OBVIO 11 JUN 2017

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OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA LETAL INTENCIONAL NO RIO GRANDE DO NORTE ED 11. ANO II. 2017

NESTA EDIÇÃO: CINCO MESES DE LETALIDADE INTENCIONAL EM 2017 A VIOLÊNCIA TEM FACE EVASÃO ESCOLAR FAVORECE CRIMES E MORTES ENTRE JOVENS POTIGUARES NÚMEROS MOSTRAM: PRENDER E DEIXAR PIOR NA PRISÃO PARA DEPOIS SOLTAR, NÃO RESOLVE.



SUMÁRIO Expediente ................................................................................................................................. 4 A inexorável da realidade da insegurança. ...................................................................................... 4 Mosaico de faces e dores. ............................................................................................................. 5 Nota Técnica .............................................................................................................................. 6 Evasão escolar favorece crimes e mortes entre jovens potiguares ......................................................... 7 Números mostram: prender e deixar pior na prisão para depois soltar, não resolve. .............................. 10 Boletim analítico mensal comparado ............................................................................................ 13 1.

Dinâmica espacial da violência............................................................................................ 13

2.

Ação e instrumentação dos crimes ........................................................................................ 21

3.

Perfis das Vítimas.............................................................................................................. 23

4.

Temporalidade Criminal ..................................................................................................... 26

5.

Resumo Final ................................................................................................................... 29

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EXPEDIENTE

A INEXORÁVEL DA REALIDADE DA INSEGURANÇA.

OBVIO - OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA LETAL INTENCIONAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Inexoravelmente o Rio Grande do Norte se mostra para o resto do país e do mundo como um estado violento, algo bem diferente do que seu povo e suas belas paisagens são. Sim, o grande Elefante Potiguar não é habitado por pessoas violentas.

FICHA INSTITUCIONAL PRESIDENTE DE HONRA

MARCOS DIONISIO MEDEIROS CALDAS (IN MEMORIAM) COORDENADOR ACADÊMICO

THADEU DE SOUSA BRANDÃO COORDENADOR DE PESQUISA

IVENIO HERMES

COORDENADOR DE IMPRENSA

CEZAR ALVES DE LIMA COORDENADOR DE ESTATÍSTICAS

SANCLAI VASCONCELOS SILVA

EQUIPE TÉCNICA E COLABORADORES

ABRAÃO DE OLIVEIRA JUNIOR DANIEL OLIVEIRA BARBALHO ELMA GOMES PEREIRA JOSEMARIO ALVES LEYSSON CARLOS MARCELINO NETO SÁSKIA SANDRINELLI HERMES SIDNEY SILVA EQUIPE DE AUDITORIA

EMANUEL DHAYAN BEZERRA DE ALMEIDA MANUEL SABINO PONTES ROSIVALDO TOSCANO DOS SANTOS JUNIOR THADEU DE SOUSA BRANDÃO CONSELHO EDITORIAL

RAFAEL IGOR ALVES BARBOSA SHEYLA PAIVA PEDROSA BRANDÃO EQUIPE DO LABORATÓRIO DE PESQUISA DO OBVIO - OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE LABORATÓRIO DE PESQUISA UFERSA E UNP

ANA LOUISE SILVA FILLIPE AZEVEDO RODRIGUES HANNA CAROLINE MACÁRIO DIAS ROCHA JOÃO GABRIEL LIEVORI CAMARGO KÉCIA SAIONARA FERREIRA DE OLIVEIRA MOEMA MARCELI OLIVEIRA DE MOURA NIEDERLAND TAVARES LEMOS RAFAEL ANDREW GOMES DANTAS REBECA STEPHANIE COSTA DOS SANTOS SISTEMATIZAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO

METODOLOGIA METADADOS

COLETA, INTERPOLAÇÃO E CONCATENAÇÃO

NATAL/RN MAIO, 2017

Nossas praias, nosso povo, nossas dunas, nosso agreste, enfim todos os rincões do estado pregam, buscam e pleiteiam a paz, mas infelizmente, o som desse pleito vem sendo emudecido por uma violência, que todos queremos que se trate apenas de um período ruim, como uma seca, uma enchente, uma tempestade, que logo passará. Em 2015 apontamos para a laceração que o descontrole do sistema prisional e suas dezenas (naquela época, pois hoje são centenas) de fugas causariam no tênue tecido da paz. Os diagnósticos daquela época já mostravam que não teríamos soluções duradouras em segurança pública enquanto não trabalhássemos a interdisciplinaridade de ações nas diversas pastas do estado, nas diversas instâncias dos poderes e nas diversas esferas de atuação sobre o problema da segurança pública. O tratamento simplista e simplório dado ao problema da insegurança e da criminalidade em nosso estado, cuja gestão executiva parece estar mais preocupada com marketing político e cerceamento de informações para órgãos independentes de pesquisa, não poderia dar nenhum resultado positivo, e a retroalimentação da violência aumenta cada vez mais o mosaico de faces marcadas pela violência letal intencional. O Boletim Mensal OBVIO, publicação do OBVIO - Observatório da Violência do Rio Grande do Norte, Grupo de Pesquisa da Universidade Federal Rural do Semi-Àrido (UFERSA), cadastrado no CNPQ, com um Laboratório de Pesquisa com Núcleo na Universidade Potiguar (UnP), aporta com mais uma edição, e cada uma, representa um marco ao contornar todas as dificuldades que são impostas à pesquisa independente. Nossa 11ª edição do Boletim Mensal do OBVIO, reiteramos nossos agradecimentos a todos que, empenhadamente, contribuem para efetividade desse trabalho. O que queremos é uma sociedade de paz, governos transparentes e honestos, e por esse ideal continuaremos laborando para vencer a propagação da violência e da criminalidade.

A METODOLOGIA METADADOS E OS MEIO DE CONSOLIDAÇÃO DE DADOS E OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES UTILIZADO PELO OBVIO, SÃO DE PROPRIEDADE SOCIAL E PERTENCEM AO POVO DO RIO GRANDE, SENDO VEDADA SUA UTILIZAÇÃO COMERCIAL OU PARA FINS DE PROPAGANDA GOVERNAMENTAL.

