altos Fornos da indústria do que volume de produção de madeira por hectare propriamente dito. Temos clones desenvolvidos e direcionados exclusivamente para produção de carvão vegetal. No passado, os clones eram multifunção e não eram especializados como hoje. Desta forma, temos visto materiais genéticos (clones) com maior densidade, outros que possuem menor tempo de secagem no campo (naturalmente), clones que possuem menos galhos nos troncos e várias outras características.
O espaçamento entre plantas tem sido uma ferramenta poderosa para que possamos especializar cada vez mais os plantios, pois podemos determinar o diâmetro e o formato do tronco. Tudo isso aliado a uma nutrição e um manejo florestal exemplares que devem trazer diversos benefícios que irão conferir ao carvão vegetal uma excelente resistência mecânica, granulometria média e carbono fixo ideais para o rendimento dos Altos Fornos.
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Vale destacar que as necessidades dos Altos Fornos variam de empresa, capacidade e setores de atividade (produção de aço, produção de ligas, etc.); para cada situação, são exigidos diferentes clones e práticas silviculturais e de produção de carvão vegetal.
Atualmente o carvão vegetal é um insumo importante nas matrizes de custo de diversos tipos de aço, pois podem chegar a 30-40% do custo total. Desta forma, a sua eficiência afeta diretamente a competitividade da cadeia produtiva dos aços. Pensar no cultivo da floresta desde a escolha do melhor clone até o rendimento do carvão vegetal nos Altos Fornos é um pilar importante para garantirmos a competitividade do negócio.
Tecnologia a serviço da previsibilidade: Ferramentas de sensoriamento remoto, Big Data, Inteligência Artificial, dentre outras, estão sendo integradas à gestão dos negócios, e em nosso setor da agroindústria florestal não é diferente. Com o objetivo de antecipar riscos e otimizar os processos, estas novas soluções permitem um planejamento mais assertivo e/ou mais eficiente, pois podem fornecer informações para uma virada de chave e/ou novos cenários, além de conectar os diversos elos da cadeia, garantindo um tempo de resposta mais ágil e assertivo.
A interface entre a floresta que produz o carvão vegetal e a indústria que produz o aço é fundamental para uma logística eficiente. Como exemplo temos a classificação e o blend das cargas de carvão conforme a necessidade dos Altos Fornos, levando em consideração a qualidade do carvão produzido.
Integração e interfaces de processos até o cliente: A colaboração entre os diversos processos da cadeia produtiva (da muda até a bobina de aço entregue ao cliente), abrangendo os processos logísticos, industriais e comerciais, passa a ter um papel fundamental na performance das empresas. Ao mesmo tempo que necessitamos de uma excelente relação cliente-fornecedor, também precisamos de uma colaboração madura, pois atualmente, com os cenários mudando a todo o momento, o tempo de resposta passou a ser crucial nos negócios. Ter flexibilidade e rapidez são diferenciais que podem definir as empresas de sucesso. ;
Essa integração permite alinhar objetivos, clarear metas e antecipar gargalos e garantir que as empresas estejam em sintonia com as necessidades dos clientes.
Clima, mão de obra e a moeda da sustentabilidade: Entre os fatores que mais desafiam o setor estão os eventos climáticos extremos, como estiagens prolongadas e chuvas irregulares, que afetam diretamente o desenvolvimento das plantações e a qualidade das matérias-primas como o carvão vegetal.
A presença de novas pragas e doenças também exige vigilância constante. Soma-se a isso a dificuldade crescente de encontrar mão de obra qualificada e não qualificada para operações no campo e na indústria.
Desta forma, buscar um manejo sustentável, clones resistentes à seca e um manejo baseado em técnicas de conservação do solo e da água nunca foram tão importantes.
Por outro lado, investir em educação e desenvolver as comunidades onde atuamos é fator preponderante para reforçarmos o presente e construir o futuro. Precisamos olhar para as competências necessárias e agir através de parcerias para que possamos estimular e suprir estas competências.
Os clientes que compram aço ainda não entendem e ainda não pagam pelos benefícios da produção de aço via utilização de carvão vegetal, por isso, transparência e comunicação clara são fundamentais para que os atributos deste modelo de negócio sejam cada vez mais reconhecidos e atestados pela sociedade.
Produzir com sustentabilidade é, acima de tudo, ser reconhecido como tal. A comunicação deve ser estratégica e com propósito, e o discurso tem de estar alinhado com as práticas. A sustentabilidade não é mais um diferencial e sim um atributo que precisamos ter em nossos negócios.
Enfim, o olhar sistêmico e crítico em toda a cadeia de valor da siderurgia e, ao mesmo tempo, o entendimento do que é importante para os clientes finais tornarão a agroindústria florestal cada vez mais estratégica e efetiva. Acredito que, no futuro próximo, o nosso aço verde possa receber o carimbo social e que este participe integralmente na construção de um mundo melhor para se viver. n
O Brasil, com sua vasta extensão territorial, clima favorável e tradição consolidada no uso de bioenergia, apresenta um cenário altamente promissor para a produção em larga escala de energia renovável a partir da biomassa florestal. Essa fonte energética, composta por resíduos de madeira, plantações energéticas como eucalipto e pinus, além de subprodutos da indústria florestal, representa uma alternativa sustentável para a geração de eletricidade, biocombustíveis sólidos (como pellets), biogás e até mesmo para a captura de CO₂ biogênico, utilizado na produção de combustíveis renováveis.
Apesar de seu potencial, a expansão dessa matriz energética enfrenta desafios significativos, especialmente no que se refere à produtividade florestal. Tais desafios abrangem aspectos agronômicos, logísticos, econômicos e ambientais. No entanto, os avanços tecnológicos têm-se mostrado fundamentais para superar essas barreiras, promovendo maior eficiência e sustentabilidade.
Com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e condições climáticas que favorecem o crescimento acelerado de espécies florestais, o Brasil configura-se como um dos principais candidatos à liderança global na produção de biomassa florestal. Espécies como o eucalipto, que atinge a maturidade entre cinco e sete anos, e o pinus, amplamente cultivado no Sul do País, são particularmente adequadas para fins energéticos. Além disso, resíduos provenientes das indústrias de celulose, papel e madeira serrada constituem uma fonte abundante de matéria-prima.
Atualmente, a bioenergia representa cerca de 8% da matriz elétrica brasileira, conforme dados do Balanço Energético Nacional da EPE (Empresa de Pesquisa Energética). No entanto, o potencial da biomassa florestal é significativamente superior, especialmente em um contexto global que demanda fontes renováveis para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
A biomassa florestal destaca-se por sua neutralidade em carbono — desde que manejada de forma sustentável — e por sua capacidade de complementar fontes intermitentes, como a solar e a eólica. Além disso, contribui para a geração de empregos e o desenvolvimento regional.
São vários e muito diversos os desafios à produtividade florestal no Brasil, a começar pelo manejo sustentável do solo. Os solos tropicais brasileiros, frequentemente pobres em nutrientes e suscetíveis à erosão, representam um desafio à produtividade florestal.
A produção em larga escala de energia renovável a partir da biomassa florestal deve estar vinculada a uma análise sistêmica de toda a cadeia. Ela pode elevar o Brasil à condição de protagonista na transição energética global. "
Paulo Squariz Diretor de Negócios de Energia da Suzano
A monocultura de eucalipto, embora eficiente, pode comprometer a fertilidade do solo se não for acompanhada de práticas como adubação equilibrada, rotação de culturas e reposição de matéria orgânica. As mudanças climáticas, com padrões irregulares de precipitação e aumento das temperaturas, também exigem o desenvolvimento de variedades mais resilientes.
A infraestrutura logística também é um ponto crítico. O transporte da biomassa de regiões remotas até as unidades de conversão energética constitui um desafio logístico relevante. A precariedade das vias de acesso eleva os custos operacionais e compromete a eficiência do processo, enquanto o armazenamento inadequado pode resultar na deterioração da biomassa devido à umidade.
Outro desafio à produtividade florestal tem origem na competição pelo uso da terra: A expansão das florestas energéticas compete com atividades como agricultura, pecuária e conservação ambiental, especialmente em biomas sensíveis como a Amazônia e o Cerrado. O risco de desmatamento para abertura de novas áreas é uma preocupação crítica. A utilização de terras degradadas e a adoção de sistemas agroflorestais representam alternativas viáveis, embora demandem planejamento estratégico e incentivos adequados.
A viabilidade econômica é, obviamente, outra variável a ser superada. A produção de biocombustíveis a partir de resíduos florestais, tão relevantes quando falamos de transição energética, ainda enfrenta desafios econômicos, notadamente os elevados custos de produção e a concorrência com fontes fósseis de menor custo. A ausência de políticas de incentivo fiscal e a volatilidade dos preços da energia renovável dificultam a atração de investimentos. Por fim, o desafio proveniente dos impactos ambientais e sociais. A intensificação de monoculturas pode comprometer a biodiversidade, contaminar o solo e os recursos hídricos com agroquímicos e gerar emissões de gases de efeito estufa, caso não sejam adotadas práticas adequadas de manejo. Além disso, é imperativo garantir condições laborais dignas e respeitar os direitos das comunidades locais. Certificações que atestam a qualidade das práticas na cadeia são instrumentos relevantes, mas sua adoção ainda é limitada entre pequenos produtores.
