MatchPoint Portugal Abril 2014

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SUMÁRIO

MatchPoint

MatchPoint n.º 10 | € 4.95

PORTUGAL OPEN BODAS DE PRATA

Portugal

Portugal

ARTIGOS   6 Bolas Curtas

ENTREVISTA CARlOS SAnChES TÉNIS E RELÓGIOS PORquE O Timing é imPORTAnTE

fb.com/matchpointportugal www.matchpointportugal.com

n.º 10

12 Portugal Open: 25 anos  56 Entrevista: Carlos Sanches  66 Ténis, Tempo e Relógios

OPINIÃO

Propriedade

Director

3 Editorial

Pedro Keul

11 Court & Costura

Redactores e colaboradores Hugo Ribeiro, Miguel Seabra, Jorge Cardoso, João Carlos Silva e José

SECÇÕES  78 Equipamento  79 Arbitragem  80 Medical Timeout  81 Bola na tela

Pedro Correia Fotografia Cynthia Lum (excepto indicação em contrário) Projecto gráfico e paginação Henriqueta Ramos Mobile / Webdesign

Contactos 96 3078672 info@matchpointportugal.com www.matchpointportugal.com matchpointportugal



EDITORIAL

25 anos ganhos ou perdidos?

Pedro Keul

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A história do Portugal Open confunde-se com a história do ténis mundial (e nacional). Basta percorrer os quadros das 25 edições para se acompanhar a evolução dos jogadores e jogadoras no circuito mundial ao longo de duas décadas e meia. Porque foram muito poucos os que, de entre os melhores, não sujaram as meias com o pó de tijolo do Jamor. E serão raros os torneios de dimensão igual que já viram por lá passar o trio que tem dominado o ténis nos últimos dez anos, Rafael Nadal, Novak Djokovic e Roger Federer. Desde a primeira edição que João Lagos montou o evento para dar a oportunidade aos adeptos de verem ao vivo, anualmente, os melhores do mundo. E, em 2000, trouxe os outros, que faziam parte da elite, mas que não tinham passado pelo Jamor, juntandoos num memorável Masters. Os adeptos não podem queixar-se! E os que têm possibilidade, podem retribuir visitando o Jamor. Muitos deles têm partilhado e vivido com João Lagos os seus sonhos, mas ainda faltam cumprir dois: verem um português erguer o troféu da Vista Alegre e a construção de um estádio definitivo com maior capacidade e condições. Iremos estar todos vivos para os ver concretizar? Irá estar o torneio vivo tempo suficiente para os ver concretizar? As dificuldades foram enormes para pôr de pé esta histórica edição. Um eventual desaparecimento faria com que o ténis português retrocedesse vários anos e deixaria de haver uma rampa de lançamento internacional para jogadores – ou árbitros, como nos conta Carlos Sanches, um dos mais reputados nomes do ATP World Tour. Mas antes de maus pensamentos, que tal uns construtivos: será que o ténis português tem aproveitado devidamente o impacto do Open em Portugal? Tenho (quase) a certeza que o ténis português só dará um salto no futuro se houver um pensamento estratégico global. Só que… nem sequer vejo alguém preocupado com isso.



BOLAS CURTAS O Lawn Tennis Em Portugal

Se é um amante de ténis não pode deixar de visitar a exposição Lawn Tennis Em Portugal, que está patente no Museu do Desporto, no Palácio Foz (Restauradores, Lisboa). Através do espólio de Norberto Santos, jornalista e historiador do ténis no nosso país, é possível acompanhar a evolução da modalidade desde finais do século XIX até fim dos anos 60, através de equipamentos (raquetas, bolas, prensas) e outros objetos associados a determinadas épocas (fotografias, folhetos turísticos, postais ilustrados, publicações, curiosidades e documentos vários). A inauguração contou com

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as presenças do secretário de Estado da Juventude e Desporto, Emídio Guerreiro, e do presidente do IPDJ, Augusto Baganha, dos presidentes da Federação Portuguesa de Ténis, Vasco Costa (actual), José Corrêa de Sampaio e Manuel Valle-Domingues, de quatro seleccionadores nacionais da Taça Davis, Pedro Cordeiro, José Carlos Santos Costa, João Lagos e Alfredo Vaz Pinto, do exseleccionador nacional da Fed Cup, António Cabral, e dos jogadores da Taça Davis, João Cunha e Silva, Marco Seruca, Manuel Sousa e Raúl Peralta, além do medalha de ouro

olímpico Carlos Lopes e da glória do futebol do Benfica, José Augusto. Emídio Guerreiro sintetizou a importância da exposição, ao afirmar que esta serva para “mostrar aos mais novos o outro lado do desporto” e “chamar os jovens para a prática do ténis”.

Will Ferrell perfeito para Bobby Riggs O comediante Will Ferrell foi a escolha acertada para fazer o papel de Bobby Riggs no filme Match Maker, que conta a história do célebre encontro de 1973, entre o ex-jogador e Billie Jean King, e que


Prize-money de Pine Cliffs ficou em CASA

ficou conhecido como a “Batalha dos Sexos”. O realizador Danny Boyle e o argumentista Simon Beaufoy encontraram-se com King em New York para discutir o projecto, mas as últimas notícias dão conta de que o argumento será escrito por Steve Conrad, autor da A Vida Secreta de Walter Mitty, com base no artigo da ESPN, do jornalista Don Van Natta Jr. Riggs ganhou por duas vezes no US Open (1939 e 1941) e em Wimbledon (1939, nas três variantes!) e aos 55 anos resolveu desafiar as melhores jogadoras da actualidade, primeiro Margaret Court e, mais tarde, King. Este último duelo foi um enorme êxito televisivo e a vitória da ex-número um mundial tornou-se numa bandeira na luta de igualdade dos direitos entre os sexos.

A final da 4.ª edição do Pine Cliffs Golf & Tennis Winners’ Cup, realizada na Academia de Ténis Annabel Croft, localizada no Pine Cliffs Resort (Albufeira), contou com 55 jogadores, um recorde de participações face aos anos anteriores. O vencedor na prova de ténis foi o holandês Paul Gerla, que recebeu como prémio uma semana no Marriott’s Marbella Beach Resort. Para além da competição, foi organizada uma angariação de fundos para a Associação CASA, através de um donativo de 1.080 euros, resultante da venda de rifas durante os dias do evento. Ao apoiarem a CASA, os participantes e visitantes do torneio habilitaram-se ainda a um dos 21 prémios em sorteio, como um fim-de-semana no Pine Cliffs Terraces, um exclusivo Saco de Golfe Profissional Mercedes-Benz ou duas aulas de ténis na Academia Annabel Croft. Houve igualmente várias atividades paralelas ao evento, de Fitness e bemestar, aulas de Zumba, Pilates e Personal Trainer ou uma demonstração de massagem do Experience Wellness at Pine Cliffs. A final do Pine Cliffs Winners’ Cup encerrou com um Jantar de Gala, seguido da cerimónia de prémios e da entrega do cheque à Associação CASA, com o valor total angariado nesse fim-de-semana. Neste jantar estiveram presentes, Pedro Cebola, da CASA, José Correia, Presidente da PGA Portugal, e João Infante, da Mercedes Starsul.

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BOLAS CURTAS Li Na em cheque

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A entrega de uma avultada verba a Li Na após a vitória no Open da Austrália criou uma grande polémica na China. O título em Melbourne, em Janeiro, veio acompanhado de um cheque de 1,7 milhões de euros, mas o governador da província de Hubei, de onde a tenista chinesa é originária, fez questão de entregar mais 96 mil euros. A razão deve-se à política do governo federal é que “toda a vitória desportiva é uma vitória política”, mesmo que o triunfo no Open da Austrália não tenha tido qualquer influência das autoridades chinesas, pois desde 2008 que Li Na saiu do “sistema” e criou a sua própria equipa privada. A imprensa local e muitos compatriotas de Li Na criticaram a entrega a uma tenista que já é milionária de dinheiros públicos em detrimento de outras necessidades da população. Aliás, nas fotos, a própria Li Na aparece com um ar um pouco embaraçado. Até porque, depois do título em 2009, o governo de Hubei já lhe tinha entregado um cheque de igual valor, que Li Na reendossou a um hospital local.

Sport Flow Seniors Cup sobe o nível

No ano a seguir à sua estreia, o Torneio de Ténis de Veteranos Sport Flow Senior Cup subiu um nível ITF. A prova foi a única na Europa a atingir uma nova posição nos últimos dois anos, passando do nível 5 para o 4, num ranking de dificuldade até 1. Outra novidade para a edição deste ano é que passam a ser quatro torneios

(Monsanto e CIF, Guimarães e outro local a anunciar), ao invés dos três realizados no ano passado. A edição 2014 engloba 21 categorias em prova, repartidas por singulares e pares masculinos e femininos e também pares mistos

Stefan e Delfino

Stefan Edberg passou mais uma vez por Portugal e Nuno Delfino foi quem aproveitou a oportunidade


para bater umas bolas e uma “chapa” para a posteridade. O treinador de Roger Federer tem um contrato com o Cascade Resort (http://www.cascadeacademy.com/pt/tennis#), onde tem um apartamento, e passa pelo Algarve três a quatro semanas por ano. Tal como Edberg, também Delfino tem apostado em alguns torneios internacionais de veteranos, como o Hungarian Indoor Championship, torneio ITF de grau II, realizada ao mesmo tempo que a eliminatória da Fed Cup, em que participou Portugal. O algarvio de 44 anos chegou à final de singulares – perdeu (6-4, 3-6 e 4-6) com o actual campeão europeu Fernando Granero (12.º mundial) e ganhou os pares mistos, com a ajuda de Isabelle Gemmel. Os objectivos de Delfino são o top 10 em singulares e top 5 em pares, mas as dificuldades monetárias e de conciliação com a vida profissional tornamnos bastante difíceis de concretizar.

Andy Murray volta a chorar “Vou ser breve porque sinto que vou ser ultrapassado

pela emoção”, começou por dizer Andy Murray, antes que as lágrimas lhe enchessem os olhos e a voz ficasse embargada. Aconteceu na cerimónia realizada em Stirling, em que o tenista escocês foi nomeado cidadão honorário da cidade de 40 mil habitantes, situada a cinco quilómetros de Dunblane, onde o tenista nasceu. Num dia bastante preenchido, Murray recebeu o doutoramento “honoris causa” da Universidade de Stirling, onde está situado o centro nacional de ténis escocês – onde Murray se treinou antes de emigrar para Espanha – e visitou o hotel Cromlix que comprou e restaurou. “Todos sabem como sou orgulhoso das minhas raízes, por isso, esta é uma grande honra. Sair daqui foi um dos sacrifícios que tive de fazer pelo meu trabalho e sempre que regresso aqui é muito emocionante… não chorei quando ganhei em Wimbledon”, disse o actual número oito do ranking – que, recorde-se, não evitou as lágrimas após perder a final de Wimbledon de 2012. Murray, que deverá retomar a competição no Masters 1000 de Madrid, adiantou

igualmente que quando reduzir a lista de potenciais treinadores a três, quatro nomes, irá começar a fazer telefonemas para avaliar da sua disponibilidade, o que deverá acontecer nos próximos dias.

Quinta da Moura repete sucesso de Setúbal

O complexo de ténis do Clube de Campo da Quinta da Moura, em Caxias, mudou de gerência e passou a ser administrado, desde o mês passado, pela dupla Emanuel Couto/ Cláudio Cufre, que tão bons resultados tem obtido na última década em Setúbal. A Quinta da Moura, que chegou a receber um torneio ITF feminino de 10 mil dólares em prémios monetários em 2008, na altura da gestão de Nuno Ralheta, conta com três hardcourts, um campo de relva sintética e dois recintos de padel. “O clube estava a trabalhar bem

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BOLAS CURTAS do ponto de vista técnico e nem fizemos alterações na equipa, mas notase que tem de ser mais conhecido. É preciso apostar mais na comunicação, no marketing, porque tem condições óptimas, um enquadramento natural bonito. Está mesmo junto à auto-estrada (A5 e CREL) e muita gente do ténis nem sabe onde é”, disse Cláudio Cufre. O argentino há muito radicado em Portugal estará mais presente e dividir-se-á entre Setúbal e Caxias, dado que Emanuel Couto está mais virado

para o acompanhamento dos jogadores de alta competição (um grupo de oito, em Setúbal), para além de ser seleccionador nacional masculino de sub18 e treinador de campo da selecção nacional da Taça Davis.

Ivone Álvaro com “sotáqui”

Poucos conhecem a número quatro portuguesa. Mas Ivone Álvaro surge na 741.ª do ranking WTA, logo atrás de Michelle Brito, Maria João Koehler e Bárbara Luz. A tenista de 17 anos,

radicada no Brasil há dois – o suficiente para já ter ganho sotaque – só ainda não foi convocada para a selecção da Fed Cup, devido ao apertado orçamento da federação, que impossibilita o pagamento das viagens. Mas para quem quiser conhecê-la melhor, poderá visionar o trabalho realizado pela RTP. http://www.rtp.pt/play/ p1455/e143789/brasilcontacto-2014

Pedras da Rainha entra no calendário ITF

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O Pedras Tennis Academy and Beach Club veio para ficar no calendário da Federação Internacional de Ténis (ITF). Depois do sucesso que foi o 1st ITF VETERANOS PEDRAS DA RAINHA/PT GOLF”, está já agendado outro torneio para Outubro. Esta primeira prova organizada pelo clube de ténis das Pedras da Rainha (Cabanas de Tavira) recebeu dezenas de tenistas de diversos países (Portugal, Espanha, Itália, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Irão etc.) que competiram nos escalões +40, +50, e +60, em singulares e pares masculinos e femininos. No escalão de +40, o vencedor foi o nigeriano residente em Portugal, Emmanuel Egbaema, após uma final em que venceu o espanhol Pedrola Maroto, por 6-1, 6-0. No derradeiro encontro do escalão +50, o inglês Myles Collett levou a melhor sobre o compatriota, Mark Briscoe, por 6-3, 6-3. Já no escalão +60, ganhou o dinamarquês Claus Pedersen, após vencer o holandes Mark Van Dalen, com um duplo 6-4. Em pares +35, o triunfo foi para a dupla Emmanuel Egbaema/Reza Sherife, enquanto no escalão +55, venceu a dupla Collett/McKeown.


Court & Costura

Transformar em Boa Esperança O Cabo das Tormentas 1 – Trabalhei com cinco seleccionadores nacionais masculinos em funções: José Carlos Santos Costa, José Vilela, João Maio, Pedro Cordeiro e Nuno Marques. Vilela, Maio e Cordeiro iniciaram os mandatos com vitórias. Santos Costa e Marques com derrotas. Mas tal como o actual secretário-geral da Federação Portuguesa de Ténis (FPT) acabou por ter bons resultados (para a época), acredito que Marques (bem coadjuvado por Emanuel Couto) irá dar-nos grandes alegrias no posto. Todos esperávamos uma vitória na Eslovénia, para mais enfraquecida, mas no ténis nunca é como se começa, é como se acaba. 2 – As Assembleias Gerais e as reuniões/fóruns das associações regionais não têm sido fáceis para a Direcção da FPT. Como alguns sabem, sou membro da Direcção da Associação de Ténis de Lisboa e estou por dentro de algumas questões que não devo trazer a público porque não me cabe fazê-lo. Mas considero que Vasco Costa e a sua equipa têm revelado coragem e surpreendente diplomacia. Mesmo quando não concordo com algumas decisões, noto vontade em progredir e dedicação à causa. 3 – Falando em coragem, estou espantado como João Lagos organizou a 25ª edição do Open. É óbvio que fico feliz, mas há muito que teria vendido o torneio. Temo que a crise afaste o público, que isso fira as receitas e perigue uma 26.ª celebração. Sem patrocínios de peso (depois de anos a daremlhe palmadinhas, os grandes empresários parecem ter-lhe virado as costas) e sem investimento público à excepção da Câmara Municipal de Oeiras, como sobreviver se o povo não (puder) aderir?

Hugo Ribeiro

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PORTUGAL OPEN

A encantar os adeptos

desde 1990 “Os maiores especialistas da terra batida, num dos melhores torneios de terra batida do mundo”. O lema vem desde a edição inaugural e, ao longo das 25 edições, o maior torneio português nunca desiludiu. Pedro Keul

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Apesar de a candidatura do torneio ao calendário principal ter sido feita ainda em 1988, o Portugal Open não é tão antigo como o azeite Gallo, mas nem por isso deixa de ser uma marca de prestígio, cem por cento portuguesa e sempre a deixar água na boa daqueles que gostam de saborear bom ténis. Pelo Portugal Open, já passaram números um do ranking, campeões do Grand Slam – como jogadores ou treinadores como Franco Davin (Juan Martin del Potro) ou Marian Vajda (Novak Djokovic) – ou jovens em ascensão. Uma mescla de tenistas de todas as idades e feitios para todos os gostos, tem provocado uma romaria anual ao Jamor de adeptos. São deles que falamos, nesta resenha das 24 edições já realizadas do Portugal Open.