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MOSAICO DE FACES E DORES. Há quem busque justificar a escalada crescente de mortes violentas no Rio Grande do Norte relacionandoas ao tráfico de drogas e outros crimes. De fato, é muito fácil que num estado onde a resolutividade na investigação de homicídios é menor que 10%, a vítima seja culpada pela própria morte, e pior, seus familiares que ficam vivos, tenham que arcar com a dor da perda ampliada, desse modo, pela dor de uma culpa que não lhes pertence. Não podemos ser partidários de políticas transfiram a culpa de um executivo tardio em agir para a própria população a quem deveria garantir o direito constitucional à segurança. A paz que tanto queremos começa na atitude de cada gestor de assumir a própria incapacidade de agir, e talvez assim, ser humilde o suficiente para buscar congregar esforços direcionados para gerir estratégias que se efetivem em soluções a médio e longo prazo, afinal, faltam apenas 19 meses para a conclusão da atual gestão estadual.

OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA LETAL INTENCIONAL DO RIO GRANDE DO NORTE

676

807 1.030

752 2014

2015

2016

2017

..::VARIAÇÃO::.. 2014-2015

-10,1%

2015-2016

2016-2017

+19,4%

+27,6%

(*) O OBVIO contabiliza homicídos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e outras condutas dolosas que resultem em morte. Período de 1 de janeiro a 31 de maio de 2017 comparado ao mesmo período de 2015 e 2016 (atualizado em 31/5/2017 às 23:59hs).

Numa média de 6,82 vidas perdidas por dia, é mais urgente ainda que se tome uma decisão de evitar com que os crimes contra a vida continuem impunes, e sabe-se que com o esforço integrado é possível concatenar ações que provoquem reduções na criminalidade. Tanto isso é possível, que no primeiro ano da atual administração, havia uma redução de 10,1% no número de homicídios, mas a partir de 2016, mesmo sob os alertas de cientistas e pesquisadores, um aumento vertiginoso teve lugar e chegamos ao final do mês de maio com mais de 1.000 vidas perdidas em condutas violentas letais intencionais, ou seja, com 27,63% de aumento em relação ao mesmo período em 2016. Vivemos uma realidade dura, mas não deixemos que as paixões institucionais, as políticas partidárias, as críticas pela crítica, o revanchismo ou qualquer sentimento menos nobre norteie a capacidade que todos temos de contribuir para uma mudança nesse quadro atual.

Os rostos de 1.030 vítimas podem ser esquecidos facilmente pelas estatísticas frias, mas os parentes e amigos dessas vítimas não têm paz e sofrem ao pensar em suas perdas. Nada justifica uma vida ceifada, nada justifica o mosaico de faces e dores que cada face vai formando no mapa da violência do Rio Grande do Norte.

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NOTA TÉCNICA O presente material visa subsidiar todas as entidades governamentais ou não-governamentais e à própria sociedade norte-rio-grandense, com informações científicas e diagnósticas sobre a criminalidade violenta letal intencional. As informações apresentadas são oriundas de dados filtrados, interpolados e concatenados por uma metodologia registrada, e dentro do âmbito da pesquisa científica da UFERSA, portanto são dados oficiais, só não são governamentais, não pretendendo substituir a responsabilidade do estado para com a transparência e nem quanto à prestação de serviços para ações policiais. O estudo cobre o período de 1 de janeiro a 31 de maio dos anos 2015, 2016 e 2017. O Banco de Dados do OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional é obtido por meio do tratamento interpolado e parametrizado de dados de diversas fontes, num processo denominado Plataforma Multifonte criado por Hermes e Dionisio1. Para a construção de conceitos e diagnósticos contextuais de complexidade, a consolidação dos dados e a produção das informações é feita por meio da Metodologia Metadados2, que tem como fundamento a Teoria da Complexidade de Morin, citado por Santos, Santos e Chiquieri 3, concatenando conhecimentos de saberes diversos de forma dinâmica e integrada para a celeridade e a devida credibilidade dos resultados.

1Mosaico de dor e morte: arte digital de Ivenio Hermes.

1

HERMES, Ivenio. Metadados 2013: Análises da Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte. 2. ed. Natal: Saraiva, 2014. 145 p.

2

HERMES, Ivenio; DIONISIO, Marcos. Do Homicímetro Ao Cvlimetro: A Plataforma Multifonte e a Contribuição Social nas Políticas Públicas de Segurança. 2. ed. Natal: Saraiva, 2014. 110 p. 3

SANTOS, Akiko; SANTOS, Ana Cristina Souza dos; CHIQUIERI, Ana Maria Crepaldi. A Dialógica de Edgar Morin e o Terceiro Incluído de Basarab Nicolescu: Uma Nova Maneira de Olhar e Interagir com o Mundo. III Edipe: Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p.1-26, 2 out. 2009.

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EVASÃO ESCOLAR FAVORECE CRIMES E MORTES ENTRE JOVENS POTIGUARES Por Felipe Galdino4

Dados da Fundação Estadual da Criança e do Adolescente revelam que maior parte dos internos no sistema socioeducativo do RN não está na escola ou se encontra fora da faixa de ensino. Evasão Escolar. A evasão escolar é uma das principais responsáveis pelo ingresso de jovens na criminalidade. Dados da Fundação Estadual da Criança e do Adolescente (FUNDAC-RN) indicam que a maior parte dos internos no sistema socioeducativo não estão na escola ou estão fora de faixa. Conforme a direção do órgão informou, 80% dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa em meio fechado – internação – ou semiliberdade deveriam estar entre a 1ª e 5ª série do Ensino Fundamental, mas apenas 1% deles afirma estar regularmente matriculado na rede. A maioria que entra em um centro educacional – unidade de internação de adolescentes em conflito com a lei – sequer frequentou uma sala de aula algum dia. Fora da escola e inseridos no mundo do crime, esses jovens que nunca foram ou abandonaram o colégio no meio do caminho escolar acabam suscetíveis a mortes. Segundo levantamento do Observatório da Violência Letal Intencional do RN (Obvio), entre 2012 e 2016, 921 pessoas com idades entre 0 e 17 anos foram assassinadas, 11% de todas as vítimas de homicídios cometidos nesse período. Somente no ano passado, 188 crianças e adolescentes de até 17 anos foram mortos no Rio Grande do Norte. Ao todo, 1.993 vítimas tiveram esse mesmo fim naquele ano, de acordo com o Obvio. Ou seja, 9,5% dos homicídios em 2016 tiveram como alvos crianças e adolescentes. Em 2015, esse saldo era ainda maior: 11,7%. A evasão escolar é um problema no Brasil, que já foi bem maior do que é hoje. No Rio Grande do Norte, segundo o Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2015 a taxa de estudantes que abandonaram a escola no ensino médio era de 10,8%; e 3,4% quando considerados os alunos matriculados no ensino fundamental. O banco de dados do Inep ainda mostra que a maioria das crianças abandona a escola quando passa a cursar o chamado ensino fundamental 2. Em 2015, 5,5% dos alunos matriculados no Rio Grande do Norte deixaram o colégio entre os 6º e 9º anos, tendo maior incidência de evasão exatamente o 6º ano, quando o abandono escolar chegou a 6,3%. O Censo Escolar divulgado pelo Inep demonstra ainda que 13,3% dos abandonos no ensino médio regular ocorrem logo no 1º ano. Das 1.993 pessoas assassinadas em 2016, 1.131, ou seja, 56,7% de todas as vítimas, não tinham escolaridade registrada ou estavam fora da escola, de acordo com o Obvio. Outros 528 – ou 26,5% – tinham apenas o ensino fundamental registrado.