Sem dúvida, a inovação tecnológica constitui um elemento-chave para a superação dos desafios mencionados acima, promovendo ganhos de produtividade, redução de custos e
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maior sustentabilidade. Dentre as principais soluções, destacam-se:
• Melhoramento Genético e Biotecnologia: Técnicas como edição genética (CRISPR), seleção genômica e clonagem de árvores têm permitido o desenvolvimento de variedades mais produtivas e resistentes a estresses ambientais;
• Agricultura de Precisão: O uso de drones com sensores multiespectrais, sistemas de informações geográficas (SIG) e sensores conectados via Internet das Coisas (IoT) possibilita o monitoramento em tempo real das plantações, otimizando o uso de insumos e reduzindo impactos ambientais;
• Inovações em Colheita e Logística: A adoção de colheitadeiras automatizadas, rastreamento por blockchain, bem como veículos autônomos, tem contribuído para maior eficiência operacional;
• Tecnologias de Conversão da Biomassa: Processos como gaseificação, pirólise rápida, cogeração e produção avançada de pellets aumentam a eficiência energética e a competitividade do setor;
• Armazenamento Inteligente: Sistemas de secagem avançados e silos equipados com sensores garantem a preservação da qualidade da biomassa;
• Soluções Ambientais: A integração de sistemas agroflorestais, a captura e armazenamento de carbono (BECCS) e o monitoramento por inteligência artificial são estratégias que reforçam o compromisso ambiental do setor.
Além das inovações tecnológicas, o êxito da bioenergia florestal depende de políticas públicas eficazes. Incentivos fiscais, linhas de crédito acessíveis e programas de capacitação técnica são fundamentais para apoiar pequenos e médios produtores.
A produção em larga escala de energia renovável a partir da biomassa florestal deve estar vinculada, portanto, a uma análise sistêmica de toda a cadeia, dos seus desafios e oportunidades, e ciente de que ela pode elevar o Brasil à condição de protagonista na transição energética global.
Afinal, a despeito dos desafios relacionados à produtividade, logística e sustentabilidade, as soluções tecnológicas disponíveis oferecem caminhos promissores. E, com investimentos consistentes em inovação, infraestrutura e políticas públicas, é possível transformar a biomassa florestal em uma fonte de energia limpa, competitiva e socialmente responsável, contribuindo de forma significativa para um futuro mais sustentável. n
Nanotecnologia, biotecnologia e biorrefinaria
Dá gosto ver o quanto o setor florestal brasileiro avançou nas últimas décadas. E mais ainda observar como empresários, pesquisadores e profissionais do setor se movimentam diante dos desafios crescentes impostos pela economia, pelas mudanças climáticas e pela sociedade. Engenheiros, biotecnólogos, geneticistas, químicos e físicos se encontram unidos em prol de um desafio comum: transformar o setor florestal no grande protagonista da bioeconomia brasileira.
Por décadas, a equação que guiava o setor era relativamente simples: plantar, manejar, colher, processar. Porém, atualmente observa-se um direcionamento mais abrangente e moldado pela inserção de novas tecnologias, especialmente por causa de pressões econômicas, ambientais e sociais. Nesse contexto, tem-se como uma das premissas o fato de que produzir mais não significa apenas plantar melhor, mas repensar substancialmente o próprio conceito de produção florestal.
A produtividade florestal não pode mais ser regida simplesmente por metragem cúbica por hectare, mas também pela capacidade de gerar valor a partir das estruturas químicas naturalmente presentes nas árvores.
O Brasil é uma referência mundial em termos de produção florestal e, atualmente, apresenta um cenário de expansão significativa da sua base industrial florestal e madeireira, com foco principal em fábricas de celulose, painéis e bioenergia devido aos investimentos vultuosos a partir de novos projetos industriais de grande porte.
Não devemos mais pensar que uma floresta se resume simplesmente a árvores robustas e grande volume de biomassa, mas inseri-las em conceitos avançados relacionados à biotecnologia, nanotecnologia e biorrefinaria. "
Pedro Henrique Gonzalez Cademartori
Professor de Nanotecnologia aplicada a materiais lignocelulósicos da UF-Paraná
Conforme indicado pela Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ) no Relatório Anual 2024, o valor bruto da produção do setor de árvores cultivadas no Brasil atingiu R$ 202,6 bilhões no ano de 2023, representando 4,2% do PIB agropecuário e 4% do PIB da indústria de transformação.
Com base neste cenário de crescimento contínuo e positivo do ponto de vista de mercado, surge o questionamento de como garantir a qualidade e a demanda adequada de biomassa lignocelulósica sem ultrapassar os limites ambientais e sociais.
A melhor resposta para este cenário não se resume apenas a investimentos no campo para aprimoramento da produção florestal ou novas plantas industriais, mas sim em uma convergência entre ciência, tecnologia e inovação. Isto remete a inserção de conceitos mais avançados no setor florestal e madeireiro, os quais estão relacionados à biotecnologia, nanotecnologia e biorrefinaria.
Não devemos mais pensar que uma floresta se resume simplesmente a árvores robustas e grande volume de biomassa. Por trás desta escala macroscópica, existe um universo de possibilidades, isto é, a árvore e a madeira obtida através dela visualizada em escala nanométrica para o desenvolvimento de novos produtos. Ou, simplesmente, o mundo nano, onde a matéria-prima oriunda de uma árvore se torna o cenário perfeito para novas soluções de inovação com potencial de quebrar paradigmas no setor florestal e madeireiro, bem como em áreas correlatas.
A nanotecnologia aplicada à biomassa florestal não é mais uma promessa distante. Diante disso, vale ressaltar a celulose e a lignina, dois componentes macromoleculares da madeira e que hoje têm papel primordial em diversos setores, a citar o de polpa e papel. Estes materiais não são mais vistos apenas como insumos para produção de papel ou geração de energia, tendo em vista que a aplicação dos conceitos de nanotecnologia nos permite vislumbrar a celulose e a lignina com papéis estratégicos em um mercado ávido pelo desenvolvimento de novos materiais, agregando alto valor econômico e impulsionando a bioeconomia brasileira e mundial. De fato, deve-se contextualizar a referência da nanotecnologia aplicada à biomassa florestal em conjunto, quando pertinente, aos conceitos de biorrefinaria florestal.
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Para isto, considera-se uma lógica preponderante no setor: quanto maior a capacidade de extração de valor agregado da biomassa, menor será a pressão sobre plantios florestais e, da mesma forma, sobre os ecossistemas naturais.
Diferentemente do que se observava em um passado recente, parte destas soluções não são mais promessas de laboratório, estando limitadas a artigos científicos e patentes de invenção sem aplicabilidade real. Elas já estão sendo transferidas à sociedade, isto é, deixando as prateleiras dos centros de pesquisa com um grau de maturidade (TRL, Technology Readiness Level) minimamente adequado para escalonamento e inserção em unidades fabris. Esse avanço não ocorre por acaso. Ele é fruto de décadas de pesquisa em nanotecnologia, química verde e engenharia de materiais aplicadas à biomassa florestal. A adoção destas estratégias viabiliza uma nova configuração para a relação floresta, indústria e sociedade.
Nesse contexto, a celulose nanoestruturada, ou simplesmente nanocelulose, seja produzida por processos mecânicos, químicos ou enzimáticos, apresenta-se como um dos materiais mais promissores do século e já se insere no mercado como reforço para papéis, por exemplo.
Produzida majoritariamente a partir de fibras de celulose advindas das árvores de florestas plantadas, a nanocelulose é um material com alta resistência mecânica, inclusive superior ao aço, biocompatibilidade, biodegradabilidade, propriedades de barreira marcantes e elevada área superficial. Consequentemente, as suas aplicações extrapolam a indústria de base florestal, fazendo com que seja alvo para os desenvolvimentos de embalagens com propriedades de barreira aprimoradas, adesivos, tintas, cosméticos e dispositivos eletrônicos.
Já a lignina, macromolécula consideravelmente presente na estrutura das árvores, foi considerada por muito tempo um subproduto ou resíduo da indústria de celulose. Porém, da mesma maneira que se visualiza para a celulose, hoje a lignina é pautada como uma das protagonistas no desenvolvimento de novos materiais com base nos conceitos de nanotecnologia aplicada à biomassa florestal. Naturalmente, a lignina possui propriedades antioxidantes, antibacterianas, antitumorais e fotoprotetoras. ;
Isto a coloca como um excelente substituto para materiais sintéticos comumente aplicados em tintas, resinas, cosméticos, embalagens, fármacos, e até mesmo na produção de baterias e supercapacitores.
Quando processada mecânica ou quimicamente para apresentar-se em escala nanométrica, também chamada de nanopartículas de lignina ou nanolignina, este material apresenta alta estabilidade coloidal, elevada área superficial, bem como as mesmas funcionalidades químicas destacadas anteriormente, porém com maior robustez. Isto é, o fato de estar em escala nanométrica, da mesma forma que ocorre para a celulose, faz com que a lignina se torne um dos biomateriais mais promissores da nova economia de base florestal.
