Revista Farol fantástico n 4

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NĂşmero 4 - ano I -junho de 2015

henrique vale laisa felĂ­ssimo marco llobus

leonel ferreira jair barbosa thiago aquino

lederson nascimento vinicĂ­us fernandes cardoso


Farol Fantástico

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Revista infantojuvenil

Editorial

L

ua cheia. As galinhas se agitavam no galinheiro. O cão amarrado na varanda latia sem parar. O fazendeiro a contragosto levantou-se de pijama, pegou uma lanterna e saiu. Na horta havia uma cratera fumegante. Ao se aproximar saiu de dentro uma batata do tamanho de um elefante, com pernas e braços terminando em garras, a carranca cheia de dentes e dois olhos brilhantes e vermelhos. “Vem me descascar, homenzinho”, berrou o monstro jogando algo na direção do fazendeiro: «Revista Farol Fantástica n. 4» Os monstros estão a solta! Agradeço a todos os participantes, escritores e ilustradores que ajudaram na confecção do quarto número da revista.

Boa leitura.

Henrique Vale

Índice Meu monstro favorito...............................................03 Poesia minimalista...................................................07 Formas de amar.......................................................10 . Peixinho dourado.....................................................12 A queda....................................................................14 O perseguidor de pôr do sol....................................16 . O presente...............................................................18 Bom demais ............................................................20 Um almoço engraçado.............................................22 O passeio de bicicleta!.............................................24 As pescarias de Luana............................................26 As peraltices de Pedrinho.......................................28

© RATOCA

edição: Henrique Vale textos: Henrique Vale, Wanda Sily, Rita de Cássia M. Alcaraz,Edweine Loureiro da Silva, Maria Graça Melo, Geraldo Trombin, Karine Wille, Rosangela Mariano, Denivaldo Piaia, Sônia Regina Rocha Rodrigues, Vivian Moraes, Gladis Barriel, Maria Santino da Silva ilustrações: Orion (Márcio Oliveira), Fotolia


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Farol FantĂĄstico

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Meu monstro favorito Wanda Sily

Š cirodelia


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Sete da manhã e a voz da Júlia desce as escadas e chega na cozinha, onde seus pais tomam o café da manhã, “Mãe, cadê minha meia?” A mãe da Júlia assiste o noticiário para saber como vão as coisas pelo mundo. “Procura na gaveta das meias, querida!” Júlia já procurou, mas procura outra vez, sabendo que é im-pos-sí-vel achar dois pés de meia iguais para formar um par... não importa de qual cor. Na cozinha o pai da Júlia faz dois sanduíches, um pra ele, um pra Júlia, e prepara o leite com chocolate do jeito que ela gosta. E lá vem a voz da Júlia mais uma vez, “Cadê meu uniforme?” “Pus no seu armário ontem, doçura,” responde o pai. “Tava lá, mas hoje sumiu.” “Ele não tem pernas, não pode ter saído andando por aí...!” diz o pai da Júlia, que acha tudo tão engraçado que entorna o leite na toalha nova da mesa. Acho que você já entendeu, não? A Júlia nunca sabe onde põe as coisas dela. Seu quarto lilás parece que teve aniversário de criança, tudo fora do lugar: revistas; cadernos; livro novo e livro já lido; desenhos; bilhetes das amigas; papel de bala e de chocolate; canetinha colorida... No quarto da Júlia nada está em seu lugar - os patins patinam na gaveta das meias e as meias se mudaram para a cesta de lixo, ninguém sabe como. A bola de futebol fez um gol na estante de livros e os livros se esconderam em baixo da cama. Sapatos, tênis, camisetas, shorts, bolsa, mochila, dever de casa já feito e pra fazer, copo vazio de refrigerante, tudo espalhado pelo chão... Ontem Júlia perdeu o treino de futebol porque não encontrou a camiseta do time. Os dois pais da Júlia falam com ela, “Põe suas coisas no lugar, Júlia. Assim quando precisar, não tem que procurar pela casa toda”. É isso mesmo, você entendeu direitinho - Júlia tem dois pais. Um é o Pai Biológico, que as pessoas chamam de pai de verdade e a Júlia chama de Pai Número 1. Mas o Pai Número 1 e a mãe da Júlia se divorciaram e a mãe casou com o Pai Número 2, então a Júlia tem dois pais, e todos dois são muito legais. O Pai Número 1 casou com a Nancy, e tem outra filha, a Carlinha, que a Júlia chama de Filha Número 2. Advinha quem é a Filha Número 1? Os dois pais falam pra Júlia cuidar melhor das coisas dela, mas não tem jeito. “Júlia, querida, não vá perder seus cachos na hora do recreio.” “O cabelo não tem como fugir da minha cabeça,” Júlia responde. “Sei lá, você perde tudo!” O lápis verde desapareceu da caixa de lápis de cor e Júlia teve que pintar árvores amarelas no dever de casa que falava pra cuidar direitinho do meio ambiente. “Vamos manter o meio ambiente verde!” a professora ensinou na escola, mas no dever de casa da Júlia o meio ambiente ficou todo amarelo. E porque perde tudo, Júlia também perdeu seu livro de histórias favorito, Onde está meu monstro preferido? Júlia adora história de monstros, e se os monstros somem, pior pra eles. “Juro que deixei bem aqui ontem... Alguém roubou meu livro de monstros”. “Júlia perde tudo!” reclama o Pai Número 2. “Eu não perco nada, sempre acho depois...” A mãe da Júlia manda escovar os dentes depois das refeições. “Dente não é igual cabelo, que cresce outra vez. Então tem que cuidar direitinho”. O Pai Número 2 ri quando ela fala isso, “Aposto que você é dentista!”