Felipe Galdino da Costa é graduado em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), tem pósgraduação em Jornalismo Investigativo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing - Rio de Janeiro (ESPM-RJ). Já trabalhou em veículos de comunicação da cidade e do Rio de Janeiro. Atualmente é repórter do NOVO, em Natal. 4

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Para o especialista em segurança pública e coordenador do Obvio, Ivenio Hermes, as três variáveis estão diretamente ligadas: o abandono escolar ajuda a levar o adolescente e o jovem à criminalidade, que pode levar tais indivíduos a se transformarem em vítimas da violência urbana. “Se fizermos um recorte dos homicídios, veremos que a maior parte das vítimas não frequentou a escola, está fora da escola ou de qualquer atividade financeira profissional”, avaliou o especialista. Ivenio Hermes enxerga esse cenário como o resultado de falhas cometidas pelo poder público na assistência a essas pessoas. “O Estado está falhando em oferecer educação e profissionalização a esses jovens e as consequências são esse aí”, afirmou.

Criminalidade vai ocupando os espaços onde o Estado não chega. Para o diretor-presidente da Fundação Estadual da Criança e do Adolescente (FUNDAC-RN), Ricardo Cabral, é “muito clara” a relação entre baixa escolaridade e cometimento de atos infracionais por adolescentes, que cada vez mais vão entrando no mundo do crime e ingressando em facções criminosas. Para ele, essas organizações acabam preenchendo um vazio que o poder público não ocupa. “A área social dos Municípios tem falhado em manter a assistência adequada”, comenta Cabral. “Digo que a criminalidade vai ocupando espaços onde o Estado não chega, e quando falo ‘Estado’ não é nem especificamente o Rio Grande do Norte, é o ‘Estado’ como nação. A criminalidade preenche essa lacuna. Não é regra geral, mas facilita a esses jovens caminharem pelo caminho do crime”, salienta. “É muito clara a relação direta entre os atos infracionais e a educação. No governo passado, se fechou 40 escolas, a maioria no interior, e imediatamente o índice de criminalidade juvenil aumentou. O nível de educação desses jovens que chegam é muito baixo, uma boa parcela dos chega para a gente ainda analfabeta. São adolescentes de 15, 16, 17 anos analfabetos”, destaca Ricardo Cabral. Segundo o presidente, se fosse feito um trabalho adequado na base, muitos dos 235 adolescentes hoje nos centros educacionais (CEDUC) da FUNDAC não estariam internados porque dificilmente teriam cometido ato infracional. Caio – nome fictício –, de 18 anos, é um dos internos da FUNDAC. Natural de Currais Novos, distante 172 quilômetros de Natal, ainda quando era adolescente ele foi apreendido por tentativa de homicídio e porte ilegal de arma de fogo. Hoje ele está no CEDUC Pitimbu, unidade localizada em Parnamirim. Nas suas contas, já está há quase um ano e meio no sistema socioeducativo potiguar. Caio cursava o 8º ano do ensino fundamental quando abandonou a escola, em 2014. O motivo: “inimizades”. “Estava estudando, mas parei por causa de inimizades. Preferi sair da escola mesmo”, relatou o rapaz. O coordenador Estadual da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça e titular da 1ª Vara da Infância e da Juventude de Natal, juiz José Dantas de Paiva, analisa que o perfil dos adolescentes que entram no sistema socioeducativo estadual é não estar na escola. “Pela experiência que temos, podemos dizer que a escolaridade do adolescente em conflito com a lei é baixíssima. É o perfil. Geralmente ele só sabe ler e escrever o nome, às vezes, sequer isso. Dificilmente temos um adolescente que concluiu o ensino médio”, ressaltou o magistrado, que também confirma que a baixa escolaridade deixa os jovens mais suscetíveis às facções e aos crimes. Pág. 8


Desafio de manter aluno motivado na escola. Longe do meio escolar desde 2014, Caio voltou a estudar graças à pequena estrutura presente no CEDUC Pitimbu. São quatro pequenas salas de aula onde os 36 adolescentes internos na unidade, como Caio, assistem aulas. Apenas um professor de Ensino Fundamental 2 dá aulas, no Pitimbu. No último dia 19, a Secretaria de Educação, responsável por fornecer os profissionais, publicou edital para processo seletivo de temporários. A perspectiva é que ao menos um professor de cada disciplina seja lotado na unidade e nas outras espalhadas pelo estado. A atual falta de estrutura não impede o adolescente entrevistado pelo NOVO de dizer que já pode recomeçar. “É um começo, né? Uma boa chance para a gente”, comemora. Ele conta que pretende ainda completar o ensino fundamental, cursar e concluir o médio e trabalhar. Contudo, não afasta outra possibilidade: a de entrar em uma das facções que agem no território potiguar. Ele tem até já tem uma preferência, caso seja forçado a escolher uma das duas presentes no estado. “Não tô dentro de nenhuma [facção], mas se for para escolher, escolho o ‘RN’ [referência ao Sindicato do RN]. O PCC, pelo amor de Deus, são ‘por fora demais’, vivem roubando aí pais de família”, disse o rapaz. A secretária estadual de Educação, Cláudia Santa Rosa, avalia que um dos grandes desafios é exatamente manter os alunos matriculados. Ela diz que as quedas de evasão registradas nos últimos anos são consequências das políticas aplicadas no poder público, mas que o desafio continua. Para ela, o caminho é transformar o espaço escolar em um ambiente acolhedor e incentivador para os estudantes. “Tem sido um esforço tornar a escola um local motivador para o aluno”, analisa. Santa Rosa diz que sua gestão vem implementando programas que valorizam o ensino médio, como o Promédio, que implanta o modelo de ensino profissionalizante e de tempo integral e semi-integral nas escolas do Estado. São 53 escolas de ensino profissionalizante e 18 de ensino médio integral. Em 2017 serão 30 semi-integrais. “É com projetos como esses que fortalecemos o ensino e conseguimos manter o aluno na escola”, destaca.

