Olaria das Letras, dezembro 2014

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jornal literário Número 11 - ano II - dezembro de 2014


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olaria das letras

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Editorial

A

máquina de fotografar sonhos foi feita sob encomenda para o Jornal Olaria das Letras, que, com muito prazer, compartilha algumas fotos.

Agradeço a todos pela colaboração. Boa leitura. Henrique Vale

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edição: Henrique Vale textos: Henrique Vale, Gustavo Moreira, Joaquim José Semeano, Elias Antunes,Zeh Gustavo, José Carlos Brandão, Maria João Pessoa, Rômulo Reis,Fabiani Taylor,Maria da Glória Jesus de Oliveira,Adilson Roberto Gonçalves, Ana Maria Gazzaneo, Thaís Ribeiro, Cleison Fernandes de Souza, Marcelo de Oliveira Souza, Izabela Ramos, Geraldo Trombin, Carlos Daliga, Wallace Nunes,Fernando Gurgel Filho, Rosângela Mariano, Michele Pupo, Jackson Franco, Sabrina Nunes Dalbelo,Cheile Silva, João Batista dos Santos,Edweine Loreiro,Bianca Ferraz Bitencourt, J.R. Siqueira,Cinthia Kriemler, André Cristal ilustrações: Orion


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olaria das letras a nuvem Gustavo Moreira

A COROA Joaquim José Semeano

a fumaça negra sobe encantando o menino que crê ser a nuvem fabricada, liberta pela chaminé era da cor do menino que cria ser também seu destino chover

fuga a palavra em fúria resolveu fugir do verso que brou-

Quando nasci fui logo coroado com espinhos mascarados de algodão Vestiram-me com o pensamento esse trilho da solidão e agora não posso agir sem primeiro pensar Tenho uma prisão na cabeça não me consigo libertar Quero um momento de liberdade total sem um esboço de prisão O olhar, o ouvir, o pensar, o andar, é tudo vigilância, prisão só o sentir é livre o sentir nada o morrer só por um momento.

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a Gustavo Moreira

das palavras Elias Antunes Todas as palavras são imprecisas para compreender a noite e seu fascínio, a lua e seu voo solitário por entre as casas e as moitas de capim, os insetos e sua contração de universo em um corpo que se protege a cada salto, compreender as próprias palavras além do dicionário, agrupadas como se um homem pudesse dizer-se nos exercícios da vida, como um homem que subisse uma montanha, rolando sua pedra da vida, enfim.

© mady70 - Fotolia.com


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ATO DE DESPIR A ROUPA DO TRÂNSITO Zeh Gustavo

PEDAGOGIA DO SUPRIMIDO

Zeh Gustavo Duas ou três dores não bastam; são necessárias mais doses do veneno do mesmo, cinco ou seis horrores, diários.

depois de golfar eu engulo as minhas próprias carnes chupadas (vísceras de engodo se escancaram pela manhã)

Meia hora de trânsito em nada interfere, precisamente. A rotina de muitos perdidos é que denota o engarrafamento-mor.

cansado eu fisgo e solto o sótão das almas encarniçadas para aliviar minha calma que mente a ansiedade anterior morreu nua, porque só existe, além de um sofá velho, uma baía de esgotos para que possamos lamber salivas vizinhas no térreo que corrói as horas

O tráfico de zero ou mil quilos de granadas ocas, a banana oferecida à tragédia parente, os donos de cães sem farelos nem apetites-ossos, - ninguém toca nem pende, para o talo de ser, mais ou menos que outro ninguém.

um ex-trago me bate na fuça, derramando-se por minha barba de traços azuis e pontas de fibra gasta

Quantos olhos desacordados soam o sino, é tanta a cidade que acorda vazia - a gritaria torna a turba surda, logo muda. Rua e nula vai virando a aura andante que passa gingando sem rastro, em desenredo letal pelo chão de plástico de dias tão móveis.

suor fétido, calça rasgada: eu descontinuo, ao passo que crispas de soslaio amarguram as vielas (tripas de rebarbas de vozes cospem no meu fígado) há um lapso-intervalo que age sobre mim, veloz; e então eu volto

O GANSO DE ANNA

e caio com o corpo em viés de luta (vias de enxofre esganiçam altas hordas)

José Carlos Brandão

Anna é dona do único ganso da cidade. Ele não tem serventia nenhuma, exceto para trepar com as gansas. A população inteira traz as gansas para trepar com o ganso de Anna. Mas ele só trepa nadando no lago, que fica gelado no inverno. Então Anna joga baldes e mais baldes de água quente no lago para o ganso conseguir trepar.