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A Mãe da Júlia é dentista, sim, mas não arranca o dente de ninguém. Ela só conserta quando nasce torto ou fica fora do lugar. “Faço o sorriso das pessoas ficar mais bonito,” ela diz, sorrindo. Júlia sorri também, feliz porque a mãe dela tem o sorriso mais bonito do mundo. O Pai Número 2 fala que cabelo também é importante, e aí a mãe da Júlia diz, “Aposto que você é cabeleireiro!” O Pai Número 2 é cabeleireiro, sim. Ele também não arranca o cabelo de ninguém, só corta, lava, penteia e muda de cor. As pessoas estão sempre mudando o cabelo que têm! “Ainda bem, porque assim o salão está sempre cheio,” ele diz. “Quando eu crescer vou pintar meu cabelo de verde,” Júlia fala. Quando Júlia reclama que não quer lavar o cabelo, o Pai Número 2 diz, “Vai lá no salão que eu raspo sua cabeça. Assim não precisa lavar nem pentear.” A mãe da Júlia fala, “Imagina se uma pessoa vai tratar dos dentes no meu consultório e eu não acho o motor?” “Mas o motor fica preso no chão,” diz a Júlia Ainda bem que a cabeça da Júlia fica presa no pescoço, ou ela já a teria perdido. *** Sábado é o aniversário da Júlia. A casa está toda enfeitada com bolas de soprar e flores de verdade. O Pai Número 1 veio com a Nancy e a Marcinha, e trouxe uma bicicleta de presente. O Pai Número 1 tem uma loja de flores no shopping. Júlia não entende porque as pessoas compram flores, que acabam logo. Melhor comprar sorvete, que também acaba depressa mas é gostooooso! Na hora de cantar o parabéns... cadê as velas? “Peguei pra mostrar pra Marcinha e esqueci onde deixei.” “Ihhhh!” todos exclamam, preocupados. Quando a Júlia põe a mão, ninguém encontra. “Sem velas não tem parabéns!” Aí o Pai Número 1 tira do bolso uma caixa com 10 velinhas, que nem mágico tirando coelhos da cartola, “Sem problema, eu trouxe velas número 2!” Todos cantam o Parabéns pra Júlia; seja sempre risonha e querida! “Não se esqueça de cuidar bem dos seus dentes!” Advinha quem falou isso? “Não se esqueça de cuidar dos seus cabelos!” diz o Pai Número 2. “Seja como as flores, que embelezam a vida!” diz o Pai Número 1. Júlia promete cuidar de tudo direitinho, e faz um pedido muito especial antes de apagar as dez velinhas. Advinha o que foi que a Júlia pediu? (Pedido de aniversário é segredo, mas eu conto se você não contar pra mais ninguém) “Por favor, me ajuda a encontrar meu livro de monstro...” *** Domingo o Pai Número 2 faz lasanha pro almoço enquanto a mãe da Júlia limpa o quintal. A voz da Júlia pula a janela e vem correndo atrás dela. “Mããããe, cadê o tênis novo que a vovó me deu?” Eu nã disse? A Júlia perde mais tempo procurando um brinquedo do que brincando; procurando um livro do que lendo; procurando um biscoito do que comendo.