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PUBLICAÇÃO ORIGINAL: GALDINO, Felipe. Evasão escolar favorece crimes e mortes entre jovens potiguares. NOVO. Natal, 28 maio 2017. Cidades, Caderno 3, p. 9-9. Pág. 9


NÚMEROS MOSTRAM: PRENDER E DEIXAR PIOR NA PRISÃO PARA DEPOIS SOLTAR, NÃO RESOLVE. Por Cezar Alves5

O Centro de Operações da Policia Militar recebeu mais uma ligação telefônica, entre muitas, no final da tarde deste sábado, 13, comunicando de um assassinato na Pousada das Termas, em Mossoró 6. Era a ocorrência de Conduta Violenta Letal Intencional de número 97, só neste ano de 2017. No Rio Grande do Norte, chegou ao número aterrorizante de 900 CVLIs, conforme o Observatório da Violência no RN.

O histórico de cada uma das ocorrências, seja onde for no RN, se colocado lado a lado, deixa a clara impressão de que é uma só. A motivação também é uma coisa extremamente banal. Mata-se por motivos tolos. A vida deixou de ter valor para uma parcela enorme da população. No dia 12 de abril, um jovem matou um agricultor de 23 anos em Apodi7 só para provar que tinha coragem de matar e, assim, ingressar na facção criminosa Primeiro Comando da Capitão, PCC, criada em SP. Este jovem de 17 anos foi preso e contou tudo ao promotor de Justiça Armando Lúcio Ribeiro, que estava de plantão na Comarca de Mossoró.

Cezar Alves de \lima é |graduado em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), com especialização em fotojornalismo. Trabalhou nos veículos de comunicação Gazeta do Oeste, Jornal de Fato, e atualmente é chefe de redação do Jornal Mossoró Hoje, assessor de Imprensa do Hospital Maternidade Almeida Castro e da Liga Mossoroense de Estudos e Combate ao Câncer e Coordenador de Imprensa do OBVIO - Observatório da Violência do Rio Grande do Norte. 6 MOSSORÓ HOJE: Ex-presidiário é morto a tiros na Pousada das Thermas. Publicado e disponível em < http://mossorohoje.com.br/noticias/16931/expresidiario-e-morto-a-tiros-na-pousada-dos-thermas.htm > 2017. Maio, 13. 5

MOSSORÓ HOJE: Adolescente matou agricultor em Apodi como prova de coragem para ingressar no PCC. Publicado e disponível em < http://mossorohoje.com.br/noticias/16911/adolescente-matou-agricultor-em-apodi-para-ingressar-no-pcc.htm > 2017. Maio, 12. 7

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Se considerarmos os números, estamos no décimo primeiro ano de matança no Rio Grande do Norte. De 1998 a 2005, a média de assassinatos, por ano, em Mossoró, era 30. Proporção menor era registrada no restante do RN. De 2006 em diante, começaram os assassinatos.

Neste primeiro ano foram 53 assassinatos em Mossoró. Em 2007 já foram 87. Em 2008 já estava em 118. Em 2011, atingimos 194. Manteve-se nesta média até 2015, quando em 2016 bateu o recorde de 217 Condutas Violentas Letais Intencionais. Assusta aos humanos. Aos desumanos, o sentimento de vingança guia para mais crimes. Os movimentos são cada vez mais evidentes nas redes sociais desejando a morte dos “envolvidos” e os tolos nem imaginam que assim estão gerando uma geração de assassinos, proporcionando o crescimento de uma bolha de sangue e horror ao longo dos anos. E não adianta ignorar este cenário. É real e aterrorizante. Todo dia se aumenta o desejo de matar numa parcela significativa da sociedade, o desejo de querer fazer o papel de Deus, de tirar a vida de um semelhante por este, ao seu julgamento, ser “envolvido”. O que motiva, o desejo de vingança, de vingar qualquer tolice ou nada mesmo, como o caso de Apodi? O discurso no “meio” é que esta resposta é a impunidade, a injustiça... Se não tem quem que possa punir com o rigor da lei, adota-se a Lei do Talião. O Estado, por sua vez, não consegue dá a resposta devida a sociedade. Continua pegando gente ruim na rua, deixando 100 vezes pior no presídio, jogando de volta nas ruas e chamando isto de segurança pública. Enquanto sociedade, ficamos inerte a este absurdo! Na Justiça, são tantos casos de CVLIs, que atualmente o juiz que preside os julgamentos dos crimes contra a vida em Mossoró está analisando os processos de 2011 e dos poucos réus que estão presos, pois estes têm prioridade. A expectativa é que até o final do ano sejam colocados para a sociedade julgar cerca de 55 acusados de crimes contra a vida. Pág. 11


