Revista de Ténis MatchPoint Portugal Janeiro 2013

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NOV O n.º 1 | Janeiro 2013 | € 4.95

Portugal ANTEVISÃO OPEN DA AUSTRÁLIA

PIERRE PAGANINI O PREPARADOR DE FEDERER

2012 EM NÚMEROS

João Sousa

Um vencedor a falar e a escrever

fb.com/matchpointportugal www.matchpointportugal.com


SÚMARIO

MatchPoint Portugal

NOV O n.º 1 | Janeiro 2013 | € 4.95

Portugal ANTEVISÃO OPEN DA AUSTRÁLIA

PIERRE PAGANINI O PREPARADOR DE FEDERER

2012 EM NÚMEROS

João Sousa

ARTIGOS

4 Bolas curtas

8 Despedidas em 2012

Um vencedor a falar e a escrever

fb.com/matchpointportugal www.matchpointportugal.com

n.º 1 Janeiro 2013

10 Números de 2012  14 Balanço dos portugueses  26 Entrevista: João Sousa  34 Arranque da época 2013  42 Pierre Paganini, o compositor  50 Antevisão do Open da Austrália

OPINIÃO 3 Editorial 25 Court & Costura 41 Equipamento

Propriedade Associação para a Promoção do Ténis Director Pedro Keul Redactores e colaboradores Hugo Ribeiro, Miguel Seabra, Jorge Gonçalves, João Carlos Silva, Daniel Costa e Luís Damasceno Fotografia Cynthia Lum (excepto crédito em contrário) Projecto gráfico e paginação Henriqueta Ramos Mobile / Webdesign

SECÇÕES 56 Coisas da cabeça 57 Táctica 58 Arbitragem 59 Bola na tela

Contactos Tel. 96 3078672; matchpointportugal@gmail.com; www.matchpointportugal.com; fb.com/matchpointportugal Foto da capa SMP ImagesApia International Sydney


EDITORIAL

ANO NOVO, REVISTA NOVA

Pedro Keul

As épocas tenísticas iniciam-se sempre com imensas expectativas. Não há jogador ou jogadora, seja qual for o seu nível, que não comece o ano determinado(a) a fazer melhor do que no anterior. Em 2013, esse objectivo estendese igualmente a um grupo de jornalistas e adeptos de ténis que se juntaram para criar uma nova revista mensal. A Match Point Portugal surge com a pretensão de preencher uma lacuna na informação de ténis no nosso país e dar a conhecer o ténis em maior profundidade. Queremos complementar a informação sobre a modalidade que é habitualmente dada em jornais ou sites em português. Acima de tudo, queremos contribuir para uma maior divulgação do ténis, nacional e internacional. Viemos para ficar, mas tudo depende dos adeptos. A sua adesão, contabilizada em “downloads”, é que irá determinar se 2013 vai ser para a MatchPoint Portugal uma época positiva.

“VIEMOS PARA FICAR, MAS TUDO DEPENDE DOS ADEPTOS”

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BOLAS CURTAS Campeã das campeãs de 2012

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Mesmo tendo terminado o ano no terceiro lugar do ranking mundial, Serena Williams foi eleita pela imprensa internacional como a Jogadora do Ano, mercê dos dois títulos do Grand Slam (Wimbledon e US Open), além das medalhas de ouro nos Jogos de Londres e o Masters. O jornal francês “L’Équipe” foi mais longe e votou na tenista norteamericana como a Campeã das Campeãs de 2012, à frente da esquiadora Lindsey Vonn e da atleta Allyson Felix. Na entrevista a propósito deste prémio internacional criado em 1980, a norte-americana de 31 anos reconheceu que a última época foi a sua melhor de sempre, marcada pelo sabor especial de ganhar Wimbledon, o primeiro “major” desde a embolia pulmonar que a colocou em risco de vida. “Em poucos meses, passei de um estado em que pensava não ir poder jogar mais ténis para uma vitória em Wimbledon”, disse Serena. Mas as sequelas da embolia ficaram: “Já não tenho as mesmas capacidades respiratórias de uma pessoa normal. Trabalhámos bastante na parte de respiração em piscina justamente para que os meus pulmões fiquem mais fortes. Quando viajo de avião por mais de quatro horas, tenho de receber uma injecção para o meu sangue ficar mais fluído.” Serena admitiu ainda ao jornal francês que pensa no recorde partilhado por Chris Evert e Martina Navratilova de 18 torneios do Grand Slam em singulares, mas traçou somente um objectivo para 2013: “Falar francês.” A relação com o treinador Patrick Mouratoglou irá certamente ajudar.

Djokovic aposta no queijo de burra

Depois de ter mudado o seu regime alimentar, Novak Djokovic decidiu apostar na restauração. E de forma destemida: o líder do ranking comprou toda a produção anual do queijo mais caro do mundo, de burra, para fornecer a cadeia de restaurantes que está a abrir pela Sérvia. O queijo integra algumas das iguarias mais exclusivas, como o hambúrguer servido num restaurante de Las Vegas por 3.700 euros. Para um quilo de queijo produzido na fábrica de Zasavica (Sérvia) são precisos 25 litros de leite de burra e o seu sabor é descrito como semelhante ao do queijo Manchego.

Arantxa Sanchez demissionária

Na sequência da moção de desconfiança ao presidente da federação espanhola, José Luis Escañuela, apresentada pelas jogadoras, Arantxa Sanchez demitiu-se do posto de capitã da Fed Cup. A nova líder da selecção só será anunciada depois das eleições federativas, marcadas para dia 19 de Janeiro.


Gajdosova volta a ganhar

A nova atleta de António Van Grichen iniciou a época em Brisbane de forma promissora. Jarmila Gajdosova não competia desde Setembro – final de pares em Guangzhou, no dia da morte da mãe – e não ganhava um encontro em singulares desde a primeira eliminatória de Roland Garros, sete meses antes. Mas a australiana que foi 25.ª em 2011 não conseguiu dar seguimento à boa vitória sobre Robert Vinci e perdeu

de seguida com a lucky loser Lesia Tsurenko, voltando a mostar a falta de consistência que a atirou para o 183.º lugar do ranking.

“Magnesium-Ok Team” O início de 2013 ficou assinalado pela criação do “Magnesium-Ok Team”, uma equipa de jovens jogadores do CETO – este ano formada por Gonçalo Loureiro, Felipe Cunha e Silva e Claudia Cianci – e que irão poder desenvolver as suas carreiras graças a este apoio da Angelini Farmacêutica.

Gael Monfils procura estrutura Depois de um 2012, em que caiu para o 77.º lugar, Gael Monfils regressou à competição logo na primeira semana do ano, em Doha. Aparentemente recuperado das lesões recorrentes nos joelhos, o francês de 26 anos contou que passou os últimos meses do ano em casa, na Suíça, treinouse com outros jogadores e manteve uma boa condição física com a ajuda de um amigo, mas estar á procura de uma equipa fixa com quem trabalhar, após ter deixado Patrick Chamagne, que o acompanhava desde Julho de 2011. Monfils frisou o amor que tem pelo ténis e reforçou a intenção de querer voltar a jogar ao nível que já foi o dele.

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BOLAS CURTAS Ao mais baixo nível

Taça Davis

É um facto que irá entrar na história: o ex-número mundial chileno, Marcelo Rios, vai disputar um encontro de exibição com o argentino Guillermo Coria numa mina de cobre no Chile, a 1500 metros de profundidade. Rios de 37 anos, atingiu o topo do ranking em 1998 e retirouse do circuito em 2004, ano em que Coria, sete anos mais novo, perdeu a memorável final de Roland Garros para o compatriota Gaston Gaudio.

Os courts do CIF vão receber entre 1 e 3 de Fevereiro a primeira eliminatória do Grupo II da Taça Davis, Zona Europa/África, em que Portugal recebe a desconhecida selecção do Benim. A equipa africana ganhou as quatro eliminatórias disputadas em 2012 referentes ao Grupo III. Os jogadores utilizados não integram os rankings ATP, o que reforça o favoritismo dos portugueses, que têm a experiência de jogar à melhor de cinco sets, ao contrário do que se passa na divisão inferior.

124 6

Gil e Machado Frederico Gil e Rui Machado foram as estrelas convidadas de uma “clínica” realizada para assinalar o 20.º Aniversário do Lisboa Racket Centre. Os dois tenistas portugueses trocaram bolas com alguns miúdos do clube de Alvalade e não se cansaram de dar autógrafos e posar para as fotos.

Pavlyuchenkova e Rezai voltam a Mouratoglou A Academia de Patrick Mouratoglou voltou a contar entre os seus “alunos” com a russa Anastasia Pavlyuchenkova (21 anos e 36.ª) e a francesa Aravane Rezai (25 anos e 171.ª). Depois de vários problemas pessoais que afectaram a carreira, Rezai reatou a relação com a sua família e está determinada a subir ao 15.º lugar que ocupou em 2010. Mouratoglou aconselha também duas esperanças do ténis feminino: a cazaque nascida na Rússia, Yulia Putintseva (17 anos e 123.ª) – a mais jovem no quadro final do Open da Austrália – e a russa Daria Gavrilova (18 anos e 226.ª).