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No quintal, a mãe olha a mangueira toda florida e vê uma coisa que não nasce em árvore. “Júlia, achei!” ela grita. Júlia vem correndo, “Achou meu tênis?” “Não, o livro de monstro! Lá no alto da mangueira! Só não sei como foi parar lá!” Júlia também não sabe, mas fica feliz assim mesmo. “Eu não falo que nunca perco nada? Tudo aparece depois”. “Até monstro gosta de manga,” diz o Pai Número 2. Depois do jantar Júlia vai fazer o dever de casa pra segunda-feira... “Ih! Hoje é dia de fração!” “Fração é com seu pai,” diz a mãe da Júlia, que não gosta de fração nem subtração. “Fração é fácil”, diz o Pai Número 2, e pega a escova para pentear o cabelo da Júlia... “Vou separar seu cabelo em duas partes e fazer duas tranças. Partindo seu cabelo no meio temos duas metades; cada trança é 1/2 do seu cabelo. Entendeu?” “Legal! Amanhã vou de trança pra escola”. Ficou bonito, mas ele desmancha tudo e faz três tranças. “Agora cada trança é 1/3 do seu cabelo... Pega a lapiseira pra escrever isso no caderno”. Pois sim que a Júlia encontra a lapiserira. Lápis? Também não foi encontrado. “Deve ter uma quadrilha de ladrões de lápis escondida por aí,” diz o Pai Número 2. Depois de procurar pela casa toda, nem lápis, nem lapiseira, nem ladrões de lápis foram encontrados em lugar nenhum, e o Pai Número 2 manda Júlia pra cama. Já, já! “Vai dormir, Princesa, antes que sua cama desapareça do quarto.” “Não esquece de escovar os dentes”, diz a mamãe. Júlia escova os dentes e vai pro quarto, onde sua caminha macia está no lugar certo, esperando por ela, quentinha como sempre. Ainda bem! Enquanto isto, na sala, tem alguma coisa mais sumida. “Querido, sabe onde está o controle remoto?” pergunta a mãe da Júlia. “Deixei aí do lado da televisão”. A mãe da Júlia procura por toda parte e não encontra o controle remoto. O Pai Número 2 vai na cozinha pegar o suco na geladeira, e grita... “Achei!” “O lápis da Júlia?” a Mãe pergunta. “Não, o controle remoto. Mas não estou achando o suco...” Fi.... (Desculpe, a Júlia perdeu o M)

© frenta


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Poesia minimalista: Versos em Festa Rita de Cassia M. Alcaraz