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PORTUGAL OPEN 1990

(31 de Março a 8 de Abril) Prize-money: 250 mil dólares Final de singulares: E. Sanchez-F. Davin, 6-3, 6-1 Final de pares: E. Sanchez/S. Casal-O. Camporese/P. Cane, 7-5, 4-6, 7-5

O logo do torneio, criado por Maluda 14

Realizado na primeira semana de Abril, o Estoril Open abriu a época europeia de terra batida, com aos apoios institucionais (Federação portuguesa de Ténis, Câmara Municipal de Oeiras, Ministério da Educação e Ministério da Juventude) e de duas grandes empresas nacionais (TLP e BESCL). O norte-americano Jay Berger foi o único top 10 presente, mas, no final desse ano, três participantes do Estoril Open qualificaram-se para o Masters (então denominado Campeonato do Mundo do ATP Tour): Andres Gomez, Emilio Sanchez e Thomas Muster. O último com entrada directa foi o holandês Mark Koevermans, então 104.º mundial – 37 lugares acima da média dos cut-off dos torneios World Series desse ano e apenas cinco abaixo da média dos cut-off da categoria acima, os Championship Series. A chuva, inclemente, colocou à prova a organização, tornou ainda mais lentos os courts do Jamor – provocando dificuldades acrescidas aos que vinham dos pisos rápidos – e arrastou na corrente alguns favoritos: Martina Jaite (cabeça de série n.º2), Andres Gomez (n.º4), Jaime Yzaga (n.º6) e Guillermo Perez-Roldan (n.º7) foram logo eliminados na ronda inaugural. Sergio Bruguera (n.º3) ficou-se pela segunda ronda, enquanto Jay Berger (n.º1) e Thomas Muster (n.º5) chegaram aos quartos-de-final. O único sobrevivente foi Emilio Sanchez (n.º3) que juntou-se aos compatriotas Jordi Arrese e Juan Aguilera e ao argentino Franco Davin nas meias-finais. A vitória na final, rendeu a Sanchez 32 mil dólares e a entrada no top 10 do ranking mundial. “Fui o primeiro vencedor da prova e isso enche-me de orgulho. Recordo-me de aquela temporada, em geral, foi muito boa para mim porque me apurei para o Masters. A sensação que tive foi muito boa, houve excelentes encontros e tenho recordações muito gratas”, disse Sanchez, que venceu ainda em pares, ao lado de Sergio Casal, um dos sete títulos conquistados nessa época pela dupla espanhola. Nuno Marques e João Cunha e Silva foram os representantes portugueses. Marques perdeu na ronda inicial com Paolo Cane (6-4, 6-3) enquanto Cunha e Silva teve o azar de defrontar Berger (6-1,


6-3). Nos pares, as duplas Marques/Bruguera e Cunha e Silva/J-P. Fleurian foram igualmente eliminados no primeiro encontro.

1991

(30 de Março a 7 de Abril) Prize-money: 375 mil dólares Final de singulares: S. Bruguera-K. Novacek, 7-6(7), 6-1 Final de pares: P. Haarhuis/M. Koevermans-T. Nijssen/C. Suk, 6-3, 6-3

Uma imagem da Nossa Senhora de Fátima no court central foi uma das novidades da segunda edição. Coincidência ou não, o sol foi presença constante e ajudou a promover Portugal, graças em grande parte ao canal Eurosport, que subiu neste ano para as 35 horas de transmissões, ao longo da semana. Inscreveram-se 13 dos 30 primeiros do ranking e 23 dos 28 vencedores de torneios em terra batida no ano anterior. O quadro fechou no 75.º lugar e foi encimado por um vencedor de torneios do Grand Slam: Andres Gomez, campeão no ano anterior em Roland Garros, aos 30 anos. Infelizmente, Thomas Muster, Franco Davin e Guillermo PerezRoldan foram obrigados a desistir antes de o torneio começar. Gomez, Emilio Sanchez, Andrei Cherkasov, Marc Rosset e Juan Aguilera foram eliminados de entrada. Nuno Marques, então 100.º do ranking, teve de defrontar logo o compatriota Emanuel Couto, de 17 anos. Apesar da vitória (6-2, 3-6 e 6-1), Marques ameaçou não regressar ao Jamor duas semanas depois para a Taça Davis, devido ao mau comportamento de alguns adeptos. Mas recuperou a motivação na segunda ronda, frente ao eslovaco Marian Vajda (70.º). Pena foi a chuva que interrompeu o encontro depois de o português ter ganho o set inicial, quebrandolhe o ímpeto e ajudando o mais experiente adversário a vencer (4-6, 7-5, 6-3). João Cunha e Silva (112.º) foi traído pelo físico após uma viagem intercontinental, mas ainda deu boa réplica ao australiano Richard Fromberg (32.º) antes de abandonar (6-4, 4-6, 2-1). Vajda chegaria às meias-finais, com Sergio Bruguera, Karel Novacek

Andres Gomez, campeão no ano anterior em Roland Garros, aos 30 anos.

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PORTUGAL OPEN e o grande favorito Andrei Chesnokov, vencedor em Monte Carlo e semifinalista em Roland Garros no ano anterior. Mas Bruguera revelou, aos 20 anos, o seu talento, derrotou Chesnokov nas meias-finais e, no dia seguinte, conquistou, diante do checo Novacek, o primeiro de 14 títulos, dos quais se destacam os dois obtidos em Roland Garros (1993 e 1994). “Como me poderia esquecer se foi o primeiro torneio do ATP Tour que ganhei na minha vida? Nesse ano, ganhei também em Monte Carlo e Atenas mas o Estoril Open ficará para sempre gravado na minha memória. Tenho o troféu e as fotos desse ano num sítio muito especial e ás vezes olho para elas com muito carinho”, admitiu Bruguera, premiado com 48,6 mil dólares. Em pares, Marques fez equipa com Cunha e Silva, tendo sido derrotados (7-5, 7-5) na estreia, frente aos norte-americanos Charles Beckman/Shelby Cannon. O português mais em foco foi o árbitro Jorge Dias, que dirigiu a final.

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Pedro Sousa estreou-se no Open em 2007


1992 (28 de Março a 5 de Abril) Prize-money: 502,500 mil dólares Final de singulares: C. Costa-S. Bruguera, 4-6, 6-2, 6-2 Final de pares: H. Davids/L. Pimek-L. Jensen/L. Warder, 3-6, 6-3, 7-5

Ivan Lendl foi o primeiro tenista que passou pela liderança do ranking a visitar o torneio português. Mas o seu estatuto de campeão de 91 torneios (incluindo oito do Grand Slam e cinco Masters) foi subjugado pela “armada” espanhola que confirmou o seu domínio nos courts de terra batida ao preencherem os lugares de semifinalistas. Lendl, Emilio Sanchez e Karel Novacek formaram o trio do top 10 que brilhavam no quadro dotado com mais de meio milhão de dólares. Mas o regresso de Lendl à terra batida após dois anos de ausência – no ano anterior, optara por passar a Primavera a treinar-se em relva com vista ao título de Wimbledon, o que não aconteceu – foi interrompido nos quartos-de-final, quando perdeu (6-3, 3-6, 7-5) com Jordi Arrese, medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Barcelona meses depois. Jogou ainda em pares, ao lado de Nuno Marques, mas também aí foi dominado (6-2, 2-6, 7-6) por espanhóis: Francisco Clavet e Carlos Costa. Seria este Costa, que chegou ao Jamor como 56.º do ranking e campeão júnior de Espanha em 1986, a tornar-se na grande estrela do torneio. Nas meias-finais derrotou Sanchez depois de salvar dois match-points. “A única mágoa que tenho do Jamor foi quando joguei as meias-finais com o Carlos Costa; estava a ganhar por 5-2 e 30/15 no último set e ele fez um lob meio batido com a armação da raqueta e a bola caiu em cima da linha, acabando posteriormente por ganhar o encontro e o torneio. Depois, ganhou o Conde Godó, em Barcelona – o Estoril Open deu-lhe sorte”, diria Sanchez. No derradeiro encontro, Costa o outro antigo campeão do Estoril Open, Sergi Bruguera, que deixou Portugal com uma imagem negativa, pelo mau comportamento no court e por ter quebrado o troféu de finalista no balneário. “Esse ano de 1992 foi espectacular, mas nessa altura jogava quase sem me aperceber do que fazia. E aquela edição do Estoril open foi impressionante… lembro-me mais mais desse torneio do que o Godó de Barcelona que ganhei logo de seguida. Desde então nunca falhei uma edição. E, até ao fim, foi se jogasse em minha própria casa”,

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PORTUGAL OPEN assegurou Costa, que semanas depois entraria no top 10. João Cunha e Silva foi o primeiro português a atingir os quartosde-final, derrotado (6-2, 6-1) por Bruguera, depois de eliminar o compatriota Bernardo Mota (apurado do qualifying) e o austríaco Horst Skoff e assinar um serviço a 181 km/h, registado pelo radar que se estreou no court central. Os outros portugueses, Nuno Marques e Emanuel Couto, perderam na ronda inaugural frente a, respectivamente, Novacek e Andres Gomez. A chuva voltou a colocar a organização á prova e a resposta foi de tal forma positiva que o torneio se tornou membro definitivo do ATP Tour, um ano antes de concluído o período de observação. E a final teve a presença do primeiro-ministro, Aníbal Cavaco Silva.

1993 (27 de Março a 4 de Abril) Prize-money: 525 mil dólares Final de singulares: A. Medvedev-K. Novacek, 6-4, 6-2 Final de pares: D. Adams/A. Olhovskiy-M. Oosting/U. Riglewski, 6-3, 7-5

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A afirmação internacional do Estoril Open mereceu que o ATP Tour nomeasse um juiz-árbitro português, António Flores Marques, e três dos cinco árbitros de cadeira: Jorge Dias, Carlos Ramos e Carlos Sanches (que dirigiu as duas finais). O habitual domínio espanhol foi desta vez contrariado pela “armada” sueca que colocou três representantes nos “quartos” (Jonas Svensson, Magnus Larsson e Magnus Gustafsson) contra dois vindos de Espanha (Emilio Sanchez e Sergi Bruguera). Svensson eliminou (6-3, 6-4) o cabeça de série n.º1, Ivan Lendl que, aos 33 anos, acusou a paragem de quatro semanas devido à lesão nas costas que viria a encerrar a sua carreira um ano depois. A estrela acabou ser o ucraniano Andrei Medvedev, de 18 anos e 22.º do ranking. Do alto do seu 1,94m, dizimou grande parte da “armada” espanhol: Alberto Berasategui, Francisco Roig (a quem anulou três match-points), Emilio Sanchez e Bruguera (campeão de Roland Garros dois meses mais tarde). Foi nesse duelo com Bruguera, disputado no Centralito, que o público luso o adoptou de vez e o apoiou, de forma decisiva até o título, o quarto da sua carreira. “Foi muito bom, O torneio é muito


agradável e foi incrível como as pessoas me apoiaram. Uma boa percentagem da minha vitória deve-se ao público. Não foi por ter uma personalidade agradável e por ser bonito que me apoiaram, mas porque era novo e lutador”, garantiu Medvedev (“Urso” em russo) que, no ano seguinte, chegaria ao quarto lugar do ranking e, em 1999, atingiria a final de Roland Garros – oito anos depois de aí ter ganho o título júnior. A presença portuguesa no quadro individual não passou da primeira ronda. Nuno Marques perder com o argentino Gabriel Markus, Bernardo Mota com Tomas Carbonell e João Cunha e Silva com o também espanhol Francisco Roig. Mota foi o escolhido por João Lagos para emparceirar com Lendl mas ficaram-se pela ronda inicial, tal como a dupla Marques/Cunha e Silva, derrotados pelos futuros campeões.

1994

Neuza Silva foi a primeira portuguesa a passar uma ronda no quadro final

(26 de Março a 3 de Abril) Prize-money: 525 mil dólares Final de singulares: C. Costa-A. Medvedev, 4-6, 7-5, 6-4 Final de pares: C. Brandi/F. Mordegan-R. Krajicek/M.Oosting, v.f.c.

Foi uma Semana Santa a que se viveu no Jamor, o que possibilitou que muitos adeptos espanhóis rumassem ao nosso torneio e passassem a Páscoa a apoiar os seus compatriotas. Seis deles não os desiludiram e atingiram os quartos-de-final: Carlos Costa, Albert Costa, Emilio Sanchez, Javier Sanchez, Sergi Bruguera e Alberto Berasategui. Bruguera, que meses mais tarde iria renovar o título em Roland Garros, parecia ter reconquistado o público portugu~es mas desistiu frente a Albert Costa quando perdia por 6-2, 4-3. As imagens televisivas mostraram o pai, Luis, a apontar para o ombro direito como que a indicar qual a desculpa que o filho deveria dar para deixar o court. João Lagos condenou o comportamento do tenista e exigiu uma investigação ao Supervisor da ATP. As relações entre Lagos e Bruguera ficaram cortadas e o tenista nunca mais regressou ao torneio. Outro caso surgiu depois de Javier Sanchez derrotar (6-2, 6-2) o irmão mais velho, após nove derrotas consecutivas: o Sanchez mais novo deu a entender que era obrigado a perder com Emilio, devido a ordens do treinador de ambos, Pato Alvarez.

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PORTUGAL OPEN Andrei Medvedev veio defender o título, mas a maior alegria foi poder voltar a competir após uma paragem de três meses, devido a uma operação ao joelho direito. Mesmo assim, chegou á final onde esteve a vencer Carlos Costa, por 6-4, 5-2, antes de ceder ao fim de duas horas e 23 minutos. “Recordo bem a final de 1994. Estava a perder e o Andrei Medvedev tinha dois match-points. Olhei então para a bancada e reparei que a organização do torneio começava a preparar a cerimónia de entrega de prémios. E disse para mim mesmo: ‘não, esperem um pouco que ainda estou vivo’. Foi uma grande reacção que me sacudiu de cima a baixo e que me fez dar a volta a um encontro que parecia totalmente perdido. Foi muito importante para mim ter ganho porque recuperei a confiança. Quando ganhei, dois anos antes, tudo me corria bem e quase jogava de olhos fechados, mas hoje aprendi que que, ás vezes, é preciso sofrer para ganhar e isso tornou-me mais forte e mais experiente”, revelou Costa, o primeiro bicampeão do Estoril Open.

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A “armada” portuguesa chegou ao Jamor altamente moralizada após uma vitória (4-1) histórica na Taça Davis, no fim-de-semana anterior, no Porto, sobre a Grã-Bretanha. Nuno Marques, João Cunha e Silva, Emanuel Couto e Bernardo Mota foram até alvo de uma homenagem por parte de João Lagos. Embalado com as exibições no Lawn Ténis Clube da Foz, Couto passou, pela primeira vez, uma eliminatória, ao bater (7-5, 6-1) o checo David Rikl, 57.º do ranking, quase 300 lugares à frente do português, antes de ser eliminado por Albert Costa (6-1, 6-2). Marques também cedeu (6-2, 7-6) diante de um checo, Slava Dosedel (66.º) e Cunha e Silva teve o azar de defrontar o campeão em título, Medevedev, a quem deu boa réplica (6-3, 7-5). Mas em pares, Couto e Mota ficaram a um set de conquistar o título, sem sequer terem atingido a final. Quando defrontavam os italianos Federico Mordegan e Christian Brandi a chuva adiou para o dia seguinte o terceiro e decisivo set. Quando reentraram no court no dia seguinte, todos já sabiam que a outra dupla finalista tinha desistido devido à lesão de Richard Krajicek, parceiro do também holandês Menno Oosting. Apesar o apoio incondicional de três mil compatriotas, o par português acusou a importância desse set, como o próprio Couto viria a confirmar: “Se calhar, o facto de saber que esta terceira partida valia o título afectou-nos mais do que deveria.”

1995 (1 a 9 de Abril) Prize-money: 550 mil dólares Final de singulares: T. Muster/A. Costa, 6-4, 6-2 Final de pares: Y. Kafelnikov/A. Olhovskiy-M.-K. Goellner/D. Nargiso, 5-7, 7-5, 6-2

Esta foi uma edição de surpresas. A primeira foi a derrota (6-4, 2-6, 7-6) prematura do bicampeão Carlos Costa às mãos do norteamericano Bryan Shelton. Depois, a desilusão da prestação do cotado Henri Leconte, contemplado com um wild-card, em detrimento de João Cunha e Silva – que nem sequer compareceu no evento. O francês foi afastado (6-1, 7-5) logo de entrada pelo italiano Andrea Gaudenzi. Por fim, a tão agradável quanto surpreendente presença de Nuno Marques nos quartos-de-final.

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PORTUGAL OPEN

Nuno Marques, o primeiro quarto-finalista luso

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Logo de entrada, Marques eliminou (6-4, 7-6) Alberto Berasategui, chegado ao Jamor com o estatuto de sétimo do ranking e de finalista do torneio de Roland Garros no ano anterior, em que coleccionou sete títulos (só Pete Sampras venceu tantos em 1994). Na segunda ronda, o estilo atacante e espectacular do tenista portuense vitimou outro espanhol, Francisco Clavet, em três sets (5-7, 6-3, 6-3). E nos quartos-de-final, só a maior experiência de Emilio Sanchez lhe permitiu sair vencedor (4-6, 6-4, 6-3) do court central, cheio de adeptos portugueses rendidos à qualidade do ténis exibido pelo compatriota. Imparável esteve Thomas Muster que fez jus à sua alcunha de “Ogre de Leibnitz” arrasando quatro espanhóis e um argentino até erguer o troféu da Vista Alegre, cedendo pelo caminho somente um set – nos “quartos”, frente a Javier Sanchez. Foi o segundo de 12 torneios conquistados pelo austríaco nesse ano, cujo ponto alto foi o triunfo em Roland Garros. “Foi o ponto de partida para a minha melhor época de sempre. Vai ser difícil alguém conseguir igualá-la, mas desejava que, um dia, um jovem austríaco viesse ao Estoril Open e aos outros eventos e dissesse: ‘se ele ganhou estes torneios, eu também posso fazê-lo’ e que mais tarde esse jogador visse a ser ainda melhor jogador do que eu alguma vez fui”, afirmou Muster. Nos pares, também surpreendeu a presença de Yevgeny Kafelnikov, número seis do ranking, que preferiu jogar apenas esta variante para iniciar a época de terra batida. Inédita foi também a entrada no court da mediática dupla formada pelos irmãos Luke e Murphy Jensen ao envergarem as camisolas do Sporting e do FC Porto. Nessa edição, até o popular professor catedrático Marcelo Rebelo Sousa surpreendeu os seus alunos ao convocá-los para uma aula… em pleno court central. A última surpresa foi que, contrariando a tradição, não caiu uma gota de água no Jamor durante toda a semana.