Hugo Cura

Heather Watson “despediu” a mãe Numa recente entrevista ao “The Telegraph”, Heather Watson explicou o afastamento da mãe, de quem era inseparável desde 2006, quando ingressou na Academia de Nick Bollettieri. Há um ano, a britânica de 20 anos perdeu na ronda inicial do Open da Austrália, iniciando um período de maus resultados que a levou a tomar algumas medidas, nomeadamente, afastar a mãe da sua comitiva. “Se tivermos de tomar conta das nossas coisas, estamos mais conscientes de tudo e descobri que é mais fácil serse profissional. Às vezes, é mais fácil ela ser apenas a minha mãe do que tentar ser treinadora e envolver-se demasiado”. Em 2012, Watson tornou-se na primeira britânica desde 1988 a triunfar no WTA Tour, em Osaka, e fechou o ano no 49.º lugar, tendo como objectivo para este ano o top 10. Mas a sua personalidade extrovertida não se coaduna totalmente com a vida no circuito. “Não pertenço ali, mas penso que compreendo porque algumas raparigas têm de ser assim. Muitas vezes, só quero ir para casa e estar com toda a gente, porque mal vejo os meus amigos e família durante a época. É muito duro viver sempre com uma mala atrás e num hotel”, reconheceu ao jornal londrino Watson, que tem como melhores amigas no circuito a compatriota Laura Robson e a neo-zelandesa Marina Erakovic.

Ténis inglês sofre corte

A Sport England reteve 12 milhões de euros do fundo estatal para o ténis até que a federação consiga melhorar o seu plano de fomento da modalidade. Uma decisão que causou bastante embaraço a Roger Draper, chefe-executivo da Lawn Tennis Association (e anterior responsável da Sport England) que aufere 780 mil euros anuais. O número de tenistas (que joguem pelo menos uma vez por semana) tem descido na Grã-Bretanha e, em 2012, cifrou-se em 445 mil. Como consequência, a Sport England baixou de 30 para 8,6 milhões de euros, o subsídio anual à Lawn Tennis Association.

A lesão de Tolkien São poucos os que desconhecem o nome do autor dos best-sellers “O Hobbit” e da trilogia “O Senhor dos Anéis”. O que a muitos não sabem é que o inglês J.R.R. Tolkien (18921973), começou a escrever essas obras já quarentão, durante uma paragem forçada por uma lesão num tornozelo, contraída numa partida de… ténis.

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Despedida 2012

Juan Carlos Ferrero

Rainer Schuettler

Gisela Dulko

Zolles

Ivan Ljubicic

Juan Ignacio Chela

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Arnaud Clement

Kim Clijsters

Andy Roddick

Fernando Gonzalez

Mark Knowles


Despe Didas De 2012 O ano de 2012 foi o último em que vimos competir vários nomes grandes do circuito. O destaque vai para os exnúmeros um do ranking mundial Andy Roddick, Juan Carlos Ferrero e Kim Clijsters. No ano passado, despediramse igualmente três finalistas do Open da Austrália, Arnaud Clément (2001), Rainer Schuettler (2003) e Fernando Gonzalez (2007), bem como o ex-top 3 Ivan Ljubicic, o vencedor do Estoril Open de 2004, Juan Ignacio Chela, e os antigos líderes do ranking de pares Mark Knowles e Gisela Dulko.

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Números de 2012 Maior número de títulos ATP David Ferrer 7 WTA Serena Williams 7

Vencedores depois de passar pelo qualifying ATP Jarkko Nieminen

(Sydney) 77.º

WTA Mona Barthel Kiki Bertens Su-Wei Hsieh Melanie Oudin

(Hobart) 64.ª (Fez) 235.ª (Kuala Lumpur) 123.ª (Birmingham) 208.ª

Finais entre compatriotas Cinco espanholas no circuito masculino e apenas duas no feminino

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ATP Buenos Aires Acapulco Casablanca Barcelona Bastad Doha Banguecoque Viña del Mar

David Ferrer – Nicolas Almagro (Esp) David Ferrer – Fernando Verdasco (Esp) Pablo Andujar – Albert Ramos (Esp) Rafael Nadal – David Ferrer (Esp) David Ferrer – Nicolas Almagro (Esp) Jo-Wilfried Tsonga – Gael Monfils (Fra) Richard Gasquet – Gilles Simon (Fra) Juan Monaco – Carlos Berloq (Arg)

WTA Acapulco Stanford

Sara Errani – Flavia Pennetta (Ita) Serena Williams – Coco Vandeweghe (EUA)

Os encontros mais longos ATP 5h53 Open da Austrália (final) Djokovic – Nadal 5-7, 6-4, 6-2, 6-7(5) e 7-5 WTA 3h29 Istambul (Masters) Radwanska – Errani 6-7(6), 7-5 e 6-4


Os mais velhos vencedores ATP Halle Tommy Haas (34 anos, 2 meses e 14 dias) WTA Luxemburgo Venus Williams (32 anos, 4 meses e 4 dias)

Os mais jovens vencedores ATP Chennai Milos Raonic (21 anos e 12 meses) WTA Monterrey Timea Babos (18 anos, 9 meses e 16 dias)

Os mais velhos no top 100 ATP 91.º Ruben Ramirez Hidalgo 34 anos e 11 meses WTA 24.ª Venus Williams 32 anos e 6 meses

Os mais novos no top 100 ATP 52.º Bernard Tomic 20 anos e 2 meses WTA 78.ª Annika Beck 18 anos e 10 meses

Dobradinhas (títulos de singulares e pares) ATP Mikhail Youzhny

Zagreb

WTA Sara Errani Serena Williams

Acapulco e Barcelona Wimbledon e Jogos Olímpicos

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Números de 2012 Séries mais longas de vitórias ATP 16 Roger Federer

(13 de Fevereiro a 27 de Março)

WTA 26 Victoria Azarenka (9 de Janeiro a 28 de Março)

Palmarés por nações ATP Espanha 14

(Ferrer, 7; Nadal, 4; Almagro, 2; Andujar)

WTA EUA 9

(S. Williams, 7; V. Williams; Oudin)

As maiores subidas no ranking

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ATP Paul Henri-Mathieu Brian Baker Benjamin Becker Jerzy Janowicz Tommy Haas

não classificado para 59.º 458.º para 61.º 305.º para 65.º 221.º para 26.º 205.º para 21.º

WTA Maria-Teresa Torro-Flor Lauren Davis Yaroslava Shvedova Annika Beck Su-Wei Hsieh

459.ª para 98.ª 319.ª para 91.ª 206.ª para 29.ª 234.ª para 78.ª 172.ª para 25.ª

Maior número de ases (entre parêntesis, média por encontro) ATP John Isner Milos Raonic Sam Querrey

1005 (15,2) 1002 (15,4) 705 (11,4)

WTA Serena Williams Nadia Petrova Julia Goerges

484 (8,3) 363 (6,4) 263 (4,3)


Vencedores com mais de 30 anos ATP Roger Federer (Roterdão, Dubai,Indian Wells, Madrid, Wimbledon e Cincinnati) David Ferrer (s’Hertogenbosh, Bastad, Valencia e ParisBercy) Tommy Haas (Halle) Jurgen Melzer (Memphis) Jarkko Nieminen (Sydney) WTA Serena Williams (Charleston, Madrid, Wimbledon, Stanford, Jogos Olímpicos, Open dos EUA e Masters) Nadia Petrova (s’Hertogenbosh, Tóquio e Masters de Sofia) Venus Williams (Luxemburgo) Francesca Schiavone (Estrasburgo) Li Na (Cincinnati)

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DR

tĂŠnis portuguĂŞs em 2012

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Seis jogadores andaram no top-200 do Mundo


Foi um ano cheio de recordes para o ténis português, alguns pessoais, outros nacionais. O mais importante foi a entrada de João Sousa no top-100 mundial Hugo Ribeiro A época de 2012 quebrou alguns recordes para o ténis nacional. Pela primeira vez tivemos seis jogadores dentro dos 200 primeiros de rankings mundiais: Rui Machado, Frederico Gil, João Sousa, Gastão Elias, Michelle Brito e Maria João Koehler. E se juntarmos o escalão de sub-18 houve mesmo um top-10 em Frederico Silva. Kiko foi também responsável pelo primeiro título português em torneios do Grand Slam, ao triunfar nos pares masculinos de sub18 do US Open, ao lado de Kyle Edmond, e ainda se deu ao luxo de ser vice-campeão europeu de sub-18 em singulares. Gil foi o primeiro a chegar à terceira ronda de um torneio do Grand Slam, no Open da Austrália (Michelle Brito fizera-o em Roland Garros em 2009). Koehler tornou-se na primeira lusa a conquistar um torneio de 100 mil dólares (ITF), em Astana (Cazaquistão), algo que na história do ténis nacional só João Cunha e Silva tinha alcançado. E porque não só de resultados se faz a história de uma modalidade, Gil foi o primeiro português a ultrapassar a fasquia de um milhão de dólares em prémios monetários; Pedro Frazão foi o único promotor do ATP Champions Tour a organizar dois torneios na mesma temporada, juntando o Rio de Janeiro ao campeonato que já tinha em São Paulo; e Carlos Ramos é o primeiro árbitro do Mundo a poder orgulhar-se de ter arbitrado ao longo da sua carreira as finais de Wimbledon, US Open, Roland Garros, Open da Austrália, Taça Davis, Fed Cup e… Jogos Olímpicos! A temporada finda trouxe ainda alguns recordes pessoais das estrelas do ténis nacional, sendo que consideramos apenas neste trabalho o nosso melhor júnior, o top-2 profissional feminino e o top-5 profissional masculino. O mais importante foi a entrada de João Sousa no top-100 mundial