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Farol Fantástico A onda na pedra bate volta maré vazia fica a areia limpa. A grande estrela já apagou no céu pequeno a lua redonda chegou. A gaivota no céu voa, no mar o peixe, no bico água salgada. O sapo linguarudo namora o rio de olho na mariposa. A lâmpada esfriou mosquito chegou a menina ele picou. Macaco sem dente trepou, balançou, na bananeira chorou. Cachorro sorrindo, brincadeira já no beco, na rua, no lar. Papel em branco, quieto o lápis apenas silêncio de menina. A aranha elegante De salto pulou Pendurada ficou O tigre perdeu a bengala Com o rabo se equilibrou Descalço ele andou. O gato sorriu Mas Alice sumiu Um longo miau se ouviu. A girafa branca Sozinha ficou Seu pescoço longo o céu alcançou. O Tatu no buraco entrou O cachorro só com o focinho cheirou.

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Desafio literário

O 4º Desafio Literário da Revista Farol Fantástico contou com 67 inscrições. Dessas 10 textos foram selecionados .


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Formas de amar Edweine Loureiro da Silva

Formas de amar Edweine Loureiro da Silva

© iostephy.com


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Jogou a mochila no sofá e, vendo-a na cozinha, correu para dar-lhe as boas novas. ― Mãe, mãe! Tirei um dez em… Mas Dona Júlia, ao celular, fez sinal para que Tiago se calasse. ― Só um minuto, Gabi! ― E para o filho: ― Tiago, estou ocupada agora! ― E retornando ao celular: ― Pois é, prima, se você pudesse me fazer esse favor… E Tiago, perdendo o apetite, subiu para o quarto, entristecido. * Somente quando escutou a voz do pai na sala foi que Tiago animou-se a descer. E foi logo contando a novidade ― ignorada pela mãe naquela tarde: ― Pai, tirei dez em Matemática! E fui o único na sala que conseguiu a nota máxima! ― Parabéns, filhão! Viu como valeu a pena dedicar-se no fim de semana? Como recompensa, no próximo sábado, vamos ao cinema! ― Valeu, paizão! ― E, dando um grande abraço no pai, olhou, rancoroso, em direção a Dona Júlia, que, por sua vez, enviava uma mensagem pelo iPhone para lembrar à prima que, na manhã seguinte, as duas iriam fazer compras para a festa-surpresa pelo aniversário de Tiago ― data que o doutor Pacheco, ao contrário, raramente se lembrava.


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2º Lugar

Peixinho Dourado Maria Graça Melo

© nyamol


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Havia um peixinho dourado A viver no aquário Sentia-se ignorado Até nadava ao contrário Porque ele era afinal Entre os outros, desigual Os companheiros Tinham escamas belas Azuis verdes, amarelas E não uma cor somente, Só ele era diferente. Como ele, outro não havia - Que triste se sentia! Era um peixinho tão belo Mas sentia-se tão singelo! Os outros brincavam sorrindo Ele olhava tristemente Com esta diferença Ele vivia, triste e só Que nem percebia Nem mesmo sabia Que sendo dourado Ele era adorado Ele só queria ser igual Aos outros peixinhos De cor natural Que o olhavam de lado Por ser tão dourado

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Sabia nadar e até boiar Naquela aquário Com luzes de festa Em cada aniversário. Era bem dotado O peixinho dourado Um dia, outro peixe Olhando-o, disse: - Nada a meu lado Não fiques parado Com olhar tão triste Peixinho dourado! Ele se alegrou Nadou e nadou Cantou de contente E fez piruetas Algumas caretas Rindo de alegria E muito melhor Passou esse dia Marcaram encontro Para o dia a seguir E aqui eu vos conto Eu fui encontrá-lo a rir A bom rir Ria e sorria De tão animado Já não estava só Sentiu-se amado O peixinho dourado E quando chegou Olhou e olhou E por aquela peixinha Se enamorou E lhe confessava: Enquanto nadava: - Sabes, amiguinha? Gosto de água quentinha Terei longa vida Mais de seis anos Tu és muito querida E nos meus planos Serás minha rainha! É assim o amor Não lhe importa a cor Dá-se de vontade E recebe de volta A felicidade Viveram felizes Assim lado a lado A peixinha contente E o peixinho dourado.