Partindo deste princípio, vale ressaltar o papel primordial que as micro e nanopartículas de lignina têm desempenhado em aplicações como estabilizante de formulações e emulsões, carreamento de ativos devido à sua capacidade de encapsulamento e liberação controlada de substâncias químicas. Além disso, a nanolignina tem-se mostrado ao mercado como uma plataforma a ser conNanotecnologia,
siderada no agronegócio em prol do desenvolvimento de fertilizantes inteligentes de liberação controlada defensivos naturais e bioestimulantes. Concomitantemente, destaca-se o potencial de inserção no setor de eletrônica, visto que micro e nanopartículas de lignina também têm sido estudadas como pilar de novas tecnologias com potencial de escalonamento em um contexto de alternativas de precursores para materiais carbonáceos em baterias, supercapacitores, eletrodos e filmes condutores.
Em suma, acredito que o setor florestal tem a opção de avançar definitivamente para um modelo produtivo integrado à inovação, conservação e geração de valor agregado, aliando-se aos potenciais da nanotecnologia aplicada à biomassa florestal; ou ficará refém de modelos ultrapassados, ambientalmente insustentáveis e economicamente frágeis. Não se deve limitar a plantar árvores, mas cultivar soluções para os desafios constantes que surgem mediante as demandas da sociedade. E, felizmente, isto tem acontecido naturalmente junto ao setor florestal brasileiro, ressaltando que o nosso país tem a oportunidade de ampliar o seu grau de referência para o mundo.n
O conceito de biorrefinaria foi inspirado nas refinarias de petróleo. Nessas unidades, busca-se extrair do óleo fóssil o maior número possível de frações e realizar processos químicos que maximizem a lucratividade da cadeia produtiva. Os principais produtos são os combustíveis, que têm baixo valor agregado, mas são produzidos em grande volume. Além deles, há diversos outros itens, como plásticos, resinas e compostos da química fina, com menor volume, porém maior valor agregado.
No caso da biorrefinaria, a lógica é semelhante, mas a matéria-prima provém de biomassas de origem animal, vegetal ou microbiológica. Além disso, espera-se que o processo utilize os princípios da química verde e da economia circular, evitando a geração de resíduos. Esse último conceito é conhecido como bioeconomia, embora novos conceitos, como economia verde, surjam constantemente, trazendo
nuances e desafios adicionais rumo à sustentabilidade.
O setor florestal é uma cadeia econômica de grande relevância, tanto nacional quanto internacionalmente, e o conceito de biorrefinaria se aplica perfeitamente a ele. Um exemplo claro é a indústria de polpação de celulose, que, na forma atual, já pode ser considerada uma biorrefinaria incompleta. No entanto, o setor busca avançar e se consolidar como uma biorrefinaria completa e lucrativa.
Além dessa indústria, outros segmentos do agronegócio florestal também podem adotar esses conceitos, e diversas propostas vêm sendo desenvolvidas nesse sentido.
Na indústria de polpação, considerando as principais espécies utilizadas — pinus e eucalipto —, o principal produto é a polpa de celulose, seguida pela lignina kraft. Esta última é uma importante fonte de energia, contribuindo tanto para o fornecimento de eletricidade quanto para o suprimento de energia térmica necessária ao próprio processo de polpação. Além disso, a produção de óleo de árvore, conhecido como tall oil , já é uma realidade em algumas indústrias que utilizam madeira de pinus.
a transição para uma economia circular lucrativa e sustentável pode ser viabilizada por meio dos conceitos de biorrefinaria, e o setor de base florestal tem potencial para ser pioneiro nesse movimento no Brasil. "
Washington Luiz Esteves Magalhães
Pesquisador da Embrapa Florestas
Há poucos anos, congressos voltados para produtos derivados da lignina kraft profetizavam, de forma equivocada, que era possível fazer quase tudo com a lignina — exceto obter lucro. Essa realidade mudou significativamente. Hoje, já existem no Brasil resinas termofixas produzidas com essa macromolécula vegetal, substituindo total ou parcialmente o fenol de origem fóssil de maneira sustentável. Trata-se de um avanço alinhado aos princípios da química verde — e, muito provavelmente, um caminho sem volta.
No exterior, a lignina tem sido amplamente utilizada na fabricação de outra resina: a poliuretana rígida. Essa resina é empregada na produção de espumas usadas como isolantes térmicos em geladeiras e como material de embalagem para equipamentos.
A lignina kraft pode ser utilizada em uma ampla variedade de produtos. No entanto, a maioria das aplicações com viabilidade técnica e econômica ainda se encontra em fase piloto ou de bancada. Algumas dessas possibilidades já vêm sendo exploradas. Por exemplo, no agronegócio, a lignina pode ser usada como carreadora de fertilizantes ou biocidas, permitindo a liberação controlada ou lenta dessas substâncias.
Também é possível produzir nanoestruturas de lignina — como já fazem a Embrapa Florestas e diversas universidades — com aplicações que vão desde sensores de alto valor agregado até ativadores de plantas. Uma característica fascinante das nanopartículas de lignina é sua propriedade de luminescência quando expostas à luz ultravioleta. A cor dessa fotoluminescência varia conforme o tamanho das partículas.
Em relação aos sensores, estamos desenvolvendo uma plataforma sensora sustentável, biodegradável, descartável e de baixo custo. Trata-se de uma membrana flexível composta por nanocelulose, tanino e lignina. Em seguida, realiza-se uma escrita a laser com o desenho dos circuitos; quando a luz do laser incide sobre a lignina, ela se transforma em nanoestruturas de carbono com alta condutividade elétrica. Após a funcionalização da superfície, essa plataforma será capaz de detectar uma ampla variedade de substâncias — desde doenças, vírus e bactérias até poluentes emergentes, como glifosato, hormônios e resíduos de medicamentos.
Outro ativo relevante da indústria de polpação é a polpa de celulose. A maior parte da produção corresponde à celulose com cerca de 14% de hemicelulose.
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No entanto, também há a produção da chamada celulose solúvel, termo técnico para a celulose com teor de hemicelulose inferior a 4%.
A polpa de celulose convencional é utilizada na fabricação de papel e papelão de diversos tipos, produtos absorventes e também em setores como o químico, farmacêutico, alimentício e da construção civil. Já a celulose solúvel é empregada principalmente na indústria têxtil, na produção de fibras como viscose, modal, liocel e acetato. Além disso, é matéria-prima para uma ampla gama de derivados, como éteres e ésteres de celulose, celulose microcristalina, excipientes farmacêuticos, cosméticos, celofane, esponjas de celulose e aditivos alimentares, entre outros.
Os fios de celulose, comercialmente conhecidos como liocel, são obtidos pela dissolução da celulose solúvel em um solvente especial, sob condições controladas de temperatura. Em seguida, o material é fiado e passa por um processo de lavagem com água, que permite a recuperação e reutilização do solvente, caracterizando um processo circular e sem geração de resíduos. Esses fios são utilizados na produção de um tecido chamado tencel, já presente em lençóis e diversas peças de vestuário do nosso dia a dia.
Além disso, a madeira também pode ser aproveitada para a geração de energia. A forma mais comum e amplamente utilizada no mundo é a combustão direta. No entanto, existem alternativas mais sofisticadas, como a gaseificação, a pirólise rápida, a carbonização e a produção de bioetanol.
As chamadas nanoceluloses, outro produto derivado da polpa de celulose, ainda estão em fase piloto no Brasil, embora já sejam produzidas em escala comercial no exterior. Existem diferentes métodos de produção, sendo o mais utilizado por ser mais econômico e sustentável o das nanofibrilas de celulose (NFC), obtidas por meio da desfibrilação mecânica da celulose. Esse processo utiliza apenas água e celulose, sem necessidade de produtos químicos, e não gera resíduos.
Uma empresa brasileira, com investimentos no exterior, está desenvolvendo uma inovação tecnológica que permite a produção de fios à base de celulose a partir dessas nanofibrilas. Nesse caso, o processo dispensa o uso de solventes e também não gera resíduos. A empresa já investiu na construção de uma fábrica de nanocelulose no interior de São Paulo, com capacidade superior a 25 mil toneladas por ano. ;
A expectativa é que toda essa produção seja destinada à fabricação de fios, que futuramente serão transformados em tecidos.
Os chamados óleos de árvores, obtidos durante o processo de polpação da madeira de pinus, também são muito interessantes, pois apresentam aplicações de alto valor em diversos setores industriais. Destacam-se as indústrias de tintas e revestimentos, adesivos e colas, lubrificantes industriais, sabões e detergentes, borracha, proteção de madeira, flotação de minérios, entre outras.
Esses óleos são ricos em fitoesteróis, produtos reconhecidos por seus benefícios à saúde, utilizados em formulações alimentícias e cosméticas. Além disso, podem ser aplicados no agronegócio como ativadores de plantas, promovendo o desenvolvimento vegetal, aumentando a absorção de nutrientes do solo e fortalecendo a resistência das plantas a secas, pragas e doenças.
Até o momento, abordamos apenas os principais componentes da madeira acessados por meio de processos industriais já disponíveis na indústria brasileira de polpação. No entanto, imagine as inúmeras outras possibilidades que podem surgir a partir de diferentes segmentos das indústrias de base florestal —
Dois exemplos finais ilustram ainda mais o potencial da biorrefinaria florestal. A casca de pinus, atualmente utilizada principalmen te como combustível para geração de energia, pode ser aproveitada em uma biorrefinaria para a extração de tanino, lignina e polpa de celulose.
