Revista de Ténis MatchPoint Portugal Abril 2013

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NOV O

MatchPoint n.º 4 | Abril 2013 | € 4.95

Portugal

ENTREVISTA João Lagos

Taça Davis Onde fica a Moldova?

Portugal Open

Os melhores estão de volta à terra

fb.com/matchpointportugal www.matchpointportugal.com


SUMÁRIO

MatchPoint

NOV O n.º 4 | abril 2013 | € 4.95

Portugal

ENTREVISTA João Lagos

TAçA DAVIS onde fica a MoLdova?

Portugal Open

ARTIGOS   4 Bolas curtas  16 Portugal Open

os melhores estão de volta à terra

fb.com/matchpointportugal www.matchpointportugal.com

n.º 4 Abril 2013

26 Entrevista: João Lagos  40 Universidade ATP  48 Taça Davis: Onde fica a Moldova

Propriedade

52 No circuito: Roger Federer

do Ténis

Associação para a Promoção

Director

OPINIÃO

Pedro Keul Redactores e colaboradores

3 Editorial

Hugo Ribeiro, Miguel Seabra, Jorge

14 Court & Costura

Pedro Correia e Luís Damasceno

57 Vantagem de…

Fotografia

Cardoso, João Carlos Silva, José

Cynthia Lum (excepto indicação em contrário)

SECÇÕES  59 Medical Timeout

Projecto gráfico e paginação Henriqueta Ramos Mobile / Webdesign

61 Táctica  63 Equipamento

Contactos

65 Arbitragem

Tel. 96 3078672; matchpointportugal@gmail.com;

67 Bola na tela

www.matchpointportugal.com; fb.com/matchpointportugal


EDITORIAL

O nosso Open

PEDRO KEUL

Chegou o mês da peregrinação anual ao Jamor. Todos os fiéis adeptos de ténis têm razões de sobra para, nos próximos dias, passarem pelo complexo do Estádio Nacional, onde não falta uma Nossa Senhora no alto do court central. Não só por causa de Juan Martin del Potro – um dos raros campeões de torneios do Grand Slam que conseguiu romper o domínio de Federer, Nadal e Djokovic –, de Stanislas Wawrinka ou de algumas das melhores jogadoras mundiais, como Marion Bartoli, Anastasia Pavlyuchenkova (e quem sabe, a sua conselheira Martina Hingis) e as campeãs de Grand Slams, Svetlana Kuznetsova e Francesca Schiavone, mesmo se já não estão no seu auge. Mas acima de tudo, para apoiar os nossos compatriotas e confirmar in loco que estamos perante a melhor geração de tenistas portugueses de sempre. Um lote de jogadores que já não vai ao maior torneio português para fazer um brilharete, mas sim para lutar de olhos nos olhos com adversários mais cotados, com a confiança que lhes confere a sua experiência e responsabilidade, adquirida no circuito e nas selecções. Para o público em geral, poderá ser igualmente uma demonstração de força para que o Portugal Open apresente condições mais condignas com o espectáculo oferecido. João Lagos mudou-lhe o nome para apelar a um maior sentimento patriótico, mas com o objectivo de continuar a evoluir. Lagos não está a pedir nada, apenas que o deixem fazer. Penso que, ao fim de 24 anos de Open, já chegou a altura de lhe retribuírem.

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BOLAS CURTAS “French” segue a tendência

JASON LOCKETT

Seguindo os exemplos do Open da Austrália e do US Open, os prémios monetários de Roland Garros vão sofrer um aumento significativo, subindo até aos 22 milhões de euros e beneficiando em especial

os jogadores eliminados durante a primeira semana. “Penso sinceramente que há uma lógica para lhes pagar mais do que até ao momento. Estou particularmente convencido que é necessário reduzir a distância entre eles e os jogadores da segunda

Red Bull dá-te Aza… renka

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Victoria Azarenka fez uma sessão de fotos para a Red Bull, quando passou por Nova Iorque para promover o torneio de Indian Wells. Vika posou num quarto de hotel, com um vestido de noite sempre com a bebida energética de cuja família de atletas faz parte desde janeiro. Além da sessão fotográfica, a tenista bielorrussa teve a oportunidade de experimentar “wallball” – uma espécie de squash, em que se bate na bola com a mão – com o nova-iorquino Timbó Gonzalez, uma estrela da modalidade e igualmente patrocinado pela Red Bull.

semana, embora tenhamos que nos manter razoáveis”, explicou o director do torneio, Gilbert Ysern. Por outro lado, o projecto de ampliação do estádio continua longe de um consenso. Depois da decisão do tribunal administrativo em anular a deliberação do conselho de Paris que autorizou, em 2011, a federação francesa (FFT) a começar os trabalhos, os representantes do partido dos Verdes vão pedir que a FFT financie um estudo sobre a cobertura da autoestrada A 13 que passa junto ao estádio. Entretanto os custos do projecto inicial já aumentaram de 270 milhões para 340 milhões de euros!

E Wimbledon ultrapassa O torneio de Wimbledon vai passar a ser o torneio do Grand Slam mais bem dotado financeiramente, depois do anúncio dos prémios monetários para a edição de 2013: 26,5 milhões de euros! Este aumento de sete milhões de euros em relação ao ano passado vai beneficiam principalmente os jogadores que vão ser eliminados nas


Mais de 200 na Maia Mais de duas centenas de jovens praticantes de 30 países disputaram a Taça Internacional Maia Jovem, que já vai na sua 20.ª edição. A prova organizada pela Câmara Municipal da Maia, através do seu Pelouro do Desporto, é pontuável para os rankings da Associação Europeia de Ténis (Tennis Europe), e trouxe a Portugal vários top 10 do escalão de sub-14. Da representação portuguesa destacou-se Duarte Vale, que se sagrou vice-campeão de singulares e pares (ao lado de João António), tendo perdido no torneio individual somente para o britânico Max Stewart, vencedor igualmente em

WILSON COSTA

três primeiras rondas e que verão o seu prize-money subir em 60 por cento. Mas também os campeões individuais irão receber um cheque mais chorudo: 1,8 milhões de euros (um aumento de 39 por cento). Os responsáveis do torneio de Wimbledon anunciaram igualmente que o court n.º1, o segundo mais importante do All England Club, terá um tecto retráctil a partir de 2019.

duplas, com o italiano Samuele Ramazzotti. No sector feminino, Marta Oliveira conquistou o título de pares, ao lado da italiana Federica Bilardo.

Draper demite-se Roger Draper vai deixar a liderança da Lawn Tennis Association em Setembro, mas com os bolsos cheios. O salário do director executivo (no ano passado ascendeu a cerca de 730 mil euros) foi considerado escandaloso pelo grupo parlamentar que investigou as verbas estatais destinadas ao ténis britânico, tendo em conta os resultados obtidos. Draper deixa ao cargo que ocupou durante sete anos em Setembro, após um excelente 2012, muito à

conta de Andy Murray que conquistou a medalha de ouro nos Jogos de Londres e do triunfo no US Open – tornando-se no primeiro britânico a ganhar um torneio do Grand Slam em 76 anos – mas também pela ascensão/confirmação das jovens Heather Watson – primeira britânica a triunfar no WTA Tour em 24 anos – e Laura Robson.

Jogadores vintage Há tenistas que atraiem a atenção dos fãs também fora dos courts. Os espanhóis Feliciano Lopez, Fernando Verdasco e Nicolas Almagro e o argentino Juan Monaco não fizeram por menos e vestiram-se com roupa clássica, estilo vintage, para uma produção fotográfica da revista norteamericana Esquire. A sessão, inspirada no filme O Grande Gatsby – cuja história se passa em 1922 – foi fotografada pelo renomado John Russo.

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BOLAS CURTAS FPT apresenta em AG passivo de 702 mil euros

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Está marcada para o dia 10 de Maio a estreia nos cinemas do filme/documentário que conta a história inspiradora de duas raparigas afro-americanas, crescidas num ghetto de Los Angeles e que, graças á visão do pai, se tornaram em atletas de sucesso mundial. O documentário de hora e meia, seguiu Serena e Venus Williams durante um ano, entre 2011 e 2012, mostrandonos ambas na intimidade e em períodos em que lesões e doenças colocaram em causa as suas vidas e carreiras. Os realizadores Maiken Baird e Michelle Major tiveram acesso ao círculo íntimo da família Williams e falaram com amigos, treinadores e figuras públicas, como John McEnroe, Chris Rock, Bill Clinton e Anna Wintour, cujos depoiamentos não deixam dúvida sobre a grandeza das irmãs Williams. O filme já está disponível por encomenda, através do site www.facebook.com/ venusandserenafilm.

FERNANDO CORREIA FPT

Venus e Serena, o filme

A Assembleia Geral (AG) da Federação Portuguesa de Ténis (FPT), realizada a 6 de Abril, no CIF, durante a eliminatória da Taça Davis com a Lituânia, aprovou o relatório e contas federativo de 2012, com a única abstenção da Associação de Ténis de Lisboa (ATL). Santos Serra, presidente da ATL, explicou que este voto ia no sentido de anteriores, por há muito alertar para a necessidade de reestruturação da FPT, mas sublinhou que o relatório e contas referiase à anterior Direcção da FPT, fazendo questão de dar um voto de confiança

ao novo executivo liderado por Vasco Costa. Estiveram presentes delegados do Porto, Algarve, Açores, Madeira, Leiria, Aveiro e Setúbal. Vasco Costa, presidente da FPT, tinha prometido não esconder a situação financeira da FPT e, na realidade, divulgou um passivo de 702 mil euros, como um dia depois anunciou aos media. O activo anda perto dos 475 mil euros. A Direcção da FPT e as Associações Regionais (AR) aprovaram ainda um plano de fomento conjunto, cuja discussão já tinha sido iniciada numa reunião anterior das AR com presença da FPT, realizada em Vilamoura, da qual, aliás, a MatchPoint Portugal deu conta no número anterior. Como sublinhou José Reis, presidente da AG, os trabalhos decorreram animados, com discussão, mas com evidente vontade de todas as partes de gerarem consensos e de ajudar a FPT a ultrapassar a situação difícil em que se encontra.


Rezai não gosta de ténis Aravane Rezai, que não jogava desde o Open GDF Suez, em Janeiro, regressou dois meses depois no torneio ITF de CroissyBeaubourg, onde deu uma surpreendente entrevista ao jornal Parisien em que revelou que não tem paixão pela modalidade. “Não gosto do ténis, um desporto que me deu muito sofrimento. Por outro lado, gosto do que ele me dá: o combate, a celebridade e o dinheiro, mesmo se é tabu falar disso”, afirmou a francesa de 26 anos. Depois da ruptura com os pais, Aravane reatou relações com a família. “Agora, tenho prazer e jogo para mim. Tudo está bem com os meus pais, estão presentes e apoiam-me psicologicamente. Mesmo se tivemos um passado complicado, continuam a ser os meus pais. Há assuntos sensíveis mas quero ter uma verdadeira relação pai-filha”. Entretanto, Rezai regressou à Academia de Patrick Mouratoglou, onde é acompanhada por Borna Bikic, um treinador que já

acompanhou Jelena Dokic. “Tenho um bom ‘feeling’, conhece o circuito e tem muita experiência”, justificou a actual 184.ª, bem longe do 15.º posto que ocupou em 2010. “O objectivo é reintegrar o top 100 para entrar directamente no quadro principal de Roland

Garros. Viso o top 50 no final da época. É duro mais exequível. Tenho ainda cinco, seis anos de carreira e quero dedicar-me a ela a cem por cento. Não sou uma ex mas uma futura top 15. Não fixei limites!”, frisou Rezai.

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BOLAS CURTAS Hugo Maia em destaque em Braga Do meio dos mais de 100 jogadores de 14 países, Hugo Maia destacou-se no Braga Open – Under 12, prova do calendário da Tennis Europe. A jogar em casa, no seu Clube de Ténis de Braga, esteve presente na final de singulares – decidida por poucos pontos a favor do tunisino Aziz Helali, vencedor pelos parciais de 6-4, 4-6 e 7-6(3) e sagrouse campeão de pares, com o também português Heber Adonis. Já a competição femininafoi dominada pela russa Ekaterina Makarova, campeã de singulares e pares, ao lado da compatriota Zozyia Kardava.

the Topshelf Open em ‘s-Hertogenbosch (Holanda) e Hall of Fame Tennis Championships em Newport (EUA). O torneio, que teve a sua primeira edição em 1898 e a Mercedes-Benz como patrocinador principal desde 1979 tem lugar no TC Weissenhof que vai construir novos courts de relva em estreita cooperação com os responsáveis de Wimbledon e supervisionados pelos especialistas do All England Club.