1996 (6 a 14 de Abril) Prize-money: 600 mil dólares Final de singulares: T. Muster/A. Gaudenzi, 7-6(4), 6-4 Final de pares: T. Carbonell/F. Roig-T. Nijssen/G. Van Emburgh, 6-3, 6-2

Thomas Muster regressou ao Jamor não só como campeão em título, mas também como número um do ranking. Esse acontecimento inédito e a prestação de Nuno Marques no ano anterior contribuíram para uma afluência recorde de 29 mil espectadores durante a semana. A vitória sobre o checo David Rikl na ronda inaugural foi a primeira de Muster na condição de líder do ranking, posição a que chegou em 12 de Fevereiro. Sentindo-se em casa graças ao apoio do público luso (“Mesmo não sendo português, às vezes vocês fazem-me sentir como tal”), o austríaco foi eliminando a concorrência, incluindo, na final, Andrea Gaudenzi, com quem dividia o treinador, Ronnie Leitgeb. “Foi nesse Estoril Open que recuperei a vontade de ganhar e com a confiança que a vitória me deu, ganhei todos os outros grandes torneios de terra batida que havia ganho em 1995, com excepção de Roland Garros”, recordou Muster. Desta vez, Nuno Marques (tal como João Cunha e Silva) não passou da primeira eliminatória. Melhor fez Bernardo Mota que venceu (6-7, 6-1, 6-1) o romeno Adrian Voinea, classificado no 37.º posto, mais de 300 lugares à frente do português. Mas Carlos Costa (28.º) mostrou-se demasiado forte e venceu em dois sets (6-2, 7-5).

1997 (5 a 13 de Abril) Prize-money: 625 mil dólares Final de singulares: A. Corretja-F. Clavet, 6-3, 7-5 Final de pares: G. Kuerten/F. Meligeni-A. Gaudenzi-F. Messori, 6-2, 6-2

Pela primeira vez, o Estoril Open contou com a presença de três top 10: Yevgeny Kafelnikov, Wayne Ferreira e Carlos Moya. Kafelnikov (4.º), campeão em título de Roland Garros, perdeu pelo segundo ano consecutivo no encontro de estreia, tendo a desculpa de estar a retomar a competição após três meses de paragem, devido a uma lesão na mão. Ferreira (10.º) só conseguiu ganhar um set ao qualifier argentino

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PORTUGAL OPEN Francisco Cabello, classificado 450 lugares atrás no ranking mundial, o que foi justificado por ter tido um dia e meio para adaptar-se à terra batida, depois de uma eliminatória da Taça Davis em carpete. Moya (8.º) veio com a confiança em baixo, pois fez parte da selecção de Espanha que perdeu na Taça Davis com a Itália, no fim de semana anterior. Mesmo assim, ainda chegou aos quartos-de-final, onde foi travado (6-1, 6-3) pelo compatriota Francisco Clavet – que antes eliminara Gustavo Kuerten, campeão de Roland Garros, dois meses depois. Melhor que Clavet só Alex Corretja que o dominou na final, pondo fim a uma série de cinco derrotas em finais. E tal como muitos antecessores seus no palmarés do torneio, Corretja entrou no top 10, cinco semanas mais tarde. “Foi muito importante porque estava já há três anos sem conquistar um título e a vitória deu-me asas. É um torneio muito agradável e cómodo. Só tem um inconveniente: quando se ganha o torneio, custa voltar no ano seguinte porque o calendário de terra batida está muito carregado e, ás vezes, é necessário sacrificar algum”, explicou Corretja. Nuno Marques voltou a passar uma ronda, ao contrário de Bernardo Mota e Bruno Fragoso, os outros contemplados com “wild-cards”. João Cunha e Silva e Vasco Gonçalves perderam na derradeira ronda do “qualifying”. Em pares, Marques/Cunha e Silva, vitoriosos no ATP Tour de Casablanca duas semanas antes, estiveram perto das meias-finais, mas desperdiçaram a vantagem de 7-5, 5-0 e um match-point diante dos brasileiros Gustavo Kuerten e Fernando Meligeni, futuros campeão da variante.

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1998 (4 a 12 de Abril) Masculino Prize-money: 600 mil dólares Final de singulares: A. Berasategui-T. Muster, 3-6, 6-1, 6-3 Final de pares: D. Johnson/F. Montana-D. Roditi/F. Wibier, 6-1, 2-6, 6-1 Feminino Prize-money: 75 mil dólares Final de singulares: B. Schwartz-R. Sandu, 6-2, 6-3 Final de pares: C. Dhenin/E. Loît-R. Bobkova/C. Schneider, 6-2, 6-3


Antecipando a tendência de juntar torneios do ATP Tour com os do WTA Tour, João Lagos apresentou igualmente uma competição feminina, cumprindo um sonho antigo, graças ao apoio do patrocinador TMN, tornando-se somente no sexto torneio misto (fora os quatro do Grand Slam). A grande estrela do torneio masculino foi Thomas Muster que procurava um inédito terceiro título entre nós. Depois de bons resultados em pisos rápidos, o austríaco foi perdendo a hegemonia na terra batida e chegou ao torneio como 30.º do ranking. Os courts do Jamor pareciam dar-lhe sorte ao chegar á final, deixando pelo caminho Dinu Pescariu, Fernando Meligeni, Albert Costa e Karim Alami. Mas no derradeiro encontro, Muster deparou-se com um adversário mais consistente e mais jovens nas pernas, Albert Berasategui, cuja “direita” pouco ortodoxa fez miséria ao longo da semana, eliminando sucessivamente Quino Muñoz, Filip Dewulf, Juan Antonio Marin e Carlos Moya. “No início, vamos conhecer o torneio, mas depois gostamos tanto dele que o queremos ganhar. Estava muito rodado e não perdia uma bola”, disse Berasategui, que, nas semanas seguintes, chegaria ainda à final de Barcelona e meias-finais de Monte Carlo. A primeira edição feminina, ainda da categoria challenger, foi ganha por Barbara Schwartz, estudante liceal, que não cedeu um único set. O título levou a austríaca a apostar numa carreira profissional no circuito e, no ano seguinte, eliminou Venus Williams em Roland Garros. “Nunca pensei que podia ganhar. Saí de Portugal ainda mais motivada e apostada em cumprir o meu objectivo: entrar no top 50. Mas antes acabei o liceu”, contou Schwartz. Os cinco portugueses presentes com wild-cards nas provas individuais (Nuno Marques, Bernardo Mota, Sofia Prazeres, Ana Nogueira e Márcia Gaspar) não ganharam qualquer set. Nos pares, a “armada” portuguesa esteve melhor. Marques e João Cunha e Silva chegaram às meias-finais, após eliminarem os compatriotas Mota/ Emanuel Couto, mas ficaram a dois pontos da final, no duelo ganho (3-6, 6-3 e 7-6) pelo mexicano David Roditi e o holandês Fernon Wibier.

A primeira edição feminina foi ganha por Barbara Schwartz

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PORTUGAL OPEN 1999 (3 a 11 de Abril) Masculino Prize-money: 600 mil dólares Final de singulares: A. Costa-T. Martin, 7-6(4), 2-6, 6-3 Final de pares: T. Carbonell/D. Johnson-J. Novak/D. Rikl, 6-3, 2-6, 6-1 Feminino Prize-money: 142,500 mil dólares Final de singulares: K. Srebotnik-R. Kuti-Kis, 6-3, 6-1 Final de pares: A. Ortuno/C. Torrens Valero-A.-M. Foldenyi/R. Kuti-Kis, 7-6, 3-6, 6-3

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O décimo aniversário do Estoril Open foi comemorado sob excelentes condições meteorológicas e sendo um dos dez eventos em todo o mundo a realizar simultaneamente torneios do ATP Tour e do WTA Tour. O prestígio do torneio trouxe até nós três jogadores que já tinham ocupado o primeiro lugar do ranking: Marcelo Rios, Yevgeny Kafelnikov e Thomas Muster. Além desse trio, todos os campeões dos últimos sete anos, com destaque para Gustavo Kuerten (campeão em Roland Garros dois anos antes), além de Todd Martin (8.º do ranking). No torneio feminino, a cabeça de cartaz era Anke Huber, ex-número quatro mundial. Razões de sobra para que se batessem os recordes de afluências diárias, totalizando no final da semana 41.580 entradas. No aspecto desportivo, Kafelnikov voltou a desiludir, sendo derrotado na ronda inicial pela quarta vez em outras tantas presenças. Os bicampeões Muster e Costa imitaram-no, deixando adivinhar as reformas iminentes. O norte-americano Martin criou adeptos entre os fãs pela simpatia e na comunicação social, pela inteligência das suas análises. E surpreendeu sobre o pó de tijolo, pois o seu currículo era feito maioritariamente de resultados em pisos rápidos. Mas ao eliminar Alberto Berasategui, Nuno Marques e Marcelo Rios, o finalista do Open da Austrália de 1994 mereceu estar na final, onde deu excelente réplica a Albert Costa, um especialista da terra batida e que já tinha sido finalista em 1995. “É lógico que ganhem lá tantos espanhóis porque as características nos favorecem. Recordarei sempre a vitória no Estoril Open porque foi no mesmo local em que me sagrei campeão


europeu de juniores”, explicou Costa. Nuno Marques, o único a disputar as 10 edições do Estoril Open, ainda passou uma ronda, mas a aposta de João Lagos em Pedro Leão, de 16 anos, saiu-lhe mal e o jovem tenista só ganhou dois jogos a Albert Portas. No torneio feminino, a surpresa foi protagonizada pela eslovena de 18 anos e antiga número um mundial de juniores, Katarina Srebotnik, que venceu o primeiro torneio que disputou no WTA Tour – um feito só então conseguido por Tracy Austin, Mirjana Lucic e Petra Langrova. Meses depois, Srebotnik ganhava a prova de pares mistos de Roland Garros.

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PORTUGAL OPEN 2000 (8 a 16 de Abril) Masculino Prize-money: 600 mil dólares Final de singulares: C. Moya-F. Clavet, 6-3, 6-2 Final de pares: D. Johnson/P. Norval-D. Adams/J. Eagle, 6-4, 7-5

Carlos Moya não evitou as lágrimas após o triunfo

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Feminino Prize-money: 140 mil dólares Final de singulares: A. Huber-N. Dechy, 6-2, 1-6, 7-5 Final de pares: T. Krizan/K. Srebotnik-A. Hopmans/C. Torrens Valero, 6-0, 7-6(9)

Uma edição marcada pela muita chuva mas igualmente pela “chuva” de top 10: quatro! Yevgeny Kafelnikov (3.º) esteve perto de quebrar a “maldição”, mas não aproveitou os três match-points no encontro de estreia diante de Francisco Clavet; Magnus Norman (5.º) ultrapassou a ronda inicial, mas não Carlos Moyà; Tim Henman (10.º) ainda chegou aos quartos-de-final antes de esbarrar na solidez de Andrei Medvedev; o melhor das “estrelas” seria Nicolas Lapentti (7.º), ao chegar às meias-finais, onde foi travado por Clavet. Seria outra estrela, Moyà, ultimamente mais apagado por lesões e uma intervenção cirúrgica nas costas a sair do torneio com o troféu de vencedor. Convidado de última hora, o tenista de Palma de Maiorca reencontrou no Jamor o seu melhor ténis e as lágrimas que verteu terminaram com o deserto


que atravessou e no qual chegou a ponderar terminar a carreira. Os outros wild-cards, Nuno Marques e Bernardo Mota, cederam logo no início, frente a, respectivamente, Nicolas Escudé e Juan Ignacio Chela. Em pares, Mota/João Cunha e Silva atingiram as meias-finais, onde perderam (2-6, 7-5, 7-5) com David Adams/Joshua Eagle. O torneio feminino sofreu a desistência de Amélie Mauresmo e quem beneficiou foi Anke Huber, a mais cotada do quadro. Ainda assim, a alemã, que chegou ao Jamor no 16.º lugar do ranking, teve de recuperar de 1-5 e salvar um match-point antes de vencer na final a francesa Nathalie Dechy (22.ª). De assinalar a presença nos quartos-de-final da suíça Miroslava Vavrinec, ainda longe da fama que lhe traria o casamento com Roger Federer. A representação feminina portuguesa teve como único ponto alto o set ganho por Ana Catarina Nogueira à italiana de 19 anos, Francesca Schiavone, então 139.ª mundial e apurada do qualifying.

Juan Carlos Ferrero, o mais português dos jogadores espanhóis

2001 (7 a 15 de Abril) Masculino Prize-money: 625 mil dólares Final de singulares: J. C. Ferrero-F. Mantilla, 7-6(3), 4-6, 6-3 Final de pares: R. Stepanek/M. Tabara-D. Johnson/N. Zimonjic, 6-4, 6-1 Feminino Prize-money: 140 mil dólares Final de singulares: A. Montolio-E. Bovina, 3-6, 6-3, 6-2 Final de pares: K. Hrdlickova/B. Rittner-T. Krizan/K. Srebotnik, 3-6, 7-5, 6-1

Se os tenistas do país vizinho sempre se sentiram bem no Estoril Open, o que dizer de Juan Carlos Ferrero, conhecido como o mais português dos jogadores espanhóis? Vencedor dos torneios internacionais juniores Taça Diogo Nápoles e Leiria e do challenger da Maia (em 1999), Ferrero impôs-se na mais importante prova tenística de Portugal na sua segunda participação. Sob o quente sol que acompanhou o torneio toda a semana, o tenista de Onteniente venceu, numa final de mais de três horas, o compatriota Felix Mantilla, que acabou por acusar os oito encontros que acumulou desde o qualifying. “Queria mesmo ganhar este

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PORTUGAL OPEN torneio. Agora, vou tentar qualificar-me para o Masters; no ano passado, tive muita pena de não jogar em Lisboa”, frisou Ferrero, chegado ao Jamor como 11.º do ranking – nesse ano, venceria ainda em Barcelona e em Roma, para terminar a época no quinto lugar. Desilusão foi a presença de Michael Chang. Já na parte descendente da carreira, o norte-americano de ascendência chinesa só somou quatro jogos ao espanhol de 20 anos, Albert Montañes, vindo do qualifying. Já o torneio feminino deixou melhores recordações. Anke Huber ficou logo desde a ronda inaugural impedida de defender o título e foi uma jogadora fora do top 50, a espanhola Angeles Montolio, a conquistar o troféu. O seu encontro mais difícil aconteceu na meias-finais com uma belga de 18 anos, Justine Hénin, num encontro que teve de ser deslocado para o “court” nº1 para que o terceiro “set” se realizasse sob luz artificial e que só ficou concluído ao fim de mais de duas horas e meia (5-7, 7-6, 6-4). Três meses depois, Hénin disputava a sua primeira final do Grand Slam, em Wimbledon. Na final de duas horas, a mais longa de sempre, Montolio (1,57m) superiorizou-se à russa Elena Bovina (1,89m). “Senti-me um pouco cansada no início, mas à medida que o encontro foi decorrendo fui esquecendo esse cansaço. Estou muito contente por ter ganho o meu primeiro torneio do WTA Tour”, revelou Montolio (51.ª mundial).

2002 (6 a 14 de Abril)

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Masculino Prize-money: 525 mil dólares Final de singulares: D. Nalbandian-J. Nieminen, 6-4, 7-6(5) Final de pares: K. Braasch/A. Olhovskiy-S. Aspelin/A. Ktrazmann, 6-3, 6-3 Feminino Prize-money: 140 mil dólares Final de singulares: M. Serna-A. Barna, 6-4, 6-2 Final de pares: E. Bovina/Z. Gubacsi-B. Rittner/M. Vento Kabchi, 6-3, 6-1

A redução do “prize-money”, justificada pela crise económica, não retirou qualquer brilho à 13.ª edição. Presentes estiveram dois antigos campeões Juan Carlos Ferrero e Carlos Moya e ainda


Marat Safin, regressado ao Jamor depois de perder na estreia em 1999, desta vez na companhia da irmã, Dinara. Mas houve mais razões para que esta edição ficasse na memória: porque houve uma controversa pré-qualificação para atribuir os wild-cards a portugueses, ganho por Nuno Matias e Neuza Silva (eliminados na ronda inicial); porque choveu durante todo o “qualifying”; porque o vento impediu que os tenistas mostrassem o seu melhor ténis; e por não ter havido espanhóis na final masculina. O campeão acabou por ser uma revelação, David Nalbandian (47.º) que se fez notar logo a partir da segunda ronda, em que eliminou o favorito número um do torneio e do público, Ferrero, mas só se tornou num sério candidato quando afastou Moya, nas meias-finais. Nalbandian, ex-número três mundial júnior, venceu a mais jovem final masculina de sempre do Estoril Open, ao derrotar o finlandês Jarkko Nieminen (66º), igualmente de 20 anos. “Para quem ganha um ATP Tour é sempre uma semana muito importante para qualquer jogador. Mas principalmente porque estou a melhorar o meu jogo de dia para dia”, disse o tenista argentino, que conquistou o seu primeiro título no circuito ATP sob o olhar de uma assistência recorde em finais, de 5278 espectadores! E na hora dos festejos. Não se esqueceu dos seus compatriotas: “Espero que possa dar uma alegria ao povo argentino que está vivendo um mau momento.” Na competição feminina, a espanhola Magüi Serna (44.ª) também se estreou, depois de quatro finais (três das quais em Portugal) e cinco “match-points” no derradeiro encontro no Jamor, diante da alemã Anca Barna (106.ª). “Joguei três finais antes, mas só a do Porto, na semana passada, e esta é que foram as melhores oportunidades, porque nas outras defrontei Lindsay Davenport e Arantxa Sanchez. Queria mesmo ganhar um título para ultrapassar esta barreira”, confessou a tenista nascida há 23 anos em Las Palmas. Nos pares, o triunfo reverteu para os veteranos Karsten Braasch, de 34 anos, e o russo Andrei Olhovskiy, na véspera do seu 36.º aniversário. A dupla de 70 anos ganhou os três encontros até à final no match tie-break – na altura, ainda em fase de teste nos torneios do ATP Tour –, começando pela vitória sobre o par luso Hélder Lopes/Nuno Marques (7-6, 6-7, 10/3). Após a final, foram para a tenda VIP comemorar e Braasch fez jus á fama de “bom vivant”, fumando um cigarro a acompanhar uma cerveja.