Já na indústria de extração de óleos essen ciais das folhas de eucalipto, o único resíduo gerado é a água utilizada para arrastar os óleos por evaporação. Essa água, no entan to, contém diversos açúcares e compostos fe nólicos que podem ser separados e transfor mados em produtos de alto valor agregado. Esse processo, desenvolvido pela Embrapa Florestas, foi reconhecido e premiado inter nacionalmente.
Portanto, a transição para uma economia circular lucrativa e sustentável pode ser viabi lizada por meio dos conceitos de biorrefinaria, e o setor de base florestal tem potencial para ser pioneiro nesse movimento no Brasil.
Gotejamento de solução de nanolignina em água iluminada com luz ultravioleta (Rosinaldo Rabelo Aparicio) como as fábricas de chapas reconstituídas de madeira, serrarias de diversos portes, a cons trução civil baseada em madeira, a produção de pellets para geração de energia, além de tecnologias como gaseificação, pirólise rápida, entre outras.
TAXAS DE TAXAS DE
11,39% ,39%
CONSULTE AS CONDIÇÕES
CONSULTE AS CONDIÇÕES
Mediante à aprovação de crédito
Mediante à aprovação de crédito
Nanotecnologia, biotecnologia e biorrefinaria
Produtos obtidos a partir de fontes renováveis têm despertado o interesse de diversos setores industriais, que buscam atender a um mercado consumidor cada vez mais atento às questões sociais e ambientais.
Paralelamente, a demanda por materiais com propriedades químicas e mecânicas capazes de atender a uma ampla variedade de aplicações tem impulsionado estudos e pesquisas na área da nanotecnologia.
A madeira é um material naturalmente renovável, proveniente de plantações florestais conduzidas com práticas de manejo sustentável. No Brasil, destaca-se por seu baixo custo de produção, ampla disponibilidade e relevância econômica. Além de sua capacidade de regeneração, a madeira atua como um importante reservatório de carbono, contribuindo significativamente para a mitigação das mudanças climáticas. Seu principal componente químico, a celulose, que representa cerca de 50% da parede celular das fibras do lenho, é reconhecida como o polímero mais abundante da natureza. Nesse contexto, a madeira tem ganhado destaque como matéria-prima para o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis nas indústrias de transformação de materiais lignocelulósicos, sendo cada vez mais valorizada em processos alinhados aos princípios da bioeconomia.
A demanda por materiais com propriedades químicas e mecânicas capazes de atender a uma ampla variedade de aplicações tem impulsionado estudos e pesquisas na área da nanotecnologia. "
Cristiane Pedrazzi Coordenadora do LAQUIMLaboratório de Química da Madeira da UFSM e Editora-chefe da revista Ciência Florestal
O avanço de estudos na nanotecnologia, impulsionados pelo uso de fontes renováveis para fabricação de produtos de alto valor agregado, vem mostrando resultados fantásticos com a aplicação e incorporação da nanocelulose obtida da madeira em diferentes segmentos industriais, possibilitando o aumento pelo interesse por nanomateriais de base florestal.
De acordo com suas características morfológicas, químicas e físicas, bem como com os métodos de obtenção e aplicações específicas, a nanocelulose é classificada em três tipos principais: celulose nanocristalina (CNC), celulose nanofibrilada (CNF) e nanocelulose bacteriana (CNB). Dessa forma, a escolha do tipo de nanocelulose deve considerar o método de obtenção e as propriedades desejadas, em função da aplicação final do material.
No caso da celulose nanocristalina (CNC), também conhecida na literatura como Nanowhiskers ou bastonetes, os nanocristais de celulose são obtidos a partir da hidrólise seletiva das regiões amorfas da cadeia principal, mantendo a maior parte das regiões cristalinas. Esse processo de obtenção da CNC a partir da biomassa lignocelulósica
ocorre em duas etapas principais: na primeira etapa, é aplicado um processo químico para a remoção da lignina, da hemicelulose e de outros componentes químicos não celulósicos presentes na biomassa, resultando no isolamento da celulose; na segunda etapa, os cristais de celulose são extraídos da matriz amorfa por meio de hidrólise ácida.
As celuloses nanocristalinas (CNCs), obtidas a partir de polpas celulósicas de madeira, podem ser utilizadas em setores como o de cosméticos, farmacêutico e de alimentos. Por apresentarem propriedades cristalinas como elevada rigidez, estabilidade térmica e alta razão entre superfície e volume, o principal uso desses bastonetes de dimensões nanométricas é na produção de compósitos de matriz polimérica e nanocompósitos. Nesses materiais, as CNCs são incorporadas como agentes de reforço, possibilitando, por exemplo, a fabricação de papéis nanoestruturados e embalagens com propriedades avançadas.
Em razão da valorização dos bioprodutos e das inúmeras aplicações das CNCs, diversas técnicas de extração de nanocristais vêm sendo estudadas, utilizando biomassas vegetais como fontes de celulose. Devido à sua composição química, a madeira, como mencionado anteriormente, é considerada uma excelente matéria-prima para o isolamento desses nanocristais, pois pode gerar altos rendimentos de CNCs quando comparada a outras biomassas.
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Com o propósito de isolar nanocristais de celulose a partir da polpa kraft da madeira de Acacia mearnsii , popularmente conhecida no Brasil como “acácia-negra”, foi desenvolvido um estudo que investigou o efeito da concentração de ácido sulfúrico (H₂SO₄) durante a hidrólise da polpa kraft sobre as propriedades químicas, estruturais, morfológicas e térmicas dos CNCs isolados. A pesquisa científica foi realizada no Laboratório de Química da Madeira (LAQUIM) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e publicada em 2024 na revista Polymers.
No estudo, constatou-se que a concentração do ácido sulfúrico exerce efeito significativo no rendimento da hidrólise ácida.
Foi possível isolar CNCs a partir da polpa kraft de acácia-negra utilizando ácido em baixa concentração, obtendo nanocristais com morfologia característica de bastonetes, dimensões nanométricas homogêneas em comprimento e largura, fator que favorece seu uso na produção de nanocompósitos, além de alta estabilidade térmica, elevado índice de cristalinidade e excelente estabilidade coloidal em meio aquoso.
A imagem em destaque apresenta os nanocristais isolados da polpa kraft de Acacia mearnsii (com destaque em vermelho).
O potencial dos diferentes tipos de nanocelulose extraídos da madeira, especialmente da nanocelulose cristalina (CNC), abre novas oportunidades e possibilita o desenvolvimento de produtos inovadores para as indústrias de base florestal que buscam aprimorar seus processos.
Aperfeiçoar métodos e desenvolver novas tecnologias para otimizar o isolamento desses nanocristais é essencial para ampliar seu potencial de aplicação na fabricação de materiais que exijam alta resistência mecânica, baixa permeabilidade a gases e grande área superficial, além de serem facilmente degradáveis no meio ambiente, características que atendem às demandas da sociedade atual, reconhecida como “consumidor sustentável”. n
Psilídeo-de-concha em florestas de eucalipto:
manejo
Nas últimas décadas, a intensificação do cultivo de eucalipto no Brasil trouxe ganhos significativos em produtividade. O melhoramento genético e manejo florestal têm se destacado nesse propósito, principalmente pelo alto investimento das empresas e avanços da tecnologia. No entanto, o surgimento de pragas invasoras com alta dispersão e rápida adaptação às áreas florestais pode causar grandes prejuízos aos produtores. Um caso emblemático para o setor florestal é o do psilídeo-de-concha ( Glycaspis brimblecombei ), espécie exótica originária da Austrália, detectada pela primeira vez no Brasil em 2003 em plantios comerciais de eucalipto.
Hoje, sua presença é registrada em diversos estados brasileiros, especialmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. O inseto se alimenta da seiva das plantas, injetando toxinas e excretando substâncias que resultam na formação das típicas conchas cerosas que recobrem as ninfas — e que dão origem ao seu nome.
O ataque intenso reduz a área foliar funcional das plantas, promove a queda prematura de folhas e seca de ponteiros e, em infestações severas, compromete o crescimento e o incremento volumétrico da floresta (Sá & Wilcken, 2004).
Dado o potencial de perda de produtividade, o controle eficiente do psilídeo-de-concha é fundamental e exige estratégias de manejo integrado, que considerem:
• Monitoramento sistemático para identificar a presença da praga;
• Planejamento genético, com escolha de clones mais tolerantes;
• Controle biológico pela conservação e/ou inserção de inimigos naturais, como por exemplo o parasitoide do gênero Psyllaephagus e predadores generalistas.
• Controle químico racional, baseado em produtos seletivos a cultura, com modos de ação distintos e adequado intervalo de aplicação;
Foi nesse contexto que a BASF apresentou, durante o BASF Forest Summit 2025, o lançamento do Fastac® Duo, uma solução inédita no portfólio florestal da empresa. O inseticida, composto por dois ingredientes ativos Acetamiprido + Alfa-cipermetrina, une diferentes modos de ação e atuação rápida e eficaz no controle do psilídeo-de-concha, contribuindo para uma estratégia de manejo mais robusta e com menor risco de resistência.