Fomento do ténis em escolas de Odivelas

Estugarda verde

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A Mercedes Cup em Estugarda vai passar a realizar-se em relva em 2015 e na semana seguinte a Roland Garros, dando mais uma opção para aqueles que querem rodar neste piso específico antes de se dirigirem para Wimbledon que, a partir desse ano, avançará sete dias no calendário, criando um intervalo de três semanas

entre os dois torneios do Grand Slam. Brad Drewett, presidente executivo da ATP adiantou que vão continuar a avaliar outras hipóteses para preencher essas semanas, onde se mantêm os já existentes AEGON Championships no Queen’s Club de Londres (Inglaterra), Gerry Weber Open em Halle (Alemanha), AEGON International em Eastbourne (Inglaterra),

A Câmara Municipal de Odivelas (CMO) decretou Abril como o mês do ténis nas escolas do concelho e para assinalar a ocasião inaugurou um court na Escola EB 1/JL Quinta da Paiã. Esse campo de ténis passará a funcionar para todas as escolas de Odivelas que integram a modalidade no seu currículo desportivo. Note-se que para além das modalidades desportivas obrigatórias pelo Ministério da Educação, a CMO patrocina a prática de outras sete nas suas escolas, uma das quais o ténis. A CMO tem beneficiado do apoio técnico


FERNANDO CORREIA FPT

da Associação de Ténis de Lisboa (ATL), através do treinador e membro da Direcção, Mário Videira, que, em média, visita três escolas por semana ao longo do ano lectivo. Para além do contacto permanente com os alunos e professores de Odivelas, a ATL também já conseguiu oferecer algum material desportivo de iniciação. A parceria entre a CMO e a ATL inclui acções de fomento em locais públicos, como centros comerciais e zonas verdes do concelho.

Challengers e Future em Portugal Manuel de Sousa confirmou a inscrição no calendário ATP de um torneio “challenger” entre 8 e 14 de Julho, no Clube Internacional de Lisboa (CIF), oferecendo 30 mil euros em prémios monetários. O evento, organizado em parceria com uma empresa a anunciar brevemente, terá lugar duas semanas antes do torneio do mesmo nível, em Guimarães – onde o actual número um português, João Sousa, nasceu há 24 anos –, sendo este dotado com 42.500 euros de prize-money. Igualmente pontuável para o ranking ATP, vai realizar-se de 4 a 12 de Maio um “future” em Castelo Branco. A organização do torneio da categoria 10 mil dólares (7.600 euros) é da Academia de Ténis Colina do Castelo e irá decorrer nos courts do Hotel Tryp Colina do Castelo.

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SONY OPEN TENNIS

BOLAS CURTAS

Wozniacki e Djokovic no calor da noite de Miami

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Se as participações de Caroline Wozniacki e Novak Djokovic no Sony Open deixaram muito a desejar aos próprios – a dinamarquesa perdeu logo no segundo encontro frente a Garbine Muguruza, 73.ª do ranking, e o sérvio foi eliminado nos quartos-definal por Tommy Haas, 18.º –, nem por isso a passagem por Miami deixou de ser memorável para ambos. Aproveitando a realização de um jogo da Liga Profissional de Basquetebol (NBA), entre os Miami Heat e Orlando Magic, Djokovic, Wozniacki e o seu namorado Rory McIlroy, tiveram a oportunidade de

conhecer uma das estrelas da equipa da casa, Dwyane Wade.

a trabalhar com pai que frisou de imediato: “Tenho a impressão que ela se apercebeu de que a melhor forma de trabalhar ainda continua a ser a nossa.” Mas no regresso á selecção da França, onde foi decisiva na vitória sobre o Cazaquistão, Marion garantiu que continua á procura de um treinador. “O meu pai ajudame durante estas semanas, enquanto encontro alguém”, disse a ex-número sete do ranking e finalista de Wimbledon de 2007.

Bartoli procura treinador

Apanha-bolas modelos

Marion Bartoli, uma das estrelas do próximo Portugal Open continua sem treinador. Depois de surpreender o mundo do ténis ao anunciar, no início do ano, que o pai, Walter, já não a iria acompanhar no circuito, a tenista francesa experimentou os conselhos de Jana Novotna e depois de Gérald Brémond, que deixou a Academia de Patrick Mouratoglou, onde orientava Anastasia Pavlyuchenkova, mas sem sucesso. Após dois meses sem controlo parental, Marion voltou

Foram escolhidos 30 dos 44 modelos da New Line Agency que acorreram à selecção de apanha-bolas para o Mutua Madrid Open, que se realizará de 3 a 12 de Maio. Estes 15 rapazes e 15 raparigas irão submeterse a duas semanas de treino intenso para se juntarem aos 160 apanha-bolas já anteriormente escolhidos, embora só irão pisar o court central da Caja Mágica nos encontros da sessão nocturna. Os 30 modelos foram escolhidos segundo os seus conhecimentos de desporto e do ténis,


Ferrer sempre humilde Não foi fácil a David Ferrer digerir a derrota na final do Sony Open, ainda para mais depois de ter tido um match-point salvo por milímetros por Andy Murray. Mas os campeões também se mostram nestas horas difíceis e como o próprio espanhol escreveu no twitter, “para saber ganhar, há que saber perder”. twitter.com/DavidFerrer87/ status/318502475663552512/ photo/1

FPT assina protocolo com AJTP

Logo após o último encontro da eliminatória da Taça Davis, entre Portugal e Lituânia, a Federação Portuguesa de Ténis (FPT) assinou um protocolo com a Associação de Jogadores de Ténis de Portugal (AJTP), para a regularização do pagamento dos valores devidos a jogadores pelas participações nas selecções da Taça Davis, Fed Cup e das Bolsas de Alta Competição. Vasco Costa, presidente da FPT, revelou na altura que as dívidas de 2012 já foram todas regularizadas e que a partir da época de 2014, os pagamentos a jogadores pelas presenças nas seleções serão sempre realizados no prazo de 90 dias a contar da realização de cada eliminatória. “Foram uma preocupação desta direção da FPT e da associação dos jogadores as dívidas que herdámos relativamente a jogadores. Era prioritário este protocolo, no sentido de os jogadores saberem com o que contam, para continuarem a viajar e a competir. Os jogadores vão poder programar as suas carreiras”, vincou Vasco Costa, que assinou o protocolo com Rui Machado, presidente da AJTP, Gastão Elias, Frederico Gil e Pedro Sousa. FERNANDO CORREIA FPT

em especial, do sistema de pontuação. O júri foi formado por Gerard Tsobanian, presidente do Mutua Madrid Open, Frans Bonet, director de imagem da Mango (marca que equipará os apanhabolas), Alex Corretja, capitão da selecção espanhola da Taça Davis e Marta Míchel, directora da YoDona.

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BOLAS CURTAS “Time” para Li Na

Confirmando a repercussão do seu sucesso no ténis mundial, Li na foi eleita uma das 100 personalidades mais influentes do mundo numa eleição realizada pela revista Time. Mas a mais famosa publicação semanal de informação foi mais longe e escolheu-a para figurar numa das sete capas diferentes da edição de 29 de Abril. “É uma grande honra para mim, poder promover o ténis no mundo, especialmente no meu país”, reconheceu a chinesa de 31 anos e primeira tenista da Ásia a vencer um torneio do Grand Slam. A campeã de Roland Garros de 2011 é a segunda atleta da China a aparecer na capa da Time, depois do antigo basquetebolista Yao Ming. Os 627 votos colocaram-na à frente de Serena Williams e Andy Murray, terminando como a única tenista na lista dos mais influentes.

e a única mulher norteamericana a possui-lo. A sua determinação e profissionalismo foram um exemplo para muitos mas foi a sua voz que angariou muitos fãs, em especial, quando anunciava “Time”, conforme se pode ver no vídeo de 2009, em que uma meia/fantoche se apaixona por Welch.

Murray contrata Bhupathi

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Welch desce da cadeira Depois de 22 anos a dirigir encontros da WTA, ATP e ITF, Lynn Welch deixou definitivamente a cadeira de árbitro. Aos 56 anos, a norte-americana dirigiu o último encontro na Family Circle Cup, em Hilton Head, S.C., onde reside e onde iniciou a carreira, em 1991.

Pelo caminho, arbitrou três finais de Wimbledon e 12 do Open dos EUA, incluindo a de 2002 entre as duas irmãs Williams. “Durante muitos anos ocupei o melhor lugar dos estádios. Tem sido uma grande viagem”, constatou Welch, uma dos 28 árbitros em todo o mundo a ostentar o Gold Badge (desde 2003)

A empresa de Mahesh Bhupathi, Globosport, e a que gere a carreira de Andy Murray, Simon Fuller’s XIX Entertainment, formaram uma parceria com vista a explorar oportunidades de negócio na àsia e Médio Oriente. Apesar da popularidade de Bhupathi na Índia e do ritmo de crescimento do país, a XIX Globosport terá uma abrangência global. “Ténis é um grande desporto na Índia e Andy é um grande nome. Mas não estou focado somente


CBS falha na final de Miami A CBS foi alvo de duras críticas por parte dos adeptos norte-americanos que seguiam a final do Sony Open. Andy Murray e David Ferrer disputaram uma final longa e emocionante que culminou num tie-break do terceiro set. Mas no preciso momento em que os dois jogadores se preparavam para iniciar o jogo decisivo, a CBS interrompeu a transmissão, optando pela cobertura do agendado jogo de basquetebol do campeonato universitário, entre Michigan e Florida. Só os felizardos que dispõem do Tennis Channel é que puderam acompanhar a conclusão do encontro.

FERNANDO CORREIA FPT

no mercado indiano”, disse Bhupathi, que irá abandonar o circuito. Do seu currículo constam 12 títulos do Grand Slam em pares, tendo já ganho os quatro majors na variante mista.

Aniversário na sala de imprensa Diz a regra (deontológica) que os jornalistas não devem ser notícia, mas onde há regra, há excepções. Ainda para mais, quando são os jogadores e capitão da selecção portuguesa a “quebrar” o protocolo e a surgir na sala de imprensa do CIF com um bolo de anos para festejar o 34.º aniversário de Pedro Carvalho, press officer da João Lagos Sports desde 2001 e, por inerência, do Portugal Open e das recentes eliminatórias da Taça Davis realizadas em Portugal.

A embaixadora surpresa

Depois de decidir criar o posto de embaixador para promover a marca globalmente, a construtora automóvel Porsche surpreendeu ao escolher… uma embaixadora. Aproveitando a passagem por Estugarda para defender o título na Porsche Tennis Grand Prix, a marca alemã apresentou Maria Sharapova como sua representante para os próximos três anos. Tendo em conta que 88 por cento dos compradores do Porsche 911 são homens, escolher uma das mulheres mais mediáticas no planeta revela-se como bem compreensível. Esta é a segunda vez que Sharapova assina com uma marca de automóveis, pois já em 2006 foi contratada pela Land Rover, só que menos de dois anos depois, a marca foi comprada pela Ford, e a sua imagem colada ao jeep britânico desapareceu.

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COURT & COSTURA

Rafa e Toni Nadal estudam prolongamento da carreira Mats Wilander está a tornar-se no comentador televisivo de ténis que mais aprecio, mesmo se considero John McEnroe um génio, tanto de raquete como de microfone na mão. Wilander tem a preocupação de andar pelos bastidores, a conversar com jogadores, treinadores, empresários, etc. O norte-americano também o faz, mas cheio de certezas, arrogando-se de infalibilidade nas suas análises. Já o sueco levanta questões, deixa pistas e dá a sensação de aprender com os outros. Isso é visível no programa mensal (Mats Point) que assina no Eurosport, bem como a rubrica diária (Game, Set & Mats) nos Opens da Austrália e Estados Unidos, e em Roland Garros. No Mats Point de Abril trouxe-nos conversas descontraídas e enriquecedoras com Rafael e Toni Nadal. Ambos abriram-se em detalhes técnicos que às vezes não abordam com jornalistas, porque vêm Mats como um igual. Sobre as alterações a que poderá ser forçado na sua carreira devido ao desgaste dos joelhos, Rafa admitiu: “Talvez algumas mudanças possam ser feitas no modo como treino, treinando menos ou com menos intensidade, mas nunca mudarei o meu espírito competitivo”. Toni acrescentou: “Na nossa filosofia desportiva, o objectivo primário é vencer. O que pode mudar é o método para se chegar à vitória. Se queremos ganhar, sabemos que teremos de ser um pouco mais agressivos, subir mais à rede e, sobretudo, correr menos, mas os objectivos do Rafa são os mesmos – ganhar”. Iremos ver um novo rei na época de terra batida europeia que há pouco começou?

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HUGO RIBEIRO



PORTUGAL OPEN

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POR TRÁS DE

UM NOME


De Estoril Open a Portugal Open, a mudança de designação do maior evento tenístico nacional implica mais do que possa parecer. Os nomes têm algo de mágico e, no jogo da semântica e da etimologia, um torneio bem designado torna-se especial e mais fácil de ser catapultado para a lenda… Miguel Seabra Foi uma das notícias mais destacadas daquele dia nos meios de comunicação nacional e quem esteve na conferência de imprensa apanhou um susto quando João Lagos deu o dito por não dito ao admitir que, afinal, o Estoril Open não era imortal como ele próprio havia referido numa entrevista meses antes… morreu o Estoril Open, longa vida ao Portugal Open! Vai demorar ainda algum tempo até que as pessoas se habituem, talvez mesmo anos. Afinal de contas, foram 23 as edições sob o nome com que o torneio se estreou no escalão principal do circuito profissional masculino, em 1990, depois de duas edições enquanto Challenger sob a mesma designação em 1987 e 1988 – então na Quinta da Marinha. Estoril era um nome mais internacional devido ao Casino, a um dos filmes de James Bond, ao circuito que então acolhia o Grande Prémio de Fórmula 1 e também, afinal de contas, à Costa do Estoril que designa a zona costeira de Lisboa a Cascais e na qual também se insere a Cruz Quebrada e o seu Estádio Nacional. O nome Portugal Open não é original no que diz respeito ao ténis; tem raízes antigas e também teve a sua utilização na década de 80, com a realização de um evento integrado no Grand Prix (como se chamava o ATP World Tour na altura) em 1983, sob organização alemã, e que teve uma grande final entre Mats Wilander e Yannick Noah que capturou o imaginário dos emergentes adeptos da modalidade nessa altura. Foi sol de pouca dura porque no ano seguinte já não houve torneio, mas a Federação Portuguesa de

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PORTUGAL OPEN

Ténis recuperou o nome para o utilizar em challengers também realizados no Estádio Nacional até ao advento do Estoril Open na temporada de estreia do ATP Tour.