Noutra ponta, considerando que em 4 meses e 14 dias foram registrados 97 CVLIs, a expectativa é que até o final do ano, este número passe a casa dos 240, quebrando o recorde de CVLIs registrados em 2016, que foi 217. Isto é a prova real de que os esforços que estão sendo feitos (prende, deixa pior e solta), não estão reduzindo os homicídios no RN. Na esfera de policialmente ostensivo, o clima é de insatisfação. O PM prende o suspeito, porém a Polícia Civil não consegue, por falta de estrutura e pessoal, colocar provas no processo que o incrimine, e este termina solto. Na prática, a Polícia Civil trabalha com cerca de mil policiais e precisava ter pelo menos 6 mil. A perícia técnica ainda não existe. Por fim, o sistema prisional se transformou numa grande bolha de horror, controlada por fações criminosas (O PCC veio de SP e o Sindicato do RN surgiu em 2013, durante o governo de Rosalba Ciarlini), que para sobreviverem, se matam dentro e fora dos presídios, transformando as famílias de bem em reféns dentro de suas próprias casas/presídios nas cidades polos. Diante dos números e fatos apresentados pelo Observatório da Violência do RN, resta evidente que o Estado precisa, com urgência, investir na estruturação da família, colocar as escolas para funcionarem em tempo integral com estrutura de capacitação profissional, esportes e cultura, bem como se associar as igrejas e outras instituições para se trabalhar campanhas de fortalecimento da ideia do perdão no seio social. Em outra ponta, é extremamente importante que se coloque os presos para trabalharem, para assim os pagarem pelo prejuízo que causaram na sociedade, apreenda uma profissão e desenvolva a possibilidade de não retornar ao mundo do crime. Também é extremamente importante que se crie a instituição de perícia criminal e reforcem o contingente policial Civil, Miliar e de perícia criminal.

Que Deus nos proteja!

Observação: Este artigo foi publicado originalmente em 14 de maio de 2017, na ocasião que o estado do RN chegava a 900 mortes matadas, e 13 dias depois, em 27 de maio, o estado atingiu a marca de 1.000 vidas perdidas. ____________

PUBLICAÇÃO ORIGINAL: ALVES, Cezar. Números do OBVIO mostram que prender deixar pior na prisão e soltar não resolve. 2017. Mossoró Hoje/Retrato do Oeste. Disponível em: <http://mossorohoje.com.br/colunas/4/16933/numeros-do-obvio-mostram-que-prender-deixar-pior-naprisao-e-soltar-nao-resolve>. Acesso em: 14 maio 2017.

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BOLETIM ANALÍTICO MENSAL COMPARADO Thadeu Brandão8 e Ivenio Hermes9

1. DINÂMICA ESPACIAL DA VIOLÊNCIA Temos estudado as variações de 2017 comparando-as proporcionalmente aos anos 2015 e 2016, como forma de aferirmos os resultados das possíveis estratégias de segurança da administração Robinson Faria. O êxito obtido em 2015 não recebeu continuidade a partir de 2016, por isso no mês de maio desses anos, observamos que 2015 apresentou 135 CVLIs, 2016 aumentou para 179 CVLIs e 2017, continuou aumentando na ordem de 27,63% em relação a 2016, com 211 CVLIs, conforme veremos no quesito Temporalidade Criminal.

A RMN - Região Metropolitana e as Mesorregiões Potiguares

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Thadeu Brandão - Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Professor Adjunto de Sociologia da UFERSA e do Mestrado em "Cognição, Tecnologias e Instituições" (CCSAH/UFERSA). Líder do grupo de Pesquisa "Observatório da Violência do RN". Coapresentador do Observador Político na TV Mossoró e 93 FM. Colunista do Jornal O Mossoroense. Autor de "Atrás das Grades: habitus e interação social no sistema prisional" e coautor de "Rastros de Pólvora: Metadados 2015" atualmente exerce a função de Coordenador do OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas da UFERSA (Universidade Federal Rural do Semi-Árido). 9 Ivenio Hermes – Arquiteto, escritor e pesquisador, vencedor do Prêmio Literário Tancredo Neves. Consultor em Gestão e Políticas Públicas de Segurança e de Segurança Pública. Possui em sua bibliografia com 16 livros publicados e mais de 1.200 artigos. É Coordenador de Pesquisa do OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas da UFERSA Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mestrando do Programa de Pós-Graduação Mestrado Acadêmico e Interdisciplinar em Cognição, Tecnologias e Instituições (UFERSA), Consultor do Conselho Especial de Segurança Pública e Políticas Carcerárias da OAB-RN, Pesquisador do COEDHUCI - Conselho Estadual dos Direitos Humanos e da Cidadania e Membro Sênior do FBSP - Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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A Região Metropolitana de Natal (RMN), ainda suscetibilizada pela priorização de Natal e Parnamirim que recebem um programa chamado Áreas Integradas de Segurança Pública – AISPs, impulsiona sua violência para os municípios limítrofes. Com a maioria de seus municípios fazendo parte do Leste Potiguar, esta região se transforma num polo atrativo da criminalidade, que se movimenta num circuito migratório constante e chegando a apresentar 19,88% de aumento em relação a um ano que já havia batido todos os recordes anteriores. Assim, na RMN, composta por 12 municípios, sendo 2 deles da Região Agreste e 10 da Região Leste, considerando os dois últimos anos, isto é, de 2016 para 2017, a evolução percentual se deu da seguinte forma: Maxaranguape apresenta o maior percentual de aumento, são 700,00% em relação ao mesmo período do ano anterior (de 1 para 8 CVLIs), depois vem o município de Vera Cruz com 300,00 % (de 2 para 8 CVLIs), Monte Alegre com 150% (de 4 para 10 CVLIs), Nísia Floresta com 113,33% (de 15 para 32 para CVLIs) e Ielmo Marinho que atingiu a marca de 100% (de 1 para 2 CVLIs). Continuando a escalada da RMN temos Extremoz que alcançou 64,29% (de 14 para 23 CVLIs), vem CearáMirim com 61,90% (de 42 para 68 CVLIs) e Macaíba com 53,85% (de 26 para 40 CVLIs). Por fim temos os com menor índice de aumento: São José do Mipibu com aumento de 11,76% (de 17 para 19 CVLIs) e Natal com aumento de 10,29% (de 243 para 268 CVLIs). Dois municípios apresentaram redução: São Gonçalo do Amarante de -29,41% (de 51 para 36 CVLIs) e Parnamirim com uma redução de -7,79% (77 para 71 CVLIs).