Fastac® Duo tem ação sistêmica e de contato, e se destaca pela flexibilidade: permite até três aplicações anuais com período de reentrada adaptado às necessidades específicas da operação. Pode ser aplicado de forma aérea ou terrestre e, sua formulação em suspensão concentrada, facilita a incorporação do produto na calda.
O desenvolvimento do Fastac® Duo reflete o investimento contínuo da BASF em pesquisa aplicada à silvicultura.
Com mais de uma década de atuação no setor florestal brasileiro, a empresa também produz herbicidas como o Valeos®, um pós-emergente para controle de folhas largas de difícil controle, além do recente reposicionamento do herbicida pré-emergente Pendulum® Aqua, agora recomendado em combinação com Isoxaflutole, visando maior residual e espectro de controle de plantas daninhas e, possivelmente, eliminando uma operação de reentrada no campo.
Além disso, a BASF consolidou-se como referência no controle de formigas cortadeiras, com a linha Controle Total BASF — composta pelos produtos Tuit® Florestal, Blitz® e Fastac® 100 — oferecendo soluções completas para diferentes fases e níveis de infestação.
Este portfólio evidencia a expertise técnica da BASF no desenvolvimento de soluções integradas, sempre orientadas pela inovação, tecnologia, qualidade e compromisso com a sustentabilidade das operações florestais no Brasil.
O modelo econômico linear baseado na lógica de “extrair, utilizar e descartar” tem-se mostrado insustentável diante dos desafios que enfrentamos atualmente, como as mudanças climáticas, o esgotamento dos recursos naturais e a crescente poluição ambiental. No cenário em que estamos vivendo, a necessidade de mudarmos para um sistema mais equilibrado, como o proposto pela bioeconomia circular, nunca foi tão urgente. Nesse contexto, materiais provenientes de fontes renováveis, biodegradáveis e com menor impacto ambiental ganham cada vez mais relevância.
A madeira, por exemplo, além de ser um recurso renovável amplamente disponível, é a principal fonte de celulose utilizada em escala industrial. Vale lembrar que a celulose é o biopolímero orgânico mais abundante da natureza e constitui cerca de 40 a 50% da composição química da parede celular das fibras da madeira. Essa composição, aliada à estrutura consolidada da cadeia florestal brasileira, torna a madeira uma matéria-prima estratégica para o desenvolvimento de materiais avançados, com
potencial para substituir produtos derivados de fontes não renováveis. Entre esses materiais, destacam-se as nanoceluloses, que representam uma alternativa alinhada aos princípios de sustentabilidade que hoje se impõem ao desenvolvimento de novos materiais.
Embora a madeira seja a principal fonte industrial de celulose, é importante destacar o potencial de outras biomassas. O Brasil, como potência agroindustrial, gera anualmente grandes volumes de resíduos lignocelulósicos, muitos dos quais ainda são subutilizados, mas que podem ser valorizados por rotas tecnológicas mais eficientes, como a produção de nanoceluloses.
Mas, afinal, o que são nanoceluloses? O termo se refere a estruturas extremamente pequenas, derivadas da celulose. Essas estruturas possuem pelo menos uma de suas dimensões na escala nanométrica, ou seja, são milhares de vezes menores que a espessura de um fio de cabelo. A partir da fibra celulósica, é possível extrair diferentes tipos de nanocelulose. As duas mais conhecidas são os nanocristais de celulose (CNC) e as nanofibrilas de celulose (CNF). A literatura também menciona os termos microfibrilas de celulose ou celulose microfibrilada, que, embora semelhantes às CNF, diferenciam-se principalmente por apresentarem dimensões maiores, tanto em diâmetro quanto em comprimento.
Nanoceluloses são estruturas extremamente pequenas, derivadas da celulose que possuem pelo menos uma de suas dimensões na escala nanométrica, ou seja, são milhares de vezes menores que a espessura de um fio de cabelo. "
Professora de Ciência e Tecnologia da Madeira da UF de Santa Maria
Apesar dessa diferença, tanto as nanofibrilas quanto as microfibrilas são compostas por regiões cristalinas e amorfas e produzidas de forma semelhante, geralmente, por processos mecânicos. De forma simplificada, o processo consiste em preparar uma suspensão de fibras celulósicas, que é então submetida a intensas forças mecânicas em equipamentos como homogeneizadores de alta pressão, moinhos ou refinadores.
Durante esse processo, as fibras sofrem cisalhamento, o que rompe sua estrutura e expõe as regiões internas da parede celular, liberando as micro/nanofibrilas. O resultado é um gel de CNF com baixo teor de sólidos (geralmente inferior a 5%).
O que torna essas CNF tão atrativas são o seu conjunto de propriedade únicas, como elevada área superficial, alta razão de aspecto (relação entre comprimento e diâmetro), leveza, elevada resistência mecânica, superfície reativa, biocompatibilidade e não toxicidade. Graças a essas características, as CNF têm sido estudadas para uma ampla gama de aplicações. Por exemplo, na indústria de embalagens as CNF podem contribuir para a redução do uso de plásticos derivados de fontes não renováveis, por meio da substituição parcial ou total de polímeros sintéticos no desenvolvimento de filmes biodegradáveis.
Em materiais compósitos, as nanofibrilas podem ser incorporadas a matrizes poliméricas para aumentar sua resistência sem comprometer o peso final, o que é particularmente desejado nas indústrias automotiva e aeroespacial.
Já no setor biomédico, as CNF vêm sendo exploradas como materiais curativos, liberação controlada de fármacos e engenharia de tecidos, graças à sua biocompatibilidade e capacidade de formar estruturas porosas. Suas excelentes propriedades reológicas também permitem seu uso como espessante e estabilizante em alimentos, tintas, emulsões farmacêuticas e cosméticos, entre outras aplicações.
Na indústria papeleira, podem ser utilizadas como aditivos para melhorar o desempenho mecânico e as propriedades de barreira dos papéis. Outro campo de aplicação das CNF está na produção de hidrogéis e aerogéis. Este último foi inclusive o foco da minha pesquisa de pós-doutorado. Os aerogéis são materiais ultraleves e altamente porosos, utilizados, por exemplo, em isolamento térmico e na adsorção de contaminantes em águas residuais.
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Apesar de todo o seu potencial, a nanocelulose ainda enfrenta obstáculos importantes, especialmente quando se pensa na sua aplicação em escala comercial. Um dos principais desafios está relacionado ao transporte e à armazenagem das suspensões de nanofibrilas, que normalmente contêm mais de 95% de água. Esse elevado teor de água torna o processo logístico caro e pouco eficiente. Foi justamente essa limitação que motivou minha pesquisa de doutorado. Em resumo, o foco do trabalho foi investigar estratégias para viabilizar a secagem das nanofibrilas de celulose por pulverização (spray drying), um processo utilizado em escala industrial que permite obter o material em forma de pó, facilitando tanto o transporte quanto o armazenamento.
No entanto, a secagem traz um novo desafio: a tendência de as nanofibrilas se aglomerarem de forma irreversível durante o processo, fenômeno conhecido como hornificação, que prejudica suas propriedades únicas e compromete o seu uso para determinados fins. Para contornar esse problema, exploramos o uso de pré-tratamentos químicos nas suspensões de nanocelulose antes da secagem.
Um dos tratamentos mais promissores foi a combinação de um processo de oxidação seguido da modificação da superfície das nanofibras utilizando um surfactante catiônico. Essa abordagem viabilizou a redispersão do pó em água, permitindo a formação de filmes com excelente desempenho mecânico, elevada transparência e boas propriedades de barreira ao óleo e ao vapor de água.
É indiscutível que as nanoceluloses vêm despertando cada vez mais o interesse da comunidade científica e industrial. Acredito que muitos esforços ainda serão direcionados para superar os desafios associados à secagem e tornar os processos de produção mais economicamente viáveis, uma vez que a etapa de fibrilação demanda elevado consumo energético. Umas das alternativas mais pesquisadas para minimizar esse inconveniente é o uso de pré-tratamentos químicos ou enzimáticos antes do processo de fibrilação. Além disso, outro desafio importante é tornar as nanofibrilas hidrofóbicas, já que sua alta afinidade por água limita a compatibilidade com matrizes e solventes apolares. Superar essas limitações pode ampliar consideravelmente as possibilidades de aplicação das nanofibrilas. Com isso, acredito que veremos mudanças relevantes em diversos setores, com a substituição gradual de materiais nocivos por soluções mais sustentáveis baseadas em nanocelulose. n
Como garantir produtividade florestal em um país que lidera a produção mundial de celulose, mas enfrenta pressões ambientais, sociais e econômicas crescentes? Este é o desafio que move executivos, cientistas e profissionais do setor florestal brasileiro – e que, na Veracel Celulose, nos impulsiona a buscar soluções inovadoras e integradas para um futuro sustentável.
O setor florestal do Brasil vive um momento de expansão e transformação. A necessidade de abastecer fábricas existentes e novos projetos, aliada à crescente exigência por práticas responsáveis, impõe barreiras econômicas, ambientais, sociais e tecnológicas. Enfrentar essas barreiras exige visão
Gerente de Meio Ambiente da Veracel Celulose Produtividade e
sistêmica, integração de ciência, tecnologia e gestão socioambiental. É nesse contexto que a Veracel, com mais de 33 anos de operação na Costa do Descobrimento, sul da Bahia, tem consolidado um modelo em que sustentabilidade não é apenas valor – é um diferencial competitivo e um motor para a produtividade.