Corte etimológico e não só

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A mudança de nome coincide também com uma nova fase na vida profissional de João Lagos e numa nova etapa da sua empresa; significa igualmente uma espécie de corte com o passado, já que optou por não manter a bordo vários elementos da sua equipa que há muito integravam a organização. Por outro lado, alguma incompreensão pela falta de adesão incondicional por parte da Junta de Turismo da Costa do Estoril, a injustiça face à Câmara Municipal de Oeiras (que sempre apoiou incondicionalmente o torneio e em cujo município se situa o Estádio Nacional) e o sentimento patriótico num momento de grande aperto para o país (afinal de contas, trata-se de alguém cujo toque de telemóvel é o hino nacional…) levaram o director do torneio a equacionar a tal mudança de nome que numa primeira fase até passaria pela convivência dos dois nomes. Mas a ideia de um Estoril Portuguese Open, Estoril Open of Portugal ou algo de parecido foi prontamente abandonada por João Lagos. Paulo Portas foi sondado e considerou boa a mudança de nome para Portugal Open, fornecendo ao director do torneio aquele reforço institucional suplementar… mas não, ao contrário


do que se chegou a dizer (até na Assembleia da República!), não foi o Ministro dos Negócios Estrangeiros a baptizar o evento.

Abrangência

Palmarés Feminino SINGULARES

PARES

2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998

Chuang/Zhang Kleybanova/Voskoboeva Cirstea/Medina Garrigues Kops-Jones/Spears Kirilenko/Pennetta Ehritt-Vanc/Rodionova Li/Sun Li/Sun Husarova/Gagliardi Mandula/Wartuch Bovina/Gubacsi Hrdlickova/Rittner Krizan/Srebotnik Torrens Valero/Ortuno-Andres Dhenin/Loit

Kaia Kanepi Anabel M. Garrigues Anastasija Sevastova Yanina Wickmayer Maria Kirilenko Greta Arn Jie Zheng Lucie Safarova Emilie Loit Magui Serna Magui Serna Angeles Montolio Anke Huber Katarina Srebotnik Barbara Schwartz

Um bom nome é de máxima importância. Talvez tenha lido a peça ‘A Importância de se Chamar Ernesto’, de Óscar Wilde, demasiadas vezes – porque sempre atribui aos nomes, à sua etimologia e à respectiva sonoridade uma importância mágica. Deve ser o primitivo que há em mim, porque acredito piamente que um nome ou uma designação têm um significado transcendente e mesmo os cognomes também oferecem carisma suplementar. Na história do ténis, os nomes tiveram sempre uma importância assinalável. A sonoridade dos nomes Bjorn Borg, Boris Becker e Andre Agassi contribuiu para a sua fama, por exemplo. E quantas vezes um torneio não perdeu força devido à mudança de designação ou a um nome mal atribuído? A tradição anglo-saxónica de utilizar title sponsors em homenagem a patrocinadores principais é conhecida, com as constantes mudanças de patrocinadores a endrominarem o imaginário

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PORTUGAL OPEN Palmarés Masculino

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SINGULARES

PARES

2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990

Qureshi/Rojer Butorac/Rojer Marrero/M.Lopez Lipsky/Butorac Coetzee/Moodie Melo/Sa Dlouhy/Vizner Cermak/Friedl Chela/Gaudio Bhupathi/Mirnyi Braasch/Olhovskiy Stepanek/Tabara Johnson/Norval Carbonell/Johnson Johnson/Montana Kuerten/Meligeni Carbonell/Roig Kafelnikov/Olhovskiy Brandi/Mordegan Adams/Olhovskiy Davids/Pimek Haarhuis/Koevermans Casal/Sanchez

Juan Martin del Potro Juan Martin del Potro Albert Montanes Albert Montanes Roger Federer Novak Djokovic David Nalbandian Gaston Gaudio Juan Ignacio Chela Nikolay Davydenko David Nalbandian Juan Carlos Ferrero Carlos Moya Albert Costa Alberto Berasategui Alex Corretja Thomas Muster Thomas Muster Carlos Costa Andrei Medvedev Carlos Costa Sergi Bruguera Emilio Sanchez

dos adeptos. Houve casos de grande longevidade, como o da cerveja belga Stella Artois – que patrocinava o torneio do Queen’s desde os anos 70 e impunha placares vermelhos no fundo do court que se tornaram emblemáticos. Há um par de anos, entrou em cena a companhia britânica AEGON e logo os placares mudaram de cor… mas não só: a AEGON passou a ser title sponsor de todos os eventos em relva (masculinos, femininos, challengers, ATP, WTA) antes de Wimbledon e a coisa tornou-se uma salganhada. De qualquer forma, o torneio antes designado por Stella Artois ou Queen’s agora é apenas e só conhecido por Queen’s e nunca por AEGON, um nome que mais parece saído da série cinematográfica Star Wars.


Stanislas Wawrinka é actualmente treinado por Magnus Norman, finalista do Torneio de Roland Garros, em 2000

A internet e a banalização

Na era da internet, vários websites tornaram-se mesmo title sponsor de torneios e houve grande celeuma quando sites de apostas (tão perseguidos pelas instâncias do ténis internacional) passaram a baptizar eventos; mas mau mesmo foi o nome compridíssimo de um website que baptizou uma prova americana há alguns anos atrás e que a minha memória se recusou a reter de tão ridículo que era – e também não tenho vontade nenhuma de o ir procurar para o meter aqui, embora valesse uma boa gargalhada. Mas não deixo de relembrar a ridicularia do nome do court principal do complexo que chegou a albergar a Masters Cup (agora designada ATP World Tour Finals mas que também já

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PORTUGAL OPEN se chamou Masters e ATP World Championships) nas edições de Houston em 2003 e 2004. Foi caso para parafrasear os tempos dos astronautas: “Houston, we have a problema” – National Furniture Stadium era um nome plebeu e indigno das vedetas que lá jogaram (e Roger Federer ganhou ambas as edições) por oposição a nomes mágicos como Centre Court, Court Philippe Chatrier, Rod Laver Arena, Arthur Ashe Stadium e… Centralito. O próprio ATP World Tour, que já foi ATP e ATP Tour, tem mexido demasiado nos nomes. Porque é que os Super 9 deixaram de se chamar assim, passando a chamar-se Masters 1000 e banalizando um termo que era mágico no ténis – Masters? Quando a Masters Cup se realizou em Lisboa houve muita gente que só em cima do evento percebeu que se tratava de algo mais exclusivo do que o Masters 1000 de Monte-Carlo ou do Masters 1000 de Paris… até porque as organizações abandonaram o 1000 para destacarem o próprio torneio, apelidando-o simplesmente de Masters, termo que historicamente estava apenas reservado para o torneio dos mestres que reunia os melhores de cada época no final do ano.

“MUITOS DOS TENISTAS INTERNACIONAIS VÃO CONTINUAR A CHAMAR À PROVA ‘ESTORIL’”

Grand Slams e assinatura

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O caso mais emblemático de uma grande competição presa a um nome comercial que foi mudando ao longo do tempo talvez seja o do mega torneio misto que se realiza na ilha de Key Biscayne ao largo da capital da Florida e que só mais recentemente se convencionou dizer que se joga em Miami. É um torneio Masters 1000 masculino e Premier Mandatory feminino: logo aí suscita confusão. Depois, quando o evento nasceu era conhecido oficialmente por Lipton Championships e os jogadores apelidavamno de Lipton; mais recentemente passou para Sony Ericsson Open com uma cláusula que impedia mesmo a designação Masters 1000 e agora designa-se apenas Sony Open. Ainda bem que os torneios do Grand Slam não estão sujeitos às vicissitudes de um title sponsor, se bem que importe recordar que o Open da Austrália ainda não há muito tempo era oficialmente designado Ford Australian Open, quando lutava por autonomia económica e seguia na cauda dos eventos do Grand Slam, com


japoneses e alemães à procura de lhe roubar o estatuto. É difícil de prever que o Portugal Open nunca venha a precisar de adoptar um title sponsor, para mais em tempos tão financeiramente conturbados como os que atravessamos – João Lagos já recebeu propostas nesse sentido ao longo da última década, mas nunca aceitou… O certo é que vai ser estranho regressar ao Jamor para o Portugal Open e não para o Estoril Open. Muitos dos tenistas internacionais vão continuar a chamar à prova ‘Estoril’, porque é esse o seu hábito – designar eventos pela sua localização (e, internacionalmente, instalou-se a ideia de que o evento é no Estoril) e não pelo título. A designação Portugal Open também tem sido utilizada em outras modalidades; como em quase tudo na vida e sobretudo na história dos nomes, só o tempo ajudará a firmar uma nova assinatura e a torná-la indissociável do maior evento tenístico nacional.

Na segunda e última visita ao Jamor, em 2007, Marion Bartoli atingiu os quartos-definal

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PORTUGAL OPEN

27 de Abril a 5 de Maio de 2013 LISTA DE INSCRITAS WTA Rankings de 18 de Março de 2013

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*Wild card NOTAS: O quadro principal terá um total de 32 jogadoras. Desse lote, 24 têm entrada directa através do ranking individual, sendo que da fase de qualificação são apurados quatro jogadoras, juntando-se à melhor grelha de participantes quatro wild cards – dois deles destinados a atletas do top 20, assim surjam jogadoras elegíveis para tal.

Pos. Nome Marion Bartoli Anastasia Pavlyuchenkova Carla Suarez Navarro Sorana Cirstea Varvara Lepchenko Elena Vesnina Tamira Paszek Urszula Radwanska Alize Cornet Shuai Peng Yanina Wickmayer Yaroslava Shvedova Laura Robson Heather Watson Kaia Kanepi Kiki Bertens Ayumi Morita Monica Niculescu Francesca Schiavone Irina-Camelia Begu Kristina Mladenovic Sofia Arvidsson Lucie Hradecka Lourdes Dominguez Lino Julia Goerges * Svetlana Kuznetsova * Maria João Koehler*

País França Rússia Espanha Roménia EUA Rússia Áustria Polónia França China Bélgica Kazaquistão Grã-Bretanha Grã-Bretanha Estónia Holanda Japão Roménia Itália Roménia França Suécia Rep. Checa Espanha Alemanha Rússia Portugal

Rank. 14ª 19ª 23ª 26ª 27ª 29ª 31ª 32ª 33ª 34ª 35ª 37ª 38ª 39ª 40ª 41ª 43ª 46ª 48ª 50ª 51ª 54ª 57ª 59ª 30ª 42ª 105.ª


27 de Abril a 5 de Maio 2013 LISTA DE INSCRITOS ATP WORLD TOUR a 18 de Março de 2013 Nome Juan Martin del Potro Stanislas Wawrinka Andreas Seppi Juan Monaco Fabio Fognini Kevin Anderson Julien Benneteau Benoit Paire Horacio Zeballos Denis Istomin Daniel Gimeno-Traver Victor Hanescu Paolo Lorenzi David Goffin Carlos Berlocq Albert Ramos Alejandro Falla Gilles Muller Pablo Andujar Gastão Elias* Pedro Sousa*

País Rank. Argentina 7º Suíça 17º Itália 18º Argentina 20º Itália 24º África do Sul 27º França 32º França 33º Argentina 40º Uzebequistão 49º Espanha 51º Roménia 55º Itália 61º Bélgica 62º Argentina 63º Espanha 64º Colômbia 65º Luxemburgo 68º Espanha 93º Portugal 113º Portugal 218º

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*Wild card NOTAS: O quadro principal terá um total de 28 jogadores. Desse lote, 19 têm entrada directa através do ranking individual, sendo que da fase de qualificação são apurados quatro jogadores, juntando-se à melhor grelha de participantes três wild cards. Duas vagas serão preenchidas pelo estatuto de ‘special exempt’.