O mês de maio se encerra com os seguintes dados, o Leste Potiguar – onde, reiteramos se inclui a RMN apresentou aumento de 19,69% (de 508 para 608 CVLIs). Nesse rankiamento, o Oeste Potiguar - onde se encontra Mossoró - apresentou aumento 34,97% (de 183 para 247 CVLIs). O Agreste Potiguar foi o campeão em crescimento, 75,38% (de 65 para 114 CVLIs), e a Central Potiguar que teve um aumento de 17,65% (de 51 para 60 CVLIs). Pág. 14


Ao filtrarmos e verificarmos os CVLIs do ano de 2017, 59,13% (609 CVLIs) foram cometidas no Leste Potiguar, seguido pelo Oeste Potiguar com 24,00% (247 CVLIs). O Agreste Potiguar tem sua parcela da violência em 11,08% (114 CVLIs) e a Central Potiguar possui 5,83 (60 CVLIs).

Municípios Motores Os três motores da violência, ou seja, os maiores municípios do RN, seguem representando parcela significativa de CVLIs, além de servirem como polos da violência. Como mostraremos a seguir, a dinâmica persiste em outras variáveis.

Natal Em Natal, a dinâmica dos CVLIs também apresenta seu contínuo crescimento, perfazendo aumento de 10,29%. Houve uma ligeira redução na Zona Leste, foram -5,88% (de 34 para 32 CVLIs) e não houve variação Zona Oeste, permanecendo uma estabilidade mantendo 94 CVLIs. A Zona Sul continua sua liderança no crescimento da criminalidade letal, foram 88,24% (de 17 para 32 CVLIs) e a Zona Norte com 6,25% (de 96 para 102 CVLIs).

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Como no mês anterior, as ocorrências dos hospitais correspondem a um aumento acumulado de 300,00% (de 2 para 8 CVLIs). É importante salientar que, apesar da redução na zona leste e a estabilização na zona oeste, a violência homicida teve grandes proporções na zona sul, isso demonstra que falta de efetivo ostensivo abre espaço para o recrudescimento da violência em todas as zonas.

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Restringindo o mapeamento ao ano de 2017, apenas para verificação da distribuição da violência letal intencional, obtemos um rankiamento onde Nossa Senhora da Apresentação lidera como o bairro mais violento com 34 CVLIs, seguido de Felipe Camarão com 21 CVLIs, Pajuçara e Planalto com 19 CVLIs. Os bairros Lagoa Azul e Quintas seguem esse ranking com 18 CVLIs em cada. Estes perfazem os bairros de maior incidência. Na sequência temos Igapó com 12 CVLIs; Potengi com 11 CVLIs; Ponta Negra com 10 CVLIs, Mãe Luíza e Bom Pastor com 9 CVLIs cada; Redinha, Lagoa Nova e mortes sem vestígios de local encontradas em Hospitais com 8 CVLIs em cada; Dix-Sept-Rosado, Cidade da Esperança e Alecrim aparecem com 6 CVLIs em cada. Com 5 CVLIs em cada, vem Pitimbu e Guarapes; Rocas, Cidade Nova, Santos Reis e Neópolis com 4 CVLIs; Nordeste, Nossa Senhora de Nazaré, Nova Descoberta com 3 CVLIs em cada; Cidade Alta, Petrópolis e Praia do Meio com 2 CVLIs cada e; com 1 CVLI cada, vem Candelária, Tirol, Capim Macio, Ribeira e Areia Preta. O número de vítimas cujo local do crime não foi determinado por fatores burocráticos, ficaram inclusos na categoria especial Hospitais. Essas vítimas foram encontradas em hospitais sem nenhum registro da origem do fato criminoso, e para esses números não serem alocados equivocadamente nos bairros onde se localizam as unidades de saúde, se mantém o registro de local indeterminado. Alertamos: as metodologias de registro de CVLIs não estarem (aventamos a possibilidade) sendo utilizadas corretamente.

Parnamirim Parnamirim é a terceira maior cidade do Rio Grande do Norte, município conurbado com Natal, onde a dinâmica de CVLIs teve uma redução em 2017 de -7,79% comparada com o mesmo período dos anos 2015 e 2016.

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O município demonstra uma pequena queda dos CVLIs. A iniciativa das Áreas Integradas de Segurança Pública – AISPs, assim como em Natal, também foram empregadas nesse município adotando simplesmente o critério de dividi-la em duas áreas tomando como marco a BR101: os bairros localizados na margem esquerda, Zona Oeste, pertencem a uma AISP e os bairros da margem direita, a Zona Leste, outra AISP.

Sem a preocupação de enxergar que uma concentra a maior área geográfica, com alto índice de criminalidade, onde estão as praias do litoral sul e imensas áreas não mapeadas e ainda em expansão urbana. Isso torna essa região suscetível à migração criminal de Natal, como ocorre nos outros municípios limítrofes. A Zona Oeste teve redução de -24,44%, ou seja, de 45 para 34 e o Litoral Sul, com -40,00% ou de 5 para 3 CVLIs. A Zona Leste apresentou aumento de 19,23% ou de 26 para 31 CVLIs. Nos Hospitais, o aumento acumulado é de 200,0% ou de 1 para 3 CVLIs. Os bairros de Parnamirim, sofrem com uma demarcação de limites imprecisa, sendo confundidos em nomes e municípios com outros da Região Metropolitana, mas os critérios internos da Metodologia Metadados reduzem as margens de erro e podemos estabelecer melhor provimento para esses dados. Na análise de números absolutos em 2017, o bairro de Nova Parnamirim (mais conurbado e mais complexo, em termos urbanísticos e de segurança) apresentou com 20 CVLIs, aparece na frente, numa conotação de que não há preocupação em se determinar a origem da ocorrência. Depois temos os bairros de Monte Castelo com 6 CVLIs. Com 5 CVLIs tivemos: Bela Parnamirim, Passagem de Areia e Emaús; depois temos: Rosa dos Ventos, Santa Tereza e Vale do Sol com 4 CVLIs cada. Com 3 CVLIs cada, temos: Vida Nova, Nova esperança, Santos Reis e Centro. Em seguida temos Jardim Planalto com 2 CVLIs, e Liberdade, Pium, Cajupiranga e nos Hospitais com um 01 CLVI cada.

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Mossoró Na Terra da Resistência, Mossoró, não há redução acumulada significativa, o que pode denotar o enfraquecimento natural do esforço de policiamento e da investigação face ao grande volume de ocorrências criminais. Portanto a redução foi ínfima, na casa de -0,91% CVLI no comparativo com o período anterior (2016).