Com cerca de 200 mil hectares, divididos igualmente entre plantações de eucalipto e áreas de vegetação nativa, a Veracel adota o mosaico florestal como estratégia central. Esse modelo integra produção e conservação: as áreas de eucalipto são distribuídas em platôs, enquanto os vales preservam vegetação nativa. Dessa forma, mantemos a integridade dos biomas, protegemos solos contra a erosão e facilitamos a circulação da fauna, comprovando que é possível aliar produtividade florestal à proteção da biodiversidade.
O mosaico florestal também promove controle biológico, reduzindo pragas e doenças e, consequentemente, a necessidade de defensivos.
Como gestora ambiental, acredito que o futuro da produtividade florestal no Brasil depende da nossa capacidade de integrar ciência, tecnologia, conservação e responsabilidade social. "
A restauração anual de 400 hectares com mais de 40 espécies nativas da Mata Atlântica amplia esse equilíbrio, reforçando a resiliência dos ecossistemas e a sustentabilidade do negócio.
Outro pilar é a conservação. A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel é a maior reserva privada de mata Atlântica do Nordeste – com mais de 6 mil hectares de proteção da biodiversidade da região conhecida como Costa do Descobrimento, na Bahia, incluindo bacias hidrográficas que abastecem municípios essenciais para a economia baiana, como Porto Seguro. A empresa também é protetora de outras Áreas de Alto Valor de Conservação, as chamadas AAVCs, que são monitoradas continuamente para garantir a integridade da fauna e flora locais.
Porém, o cuidado com o meio ambiente não pode começar com a floresta de eucalipto já em pé. Esse olhar precisa ser aplicado desde a forma com que os clones das árvores são criados, e a inovação científica é fundamental. Investir em melhoramento genético e clonagem estratégica de mudas é uma ferramenta essencial para buscar resistência, crescimento acelerado e adaptação ao solo e clima regionais para as futuras florestas das empresas, uma estratégia que permite enfrentar desafios ambientais e manter a competitividade do setor florestal brasileiro. Na Veracel, essa frente também conquistou a redução de 80% no uso de defensivos agrícolas em nossos viveiros de eucalipto, utilizando controle biológico em vez de produtos químicos. Mais um ponto para a inovação sustentável no manejo da companhia.
Nessa frente, a questão climática e o uso racional dos recursos naturais são preocupações constantes não apenas no viveiro de mudas, mas também na indústria. Na fábrica, tecnologias limpas e sistemas de reaproveitamento permitem consumir cerca de 20 m³ de água por tonelada de celulose – índice de referência no setor. Em 2024, reciclamos mais de 50 mil toneladas de resíduos industriais, atingindo um reaproveitamento próximo a 99% e promovendo a economia circular: parte desses resíduos é transformada em fertilizante para agricultura familiar e para nossas próprias florestas.
A matriz energética da Veracel é outro diferencial. Desde 2005, somos autossuficientes energeticamente, utilizando resíduos de
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biomassa, como licor negro, caroço de açaí e bagaço de cana-de-açúcar. Em 2023, avançamos ainda mais com a instalação de cinco usinas solares, que geram cerca de 1,2 MWp – energia suficiente para abastecer 300 famílias e evitar a emissão de mais de 230 toneladas de CO₂ por ano. O excedente é exportado para a rede, diversificando receitas e fortalecendo a economia local.
A logística sustentável também faz parte de uma estratégia integrada que coloca a sustentabilidade como uma aliada dos negócios. A Veracel escoa sua produção de celulose pelo Terminal Marítimo de Belmonte (TMB) por via marítima, evitando cerca de 384 viagens de caminhão por cada viagem de barcaça e reduzindo em 116,7 toneladas as emissões de CO₂ por viagem. A operação é monitorada 24 horas, com programas de proteção à fauna marinha e tecnologias que minimizam impactos ambientais.
Todas estas frentes de atuação se conectam, mas, como nenhuma empresa opera sozinha e isolada, a sustentabilidade é também compromisso social. Investimos mais de R$10 milhões ao ano em projetos que fortalecem a agricultura familiar, a pesca artesanal e a inclusão de comunidades indígenas. Em 2024, mais de 1.200 famílias foram beneficiadas, incluindo o apoio a 34 aldeias indígenas. O diálogo permanente com comunidades, pescadores e produtores rurais garante estabilidade territorial, reduz riscos de conflitos e reforça a licença social para operar.
Com isso, a educação ambiental também passa a ser uma ferramenta estratégica: a Estação Veracel recebe escolas e desenvolve programas de conscientização sobre conservação, uso racional da água e reciclagem, fomentando uma cultura de respeito ao meio ambiente. As ações socioambientais da Veracel não são paralelas ao negócio – são parte da estratégia que reduz riscos, aumenta a produtividade e gera valor para comunidades, colaboradores e acionistas.
Como gestora ambiental, acredito que o futuro da produtividade florestal no Brasil depende da nossa capacidade de integrar ciência, tecnologia, conservação e responsabilidade social. A experiência da Veracel demonstra que é possível produzir mais, protegendo a natureza e promovendo o desenvolvimento das pessoas. Este é o legado que buscamos construir para as próximas gerações. n
Produtividade e sustentabilidade
A crescente preocupação com o meio ambiente e a conservação dos recursos naturais impulsiona a demanda por produtos de origem sustentável. Para assegurar e comprovar a sustentabilidade, a certificação florestal surgiu como uma ferramenta eficaz, a fim de promover a gestão sustentável das florestas, oferecendo, assim, garantias ao consumidor sobre a origem ambientalmente correta dos produtos de base florestal. O mercado internacional demanda produtos de origem sustentável, certificados e com rastreabilidade comprovada. O Brasil, por ser um dos líderes em exportações de celulose no mundo, está nos holofotes do mercado consumidor, necessitando, assim, de comprovações e evidências a respeito das boas práticas ambientais aplicadas no manejo florestal. Esse protagonismo é uma oportunidade de solidificar o papel do Brasil frente ao mundo, não somente como fornecedor de matéria-prima, mas como setor líder em produção sustentável, com práticas reconhecidas, rastreáveis e certificadas. Assim como a crescente demanda por sustentabilidade, os padrões de certificação florestal se desenvolveram ao longo dos anos para abranger as mudanças climáticas e mitigar impactos negativos ao meio ambiente.
por ser um dos líderes em exportações de celulose no mundo, o Brasil está nos holofotes do mercado consumidor, necessitando de comprovações e evidências a respeito das boas práticas ambientais aplicadas no manejo florestal. "
Wellington Cesar
Cunha Cardoso
Coordenador de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Sylvamo do Brasil
Os padrões robustos e rigorosos para a gestão e manejo florestal garantem que a produção de árvores e seu manejo sejam realizados de forma ambientalmente responsável, socialmente justa e economicamente viável. O setor brasileiro é responsável por aproximadamente 10,6 milhões de hectares de florestas certificadas, segundo a Indústria Brasileira de Árvores - IBÁ.
O princípio número 1 dos padrões de certificação é um dos mais importantes, pois é neste princípio que se constata a conformidade com as leis regionais, estaduais, federais e internacionais pertinentes ao negócio florestal. Esse princípio atesta que toda a empresa certificada está em conformidade com as leis e que segue todas as regras ambientais, sociais e econômicas para poder exercer o manejo florestal certificado. Por se tratar de uma certificação, anualmente o sistema é checado e validado, auxiliando, assim, no cumprimento legal das legislações aplicáveis. Essa validação dos requisitos legais garante ao setor transparência e rastreabilidade, comprovando ao consumidor final que o produto consumido não ;
contribui para o desmatamento ilegal e que é proveniente de um manejo florestal sustentável, que promove a conservação das florestas e a manutenção da biodiversidade.
Uma das vantagens que a certificação trouxe para o setor florestal foi o apoio ao conhecimento. Os esquemas de certificação promovem, por meio de um de seus princípios, o monitoramento da biodiversidade e a implementação dos dados obtidos com esses monitoramentos. Buscamos na Sylvamo, durante esse processo, além de conhecer melhor a floresta nativa, também entender como as plantações florestais se conectam com os remanescentes florestais vizinhos, criando assim os famosos corredores ecológicos. Esses corredores são essenciais para a manutenção da fauna, proporcionando o fluxo de animais entre os fragmentos florestais nativos e habilitando a disseminação de sementes entre eles. Dentro desse monitoramento, conseguimos evidenciar espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção, as quais necessitam de novas ações para sua viabilidade e manutenção ao longo do tempo. Explorando o lema “Conhecer para Conservar”, quanto mais informações se possui sobre os remanescentes florestais nativos e como eles se conectam com as florestas plantadas, melhores são as ações em prol da sua restauração e conservação ambiental. De posse dos dados de monitoramento, as empresas certificadas possuem uma tarefa desafiadora: desenvolver e ampliar ações em busca da restauração e conservação florestal. Segundo a IBÁ, o Brasil tem cerca de 6,9 milhões de hectares de área conservada. Dentro dessas áreas, cerca de 195 mil hectares foram caracterizados como Áreas de Alto Valor de Conservação (AAVC), denominação usada por esquemas de certificação para valorizar a importância excepcional de atributos ambientais voltados à conservação da biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Essas AAVCs são monitoradas anualmente pelas empresas certificadas, garantindo a conservação dos atributos excepcionais identificados, proporcionando assim sua proteção e sustentabilidade ao longo do tempo.