“TER JOGADO COM A KIM CLIJSTERS FOI UM PONTO MARCANTE DA MINHA CARREIRA” 15


ténis português em 2012

Frederico Silva

Frederico Silva foi o responsável pelo primeiro título português em torneios do Grand Slam

(92.º), igualando feitos de Machado, Gil, Nuno Marques e Michelle Brito. Mas muito perto desta proeza deve ser colocada a vitória de Gil no torneio de pares de Viña del Mar, ao lado de Daniel Gimeno Traver. Antes dele, só Emanuel Couto, Bernardo Mota, Marques e Cunha e Silva (este último com dois) tinham conquistado títulos de pares de nível ATP World Tour. Como Fred tem o recorde nacional de singulares de ex-finalista do Estoril Open, reforça o seu estatuto de poder ser considerado o melhor tenista português de sempre, apesar de Machado ainda deter a melhor classificação de um português no ranking mundial. Outros recordes pessoais relevantes foram a presença de João Sousa nos quartos-de-final do Estoril Open (antes dele foram Machado, Gil, Marques e Cunha e Silva); a qualificação para os oitavos-de-final de Maria João Koehler no Estoril Open (repetindo Michelle Brito e Neuza Silva), que foi igualmente a sua primeira vitória em quadros principais de torneios de nível WTA; as estreias em quadros principais de torneios do Grand Slam, depois de passarem os qualifyings, de Koehler no Open da Austrália e de João Sousa em Roland Garros; e o apuramento de Gastão Elias para as Finais do Challenger Tour, em São Paulo (12 meses depois de Machado ter sido pioneiro), no ano em que Pepê conquistou no Rio de Janeiro o seu primeiro título da categoria Challenger. Claro que nem tudo cheirou a rosas no ténis português em 2012. A começar pelas selecções nacionais. Portugal desceu ao Grupo-2 da Zona Euro-africana da Taça Davis, num ano em que haveria algumas hipóteses de discutir o acesso ao Play-off do Grupo Mundial, e na Fed Cup foi conseguida a manutenção no Grupo-2, mas Michelle e Koehler têm legítimas aspirações a levar Portugal ao Grupo-1. A lesão no joelho direito de Machado terá sido, porventura,

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João Pires

o aspecto mais negativo do ténis luso. O algarvio visava a entrada inédita no top-50 e procurava sagrar-se segundo português a jogar o torneio olímpico de singulares depois de Bernardo Mota em 1992, mas a mazela que o atirou para fora do top-300 deixou-o sem quaisquer hipóteses. Ainda inserido nos aspectos mais negros da temporada, é preciso destacar a inexistência de prémios monetários no Campeonato Nacional pelo quarto ano seguido, levando à ausência do top-5 masculino (Vasco Mensurado, o campeão, não tem culpa, mas vê assim o seu título algo desvalorizado); o encerramento do Centro de Alto Rendimento do Jamor nos moldes em que funcionava, sem que haja uma noção de sucesso do projecto junto da opinião pública; o estado de degradação a que chegou o complexo de ténis do Estádio Nacional; e as dívidas da Federação Portuguesa de Ténis a jogadores de alta competição. Só no final de 2012 a nova Direcção, entretanto eleita, saldou os valores referentes a 2011. Vale agora a pena olhar individualmente, com brevidade, para a época das nossas estrelas: Maria João Koehler: Foi campeã nacional pelo quarto ano

João Sousa realizou a melhor época da sua carreira

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João Pires

ténis português em 2012

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consecutivo, venceu um torneio de 100 mil dólares em Astana, foi finalista de dois 50 mil em Donetsk e Joue-les-Tours, semifinalista nos 25 mil de Equeurderville e Brescia, quarto-finalista no 25 mil de Maribor. A derrota com Kim Clijsters na Rod Laver Arena de Melbourne Park ficará gravada na sua memória, mas também teve boas vitórias para recordar, diante de Andrea Hlavackova (88ª WTA) e Ayumi Morita (77ª). Michelle Brito: Regressou aos títulos no 25 mil dólares de Surprise e foi bastante regular com presenças em meias-finais do 75 mil de Albuquerque e nos 25 mil de Pelham e de Troy, para além de quartos-de-final no 75 mil de Phoenix, nos 50 mil de Braunfels e de Charlottesville, e no 25 mil de Rock Hill. Mas a antiga campeã do Orange Bowl brilhou sobretudo em torneios de nível WTA, passando fases de qualificação no Open do Canadá (2 milhões), Stanford (740 mil), San Diego (740 mil), Washington (220 mil) e Birmingham (220 mil), vencendo por três vezes a primeira ronda. Obteve boas vitórias individuais sobre Ayumi Morita (84ª), Jarmila Gajdosova (95ª), Barbora Zahlavova Strycova (62ª) e Mirjana Lucic (100ª). João Sousa: Dois títulos de Challengers em Mersin e Tampere, mais uma final perdida em Como, consolidam-no como jogador desta segunda divisão, devendo ainda acrescentar-se meias-finais em Meknes, Sibiu, Alphen aan den Rijn, Trnava e Rio de Janeiro. Mas já começou a dar sinais de ter nível para singrar no ATP World Tour. Para além dos quartos-de-final no Estoril Open e de ter passado a qualificação em Roland Garros, também superou o qualifying em Barcelona onde só cedeu na segunda ronda frente a Frederico Gil, depois de ter eliminado Igor Kunitsyn (90º). Teve mais duas vitórias sobre top-100 diante de Denis Istomin no Jamor e Lukas Lacko da Eslováquia, na Taça Davis. Novo nº1 nacional, quebrou domínio de Gil e Machado, que repartiam entre si o estatuto de melhor português desde 2003. Gastão Elias: O título no Rio é o ponto alto, mas teve ainda finais de Challengers em São Paulo, Caltanissetta e Porto Alegre, mais

“Foi uma época medíocre. Faltou estabilidade de resultados”


João Pires

meia-final em Tampere. Bateu Victor Hanescu (64º), Ruben Ramirez Hidalgo (98º) e João Sousa (99º). Fecha pela primeira vez uma época no top-150. Frederico Gil: Boa época até chegar ao Estoril Open lesionado, num ano em que trocou de raquetes e de treinadores, demorando a assimilar tanta mudança. Do Jamor até ao final do ano somou 11 encontros ganhos e 20 perdidos, cedendo ainda a titularidade na selecção nacional. Mas no início, para além do sucesso em Melbourne (vitórias sobre Ivan Dodig e Marcel Granollers, dois top-40), destacou-se nos quartos-de-final em Viña del Mar (bateu Pablo Andujar, outro top-50), foi lucky loser e passou uma ronda no Masters 1000 de Indian Wells, impôs-se a mais um top-50 (Thomas Bellucci) na primeira ronda do Masters 1000 de Miami, passou qualifying e vergou mais dois top-100 (Steve Darcis e Mikahil Youzhny) no Masters 1000 de Monte Carlo onde caiu na segunda ronda, e foi oitavo-finalista em Barcelona com novo sucesso sobre Granollers (top-30). Fechou a época triste em Guayaquil, esmagado por Pedro Sousa (duplo 6-1). Pedro Sousa: Tal como Gil, teve gás para a primeira metade da época, mas, mesmo assim, melhorou mais de cem lugares no ranking em 12 meses. Conquistou em Faro o segundo título de nível Future da sua carreira e foi ainda finalista noutro em Espanha (Murcia). Somou meias-finais de Futures nos Estados Unidos em Sunrise e Palm Coast. No Challenger Tour atingiu dois quartos-definal, em Barranquilla (Colômbia) e Nápoles (Itália), onde registou

Pedro Sousa melhorou mais de cem lugares no ranking em 12 meses.

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ténis português em 2012 a melhor vitória da época sobre Gilles Muller (61º). Perdeu na última ronda do RANKINGS qualifying de Roland Garros. (em Dezembro) Rui Machado: Começou o ano como 68º 2011 2012 e terminou-o como 306º do Mundo. O seu ano mais mediático de sempre tornouMaria João Koehler (WTA) 227.ª 126.ª se num pesadelo pelas lesões. Começou Michelle Brito (WTA) 173.ª 116.ª com nove derrotas em torneios do ATP World Tour e Taça Davis. Em Abril João Sousa (ATP) 193.º  99.º voltou aos Challengers para recuperar Frederico Gil (ATP) 102.º 134.º confiança e pontos e foi logo à final de Gastão Elias (ATP) 172.º 144.º Roma. Foi oitavo-finalista no Jamor Pedro Sousa (ATP) 341.º 215.º onde sofreu duro desaire (6-1, 6-0) com o futuro bicampeão Juan Martin Del Rui Machado (ATP)  68.º 306.º Potro. Outro Challenger em Roma deuFrederico Silva (ITF)  39.º   6.º lhe um bom resultado, meias-finais, mas depois sucederam-se cinco derrotas para terminar a temporada, incluindo nos três torneios do Grand Slam. Pelas mais diversas razões, 2012 dá a entender uma possível passagem de testemunho de Frederico Gil e Rui Machado aos mais jovens João Sousa e Gastão Elias, com Pedro Sousa à espreita, tal como Maria João Koehler assumiu o estatuto de nº1 a juntar ao de tetracampeã nacional, destronando Michelle Brito. Mas o ano agora findo, também deu indicações de que Gil, Machado e Brito, quando estão em forma, têm argumentos para recuperar o domínio interno. A temporada de 2013 será aliciante.