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3ºLugar

A queda Geraldo Trombin

© cirodelia

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Juquinha levou um baita de um susto com aquele estrondo na sala. A tevê não era, estava desligada. Foi num pé... e voltou no outro, aflito. Passou correndo pelo papai e a mamãe, direto para o seu quarto. Abriu rápido o armário e se vestiu todo de branco. Retirou do caixote de brinquedos a sua ambulância e vapt-vupt... voltou entoando o angustiante barulho da sirene – uóóóóóó! – enquanto o seu coração batia num ritmo frenético: tumtum, tum-tum, tum-tum! Tudo isso em pouquíssimos minutos, pois sabia o que estava em jogo: a vida de um grande amigo. Papai e mamãe, estranhando a movimentação, espiam o que ele estava fazendo: prestando os primeiros socorros à vítima – o livro do Pequeno Príncipe que havia despencado lá do alto da estante.


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4ºLugar

O perseguidor de pôr do sol Karine Wille

© magdal3na


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Corria alegre pelos trilhos enferrujados e abandonados da ferrovia o garoto, enquanto levava sua pipa recém-terminada como se fosse um troféu. Pensando bem, acho que na realidade o era. O fim-de-tarde era perfeito, o vento colaborava e a colina logo adiante estava vazia. O sol já descia para ceder espaço à lua quando ele tentou pela primeira vez colocar o objeto no ar. Ainda lhe faltava certa técnica para que conseguisse uma subida perfeita, mas isso era algo que ele iria aperfeiçoar com o tempo. Parou para descansar um pouco depois de manter a pipa uns dez minutos no céu e foi então que começou a observar o pôr-do-sol. Estava lindo. Tons laranjas, amarelos, vermelhos, rosas e azuis se fundiam em uma linda aquarela digna de deslumbre. Esqueceu-se do brinquedo e só admirou o sol fugir-lhe aos olhos. Correu o infinito atrás dele quando a escuridão começou a preencher o espaço transitório e até suas pernas protestarem. Lembrou-se da pipa na colina e voltou para ela. Mais encanto o menino viu enquanto caminhava para casa com as estrelas brilhantes e prateadas a servirem-lhe de sonhos.


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5ºLugar

O presente Rosângela Mariano

© cirodelia


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- Minha filha, seu presente! Eu aceitava com calor e louvor o presente a mim dedicado. Segurava-o entre meus dedinhos, apertando contra o peito, amorosamente, aquela relíquia. Não abria logo. Queria saborear o mistério de sonhar com o conteúdo do pacote enfeitado. Pensava: abrir rápido, pra quê? Perdia o encanto! Precisava pensar em mil coisas que ali existiam... Porém, rezava só por uma... Dobrava, esmagava o presente colorido de fitas esvoaçantes e suspirava. Quase uma dor! Claro, era meu, ora... Então, aquela voz adulta e fria rasgando toda magia... - Abra logo, “queridinha”! Olhando o pai do alto dos meus cinco anos, queria responder, furiosa: - Não!!! – enroscava-me junto ao embrulho. A ânsia de escondê-lo e esconder-me também. Bati o pezinho delicado. Só ia abrir quando a imaginação se esgotasse. Novamente, a pressão: - Abra logo, você já sabe o que tem aí! Por que tanta demora? O pedido me feria. Não entendiam a magia? É preciso sonhar, imaginar, fantasiar! Adultos de alma cinzenta - pensei, emburrada. - Vamos, menina, abra de uma vez este presente! Chega de fazer manha!! Cabeça baixa. Poeira no encantamento. Meus dedinhos ingênuos despedaçando o momento. Pedaços de papel gemendo despedida. Fantasia morta! Assim de vez? Finalmente, em minha mãos, o presente nu: o livro almejado. Fruto do mistério. Nada me impediria de sonhar, agora... Nada!!