Outro ponto de destaque da influência das certificações é o grande desenvolvimento das pautas sociais. A responsabilidade social com os trabalhadores envolvidos no manejo florestal, sejam eles próprios ou terceiros, e a responsabilidade de garantir boas condições de
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trabalho, saúde, segurança e zelo pelos direitos humanos são alguns dos grandes marcos alcançados pelo setor. As pautas sociais também abrangem as comunidades locais, sejam elas detentoras de direitos ou não. A certificação endereça um maior cuidado e destaque para as comunidades próximas às áreas de manejo florestal, a fim de garantir que essas comunidades sejam mantidas ao longo do tempo, por meio de um engajamento culturalmente apropriado, bem como assegurar que seus direitos sejam mantidos e que o manejo florestal seja um parceiro, caminhando junto rumo à sustentabilidade.
A certificação florestal trouxe ao longo dos anos melhorias na forma como as comunidades vizinhas interagem com as áreas florestais, desenvolvendo ações no âmbito econômico e educacional. Os padrões para o manejo florestal exigem que empresas certificadas priorizem a contratação de funcionários nas regiões das atividades de manejo florestal, possibilitando, assim, mais empregos para a região e consequentes melhorias na economia local. Durante anos, esses funcionários da comunidade desempenhavam funções mais operacionais. A certificação também buscou melhorar esse ponto, incluindo em seus padrões a ampliação de ações sociais e educacionais voltadas para as áreas onde as florestas estão situadas, proporcionando aos trabalhadores locais oportunidades para desempenhar funções mais administrativas no manejo florestal.
Muitas vezes, a certificação foi interpretada como geradora de maior complexidade nos processos florestais, uma forma criteriosa de fazer o que já vinha sendo feito antes. Entretanto, essa complexidade também pode ser definida como melhoria contínua, aprimorando os processos desempenhados dentro do manejo florestal sustentável, os quais influenciam diretamente os trabalhadores, a comunidade, a legalidade dos insumos florestais, a rastreabilidade da madeira, o mercado consumidor e a conservação ambiental das florestas nativas. A melhoria contínua está no cerne de toda empresa certificada, que, a cada ano, passa por auditorias para comprovar a conformidade com os padrões de certificação e busca soluções inovadoras para as não conformidades encontradas durante o processo. Esse “pensar fora da caixa” agrega valor ao manejo florestal, garantindo um processo equilibrado e sustentável para as futuras gerações. n
O Brasil é referência mundial quando se trata da produção de madeira proveniente de plantios de árvores. Esta posição de liderança se consolidou ao longo dos anos devido não só às condições edafoclimáticas favoráveis e à tecnologia empregada para aumento da produtividade, mas também aos esforços que vêm sendo empreendidos para que se torne um setor mais sustentável.
Mas se engana quem pensa que esta liderança global vem apenas das questões vinculadas à produção florestal. Como pilar está o diálogo do setor florestal com a sociedade, em especial com as comunidades locais. Há um tempo não tão distante, conflitos entre comunidades e empresas eram mais comuns, em um cenário onde a verticalização da produção era tida como estratégia principal dos negócios para assegurar suprimento e a consolidação do setor no Brasil, e os olhares se concentravam da porteira das fazendas para dentro.
Nos anos 2000, para ser mais precisa, em 2005, uma iniciativa pioneira teve início no Brasil: o Diálogo Florestal. O Fórum Florestal da Bahia, o primeiro dos hoje sete Fóruns Florestais regionais, nasceu no mesmo ano, sendo o locus da iniciativa em nível regional, ultrapassando a lógica concentrada apenas em repassar informações sobre o negócio e avançando para o diálogo, que é a base para a construção conjunta de soluções de longo prazo.
Há ainda os que pensam que tomar as decisões de maneira isolada seja o caminho mais rápido e seguro, porém, ao longo dos 20 anos de
Se engana quem pensa que a liderança global do Brasil vem apenas das questões vinculadas à produção florestal. Como pilar está o diálogo do setor florestal com a sociedade, em especial com as comunidades locais. "
Coordenadora executiva do Diálogo Florestal
existência do Diálogo Florestal, várias experiências de sucesso indicam que, por mais difíceis que possam ser as conversas, o caminho que se constrói juntos leva mais longe.
A importância do engajamento:
O verdadeiro engajamento é fundamental para o avanço ainda mais proeminente das boas práticas no setor florestal, através da escuta ativa, considerações dos problemas e desafios enfrentados pelas comunidades locais, buscando soluções em conjunto. Na promoção de benefícios sociais, por exemplo, foi-se a época em que dentro das empresas se desenhava um projeto e oferecia-se para as comunidades; hoje se destacam soluções definidas em conjunto. Muitas delas visam melhorar as condições socioeconômicas das comunidades em regiões com alta concentração de plantios, e experiências de empresas que apoiam comunidades a desenvolver suas atividades via parceria no plantio de eucalipto em regime de fomento, produção de mel, regularização ambiental, valorização da força de trabalho local, agroflorestas, entre muitas outras que se traduzem para as próprias empresas como benefícios que as altas diretorias valorizam e que auxiliam na busca pela “licença social” para operar.
A escuta das comunidades se torna fundamental para entender os impactos – negativos ou positivos – da atividade na região, na tentativa de maximizar os positivos e reduzir ou eliminar os negativos. E a comunicação deve ser acompanhada de uma abordagem sensível que, ao mesmo tempo que busca se fazer entender sem os jargões em idiomas estrangeiros e expressões de cunho muito técnico, respeitam e valorizam as formas de comunicação e expressão dos distintos povos e comunidades.
O setor florestal tem um longo histórico de construção de diálogos e, através de iniciativas como o Diálogo do Uso do Solo, também está aproximando outros setores para a construção conjunta de soluções para desafios em nível de paisagem. Este engajamento no nível da paisagem tem mostrado seu potencial de gerar soluções e novos espaços de diálogo, como o caso da criação do Fórum Florestal da Amazônia.
Ampliação dos benefícios para comunidades:
Na seara das novas velhas oportunidades, destaque para a busca do pagamento por serviços ecossistêmicos, ampliando os benefícios das florestas e ecossistemas associados de e para as comunidades. Mais recente do que o tão prometido carbono com viés social, a biodiversidade ganha cada vez mais espaços nos
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fóruns globais como um ativo que pode gerar benefícios econômicos diretos. No entanto, contrapontos a esta lógica trazem a mercantilização da natureza ao centro do debate.
No contexto da Amazônia, a política de concessões florestais se apresenta como uma solução possível de ampliar a oferta de produtos oriundos do manejo florestal com base legal e eventualmente certificada, e neste contexto o desafio de se criar espaços de diálogo se torna muito importante.
Diálogo como premissa:
Seja para antecipar problemas, resolver questões atuais ou buscar soluções para problemas que vêm do passado, a adoção do diálogo como premissa só traz benefícios. Especialmente nas áreas em franca expansão, o diálogo vem como uma ferramenta poderosa para assegurar que o Brasil amplie sua imagem e, mais importante que isso, suas práticas responsáveis.
Não é possível afirmar que não existem mais conflitos entre comunidades e empresas, mas hoje, nos territórios onde o Diálogo Florestal está presente, as empresas, organizações da sociedade civil, povos indígenas, comunidades, instituições de ensino e pesquisa e demais partes interessadas e afetadas têm um espaço seguro, baseado em princípios como confiança, transparência, integração, respeito à diversidade e à vida, inclusão, proatividade e compromisso, que balizam conversas que por vezes podem ser difíceis, mas frutificam soluções. Este é o caso por exemplo dos dez acordos firmados entre membros do Fórum Florestal da Bahia, que são monitorados frequentemente e trouxeram benefícios para empresas e comunidades como a ampliação e melhoria das estratégias de fomento florestal, proteção da pesca artesanal, afastamento dos plantios de centros urbanos e estabelecimento de espaços para aumentar a diversificação da produção próxima aos maciços de eucalipto. A adoção dos mosaicos florestais e a resolução de questões no contexto dos recursos hídricos são excelentes exemplos de soluções construídas em conjunto.
O modelo participativo de diálogo e construção de soluções fez avançar a adoção do conceito de paisagem, incluindo aspectos sociais para além das fronteiras das propriedades e promovendo a formação de corredores ecológicos e a restauração de florestas em parcerias com comunidades locais, sendo os Fóruns Florestais regionais também espaços para discutir desafios e avançar em melhores práticas conjuntamente. n
Produtividade e
O Brasil é referência mundial em produção florestal, com destaque para as florestas plantadas de eucalipto, que ocupam milhões de hectares e abastecem cadeias produtivas essenciais, como as de celulose, papel, painéis, pisos, entre outras. No entanto, a expansão e intensificação dessas áreas têm evidenciado um desafio constante, o impacto crescente das pragas florestais sobre a produtividade.