Discurso Directo 20

Estrelas lusas recordam 2012 Colocámos três perguntas aos jogadores portugueses que em 2012 andaram no top-200 dos rankings mundiais (Maria João Koehler, Michelle Brito, João Sousa, Frederico Gil, Gastão Elias e Rui Machado), bem como ao único que foi top-10 mundial no escalão de sub-18 (Frederico Silva). A única excepção foi Pedro Sousa, que não ingressou nestas categorias mas é membro da selecção nacional da Taça Davis, é o


actual nº.4 português e de indesmentível talento. Só Michelle Brito não respondeu. PERGUNTAS: 1.ª - Qual o ponto mais positivo da época de 2012? 2.ª - Qual o ponto mais negativo? 3.ª - Regra geral, como avalia a temporada de 2012?

Maria João Koehler

Gastão Elias fecha pela primeira vez uma época no top-150

Marcello Zambrana Inovafoto

1 - Tenho dificuldade em eleger o ponto mais positivo da época. A qualificação para o Open da Austrália e ter jogado com a Kim Clisjters na Rod Laver Arena foi, sem dúvida, um ponto marcante da minha carreira e nunca me esquecerei. Mas ter ganho um torneio de 100 mil dólares também foi um passo muito importante e sintome orgulhosa por ter sido o torneio mais alto alguma vez ganho por uma portuguesa. Estes foram sem dúvida os pontos altos do ano.

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ténis português em 2012 FPT

2 - Quanto aos pontos negativos, não me lembro de nenhum mesmo marcante e negativo. Depois da derrota em Wimbledon contra a primeira cabeça-desérie (Melinda Czink) por 6-7, 6-2 e 8-6, e depois de três horas a jogar a um nível muito alto, senti-me muito frustrada por perder, porque senti que estava ao meu alcance. Ela é uma excelente jogadora, mas picou-se e provocou-me no jogo, o que me deu ainda mais frustração no final. Era a minha primeira vez em relva e saí do torneio numa fase precoce mas plenamente consciente de que tinha e tenho jogo para fazer muitos estragos em relva. Foi um momento importante porque acho que saí de Wimbledon com muita determinação para melhorar depois de um encontro, não negativo, mas que me deixou frustrada.

Michelle Brito regressou aos títulos no 25 mil dólares de Surprise

3 - Foi uma época bastante positiva mas, como quero sempre mais, acabei-a sentindo que ainda poderia ter subido mais no ranking. Mas estou tranquila e motivada para cumprir com os meus objectivos no próximo ano.

Frederico Gil

1 – 3.ª ronda do Australian Open, 3.ª ronda do Open de Barcelona, Campeão do torneio de pares do ATP 250 Viña del Mar. 22

2 - Ter perdido muitas primeiras rondas. Bastantes encontros disputados a um nível baixo, pouca regularidade de resultados/ performance. 3 - Foi uma época medíocre. Faltou estabilidade de resultados. A troca de raquetes e de treinadores não ajudou em nada.

Rui Machado

1 - O ponto mais positivo da época foi a entrada directa nos quatro torneios do Grand Slam.


2 - O mais negativo foi a minha lesão no joelho direito, que até agora ainda não me permitiu voltar a competir. 3 - Avaliando a época, foi uma época cheia de problemas físicos, que faz parte da profissão, mas claramente para esquecer.

João Sousa

1 - Penso que todos os resultados que referiu (quartos-de-final do Estoril Open, entrar como titular na Taça Davis, passar qualifying em Roland Garros) foram especiais para mim! Não tenho nenhum em concreto. A época foi muito comprida e o esforço que fiz para alcançar esses resultados foi enorme. Fico com essa boa sensação de sofrimento e a recompensa por ter atingido o top 100 e ter evoluído como jogador e pessoa! 2 - Pensando bem, não creio ter havido algum momento muito amargo nesta época! É óbvio que cada derrota é difícil de digerir, mas não acho que tenha tido alguma desilusão, já que consegui sempre aprender e tirar o melhor de cada uma dessas derrotas. 3 - É óbvio que foi a melhor época da minha carreira e foi também uma recompensa por todo o esforço, não só meu mas também do Frederico (meu treinador) e da minha família, que sempre acreditaram e acreditam em mim. Agora, já só penso em poder fazer ainda melhor o próximo ano!

1 - O ponto mais positivo do ano foi sem dúvida o título no Rio de Janeiro. Foi uma vitória muito importante para a minha confiança pois já tinha perdido algumas finais. 2- A parte menos positiva deste ano foi talvez no início do ano, depois de ter chegado à final em são Paulo, fiquei um tempo sem vitórias também devido ater jogado mais torneios do ATP World Tour do que era normal.

O título no Rio foi o ponto alto da época de Gastão Elias

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Joao Pires

Gastão Elias


ténis português em 2012 3- Acho que, no geral, foi uma muito boa temporada, talvez a melhor até agora. Acabei o ano bem e com muita confiança, espero começar o de 2013 tão bem ou melhor do que 2012.

Pedro Sousa

1 - O melhor momento da época foi a vitória sobre o Gilles Muller em Nápoles. 2 - O pior momento foram as quatro derrotas seguidas na América do Sul. 3 - Globalmente, apesar de a segunda metade não ter sido tão boa como a primeira, foi um ano positivo, pois consegui ranking para jogar os meus primeiros torneios do Grand Slam em 2013.

Frederico Silva

1 - Penso que o ponto mais positivo desta época de 2012 foi o facto de ter evoluído bastante o meu jogo a vários níveis. Em termos de resultados, o que mais me marcou foi o título no US Open em pares. Fiquei muito feliz e motivado após esta vitória.

“A DERROTA QUE MAIS ME CUSTOU FOI NA FINAL DO CAMPEONATO DA EUROPA DE SUB-18, NA SUÍÇA” 24

2 - Não considero que tenha havido pontos negativos na minha época. Estou em fase de formação e quer as vitórias quer as derrotas são uma importante aprendizagem. Mas a derrota que mais me custou foi na final do Campeonato da Europa de sub-18 na Suíça.

3 - No geral acho que foi uma boa época. Em termos de ténis, evoluí em alguns aspectos que, com o meu treinador, decidi que eram importantes, tais como o serviço, a resposta e a profundidade de bola. Em termos de resultados também acho que cumpri com praticamente todos os objectivos que tinha previsto para a época, que eram acabar o ano no top-10 ITF e ganhar os primeiros pontos ATP. Por isso considero 2012 um ano bastante positivo na minha carreira.


Court & Costura

Ficar ou não ficar na história eis a questão de Vasco Costa Aumentar as receitas e cortar nas despesas será o plano básico, na pior conjuntura possívels

Hugo Ribeiro

Vasco Costa está numa situação semelhante à do actual Governo da República: poderá terminar o mandato agora iniciado como um dos melhores presidentes de sempre da Federação Portuguesa de Ténis, se conseguir imprimir a dinâmica que imaginou para os próximos anos, ou perder-se nas brumas da memória, se naufragar nas tempestades que vai enfrentar. “Nas alturas complicadas vê-se quem gere bem. É altura de reestruturações e as dificuldades poderão unir mais as gentes do ténis”, disse-me quando era “apenas” presidente do Clube de Ténis do Porto e concorria às eleições federativas. É a atitude adequada para estes tempos e aos 43 anos não lhe falta força, mas nos últimos dois anos (2011 e 2012) as dotações estatais à FPT caíram 17 por cento e prevê-se nova quebra em 2013, depois do secretário de Estado da Juventude e Desporto, Alexandre Mestre, ter avisado que o financiamento às federações desportivas nacionais iria ser cortado em média em 9 por cento. Em poucos meses, a nova Direcção saldou as dívidas aos jogadores referentes às eliminatórias da Taça Davis de 2011 mas ainda tem todo o ano de 2012 por pagar e a primeira ronda de 2013 já está aí às portas frente ao Benin, felizmente em casa, com menos custos. Aumentar as receitas e cortar nas despesas será o plano básico, na pior conjuntura possível e com um dossier “bicudo” em cima da mesa, a gestão do complexo de ténis do Estádio Nacional que o Governo deseja ver resolvido mais tarde ou mais cedo. Voltarei a este tema brevemente.

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João Pires

ENTREVISTA

JOÃO

SOUSA

Nº1 num momento histórico da modalidade em Portugal Hugo Ribeiro 26

João Sousa foi, indiscutivelmente, a figura do ténis português em 2012, pelo menos se nos referirmos a jogadores, dado que o árbitro Carlos Ramos voltou a provar porque pertence à elite da modalidade. É a essa elite que João Sousa pretende um dia aceder. O antigo campeão nacional de sub-12, que aos 15 anos rumou para a Catalunha à procura de um futuro melhor (quando os jovens portugueses ainda não sentiam a urgência de abandonar o país para

vingarem), deixou de ser aquele jogador que só tinha direita e serviço, que até ostentava um bom vólei e alguns instintos atacantes, que reconhecia a necessidade de “mexer” na pancada de esquerda e, sobretudo, que confundia a garra natural que sempre o animou com um comportamento algo errático no court. João não desperdiçou o empréstimo que os pais – Armando, juiz, e Adelaide, bancária – tiveram de contrair para que ele pudesse emigrar para Barcelona depois de ter deixado de existir o núcleo maiato do Centro Nacional de Treino. Arregaçou as mangas, fez os seus estudos secundários como qualquer outro jovem e trabalhou seriamente no seu ténis em aspectos físicos, técnicos, tácticos e, sobretudo psicológicos.