David Nalbandian conquistou o seu primeiro título no circuito ATP

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PORTUGAL OPEN 2003 (5 a 13 de Abril) Masculino Prize-money: 525 mil dólares Final de singulares: N. Davydenko-A. Calleri, 6-4, 6-3 Final de pares: M. Bhupathi/M. Mirnyi-L. Arnold/M. Hood, 6-1, 6-2 Feminino Prize-money: 140 mil dólares Final de singulares: M. Serna-J. Schruff, 6-4, 6-1 Final de pares: P. Mandula/P. Wartusch-M. Ani/E. Gagliardi, 6-7(3), 7-6(3), 6-2

O checo Jiri Novak (9.º) foi o tenista mais cotado da prova, após a desistência em cima da hora do sorteio de Juan Carlos Ferrero, mas foi eliminado de entrada (6-7, 6-4, 7-5) pelo holandês John Van Lottum (105.º). Rainer Schuettler (13.º), outra das vedetas deste Estoril Open, depois de, em Janeiro ter sido finalista no Open da Austrália, teve o mesmo destino. Schuettler sentiu dificuldades em exibir na terra batida o mesmo ténis que tem demonstrado nos pisos rápidos, e baqueou (6-1, 4-6, 7-5) diante do espanhol Feliciano Lopez (62.º ATP). Sempre discreto, o russo Nikolay Davydenko (61.º) acabou por sair do Jamor campeão, depois de eliminar (6-2, 6-4) nos quartos-de-

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O russo Nikolay Davydenko eliminou o compatriota Yevgeny Kafelnikov rumo ao título


final o compatriota Yevgeny Kafelnikov – que, à sexta participação, ganhou no Jamor – e cedeu apenas um set, nas meias-finais, ao bielorrusso Max Mirnyi. “Se chegar ao top 10 tudo bem. Sei que tenho de concentrar-me mais nos torneios importantes como os da Série Masters e Grand Slams. Aqui foi mais importante ter jogado bem do que ganhar o torneio”, adiantou Davydenko, após selar a entrada no top 50. Os wild-cards beneficiaram Bernardo Mota, o melhor representante nacional no “ranking” ATP, Diogo Rocha, atleta da Academia João Lagos, e Hélder Lopes, o português que mais pontos amealhou nos “ futures” realizados em Portugal pela João Lagos Sports - e que vieram substituir o pré-”qualifying”. Mota (317.º) foi o único a ultrapassar (7-6, 3-6, 7-6) um adversário, o holandês Raemon Sluiter (57.º), mas perderia (6-3, 6-4) a seguir, com Lopez. Nuno Marques, treinador de Lopes, fez par com o veteraníssimo Mansour Bahrami mas tiveram azar no sorteio. “Foi a primeira vez que joguei com alguém tão giro...”, brincou Bahrami. Magüi Serna (42.ª) tornou-se na primeira bicampeã feminina – e segundo no Estoril Open, imitando Thomas Muster (1995 e 1996) – dominado todas as adversárias em dois sets, incluindo a alemã Julia Schruff (238.ª), vinda do qualifying. “É fundamental jogar bem nestas próximas semanas para que consiga ficar entre as cabeças de série de Roland Garros, porque se não defrontar boas adversárias na primeiras rondas, pode ser bem diferente”, garantiu Serna. A única portuguesa no quadro de singulares, Frederica Piedade (326.ª), acusou uma lesão no joelho esquerdo e não resistiu mais que 58 minutos e só ganhou quatro jogos (6-1, 6-3) à húngara Petra Mandula (76.ª). Extra competição, o tema de conversa era o anunciado complexo de Barcarena, que teimava em não sair do papel devido a atrasos na expropriação de terrenos. “Em 2005, espero que esteja tudo de pedra e cal, em especial, as instalações para a imprensa e de apoio á organização e jogadores. Se assim for, o milhão de euros que nos custa a instalação destas tendas poderá ser canalizado para outro lado”, afirmava João Lagos – responsável por uma gaffe na cerimónia de entrega de prémios, pois tinha-se convencido de que Calleri ia ganhar… No final do torneio, Lagos admitiu que teve “mais problemas financeiros a organizar esta 14ª edição do que a primeira, em 1990, e que as condições climatéricas foram as piores com que a organização deparou, já que surgiram no último fim-de-semana”.

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PORTUGAL OPEN 2004 (10 a 18 de Abril) Masculino Prize-money: 490 mil dólares Final de singulares: J. I. Chela-M. Safin, 6-7(2), 6-3, 6-3 Final de pares: J. I. Chela/G. Gaudio-F. Cermak/L. Friedl, 6-2, 6-1 Juan Ignacio Chela celebrou a “dobradinha” na edição de 2004

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Feminino Prize-money: 110 mil dólares Final de singulares: E. Loît-I. Benesova, 7-5, 7-6(1) Final de pares: E. Gagliardi/J. Husarova-O. Blahotova/G. Navratilova, 6-3, 6-2

Foi um desfilar de estrelas, antigas, do presente e do futuro, no court central do Jamor, em cujo pó de tijolo se promovia o Euro 2004 de futebol. A maior era Goran Ivanisevic, campeão de Wimbledon em 2001, agora com 32 anos e a estrear-se no Estoril Open, uma semana antes da filha Amber completar um ano de vida. Na sua terceira visita a Portugal – a primeira foi no Europeu de sub-16, no Jamor, em 1989, e a segunda, na Taça Davis, no Porto, em 1994 – o croata foi vítima de um jovem espanhol em ascensão, Rafael Nadal (35.º). Após a derrota (6-4, 6-1), Ivanisevic foi peremptório: “Nadal vai ser um dos grandes jogadores em terra batida no futuro.” Nadal, de 17 anos, vindo da estreia na Taça Davis, disputada em Palma de Maiorca, onde nasceu, optou por jogar em Portugal, em detrimento de um outro torneio em Espanha. “Porque este é mais importante e mais prestigiado, tem mais história.


Valencia tem um quadro muito fácil e lá seria o cabeça de série nº3”, justificou. Outro jovem de 17 anos, Richard Gasquet (95.º), afastou (0-6, 7-6, 7-6) um dos favoritos desta 15ª edição, o chileno Nicolas Massu (11.º). Victor Hanescu também cometeu a proeza de eliminar Rainer Schuettler, cabeça de série nº1 e número seis do ranking, numa batalha (7-6, 6-7, 6-3) de duas horas e 43 minutos. Nadal ainda venceu (6-4, 3-6, 6-2) Gasquet, adversários pela primeira vez quando tinham 12 anos, mas foi forçado a abandonar o Jamor devido a uma lesão no pé esquerdo, contraída frente a Ivanisevic. Embora figurasse no último lugar da lista de cabeças de série, Marat Safin chegou a Portugal com um objectivo bem preciso: voltar a ocupar o primeiro lugar do “ranking”, depois de ter sido finalista no Open da Austrália. Após vencer (7-6, 2-6, 7-6) o mais cotado dos oitavo-finalistas, Tommy Robredo (21.º), em duas horas e meia, o russo ficou bem confiante, e nem se esforçou na meia-final já que o georgiano Irakli Labadze (53.º), desistiu ao fim de cinco jogos. Mas na final esperava-o um especialista da terra batida, Juan Ignacio Chela (121.º), a disputar a sua sexta final, primeira desde 2002, quando foi suspenso por três meses por uso de esteróides. Na final afectada pelo muito vento, Safin ainda salvou três matchpoints, mas não evitou a derrota no encontro de duas horas e meia. Na véspera, Chela já tinha erguido o troféu de pares ao lado do compatriota Gaston Gaudio, que semanas depois triunfaria em Roland Garros. “Ganhei em singulares e pares, é como um sonho. Estava um pouco nervoso no fim e estou muito contente por ter vencido Marat; é um dos melhores jogadores do mundo, por isso, é muito importante para mim”, admitiu Chela, depois de assegurar a entrada no top 100. Foi igualmente o segundo título do treinador Gabriel Markus, que levou David Nalbandian ao triunfo, em 2002. No torneio feminino, Emilie Loît seu seguimento à vitória no domingo anterior em Casablanca, e derrotou na final a checa Iveta Benesova. “Têm sido 15 dias fantásticos, de sonho. Tento sempre

Num duelo entre duas promessas de 17 anos, Rafael Nadal levou a melhor sobre Richard Gasquet

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PORTUGAL OPEN ganhar mas consegui-lo é inesperado, embora tenha sido mais fácil esta semana, embora a final fosse difícil”, afirmou Loît, premiada com 13 mil euros e... três semanas na Quinta do Lago. Entre os portugueses, o sorteio colocou os dois wild-cards Leonardo Tavares e Diogo Rocha frente a frente. E Rocha, vencedor do recuperado pré-qualifying, tornou-se no quinto português em 15 anos da história do torneio a estar na segunda eliminatória – sucedendo aos quatro “mosqueteiros” lusos: João Cunha e Silva, Nuno Marques, Emanuel Couto e Bernardo Mota – ao ganhar (7-5, 2-6, 6-3) ao compatriota. Mas o portuense de 19 anos viria a desistir diante de Chela devido a rotura no adutor esquerdo, ao fim de oito jogos (6-0, 2-0). Neuza Silva (685.ª) teve a honra de ser a primeira tenista portuguesa a passar uma ronda no quadro final do Estoril Open, ao derrotar por 3-6, 7-6 (7/5) e 7-6 (10/8) a alemã Julia Schruff (108ª), revelação da edição 2003 ao passar o “qualifying” e chegar à final. Na segunda ronda, a tenista setubalense nada pôde (6-2, 6-1) diante da checa Denia Chladkova (55.ª).

2005 (23 de Abril a 1 de Maio) Masculino Prize-money: 550 mil dólares Final de singulares: G. Gaudio-T. Robredo, 6-1, 2-6, 6-1 Final de pares: F. Cermak/L. Friedl-J. I. Chela/T. Robredo, 6-3, 6-4

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Feminino Prize-money: 110 mil dólares Final de singulares: L. Safarova-Li N., 6-7(4), 6-4, 6-3 Final de pares: Li T./Sun T.-M. Krajicek-H. Nagyova, 6-3, 6-1

A 16.ª edição do Estoril Open arrancou com a maior enchente registada no primeiro dia do torneio, com quase cinco mil espectadores a afluir ao Jamor. E as surpresas não tardaram com o costa-riquenho Juan António Marin, de 30 anos e 219.º no ranking mundial, a aproveitar a embalagem da fase de qualificação para surpreender (6-1, 6-2) o campeão em título, Juan Ignacio Chela (37.º). Outro ex-vencedor do Estoril Open, Alex Corretja, recebeu um wild-


card para regressar ao Jamor oito anos depois do seu título, mas cedeu (6-7, 7-6, 6-4) perante o também espanhol Feliciano Lopez, despedindo-se pela porta pequena do ATP Tour. Campeão quatro anos antes, o espanhol Juan Carlos Ferrero vinha de uma final em Barcelona, perdida para Rafael Nadal, mas esteve a um ponto de ser logo eliminado pelo cipriota Marcos Baghdatis, campeão do mundo júnior em 2003, que dispôs de dois match-points no tie-break do terceiro set, antes de ceder (6-3, 2-6 e 7-6) ao fim de duas horas. Mas na segunda ronda, Ferrero cedeu (7-5, 6-7, 6-4) noutra maratona de duas horas e 48 minutos, diante do compatriota Carlos Moyà. Depois de Thomas Muster (1996) e Moyà (2000), foi a vez do argentino Gaston Gaudio (5.º) justificar o estatuto de campeão de Roland Garros e atingir a final, depois de salvar um match-point no primeiro encontro, com o checo Jen Hernych (79.º), a 6-7, 3-5, antes de impor-se (6-7, 7-5, 6-0) em duas horas e meia. Na final com melhor classificação de sempre, o argentino encontrou Tommy Robredo (15.º), que beneficiou da desistência do compatriota Moyà, lesionado num ombro e tornou-se no segundo tenista mais cotado a triunfar no Jamor – Thomas Muster era o número um em 1996. “Tenho um pouco mais de experiência e confiança. Tudo o que aconteceu em Roland Garros foi fundamental para mim”, admitiu Gaudio, após a final que registou um novo recorde de espectadores (5420 entradas). Treinado por Franco Davin, derrotado na final da primeira edição, em 1990, Gaudio só tinha ganho um encontro nas duas anteriores visitas ao Jamor. No torneio feminino, a italiana Flavia Pennetta chegou ao Jamor mais conhecida por ser namorada de Moyà do que pelo 31º lugar que ocupa no ranking, pelo que poucos estranharam a derrota (6-3, 7-6) na estreia com a ucraniana Olga Savchuk (221.ª). Os olhos estavam postos na sérvia Jelena Dokic (447.ª) e na russa Dinara Safina (38.ª), irmã de Marat, que soprou as velas do 19.º aniversário. Dokic demonstrou porque caiu do quarto lugar do ranking que ocupou em 2002 e cedeu (6-2, 3-6, 6-2) diante da ucraniana Alona Bondarenko (82.ª). Safina não cedeu qualquer set até às meias-finais, onde perdeu (duplo 6-1), com Li Na que, em Setembro do ano anterior, se tornara na primeira chinesa a triunfar no WTA Tour, ao vencer o torneio de Guangzhou. A outra finalista, Lucie Safarova, surpreendeu todos ao vir do

Lucie Safarova protagonizou um feito inédito: veio do qualifying até ao título

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Jie Zheng venceu a primeira final cem por cento chinesa em 32 anos do circuito WTA

qualifying… até ao título – um facto inédito na história do Estoril Open. Sob o olhar do namorado Tomas Berdych (48.º), eliminado na ronda inaugural, a checa venceu todos os encontros do quadro final em três sets e salvou três match-points na segunda ronda, com a holandesa Michaella Krajicek (120.ª), irmã de Richard. “É espantoso. Estava muito cansada devido aos muitos encontros [sete] que disputei e, no segundo set, senti as pernas pesadas. Mas a vontade de ganhar era muita”, explicou Safarova, após a primeira final da prova com a presença de uma jogadora não europeia. A treinar em Barcelona há seis anos, o tenista algarvio Rui Machado (317.º), de 21 anos, mostrou claros progressos na sua estreia no Estoril Open e deu excelente réplica a Agustin Calleri (99.º), mas o vencedor do pré-qualifying foi incapaz de contrariar a solidez do argentino e cedeu (4-6, 6-3, 6-1) no terceiro set. Neuza Silva (506.ª) só aguentou 52 minutos em campo e venceu quatro jogos (duplo 6-2) diante da adversária de Madagáscar, Dally Randriantefy (51.ª). Também a luso-canadiana Melanie Glória (340.ª) beneficiou de um wild-card, mas nada pôde (6-1, 6-1) frente à argentina Mariana Diaz-Oliva (83.ª). Lograda a hipótese de o torneio se deslocar para Barcarena, João Lagos insiste na construção de infra-estruturas definitivas no Jamor. “Reclamo o management e a exploração do espaço, sozinho ou numa parceria público-privada”, frisou Lagos.

2006 (29 de Abril a 7 de Maio)

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Masculino Prize-money: 550 mil dólares Final de singulares: D. Nalbandian-N. Davydenko, 6-3, 6-4 Final de pares: L. Dlouhy/P. Vizner-L. Arnold/L. Friedl, 6-3, 6-1 Feminino Prize-money: 145 mil dólares Final de singulares: Zheng J.-Li N., 6-7(5), 7-5 e desistência Final de pares: Li T./Sun T.-G. Dulko/M. A. Sanchez Lorenzo, 6-2, 6-2

Foi um dos melhores anos do Estoril Open – para muitos, foi mesmo o melhor segundo vários parâmetros: final com o melhor ranking


combinado e entre dois anteriores campeões do Jamor; foi batido o recorde de assistência na semana, com 41.611 espectadores; infraestruturas melhoradas; e uma boa prestação dos representantes lusos. Nikolay Davydenko (5.º) vingou as duas derrotas sofridas nesse ano diante de Marat Safin vencendo (4-6, 6-1, 6-2) o compatriota na segunda ronda. E nas meias-finais, adaptou-se melhor ao vento para ultrapassar (3-6, 6-2, 6-2) Carlos Moya e confirmar uma final com David Nalbandian (3.º). Mas seria o argentino de 24 anos a tornarse no terceiro bicampeão do Estoril Open, graças a uma exibição irrepreensível e igualar o espanhol Carlos Costa (1992 e 1994) e o austríaco Thomas Muster (1995 e 1996). “Estou muito contente por voltar aqui e ganhar outra vez. Foi muito lindo. Foi graças à convicção com que entrei e joguei do primeiro ao último ponto. Ele elevou o nível a 5-2 do segundo set, arriscou mais, mas depois eu consegui voltar a jogar a grande nível. Tenho mais experiência, mais vitórias sobre grandes jogadores, essa é a grande diferença”, afirmou Nalbandian, antes de confirmar que anda à procura de treinador. Frederico Gil (246.º) recebeu um wild-card por ganhar o préqualifying e começou por vencer (1-6, 7-6, 6-4) uma maratona de duas horas e meia, diante do espanhol David Luque (596º). O português de 21 anos fez ainda melhor e conseguiu atingir os quartos-de-final e igualar os feitos de João Cunha e Silva (1992) e Nuno Marques (1995) ao bater (4-6, 6-4, 6-1) o russo Dmitry Tursunov (33.º). Nos quartos e apesar do apoio incondicional do público – que bateu o recorde diário, com 6421 entradas – Gil somo sóu três jogos (6-1, 6-2) nos 76 minutos em que esteve diante de Nalbandian. Gastão Elias, de 15 anos, foi repescado do qualifying para amealhar o seu primeiro ponto para o ranking ATP, mas nada pôde frente a Tursunov e acabou naturalmente eliminado (6-2, 6-1). Nas senhoras, registou-se a primeira final cem por cento chinesa em 32 anos do circuito WTA. Jie Zheng acabaria por beneficiar da desistência da compatriota Li Na, embora nos bastidores se comentasse que a final foi abreviada porque as jogadoras que pertencem à selecção chinesa da Fed Cup e partilham o mesmo treinador Jian Hong Wei, tinham um avião para apanhar. . “Não me sinto tão bem proque tenho pena que a Na Li estivesse lesionada”, afirmou Zheng após o seu segundo título no WTA Tour. Em pares,

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PORTUGAL OPEN Ting Li e Tiantian Sun, campeãs olímpicas de pares em Atenas, completaram o pleno para a China e revalidaram o título da variante. Após três anos de ausência, Frederica Piedade (150.ª) acabou por ter o mesmo destino da compatriota Magali De Lattre (581.ª), eliminada pelos mesmos parciais (6-1, 6-2), diante de, respectivamente, Emilie Loit (50.ª) e Lourdes Dominguez Lino (44.ª). O público português teve ainda oportunidade de ver em acção Michelle Brito, a tenista portuguesa de 13 anos que treina e reside na Academia de Nick Bollettieri, há três anos. A jovem tenista – que em Dezembro anterior, ainda com 12 anos, venceu o torneio Eddie Herr International de sub-16, batendo o recorde de Maria Sharapova (venceu aí com 13 anos) – trocou algumas bolas com Elias no court central. Quanto às instalações, João Lagos, só tinha uma certeza: “Uma coisa é certa: o torneio não sai do concelho de Oeiras”.

