Olaria das letras n 09, agosto de 2014

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jornal literário Número 9 - ano I - agosto de 2014


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Editorial

U

m caracol entra no jardim de Baba Yaga. Ele não se engana, em algum lugar ali dentro está o que o motoboy jogou. Um saleiro com patas de galinha sai detrás de um arbusto e o persegue. Sorte sua que não tem olhos. Tudo ali é terrível, escapa da planta carnívora com tentáculos de polvo, contorna o cãozinho com três olhos, cinco bocas e nenhuma pata e se esconde atrás do pilão voador estacionado na garagem. O caracol espicha os olhos cada um em uma direção, vê o que procura no centro de um labirinto de sal! Ele se arrisca, deixa seu rastro cintilante pelo caminho sem titubear... Seus olhos se iluminam no final do percurso: Olaria das Letras n. 09 Agradeço a todos os participantes pela colaboração. Boa leitura. Henrique Vale

© Sociologas - Fotolia.com

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edição: Henrique de Almeida Barbosa do Vale (Henrique Vale) textos: Henrique Vale, Elias Antunes, Adriana Scherner, Cláudio da Cruz Francisco, Aldo Moraes, Amélia Luz, Maria Vitória Grisi, Rômulo Reis Oliveira, Adilson Roberto Gonçalves,Petronilha Alice Meirelles,Rosa Maria Pocinho dos Santos Alves,Denivaldo Piaia, José Augusto Huguenin, José Carlos Brandão, Daniela Zappi, Edweine Loreiro, José Ronaldo Siqueira Mendes, Gladis Barriel,Mário Rafael Gentile, Tatiana Pimentel Chinellato, Geraldo Trombin, Angélica Weise, Paula Campos ilustrações: Orion (Márcio Oliveira) e Izabela Ramos


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PALAVRAS Elias Antunes Quando

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neste mundo de palavras que me vêm até de cabeça para o x i a b duelo contra a folha branca que minha memória espanca, duelo e, quanto dessa história não foi escrita com tinta humana? Tocava boiadas de borboletas sobre o papel que a meus cavalos enfeitiça e depois encalacrava na areia movediça da palavra.

Izabela Ramos


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olaria das letras Reflexão Adriana Scherner

Deve haver um lugar onde a poesia está no ar. Onde meninos não dormem nas ruas. Eles voltam sempre para o aconchego do seu lar. Não é possível ver crianças comendo restos de lixo pelas ruas. Não é possível isso acontecer com as crianças. Alguém passa por mim e me diz simplesmente: Não quero ver, não quero saber, porque nada posso fazer. Mas o que é isso cidadão? Pense no seu irmão e, por favor, não lhe negue o pão. Pão sagrado, de todo dia. Não devemos procurar culpados, apenas não lhe negue: calor, amor, respeito. Não posso mais suportar que meninos sem lar sintam frio, sede, medo, Sem ninguém para lhes abraçar. Não posso mais suportar que em noite fria e chuvosa eles nada têm, a não ser Rezar. Mas um dia, um menino irá crescer E ele nunca vai esquecer Daquele que lhe negou o pão, nem daquele Que lhe estendeu a mão.

ENSINAMENTOS E DESAFIOS Cláudio da Cruz Francisco A vida nos ensina desde criança Repudiar o que empobrece a alma Cultivar a saborosa esperança Em tempos de glória e incerteza Eternizar a incessante busca pela paz Não desistir e nem se desesperar Coragem e otimismo até o fim Uma bela história se constrói assim É celebrar a honestidade, sem desanimar Temperar com amor tudo que se faz E conquistar forças para remar contra a correnteza Recheando sentimentos de solidariedade e confiança Como precioso brinde, a nossa alma Terá sempre a pureza de uma criança. © Isaxar - Fotolia.com


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A BELEZA DO AMOR Aldo Moraes Meu amor é um evangelho aberto que só traz beleza. E o sentimento que trago é o do reencontro. Pois de tudo que interessa e mais daquilo que importa é o reencontro. Com tudo o que significa para nós... E envio a bondade infinita ao seu coração. Porque a nossa felicidade também é infinita. E o amor significa tudo para nós... Com a senha da alma em minhas mãos, Percorro seus olhos e sua boca. E encontro ruas e avenidas acesas No mais puro e belo da vida!