Amanhecer Maria João Pessoa

as vigas do naufrágio tombam durante a noite-escrúpulos, após a lida alienada; lua interna sucumbe, diária paga, multa morta

Quando a luz amanheceu levantei com ela o longínquo e percebi, que era o longe que buscava, a estrela distante para aquecer o meu dia, sem mais o som oculto da noite que nas rimas do teu corpo me encobria. Não é no presente que faço o meu poema, mas no voar da cotovia que amanheço.


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olaria das letras Mulher: A essência da poesia Rômulo Oliveira O Homem é um rascunho normal A mulher a arte final O homem é um esboço discreto A mulher o discurso completo O homem é um dia cinzento nublado A mulher é o aparecimento de um dia ensolarado O homem é uma noite fria sombria A mulher é uma noite de lua cheia O homem é um peixinho A mulher é uma sereia O homem é uma grande explosão A mulher a plena maturidade O homem procura satisfação A mulher busca a felicidade O homem é uma ilusão A mulher a pura verdade O homem é ditadura A mulher é a democracia O homem é a prosa da literatura A mulher é a poesia.

Poema classificado para compor a “Antologia do concurso Novos poetas- Poesia livre 2014”.

Para adquirir um exemplar peça pelo e-mail: poetadavez@gmail.com ou romulo_0_reis@hotmail.com Roda de Samba Fabiani Taylor Na roda de samba, Bem no centro do pandeiro, Está a morena gingando no compasso A rainha de bateria daquele carnaval de março Levanta a poeira, morena faceira! Mas o malandro Cartola Todo cheio de bamba Fungou no cangote da morena Passou o mel em sua boca Atirando-a em sua cama O lençol virou desvirado Travesseiros para o lado Jogada para a direita Na fronha do pecado Rola para a esquerda Na cabeceira do amado Roupas jogadas pelo chão Êxtase exalando pelo colchão E a rainha de bateria de pernas bambas Vestiu-se toda e voltou pro samba Cartola, no quarto sozinho Pela morena, cheio de amor Depois de fumar um cigarrinho, Escreveu um samba-enredo para afogar sua dor.

© spinetta - Fotolia.com

MARIA DA GLÓRIA JESUS DE OLIVEIRA Amanheci leveza de borboletas Flutuando sobre risos de colibri Tenho mãos de penas amarelas E deixo marcas de sonhos por onde passo. Sou desconhecida na aldeia Poucos, aliás, me vêem Porque não olham para o céu. Mas entre borboletas, colibris e flores Perfumo a existência, Rio, canto E amo.


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olaria das letras Alma no forno Adilson Roberto Gonçalves O cheiro que se sente ao longe desperta o estômago, o corpo, a alma também. O sabor do pão fresco ativa papilas e enzimas, a alma também. O café da manhã em família junta pais e filhos dispersos, a alma também. Conversas à beira da mesa para encher as mentes, a alma também. Apaniguados semânticos, minguados românticos, a alma também. Vamos ao dia, vida e trabalho. A alma não vem.

© crazymedia - Fotolia.com

Muro insólito Ana Maria Gazzaneo Invisível muro nos separa... Intransponível... Não há como escalar... Sequer usar escadas... Permanecemos, assim Eternamente separados... Você por trás dos seus óculos embaçados, eu com meus ósculos, nunca ofertados... E sempre aquele muro, indiferença, a separar-nos...

© Sailorr - Fotolia.com


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olaria das letras Vai e vem do vento Thaís Ribeiro

Vento amigo Cleison Fernandes de Souza

Aqui, vem vento vem alento vem vento que vocifera meus ouvidos eu tapo para a sua voz de velho, vagabundo, vento vale, porém, a pena seu discurso volátil sobre a prolixidade de varrer o chão pois se vai e vem, o vento vai vitória, vem vaidade vai vadiagem, vem voluptuosidade vai vaticínio, vem vontade sobre o chão, tudo vai e vem com o vento - alento e desalento, o que vai o que fica o vento tece a vida.

