Natura de Rui Matos

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NATURA

Rui Matos

Texto | Text Sousa Machado

José

GALERIA SÁ DA COSTA

NATURA Rui Matos

Rua Serpa Pinto, 19, 1200–443, Lisboa

“… percebi de súbito, com uma ardente claridade interior, que era eu aquela árvore no cimo da colina.” Gustav Meyrink, “O Anjo da janela do Ocidente”

Se algumas das suas esculturas recentes se assemelham a desenhos tridi mensionais, polvilhados de acontecimentos inusitados protagonizados por linhas, planos, formas, volumes e espaços vazios que interagem entre si em equilíbrios instáveis, as fotografias de plantas silvestres que o artista recolheu nas imediações do local onde habita são uma aplicação dos mesmos prin cípios formais em estruturas orgânicas perecíveis; extravagantes às vezes, voluptuosas outras tantas vezes, remetendo-nos quase sempre para épocas imemoriais.Umapapoila registada pelo artista nos instantes imediatamente anteriores à sua floração impactante, envolvida ainda num casulo de penugem rugosa com notórias afinidades com as armaduras medievais; ervilhas selvagens de forte sugestão erótica; a delicadeza impar do desenho de uma espiga com filamentos concêntricos; uma alcachofra altiva coroada de espinhos ameaça dores; um cogumelo esponjoso e táctil com a forma de uma caldeira e alhos porros abismados na sua excentricidade pontiaguda são içados pelo olhar de Rui Matos da vulgaridade da sua condição campestre anónima para o es trelato de uma existência singular de beleza inigualável.

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Da Natureza

O conjunto fotográfico de Rui Matos exposto agora na galeria Sá da Costa é complementar da sua longa e profícua actividade regular de escultor, pa tente na exposição visitável até ao próximo dia 15 de Outubro na Sociedade Nacional de Belas Artes, intitulada “a sequência dos dias”.

Se, por um lado, cada uma das fotografias agora expostas corresponde a um momento muito fugaz na vida da planta correspondente, por outro lado, o processo cíclico da sua existência temporal permite-nos apreender e in tegrar em nós mesmos a continuidade de algo que não tem princípio nem fim, de algo intemporal; um microcosmos que reproduz a criação primordial, quando o espírito era uno, inteiro e harmonizado com a natureza, espelhando - nas palavras de Yvette Centeno (“AArte de Jardinar”) – o “espaço atemporal da criação”, o espaço mítico das origens que fluía no jardim das Hespérides - uma ilha de pomares de macieiras – e na ilha celta de Avalon.

José Sousa Machado

“O ponto de observação de cada uma das plantas fotografadas é o nível dos olhos para que ela seja facilmente perceptível pelo observador enquan to corpo de escultura”, afirma o artista sobre a metodologia adoptada. Rui Matos reconhece também a influência decisiva que sofreu de karl Blossfeldt (1885–1932), magnífico fotógrafo alemão, autor de dois livros que desperta ram grande interesse no primeiro quartel do século XX – “Formas Arquetípi cas da Arte”(1929) e “O Maravilhoso Jardim da Natureza” (1932) – e, curiosa mente, também ele, professor de escultura em Berlim, entre 1923 e 1932.

O deslumbramento de Rui Matos perante as coisas que o rodeiam denota semelhanças qualitativas com a mão do jardineiro descrito por Byung-Chul Han em “Louvor da Terra”: “O jardineiro também é um coleccionador. Deixa que as flores o inspirem. Eu medito sobre a mão do jardineiro. O que toca ela? É uma mão amorosa, que espera, paciente. Toca o que ainda não existe. Cuida da distância. Nisso consiste a sua felicidade.”

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Nos anos 80 frequentou o Curso de Escultura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1993.

Em 1987 realiza a primeira exposição individual “Órgãos e Artefactos” em Lisboa com esculturas em ardósia. Segue-se “Primeira Ilha” e “Mediterrâneo” no Porto com esculturas em gesso-bronze. A primeira exposição em pedra é de 1991 “Enormidade Sequência e Naufrágio” a que se segue “Transformações-Relatos Incertos”, “Objectos de Memória” e “Histórias Incompletas”. Em 2008 começa a trabalhar em ferro com as exposições “A Pele das Coisas” em Lisboa no Teatro Camões, “Transformo-me naquilo que toco “ na Giefarte , “Por Dentro” na Fundação das Comunicações, “O Visionário” com Rui Cunha Viana na Galeria Monumental em Lisboa, “ O tempo, os lugares, a memória, a fortuna dos dias” no MU.SA em Sintra, “Transmutações” na Sá da Costa em Lisboa, “Histórias de outras Idades” no Convento do Espirito Santo em Loulé, “Perdido na viagem de regresso” Paços Galeria Municipal de Torres Vedras. “O luar da montanha suavemente ilumina o ladrão de flores” CAE Figueira da Foz. “As Figuras dos sonhos estão mais próximo de mim”. Espaço T no Porto. “Qualquer saída da lógica da linguagem pode ser a entrada num dicionário revelador” Livraria Sá da Costa-Espaço Camões em Lisboa. “Através da Superfície”. Fundação Luís em Cascais. “Fora de um mapa conhecido” no Colégio das Artes em Coimbra e “A reconstrução da memória” no Palácio da Galeria em Tavira.

Realizou esculturas públicas em Chaves, Durbac (Alemanha), Aveiro, Lisboa, Cascais, Oeiras, Caldas da Rainha, Vila Franca de Xira, Alfândega da Fé, São Pedro do Sul, Belver, Portalegre, Almada, Seixal e Vila nova de Gaia.

RUI MATOS

Nasceu em Lisboa em 1959, vIve e trabalha próximo de Sintra.

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Coleções: Caixa Geral de Depósitos, Museu Dr. Santos Rocha, Fundação PLMJ, Fundação Vítor e Graça Carmona e Costa.

Inkjet printing on photo paper Rag Baryta 315 gsm

Dimensão /Dimension: 86 X 130 cm cm (Ed. 1 + 1 PA)

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Pags. 4–52

LISTA DE OBRAS | ARTWORKS LIST

Sem título | Untitled, 2020 – 2022

Dimensão /Dimension: 25 X 37,5 cm (Ed. 5 + 1 PA)

Impressão a jacto de tinta sobre papel fotográfico Rag Baryta 315 gsm

Catálogo lançado por ocasião da exposição Natura de Rui Matos na Galeria Sá da Costa em Lisboa, com co-produção da Ocupart e Sá da Costa Arte, entre 15 e 28 de setembro de 2022.

Catalog launched on the occasion of the exhibition Natura of Rui Matos at Galeria Sá da Costa in Lisbon, co-produced by Ocupart and Sá da Costa Arte, from 15 to 28 September, 2022.

CATÁLOGO | CATALOG DESIGNOcupartGRÁFICO | GRAPHIC DESIGN Luisa CRÉDITOSMoreiraFOTOGRÁFICOS | PHOTOGRAPHIC CREJoséTEXTORuiDITSMatos|TEXTSousaMachado

geral@ocupart.pt | www.ocupart.pt | @ocupart | (+351) 917 071 693 a.sadacosta.mi@gmail.com | @sadacostaarte | (+351) 912 283 000

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