2007 (28 de Abril a 6 de Maio) Masculino Prize-money: 625 mil dólares Final de singulares: N. Djokovic-R. Gasquet, 7-6(7), 0-6, 6-1 Final de pares: M. Melo/A. Sá-M. Garcia/S. Prieto, 3-6, 6-2, 10/6

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Feminino Prize-money: 145 mil dólares Final de singulares: G. Arn-V. Azarenka, 2-6, 6-1, 7-6(3) Final de pares: A. Ehritt-Vanc/A. Rodionova-L. Dominguez Lino/A. Parra Santonja, 6-3, 6-2

A presença de Novak Djokovic dominou a 18.ª edição em que recordes diários e globais foram batidos. O sérvio de 19 anos até começou de forma tremida precisando de um tie-break no terceiro set para ultrapassar (6-2, 4-6, 7-6) o russo Igor Andreev (namorado de Maria Kirilenko), mas ainda ouviu assobios ao sair do court envergando uma camisola do Benfica. Fernando Gonzalez (7.º) ficou logo pelo caminho, eliminado (6-2, 6-4) pelo francês Paul-Henri Mathieu (42.º), num dia em que se


bateu um novo recorde absoluto de afluência: 7862 espectadores! Outro desapontamento foi a desistência na segunda ronda do argentino Juan Martin del Potro, de 18 anos, o mais novo membro do top 100, onde ocupa o 63º lugar, obrigado a retirar-se frente ao compatriota Augusto Calleri no segundo set (7-5, 1-0), devido a febre. Apesar de alguns problemas respiratórios, Djokovic não mais parou até receber o troféu da Vista Alegre das mãos do “rei” Eusébio, que ainda autografou a camisola vermelha... da selecção da Sérvia. Na mais jovem final de sempre do Estoril Open, Djokovic venceu o francês Richard Gasquet, ao ser o mais forte mentalmente num encontro afectado pelo vento. No entanto, Gasquet (15.º) pode queixar-se de não ter aproveitado seis set-points na partida inicial. ”Cheguei a sentir-me muito frustrado, mas durante toda a semana joguei no central nestas condições. Hoje, frente a um adversário que é um dos melhores do mundo, tive que estar muito focado”, frisou Djokovic. A competição feminina coroou uma nova campeã vinda do qualifying, a veterana alemã Greta Arn, apesar do público

Novak Djokovic recebeu o troféu da Vista Alegre das mãos do “rei” Eusébio

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português ter apoiado incondicionalmente Victoria Azarenka, treinada por António Van Grichen. A bielorussa de 17 anos chegou uns dias mais cedo e treinou-se no Clube de Ténis de Alfragide/Ace Team, onde se habituou ao clima e ao vento, acabando por obter o seu melhor resultado em terra batida. Arn, de 28 anos, conquistou o seu primeiro título do WTA Tour, após 10 anos de no circuito profissional e duas horas e 23 minutos de muito sofrimento. “Estou a jogar melhor que antes, quando era top 100 e acredito mais em mim. Estou muito cansada, quase a explodir; este foi o oitavo encontro em nove dias. Claro que a experiência jogou a meu favor. Ela é mais nova e cometeu erros que uma jogadora da minha idade não faz. Mas com 17 anos tem muito tempo para ganhar torneios”, disse Arn, que contou com a ajuda de José Filipe, que conheceu na Academia de Nick Bollettieri quando por lá passou duas semanas. “Não o via há 10 anos e reencontrei-o aqui. Psicologicamente, foi uma ajuda muito importante”, reconheceu a campeã. Frederico Gil (142.º) entrou a ganhar (6-1, 4-6 e 6-3) ao espanhol Ramirez Hidalgo (55º ATP), antes de Gasquet o impedir (6-1, 6-2) de chegar de novo aos quartos-de-final. O outro wild-card luso, Pedro Sousa (970.º) ganhou somente dois jogos (6-1, 6-1) ao russo Igor Kunitsyn (91.º). As prestações de Frederica Piedade (284.ª) e Neuza Silva (333.ª) ficaram muito abaixo do esperado. Piedade foi vulgarizada (duplo 6-0) pela sueca Sofia Arvidsson (132.ª); Neuza cedeu (6-2, 6-1) à principal favorita, a francesa Marion Bartoli (24.ª) que abandonaria mais tarde com uma lesão abdominal. Antes de o torneio começar, João Lagos apresentou uma alternativa para a construção de um estádio permanente: um aterro da costa fronteira ao Jamor, entre a estação de comboios da Cruz Quebrada e o farol da Gibalta, onde seria erguido um complexo de ténis com um estádio para 10 mil espectadores, com um investimento totalmente privado. No final, Lagos admitiu a sua “enorme satisfação” face às intenções do Governo de requalificar o Complexo Desportivo do Jamor.


2008 (12 a 20 de Abril) Masculino Prize-money: 370 mil euros Final de singulares: R. Federer-N. Davydenko, 7-6(5), 1-2 e desistência Final de pares: J. Coetzee/W. Moodie-J. Murray/K. Ullyett, 6-3, 4-6, 10/8 Feminino Prize-money: 145 mil euros Final de singulares: M. Kirilenko-I. Benesova, 6-4, 6-2 Final de pares: M. Kirilenko/F. Pennetta-M. Jugic-Salkic/I. Senoglu, 6-4, 6-4

Foi um ano de consagração do Estoril Open com a vinda do campeoníssimo Roger Federer. Pela primeira vez desde 2004, Federer optou por disputar um torneio em terra batida que não pertence à Série Masters, na procura de uma maior rodagem na terra batida, com vista a um inédito título em Roland Garros, tendo inclusive, recorrido aos serviços de José Higueras, o treinador que levou Michael Chang e Jim Courier ao triunfo no Grand Slam francês. Um fax e um ramo de flores (na véspera) e pastéis de Belém (na manhã da final) enviados por Luís Figo para Mirka Vavrinec, namorada de Federer, serviram de motivação extra. Mas a final não foi o espectáculo esperado pois Nikolay Davydenko desistiu no segundo set. “É uma boa sensação ganhar um título outra vez apesar das infelizes circunstâncias. Seria bom se o Nikolay terminasse . Penso que é a primeira vez que estou a disputar uma final e alguém desiste. E já lá vão 70... As condições eram difíceis e por isso não estou surpreendido com a lesão dele, mas é óptimo começar a época de terra batida com um título”, afirmou Federer, após quebrar o jejum de títulos que durava há quatro meses. Federer justificou o cachet – e que João Lagos apenas admitiu ser superior ao prize-money total do torneio, ou seja, mais de 454 mil euros – ao trazer ao Jamor 53.888 visitantes (mais 10 mil que o anterior recorde, registado em 2007) – e ainda deixou um recado: “Foi uma experiência muito boa e decerto que poderiam mudar para um court central definitivo em vez de um provisório; acho que o torneio merece. Foi uma boa experiência porque desta vez pude conhecer as pessoas que são muito simpáticas. Acho que é o melhor elogio que posso fazer a este país.”

Roger Federer levou ao Jamor 53.888 visitantes

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João Sousa (742.º) foi um dos heróis, depois de ter ultrapassado o qualifying, confirmando os excelentes progressos que realizou desde que se radicou em Barcelona, três anos e meio antes. No quadro final, o vimaranense de 19 anos derrotou (6-1, 6-3) o igualmente qualifier austríaco Olivier Marach (166.º), mãos o sorteio colocou-o frente a Frederico Gil (134.º) que se estreou a ganhar (6-0, 6-3) ao francês Nicolas Mahut (43.º). O encontro cem por cento português foi suspenso pela chuva com o resultado favorável a Gil (7-6, 0-1): No dia seguinte, o mais cotado dos dois fechou o encontro (7-6, 6-2) e, pela primeira vez, um tenista português defrontou o número um mundial da actualidade. Três horas depois, Gil voltou ao “central”, mas foi dominado (6-4, 6-1) por Federer. Rui Machado (411.º) foi um autêntico “tomba-gigantes” pois derrubou o croata Ivo Karlovic (18.º), de 2,08m de altura e o “rei dos ases” em 2007, ao somar 1318! Mas na segunda ronda, os esforços para recuperar de 0-4 e 0/5 no tie-break, foram inglórios na derrota (7-6, 6-1) frente ao francês Florent Serra (101.º). Na primeira eliminatória, Gastão Elias (615.º) chegou a liderar o segundo set por 5-2 e desperdiçou quatro set-points, antes de ceder (6-4, 7-5) diante do alemão Michael Berrer (65.º). No torneio feminino, Maria Kirilenko (32.ª) justificou o favoritismo que lhe foi atribuído desde que Flavia Pennetta perdeu na segunda ronda com a checa Iveta Benesova (132.ª). E foi precisamente frente a Benesova que a russa de 21 anos conquistou o título, cinco anos depois de estrear-se no Jamor com um wild-card. E além de ter conquistado o público português com o seu ténis e a sua beleza, ainda fez a dobradinha, ao lado de Pennetta! “O meu grande objectivo é tornar-me uma jogadora cada vez melhor. O resto vem depois. Mas também não posso deixar de dizer que gosto de me sentir bonita. Penso que não há mal nenhum em darmos valor à nossa beleza”, disse Kirilenko. Já as tenistas portuguesas desiludiram. Frederica Piedade (290.ª WTA) baqueou (6-3, 6-0) frente à italiana Karin Knapp (37.ª), tal como Neuza Silva (190.ª) que só ganhou dois jogos (6-2, 6-0) a Benesova. Michelle Brito (232.ª), a disputar o seu primeiro torneio em Portugal depois de ter emigrado em 2002 para os EUA ainda ganhou um set, mas a portuguesa de 15 anos acabaria por ceder (2-6, 6-0, 6-4) à croata Sanda Mamic (483.ª).


2009 (2 a 10 de Maio) Masculino Prize-money: 370 mil euros Final de singulares: A. Montañes-J. Blake, 5-7, 7-6(6), 6-0 Final de pares: E. Butorac/S. Lipsky-M. Damm/R. Lindstedt, 6-3, 6-2 Feminino Prize-money: 220 mil dólares Final de singulares: Y. Wickmayer-E. Makarova, 7-5, 6-2 Final de pares: R. Kops-Jones/A. Spears-S. Fichman/K. Marosi, 2-6, 6-3, 10/5

Não foi fácil suceder ao melhor Estoril Open de sempre, mas sempre se comemoravam 20 edições. E ainda nas vésperas do torneio, Frederico Gil, que iniciara a época com duas inéditas meias-finais em torneios do ATP Tour, possibilitou a realização de um dos sonhos de João Lagos, ao entrar directamente no quadro principal. E Gil (74.º) deu excelente réplica (5-7, 6-4, 6-2) ao norteamericano James Blake (14.º), que acabou por provar que também sabe jogar em terra batida, ao atingir a final, após eliminar (6-7, 7-6, 6-3) nas meias-finais Nikolay Davydenko (11.º) decidida em dois dias e concluídas duas horas antes da final. Blake acabaria dominado no derradeiro encontro por um verdadeiro especialista, Alberto Montañes (35.º), responsável

Albert Montañes foi o campeão depois de salvar um match-point nos quartos-definal

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pela eliminação do mais cotado do torneio, Gilles Simon (7.º) – nos quartos-de-final, em que venceu (5-7, 6-4, 7-6) após salvar um matchpoint – e beneficiou de um quadro mais aberto após as eliminações prematuras de David Ferrer (14.º) e David Nalbandian (18.º). Mas Blake chegou a dispor de dois match-points no segundo set. “Nem eu próprio sei como consegui arranjar forças. É verdade que podia ter ganho o segundo set sem ter passado por grandes dificuldades, pois liderei por 4-3 com serviço a seguir. Ele recuperou e a 4-5, 15-40, pensei que o encontro tinha terminado, mas no ténis consegue-se dar a volta e acabei por vencer. Foi incrível”, reconheceu Montañes, o jogador menos cotado nos últimos seis anos a sagrar-se campeão no Jamor. O torneio feminino também coroou uma nova campeã, depois da eliminação das mais cotadas: Iveta Benesova na segunda ronda; Maria Kirilenko, Sorana Cirstea e Sabine Lisicki nos quartos. A belga Yanina Wickmayer conquistou o primeiro título da carreira e iniciou no Jamor uma época que a levou a terminar no 16.º lugar, depois de uma estreia em mais-finais do Grand Slam, no US Open. Na final, dominou a russa Ekaterina Makarova em hora e meia. Dos restantes portugueses, Rui Machado ganhou um set (7-5, 1-6, 7-5) ao espanhol Oscar Hernandez (68.º), o mesmo acontecendo a Michelle Brito (134.ª) e Neuza Silva (163.ª). Michelle recusou um wild-card para o quadro principal para ganhar maior rodagem na terra batida e acabou por ser repescada do qualifying, onde venceu (7-6, 4-6, 7-5) o encontro mais longo da história do torneio: 3h40 diante de Alexandra Dulgheru. Mas só aguentou um set (4-6, 6-0 e 6-0) frente à israelita Shahar Peer (53.ª). Neuza enfrentou pelo segundo ano consecutivo a checa Benesova (29.ª) e conseguiu fazer bem melhor (6-4, 5-7 e 6-4) do que em 2008. Maria João Koehler (631.ª), de 16 anos e treinada por Nuno Marques, só deu réplica (7-6, 6-0) num set à alemã Kristina Barrois (77.ª). Tal como Frederica Piedade (202.ª) diante da estoniana Maret Ani (110.ª), em bora na segunda partida (6-0, 7-6). A 20.ª edição apresentou como novidades uma rádio online – acessível pelos sites www.rfm.pt ou www.estorilopen.net – que transmitiu a partir do Estádio Nacional e o lançamento de duas edições especiais e limitadas: a de um relógio Baume & Mercier (90 exemplares); e a de um modelo do VW Eos (25 exemplares), produzido na Auto-Europa.


2010 (1 a 9 de Maio) Masculino Prize-money: 370 mil euros Final de singulares: A. Montañes-F. Gil, 6-2, 6-7(4), 7-5 Final de pares: M. Lopez/D. Marrero-P. Cuevas/M. Granollers, 6-7(1), 6-4, 10/4 Feminino Prize-money: 220 mil dólares Final de singulares: A. Sevastova-A. Parra Santonja, 6-2, 7-5 Final de pares: S. Cirstea/A. Medina Garrigues-V. Diatchenko/A. Vedy, 6-1, 7-5

João Lagos conseguiu a proeza de trazer Roger Federer de novo ao Estoril Open. Mas este foi “o torneio” de Frederico Gil. O tenista português cumpriu mais um dos sonhos de Lagos, ao tornar-se no primeiro português a disputar a final. E faltou muito pouco para que se tornasse no primeiro campeão luso. o alemão Florian Mayer (49.º) e o colombiano Santiago Giraldo (61.º), Gil teve de enfrentar o compatriota Rui Machado (114.º) – igualmente treinado por João Cunha e Silva – num duelo intenso de mais de duas horas (4-6, 7-6, 6-3), em que o algarvio recuperou de 2-5 no segundo set, mas ficou sem energias para discutir o tie-break e a partida decisiva. E foi num ambiente de euforia que Gil disputou a meia-final no centralito – a chuva forçou a realização das meias-finais em simultâneo –, onde o apoio dos três mil compatriotas foi crucial para vencer (6-2, 5-7, 6-3) o espanhol Guillermo Garcia-Lopez (40.º). Na final, diante de Albert Montañes – responsável por eliminar Federer nas meias-finais – Gil chegou a comandar o terceiro set por 3-0, mas o catalão de 29 anos, que desperdiçara dois match-points no segundo set, apelou à sua resiliência e tornou-se no segundo jogador a revalidar o título no Jamor – sucedendo a Thomas Muster (1995 e 1996). “Sabia que ia ser difícil por causa dele e do público. Tinha o encontro controlado e foi pena não ter terminado. Com dois breaks de desvantagem, limitei-me a lutar e tive a sorte de dar a volta a um encontro que estava complicado”, admitiu Montañes, após o quarto título, todos na terra batida, em oito finais no ATP World Tour.

No ano do regresso de Roger Federer ao Jamor, foi Frederico Gil a figura do Open de 2004 ao chegar à final

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O torneio feminino apresentou quatro jogadoras do top 50, mas acabou por revelar Anastasija Sevastova. A letã de 20 anos começou logo por eliminar (3-6, 6-3, 6-3) a jogadora mais cotada, a húngara Agnes Szavay (33.ª) e depois a japonesa Kimiko Date-Krumm, de 39 anos – quarta classificada no ranking, em 1995. Na final, remetida para o court n.º1 devido aos condicionalismos impostos pela chuva, Sevastova tornou-se na primeira letã em 17 anos a conquistar um título no WTA Tour, ao derrotar a espanhola Arantxa Parra Santonja (81.ª). “Estou muito entusiasmada por ganhar o meu primeiro título no WTA Tour. Joguei muito bem nos meus dois últimos encontros, por isso, acho que mereci ganhar”, disse Sevastova. O resto da armada portuguesa não ficou atrás de Gil e, pela primeira vez, houve quatro representantes na segunda ronda do torneio. Machado chegou aos quartos-de-final, depois de eliminar (6-2, 6-4) o chileno Nicolas Massu (92.º) e de afastar (duplo 6-4) o polaco Michal Przysiezny (97.º) – repescado do qualifying para tomar o lugar do desistente Ivan Ljubicic, que semana antes tinha ganho o Masters 1000 de Indian Wells. E Leonardo Tavares passou finalmente uma ronda, ao vencer (duplo 6-3) o brasileiro Ricardo Mello (94.º), naquela que foi também a sua primeira vitória sobre um top 100, antes de ceder (duplo 6-2) diante de Garcia-Lopez (40.º). Nos pares, Tavares e Pedro Sousa derrotaram (6-4, 7-6) o cotado par formado pelo indiano Rohan Bopanna e o paquistanês AlsamUl-Haq Qureshi, e, pela quarta vez e primeira desde 2000, uma dupla portuguesa esteve nas meias-finais do Estoril Open. Aí, foram travados (duplo 6-3) por Pablo Cuevas e Marcel Granollers. Michelle Brito ganhou um encontro no quadro principal, imitando Neuza Silva, em 2004, vencendo (6-3, 4-6 e 6-3) a francesa Alizé Cornet (71.ª), em duas horas e 46 minutos. Depois, perdeu (duplo 7-5) com a romena Sorana Cirstea (38.ª), orientada pelo português António Van Grichen. Maria João Koehler, igualmente de 17 anos, deveria tê-la seguido, mas não concretizou nenhum dos sete match-points diante da holandesa Arantxa Rus (120.ª), antes de ceder (6-3, 3-6, 7-5). Já Magali de Lattre (475.ª) foi arrasada (duplo 6-0) pela espanhola Anabel Medina Garrigues (57.ª), em 40 minutos. Nesta edição, João Lagos apresentou algumas novidades: elevou a capacidade do court central para sete mil espectadores, como há


dois anos – não ampliou em mais dois mil lugares por causa de uma árvore, o que lhe permitia encaixar mais “meio milhão de euros” de receita, o que o levou a frisar a urgência de um court definitivo com grande capacidade; o quadro masculino foi de 28 jogadores, o que permitiu aos quatro melhores entrarem no torneio uns dias mais tarde; e a tenda VIP aproveitou o espaço da nave de courts cobertos, em frente à entrada principal do complexo do Jamor.