Lá vem ele, não o sinto mas o vejo O vento...meu amigo, meu parceiro Depois da lida, ahh como o desejo Pra atiçar, o meu dom de romanceiro Dessa vez não veio só, ele e ventania Alegraram minha noite, de Lua Cheia Mas se foram, balançando a cercania Eu entendo, foram lá em outra aldeia Foi-se o vento, e com ele o cansaço E agora renovado, crio versos mais Sentado, no bem bom do meu terraço Não se esqueçam, sou um romanceiro Eu escrevo sobre os temas mais banais E até mesmo sobre o vento, e nevoeiro.

Novembro Marcelo de Oliveira Souza O tempo me espera Ele vem chegando, Tudo vai mudando Ao passo que termina o ano. Queria cristalizar Esse momento no mês de novembro, Uma data de nascimento Prestes ao ano se findar. Terminamos o mês Aumentamos a idade mais uma vez! Dezembro o ano se esvai... No momento de reflexão. Muitos pedem coragem Outros pedem perdão. © Patrizia Tilly - Fotolia.com

Num misto de alegria e expectativa Todos esperamos o ano terminar Minha idade galopou! Prefiro o mês possa se cristalizar. O irmão do final do ano Vai se despedindo... Para dar passagem para o velho menino E tudo possa recomeçar...


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Desafio Literário

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desafio-tema do mês de agosto foi «muro». Publicamos as poesias e os minicontos selecionados.


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POESIA BARRO Elias Antunes Um homem nasce em meio à solidão como uma flor sobre as pedras: assim essa duplicidade. O tempo trouxe a primeira tumba e a civilização de deuses, cães e plástico. Nos muros a hera da morte e do sol. Mãos de barro tocam o rosto macilento: um boi poderia suportar a carga dos anos.

Fica Izabela Ramos Corta, contorna Faz do dia o espaço pra noite E acorda Fica, permanece E olha de cima a face do céu Transparente e invisível No plano da terra amarela Sobe o muro de nuvens que brilham Brilham à luz do Sol contente Brilham à vida que segue nascente Fica, permanece Para o poder da vida que todos esquecem Mas não esquece, fica Permanece

PALAVRABISMO GERALDO TROMBIN Minhas palavras andam enroscadas como fiapo de manga entre os dentes. Andam tão caladas saboreando os sentimentos engasgados. Minhas palavras andam enclausuradas na apavorante escuridão da boca da noite. Andam tão fatigadas quanto as retinas drummondianas, querendo um encosto, um muro, um porto mais que seguro ou, quem sabe, soltar um urro! Mas elas não conseguem... Mi... nhas... pa... lavras... são minhas pás... ... cavando... cavando um abismo dentro de mim!

Jardim de alecrim Carlos Daliga

Qualquer dia minha nave, vai pousar aí, no seu jardim de alecrim. Qualquer hora, não demora, bem aí, no seu jardim de alecrim. Qualquer tempo, sol ou chuva de vento ficarei feliz, bem aí, no seu jardim de alecrim, subirei no muro, no escuro, tocando e cantando, bem aí no seu jardim de alecrim.


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Parede Forte Rômulo Reis

Camisa 1 Wallace Nunes Seja clássico Ou amistoso Contra Ou pelada Ele tem que estar lá Imponente Ágil Sem falhas Salta, cai Levanta Na hora exata Se agiganta É de carne e osso Mas parece feito de alvenaria Muro Muralha Parede Vamô seu goleiro Defenda nossa rede.

Protege uma devida propriedade Mantém o tal local seguro Sinal visível da desigualdade “Ficar em cima do muro”

CAMINHO LIVRE? Fernando Gurgel Filho Não, não tinha Nenhuma pedra no caminho. Infelizmente.

Entre os muros um refém Trancado com suas privações Construindo os muros de Jerusalém Devoção no muro das lamentações Subindo no muro do quintal Derrubando o muro de Berlim “O muro da segregação social” Um dia chegará ao fim...

Nem pedra, nem pedestre, apenas o asfalto, o vento e a paisagem ficando para trás... E não havia mais nada. Talvez, quem sabe,

As trombetas soaram em Jericó Ergueram-se as muralhas da China Sem temer o efeito dominó! Essa parede forte predomina.