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Bom demais Denivaldo Piaia

© cirodelia

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Nedal acordou bem cedinho. Afinal, era dia de missa! Vestiu-se sozinho, colocou o melhor boné, engoliu o café e, feliz, saiu como se tivesse asas nos pés. Rensa vai estar lá e de tranças! -pensou. O sino tocou alegremente muitas vezes, os pássaros fugiram assustados em revoada, enquanto as pessoas chegavam e o padre a todos acolhia na porta da capela. “- Estou gostando de ver, Nedal! Chegou para a missa bem na hora” -disse o padre. “- A bença padre! Rensa já chegou?” “- Nada! Atrasada de novo...” Nedal guardou imediatamente o sorriso enquanto pensava: Mas estava tudo combinado! O olhar perdido na estrada só percebeu o balanço da primavera branca. Nada de Rensa. “- Já volto!” -disse. Não deu tempo do padre impedir. Saiu correndo como um louco, levantando poeira, sentindo pavor e um gosto salgado na boca. Na cabeça só a lembrança da promessa que ela havia feito no dia anterior: “- Só não vou se estiver morta”. Queria voar... Mas a poeira no horizonte levantou esperança, lágrimas, certeza e sorriso. Na charrete com a família, Rensa vinha de tranças. No encontro de ambos aconteceu um abraço que nunca mais foi desfeito. Bom demais...


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Um almoço engraçado Sônia Regina Rocha Rodrigues

© Mia


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Era dia dos pais. A casa estava repleta de tios, primos, avós. À medida que cresciam, as crianças podiam experimentar pratos mais requintados, sabores mais fortes, temperos novos. E também podiam ajudar, enrolando brigadeiros, colocando granulado na cobertura dos bolos, enfeitando as saladas com rodelas de palmito, cenoura, azeitonas e outras coisinhas simples assim. Preparar comida junto com as crianças sempre foi gratificante e divertido. Nesse domingo ao ver a mãe preparar strogonnof , eis que Carolina, que ainda não sabia ler, vendo as latas de creme de leite, exclamou: - Mamãe, põe bastante leite condensado, tá? Lúcia ainda não havia se recuperado do riso provocado por este comentário, quando colocou conhaque para flambar a carne e o primo Joãozinho chorou, ao ver as chamas na frigideira: - Agora, não vai ter mais comida, tá pegando fogo! E, no momento de brindar aos pais, foi a vez da pequena Catarina surpreender a família a exclamar: - Eu sou mesmo uma menina de sorte. Eu tenho três pais! O meu papai, o papai Noel e o papai do céu! Um viva a todos os meus papais! Viva!


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8ºLugar

O passeio de bicicleta! Vivian Moraes

© lynea


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Jorginho sempre quis ter uma bicicleta, mas, infelizmente, sua família era muito pobre. Às vezes Jorginho ficava triste porque via seus amiguinhos andando com suas bicicletas. Eles eram camaradas, principalmente o Paulo. – Jorginho, quer dar um rolê na minha bike? Eu empresto para você! O problema é que os pais de Jorginho eram tão pobres que tinham medo de o menino cair na bicicleta de um amiguinho e eles não terem dinheiro para pagar o conserto. Não podendo andar de bicicleta, a brincadeira favorita de Jorginho era empinar pipa. Só que com tanta tecnologia neste mundo, os meninos ficavam em suas casas, jogando videogame. Os que ficavam na rua eram justamente os que gostavam de bicicletas. Ele só ficava observando, e às vezes suspirava. O que ele queria, mesmo, era andar de bicicleta. A do pai, que era utilizada para todos os seus afazeres, era muito grande para Jorginho, que tinha apenas seis anos. Ele estava sendo alfabetizado e pediu para a professora ensinar-lhe a escrever “bicicleta”. Mas a professora achou que era uma palavra complicada para começar. Sendo assim, Jorginho não tinha nem o gosto de escrever o nome do que mais gostava na vida. Então, desenhava. Um dia, Carolina mudou-se para a casa que estava sendo alugada ao lado. Quando Jorginho a viu, foi amor à primeira vista! Ela era linda, não tinha os dentinhos da frente, porque iam nascer outros, os que duram para sempre. Tinha o cabelo liso nos ombros. Jorginho confessou o seu amor num bilhetinho, e desenhou uma bicicleta nele – era o único desenho que sabia fazer. Então Carolina pegou sua bicicleta cor-de-rosa, buzinou para ele e falou: – Quer ir na minha garupa? Ele foi! E foi o melhor passeio que ele fez na vida!