Importa lembrar que todas formas de integração dos serviços de segurança pública devem atentar para a distribuição espacial das ocorrências nas Zonas de Mossoró, que como Parnamirim, sofrem com uma demarcação de limites e servem com referência de estudo para setorização de áreas geográficas dentro do município. As Zonas Sul e Zona Oeste apresentaram elevação: a Zona Sul aumentou de 24 para 32 CVLIs ou 33,33% e a Zona Oeste de 7 para 13 CVLIs, ou seja, 85,71%. As zonas que apresentaram redução foram: Zona Rural -53,85% (de 13 para 6 CVLIs); Zona Central -33,33% (de 6 para 4 CVLIs); Zona Norte -13,33% (de 30 para 26 CVLIs). Por fim, a Zona Leste permaneceu estável registrando 30 CVLIs conforme o ano anterior.

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Assim, na análise de números absolutos em 2017, temos a seguinte distribuição da violência homicida: Zona Leste na frente com 27,03% (30 CVLIs), seguida da Zona Sul com 28,83% cada (32 CVLIs). Na sequência, com 23,42%, temos a Zona Norte (26 CVLIs), depois a Zona Oeste com 11,71% (13 CVLIs), a Zona Rural com 5,41% (6 CVLIs) e finalmente a Zona Central com 3,60% (4 CVLIs). Os bairros que apresentam violência homicida em 2017, são: Santo Antônio, na frente com 15 CVLIs e em segundo lugar Aeroporto com 11 CVLIs. Em terceiro lugar surge o Santa Delmira e Belo Horizonte com 9 CVLIs cada, e na sequência com 7 CVLIs em cada, surgem: Barrocas, Dom Jaime Câmara e Boa Vista. O bairro Abolição vem em seguida com 6 CVLIs. Alto de São Manoel, Zona Rural e Nova Bethânia estão com 5 CVLIs; Presidente Costa, Bom Jardim e Doze Anos, estão com 4 CVLIs respectivamente. O conjunto Nova Vida (Malvina) e Paredões estão com 3CVLIs cada: o Ouro Negro com 2 CVLIs e, por fim, com 1 CVLI em cada: Centro, Vila Maísa, Alto do Sumaré, Alto da Conceição e Bom Jesus. Mossoró, diferente de Natal, não dispersa sua violência para as cidades vizinhas, pelo contrário, ela concentra, devendo isso ser urgente levado em consideração pelos gestores estaduais no intuito de darem suporte de efetivo e outros meios aos gestores locais, para poderem obter êxito no enfrentamento da violência letal intencional já tão endemizada naquele município.

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2. AÇÃO E INSTRUMENTAÇÃO DOS CRIMES As macrocausas da violência sofrem um processo de micro segmentação provocado pelo aumento de atores criminais na dinâmica do crime, destarte, paradigmas da ação criminosa se diversificam indelevelmente e subdividem as condutas violentas letais intencionais em vários tipos. No Rio Grande do Norte tratamos as mortes oriundas dos embates policiais, como Ações Típicas de Estado (termo utilizado pela primeira vez no Brasil pelo OBVIO) que é o detentor absoluto do monopólio do uso da violência, assim evitamos atribuir, mesmo que inadvertidamente, culpa ou dolo aos agentes encarregados de aplicar a lei, e meramente mensuramos essa violência para fins de estudos e orientação na adoção de políticas de controle.

Ação Letal As ações criminais, de acordo com seu tipo de ação letal empregado nas CVLIs, trazem informações que precisam ser tratados com maior consideração pelos entes governamentais. O Homicídio continua sua linha de crescimento (liderando em números absolutos), com um aumento de 28,92%. A Lesão Corporal Seguida de Morte com crescimento de 42,42%. A Ação Típica de Estado teve aumento de 25,00%,

Acerca da Ação Típica de Estado, no Rio Grande do Norte se percebe que ela aumenta pela falta de capacitação continuada e à medida que gradualmente o efetivo policial vai sendo reduzido, em decorrência de muitos anos sem novos ingressos e a aposentadorias e exonerações cada vez mais frequentes. As polícias trabalham com efetivo menor do que a demanda criminal que somente cresce, e foi aumentada inclusive pelas inúmeras fugas que ocorreram durante os anos 2015 e 2016, reduzido e quase minguado Pág. 21


diante da criminalidade. Essa desproporcionalidade entre as forças de segurança aumenta a suscetibilidade de policiais, provoca mais confrontos, e amplia a sensação de segurança.

Meio e/ou instrumento empregado Quanto ao meio ou instrumento empregado, as CVLIs do RN, continuamos a perceber significativo aumento na taxa de Armas Brancas, que foi de 47,46% em relação a 2016. A Arma de fogo, como sempre, é o meio preferido, mas seu crescimento foi menor, 29,23%, mas certamente voltarão a se destacar seguindo a dinâmica homicida dos padrões nacionais, majoritariamente praticados com revólveres e pistolas, na maioria de fabricação nacional ou caseiras. Importa perceber o elementar: cresce sempre o uso desse meio, com a facilitação de acesso à arma e sua vulgarização (e posse ilegal).

O uso de Objeto Contundente aumentou em 33,33%, sugerindo uma violência mais próxima e derivada das contendas e vias de fato. Nessa mesma linha vem o Espancamento com uma pequena redução de -6,67%. Outro que diminuiu foi a Asfixia Mecânica Provocada com -45,45%, e outras modalidades não classificadas reduziram 58,33%.

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3. PERFIS DAS VÍTIMAS Os três principais perfis das vítimas de CVLIs seguem, como esperado, o padrão nacional de vitimização, o que sugere que sem surpresas nesses seguimentos, está havendo falhas nas políticas públicas de segurança em estabelecer estratégias para suas reduções.

Gênero

Como esperado, CVLIs contra a população masculina aumentou em 26,34% e, contra a população feminina aumento de 52,63%. Sem variação vem as vítimas com gênero ignorado. Notemos que o súbito aumento em número de vítimas na população feminina corresponde a um salto de 38 CVLIs para 58 CVLIs.

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Etnia O perfil da vítima quantos às etnias também (e, infelizmente) segue o padrão nacional onde as etnias parda e negra juntas constituem maior parte das mortes por conduta violenta letal intencional.