Nos media nacionais não se fala de João Sousa como um João Sousa talento nato, como sempre se disse e escreveu de José Manuel 23 anos (30 de Março de 1989) Cordeiro, Nuno Marques, 1,85 m, 73 Kg Emanuel Couto, Pedro Sousa Natural de Guimarães e Gastão Elias, apesar de ter Residente em Barcelona idolatrado génios como Pete 101.º do ranking mundial Sampras e Roger Federer. Mas (92.º mundial em Outubro) também admirou Juan Carlos $247.511 em prémios de carreira (€189.396) Ferrero e o seu ténis é cada vez Representa BTT Academy e CT Guimarães mais completo – até no jogo de Campeão de 10 títulos internacionais: pés se nota que tenta entrar Futures de La Palma 2009, Valldoreix 2010, Tenerife 2010, mais cedo na bola –, sabendo, Lanzarote 2010, Balaguer 2011, Lerida 2011, Sabadell 2011, por outro lado, beber da e dos Challengers de Furth 2011, Mersin 2012 e Tampere chamada “escola espanhola” o 2012, 7 de terra batida, 1 em carpete e 2 em hard. famoso espírito de sacrifício. 7 vitórias e 6 derrotas na Taça Davis (7-4 em singulares / É este cocktail cada vez mais 0-2 em pares) Campeão nacional de sub-12 picante que lhe permitiu escalar a pulso na hierarquia internacional, pisando todos 100 do ATP World Tour, depois de Nuno os passos necessários: Primeiro fixou-se como Marques, Frederico Gil e Rui Machado (por um terror dos Future, conquistando sete ordem cronológica); atingiu os quartos-detítulos desta categoria entre 2009 e 2011, final do Estoril Open, proeza só alcançada para depois consolidar a sua presença nos anteriormente por João Cunha e Silva, Nuno challengers, somando já três troféus deste Marques, Frederico Gil e Rui Machado; nível, um em 2011 e dois em 2012. estreou-se como titular da selecção nacional Este jovem de cabelos castanho alourado por na Taça Davis em Bratislava, frente à vezes longo, de fisionomia seca, personalidade Eslováquia, e logo como n.º1 nacional, algo forte, aparentemente calmo quando conversa, de raro; tornou-se n.º1 nacional, quebrando mas apaixonado quando compete, tem como uma hegemonia partilhada desde 2003 por supervisor técnico Francis Roig, um antigo Frederico Gil e Rui Machado; e passou a fase jogador que ganhou torneios em Portugal, de qualificação de um torneio do Grand Slam, agora treinador de renome, que algumas vezes em Roland Garros. viaja com Rafael Nadal, quando Toni Nadal Neste ano de 2013, já em Janeiro, nova não está disponível. fronteira é franqueada ao entrar directamente João Sousa viveu momentos inéditos em 2012 num “major”, no Open da Austrália. e marcantes para o ténis nacional: foi 92.º Por estar fora de Portugal, é dos jogadores classificado no ranking mundial, tornandoportugueses que menos entrevistas tem se no quarto português a entrar no top-

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ENTREVISTA concedido, não porque se recuse, mas porque não é tão solicitado. Fez todo o sentido que tivesse sido a escolha de Pedro Keul, o director desta publicação, para a primeira de todas as entrevistas. É, porém, uma entrevista com uma história curiosa. Só conheci o João Sousa tardiamente, em 2008, embora Pedro Cordeiro me falasse dele há muito. Foi quando o capitão o chamou pela primeira vez para a selecção nacional, numa eliminatória da Taça Davis na Foz do Porto, ganha frente ao Chipre por 5-0. Essa eliminatória marcou-o, como admitiu dois anos mais tarde numa entrevista ao site “Bolamarela”, por ter sido a sua estreia, por ter ganho o último ponto e pelo belo ambiente que se viveu. Vi-o esporadicamente noutras ocasiões, em torneios e Taças Davis, mas só voltei a falar com ele no Estoril Open de 2012. Muito tinha mudado na sua carreira desde 2008 e solicitei-lhe uma conversa informal, para conhecê-lo e informar-me melhor, tendo em vista alguns artigos de opinião que iria escrever no Diário de Notícias sobre ele. Apesar de toda a azáfama que rodeou a sua última participação no Estoril Open, foi capaz de alhear-se dos duelos com Gastão Elias, Denis Istomin e Albert Ramos, bem como de um mediatismo ao qual não estava habituado, para recordar-me os seus primórdios e dar-se a conhecer. Grande parte dessa conversa nunca foi publicada até que Pedro Keul desafiou-me a entrevistar o João para este primeiro número. Voltei a contactar o português de 23 anos

que, de pala do boné virada ao contrário, faz lembrar Andreas Seppi e tal como o transalpino é poliglota, exprimindo-se fluentemente em castelhano, catalão, italiano, francês e inglês. Desta feita, João estava a vir para Portugal, para a quadra natalícia em família, em Guimarães, mas só teria disponibilidade para uma entrevista por escrito e foi uma agradável surpresa a sua redacção escorreita e, sobretudo, isenta de erros, algo notável para quem fala e escreve em Espanha desde os 15 anos. A entrevista que se segue é, pois, o resultado combinado de um face-a-face em Maio e de uma troca de e-mails em Dezembro.

“Temos a melhor geração do ténis nacional”

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P: Conta-me como foram as tuas origens no ténis? R: Comecei aos sete anos, no Clube de Ténis de Guimarães. O meu pai começou a jogar aos 30 anos, mas nunca teve treinador e joga bastante bem, tendo mesmo sido campeão nacional de veteranos. Lembro-me de ele me dizer que “posso não saber de ténis, mas sei ver” e comecei com ele. Até aos 13 ou 14 anos, diria que tive um percurso normal: estudava, jogava ténis e futebol. E olha que não era nada mau no futebol. Jogava à esquerda, passei pelo Vitória de Guimarães e por Os Sandinenses e era sempre convocado para os jogos, apesar de não ter tempo para treinar. Às vezes nem me parecia justo para os outros (sorriso). P: Quem foi o primeiro treinador que te marcou? R: O Luís Miguel Coutinho, no CT Guimarães,


R: O Frederico Marques, que se tornou numa peça muito importante para mim nos últimos quatro meses (NDR: começaram a trabalhar em Maio). Ele só tem mais três anos do que eu mas optou por deixar de jogar, quis ser treinador e somos muito amigos… P: Desculpa interromper mas o Frederico Marques em Portugal tinha muito a imagem de um jovem jogador cheio SMP ImagesApia International Sydney

mas por volta dos 13 ou 14 anos já não tinha ninguém a jogar ao meu nível em Guimarães. P: Deu-se então a transferência para a Maia? R: Estive cerca de ano e meio no Centro Nacional de Treino, onde o Nuno Marques era treinador… P: … E entretanto foi preciso tomar novas opções. R: Tinha 15 anos e foi, provavelmente, o passo mais importante da minha vida. Os meus pais tiveram de fazer enormes esforços para eu poder seguir o meu sonho e ir viver e treinar para Barcelona. Fui para a Federação Catalã de Ténis, que fica em Cornellà, perto do aeroporto, em regime de internato, pois dormia lá, em camaratas. P: Mas não é aí que hoje te encontras? R: Um ano depois fui para a Academia BTT (Barcelona Total Tennis). O treinador Álvaro Margets transferiu-se para lá e eu segui-o. Fui então viver para casa de uma família espanhola. O Rui Machado já lá tinha estado, tinha boas referências da academia, quase todos os jogadores estavam classificados no ranking mundial, não havia razão para não ir, gostei e ainda lá estou. P: E quem é o teu treinador?

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ENTREVISTA

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de talento nos escalões etários mais baixos, mas que depois se perdeu e também passava a ideia de uma personalidade irreverente… R: … Pode ter essa imagem mas mudou muito! É uma pessoa excelente e bom treinador que cuida de todos os detalhes. Por outro lado, há confiança entre nós, entendemo-nos bem e faltava-me isso na academia, alguém com quem eu pudesse viajar com esta cumplicidade. P: Qual o teu enquadramento técnico neste momento (NDR: em Dezembro)? Quem é o teu treinador? Quem te acompanha no circuito? Ainda viajas com o Frederico Marques como me disseste no Estoril Open? Qual o papel do Pedro Cordeiro nesse enquadramento técnico em que confias? R: Neste momento, como sabes, trabalho em Barcelona, na academia BTT. O meu treinador é o Frederico e é também aquele que me acompanha nos torneios. Tenho um acompanhamento personalizado, juntamente com o Frederico, do Francis Roig que, apesar de ser um dos chefes da academia, é também bem conhecido por ser um dos treinadores do Nadal. O Pedro Cordeiro é uma pessoa em quem eu confio e me ajudou bastante… incluindo este ano no Estoril Open. P: Agora és um jogador de circuito e passas seguramente mais tempo em competição, fora, do que em Barcelona. O contacto com o Francis Roig é cada vez menor?