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9ºLugar

As pescarias de Luana Gladis Barriel

© celianestudio


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Sempre que o pai ia pescar, Luana acompanhava. Ela ganhou um caniço apropriado para o seu tamanho e logo aprendeu a tirar os peixinhos do rio e colocar numa bacia d'água. Brincava um pouco com eles e depois devolvia ao rio. Um dia, ela pescou um peixe bem diferente, sem escamas. Ficou muito orgulhosa e correu mostrar ao pai. ―Papai, este aqui não tem roupa. O pai disse que ele era assim mesmo, mas ela não se convenceu e decidiu colocar uma roupa no peixe. Se podia vestir o Bolita, seu cachorro, porque não o peixe? Levou o peixinho para casa e colocou-o no tanque cheio d'água. Pensou em dar-lhe um banho, mas quem diz que o bicho parava para ser ensaboado? Mal ela tocava o peixe e ele escorregava, pulava, mergulhava e ela não conseguia mais pegá-lo. ―É. Parece que é mesmo impossível dar banho em peixe ―pensou. Então vou vestir assim mesmo. Foi até sua caixa de brinquedos e escolheu um vestido de boneca azul, muito bonito. ―Espero que seja uma peixa. E lá se foi com o vestido nas mãos, já imaginando a lindeza que o peixinho ia ficar. Quando se aproximou do tanque, o peixe deu alguns pulos, saiu voando e desapareceu nas nuvens. Só então ela percebeu que o peixe tinha asas. ―Acho que era um peixe-menino e não gostou do vestido ―pensou. Luana ficou aborrecida, mas não desanimou. Na pescaria seguinte, levou na mochila um lindo macacão marrom, destes que tanto meninos como meninas podem usar. Estava preparada, caso encontrasse outro peixe sem roupa. No alto da prateleira, o urso Pipoca estava nu.


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10ºLugar

As peraltices de Pedrinho Maria Santino da Silva

© chuchada


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Pedrinho bateu os pés no chão e abriu o berreiro para que a mamãe soltasse a sua mão. Queria andar livre no Zoo e como um pássaro levantar voo, mas a mulher que já conhecia as peraltices do filhinho, disse: - Não, Pedrinho! E tentou distrai-lo mostrando o elefante esguichando água na plateia, e a mamãe loba que amamentava a sua pequena alcateia. O menino observou os bichos, curioso, e riu dos felinos que rugiram alto causando nele um susto gostoso. Mas a mamãe se distraiu e Pedro Peralta, fugiu. Devagarinho ele puxou a porta amarela, curioso para ver de perto aquela fera. Ah, mas que susto levou Pedrinho, quando viu a grande onça de pertinho. O animal abriu sua bocarra cheia de dentes e olhou Pedro Peralta de frente. Por um milagre a onça fugiu sem lhe fazer nenhum mal, e Pedro, inocente, acenou para ela dizendo: Tchau! Depois riu feliz, sem perceber que havia sido por um triz. Quase tinha virado o jantar do felino, mas ele não via aquilo, pois era só um menino. A fera perdeu-se na floresta e Pedrinho saiu da jaula sentindo o peito fazer festa. Correu para perto da mamãe como um gato, mas, curioso, parou na jaula dos macacos. As mãozinhas nervosas coçaram então, e outra vez se fez confusão.


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