ENTREVISTA Empresário, empreendedor, optimista, inconformado… muitos são os adjectivos que podem lhe ser colados depois da leitura desta entrevista, mas há “um” substantivo que a resume: João Lagos é um “homem do ténis”. Um homem que mostra não se deixar abater por crises, internas e externas, antes pelo contrário, vê nelas desafios e oportunidades para continuar a desenvolver a sua actividade, da qual o ténis português tem amplamente beneficiado. Hugo Ribeiro, com Pedro Keul

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JOÃO LAGOS «TIVE VÁRIAS

OPORTUNIDADES DE VENDER O ESTORIL OPEN»


gostasse, havia quem tivesse pena que não Será que vale a pena apresentar João Lagos pudesse ser lá pelo Estoril, mas o certo é que a leitores de uma revista de ténis? Julgo que não havia condições. Mesmo quando nasceu não. Se Pinto da Costa é o Papa do futebol o novo Clube de Ténis do Estoril não nasceu português, João Lagos é seguramente o Papa com a preocupação de um dia poder vir a do ténis nacional e provavelmente mais receber o Estoril Open. O Estádio Nacional conhecido no meio tenístico luso do que o foi o local mais próximo que encontrámos verdadeiro Papa Francisco. com espaço e condições para o torneio. Os três jornalistas que escrevem na Quando começámos como Challenger, até o MatchPoint Portugal trabalham ou fizemos na Quinta da Marinha. Mas a partir trabalharam nas suas empresas, conhecemde 1990, como torneio do ATP Tour, não no bem, há muito tempo, embora preservem era possível. Agora estamos uma vez mais a sua liberdade editorial, e devido a muito perto de uma concretização de um essa familiaridade a entrevista foi muito novo estádio, à beira dos 25 anos do torneio. mais longa e animada do que qualquer Mas nunca senti por parte dos responsáveis transcrição possa transparecer. da marca Estoril um verdadeiro interesse. O legado de João Lagos no ténis português é de tal forma volumoso que faz dele um crónico entrevistado. Não é possível falar de tudo João Frederico Hopffer numa única entrevista e esta, Rodrigues Lagos às portas da cimeira anual do Jamor centrou-se apenas em Idade: 68 anos dois temas: a mudança de nome Data de nascimento: 1 de Setembro de 1944 de Estoril para Portugal Open e Naturalidade: Lisboa a evolução do longo e arrastado Residência: Cascais e Carnaxide processo de infra-estruturas Profissão: Treinador e empresário definitivas para o principal Como jogador: 3 vezes campeão nacional de singulares e 8 em pares. torneio português. No futuro, Como treinador: Fundador da Escola de Ténis João haverá seguramente novas Lagos, Academia de Ténis João Lagos, Lagos Team e entrevistas com João Lagos. capitão da Taça Davis. PP:Conte-nos como foi esse processo de mudança de nome de Estoril Open para Portugal Open. RR:Houve sempre algum desconforto com o nome Estoril numa prova realizada no concelho de Oeiras. Havia quem

Como dirigente: Fundador da Associação de Ténis de Lisboa; Director de torneio em múltiplos eventos, incluindo Estoril Open e Portugal Open; Presidente da Lagos Sports. Como empresário: Promotor de circuito nacional de ténis, circuitos satélites ITF, Futures, Challengers, torneios do WTA Tour e ATP World Tour, incluindo a Tennis Masters Cup em 2000. Fora do ténis, organizou eventos de primeira grandeza internacional e nacional nas modalidades de golfe, surf, automobilismo, vela, motonáutica, hipismo e ciclismo.

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ENTREVISTA Poderia até ser uma atitude táctica, para evitar maiores investimentos. Claro que houve alturas em que as forças vivas locais gostaram mais. Parece um contra-senso, mas foi na presidência do [José Luís] Judas que o Estoril Open foi mais bem tratado pela Câmara Municipal (CM) de Cascais. Não estou a falar aqui do Turismo de Portugal (TP). Portanto, a dada altura, senti que andávamos ao sabor das vontades do momento. Agora deu-se um conjunto de coincidências. A crise económica levou a colocar tudo em causa, a própria continuidade do projecto, que custa muito dinheiro. Mas também a coincidir com a interrupção do patrocínio do banco Espírito Santo (BES), que raramente foi o principal patrocinador mas que se manteve por 22, 23 anos, era contínuo, provocando uma conotação grande com o evento. O próprio TP anunciou fortes reduções nos apoios a eventos e o Estoril Open foi na onda dos que levaram por tabela e não recebe apoio do TP desde o ano passado – quanto a mim uma injustiça e um erro técnico profundo. Perante isso – dadas as minhas preocupações em trabalhar por Portugal, pela imagem do país, como se viu por outros mega-eventos que organizei em que o grande beneficiado foi sempre o país –, neste contexto, repensei tudo, fiz uma espécie de corte com o passado e decidi deixar de ser Estoril para ser Portugal. É uma marca universal, global. Estudos complexos feitos por entidades independentes como a Price Waterhouse

Coopers (PWC) mostraram que a marca Estoril recebeu milhões de retorno com a associação ao torneio. Foi no ano passado que fui forçado a fazer esse estudo para a candidatura da Volvo Ocean Race e ao negociarmos com a PWC e aproveitei para incluir no estudo o Estoril Open. Nunca recebemos nada, nem uma ínfima parte disso. Nem o exigíamos, mas lutámos por critérios estáveis, que não andassem ao sabor de políticas conjunturais, no fundo, como conseguimos trazer para os investimentos públicos no golfe, no Open de Portugal. No golfe isso estabilizou, com o Estado a garantir os prémios monetários e o custo da transmissão televisiva. Para o Open de ténis gostaríamos de ter um critério definido, fosse ele qual fosse. Na minha opinião, o Open de ténis tem números de horas de transmissão televisiva semelhante ao Open de golfe, mas não são só as horas que interessam, são as audiências e quando há um craque português ou um Roger Federer a jogar as audiências elevam-se e os investimentos levam isso em consideração. Há que caminhar para uma clarificação destes critérios e o novo nome poderá ajudar. A juntar a todas as razões, estamos com o país a precisar de reconhecimento externo. Andamos nas bocas do Mundo pelas piores razões, com resgates, tróicas, e ao menos haja alguma coisa que regularmente, todos os anos, coloque o nome do país lá em cima, dando um contributo à economia, ao turismo, à imagem do país. Tive oportunidade de discutir isso com o

“O ESTORIL OPEN TEM VIVIDO SEM UM VERDADEIRO MAIN SPONSOR”

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ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, que tem feito um trabalho nesse sentido e ele acarinhou a ideia. PP:Tem tentado passar a ideia de que Paulo Portas foi uma espécie de padrinho da ideia RR: Vamos lá a ver uma coisa, é uma decisão minha. Não tive de pedir licença a ninguém, não fiz referendo, não fui à Assembleia da República. O Open é uma criação minha e tal como o meu telemóvel tem como música de toque o hino nacional sem ter sido obrigado a isso, também mudei o nome do torneio para Portugal. Mas para não dizerem que não passo cartucho a ninguém, falei com a pessoa que tem andado a promover pelo Mundo o nome de Portugal. PP:Falou também com o seu amigo Marcelo Rebelo de Sousa antes de tomar a decisão?

RR:Claro que sim e ele deu-me a máxima força e disse-me que era quase indiscutível. Mas o Paulo Portas, por exemplo, disse-me: “Lembra-te só de que poderás estar a fazer um mau negócio, porque criaste uma marca, o Estoril Open, com mais de vinte anos de reconhecimento”, e é claro que essa marca é associada a qualidade, prestígio, tem um valor intrínseco à marca Estoril Open, é um activo. Mas não andei a pedir conselhos a técnicos de marketing ou a assessores de comunicação. E a melhor prova que tive foi a ovação espontânea quando anunciei o nome na apresentação oficial. PP:E como a Câmara Municipal de Oeiras reagiu a esta mudança de nome? Como já vos disse, havia algum desconforto e foi agravado no ano passado. Como sabem, tive uma intervenção estranha na gestão da empresa, com capitais de risco que mandaram mais do que eu durante algum tempo. E no meio disso tudo, convidaram o presidente da CM de Cascais, o meu grande amigo Carlos Carreiras, a entregar um prémio no Estoril Open, nas barbas do presidente da CM de Oeiras, o que provocou um malestar tremendo. Só me apercebi disto mesmo em cima da hora da distribuição dos prémios. Isso ajudou-me a decidir que estava na hora

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ENTREVISTA de colocar as coisas como deveriam ser. Além disso, vislumbra-se a curto prazo a possibilidade de as instalações do Jamor ficarem definitivamente na esfera do Open. Isso também justificaria que se repensasse a questão do nome. Porque fixar-se no Jamor e chamar-se Estoril digamos que foi um conjunto de situações que me levaram a dar uma volta, para dar um nome neutro, que é de todos. Como é no Jamor, é o Portugal Open em Oeiras. E Oeiras pode não ter grande notoriedade internacional, mas não há razão nenhuma para não ter, tendo em conta a excelência autárquica que atingiu. A obra feita nesta autarquia é única no país e exemplar a todos os níveis. PP:Foi uma decisão difícil, mudar o nome? Claro que sim, há uma empatia com a marca Estoril. Veja-se o que tenho feito ao longo dos anos, com os Open de golfe, o clube de futebol que salvei do buraco e depois fiz questão de deixar em muito boas mãos. E tenho a noção de que o Estoril Open tirou o ténis português do marasmo e é um instrumento brutal de propaganda da modalidade. 30

PP:Mas esclareça-nos o seguinte, este Portugal Open vai reclamar toda a história do Estoril Open? Vamos ter bodas de prata? RR:Claro que sim! É o meu Open, é o Open, mudou de nome mas é o mesmo torneio que o Lagos inventou. Vamos chamar 24.ª edição, 25.ª, assim eu as consiga fazer.

PP:Quando anunciou esta mudança de nome, houve dois jornalistas credenciados, o Manuel Perez e o Norberto Santos, que recordaram a existência de um Open de Portugal em 1983. A minha questão é se este Portugal Open se reclama também do passado desse Open de Portugal, porque, lembro-me, na altura o João era contra esse torneio e até escreveu sobre isso em editoriais do Jornal do Ténis. RR:Não há ligação nenhuma. O Open de Portugal durou apenas um ano, porque um alemão caiu de pára-quedas e, tal como eu previa, aquilo morreu. Até teria sido bom para o ténis português que se tivesse mantido, mas era previsível e por isso insurgi-me. Ele veio cá porque não conseguiu fazer o torneio na Alemanha, tinha a data fixa mas o pavilhão tinha uma feira marcada e não deixaram o ténis ir para lá. Ele tinha de fazer o torneio para não perder a data e veio para cá, mas vi logo que depois iria embora, de volta para a sua terra. Também não gostei porque tinha-me empenhado a fundo na criação da Associação de Ténis de Lisboa para que o Armando Rocha pudesse ser eleito presidente da Federação Portuguesa de Ténis (FPT). Não foi fácil, mas lá consegui. Ele tinha sido director-geral dos Desportos, estava interessado, era preciso alguém que quisesse trabalhar e lá fomos em frente. E pouco tempo depois de ser eleito fez isto. Tinha todo o direito de querer ter um Open, mas seria normal que me avisasse e não me disse nada. Como é que eu soube disso? Pela Água de Luso, porque foram atrás


dos meus patrocinadores. Naquela altura era ainda mais difícil arranjar sponsors e os meus apoiavam torneios de miúdos e circuitos satélites que eram essenciais para o crescimento da modalidade em Portugal. Cheguei ao ponto de fundar o Jornal do Ténis para que alguém falasse desses eventos e desse retorno aos patrocinadores. É claro que se as empresas entrassem numa coisa grande, teriam mais retorno e deixavam os pequenos. Insurgi-me contra isso e não me enganei, com a agravante de terem ficado contas por pagar. No ano a seguir, cancelaram o Open de Portugal mesmo em cima do acontecimento e Portugal levou com uma cruz em cima do circuito profissional masculino. Não foi o alemão quem ficou mal visto, foi Portugal porque cancelou o Open.

PP:Internacionalmente, a mudança de nome não tem quaisquer consequências negativas porque ambos os circuitos estão habituados a operações deste género. Aliás, os dois Masters de ténis, quer o masculino, quer o feminino, passam a vida a alterar a sua designação oficial. Confirma? RR:Não prejudica nada. É uma prerrogativa que me assiste e decidi mudar de nome. Consultei muita gente e só tive opiniões favoráveis. A única confusão que criou ao ATP World Tour foi na inscrição, onde aparece o nome do local, nós tínhamos Estoril, tal como Roland Garros tem Paris e o US Open tem Nova Iorque. E nós agora inscrevemos como Portugal Open no nome e

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ENTREVISTA no local está Jamor, Oeiras. Mas o local é o mesmo onde sempre foi. PP:E em termos de hotel oficial? Teve sempre a preocupação de ir para a zona de Cascais e Estoril e depois, nas redes sociais, os jogadores elogiavam sempre o alojamento, o que era óptimo para imagem e para o turismo? RR:Com esta mudança de nome posso ir agora para onde quiser. Este ano, por exemplo, vou para Lisboa, para o D. Pedro, onde temos melhor preço, conseguimos melhor negócio. E os jogadores irão adorar o hotel. Muitos vão gostar de ter o Amoreiras mesmo em frente, estão perto da Baixa, da noite de Lisboa, a oferta da capital é única e depois, quando forem para o torneio, irão sempre no sentido contrário do trânsito. Grande vantagem é ter juntos as jogadoras e os jogadores, quando, no passado, estavam em hotéis diferentes.