2011 (23 de Abril a 1 de Maio) Masculino Prize-money: 450 mil euros Final de singulares: J. M. Del Potro-F. Verdasco, 6-2, 6-2 Final de pares: E. Butorac/J. J. Rojer-M. Lopez/D. Marrero, 6-3, 6-4 Feminino Prize-money: 220 mil dólares Final de singulares: A. Medina Garrigues-K. Barrois, 6-1, 6-2 Final de pares: A. Kleybanova/G. Voskoboeva-E. Daniilidou/M. Krajicek, 6-4, 6-2

Um recorde de cinco presenças portuguesas no quadro masculino, graças às entradas directas de Frederico Gil e Rui Machado e ao apuramento de Pedro Sousa pelo qualifying marcaram o arranque da 22.ª edição. Gil e João Sousa atingiram a segunda ronda: o primeiro, ao derrotar (6-3, 6-2) o italiano Flavio Cipolla; o segundo, às custas do grande amigo Gastão Elias, que acabou derrotado (7-6, 3-6, 5-2) pelas cãibras. Gil foi impedido (6-1, 7-6) pelo espanhol Fernando Verdasco (12.º) de ir mais além e Sousa viria a ser travado (duplo 6-3) pelo canadiano Milos Raonic (28.º). Machado (102.º) perdeu (duplo 6-3) de entrada com o romeno Victor Hanescu (63.º) e Pedro Sousa (488.º) cometeu a proeza de roubar o único set (6-2, 3-6, 6-3) que Juan Martin del Potro (46.º) cedeu durante toda a semana. Ao derrotar nos quartos-de-final o principal favorito, Robin Soderling (5.º) – finalista em Roland Garros nos dois anos anteriores – Del Potro embalou para o título, após vencer a mais curta final masculina (1h17) e tornar-se no campeão mais alto (1,98m) da

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PORTUGAL OPEN prova. “Foi o meu melhor encontro da semana. As finais são difíceis de jogar, nunca se sabe se vamos ou não jogar o nosso melhor. Hoje joguei bem e ganhei, tudo foi perfeito. É incrível ganhar na terra batida de novo, algo que nunca esperava acontecer tão rápido”, afirmou Del Potro, que não comemorava um título sobre o pó de tijolo desde Julho de 2008. No torneio feminino, Anabel Medina Garrigues conquistou o 10.º título da carreira, igualando Venus Williams como a jogadora em actividade com mais triunfos em terra batida (nove). “Passei uma grande semana aqui. Ganhei o torneio e recebi um lindo relógio. Não poderia desejar mais aqui”, disse a espanhola, após vencer, na final a alemã Kristina Barrois, que, em 2006, ganhou no Jamor o seu primeiro encontro no WTA Tour. Nos pares, Alisa Kleybanova conquistou, ao lado da também russa Galina Voskoboeva, o seu último título antes de retirar-se para combater um linfoma Maria João Koehler, Magali De Lattre e a estreante Bárbara Luz perderam na ronda inicial.

2012 (28 de Abril a 6 de Maio) Masculino Prize-money: 450 mil euros Final de singulares: J. M. Del Potro-R. Gasquet, 6-4, 6-2 Final de pares: A. Qureshi/J. J. Rojer-M. Knowle/D. Marrero, 7-5, 7-5 50

Feminino Prize-money: 220 mil dólares Final de singulares: K. Kanepi-C. Suarez Navarro, 3-6, 7-6(6), 6-4 Final de pares: C. Chuang/S. Zhang-Y. Shvedova/G. Voskoboeva, 4-6, 6-1, 11/9

Nem uma final que opôs os dois melhores tenistas do quadro nem a presença de João Sousa nos quartos-de-final disfarçaram a crise económica que rodeou esta 23.ª edição, o que aliada ao mau tempo, provocou uma baixa de 1500 entradas em relação ao ano anterior. Juan Martin del Potro (12.º) reforçou o favoritismo ao vencer (7-6,


6-4) Stanislas Wawrinka (22.º) na meia-final, que terminou já depois da 20h30. Mas no derradeiro encontro, o argentino beneficiou do desgaste de Richard Gasquet (18.º), que, na véspera, passara mais de três horas para ultrapassar (2-6, 7-6, 7-5) o espanhol Albert Ramos (42.º). E Del Potro foi o terceiro tenista a defender o título português conquistado no ano anterior – imitando Thomas Muster (1995 e 1996) e Albert Montañes (2009 e 2010). “Fiz o meu jogo, servi bem e tive a oportunidade de ganhar o torneio e estou muito contente por derrotar o Richard em terra batida. Cada dia estou a jogar melhor e servi melhor que no ano passado. Trabalho muito o movimento na terra batida, porque é difícil para quem é alto, mas o meu jogo não muda muito: jogo de forma agressiva em qualquer piso, usando o serviço e a direita”, garantiu a “Torre de Tandil”, como é conhecido o argentino de 1,98m de altura. Desde a primeira edição do Estoril Open, em 1990, só tinha havido seis duelos entre tenistas portugueses no quadro principal. Nesta 23.ª edição, houve logo dois. Rui Machado (90.º ATP) não aproveitou três set-points quando serviu a 6-5 e cometeu uma dupla-falta no primeiro ponto do tiebreak, permitindo que o amigo Pedro Sousa (244.º) se adiantasse, mas, foi fisicamente mais forte para vencer (6-7, 6-1, 6-2) ao fim de duas horas. De seguida, Machado esbarrou (6-1, 6-0) em Del Potro (12.º). João Sousa (140.º) voltou a vencer (5-7, 6-4 e 6-2) Gastão Elias (196.º), mas ao contrário de 2011, em que o tenista da Lourinhã desistiu ao fim de duas horas e meia, o português radicado em Barcelona precisou de quatro “match-points”. Sousa confirmou os progressos e ultrapassou (3-6, 6-3, 4-2) o uzbeque Denis Istomin (45.º), após estar a perder por 3-6, 0-2. Ao fim de duas horas de jogo, a chuva interrompeu o encontro e foi

Juan Martin del Potro imitou Thomas Muster e Albert Montañes e revalidou o título

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no balneário que o vimaranense soube que o adversário não iria regressar ao court central, devido a uma lesão nas costas. Sousa tornou-se assim no quinto português em 23 edições da prova a chegar aos quartos-de-final, onde foi travado (6-2, 6-3) pelo espanhol Albert Ramos (42.º). Já Frederico Gil (109.º), vindo de uma lesão no cotovelo direito, foi incapaz de impedir a vitória (6-4, 6-2) do alemão Bjorn Phau (87.º). Ao serem eliminadas na segunda ronda, Anabel Medina Garrigues (32.ª WTA), campeã em título, e Maria Kirilenko (19.ª), facilitaram a chegada de Carla Suarez Navarro (58.ª) à final. Já Kaia Kanepi, campeã júnior de Roland Garros em 2001, teve de superiorizar-se (6-2, 7-5) à mais cotada do torneio, a italiana Roberta Vinci (23.ª). E, no último encontro, Suarez Navarro dispôs de dois match-points no tie-break do segundo set (6/4) e liderou a negra por 4-2, mas a estoniana de 26 anos soube dar a volta ao encontro concluído ao fim de duas horas e 37 minutos. “De certeza, que irei recordá-la de uma forma positiva. “Não acho que tenha jogado o meu melhor ténis hoje, mas é uma vitória importante porque passei por tempos complicados. Não tenho treinador e foi o meu preparador físico que me ajudou mas fiz muito sozinha. Mas não quer dizer que não vá precisar de treinador no futuro”, disse Kanepi, a terceira campeã do Estoril Open que enfrentou match-points na final – depois de Anke Huber, em 2000, e Greta Arn, em 2007. À quarta presença consecutiva no quadro principal, Maria João Koehler (227.ª WTA), logrou passar a ronda inaugural – sucedendo às compatriotas Neuza Silva, em 2004, e Michelle Brito, em 2010. A tenista portuense venceu (6-1, 7-5) a japonesa Ayumi Morita (77.ª), mas cedeu (6-2, 6-0) diante de Vinci. Bárbara Luz (531.ª) acusou em demasia o facto de defrontar a exnúmero três mundial logo de entrada e perdeu (6-0, 6-1) com Nadia Petrova (35:ª), em 65 minutos. Durante a semana, a Lagos Sports e a Câmara Municipal de Oeiras apresentaram o projecto Lagos XXI, que consiste na construção de um Estádio Central com tecto amovível, perto do estádio de honra (futebol) e um novo Centralito, igualmente de características “cabriolet”, acompanhados da construção de doze novos courts de terra batida, dos quais quatro seriam equipados com bancadas menores.


2013 (27 de Abril a 5 de Maio) Masculino Prize-money: 467,800 mil euros Final de singulares: S. Wawrinka-D. Ferrer, 6-1, 6-4 Final de pares: S. Gonzalez/S. Lipsky-A. Qureshi/J. J. Rojer, 6-3, 4-6, 10/7 Feminino Prize-money: 235 mil dólares Final de singulares: A. Pavlyuchenkova-C. Suarez Navarro, 7-5, 6-2 Final de pares: H. Chan/K. Mladenovic-D. Jurak/K. Marosi, 7-6(3), 6-2

À última hora, Juan Martin del Potro abdicou de regressar ao Jamor onde iria tentar ser o primeiro jogador da história a vencer o torneio português por três vezes (e em três épocas consecutivas), ma so primeiro sob a nova designação: Portugal Open. Mas João Lagos conseguiu encontrar substituto à altura do estatuto do argentino e foi David Ferrer, número quatro do ranking, a encimar o quadro – utilizando o wild-card inicialmente destinado a João Sousa, a recuperar de uma lesão. O espanhol de 31 anos, que só tinha ganho um encontro na última das três participações anteriores (2002, 2003 e 2009) não desiludiu e chegou à final. Mas foi Stanislas Wawrinka (16.º) – depois de afastar (6-3, 3-6 e 6-1) a revelação deste torneio, o espanhol Pablo Carreño-Busta (228.º), oriundo do qualifying – a quebrar o jejum de dois anos sem conquistar títulos no ATP World Tour. “É óptimo ganhar um título outra vez, já que era um dos meus objectivos para esta época. Defrontar em terra batida Ferrer, número quatro, foi um desafio. Estou muito contente com a forma como joguei hoje. Vai ser difícil regressar ao top 10, mas sem dúvida que estou a jogar melhor do que no ano passado e estou a progredir. Hoje, ganhei a confiança de que posso derrotar um top 4 numa final, em terra batida”, disse o suíço de 28 anos, ainda sem perceber que tinha dado

Stanislas Wawrinka iniciou no Jamor um caminho ascendente que o levou a conquistar o Open da Austrália. Anastasia Pavlyuchenkova surgiu no Jamor com Martina Hingis como treinadora e conquistou o primeiro título em terra batida na carreira

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um salto qualitativo tal, que o levaria a conquistar um título do Grand Slam, em Janeiro de 2014. À sexta tentativa, Gastão Elias (113.º) alcançou o objectivo de ganhar um encontro num quadro principal de um torneio do ATP World Tour, ao vencer (6-3, 6-4) o argentino Horacio Zeballos (41.º). Mas o tenista nascido há 22 anos nas Caldas da Rainha fez melhor e derrotou (3-6, 6-1, 6-4) o uzbeque Denis Istomin (50.º), tornando-se no sexto tenista português a atingir os quartos-de-final do Portugal Open – onde seria travado (duplo 6-4) por Wawrinka. Rui Machado alcançou o quadro principal do Portugal Open através do qualifying. Mas o tenista algarvio de 29 anos mostrou que valia mais que o 330.º lugar que ocupava apesar de ser eliminado (duplo 6-4) pelo romeno Victor Hanescu (54.º). Já Pedro Sousa (218.º) inclinou-se (7-6, 4-6, 6-4) perante o belga David Goffin (62.º), ao fim de 18 breaks e duas horas e três minutos. No torneio feminino, as duas principais cabeças de série, Marion Bartoli (14.ª) e Dominika Cibulkova (15.ª), rolaram logo na ronda inicial. E numa das meia-finais, Kaia Kanepi (40.ª) e Carla Suarez Navarro (23.ª) reeditaram a final do ano anterior. Desta vez, a espanhola venceu (6-4, 6-1), mas ainda não foi na sua quinta final que conquistou um título no WTA Tour. Anastasia Pavlyuchenkova (19.ª), treinada por Martina Hingis, anulou três set-points na partida inicial para conquistar o quinto título na carreira (primeiro em terra batida). “Martina teve a ideia de fazer algo de diferente e fomos conhecer Cascais e deu para relaxar. A minha mãe nem queria acreditar de como era bonita a costa”, contou a russa de 21 anos. Maria João Koheler (105.ª), sem ritmo após uma paragem forçada por uma uma rotura abdominal, cedeu (6-4, 6-1) na estreia à russa Elena Vesnina (29.ª). João Lagos receava os efeitos da crise, mas realçou ter mantido os índices de qualidade, apesar de ter baixado o orçamento em 30 por cento, e congratulou-se com as 40.323 pessoas que afluíram ao Jamor nos nove dias do torneio – um registo superior ao de 2012 – e com as audiências televisivas: 384 milhões de lares na Europa e 97 milhões nos outros continentes.



Fernando Correia JLS

ENTREVISTA

Carlos Sanches

Discreto GIGANTE

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da

arbitragem

supervisiona o

PORTUGAL OPEN Hugo Ribeiro


de sentir orgulho por tê-lo como supervisor. Carlos Ramos arbitrou a final de Wimbledon de 2007 e, poucos meses depois, entrevistei-o Em 1988, fui enviado pelo jornal A Capital à exibição que o João Lagos organizou para o Diário de Notícias. Considerei-o em Cascais entre Miloslav Mecir e Emilio o melhor árbitro do mundo. Ele achou Sanchez. Conheci aí outro Sanches, o graça, mas disse-me logo que os jornalistas português, o Carlos, e também o outro espanhóis também escreviam que era Carlos, o Ramos. Enric Molina o maior, explicando-me que os João Lagos chamou-os para arbitrarem os árbitros não gostam dessas hierarquias. encontros. Foi a primeira prova de fogo de Não é fácil aos media fugirem à tentação de ambos e Carlos Sanches teve um encontro estabelecerem rankings, até em modalidades complicado. Escrevi que era um jovem colectivas. É, por isso, que não me coíbo de promissor mas nervoso e apontei alguns proclamar que Carlos Sanches é o melhor problemas vividos naquela arbitragem. supervisor do ATP World Tour. E só não Muito mais tarde, contou-me que a crítica digo do mundo porque estes profissionais deitara-o abaixo e, num primeiro instante, do circuito masculino estão impedidos teve vontade de desistir. Com os anos de exercer essa função nos torneios do tornamo-nos amigos. Deu-me valentes Grand Slam, Taça Davis, Fed Cup e Jogos tareias no court de ténis e agora continua Olímpicos, provas sob a batuta da federação a dar-me mas nos campos de golfe, um dos internacional (ITF). seus prazeres na vida. O Carlos – que, quando eu viajava pelo Viveu o Estoril Open desde a primeira edição circuito, via várias vezes como espanhol, e foi uma boa escolha para entrevista na com o apelido de Sanchez e não Sanches – celebração das Bodas de Prata do principal não pode, nem deve, obviamente, confirmátorneio português, apesar de agora residir lo, como o seu homónimo Ramos também nunca o fez. Mas como não chegar a essa conclusão quando o ATP World Tour o designa para supervisor do Masters Carlos Alberto Sequeira Sanches (as “Finais” de Londres) e de Data de nascimento: 14 de Outubro de 1963 supertorneios como os de Indian Naturalidade: Lisboa Wells e Miami, bem como de Nacionalidade: Portuguesa Masters 1000 como o de ParisResidência: Viena (Áustria) Bercy? Habilitações: Frequência do Curso de Marketing e Relações Públicas (INP) Na sombra do seu escritório, Profissão: Supervisor Gold Badge da ATP World Tour poucas vezes televisionado, Como Supervisor: Masters ATP World Tour em duas das Carlos Sanches é um gigante da últimas três edições (incluindo 2014) arbitragem do ténis mundial, Como jogador: Campeão Nacional 3as categorias de pares mistos, em 1988 (com Marta Peralta) como foi Jorge Dias e ainda o são Clube que representou enquanto jogador: CT Tapada Carlos Ramos e Mariana Alves. O das Mercês Portugal Open tem a obrigação

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ENTREVISTA na Áustria, depois de viver uns anos em Andorra. Vi-o passar pelos Circuitos Satélites, Challengers, ATP, Majors, Jogos Olímpicos e, há uns anos, à supervisão de outros árbitros e torneios. Ainda bem que não ligou àquela crítica de 1988 em A Capital e sei que também não vai ficar de peito cheio quando ler esta entrevista, 26 anos depois. Mas continuo na minha e quando o vir em Londres, na O2 Arena, entre os oito magníficos do Masters, irei de novo pensar: “Ali está o melhor supervisor do ATP World Tour e é português”.