R: Raramente estou longos períodos na academia a treinar, mas nunca me esqueço que, quando entrei, nem ranking tinha e agora estou aqui. Ele tem-se dedicado a mim e, de certo modo, sinto que foi a academia que fez a minha carreira. É sempre muito bom ouvir o que ele tem para me dizer. P: Podes dar-me um exemplo de um detalhe mais recente em que tenhas sentido a importância do Francis Roig (NDR: em Maio)? R: O Francis e o Frederico têm insistido comigo na consciencialização de que o ténis está mais rápido. É preciso saber colocar pressão constante no adversário e treinar as transições defesa-ataque. P: A tua solidez ao fundo do court é reconhecida, mas recordo-me que noutras entrevistas disseste que nos escalões juvenis voleavas mais, mas que em Espanha foste perdendo um pouco essa rotina. Não te parece que esse aspecto, bem como um jogo de pés mais agressivo, poderá fazer-te evoluir? R: Não tenho uma obsessão pelo jogo de pés, mas sinto que ele está lá, sobretudo quando opto por pancadas mais chapadas. Quanto ao vólei, não tenho mau vólei e sei que posso surpreender com ele. São aspectos em que poderei evoluir, mas sei que não se pode fazer tudo num dia. O Feli (Feliciano Lopez) tem 28 anos e a jogar muito bem o Ferrer está aos 30 no melhor momento da sua carreira. P: Em 2012 passaste de um jogador que era um terror nos Future para um


Trnava

que começa a discutir com frequência os Challengers. Venceste dois este ano e ainda foste várias vezes a meiasfinais. Como analisas essa evolução e a que se deveu? E em que caminho (objectivos) pretendes que essa evolução continue em 2013? R: Penso que apesar de tudo a experiência de jogos e situações são as que nos fazem crescer como jogador e acho que, pelo facto de ter passado já algumas vezes, no ano passado, pelos Challengers, ia bem mentalizado e ciente de que teria de trabalhar e tratar de

subir o meu nível para poder estar à altura! É óbvio que houve um trabalho não só de campo mas também físico e mental mais acentuado. Penso que nos dias de hoje tenho vindo a demonstrar que sou capaz de jogar a esse nível e agora em 2013 avizinha-se um ano difícil com objectivos de me poder manter no top 100 e jogar os melhores torneios e contra os melhores jogadores do mundo! P: A entrada no top-100 é uma fronteira mítica para o ténis português. Sentes que fizeste algo de histórico para o ténis nacional? Vês-te como um sucessor de Nuno Marques, Frederico Gil e Rui Machado ou não lhe deste grande significado e ser 92º é igual a 101º? R: Como referi na resposta anterior, acho que o mais importante é ter nível para poder estar lá em cima e tenho vindo a trabalhar para que assim seja... é óbvio e penso que o primeiro sonho de qualquer tenista profissional, não só português, é figurar nesse lote de 100 melhores jogadores profissionais e sinto-me muito orgulhoso de tê-lo conseguido! Espero que num futuro próximo haja outros portugueses a conseguir tal proeza e que o nosso ténis possa evoluir ainda mais. P: Começas a entrar directamente em quadros principais de torneios do Grand Slam. De alguma forma isso altera o modo como encaras esses grandes eventos? R: Entrar no quadro do Australian Open de 2013 é algo extraordinário, não só a nível

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ENTREVISTA

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financeiro mas também pelo que representa tal evento… é um dos quatro melhores torneios do mundo e sinto-me “alagado” por poder participar nele por mérito próprio... sei que não é fácil jogar já que é uma competição à melhor de cinco sets e isso causa um cansaço físico e mental enorme. Tenho vindo a preparar-me da melhor maneira possível e espero poder exibir o meu melhor ténis. P: 2012 marcou a tua estreia como titular da Taça Davis. Deixaste de ser apenas uma opção do capitão para ser um pilar da equipa. É um objectivo concretizado? Era importante para ti cimentar a posição dentro da equipa? Poderá falar-se de um líder da selecção nacional como nos tempos de Cunha e Silva e depois Nuno Marques? R: Neste momento penso que temos das melhores equipas nacionais da história do nosso ténis e o Pedro Cordeiro – acho – está a fazer um excelente trabalho. Ultimamente não tivemos muita sorte em alguns torneios e lesões de jogadores, mas penso que rapidamente conseguiremos atingir a divisão 1 e, porque não, a divisão mundial! Foi uma honra para mim poder representar Portugal como número um português e, como é óbvio, sempre foi e será. Dei o meu melhor para ajudar a equipa. Temos muito boa relação entre todos os jogadores e não creio que se possa falar de um líder em concreto mas sim num bom espírito de equipa, já que o ténis, ao fim ao cabo, é um desporto individual e penso que é o fundamental neste tipo de eventos. P: Os teus duelos com o Gastão Elias

começam a formar uma rivalidade profissional para além da amizade que vos une. É algo de que te orgulhas? Poderes protagonizar uma daquelas rivalidades que têm levado o ténis português mais longe, como sucedeu com Cunha e Silva-Marques, Mota-Couto e Gil-Machado? Olhas para vocês como o futuro do ténis nacional e da selecção? R: Os duelos entre amigos são sempre difíceis de enfrentar e a derrota por vezes ainda é mais difícil de digerir mas o ténis é mesmo assim. Acho que se houver uma rivalidade sã não há nenhum problema e como bem dizes penso que é óptimo para o ténis nacional, já que bons resultados puxam outros ainda melhores. Tanto eu como o Gastão somos jovens e damos sempre o nosso melhor em prol da selecção. Esperamos, e permiteme falar também por ele já que o conheço bem, dar muitas alegrias aos portugueses e solidificar uma boa equipa. P: Acreditas que esta é a melhor geração do ténis masculino português? Tinhas ídolos nacionais quando eras miúdo? R: Acredito e estou plenamente de acordo que neste momento temos a melhor geração do ténis nacional e deixa-me só dizer que acho uma pena a Federação Portuguesa de Ténis não aproveitar este momento tão belo do nosso ténis. Sei que a situação não está fácil e para nós jogadores também não, já que é muito difícil arranjar contratos e pessoas que confiem nas nossas capacidades mas penso que poderiam fazer algo mais para ajudar


amanhã é outra. Fiquei contente com a minha prestação! P: É óbvio que te sentes bem em Espanha e pelo que li em alguns lados até arranjaste namorada por lá, mas em termos meramente técnicos, vais manter-te por lá, ou se a situação se alterasse em Portugal pensarias em regressar durante a tua carreira profissional, sobretudo nos tempos mais próximos? R: É sobretudo devido às condições que Portugal não tem para oferecer. Ainda mais no Norte, já que sou de Guimarães. Lá não temos condições e jogadores que queiram dedicar-se à modalidade como eu fiz. João Pires

a crescer, não só os jogadores mas também o ténis nacional. Ídolos nacionais não tive… internacionais sim, entre eles, Juan Carlos Ferrero, Roger Federer e Pete Sampras! P: Uma questão, meramente por curiosidade, o que te passou pela cabeça quando viste o David Goffin defrontar o Roger Federer em Roland Garros, poucos dias depois de o teres derrotado no qualifying? R: O David é um excelente jogador e tem vindo a demonstrar isso durante toda a época. Foi um jogo brilhante pela minha parte e é obvio que pensas que, se calhar, poderia ser eu a estar ali… mas o ténis é mesmo assim, o que hoje é uma coisa,

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No circuito

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ASSIM COMEÇO

2013


Brisbane (ATP)

A estreia de Dimitrov Grigor Dimitrov vive com o peso permanente de ser comparado a Roger Federer. As semelhanças técnicas são muitas mas a ambição também. “Estou contente, jogo bem, mas os torneios como este são para mim aquecimentos para os Grand Slams”, afirmou durante o torneio de Brisbane. Há dois meses, Dimitrov deixou Patrick Mouratoglou e viajou para Estocolmo (Suécia) para treinar-se na academia “Good To Great”, sob a orientação da “troika” de antigos jogadores suecos, Mikael Tillström, Magnus Norman e Nicklas Kulti. “Quando me treino, é com um objectivo a longo prazo. Talvez seja talentoso, mas o talento não nos permite ganhar encontros. A regularidade sim. Quando temos objectivos, se isso não resulta, encontramos um novo meio de os atingir. Foi o que fiz ao ir para a Suécia”, explicou o búlgaro de 21 anos, o mais novo jogador do top 50. E logo na primeira semana do ano, Dimitrov estreou-se em finais do ATP World Tour, onde perdeu com Andy Murray, por 7-6 (7/0), 6-4. “Ele joga muitas pancadas diferentes, o que o torna difícil de defrontar porque somos muitas vezes apanhados em desequilíbrio”, admitiu Murray, depois de defender o título australiano com sucesso. Dimitrov chegou a ter um set-point na partida inicial, mas mostrou-se conformado com a derrota. “Ainda preciso de mais um par de anos no circuito para ficar mais forte e ser capaz de ombrear com estes tipos todas as semanas e, em especial, jogar à melhor de cinco sets”, admitiu Dimitrov, que passou para o 41.º lugar, a sua melhor classificação de sempre.