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PP:A mudança de hotel por questões de gestão de recursos leva-me a perguntar-lhe como está a saúde financeira do torneio. No curto prazo percebe-se que o Portugal Open consegue sobreviver sem um grande patrocinador. E a médio e longo prazo? É sustentável sem um grande sponsor? RR:O Estoril Open tem vivido sem um verdadeiro main sponsor. Fala-se muito do BES mas atenção que não era o que

chamamos de main sponsor, era um grande patrocinador, isso sim, mas muitas vezes era tão grande como a PT ou outros. Como sabem, nunca tivemos um title sponsor. Foi sempre Estoril Open. Às vezes dei ao BES esse protagonismo mas não é como Miami que foi Lipton Championships e depois Nasdaq e Sony Open. Esses são os verdadeiros main sponsors. E se nunca tivemos foi porque o seu valor nunca foi coberto por nenhuma empresa. Aí não aceito saldos, não desvalorizo o valor do nome do torneio. Mas fiquei feliz por as pessoas em geral terem associado o Estoril Open ao BES. Foi um caso único de fidelização em Portugal, uma identificação durante 23 anos. PP:Já o ouvi comparar o Estoril Open a um filho, também ouvi compará-lo a um encontro de ténis. Poderemos dizer que nesta fase da sua carreira, o Estoril Open, que já viveu sucessos brutais - como as vindas do Roger Federer, com 50 mil espectadores


RR:Sinto como se estivesse na final do US Open, onde há tie-break de quinto set, e estamos num daqueles tie-breaks intermináveis, como aquele duelo do John Isner e do Nicolas Mahut de mais de 11 horas. Parece que isto nunca mais acaba, mas sei que é para ganhar, só pode ser para ganhar. No dia em que acontecesse a impossibilidade de fazer o Open, do ponto de vista sentimental, imaginam o que seria para mim, mas acho que o desporto em Portugal perderia muito mais do que eu. Ficaria com uma grande tristeza, manteria luto durante três meses, mas depois a vida continuaria. O ténis é que ficaria desprovido de algo extremamente importante e difícil de colmatar. E depois, para regressar ao ATP World Tour poderia ser como o Grande Prémio de Fórmula Um que não voltou. Gostaria que uma multidão de adeptos viesse, mostrasse uma preocupação tão grande como a minha, para provar a importância que o evento tem. E nesse sentido, a mudança de nome também é uma chamada de atenção. Veja-se o que aconteceu quando o Frederico Gil chegou à final. Foi uma amostra do que o país sente quando vive um momento daqueles. Pode ser em Oeiras, mas há televisão nacional, toda a gente vê e participa. Não me esqueço que na altura havia um jogo de futebol decisivo

na Luz, se o Benfica ganhasse era campeão e todos no estádio estavam a ver o Gil nas televisões. Foi fantástico. Portanto, as pessoas importam-se. Mas como poderemos ter isto mais vezes? Como ter dez Gils e não apenas um? Toda a gente cresce, até vocês, os media. O Open mexe com isto tudo. Há tanta gente que passou pelo Open e que depois foi contribuir para outros lados com know-how aqui adquirido, fazendo crescer outros projectos. É um produto que interessa a todos. PP:Há dois anos chamou os media à sua sede e anunciou-nos que tinha um grande passivo, na altura falouse em 13 milhões de euros, e que a solução iria passar por um capital de risco que envolvia o BES e o TP. O que se passou desde então, porque parece que este Portugal Open já não será feito com essa fórmula? DR

numa semana - era como se tivesse ganho os dois primeiros sets de uma final; entretanto aparece esta crise dos últimos anos, perde os dois sets seguintes e sente que agora vem aí o quinto set, o decisivo para o futuro deste encontro, deste Estoril/ Portugal Open?

RR:Esse capital de risco esteve aqui mais de dois anos e em finais do ano passado, conforme tinham entrado, conforme saíram. O papel dos capitais de risco é estarem nas empresas para um determinado período PP:… e conseguiu-se o que desejava, de controlar o passivo, reduzi-lo? RR:Naturalmente que sim. Tinha quatro anos para recuperar a empresa e consegui fazê-lo a meio do percurso. Estou de novo sozinho, não tenho intervenções externas, está resolvido. A Lagos Sports reformulou toda a sua dívida e apresentámos resultados de 2012 que eu diria muito saudáveis, a fazer inveja a muito boa gente. Continuamos

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ENTREVISTA a sentir dificuldades, a ter de ganhar para cobrir os custos, a pagar a nossa estrutura. É difícil mas viável. PP:Li num artigo do Pedro Keul no Público que os seus filhos entraram para a Administração da Lagos Sports. Isso é sinal de que está a preparar a sua sucessão num projecto de continuidade do Open? RR:É o ciclo normal que qualquer organização tem de prever. Quem vai continuar? Quem fica cá? Por mais que estiquemos a corda não vamos ficar cá para sempre. Há aqui uma preocupação, mas há também um gosto por esta actividade. Os meus filhos nasceram no meio, gostam, embora também tenham outros interesses e abraçaram outros projectos profissionais. Mas têm paixão pelo desporto e percebem as coisas do ponto de vista técnico, foram educados neste sentido, em casa e na Escola Americana, depois em Universidades Americanas onde o desporto está sempre muito presente. Podem não conhecer tão bem como eu o ténis, porque sou curioso, vou aos ínfimos pormenores e esta foi a minha vida. Mas ambos jogaram muito bem ténis, tal como muitas outras modalidades e têm conhecimentos fortes de como outras modalidades se organizam internacionalmente. Eu gosto de ver que há neles vida para além de mim, também nesta área.

PP:Como sabe, a nossa entrevista anterior foi ao presidente da FPT, Vasco Costa, que, depois disso divulgou publicamente o passivo da FPT, de 702 mil euros. Ora o Vasco Costa explicou que durante o seu mandato será muito importante transformar o Estádio Nacional numa fonte de receitas para a FPT. Disse-nos também que tem dialogado muito consigo e que não enjeita a possibilidade de um projecto conjunto, embora também possa apresentar um projecto separado. Que conversações são essas? Há mesmo um interesse de ambos num consenso? Ou vamos ter propostas concorrenciais?

“E SE FOR EU A PAGAR? SE FOR EU A INVESTIR?”

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RR:Tenho um interesse de longa data naquele espaço. Desde que tenho essa possibilidade de negociar isso com o Estado que é o dono - sempre foi minha intenção trazer a FPT comigo. Reconheço que a FPT em princípio não tem a vocação de se meter em negócios que impliquem o chamado risco de investimento. E o cuidado é maior porque não se pode explorar um espaço público do mesmo modo como se gere um projecto privado. A principal razão que me leva a ter interesse no Jamor é ser absolutamente indispensável para o Open ter instalações permanentes. Sobretudo um estádio permanente, com conforto para os espectadores. Quanto melhores condições, mais satisfaremos os clientes do ténis. É ali que estou desde o início e gostaria de continuar e de usufruir da vantagem de ter habituado as pessoas


a irem ali ao longo dos anos para verem o Open. Só tenho interesse no Jamor se puder fazer isto. Não tenho interesse nenhum para ir alugar campos. Não sou candidato a isso. Melhor dizendo: sou tão candidato a isso como qualquer outra entidade num dia em que fosse aberto um concurso para esse efeito. Aí estaria em pé de igualdade com todos. Durante anos esperei que fosse possível fazer o estádio com investimento do Estado, como em tempos se investiu no estádio de futebol, nas piscinas, em tudo o que o Jamor tem, porque nunca houve investimentos privados neste espaço. Até que um dia disse: então e se for eu a pagar? Se for eu a investir? Poderei fazêlo aqui? Tendo investimento, tanto poderia fazer ali como noutro sítio. Até seria mais fácil porque era o dono do terreno se o comprasse ou se alguma autarquia me oferecesse - e podem crer que não faltariam. Aqui, será necessário obter a concessão durante muitos anos para poder recuperar o valor investido e remunerar o capital. Ninguém investe a fundo perdido. Este é o meu projecto. Não me parece que seja o da FPT, nem seria possível, seria megalómano. Se o Estado estiver disponível para que eu faça isto, o projecto é de tal forma abrangente e polivalente que terá de ser rentabilizado com outras actividades. Não se investem 50 milhões de euros ou algo assim para se usar uma vez por ano. Ora quem tem competência para criar essa animação? Bem, eu sou o campeão dos eventos. Nessa altura irei inventar eventos para rentabilizar o espaço. Isto sai fora da alçada da FPT. Agora, eu não vou fazer só um estádio. Isto é um todo. Faz sentido ter o estádio e o resto. Tomar conta do resto.

Não é quando estiver a chegar o Open andar preocupado se os campos estarão em bom estado porque a manutenção está ao cuidado de outros. Nesse caso, já disse à FPT que lhe dou condições para tudo, para todas as actividades, todos os treinos, selecções, disponibilidade total e prioridade absoluta. Oferecemos à FPT uma nova sede, podem sair de onde estão e damos o espaço que necessitarem. Mas é óbvio que tenho de ser eu “o dono da bola”. Caso contrário, não arranjo financiamento. PP:Ficando a Lagos Sports a gerir o ténis do Estádio Nacional, com esse novo projecto que falou, precisaria de garantias de longo prazo? RR:Imaginem que quero negociar com uma marca no nome do estádio. Vale o que vale, mas vou para a frente com isso. É claro que só é possível num projecto de 10, 15 ou 20 anos. O estudo económico que apresento aos financiadores tem de ter esta garantia. Estes projectos podem não ter dinheiro à partida mas definem como é que o dinheiro aparece. É como os camarotes. Há que saber quantos são, multiplicá-los pelos anos do projecto e sabe-se quanto entra por ano dessa fonte de rendimento. Isto não é um projecto para uma federação. Mas nós podemos fazer muito pela FPT. PP:E como se conjuga esse seu projecto com o CAR, que é tão caro ao poder político e que já tem um orçamento público específico para aquele espaço? Até porque fala-se que o CAR poderá ser transformado numa academia, para gerar receitas próprias.

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ENTREVISTA

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RR:Para treinos de selecções, de jovens, etc. isso não é uma actividade comercial. É uma actividade que as federações têm. Que eu saiba a Federação Francesa de Ténis, por exemplo, não anda a vender o mesmo que a Academia Bollettieri. Não me parece que seja esse o desejo do Vasco Costa ou da FPT. É evidente que se eu disponibilizo à FPT um espaço para as suas actividades não é para haver concorrência à actividade económica da exploração de um projecto destes. É incompatível. A FPT quer receitas para suportar as suas despesas. E eu quero que a FPT tenha a sua vida o mais saudável e confortável possível. Vou revelar coisas mas que mais tarde ou mais cedo se saberão, não é segredo nenhum. Mas vamos às receitas de utilização dos campos. Se fosse um clube havia quotas e jóias, mas sendo público poderemos dizer que para se jogar ali há que ser-se federado. É uma quota indirecta para a FPT. Eu estou a tramar o meu negócio porque pode haver uns turistas que só queiram jogar e eu posso perdê-los. Mas vou fazer uma tal diferenciação de preço entre federado e não-federado que à segunda ou à terceira qualquer um filia-se na federação. E dos outros não federados que forem jogar, posso pagar à FPT uma percentagem por cada aluguer de campo. Com iluminação, se alugarmos courts de manhã à noite, são receitas a considerar. Criamos formas indirectas de financiamento da FPT. Por um lado, reduzimos custos, pois a FPT tem uma nova sede e nós pagamos os custos fixos, e, por outro lado, arranjamos receitas indirectas, promovendo o aumento do número de filiados. Posso também propor à FPT, como meio de reduzir custos, organizar todos os campeonatos da FPT. Já o fiz no passado. Andamos

hoje em dia com Campeonatos Nacionais em sítios afastados só para fugir a despesas. Porque custa fazer um campeonato PP:Para si deve ser estranho ver anos seguidos de Campeonatos Nacionais sem prémios monetários, porque lutou toda a vida para que os profissionais tivessem maneira de ganhar a sua vida. RR:Pelo menos Campeonatos Nacionais em que os melhores jogadores joguem. Eu fui campeão de Portugal e hoje em dia não dou


valor nenhum a isso. Na altura os melhores jogavam, mas agora? Ser-se campeão nacional sem os melhores? Chamem aquilo outra coisa qualquer. Mas voltando à questão de gerar receitas para a FPT, o mais normal é que eu crie uma empresa para a gestão do projecto. Não seria normal que fosse a mesma empresa que organiza os torneios. E para essa nova empresa eu convido a FPT a ter assento no Conselho de Administração. Ter um administrador. Participa, sabe tudo o que se passa, conhece as contas.