Se tivesse uma pedra no caminho? Infelizmente, no caminho Tinha apenas um muro.

Metamorfose Rosangela Mariano “Ao vento mistérios não decifrados” Sentimentos esquecidos, Sofridos, No véu de uma lágrima. Espalhada por entre as folhas Secas, Noto que a beleza foi aprisionada, Abandonada num recanto silencioso E, hoje, jaz emoldurada Nas sombras do passado...

Dois mundos Michele Pupo Você, escuro Eu, imundo Entre nós um muro.

Só o vento restou! Da saudade de uma brisa Ao perfume da flor Nada sobrou! Só vislumbro no céu azul Contornos indefinidos, Lembranças amargas De uma paixão doída e... maldita! E, ao pôr do sol, Sentada em um muro qualquer, Revejo meus planos. Como pano de fundo... os sonhos. Então, dou pontapé nos desenganos, Estendo minha alma “Para além das infinitudes”. O vento, que no momento me embala, Já não é o mesmo – foi algum dia? Há nele uma suavidade aparente Até meio caliente... Descubro que não é só o vento Que está diferente - eu mesma mudei!!

Ladra de coração Jackson Franco Quando te vi naquela casa de muro alto, senti um sobressalto. Quando consegui aquela barreira pular, estavas a me esperar. E tu, gostando de minha ação, viraste a ladra do meu coração.


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Miniconto Arrependimento mata sim Sabrina Dalbelo Cansado de ser criticado por sua trajetória política, o ilustre prefeito decide tirar sua vida atirando-se do penhasco da cidade. Ao encarar o precipício pensou: "por que diabos não mandei construir um muro aqui?". Certo muro Cheile Silva Dividia as escolhas do coração e da mente, era como certo muro que dividia a mesma cidade em duas, mas que no final das contas apenas provou que certas coisas nunca permanecerão separadas, mesmo que se tente. A CIDADE MAIS HUMANA DO BRASIL João Batista dos Santos Certa vez dois vizinhos idealistas resolveram derrubar o muro que separava suas casas. No espaço vago plantaram flores, e, conversavam à vontade, entre as rosas, as margaridas, os jasmins... Todos habitantes da cidade fizeram o mesmo, e, a cidade ficou conhecida como "a mais humana do Brasil.» CORES Edweine Loreiro Na cidade dividida entre brancos e negros, o muro que os separava fora pintado de vermelho-sangue. Pedras Bianca Ferraz Bitencourt Cada pedra que encontramos, como Drummond, no meio do caminho, não foi, como queríamos, o símbolo de uma conquista ou vitória. Veja bem, meu amor, o que aconteceu: cada uma delas é elemento inexorável do muro que agora nos separa. Santo muro Adilson Roberto Gonçalves Com o esforço de uma vida, assentou o último tijolo de pedra no muro que delimitava sua morada. Admirando a obra, no canto do olho a tempestade tomava forma; os raios intensos ressaltavam a silhueta da hilária arca de madeira que seu vizinho Noé construía. Das verdades alienantes pichadas em qualquer tijolo barato dentro do peito JR Siqueira “ Atenção, homens! Apontar, preparar...”, no muro em frente, atrás do pelotão que o enxergava através da alça de mira, o revolucionário, mãos atadas, cigarro pendendo do beiço, apenas um dos olhos cercados pela venda, pode ainda ler “Hay que endurecer, pero sin perder La ternura jamás...”, ao que deu seu último suspiro num “Ah, vá...”. Surdos Cinthia Kriemler​ No Muro das Lamentações, homens de preto clamam a Javé por aniquilação. Na Mesquita de Omar, homens de branco bradam a Alá por aniquilação. Nas alturas, um Deus rasgado ao meio chora ante tantas bocas veementes e tantos ouvidos moucos. O Muro André Cristal Às vezes ficamos no muro da dor, o vento nos balança, joga para lá e jogamos para cá, mas o amor é tão forte que nossas pernas nos mantém firmes nesse muro de puro sentimento. O OVO SOBRE O MURO Elias Antunes Havia um muro que sempre me intrigava, não pela ausência da paisagem, não pelo absurdo da rotina, não pelo abraço sufocante que ele dava no quintal, mas por um ovinho estranho que sempre não sabia se era de pássaro ou de lagarto.


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