VENTRE Amélia Luz Entre ramagens de carne e amor um ninho seguro esconde uma flor. Toda a raça terrestre é tecida em silêncio brotando das ramas do ventre que audacioso desventra o amanhã. No exílio do corpo materno, abismo úmido e terno, um anjo de cachos desperta e canta sem medo a canção da vida!


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Desafio Literário

O

desafio-tema do mês de junho foi «caracol». Publicamos as poesias e os minicontos selecionados.


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POESIA 2ºLugar –Elias Antunes - Sobre Jardins e Caracóis 1ºLugar- Maria Vitória Grisi –Vida de Caracol Sei que o que se mede, O que vai, volta Não me apresso Onde me sentir feliz Sei que estarei em casa. Por onde passo Deixo meu rastro Não quero viver em vão, Mas não pense porém Que minha vida é fácil, Ser pequeno é difícil Apesar de ter espaço Muitas vezes sou ignorado. O que me conforta É que com pequeno esforço Sem nem abrir a porta Para casa eu volto.

3ºLugar-Rômulo Oliveira – Muito Prazer

Ando lentamente devagar Carga pesada na costa Pelo chão a me arrastar Visível dificuldade exposta Habito entre a folhagem Já morei dentro de um ovo Muito longa qualquer viagem É minha sina desde novo Sonho em ser veloz Desfrutar a alta velocidade Todos ouvirem minha voz E correr com intensidade Não deves me chutar Não sou bola de futebol Vou me apresentar Eu sou um caracol.

Se mede no tempo, e Não na história. Um caracol descendo pela rua, Isso era a ilusão de um regresso, A velocidade da angústia, Isso era o que sobrava do tempo, Mala de viagem, Poeira e nada, Jardins poluídos, Possuídos de pássaros que Já não cantam mais.

4ºlugar - Adilson Roberto GonçalvesMusicara

caracol ao sol se fecha em si bemol acorde com som sem sono casa o corpo em concerto sem conserto


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5ºLugar - Petronilha Alice Meirelles- Caracol Na areia da praia passeia Carrega em sua concha o som do mar Espalha pela areia um fio de poesia Que se desenrola lentamente Em caracóis de versos amantes Versos molhados, melados, beijados... Que tragados pelas ondas Se desenlaçam e se enlaçam em abraços A poesia navega mar a fora Frágil como pedaços de barco papel Nas profundezas das águas Entrelaçados versos Se amam...

6ºlugar- Rosa Maria Pocinho dos Santos Alves poesia 1 Comigo Amigo Regressa Amoroso Confiante Ondeando Liberdade poesia 2 casca- cornocópia antropomórfica - rugosa antiga - casa - ondeada - lenta. caracol - caracóis, somos dois num só. De mim-nós se diz «hermafrodita». Pois seja. Que o prazer é todo meu-nosso. poesia 3

7ºLugar- Denivaldo Piaia- Caracol de Fibonacci enrolado ensimesmado tal qual caracol

Caracol eu sou - como Diógenes, o grego enrolado na minha apertada casa. Sou um caracol modernaço tenho antenas e parabólica e uma casa ambulante.

espirais se desenrolam à proporção de Fibonacci guardando segredos do além mundo mas ninguém quer sabê-los tal qual caracol ensimesmado enrolado

8ºLugar- José Augusto Huguenin-Escada Caracol

Desço a escada, Cabeça baixa, Baixa estima, Pobre rima, Cabeça tonta, Corpo a girar, Tempo escasso, Vida em Confuso, Luz de arrebol, caracol. Problemas com Tropeça no varal, Fuso, Sobe no muro, Mãos no corrimão, Mover-se no escuro, Afrouxa o parafuso, A não querer ver, Continua a descer, Continua a esquecer,


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9ºlugar-José Carlos Brandão- O tempo é um caracol

O tempo é um caracol. Por mais que ande sobre o seu visgo, não sai do lugar.