SE NÃO TIVESSE HAVIDO ELEIÇÕES PARA A FPT ISTO ESTARIA TUDO FEITO, PORQUE HAVIA ACORDO COM A ANTERIOR DIRECÇÃO PP:Já falou do seu projecto de gestão e já várias vezes apresentou o projecto arquitectónico do estádio e zonas circundantes, mas como está neste momento a possibilidade de isso ir para a frente? Que evolução houve ao que anunciou no Estoril Open do ano passado? RR:Hoje em dia há um avanço muito grande, há um consenso sobre o aumento da área, o espaço do ténis é uma área maior do que a actual, os acessos são melhorados,

alargando traçados: por exemplo, o que vai para Linda-a-Velha. Está praticamente aprovado pelo IPDJ, pela CMO, Estradas de Portugal, temos o trabalho feito e aprovado, que é o mais importante. Se não tivesse havido eleições para a FPT isto estaria tudo feito, porque havia acordo com a anterior Direcção, mas o protocolo que tenho de fazer com o Instituto Português do Desporto e Juventude e a Secretaria de Estado do Desporto e Juventude obriga-me a estar entendido com a FPT. Nem eu quero de outra maneira e faz sentido que haja entendimento das partes. Aliás, anteriores presidentes da FPT como o Corrêa de Sampaio e o Cordeiro dos Santos podem testemunhar que já lhes tinha prometido que se não ficasse no Estádio Nacional e se fosse resolver a minha situação noutro sítio iria oferecer na mesma tudo à FPT. O Estado está ansioso de resolver a situação e a CM de Oeiras, se formos nós, está disposta a entrar com cinco milhões de euros no projecto. PP:Vê algum dia, depois de novas infra-estruturas, a hipótese, o desejo, de o Portugal Open crescer para um ATP World Tour 500 ou para um WTA Premier, ou prefere o figurino de 250 e Internacional e depois ter figuras fortes contratadas? RR:Somos uns dos poucos torneios combinados, quando puxei por essa ideia eram sete. Só não cresço ou desenvolvo mais porque a sustentação económica, num país pequeno como nosso, com poucas marcas nacionais com capacidade de investir em comunicação e marketing… já me dou por

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ENTREVISTA feliz por ter o que tenho. Puxo mais ou menos em termos de jogadores de ano a ano, de acordo com os patrocínios angariados e do envolvimento do Estado. Mas atenção que o meu 250 é melhor do que alguns dos 500. Já fiz essa análise várias vezes ao longo dos anos e muitas vezes o meu quadro é melhor. Portanto, mesmo mantendo um 250, posso ser mais forte ainda. Mas como reforço essa posição? Lá está, voltamos ao mesmo, tendo um estádio, com conforto, havendo sessões de manhã até ao fim do dia, já nem digo sessão nocturna, mas ter um encontro a começar às 19 ou 20 horas, aí, teria muito mais receitas. Durante o dia as pessoas estão a trabalhar. Tantas vezes gozam que as pessoas vão ao torneio, almoçam, andam a correr, não vêem ténis, mas muitos estiveram a trabalhar até à hora do almoço e depois têm de regressar. Mas mesmo essa receita do almoço, passa a existir também no jantar, até com um espírito mais familiar e menos de negócios. Isso faria com que o Open pudesse estar mais dependente da bilheteira do que dos patrocínios.

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PP:Não teria sido mais fácil chegar a esta fase da carreira e viver como um senador do ténis a nível internacional, vender o Estoril Open em vez de abraçar os novos desafios do Portugal Open, agarrar no dinheiro, pagar dívidas e não ter mais preocupações até ao final da vida? Até a família Djokovic fez isso recentemente com o torneio de Belgrado. RR:Isso era a solução mais simples. Mas não é isso que me motiva. Se pudesse vender

isto e ficasse a obrigatoriedade de ser sempre organizado em Portugal mas no dia em que vendesse isto, quem comprasse o torneio, na primeira oportunidade, encaixava isto noutro sítio qualquer. Tive várias oportunidades de fazê-lo. O torneio de Memphis que foi comprado e foi para o Rio de Janeiro, por exemplo, se eu quisesse, teria ido eu. Mas não estou para aí virado. Quero que o meu país tenha um grande Open de ténis e que isso seja um dos motores do desenvolvimento da modalidade e dê grandes contributos. Há muitos outros negócios para se fazer. Desde que cheirei a crise, meti-me noutras coisas que não o desporto. Se calhar, não se falando disso, posso até vir a morrer muito rico completamente à margem do ténis. Para ganhar dinheiro, é mais por aí do que por aqui. PP:E também não se está a ver reformado. RR:Tenho a certeza absoluta que por gostar desta vida, para mim, não vai haver reforma. Vou sair do trabalho para a morte. Este é o meu modo de vida. Reformar-me para quê? Para ir para a bancada? Isto dá-me gozo.



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SER

PROFISSIONAL NÃO É SÓ BATER NA BOLA


A Universidade ATP foi inaugurada em 1990, no ano em que nasceu o ATP Tour. Mais de 850 jogadores já participaram na acção de formação e nenhuma estrela tem “escapado”. Todos os jogadores devem ir lá uma vez na sua carreira e têm de fazer os testes. Hugo Ribeiro Em 2007, quando Bjorn Borg veio ao Vale do Lobo Grand Champions pela segunda vez, após ter sido o padrinho da edição inaugural, em 2001, não se falava de outra coisa senão da sua vontade de, no ano anterior, em 2006, vender os troféus das cinco vitórias em Wimbledon e seis em Roland Garros. Apesar de ter sido um dos mais bem sucedidos tenistas da história e de ter sido o desportista mais rico do Mundo no início dos anos 80, que em tempos investira parte da sua fortuna em ouro e diamantes, estava a ser perseguido pelo fisco sueco, as suas empresas tinham ido à falência, pagara elevadas somas em divórcios e fora mesmo forçado a vender um arquipélago ao largo de Estocolmo, um dos seus mais extravagantes luxos. Como o próprio nos contou em Vale do Lobo, a história resolveuse porque o amigo John McEnroe telefonou-lhe e convenceu-o a não vender os troféus, dizendo mesmo que se fosse preciso, ele comprálos-ia ao jeito de fiança. Depois disso, aquele ídolo de multidões nos anos 70 e 80 do século passado foi contratado para uma série de torneios do ATP Champions Tour, uma nova empresa de “underwear” com a sua assinatura prosperou e hoje “Ice-Borg” anda de cabeça bem erguida. Mas quantos casos conhecemos de grandes campeões caídos em desgraça, por não terem acautelado em tempo a sua reforma, com investimentos minimamente seguros? Este é apenas um dos muitos alertas que os jovens jogadores de ténis recebem do ATP World Tour quando as suas carreiras começam a consolidar-se e quando tudo indica que o profissionalismo será o seu futuro mais próximo. “Deram-nos uma noção de como deveríamos gerir a nossa carreira e apresentaram-nos o exemplo de um pugilista que confia todos os cargos importantes a amigos de infância e a dada altura tinha uns 20 tipos a trabalhar para ele nas mais diversas áreas, enquanto um tenista contratava profissionais ou empresas especializadas nesses

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UNIVERSIDADE ATP sectores. Depois, via-se o futuro de um e de outro”, recordou Rui Machado, que frequentou o curso em 2010. Todos os jogadores da Categoria-1 do ATP World Tour (ao top-150 é imposto, e ao top-200 é facultativo) são forçados a frequentar pelo menos uma vez a chamada ATP University. Polémicas à parte – dado haver críticas por se chamar universidade a uma acção de formação de três dias –, o importante é que, duas vezes por ano os jogadores são convocados para essa qualificação teórica, podendo escolher Março, mesmo antes do Masters 1000 de Miami, ou Novembro, em Londres, durante as ATP World Tour Finals. Erika Kegler, a directora do Departamento de Jogadores do ATP World Tour, explicou à MatchPoint Portugal que “a ATP University foi concebida para proporcionar aos jogadores um pacote de conhecimentos que lhes permita compreender o funcionamento operacional da ATP e que os levem a apreciar gozar de uma vida produtiva no circuito. O currículo do curso inclui a apresentação da história e do organigrama da ATP, uma análise profunda de como se organiza um torneio, uma explicação detalhada dos programas de anti-doping e anti-corrupção do ténis, como se procede a um plano financeiro, treino mediático, redes sociais, solidariedade social e filantropia, marketing do circuito, serviços médicos, regras e regulamentos, arbitragem. Os docentes são membros da associação de jogadores e torneios e também especialistas nas mais diversas disciplinas». O sucesso do programa mede-se pelos poucos escândalos que têm vindo a público nestes sectores. É certo que têm surgido casos de doping e de jogadores penalizados por estarem relacionados com apostas desportivas, mas poderia ser muito pior se não houvesse esta advertência prévia. Nota-se, por exemplo, que há maior respeito dos jogadores pelas equipas de arbitragem, maior cooperação com os promotores de torneios na divulgação dos eventos, maior profissionalismo no contacto com os media, não havendo histórias flagrantes de falência financeira como o caso Bjorn Borg. A Universidade ATP foi inaugurada em 1990, no ano em que nasceu o ATP Tour, agora ATP World Tour, ou seja, quando a ATP passou de uma mera associação de tenistas profissionais, de instintos corporativos, a uma entidade que reúne jogadores, torneios e dirigentes desportivos, num complexo circuito masculino global, um

“O PRÓPRIO ROGER FEDERER FÊ-LO EM MONTE CARLO” 42


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dos mais bem-sucedidos do desporto profissional. O ATP World Tour tem registos de todos os mais de 850 jogadores que participaram na acção de formação e nenhuma estrela tem “escapado”. Nicola Arzani, que dirige na Europa os serviços de media do ATP World Tour, reforça que “todos os jogadores devem ir lá uma vez na sua carreira e têm de fazer os testes”. O italiano lembra-se que “o próprio Roger Federer fê-lo em Monte Carlo num ano em que eu participei no curso”. O suíço deve ter considerado tão útil que anos depois ajudou a Federação Internacional de Ténis a elaborar um “media training” para juniores. O recordista de 17 títulos do Grand Slam foi, aliás, usado como exemplo no treino de media de Novembro último, em Londres, pelo modo como se comporta estoicamente em conferências de imprensa depois de uma derrota dolorosa. Também se recorreu a Novak Djokovic como exemplo de uma atitude

“Mas uma vez que assisti e participei, a minha opinião mudou por completo”

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“O ambiente foi fantástico entre todos os jogadores e é obvio que estar com o Gastão lá, ao sermos amigos de longa data, tornou as coisas mais fáceis”

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equilibrada entre respeito e sentimento pelas vítimas do 11 de Setembro de 2001, numa entrevista concedida a um talk show norteamericano. Nos primeiros anos, os três dias decorriam em Ponte Vedra Beach, Florida, na sede do ATP World Tour, mas rapidamente se percebeu que não era o ambiente perfeito e transferiu-se a formação para hotéis, onde os jogadores, concentrados, ganham mais espírito de grupo, algo fundamental num desporto individual tão egocêntrico. Entre 2002 e 2006, tentou-se também a formação à distância, recorrendo às novas tecnologias, para não forçar os jogadores a longas deslocações, mas verificou-se que poucos estudavam devidamente as matérias sem o formato tradicional de aulas, para além de que não reforçava o tal sentimento de coesão, de classe profissional supostamente unida. Milos Raonic, que levou o Canadá às meias-finais da Taça Davis, foi o melhor da turma de 2011 e realçou que “vindos de todas as partes do Mundo, foi importante estarmos lá para podermos relacionar-nos mais de perto com alguns dos jogadores que vemos depois no circuito”. Raonic catalogou o curso de “útil, principalmente para quem chegou há pouco tempo ao circuito. Houve muitas dicas que retive”. O norte-americano John Isner, que no ano passado andou no top-10 mundial, julga que “isto é, definitivamente, algo que qualquer jogador deveria frequentar”. “Abriu-me os olhos sobre o que posso fazer para potenciar o meu nome”, acrescentou a estrela da Taça Davis.