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PP:Qual a tua primeira memória do então Estoril Open? RR:Quando comecei, o Estoril Open era uma coisa sensacional. Na altura, fazíamos os torneios pequenos, alguns da federação (FPT). Tirei o concurso em 1988 e começar a fazer torneios grandes e ver jogadores tão importantes, foi extraordinário. Nessa altura, era um árbitro adicional, mas já ter a chance de participar era surrealista. PP:Como foi a tua evolução dentro do Open? RR:Fazia os qualifyings e tentava fazer algum dos quadros principais, o que aconteceu logo na primeira edição – talvez

tenha falhado quatro ou cinco edições. O Jorge Dias era o árbitro de top português e eu e o Carlos Ramos tentávamos seguir as pisadas dele. Comecei a investir na minha carreira, a ir a torneios estrangeiros, para que as pessoas me vissem e me fizessem avaliações. Fui á Finlândia, Barcelona, Monte Carlo e foi aí, em 1991 ou 1992, que a ATP me perguntou se eu queria começar a trabalhar com eles, em torneios mais pequenos, challengers e alguns ATP. Tive que decidir a minha vida. Foi tão inesperado! Estava no 3.º ano do curso e tive que tomar uma decisão quase em cima da hora: ou apanhava aquele comboio ou outra pessoa o tomaria em meu lugar. Consultei a minha família e apoiaram-me bastante.


Fernando Correia/FPT

E, ao aceitar, abriu-me as portas para ser designado árbitro de cadeira no Estoril Open e noutros grandes torneios. PP:E fizeste duas finais? RR:Acho que fiz duas finais, mas não me lembro muito bem dos jogadores, talvez [Andrei] Medvedev com o Carlos Costa… Na época, foi motivo de grande orgulho para mim, porque não esperava ser designado para essa final. O Jorge já era mais conceituado, mas para nós ainda era difícil. A ATP agora já não tem tantas dificuldades em designar árbitros nacionais… Os árbitros que fazem as finais são sempre dos que trabalham para nós, que fazem parte do nosso grupo de árbitros. Obviamente, que se estivermos em França deverá ser um francês mas em Espanha já não, porque não temos nenhum espanhol no nosso grupo. PP:Que importância teve o Estoril Open para a arbitragem nacional? RR:Foi muito importante, mas não só o Estoril Open, mas todos os torneios organizados pelo João Lagos e pela FPT. Apanhámos essa época de ouro, em que havia 20 e tal torneios por ano, e todos foram importantes para o nosso desenvolvimento, já que nos permitia fazer bastantes torneios por ano. Embora também investisse-mos muito em viajar e sermos vistos em torneios internacionais. Também os torneios do Moura Diniz e da FPT permitiram-nos ser avaliados pelos supervisores que vinham a Portugal para podermos ser reconhecidos e podermos candidatar-nos a torneios fora de Portugal.

PP:Achas que o Open ainda é importante para os árbitros nacionais? RR:É importante, mas acho que, em Portugal, depois desta geração de ouro, perdemos a oportunidade de juntarmos uma nova geração à nossa. A nova geração não investiu na sua carreira como nós o fizemos e não aproveitaram o facto de eu estar na ATP, o Ramos na ITF e a Mariana [Alves] na WTA. Acho que se perdeu essa ideia de se poder ser árbitro profissional de ténis PP:Sentes evolução do ténis português através das tuas visitas anuais ao Open? RR:Obviamente que a semana do Open é uma semana em que todos falam de ténis em Portugal. No resto do ano, não se fala tanto embora haja bons jogadores a singrar. O Estoril Open foi uma rampa de lançamento não só para árbitros, mas também para jogadores e espero que continue a ser. Portugal não tem uma tradição de ténis como França, EUA ou Inglaterra que têm torneios todo o ano. Pelo que conheces da máquina do ATP achas que era possível a João Lagos organizar o Masters sem a experiência anterior? Acho que o facto de Portugal ter o Masters foi o reconhecimento do excelente trabalho que se fez no país ao nível do ténis. Há poucos países que já receberam o Masters, foi um feito extraordinário. PP:Dos jogadores que passaram pelo Open, quais os que te marcaram mais? RR:Pela minha ética de trabalho, não posso

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ENTREVISTA falar de jogadores. Tenho a minha opinião pessoal, mas infelizmente, não posso falar em nomes. PP:É diferente trabalhar aqui ou noutros torneios? RR:Para mim, sempre que tenho de vir a Portugal é motivo de orgulho e uma alegria. Não é indiferente. É uma oportunidade de voltar ao país onde nasci e comecei a carreira, ver amigos e poder estar com pessoas que conheço desde que comecei a minha carreira. Não é a mesma coisa devido a essa parte mental, mas quando chego ao campo, faço o mesmo trabalho como em qualquer parte do mundo. PP:Os jogadores dizem que é diferente quando têm amigos ou família no campo… RR:O árbitro não pensa tanto em amigos ou familiares. Quando entra em campo está concentrado no seu trabalho e só pensa em socializar quando acaba o dia de trabalho.

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PP:E no papel de supervisor, é também diferente? Ainda por cima tendo como director alguém que te acompanhou toda a vida profissional. RR:Sinceramente não, não é diferente. Temos os mesmos parâmetros para todos os torneios e temos que os avaliar, com a mesma base de julgamento. É um prazer voltar cá, mas não posso pensar que é um torneio português. Tenho que saber dissociar a parte profissional da parte sentimental. É fácil, porque já venho cá há muitos anos e já é automático.

PP:E a relação com João Lagos? RR:Há torneios que faço há 10, 15 anos e conheço os directores e promotores muito bem e o João Lagos é um deles, com quem comecei a minha carreira. Temos uma relação profissional muito boa e de muito respeito. Quando há necessidade de melhorar alguma coisa, o João aceita os meus conselhos. Reconheço que o João faz um trabalho extraordinário e reconheço que o torneio atingiu um patamar bastante alto e em que os jogadores (e o staff ATP) têm imenso prazer em trabalhar. PP:Tens contacto com patrocinadores? RR:Não. Temos outras pessoas dentro da ATP da área de marketing que tratam directamente como os patrocinadores PP:Como vês a forma como os árbitros são tratados pela Comunicação Social em Portugal? RR:Por estarmos muitas vezes no estrangeiro, a Comunicação Social portuguesa não tem muito conhecimento dos que nós fazemos, como por exemplo os árbitros franceses em França. O nosso trabalho é menos conhecido cá do que lá fora. Não é uma crítica. É um facto que, como eu e o Carlos não vivemos em Portugal, temos menos contacto com a imprensa e a própria Federação do que teríamos se vivêssemos cá. PP:E o teu trabalho ainda mais, ou não? RR:As pessoas deixaram-me de ver na televisão e o trabalho de supervisor quanto menos se vir na televisão, melhor. O trabalho


boas indicações dos jogadores e esse é o objectivo. Se melhorarem as recomendações que colocamos nos relatórios, a tendência é a evolução. PP:A opinião dos jogadores é fundamental? RR:É uma das mais importantes. Nós trabalhamos para que eles tenham as melhores condições possíveis.

de supervisor é por detrás das câmaras – só é visto na televisão quando tem que entrar no campo. O nosso trabalho é de programação, reuniões com directores dos torneios, dentro dos nossos escritórios. PP:A evolução levará a que os supervisores da ATP sejam convidados para eventos ITF? RR:A ITF tem os seus supervisores e nós temos os nossos. Quando uns precisam de outros, fazemos um intercâmbio. PP:Como vês o crescimento do Open nestes 25 anos? Veio de um 250 mil dólares para o estatuto actual… RR:Todos os anos, os torneios tentam melhorar os pontos indicados nos nossos relatórios. Se tivesse instalações físicas definitivas, seria mais fácil para eles do que fazer quase tudo de novo, mas tem sempre evoluído. Dentro das condicionantes tem sempre melhorado, tem tido sempre

PP:Pelo que vês nos outros torneios, o Open tem conseguido acompanhar a evolução? RR:O Portugal Open é muito respeitado internacionalmente, os jogadores têm muito carinho por ele, gostam muito da hospitalidade e da amabilidade do staff que trabalha no torneio. Também pelas paisagens, por ser à beira-mar e poderem ir jantar a Cascais ou Estoril e ver as belezas que o nosso país tem. Sempre ouvimos comentários positivos, é raro algum jogador ter algo coisa a apontar. O feed-back é extremamente positivo. PP:Há alguma coisa que gostasse de ver evoluir? RR:Qualquer torneio tem margem para evoluir, mas isso não depende de nós. Espero que o torneio tenha pernas para andar e que tenhamos Portugal no calendário da ATP por muitos anos. RR:A mudança de nome foi dos temas mais

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ENTREVISTA PP:É mais complicado para o teu trabalho o facto do Portugal Open ser um torneio misto? RR:Gosto de torneios mistos, acho uma boa ideia e o nosso torneio tem bastantes campos e dá um carisma especial ao torneio. PP:É importante ter a Mariana Alves como parceira de trabalho? RR:A Mariana é juiz-árbitro de ambos os torneios e é supervisor noutros, como por exemplo, em Indian Wells. É alguém por quem tenho imenso carinho e respeito e tenho imenso prazer quando trabalho com ela.

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“Esta nova geração se calhar não sabe o que fazemos” falados no ano passado. Achas que foi positiva ou houve confusões? Não há quaisquer confusões; não sei se é positivo ou negativo, não me cabe a mim dizer. Não houve mudanças significativas e os jogadores continuam a ver o Open como o torneio de Portugal e inscrevem-se para jogar em Portugal. Isso não afecta os jogadores.

PP:Era mais agradável em termos pessoais ser árbitro ou supervisor? RR:Dentro das minhas características, a de supervisor adapta-se mais. Falo várias idiomas, estudei marketing e relações públicas e este trabalho completame mais do que ter sido só árbitro de cadeira. Fiquei contente com a minha carreira de árbitro, mas a minha ideia era ser supervisor um dia. Faço cinco a seis Masters 1000 por ano (Indian Wells, Miami, Paris, Roma, Canadá…) e quanto maior é o torneio, maior prazer tenho em trabalhar neles. São desafios que me obrigam a dar o melhor de mim mesmo e a ter orgulho em estar designado. PP:Sentes-te como o supervisor dos supervisores? Eu sei que vocês não gostam muito de falar em hierarquias… RR:Todos os supervisores são iguais. Tive a sorte de ser designado para o Masters


PP:Tem sido benéfico para Portugal ter-te como um dos supervisores de elite do ténis mundial? RR:Dentro do ténis nacional, acho importante o trabalho que todos fazem lá fora. O Ramos, a Mariana, eu, assim como os jogadores portugueses, todos prestigiam o ténis nacional. Se vai ajudar no futuro? Não sei. Nós gostaríamos de ajudar a dinamizar mais o ténis. Se precisarem do nosso apoio, estraremos sempre disponíveis para ajudar,

mas daí a dizer que o nosso trabalho é uma grande ajuda para Portugal, não. Fazemos o melhor que podemos e se isso ajuda a divulgar o país, tanto melhor. PP:Mas há instituições que nunca vos contactaram? RR:Talvez não haja um grande conhecimento do nosso trabalho, em especial da minha área, que não é tão visível, e as pessoas não saibam tão bem o que eu faço; o Carlos Ramos vê-se mais. E também não vivemos cá! Se nos vissem mais, talvez as novas gerações nos vissem como incentivos, como nós víamos o Jorge Dias. Esta nova geração se calhar não sabe do que fazemos.

DR

de Londres há dois anos e este ano outra vez, mas não quer dizer que sou o melhor. Somos todos iguais e nem sequer pensamos nisso. Não há rankings de supervisores ou de árbitros, todos nós trabalhamos para o mesmo objectivo.

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ENTREVISTA PP:Sente-se que o nível do ténis português tem um certo prestígio? RR:Sem dúvida que tem um certo prestígio. Temos bons jogadores no ranking mundial e imagino que há uma maior vontade de arriscar e viajar para fora, a viver e a competir no estrangeiro. Talvez o Portugal Open dê esse incentivo, porque os mais novos vêem os compatriotas a jogar. PP:Ter um português nos quartos do Portugal Open era raro e há anos consecutivos que temos isso. É gratificante ou é apenas positivo para o torneio? RR:Só posso ver como uma coisa positiva para o torneio. Eu tenho que ver os jogadores todos da mesma maneira e tratá-los todos por igual, mas claro que é importante para um torneio ter um jogador local. Quando faço o meu trabalho diário, tento oferecer ao torneio a melhor programação para que haja mais público possível.

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RR:Lembro-me de, no ano passado, o Gastão Elias não ter tido transmissão no Eurosport quando estava programado no court central às 14 horas. Pode ser conflituoso em termos de programação ter um jogador local? RR:A escolha é sempre do torneio. Todos os factores contam e o de um jogador local é predominante. Ou o de ser do top. Temos que ver qual o mais eficaz. PP:Podes pedir para ser o Supervisor do Portugal Open? RR:Não, não posso pedir. Mas havendo seis Supervisores, faz sentido para a ATP que eu seja o supervisor aqui

PP:Foram sobejamente conhecidas as dificuldades que o torneio teve para continuar a realizar-se. Viste isso como uma preocupação para o ATP World Tour? RR:Óbvio que, como português, gostava de ter o torneio no circuito o maior número de anos. Não estou por dentro e não sei, mas também por ética de trabalho não podia comentar. PP:Já fizeste planos para depois de terminares a carreira? RR:Tenho 50 anos e a minha intenção é trabalhar até aos 65. E meu trabalho de supervisor dá para isso e um dia quero voltar a Portugal. A curto/médio prazo os meus planos não são os de voltar: venho três, quatro vezes para matar saudades. Mas quando deixar o meu trabalho espero regressar e viver os meus últimos dias em Portugal.



NO CIRCUITO

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Porque o é tudo

timing no ténis...


O ténis é um desporto secular com algumas balizas temporais mas sem duração limitada – é uma modalidade com um tempo muito próprio. Mas uma modalidade cada vez mais invadida pelo universo relojoeiro, como é fácil de comprovar pelos patrocínios e o crescente número de jogadores que actuam de relógio no pulso. E sabiam que foi um relógio que impediu a primeira vitória lusa no maior evento tenístico português? Miguel Seabra Parece o mito do eterno retorno: chega a primavera e o circuito do ténis profissional regressa invariavelmente à Europa e aos grandes torneios do Velho Continente em terra batida – com passagem por Portugal. Há poucos acontecimentos tão ritualizados como um torneio de ténis, onde a organização do tempo e a precisa segmentação de temporalidades assumem particular importância. O Portugal Open é o maior evento tenístico nacional e também um dos acontecimentos desportivos de maior destaque realizados anualmente em solo luso. Comemora este ano 25 edições e desde a sua estreia, em 1990, o tempo do ténis evoluiu consideravelmente. Joga-se cada vez mais forte e mais depressa: há menos tempo para a invenção ou para a especulação – da reflexão que caracterizava os campeões de outrora, passou-se ao reflexo que define os melhores da actualidade. A rapidez de jogo aumentou substancialmente e muitas vezes compete-se mesmo em excesso de velocidade, sem carta de condução nem penalização. A urgência das acções implicou mudanças no sistema de jogo, na técnica – já não se bate na bola de lado, como antes; bate-se de frente, para ganhar preciosos instantes na recuperação rumo à pancada seguinte. O ténis

Maria Sharapova teve direito a uma versão personalizada e até o discreto David Ferrer é capa de revista 67


NO CIRCUITO tornou-se sobretudo mais físico.

A guerra de 1816 Também a sociedade de consumo assente nas leis do espectáculo se encarregou de criar novos ritmos e exigências no ténis. Devido à televisão, reduziram-se os encontros masculinos à melhor de cinco sets para três sets em todos os torneios – exceptuando os do Grand Slam; também se acabaram os sets longos com o estabelecimento do tie-break a partir de 1970. Apesar dessas iniciativas redutoras, o ténis mantém-se como uma modalidade cujos encontros não têm uma duração definida devido ao seu peculiar sistema de pontuação. Um encontro divide-se em sets (ou partidas) divididos em jogos, que por sua vez são divididos em pontos. Cada jogador tem de ter pelo menos dois pontos a mais do que o adversário para ganhar um jogo; depois, tem de ter pelo menos dois jogos de avanço para ganhar um set... a não ser que cheguem ambos aos 6-6 e aí jogam um tiebreak, o tal sistema de desempate criado para evitar que os sets se transformassem em epopeias. Mas até por vezes os tie-breaks se revelam maratonas, como no famoso desempate do quarto set da lendária final de Wimbledon em 1980 – apelidado de “A Guerra de 1816”, com John McEnroe a ganhar esse dramático tiebreak por 18-16 sem impedir depois a vitória de Bjorn Borg no quinto set...

O duelo interminável

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Mesmo após a adopção generalizada do tie-break, os encontros da Taça Davis e de três dos quatro torneios do Grand Slam (Open da Austrália, Roland Garros e Wimbledon) mantiveram o sistema tradicional de contagem no quinto e decisivo set – o Open dos Estados Unidos sucumbiu às exigências televisivas. No confronto entre dois opositores de nível muito equilibrado, geralmente é o diferente nível de temporalidade pessoal a determinar o desfecho – porque há sempre um que tem menos tempo de resistência física e/ou psicológica do que o outro. Claro que o sistema de pontuação pode permitir que um encontro se prolongue indefinidamente... mas isso ainda não aconteceu, embora o embate mais longo registado no livro dos recordes tenha durado uma “eternidade”: em 2010, John Isner bateu Nicolas Mahut, por 6-4, 3-6, 6-7, 7-6, 70-68, numa primeira ronda


Roger Federer personifica o embaixador ideal para a Rolex

de Wimbledon que se estendeu por três dias e teve a duração de 11horas e 6 minutos; o duelo começou a uma terça-feira e foi suspenso no final do quarto set devido à falta de luz natural – o quinto set jogou-se nas tardes de quarta e quinta-feira até Mahut ser o primeiro dos dois heróis a soçobrar. Outro incrível registo temporal no ténis: na primeira ronda do torneio feminino de Richmond, em 1984, Vicky Nelson-Dunbar derrotou Jean Hepner, por 6-4, 7-6, em 6 horas e 31 minutos – só o tie-break do segundo set, resolvido por 13 pontos a 11, teve a duração de 1 hora e 47 minutos, com a particularidade de um dos seus pontos se ter arrastado durante 29 minutos e 643 batidas de bola! Como não há limite de tempo, um jogador pode mesmo estar a perder por 0-6, 0-6, 0-5, 0/40 e dar a volta ao resultado. Mas, apesar da duração indefinida, a verdade é que existem limites temporais entre cada jogada (20 ou 25 segundos consoante o torneio, para o servidor) e entre cada mudança de campo (90 segundos), para além de o árbitro colocar o seu cronógrafo a funcionar em determinadas ocasiões. E pode mesmo sancionar um jogador por “violação de tempo”, caso não recomece a jogar dentro desses limites.