A etnia negra apresentou o maior aumento: 63,64%, seguida pela parda que aumentou 8,73%. Lembramos que as etnias pardas e negras juntas representam 91,94% de todas as vítimas de CVLIs, servindo de alerta para as secretarias que trabalham com minorias suscetibilizadas pela violência. A etnia branca apresentou redução de 1,22%. E finalmente sem etnia obtida, apresentou uma redução acumulada de 50,00%, graças ao esforço dos pesquisadores do OBVIO em identificar as etnias de cada vítima.

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Faixa Etária A vitimização por faixa etária continua apontando para a jovens e adolescentes como mais suscetíveis, outro dado importante que poderia ser utilizado por pastas da gestão estadual que lidem diretamente com esse segmento.

Nesse mês de maio jovens entre 12 e 17 anos sofreram mais nesse morticínio, das 74 vítimas nesse período em 2016, houve um salto para 103 em 2017, significando um aumento de 39,19%. A juventude entre 18 e 24 anos também sofreu aumento, das 268 vítimas nesse período em 2016, elevou-se para 347 em 2017, representando um aumento de 29,48%. Ainda no segmento jovem, a faixa de 25 a 29 saiu de 129 em 2016 para 167 em 2017, ou seja, 29,46% de aumento. Houve aumento também nas faixas entre 30 a 34 (9,43%), e nas faixas entre 35 a 64 (9,90%). Somente houve redução nas faixas 0 a 11 (-100,0%) e 65 ou mais (-43,75%). A quantidade de vítimas cuja idade não foi identificada possui uma ênfase significativa neste quadrimestre. De 17 em 2016 subiu para 76 em 2017, uma elevação impressionante de 347,06%. Isso demonstra a falta de acesso adequado a dados públicos e da própria infraestrutura dos órgãos de perícia. De qualquer forma, os jovens compreendidos entre 0 e 29 anos de idade, perfazem um total de 59.90% de todas as pessoas assassinadas no estado elefante.

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4. TEMPORALIDADE CRIMINAL A variação de CVLIs mensal desse início de ano se mantem vertiginosa. Em 2016 maio registrou 179 CVLIs saltando para 211 CVLIs em 2017, significando 17,88% de aumento.

Variação Mensal

Período do dia

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PROPORCIONAL 2017 VARIAÇÃO POR PERÍODO DO DIA MANHA TARDE NOITE MADRUGADA

2017 39 50 83 39

% 18,48% 23,70% 39,34% 18,48%

PROPORCIONAL 2017 VARIAÇÃO POR DIA DA SEMANA SEG TER QUA QUI SEX SAB DOM

2017 19 42 32 23 23 38 34

% 9,00% 19,91% 15,17% 10,90% 10,90% 18,01% 16,11%

Os períodos de maior incidência de CVLIs continuam sendo as noites, e neste mês concentraram 39,34% dos eventos letais intencionais, isto é, quando um maior esforço ostensivo poderia ser direcionado para uma ação preventiva aos crimes em geral, o que inibiria outras ações, inclusive aquelas contra a vida.

Os dias da semana cada vez mais propícios para a criminalidade homicida são as terças-feiras com 19,91% de concentração e os sábados com 18,01%. Os domingos com 16,11% e as quartas-feiras com 15,17% são também dias acima da curva e merecem atenção. De fato, apenas três dias da semana estão abaixo da curva: as segundas, quintas e sextas.

Dia da semana

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Dia do mês

O quadro esboçado pelo gráfico acima, representa dados que podem ser usados para verificar quais dias do mês e da semana apresentam maior suscetibilidade para eventos homicidas no mês de maio. Foram observados três grandes picos de violência no mês de maio. A partir da média homicida diária girando em torno de 6,82 assassinatos por dia, os dias com 7 ou mais ocorrências estão acima da curva da violência diária, e, sendo maio um mês de 31 dias, em 16 deles a violência cotidiana esteve acima da curva. Vejamos:

3 dias com 9;

2 dias com 8, e;

3 dias com 7.

1 dia com 15 ocorrências;

2 dias com 13;

1 dia com 11;

4 dias com 10;

A gestão estadual precisa ser mais atenta na elaboração de mapas de distribuição de efetivo e se ater não somente a manchas criminais, mas à variação migratória destas, objetivando antecipar-se ao evento crime e tentar minorar, mesmo com pouco efetivo, o número de condutas violentas letais intencionais.

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5. RESUMO FINAL Como apontado no início desta análise e apresentação dos dados, além dos relatórios do ano de 2016, o RN vem apresentado crescimento contínuo e significativo em sua dinâmica de CVLIs, e neste quinto mês encerra o primeiro quadrimestre de 2017, com mostras da sequencialidade desse crescimento.

O crescimento vertiginoso das ocorrências nos feriados de abril, como pode ser visto no último final de semana prolongado do mês, que na verdade já se soma ao mês de maio, alavancou e acelerou a dinâmica do mês de abril, assim como os eventos em Alcaçuz haviam feito com o mês de janeiro. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes já alcançou 29,37 CVLIs em maio, e isso com apenas no quinto mês do ano corrente. Em termos absolutos, são 1.030 mortes por CVLIs até 31 de maio com aumento de 27,63%. Atualmente são 223 vidas perdidas a mais, comparando 2017 com 2016. São quase 7 homicídios por dia (média de 6,82). Números que infelizmente precisamos mostrar e alertar, e que foram devidamente auditados por uma equipe de 5 auditores individualmente, e seguem assinados por quem trabalha com isso há quase uma década. Este é nosso relatório. IVENIO HERMES E THADEU DE SOUSA BRANDÃO COORDENADORES DO OBVIO

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“A MORTE DE CADA SER HUMANO DIMINUI-ME, PORQUE SOU PARTE DA HUMANIDADE; EIS PORQUE, NUNCA PERGUNTO POR QUEM OS SINOS DOBRAM; ELES DOBRAM POR MIM.” JOHN DONNE *ADAPTAÇÃO LIVRE

PARA FREAR A VIOLÊNCIA HOMICIDA É NECESSÁRIO INICIALMENTE RECONHECER QUE A CADEIA DE SUSCETIBILIDADES NÃO ROMPE SOMENTE COM POLÍCIAS NAS RUAS.

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