A obrigatoriedade tem sido por vezes contestada e há quem pense que deveria ser facultativo, mas, regra geral, os jogadores portugueses que questionámos não levantaram grandes objecções. O único algo renitente foi o actual nº1 português, João Sousa, mas, entretanto, mudou de opinião, depois de integrar a turma deste ano em Miami, onde também esteve Gastão Elias: “Se não fosse obrigatório, realmente não sei se iria porque, para ser sincero, ao princípio pensava que seria bastante aborrecido ouvir pessoas a falar durante tanto tempo. Mas uma vez que assisti e participei, a minha opinião mudou por completo. Penso que é fundamental fazer parte deste programa, porque existem coisas que nos passam totalmente ao lado no meio do ténis e que nos dizem respeito. É importante estar por dentro do mundo e do circuito em que vivemos, porque assim compreendemos muitas das coisas e mudanças que acontecem ao longo dos anos. Penso que deveria manter-se obrigatório, já que a primeira opinião de muitos poderia ser como a minha!”. “É positivo que seja obrigatório”, reforçou sem quaisquer dúvidas Frederico Gil, o único português a chegar à final de um torneio do ATP World Tour, que esteve em Orlando em 2008. “Para mim foi importante, é óbvio que tem efeitos práticos e sim, acho bem que seja obrigatório”, reconheceu Gastão Elias, que reside no Brasil. “Deve continuar a ser obrigatório e até julgo que deveria ser fornecida mais informação nessas áreas ao longo das nossas carreiras porque não há continuidade. A formação é muito importante para um jogador”, frisou Rui Machado, o melhor português de sempre no ranking mundial e actual presidente da Associação de Jogadores de Ténis de Portugal, que foi seleccionado para dar a opinião sobre a sua classe de 2010 ao site oficial do ATP World Tour. Parece, pois, consensual não tratar-se de tempo perdido e a Match Point Portugal indagou alguns jogadores portugueses sobre as suas experiências. Eis o mais importante do que recolhemos de cada um. João Sousa: “Cada dia tínhamos aulas das 8H30 às 13H00. Depois almoçávamos e havia dois turnos de treino de ténis. Tínhamos sempre campos marcados de uma hora e meia de treino pela ATP no clube onde se jogava o torneio de Miami. Depois cada um fazia o seu trabalho físico e só a noite nos reuníamos novamente para jantar num restaurante que a ATP escolhia na cidade. Todos os dias falávamos de 4 assuntos diferentes sempre acompanhados por uma

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pessoa especializada nessa área. Penso que todas as disciplinas têm o seu ponto interessante mas retenho mais como lidar com os media e promover a minha imagem...penso que hoje em dia é fundamental ter uma boa imagem e saber transmitir as emoções para o público.” Gastão Elias: “Foi um estudo intensivo de três dias. Serviu para conhecermos o staff da ATP e sabermos com quem lidamos. Às vezes falamos com muita gente por e-mail e não sabemos quem são. Recordo-me bem da comunicação do responsável do BNP Paribas para explicar a parte dos investimentos. Não falou em nomes mas deu exemplos de investimentos de jogadores que já pensam no futuro e como nós também deveríamos pensar no mesmo, fazer poupanças. Deram-nos exemplos de jogadores que já tinham sido banidos por apostas e o que nos pode acontecer. Cada um fez uma entrevista de alguns minutos e depois essa entrevista era analisada pela especialista em comunicação que nos indicava o que poderíamos ter feito melhor. Explicaram-nos quem era os Tour Managers que andam pelos torneios e que tipo ajuda podem dar-nos. Apresentaramnos uma empresa que nos pode ajudar a criar uma fundação e a descobrirmos que causas poderemos abraçar. O especialista de redes sociais explicou-nos como nunca deveríamos publicar determinado tipo de fotos e mensagens. Mostrou-nos um vídeo de um jogador de futebol americano que foi parado pela polícia e os carros de polícia nos Estados Unidos têm câmaras e vê-se no vídeo ele quase a empurrar o polícia, pelo que fomos logo avisados dos cuidados a ter quando formos parados pela polícia nos EUA. Falou-se dos lucros dos torneios. Os torneios do Grand Slam, por exemplo, dão em média 800 milhões de dólares de lucro por ano e o prize-money é apenas 5% disso e é uma das polémicas mais actuais. No final fizeram-nos algumas perguntas sobre tudo o que tínhamos aprendido nestes três dias e o vencedor ganhava um IPad.” Frederico Gil: “A minha formação foi em Orlando e não em Miami e o mais marcante foi conhecer pessoas da ATP que só contactava por telefone ou e-mail. Ter um contacto pessoal, fez-me senti-las mais perto, deu um certo conforto e uma sensação de estar integrado num grupo forte. Essa relação estendeu-se depois aos jogadores, lembrome de andar junto com os espanhóis e com o Dudi Sela (israelita), fomos, por exemplo, visitar os parques temáticos de Orlando. Gostei bastante do media training, é algo que me ficou até hoje. Simulámos conferências de imprensa, éramos gravados e depois estávamos uma hora com a monitora a explicar-nos detalhes como a linguagem


corporal, o olhar, a voz, a mensagem positiva, etc. Também gostei do tema dos investimentos mas não me ajudou tanto como o media training porque falavam mais de aspectos que dizem respeitos a jogadores do top-10, top-20, eventualmente top-50.” Rui Machado: “O que mais me ficou foi a abordagem à comunicação e imagem. Ainda hoje uso muito esses ensinamentos na relação com os media, em alguns cuidados básicos que tenho. Por exemplo, nunca tiro fotos de copo na mão. Claro que em Portugal, como temos poucos jogadores, eu já tinha mais experiência com os media do que a maioria dos outros jogadores. Lembrome também de termos falado das regras e analisámos casos particulares. Gostei de ouvir um director de torneio mostrar-nos como o networking que desenvolveu nos seus tempos de jogador o ajudou depois nas suas tarefas actuais e também quando falou das principais dificuldades que os torneios enfrentam, como, por exemplo, oferecer a hospitalidade a todos os jogadores. Acredito que a tendência poderá ir mais para o pagamento de uma diária como em Wimbledon do que a hospitalidade completa. No entanto, o curso foca-se mais em quem vai ser top-10. Não revela a realidade de um top-60 ou top100. A própria ATP, na sua actividade quotidiana tem mais essa preocupação quando na realidade depende de muito mais jogadores. Daí que não cresça tanto como o golfe. Foi uma das perguntas que fiz ao presidente do ATP World Tour da altura.” Mas tal como em todas as universidades, também nesta nem tudo é sério, nem tudo se resume ao trabalho. Veja-se a loucura que foi a dança de coreografia extravagante no final do curso deste ano. Uma iniciativa pensada para descontrair e soltar a tensão após três dias de estudo. João Sousa conta-nos como foi: “O vídeo do Harlem Shake foi organizado pelos americanos... eu não conhecia mas pelos vistos está na moda e quando propuseram fazê-lo, alinhei e acho que todos divertimo-nos imenso! O ambiente foi fantástico entre todos os jogadores e é obvio que estar com o Gastão lá, ao sermos amigos de longa data, tornou as coisas mais fáceis”.

“QUANDO PROPUSERAM FAZÊ-LO, ALINHEI E ACHO QUE TODOS DIVERTIMO-NOS IMENSO!”

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TAÇA DAVIS

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A DESCONHECIDA

MOLDOVA CAMINHO PARA O GRUPO I

PASSA PELO LESTE DA EUROPA

FERNANDO CORREIA/FPT

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ANTONIO MILESI

Portugal está bem encaminhado para regressar ao Grupo I, mas o desconhecimento da última selecção que irá defrontar na campanha 2013, poderá revelar-se na maior adversidade. Pedro Keul

FERNANDO CORREIA/FPT

A campanha da selecção portuguesa da Taça Davis em 2013 tem um objectivo bem preciso desde o seu início: o regresso ao Grupo I, de onde saiu no ano passado. As duas concludentes vitórias por 5-0, sobre o Benim e a Lituânia, confirmam a determinação do grupo liderado por Pedro Cordeiro mas pode esconder as dificuldades que os portugueses irão encontrar na eliminatória decisiva, na Moldova, entre 13 e 15 de Setembro. A selecção deste país, situado entre a Roménia e a Ucrânia, com 3,5 milhões de habitantes, nunca esteve nesta posição de ascender á segunda divisão do ténis mundial. Actual 50.ª no ranking da Federação Internacional de Ténis (ITF), ou seja, oito lugares atrás de Portugal, a Moldova estreou-se na Taça Davis em 1995, nunca defrontaram Portugal e este é o primeiro ano em que somam duas vitórias consecutivas no Grupo II. E a segunda, na Bósnia-Herzegovina, por 3-1, elevou os níveis de confiança da equipa, apesar de contarem com quatro tenistas fora do top 200 do ranking ATP: Radu Albot (235.º), Maxim Dubarenco (469.º), Andrei Ciumac (579.º) e Roman Borvanov (478.º). Albot, de 23 anos, foi o grande herói da eliminatória realizada em Mostar (Bósnia-Herzegovina) ao vencer os dois singulares, em especial, o que conquistou o terceiro ponto, frente a Damir

A excelente camaradagem e espírito de grupo da selecção portuguesa são uma vantagem diante de uma Moldova dependente de Radu Albot (em cima)

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TAÇA DAVIS ANTONIO MILESI

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Dzumhur (249.º), depois de perder os dois sets iniciais: 6-7 (4/7), 4-6, 6-4, 6-3 e 6-3, ao fim de quatro horas e 13 minutos – o mais longo encontro das 79 eliminatórias que a Moldova já disputou na prova. O número um moldavo actuou igualmente no par, ao lado de Ciumac. Para o segundo singular, a escolha tem recaído em Dubarenco, de 19 anos. Albot ocupou o 214.º lugar em Agosto do ano passado, a sua melhor classificação de sempre. Na carreira, já venceu 14 futures desde 2010, dois dos quais este ano, numa série de três finais consecutivas em torneios deste nível. O único tenista português que Albot defrontou no circuito profissional foi Pedro Sousa, que, em 2011, derrotou o moldavo no qualifying do challenger de Trani, pelos parciais de 7-6 (7/4), 0-6 e 6-3, A eliminatória terá lugar entre

“RADU ALBOT JÁ VENCEU 14 FUTURES DESDE 2010, DOIS DOS QUAIS ESTE ANO” 13 e 15 de Setembro, muito provavelmente em Chisinau, onde a Moldova derrotou a Hungria na primeira ronda, num piso duro, coberto. Mas o triunfo na Bósnia, em terra batida, ao ar livre, poderão ter deixado os moldavos com dúvidas sobre o piso a escolher, pois pediram o prolongamento do prazo até 6 de Maio, para anunciar definitivamente o local.



NO CIRCUITO

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“ESTA PARAGEM VEIO NO MELHOR MOMENTO”


Em entrevista a um jornal suíço, Roger Federer faz um balanço da primeira parte do ano e revela alguns dos seus planos para esta época. Pedro Keul Roger Federer não vai voltar competir até ao início de Maio. Até lá, o campeão suíço aproveita para descansar, passar tempo de qualidade com a família e amigos no país natal e… recuperar, preparar-se fisicamente e treinar-se. Numa entrevista exclusiva dada a Rene Stauffer (autor da autobiografia de Federer, “Quest for Perfection”), publicada no “Tages Anzeiger”, o tenista admitiu que não realizou um início de época de acordo com as suas ambições, mas já antevê uma segunda metade de época mais ao seu nível. “Primeiro que tudo, estou a recuperar dos torneios de Roterdão, Dubai e Indian Wells. Tive umas curtas férias, mas depois de nove dias em que não fiz nada, comecei a trabalhar outra vez. Estou de volta á Suíça após muito tempo, a fazer treino físico e também a jogar ténis outra vez”, resumiu Federer, que deixou Indian Wells – o seu último torneio – com as costas doridas, uma pequena lesão que precipitou a derrota diante do regressado Rafael Nadal. Mas já se sente a cem por cento. “Estou contente, posso novamente fazer tudo como antes, treinar-me de novo mas também voltar a jogar, mas levou mais tempo do que o previsto. Em Indian Wells, foi tudo muito rápido. Não consegui recuperar do jogo com Wawrinka logo, contra um jogador como Nadal, nesse estado, não sei como estava fisicamente, em termos de percentagem … quis tentar. Esta paragem veio no melhor momento”, reconheceu. Federer tem tido como parceiros de treino jogadores jovens, mas o seu treinador, Paul Annacone, irá ter com ele logo que passe a treinar-se quatro a cinco horas por dia. “Severin está em contacto com vários jogadores que estão aqui para treinarem-se. Ainda bem que posso realizar esta preparação na Suíça. Mais tarde, Paul irá estar aqui na fase em que jogo quarto a cinco horas por dia. Até agora treinei-me um par de vezes em terra batida debaixo de uma cobertura insuflável e também em hardcourts. É por isso que estou contente por ir ficar mais quente, para começar a treinar-

“A SUÍÇA FEZ-ME FALTA NOS ÚLTIMOS ANOS” 53


NO CIRCUITO

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me ao ar livre. Nas próximas semanas, a intensidade do treino vai aumentar e será crucial que encontre boas condições de treino ao ar livre nas duas semanas que antecedem o torneio de Madrid”, explicou. No entanto, Federer chegou a ponderar regressar mais cedo ao circuito, tendo em conta o oitavo lugar que ocupa na Corrida para Londres (o ranking que só contabiliza os resultados de 2013), mas também sabe como a longo prazo esta paragem será benéfica. “Na realidade pensei nisso mas também disse sempre que este ano o treino e recuperação iriam ser a minha principal prioridade, pois é assim que vou conseguir ir mais longe. A energia que hoje poupo, posso investi-la mais tarde. Durante o tempo em que não estou a jogar, posso encher o depósito, é o que tenho reparado nos últimos anos”, justificou Federer, antes de frisar: “Além disso, não tenho a ideia de ter jogado assim tão mal. Na Austrália estive bem, Roterdão [derrotado por Julien Benneteau] foi decepcionante, nunca deveria ter perdido nas meias-finais no Dubai contra [Tomas] Berdych (tive match-point) e quem sabe o que poderia acontecer a seguir. Não se pode analisar demasiado esta primeira fase da época.” Na entrevista, Federer deixou uma certeza – a de ir competir novamente no Swiss Indoors, em Basileia, cidade onde nasceu há 31 anos – e uma dúvida – quanto à sua contribuição na eliminatória da Taça Davis, em Setembro, em que a Suíça recebe o Equador para decidir a presença no Grupo Mundial. “Ainda não sei. Ainda há muito tempo para decidir”, justificou. Mais convicto, Federer recordou a importância que tem para si o torneio de Basileia, com quem tinha um contrato para participar todos os anos, expirado em 2012, o que originou alguma polémica, mas o actual número três do ranking diz que não precisa de nenhum papel assinado. “Sempre foi claro para mim: vou jogar o torneio em 2013. Ainda não o tinha comunicado, mas este é o momento. Sempre joguei em Basileia, todos os anos em que não

“A ENERGIA QUE HOJE POUPO, POSSO INVESTI-LA MAIS TARDE”


estive lesionado. Todos sabem o que este torneio representa para mim; fui apanha-bolas, joguei o qualifying, mesmo quando era júnior tive a oportunidade de jogar lá com Andre Agassi... Vivi muitos momentos memoráveis nesse ambiente único, com grandes fãs e estou extremamente contente por poder vivê-los de novo este ano”, afirmou Federer, antes de lembrar que, por essa razão, tem preterido jogar em Paris-Bercy, na semana imediata. “Há muitos torneios que falho por causa de Basileia, não é nada de novo. Apesar de que também gostava de ir à Ásia ou a Paris, mas temos de ter prioridades e Basileia sempre foi uma das minhas prioridades”. Prioridade são igualmente os períodos de paragem a meio da época e fazê-lo no seu país, tem benefícios adicionais. “A Suíça fez-me falta nos últimos anos e depois é agradável poder passar o tempo com as crianças, toda a família e os amigos. Posso deixar o stress do quotidiano do circuito para reencontrar uma vida normal. E 2012 foi particularmente stressante por causa dos Jogos Olímpicos”, recordou o campeoníssimo suíço.