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NO CIRCUITO Jogar, treinar e ganhar de relógio O curioso é que o jogador que mais advertências recebe por violação de tempo usa relógio quando joga – e logo o mais caro de todos. E, actualmente, quase todos os jogadores do top 10 ATP e muitas jogadoras do top 10 WTA têm patrocinadores de relógios. Alguns jogam com o relógio no pulso, porque não os incomoda e/ou porque existe uma cláusula no contrato, como sucede com a associação entre Rafael Nadal e a Richard Mille. O campeão espanhol é o tal infractor recorrente que usa no pulso um modelo vanguardista que pesa menos de 20 gramas e é dotado de uma alta complicação relojoeira (o turbilhão)... o preço anda à volta dos 600 mil euros. Ele e Stanislas Wawrinka protagonizaram no Open da Austrália a primeira final de um torneio do Grand Slam entre jogadores de relógio no pulso – curiosamente, Wawrinka (que já tinha ganho o Portugal Open com um Audemars Piguet Royal Oak Offshore Bumblebee e triunfou em Melbourne Park com um Audemars Piguet Royal Oak Offshore Diver), não mais usou qualquer relógio no pulso desde então. Porque era apenas “amigo” da Audemars Piguet e não propriamente embaixador... e um campeão do Grand Slam que se preza faz-se pagar bem. A Audemars Piguet não pagava a Stanislas Wawrinka (davalhe relógios de valor entre os 15 mil e os 25 mil euros) e não pagava muito a Novak Djokovic; mais virada para outros desportos, não acompanhou a oferta da Seiko – que desde Janeiro é patrocinadora oficial do sérvio. Mesmo assim, e para além da publicidade conseguida através do pulso de “Stan the Man”, a Audemars Piguet também beneficiou da “simpatia” de Serena Williams – que tem jogado com um Royal Oak Offshore Chronograph Lady com diamantes que a marca lhe ofereceu. Apesar do seu currículo e carisma, Serena nunca teve um

RAFAEL NADAL USA NO PULSO UM MODELO VANGUARDISTA QUE PESA MENOS DE 20 GRAMAS

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patrocinador formal de relógios... e foi de certo modo caricato ver Serena ganhar Wimbledon e os Jogos Olímpicos em 2013 com relógios de quartzo baratos dos anos 80, que ela própria tinha comprado como adereços para uma sua festa temática sobre essa década. E depois há aqueles que têm mesmo patrocínios avultados, mas não se habituam a jogar com relógio no pulso – embora utilizando-o durante os treinos e nos encontros de exibição; é o caso do acordo entre Roger Federer e a Rolex.

Bons e maus embaixadores O importante é que um tenista seja um bom embaixador e aproveite sempre os momentos de visibilidade, colocando também o relógio no pulso logo após o encontro, a segurar no troféu e nas conferências de imprensa, para além de participar nas acções de promoção da marca. Pelos vistos, Andy Roddick, que foi um dos mais famosos tenistas do mundo na última dúzia de

Tomas Berdych é o maior aficionado e conhecedor de relógios do circuito. Na imagem, com a revista portuguesa da especialidade Espiral do Tempo

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NO CIRCUITO

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anos, não foi um bom embaixador: contaram-me que não tinha o “espírito Rolex” e acabaram o contrato, possivelmente por ele se esquecer de colocar o relógio em público (e a Rolex tem cada vez mais embaixadores). Serena Williams não tem patrocinador de relógios talvez devido à sua personalidade por vezes explosiva e também porque, nos bastidores, as irmãs Williams não são consideradas fiáveis no sentido de estarem completamente disponíveis para corresponder às exigências dos sponsors. O episódio recente mais hilariante relacionado com um tenista e relógios teve Andy Murray como protagonista: semanas depois de assinar contrato com a Rado, tornou-se no primeiro britânico desde 1938 a jogar a final de Wimbledon em 2012 e, depois de a perder para Roger Federer, teve um longo e emotivo discurso acompanhado por milhões em todo o mundo, mas… esqueceu-se de colocar o relógio e, como tem o tique de tocar na cara quando é entrevistado, essa “ausência” foi ainda mais notada – para mais, a namorada Kim Sears também estava sempre a aparecer nas imagens, mas com um Rolex! No dia seguinte, a maior parte dos jornais britânicos apresentava na capa a fotografia de Andy emocionado com a mão no rosto sem o “obrigatório” relógio Rado e alguns desses jornais até tinham a imagem da namorada a chorar com um Rolex no pulso. Na altura escrevi um artigo sobre o tema, ilustrado com fotografias minhas desses jornais. E o certo é que, dois meses depois no US Open e após tornar-se no primeiro britânico desde 1938 a ganhar um título do Grand Slam, a primeira preocupação do Murray foi o relógio: após uma final de quase cinco horas, atravessou o court a coxear em direcção ao camarote mas não para celebrar, foi para perguntar onde estava o relógio! Voltei a escrever sobre esse episódio e hoje em dia Judy Murray, quando me encontra, diz-me sempre: “Miguel, when I see a watch I always think of you!”.

O ténis sempre atraiu patrocinadores de relevo

Veículo de prestígio O ténis sempre foi encarado como uma modalidade desportiva de prestígio e por essa razão sempre atraiu patrocinadores de relevo – entre os quais as melhores marcas de relógios. Qualquer torneio de ténis tem um relógio oficial pelo qual se rege a


Stanislas Wawrinka com o seu Audemars Piguet Royal Oak Offshore Diver, após vencer a primeira final de sempre de um torneio do Grand Slam entre dois jogadores que actuaram de relógio no pulso

programação e se houver patrocinador de relógios tanto melhor: normalmente, existem dois relógios no court – um para indicar a hora do dia, outro para indicar a duração do encontro. A Rolex associou-se a Wimbledon em 1978 e desde então têm mantido uma das mais antigas parcerias na história do patrocínio desportivo, sendo que o ténis é fundamental na estratégia de comunicação da marca genebrina juntamente com o golfe, o hipismo, a vela e os desportos motorizados – tudo desportos considerados “de prestígio” que se adequam ao público-alvo da Rolex… e de várias outras marcas de luxo. Nunca antes houve tantos torneios e tantos jogadores patrocinados por marcas relojoeiras, o que significa que o ténis está numa excelente fase. A Rolex injecta milhões no ténis ao patrocinar alguns dos torneios mais importantes (Wimbledon, Open da Austrália, ATP World Tour Championships, vários ATP Masters 1000, WTA Championships, vário torneios WTA, Taça Davis e Fed Cup) e também várias estrelas (Roger Federer, Juan Martin del Potro, Jo-Wilfried Tsonga, Milos Raonic, Li Na, Caroline Wozniacki, Ana Ivanovic); é significativo que um dos directores da Rolex seja Arnaud Boetsch, antigo top-15 ATP na década de 90 e que conquistou o ponto decisivo para a França bater a Suécia por 3-2 na dramática final da Taça Davis de 1996: é um ex-tenista, amigo dos tenistas e profundo conhecedor do ténis. Quanto

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NO CIRCUITO

Novak Djokovic trocou a Audemars Piguet pela Seiko

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às outras marcas, a Longines patrocina Roland Garros, Andre Agassi, Steffi Graf e Sabine Lisicki, sponsorizando pontualmente outros jogadores e personalidades com contratos temporários (como Gustavo Kuerten, há dois ou três anos); a Citizen patrocina o US Open e Victoria Azarenka; a Rado patrocina o torneio do Queen’s Club, Andy Murray, Agnieszka Radwanska e Julia Goerges; a TAG Heuer está com Maria Sharapova e Kei Nishikori, para além de ter apoiado em Portugal a Maria João Koehler e o Pedro Sousa; a Bovet patrocina David Ferrer… A Hublot tem feito umas edições limitadas (por exemplo, a do antigo campeão romeno Ilie Nastase) e está a beneficiar da notoriedade do Guga para aproveitar o crescimento do mercado brasileiro. E depois há outros torneios e jogadores com contratos mais locais – por exemplo, o torneio suíço de Gstaad e o helvético Marco Chiudinelli são patrocinados pela Eterna.


A motivação que “roubou” frederico gil Um dos mais deliciosos episódios tenísticos associados à relojoaria teve lugar no Jamor. O cenário e os protagonistas: um palco com mais de sete mil apaniguados completamente rendidos à causa de um dos intervenientes da final masculina da 21.ª edição do maior torneio português; por um lado, Frederico Gil, em estado de graça, com dois breaks de avanço na terceira partida; por outro, Albert Montañes, desmoralizado por ter desperdiçado dois match-points no segundo set e afectado pelo nacionalismo exacerbado. Na mudança de campo, e a perder por 0-3 com os tais dois breaks de desvantagem, o espanhol recordou-se de que tinha recebido em 2009 um relógio como prémio suplementar por ter ganho o Estoril Open – na altura, um cronógrafo Baume & Mercier em edição limitada comemorativa da 20.ª edição. E pensou: “Quero ter outro”. Incrivelmente, essa motivação suplementar – ganhar o relógio que habitualmente se entrega ao vencedor do torneio – foi o rastilho que fez acender a chama da sua recuperação! Albert Montañes não mencionou o facto na conferência de imprensa que se seguiu à vitória. Mas revelou essa motivação extra a Luiz Carvalho, o Communications Manager brasileiro do ATP World Tour que esteve no Jamor: “Quando estava a perder, só pensava: ‘o relógio, o relógio, tenho de ganhar outro relógio!”. Mal sabia ele que, por causa do jogador a quem derrotou nas meias-finais (um certo Roger Federer), o relógio habitualmente reservado para o vencedor teria um destinatário português. É que, tal como sucedeu em 2008, a participação de Roger Federer inviabilizaria a entrega de qualquer relógio ao suíço caso ele vencesse o torneio. O campeoníssimo tem um contrato tão hermético com a Rolex que tal não poderia acontecer. Em 2008, foi decidido entregar o prémio a João Sousa, considerado

Maria João Koehler com o TAG Heuer Sports Watch que foi originalmente desenvolvido em parceria com Tiger Woods

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NO CIRCUITO

A PRIMEIRA PREOCUPAÇÃO DO MURRAY APÓS GANHAR O US OPEN FOI O RELÓGIO

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então “Revelação Portuguesa”. Em 2010, a Boutique dos Relógios Plus, que assumiu o estatuto de “Official Timekeeper”, decidiu entregar o Omega Seamaster (sim, o de James Bond!) ao “Melhor Português”, Frederico Gil. Ironicamente, o sintrense ficou com o relógio que ajudou a motivar a recuperação do seu carrasco na final… mas, pelo menos, ficou com uma bela consolação! Nos anos seguintes, o relógio Omega que supostamente iria para o vencedor também foi para portugueses devido ao contrato leonino de Juan Martin del Potro com a Rolex – em 2011 novamente para Frederico Gil; em 2012 para premiar o acesso de João Sousa aos quartos-de-final. Este ano não há patrocinador oficial de relógios. Mas há alguns grandes aficionados da bela relojoaria a participar: o próprio Stanislas Wawrinka e o australiano Matthew Ebden. De todos os jogadores do circuito, Tomas Berdych sucede a Robin Soderling como o tenista que mais sabe de relógios – e continua sem patrocínio...



Equipamento

RAQUETA COM CURVAS

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Para quem se queixa de falta de novidades em termos de raquetas, eis a Curvstar. Uma raqueta inovadora em termos de tecnologia e design que vem romper com “standardização” dos últimos anos. Claro que os mais velhos, deverão lembrar-se da Snauwaert Ergonom, que surpreendeu o mercado nos anos 80. Mas ao contrário dessa raqueta – que tinha como principal inovação, uma cabeça da raqueta descentrada do resto do corpo – a Curvstar tem uma característica que a distingue de imediato: um grip em forma de banana, que tem o objectivo de prevenir lesões graças a um melhor alinhamento do pulso e cotovelo. A cabeça da raqueta (tamanho 107) foi desenhada de forma a aumentar o sweet spot e elevar a capacidade de gerar efeitos. A Curvstar foi desenhada por Thomas Emmrich, ex-tenista profissional e detentores de 47 títulos nacionais da Alemanha Democrática, e sua filha Manuela, jogadora universitária, que andam à procura de financiamento para a produção e lançamento no mercado, tendo recorrido à plataforma Kickstarter. E a raqueta até já foi homologada pela Federação Internacional de Ténis (ITF).

A Curvstar tem uma característica que a distingue de imediato: um grip em forma de banana, que tem o objectivo de prevenir lesões graças a um melhor alinhamento do pulso e cotovelo


ARBITRAGEM

Arbitragem e novas tecnologias Organizado pelo Curso Técnico de Apoio à Gestão Desportiva da Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, decorreu no passado mês JORGE CARDOSO Árbitro de Março uma conferência subordinada ao tema “Arbitragem e o Futuro”. Em traços gerais, visava a iniciativa relevar o papel da arbitragem no decorrer do jogo qualquer que ele seja. Ao representar o Ténis na iniciativa, constatei o papel da nossa modalidade no desenvolvimento de novas tecnologias associadas à verdade desportiva. Tendo como parceiras no evento as modalidades Râguebi e Futebol,

foi por demais evidente que ao ténis tem cabido a liderança no recurso a ajudas tecnológicas que visem um melhoramento das análises dos respetivos juízes. Qual será o papel do árbitro no contexto da adesão a estes novos recursos? Agirá ele da mesma forma ou terá o seu comportamento de alterar-se inevitavelmente? Sendo cada situação por si mesmo diferente, o comportamento que se quer do árbitro é que seja “ele mesmo”. Pede-se que arbitre da mesma maneira. Será isto possível? Acredito que o comportamento seja alterado, embora quanto mais experiente e consagrado o oficial seja, menos mudanças possamos verificar na sua forma de arbitrar. Mas será humano o árbitro de futebol competir com 14 câmaras ou um oficial de ténis competir com um sistema como o “Hawk-Eye” (“Olho de Falcão”)? Deverá no entanto prevalecer a verdade desportiva e por este motivo toda a arbitragem aplaude estes desenvolvimentos tecnológicos que são vistos como um desafio para melhoramento dos próprios desempenhos dos árbitros. O tema é aliciante e transporta-nos para patamares como a profissionalização da arbitragem. Voltaremos ao assunto brevemente.

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MEDICAL TIMEOUT

Lesões ligamentares do tornozelo

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JOSÉ PEDRO CORREIA Fisioterapeuta

As roturas ligamentares do tornozelo são as lesões traumáticas mais comuns no ténis. Estas ocorrem quando o atleta não apoia correctamente o pé no solo ou quando este não consegue estabilizar o pé durante o movimento do corpo. As roturas podem ter vários graus de gravidade, sendo que a velocidade de instalação do edema é um bom primeiro indicador da severidade da lesão. A ocorrência de um primeiro episódio de rotura é facilitada por factores como a laxidão ligamentar congénita e a debilidade relativa da musculatura estabilizadora do tornozelo. Desta forma, as praticantes de ténis, sobretudo as mais jovens, apresentam um maior risco para este tipo de lesões. Após a ocorrência do primeiro episódio, a probabilidade de recorrência é elevada. Este facto deve-se à menor elasticidade do tecido cicatricial juntamente com uma perda de velocidade de reacção ao desequilíbrio e uma menor capacidade de avaliação da posição articular. É frequente, na altura de regresso à actividade, existir algum “medo” do movimento. Os atletas recorrem a ortóteses ou ligaduras funcionais de forma a estabilizar a articulação durante os treinos ou encontros. Embora estas transmitam uma maior sensação de segurança, ao substituir as estruturas responsáveis pela estabilidade articular, diminuem as suas capacidades (tanto mais quanto mais rígido for o suporte), dificultando o regresso à actividade sem estas ajudas. Tal como em várias outras situações, a melhor aposta continua a ser um trabalho preventivo de base que treine as estruturas musculares, neurais e articulares de forma a dificultar a ocorrência destes episódios.


BOLA NA TELA

Jack Kinney

Tennis Racquet João Carlos Silva

Originalmente foi Dippy Dawg e nasceu em 1932 num desenho animado do Rato Mickey. Só mais tarde a personagem se tornou conhecida como Goofy (um diminutivo de George Geef?) – e Pateta no Brasil e em Portugal. A mudança de nome, de Dippy Dawg para Goofy, coincidiu com uma subida de de popularidade e de estatuto dentro da Disney. Aconteceu rapidamente, em 1934 já era uma estrela. Quando Tennis Racquet, uma curta de quase 7 minutos, foi mostrada nos ecrãs, em 1949, já o Pateta era uma vedeta. Jack Kinney, que ao longo da sua carreira realizou 82 animações, deu aqui vida a uma história criada pelo seu irmão Dick Kinney – um animador a quem o site IMDB atribui também, curiosamente, 82 créditos. Tennis Racquet é exclusivamente sobre ténis. Estão lá todos os golpes possíveis, todos os disparates imagináveis, tratadores de relva mais do que zelosos, comentadores desvairados e bolas caprichosas. E ainda por cima não há um Pateta mas sim dois. É Pateta contra Pateta até à loucura final e a um aperto de mão cheio de fair play como remate. Apesar de ser o mais improvável dos atletas, a forma de encarar a vida levou a que o Pateta fosse a personagem escolhida pela Disney

Tennis Racquet - 1949 com Pateta

como seu embaixador desportivo. Nos anos 80, o programa Sport Goofy, iniciado na Europa, transformou o Pateta em embaixador de diversas modalidades, com torneios de divulgação para jovens. Em Portugal, o nome Sport Goofy estará para sempre ligado ao ténis – e até o histórico Nuno Marques se fez notar neste torneio em 1982.

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