10ºLugar-Daniela Zappi- Encaracolado

Brincadeira cruel do tempo magoa e encurva as súplicas mudas, persistente vento que doma a melena dos campos. Caracol, talvez nem saibas que brincas travesso, sempre avesso, nas rugas do travesseiro apertado contra meu rosto. O roteiro das lágrimas não conhece dimensões no dia. Invisível ao sol, teu rastro prateado enluara-se fácil, amigado do arrebol noturno. Nunca saberás destes cristais que ocupam o peito até obliterar a última frestinha dolorida de luz, sombrios, frios gelados, cortando as folhas sem saber, sem pedir perdão.


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Miniconto 1ºLugar- Elias Antunes – Labirintos

Na imensa curiosidade de entomologista amador, quando criança, cutucava o pequeno caracol com uma varinha afilada, sem saber que encontrara meu primeiro labirinto de tantos que viriam.

2ºLugar - Edweine Loureiro- Reivindicação

Acossado por centenas de lesmas, o caracol logo descobriria a força do “movimento dos sem-teto”.

3ºLugar-José Ronaldo Mendes –Espiralado O caracol subindo uma samambaia na casa de minha avó...a escada em caracol que dava para o segundo andar da escola...os pentelhos encaracolados de Virgínia, no chuveiro...o desenho em caracol, no pátio do hospital, da amarelinha...amarelinha? Lembrou-me o “Jogo da amarelinha”, de Cortazar...será essa minha vida um labirinto onírico em caracol...também?

4ºlugar – José Augusto Huguenin-Dando Voltas Deu voltas e mais voltas e chegou a lugar nenhum. Enrolou o tempo. A vagareza do andar do caracol empregada à conversa que deveria ser objetiva. Não disse adeus, nem precisou. Lágrimas rolaram no rosto do interlocutor, revoltado com a covardia.

5ºLugar –Gladis Barriel – Subida Depois daquela noitada, a escada em caracol já não parecia tão bonita. Dormiram no sofa´.


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6ºlugar- Mario Rafael Gentile- Caracol

Opa! Por um triz não pisei no caracol, bem no meio da calçada. Tão inofensivo quanto resoluto em sua caminhada, invejo a sua marcha lenta e tranqüila, mas cheia de determinação. Rumo a...? Bem..., nós não sabemos ao certo para onde vamos. Ele saberá?

7ºLugar- Tatiana Pimentel Chinellato- Te encontrei caracolando

Mesmo quando saía de casa, levava uma parte dela junto a mim, era lento, perdido, sem planos. Por onde andava deixava meu rastro de incertezas. Até que encontrei você, que me fez mexer minhas anteninhas e aceitou meu jeito gastrópode de ser.

8ºLugar-Geraldo Trombin- Desvelo Enquanto na “Rádio Paixão” tocava “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, tentava – com desvelo – eliminar os chiados da saudade e desenrolar os novelos do seu coração.

9ºlugar- Angélica Weise- Caracol O Caracol desce o farol. Parece que o sol ainda não apareceu. Ele pensa até que o sol já desapareceu. Com o vento, é tanto tempo de espera, que ele nem se desespera. Também pudera, para o Caracol nunca há sol.

10ºLugar- Paula Campos- Tal qual caracol Tal qual formato de caracol era a virada fenomenal daquela vida insípida, perdida naquele labirinto, girando em torno de si mesma, 360 graus. Gira, gira, gira. Volta para o mesmo lugar. Chega a ser cômico. Faz tantos ensaios, dá tantos impulsos e... caracol.


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