Entre as principais espécies responsáveis por prejuízos significativos aos plantios de eucalipto, destacam-se o percevejo-bronzeado (Thaumastocoris peregrinus), o gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus platensis), a vespa-da-galha (Leptocybe invasa), o psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei), as lagartas desfolhadoras (Thyrinteina arnobia), as formigas cortadeiras (Acromyrmex spp. e Atta spp.) e os cupins (Coptotermes testaceus e Cornitermes bequaerti). A presença e disseminação desses insetos estão relacionadas a fatores como a homogeneidade dos talhões, as mudanças climáticas e ausência de inimigos naturais, especialmente nos casos de pragas exóticas. Esse cenário é agravado pela escassez de áreas nativas no entorno dos plantios, que poderiam servir de abrigo e suporte para populações de inimigos naturais, favorecendo desequilíbrios ecológicos nos sistemas florestais.
Nos últimos anos, tem-se observado um aumento na ocorrência de diversas pragas florestais, impulsionado por fatores como a maior suscetibilidade dos plantios e o agravamento de estresses ambientais, como estiagens prolongadas e elevação das temperaturas médias.
A expansão e intensificação de áreas florestas plantadas de eucalipto têm evidenciado um desafio constante, o impacto crescente das pragas florestais sobre a produtividade. "
Mestre em Entomologia da UFLA - Universidade Federal de Lavras
Essas condições reduzem a resiliência das árvores e favorecem o crescimento populacional de insetos-praga. Além disso, práticas silviculturais inadequadas, como o uso de clones menos resistentes, podem contribuir para o agravamento dos surtos.
Dentre essas pragas, o psilídeo-de-concha tem-se destacado não apenas pela frequência de ocorrência, mas também pela severidade dos danos causados aos plantios de eucalipto no Brasil. Esse inseto se alimenta da seiva das folhas, com preferência por brotações e ponteiros, provocando desfolha intensa, redução no crescimento das árvores e favorecendo o surgimento de fumagina, um fungo escuro estimulado pela liberação de uma substância açucarada (honeydew) durante a alimentação das ninfas.
Essas ninfas constroem estruturas brancas em forma de concha, que servem de abrigo até a fase adulta, dificultando o manejo e interferindo na fotossíntese da planta. A ocorrência do psilídeo-de-concha costuma ser mais intensa em períodos quentes e secos, com variações que dependem da localidade, condições climáticas e histórico de manejo da área.
Nesse contexto, o manejo de pragas florestais deve ser considerado parte estratégica da produção. A adoção de práticas preventivas e o uso de métodos de controle bem planejados são fundamentais para evitar que surtos se alastrem rapidamente e comprometam a produtividade.
Estratégias integradas de monitoramento, como armadilhas adesivas amarelas, inspeções regulares em campo e o uso de indicadores populacionais são importantes para a detecção precoce e tomada de decisão. Essas ações permitem decisões mais rápidas e eficazes, reduzindo os impactos e, consequentemente, os custos operacionais.
Uma alternativa cada vez mais valorizada é o controle biológico, por ser eficiente e mais amigável ao meio ambiente. No caso do psilídeo-de-concha, destaca-se o uso de inimigos naturais como o parasitoide Psyllaephagus bliteus, eficaz no parasitismo de ninfas em estágios mais avançados, e os crisopídeos da espécie Chrysoperla externa, cujas larvas atuam como predadoras de ovos e dos primeiros instares (1º, 2º e 3º) da praga. Esses dois agentes biológicos apresentam grande potencial para uso intercalado, uma vez que cada um atua em diferentes estágios da praga, proporcionando uma ação complementar no controle do psilídeo-de-concha. A ação predatória desse crisopídeo sobre as ninfas do psilídeo já foi registrada em condições de laboratório, demonstrando seu potencial como agente de controle.
No Brasil, já existem empresas que comercializam C. externa para o controle de pragas de corpo mole, sendo que uma delas possui registro ativo para a produção e venda de ovos voltados especificamente ao manejo do psilídeo-de-concha. Este crisopídeo apresenta potencial como agente de controle, e embora sua ação predatória já tenha sido comprovada em laboratório, ainda são necessários estudos em condições de campo que validem sua efetividade frente ao psilídeo. Aspectos como predação natural, variações climáticas e a limitação de recursos alimentares para os adultos, como néctar, honeydew e pólen, podem influenciar os resultados. Vale destacar que esses fatores são uma realidade comum a qualquer agente
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biológico, inclusive os que já estão bem estabelecidos no campo. Ainda assim, sua adoção tem-se mostrado viável, alinhada às práticas sustentáveis, e vem ganhando cada vez mais espaço no setor florestal.
Para que essas abordagens funcionem, é indispensável planejamento, conhecimento técnico e acompanhamento contínuo. O sucesso do controle biológico depende do momento ideal para a liberação, a densidade adequada de inimigos naturais, além do nível de infestação da praga e da compatibilidade com demais práticas de manejo adotadas na área. A capacitação das equipes de campo e a integração entre pesquisa e produção são aspectos-chave para garantir o uso eficaz do controle biológico.
Além disso, observa-se um avanço significativo no uso de tecnologias digitais para o monitoramento de pragas, como sensores remotos, drones e aplicativos de georreferenciamento e mapa de calor. Tais ferramentas auxiliam na coleta e interpretação de dados, permitindo maior precisão na identificação de focos e na tomada de decisão. O investimento em inovação e ciência aplicada fortalece o combate às pragas e amplia a sustentabilidade do setor.
Casos como o do coccinelídeo Olla v-nigrum, que vem sendo utilizado por uma empresa do setor florestal com bons resultados no controle do psilídeo, reforçam essa tendência. A adoção crescente de macro e microbiológicos no mercado brasileiro mostra que o controle biológico tem deixado de ser uma alternativa experimental para se consolidar como parte do manejo integrado de pragas.
Por fim, diante de um cenário marcado por mudanças climáticas, recorrência de pragas, pressão crescente por reduzir o uso de defensivos químicos e a necessidade de manter a produtividade, apostar em práticas sustentáveis e integradas segue sendo, sem dúvida, o caminho mais promissor. n
Se sim, use o nosso Anuário de Sustentabilidade para contar.
O Anuário de Sustentabilidade da Revista Opiniões tem o objetivo de registrar as centenas de ações sociais e ambientais, diariamente realizadas pelas empresas de base florestal por todo o Brasil, em favor de seus empregados e de toda a população das cidades que vivem no seu entorno.
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as novas rotas do sistema bioenergético
de Sustentabilidade & Guia de Compras do setor bioenergético Como as empresas estão se preparando para conviver com os eventos climáticos
Imagine se você descobrisse que o médico com o qual você vai fazer uma cirurgia cardíaca na manhã seguinte se formou há 20 anos como o melhor aluno da sua classe, na melhor faculdade de medicina do País. Muito bom, hein?!
Entretanto, nos últimos 20 anos, ele não leu nenhum livro, nem participou de nenhum congresso, nem teve por costume ler regularmente revistas especializadas da sua área médica. Você faria a cirurgia em paz?
No que se refere a nossa área, quantas tecnologias foram desenvolvidas e implantadas nessas duas décadas como o estado da arte e, depois de algum tempo, substituídas por uma nova opção, muito mais eficaz e eficiente, que tomaria o lugar da anterior, até ser igualmente substituída por uma mais nova ainda.
Quantas pragas e doenças apareceram, desapareceram, e algumas até voltaram? Quantas técnicas foram substituídas nesses últimos 20 anos?
Nenhum conhecimento é definitivamente eterno. A faculdade está sempre atualizada, mas tão somente até o dia da sua formatura. Os livros, igualmente, até o dia da sua publicação. As opções que são continuadamente atualizadas são os congressos e as publicações regulares das áreas.
Conhecendo esse cenário e o que passou a representar nesses 22 anos de operação para as universidades, centros de pesquisa e empresas do sistema agrícola e florestal, a Revista Opiniões decidiu abrir inscrições gratuitas para que todos os estudantes, professores e cientistas de todos os cursos de agroconhecimento de qualquer parte do mundo, passem a receber todas as nossas publicações.
Todos os artigos da Revista Opiniões têm textos publicados em 7 idiomas, quais sejam: português, espanhol, inglês, francês, chinês, árabe e hindi, cobrindo a língua falada pelo incrível numero de mais de 4 Bilhões de pessoas.
O objetivo é fazer com que o estudante, desde o primeiro dia de aula, passe a participar da vida empresarial na qual se integrará, em alguns anos, já com atualizado conhecimento do que está sendo discutido, avaliado e implantado nas empresas.
Muitos dos executivos e cientistas que hoje escrevem na Revista Opiniões declararam que liam nossas edições desde quando ainda eram estudantes nas universidades.
Ampliando o projeto de educação continuada, decidimos também abrir as inscrições gratuitas para todos os funcionários das áreas técnicas, agrícolas, industriais e administrativas das empresas produtoras e fornecedoras dos sistemas florestal e bioenergético de qualquer parte do Brasil e do mundo.
O acesso à informação dirigida é a mais eficiente forma de unificar e atualizar o conhecimento entre todos os funcionários em cargos de comando, bem como preparar os funcionários em ascensão para assumi-los. Esta é a mais agradável forma de gerar a educação continuada.
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