“RICHARD TRABALHOU MUITO FISICAMENTE NESTE INVERNO E ISSO VIU-SE AO LONGO DE TODA A SEMANA”

Doha (ATP)

Gasquet já recolhe frutos Apoiado numa excelente condição física e numa atitude lutadora irrepreensível, Richard Gasquet esteve invicto durante a primeira semana do ano, em Brisbane. “Richard trabalhou muito fisicamente neste Inverno e isso viu-se ao longo de toda a semana. Nos últimos

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No circuito

Agnieszka Radwanska justificou o estatuto de principal favorita em Auckland

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dois anos, ele passou uma etapa; ele sabe que, para divertir-se no court, tem que, inquestionavelmente, sentir-se forte”, admitiu o treinador do francês, Riccardo Piatti. No derradeiro encontro do torneio, Gasquet venceu por 3-6, 7-6 (7/4) e 6-3 um Nikolay Davydenko conformado. “Nesta final, Gasquet foi, fisicamente, mais sólido do que eu. No início do segundo set, comecei a fraquejar enquanto ele, no terceiro, ainda estava muito bem”, disse o russo, que dispôs de dois break-points quando liderava, por 6-3, 4-2. Como consequência de estar na final, Gasquet desistiu de jogar em Sydney, preferindo descansar e viajar para Melbourne e preparar-se para o Open da Austrália. Uma decisão inteligente que vem confirmar a opinião de Piatti: “Temos de deixar de ver Richard como um ‘prodígio do ténis’, tudo isso pertence ao passado. Nos dois últimos anos, vejo que ele amadureceu bastante. Creio que a sua medalha de bronze [em pares] nos Jogos Olímpicos fez-lhe um bem incrível. Está muito orgulhoso da sua nomeação para a Legião de Honra. E, agora, penso que tem


vontade de conseguir grandes coisas na Taça Davis.” O triunfo em Brisbane foi o oitavo de Gasquet no ATP World Tour, o que o coloca em sexto na lista dos franceses mais titulados, atrás de Yannick Noah (23), Guy Forget (11), Gilles Simon (10), Henri Leconte e Jo-Wilfried Tsonga (9).

Chennai (ATP)

Bautista Agut sempre a progredir Numa só semana, Roberto Bautista Agut ganhou mais encontros em quadros finais do ATP World Tour do que em toda a época de 2012. De facto, o espanhol nascido há 24 anos na região de Valencia, venceu sucessivamente em Chennai, Blaz Kavcic (7-6, 6-2), Matthias Bachinger (7-6, 6-3), Tomas Berdych (7-5, 2-6 e 6-3) e Benoit Paire (3-6, 6-1 e 6-4) para estrear-se numa final. Só que o desgaste dos encontros anteriores e a experiência de Janko Tipsarevic revelaram-se cruciais para o sucesso do sérvio, por 3-6, 6-1 e 6-3. “No primeiro set, joguei o meu melhor ténis, mas é difícil manterme assim diante de Tipsarevic. Em 2012, ganhei muitos encontros e progredi em confiança e experiência. Esta pré-temporada, trabalhei duro e com motivação. Aqui viram-se os resultados”, resumiu “Bati”, que nunca tinha passado dos quartos-de-final no ATP World Tour, onde só ganhou três encontros no ano passado. Mas graças, em especial, à vitória em três “challengers”, Bautista entrou no top 100 em Agosto passado, terminando 2012 no 80.º posto. Esta semana, é 55.º mundial.

Serena Williams começou 2013 como terminou 2012

Brisbane (WTA)

Serena e imbatível Patrick Mouratoglou não podia ter ficado mais satisfeito com o desfecho do torneio de Brisbane. Poucos dias depois de terem estado nas Ilhas Maurícias no estágio de pré-época promovido pela academia do treinador francês, Serena Williams e Anastasia Pavlyuchenkova defrontaram-

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No circuito se na final, com a vitória da mais cotada, por 6-2, 6-1. “Não poderia ter defrontado uma melhor pessoa, dentro e fora do court; foi uma honra ter jogado contigo Anastasia”, elogiou Serena, que descolou do marcador, de 2-2 para 6-2, 3-0. “Quando jogo contigo, sinto-me sempre como se não soubesse jogar ténis”, contrapõs a russa. “Hoje foi bom, não entrei em pânico, não pensei demasiado e não esmaguei todas as bolas. Estive calma e serena. Tenho estado a ver muitos encontros antigos no YouTube e sinto que, neste momento, estou a jogar algum do meu melhor ténis”, disse a norte-americana, que ganhou 52 dos últimos 54 encontros disputados. Serena está agora no 10.º lugar da lista de jogadoras com mais torneios ganhos, com 47 títulos, o que contrasta com a estreia de Pavlyuchenkova em finais de torneios Premier. No entanto, as vitórias sobre Petra Kvitova e Angelique Kerber em Brisbane contribuíram para a russa subir oito lugares no ranking, para o 24.º lugar.

“CREIO QUE ANABEL TEVE UM PAPEL MUITO IMPORTANTE NESTA TAÇA HOPMAN”

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Taça Hopman (ITF)

Anabel Medina lidera Espanha à vitória

Fernando Verdasco não ganhou um único encontro de singulares, mas isso não impediu que a Espanha conquistasse a Taça Hopman pela quarta vez – após os triunfos de 1990 (Emilio e Arantxa Sánchez Vicario), 2002 (Arantxa Sánchez Vicario e Tommy Robredo) e 2010 (María José Martínez e Tommy Robredo). Valeu ao antigo número sete do ranking a boa forma de Anabel Medina que permitiu que os espanhóis ganhassem sempre, por 2-1, a quatro selecções: África do Sul (Kevin Anderson e Chanelle Scheepers), França (Jo-Wilfred Tsonga e Marion Bartoli), EUA (John Isner e Venus Williams) e Sérvia (Novak Djokovic e Ana Ivanovic). Verdasco averbou somente um ponto ao beneficiar da desistência de Isner – substituído num encontro-exibição pelo australiano de 16 anos, Thanasi Kokkinakis (756.º ATP), a quem o espanhol venceu, por 7-6 (7/4), 6-3. Na final, Verdasco cedeu diante de Djokovic (3-6, 5-7), mas Anabel derrotou Ivanovic (6-4, 6-7 e 6-2) e, no par, os dois fizeram a


diferença (6-4, 7-5). “Hoje, foi um dos melhores momentos da minha carreira. Creio que Anabel teve um papel muito importante nesta Taça Hopman. Ganhou três encontros individuais e jogou muito bem nos pares mistos para ajudar-me. É uma grande jogadora de pares e isso pôde ver-se”, afirmou Verdasco, convictamente.

Auckland (WTA)

Radwanska justifica ambições Agnieszka Radwanska não poderia ter desejado melhor preparação para o Open da Austrália do que aquele que realizou em Auckland. A polaca justificou o estatuto de principal favorita no torneio neozelandês ao conquistar o 11.º título da carreira, culminado na final em que derrotou a belga Yanina Wickmayer, com um duplo 6-4. Na véspera, ambas sentiram dificuldades nas meias-finais: Radwanska venceu Jamie Hampton em dois tie-breaks, enquanto Wickmayer superiorizou-se a Mona Barthel no tie-break do terceiro set.

Richard Gasquet já recolheu frutos em Doha

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No circuito “Joguei cinco bons encontros sem perder um set, por isso, acho que estou pronta para o Open da Austrália”, admitiu Radwanska, que tem como objectivo fazer melhor do que nos anos anteriores em Melbourne, onde nunca passou dos quartos-de-final. O ASB Classic ficou igualmente marcado pelo regresso à competição da ex-número um de pares, Cara Black, oito meses após ser mãe. E, ao lado de Anastasia Rodionova, Black que não competia desde meados de 2011, conquistou o 55.º título de pares da sua carreira.

Shenzhen (WTA)

Li sentiu-se em casa

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Jogar em casa nem sempre é fácil para Li Na, mas a melhor tenista chinesa de sempre conseguiu terminar a primeira semana do ano com um triunfo em Shenzhen. Foi o seu sétimo título na carreira e segundo na China, após o sucesso em Guangzhou, em 2004, quando se tornou na primeira chinesa a triunfar no WTA Tour. No último encontro, Li venceu Klara Zakopalova, com quem tinha perdido dois dos três anteriores duelos, com os parciais de 6-3, 1-6 e 7-5, mas só depois de ter desperdiçado a vantagem de 5-2 no set decisivo. “Lidei bem com as minhas mudanças de ânimo e estou contente por isso. Ganhar o título certamente que ajuda a aumentar a minha confiança para as próximas semanas, mas também depende de como estou a jogar no court. A confiança só por si não garante a vitória”, disse Li. Zakopalova, que até terminou a final com mais um ponto ganho do que a sua adversária, contentou-se em subir ao 23.º lugar do ranking, três posições acima do seu anterior máximo, alcançado em 2006. Na final de pares do Shenzhen Longgang Gemdale Open, a vitória foi para a dupla de irmãs de Taiwan, Chan Yung-Jan, de 23 anos, e Chan Hao-Ching, de 19, que imitam no palmarés do WTA Tour as duplas de manas Radwanska e Williams. Para a mais velha, foi o 10.º título na variante da carreira, enquanto para a mais nova foi o primeiro.