Encomendar pizzas para os apanhabolas na final do torneio de Basileia é uma tradição criada por Federer

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VANTAGEM DE…

Ténis e estudos (II) É certo que os atletasestudantes com Estatuto de Alto Rendimento podem ter faltas justificadas ou solicitar outras datas PEDRO BIVAR para testes e exames, e Treinador isso é muito importante para quem tem um calendário competitivo internacional. Mas também é certo que, quando regressam desses torneios, têm à sua espera todos os testes que não fizeram e toda a matéria que foi dada na sua ausência e que têm de pôr em dia rapidamente, quase sempre à custa do imprescindível descanso ou de horas de treino. Não seria conveniente que estes atletas, em vez de 12, 13 ou 14 disciplinas no 8.º, 9.º ou 10.º anos, tivessem apenas as disciplinas nucleares necessárias para a área que pretendem seguir? Não será conveniente e justo que um Estado que deseje ter atletas a representá-lo ao mais alto nível competitivo, lhes crie condições para não terem de optar entre atingirem esse nível ou serem praticamente analfabetos? 56

“NÃO EXISTE ENTRE NÓS O ESTUDO À DISTÂNCIA, PELA INTERNET, QUE JÁ É UMA REALIDADE EM MUITOS PAÍSES”

Por outro lado, é urgente encontrar outros instrumentos que permitam uma conciliação entre estudos e ténis mais adequada às exigências do treino moderno com jovens atletas. Por exemplo, não existe entre nós o estudo à distância, pela Internet, que já é uma realidade em muitos países – e que, pasme-se, existe em Portugal para os filhos dos feirantes e artistas de circo (teve inicio em 2005 e leva o ensino a casa de 120 alunos em Portugal e no estrangeiro). Na realidade, o sistema que vigora em Portugal de conciliação entre estudos e prática desportiva, baseia-se muito na benevolência e na boa vontade dos professores das escolas frequentadas pelos atletas de Alto Rendimento e, por vezes, até da interpretação que eles façam dos seus deveres no âmbito do DL nº 272/2009. No fundo, o sucesso da conciliação dos estudos com o ténis, mesmo que o atletaestudante tenha o Estatuto de Alto Rendimento, ainda depende muito do próprio e da rentabilização que faça do seu tempo. E, já agora, da sorte que tiver em encontrar professores interessados no desporto e em particular no ténis. Para além de tudo isto, é ainda muito útil que haja uma participação activa dos pais no apoio às actividades escolares, seja de uma forma directa ou indirecta, por intermédio de explicadores. Os pais devem também ter a noção da necessidade de equilíbrio na conciliação destes enormes esforços e saber que o óptimo é inimigo do bom. Tudo aponta para que os meios de


WWW.PEDROTABORDAFOTOGRAFIA.COM

VANTAGEM DE…

ensino e aferição online podem ajudar a resolver este problema. Uma solução intermédia pode passar pelas instituições de ensino privadas, que apresentam muito maior flexibilidade na estruturação de programas de ensino para atletas de alta competição. Outra hipótese, e esta é uma mensagem que a Federação Portuguesa de Ténis transmite na formação, é que não se trata de desistir dos estudos, trata-se de adiar os estudos. Existem vários casos documentados, em várias modalidades, de ex-atletas que completam a sua formação académica após finalizar a sua carreira. Terminando, não é demais salientar a importância imensa de os atletas-estudantes

terem êxito na conciliação entre ténis e estudos, pois ainda podem ter como bónus várias saídas. Por exemplo: conhecerem o mundo através da participação em torneios internacionais; terem acesso mais facilitado à universidade em Portugal ou a uma bolsa de estudo numa universidade nos EUA; desenvolverem uma carreira profissional como jogador ou como treinador; obterem vantagens no acesso ao mercado de trabalho, já que serão quase de certeza candidatos mais confiantes, mais disciplinados, mais focados e mais resistentes, em suma, mais competitivos.

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MEDICAL TIMEOUT

Sede de vitória

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JOSÉ PEDRO CORREIA Fisioterapeuta

A correcta hidratação é um factor importante tanto em termos de performance como de saúde do tenista. A prática de ténis, dependendo das condições atmosféricas e características individuais, implica uma perda de fluídos entre os 0,5 e 2,5 litros(L)/hora. Perdas a partir dos 2% de massa corporal começam a diminuir o desempenho desportivo, pelo que a desidratação pode rapidamente ter um efeito prejudicial. Não obstante a importância da hidratação ser conhecida, existem dados que mostram que é frequente tenistas iniciarem encontros em diversos estados de desidratação. Qual é então a melhor forma de o evitar? Antes de mais, é desejável que não se beba exclusivamente água, mas também bebidas desportivas com percentagem de hidratos de carbono e electrólitos (nomeadamente sódio) à volta de 6%, de forma a promover uma concentração plasmática adequada. Recomenda-se a ingestão de 400 a 600ml de fluídos 20 a 40 minutos antes da competição e de 1,2 a 1,6L/hora durante o encontro. É de notar que estes valores estão além do consumo voluntário ditado pela sede, mas esta não é um bom indicador. Pode ocorrer uma perda de até 1,5L antes de o atleta se sentir com sede. Por outro lado, valores de ingestão a partir dos 1,2L/hora podem causar algum desconforto digestivo, pelo que é preciso também algum cuidado com este aspecto. É também recomendável que a reidratação se inicie logo após o final do encontro e que supere a quantidade de fluídos perdidos. Esta deve também incluir a reposição de sódio, sobretudo para os atletas que suem mais. Desta forma, a hidratação adequada é importante não só para a performance dentro do court, mas também para a velocidade da recuperação após o esforço.



TÁTICA

O “amortie” Objectivo

LUÍS DAMASCENO Treinador

Existem três opções: - Ganhar o ponto directamente - Trazer o adversário para a rede - Cansar (desgastar) um jogador com pouca agilidade e/ou qualidade física

Surpresa

Esta é a regra fundamental do “amortie”; sem ela, a pancada perde muita da sua eficácia. Por isso, se costuma afirmar que é um golpe de excepção, indicado sobretudo para situações em que o adversário menos o espera

Momento

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Evite o “amortie” no início do ponto e opte por fazê-lo só após conseguir deslocar o adversário, lateralmente ou para trás. É igualmente preferível não executar “amorties” no início do encontro, quando o adversário se encontra mais “ fresco” – a não ser que ele se encontre debilitado fisicamente – e sim quando o encontro já decorre há muito tempo e o adversário se encontra nitidamente cansado

Colocação

Jogando ao longo, a trajectória da bola é mais curta e, implicitamente, menos tempo fica disponível para o adversário a recolocar

em jogo, embora tenha a dificuldade de a rede ser ligeiramente mais alta. O “amortie” cruzado também é eficaz, mas requer a precaução de ser antecedido por um deslocamento lateral do adversário, para o lado contrário



EQUIPAMENTO

TECNIFIBRE no circuito por mais cinco anos

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ATP e TECNIFIBRE anunciaram um novo contrato de parceria para os próximos cinco anos. A empresa francesa irá fornecer a raqueta, cordas, sacos e acessórios oficiais do ATP World Tour e será o patrocinador oficial do Barclays ATP World Tour Finals, vulgo Masters, até 2017. Como parte do acordo, os jogadores terão acesso a um amplo leque de produtos de qualidade O anúncio da parceria coincidiu com o lançamento do programa “On the Road to the ATP World Tour”, uma iniciativa dirigida a uma nova geração de jogadores e fãs e que tem Janko Tipsarevic (9.º do ranking) como embaixador e mentor de quarto jogadores juniores: Omar Jasika (Austrália), Greg Barrere (França), Devin Britton (EUA) e Dino Marcan (Croácia) – é a primeira vez que um jogador do top 10 assume estas funções no circuito masculino. O programa pode ser acompanhado pelos fãs

numa secção do site do ATP World Tour. “Ninguém nasce um tenista de top. A TECNIFIBRE e a ATP estão a juntar forças para inspirar uma nova geração de jogadores, para os motivar a tornaremse melhores tenistas”, explicou Thierry Maissant, CEO da TECNIFIBRE, empresa que criou em 1979. Desde logo, a TECNIFIBRE afirmou-se como uma marca de reputação mundial, que se especializou nas áreas de ténis e squash. A ambição da marca é ajudar jovens jogadores a atingir o seu potencial, não só como competidores, mas como pessoas.


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ARBITRAGEM

Interrupção dos encontros O inverno rigoroso que acabámos de atravessar, colocou à prova a paciência e persistência dos tenistas e a capacidade de resposta de muitas organizações e JORGE CARDOSO Árbitro árbitros. Quantas ordens de jogo terão sofrido alterações, colidindo quantas vezes com a agenda sobrecarregada dos entusiastas praticantes? E o que fazer quando os encontros tiveram já o seu inicio? Efectivamente o Árbitro de Cadeira ou o Juiz Árbitro podem interromper qualquer jogo em função das difíceis condições climatéricas, ou seja, chuva na maioria das vezes. Em condições extremas como ventos demasiado fortes ou tempestades com relâmpagos, poderão estas também ser motivo de interrupção em função dos perigos que daí poderão advir para os tenistas. Aquando da

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interrupção deverão ser recolhidas as bolas e deverá ser tomada nota do resultado, quem serve e de que lado. Outro motivo para interrupção de um encontro é a ausência de luz natural. Neste caso deveremos apenas interromper ao fim de um set, ou quando temos um número par de jogos disputados, por exemplo, 3-1, 3-3, etc. Deveremos ter também em conta o tempo que decorreu até voltarmos a reatar a partida, pois o aquecimento depende disso. 0 a 15 minutos de interrupção – não teremos aquecimento. O encontro recomeça de imediato 15 a 30 minutos de interrupção – 3 minutos de aquecimento 30 ou mais minutos de interrupção – 5 minutos de aquecimento Em caso de aquecimento, deverá este ser efectuado com bolas usadas, semelhantes em termos de desgaste às bolas do encontro, as quais serão recolocadas aquando do reinício. O procedimento visa não desgastar as bolas do jogo e pareservá-las para o recomeço. Se a interrupção coincidir com uma troca de bolas, deverá o aquecimento ser feito com bolas novas, findo o qual novas bolas serão reintroduzidas para o reinício do encontro. Deveremos pois saber adaptarmo-nos às difíceis condições climatéricas, com a convicção de que, ao mais hábil na gestão dos tempos mortos e na respetiva ansiedade provocada pela espera, caberá parte das vezes uma melhor prestação desportiva.


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BOLA NA TELA

George Miller JOÃO CARLOS SILVA

As Bruxas de Eastwick

DR

É um jogo de ténis do diabo – melhor, do Diabo (Jack Nicholson) e das suas três feiticeiras, Alexandra (Cher), Jane (Susan Sarandon) e Sukie (Michelle Pfeiffer). A pares: de um lado da rede, Daryl van Horne e Jane, do outro Alexandra e Sukie. Elas competem pelas atenções dele e essa vontade de lhe agradar faz com que se passem coisas extraordinárias. Há bolas mágicas: a alta velocidade, em câmara lenta, suspensas no ar, paradas. Pode ver um resumo ao som das Quatro Estações de Vivaldi em http://www. youtube.com/watch?v=xm9v3weytuE . A magia é tanta que até Michelle Pfeiffer acaba a devolver uma bola com o rabo, de forma sensual. Em 1987, o realizador australiano George Miller vinha de realizar os três filmes de culto de Mad Max e Hollywood entregoulhe estas Bruxas de Eastwick. Os efeitos especiais eram os de há 26 anos e por isso é curioso descobrir hoje, em alguns momentos do jogo, um fio a controlar os movimentos da bola. No fim, Jack Nicholson despacha uma bola para a atmosfera. Para lá das nuvens, a pequena esfera amarela provoca relâmpagos e trovões. Chove torrencialmente. O Diabo está feliz.

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As Bruxas de Eastwick 1987 com Jack Nicholson, Michelle Pfeiffer, Cher e Susan Sarandon (baseado numa história de John Updike)




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