Equipamento

A nova arma de Novak Djokovic O Open da Austrália marca a estreia em competições oficiais, aa nova raqueta de Novak Djokovic, a YouTek™ Graphene™ Speed Pro, da Head. O número um do ranking mundial rendeu-se a esta revolucionária tecnologia baseada no Grafeno, a forma bidimensional do carbono, cuja descoberta valeu a Andre Geim e Konstantin Novoselov (da Universidade de Manchester), o Prémio Nobel da Física, em 2010. “A primeira vez que a experimentei, a nova raqueta superou todas as minhas expectativas. Dá ao meu jogo, mais velocidade e controlo”, frisou Djokovic. A utilização deste novo material permite aligeirar o peso da zona central da raqueta de maneira a que este possa ser deslocado para a “cabeça” da mesma ou para o “grip”, dependendo se quer mais potencia ou mais controlo. Até à chegada desta tecnologia, não era possível aligeirar o “coração” da raqueta, já que se trata da zona que suporta toda a torsão no momento de impacto com a bola.

Paralelamente, foi apresentado o novo anúncio da Head, que é a continuação do filme divulgado em Novembro. O objectivo da campanha é levar os jogadores de ténis de todo o mundo a experimentarem as novas raquetas. Maria Sharapova, Tomas Berdych e Marin Cilic irão igualmente estrear no Open da Austrália, as novas raquetas da gama Instinct Tour, que também utiliza a tecnología Graphene™, também já disponível nas lojas.

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Open da Austrรกlia

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SEMPRE A ABRIR


Cumpre-se o primeiro quartel de século sobre a inauguração do complexo agora denominado Melbourne Park – que não só salvou o Open da Austrália da despromoção como estreou um tecto amovível que fez entrar os torneios do Grand Slam numa nova era. Este ano, na 101ª edição, já se projecta mais um tecto para abrir. O interesse competitivo é o de sempre. Sem esquecer três portugueses no quadro principal. Miguel Seabra Foi em 1988 e, na altura, o mundo do ténis não falava de outra coisa: o Open da Austrália cortava com o seu passado e mudava-se da relva de Kooyong para um novo complexo na altura considerado futurista e dotado de um espectacular court central cabriolet. Após tantos anos de um declínio provocado pela ausência de grandes vedetas e prizemoney inferior, e com grandes potências económicas da década de 80 como Japão e Alemanha a cobiçarem o estatuto do Grand Slam, a federação de ténis australiana soube reinventar o seu torneio e consolidá-lo paulatinamente como um dos quatro grandes pilares da modalidade. Mal se imaginava então que, após ter lutado tanto para não perder o rasto dos outros eventos do Grand Slam, seria precisamente o Open da Austrália a puxá-los para o século XXI. Primeiro começou a puxálos figurativamente: ao transferir-se do final de Dezembro para a segunda quinzena de Janeiro, passou de quarto Grand Slam no calendário para primeiro e tornou-se mais apetecível para as vedetas internacionais que não faziam a longa viagem até aos Antípodas porque desejavam passar o Natal com a família. E depois porque o seu tecto amovível passou

O complexo de Melbourne Park cumpre as suas Bodas de Prata em 2013

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Open da Austrália Serena Williams tem ascendente sobre todas as outras e Melbourne Park sempre a inspirou

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“GERALMENTE, SÃO OS QUE MELHOR SE PREPARAM QUE MAIS LONGE CHEGAM NO OPEN DA AUSTRÁLIA” de invejado a paradigma: Wimbledon, que procura estar sempre na vanguarda debaixo de uma diáfana manta propositadamente tradicional, já tem o seu vetusto Centre Court dotado de características cabriolet. Roland Garros para lá caminha, talvez em 2018. O Open dos Estados Unidos, que teve as suas últimas cinco (!!!!!) finais masculinas adiadas para segunda-feira devido à incontinência meteorológica, está refém das limitações estruturais do gigantesco Arthur Ashe Stadium e tornou-se alvo de chacota.


Bodas de prata O complexo de Melbourne Park (que aquando da inauguração até se chamava Flinders Park) cumpre assim as suas Bodas de Prata em 2013. Pelo meio deu-se a inauguração de um segundo “show court” dotado de cobertura deslizante que também já teve duas denominações (de Vodafone Arena para HiSense Arena) e após a edição deste ano arranca o projecto que estreará um terceiro tecto amovível em 2015: o da Margaret Court Arena. Também os australianos terão a sua troika – pelos vistos, cada país tem a troika que merece. O tecto (que não salarial) tornou-se num dos grandes protagonistas da competição e, nestes 25 anos, mudou o figurino do torneio em múltiplas vertentes. Logo à partida, aberto ou fechado, permitiu a adesão às sessões nocturnas que começaram no Open dos Estados Unidos na década de 70 e que passaram a constituir a essência do ténis moderno enquanto “show business” – tanto que as derradeiras jornadas, das meias-finais masculinas à duas finais individuais, se passaram a jogar em “prime time” televisivo. Depois porque a cobertura não só serve para manter jogo contínuo em caso de chuva mas também de calor extremo.

Factores variáveis Esse é outro factor que tem sido tão determinante para o curso das edições realizadas neste novo milénio. Debaixo do buraco do ozono e em pleno verão austral, a canícula pode ultrapassar os 40 graus e é sempre um severo teste – sobretudo para jogadores

Novak Djokovic ficou com o ‘desejado’ David Ferrer como possível adversário nas meias-finais

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Open da Austrália que acabaram de iniciar a época. Geralmente, são os que melhor se preparam que mais longe chegam no Open da Austrália. Esse teste mantém-se duro quando o termómetro passa os 30 graus, mas já não é tão extremo porque, quando se atingem índices conjugados de calor e humidade, a jornada é parada nos courts exteriores e prossegue nos “show courts” com ambiente climatizado. Para mais, as principais vedetas são geralmente poupadas ao serem frequentemente escalonadas para as sessões nocturnas. Outro pormenor relevante que sofreu uma cambiante decisiva ao longo do último quarto de século foi a superfície de jogo. O Rebound Ace – piso com uma película de borracha na camada superior – que foi inventado para substituir a relva a partir de 1988 revelouse mesmo a superfície ideal… mas com temperaturas médias como as que se verificavam à noite, favorecendo os melhores. Porque, com o calor, não só proporcionava um ressalto diferente como se tornava numa fornalha onde se chegaram a registar temperaturas acima dos 70 graus e foi possível fritar ovos, para não falar das entorses que provocou. A partir de 2008, o torneio adoptou o mais abrasivo Plexicushion que favorece uma nova geração de tenistas capaz de deslizar em “hardcourts” para devolver mais uma bola em inverosímeis situações defensivas. Sim, Roger Federer foi o menos beneficiado com a transição, mas conseguiu ganhar há três anos e tornou-se no único tenista a vencer o Open da Austrália em duas cores diferentes – o verde do Rebound Ace (2004, 2006, 2007) e o azul do Plexicushion (2010). Mats Wilander, na tal edição inaugural, tornou-se no único a ganhar a prova em duas espécies de verde: na relva natural de Kooyong (1983, 1984) e no sintético Rebound Ace de Melbourne Park (1988).

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Rebound Ace foi inventado para substituir a relva a partir de 1988

Os pluri-campeões

As mutações na superfície (para não falar da nomenclatura) do recinto desde 1988 nunca favoreceram qualquer usurpador ou ‘One-Slam Wonder’. Sim, houve alguns finalistas inesperados e também quem tivesse ganho o seu primeiro título do Grand Slam no Open da Austrália – mas praticamente todos voltaram a ganhar noutras paragens e provaram ser da estirpe dos grandes campeões. As únicas excepções em 25 anos foram Petr Korda (1997) e Thomas Johanson (2002) no plano masculino e, por enquanto, a titular feminina


Andy Murray acabou os últimos meses de 2012 com nota alta

Victoria Azarenka, que ainda não teve muito tempo para arrecadar o seu segundo título maior. No elenco de participantes deste ano, os trintões Roger Federer (quatro) e Serena Williams (cinco) surgem não só como os mais laureados em Melbourne Park como também estão na primeira linha dos melhores tenistas de todos os tempos. Quando estão ao seu melhor conseguem produzir um nível de ténis que é inalcançável para os rivais, mas enquanto isso acontece de modo mais intermitente relativamente a Roger, desde o início da Primavera que Serena só perdeu dois singelos encontros (um em condições bizarras, outro em virtude de cansaço acumulado) e apesar de fechar a época de 2012 ‘apenas’ como terceira no ranking foi mesmo consagrada campeã do mundo pela Federação Internacional de Ténis. A lei da vida e a erosão do sucesso implicam que, mais cedo ou mais tarde, as respectivas carreiras comecem a resvalar – sendo que, por enquanto,

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Open da Austrália

Roger Federer parece ser aquele que tem o percurso teoricamente mais difícil

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os índices motivacionais continuam a ser um factor determinante para a prestação de ambos. A qualidade da concorrência também. No sector masculino, Novak Djokovic e Andy Murray acabaram melhor os últimos meses de 2012 e, na ausência prolongada de Rafael Nadal, são rivais actualmente à altura de Roger Federer (e até com algum ascendente). Na vertente feminina, Serena Williams tem ascendente sobre todas as outras e Melbourne Park sempre a inspirou, mesmo quando estava em fases menos boas da sua carreira.

Sorte e fortuna A distribuição dos cabeças-de-série no quadro também pode contribuir para o sucesso na ponta final e, de todos os protagonistas, Roger Federer parece ser aquele que tem o percurso teoricamente mais difícil e ficou do lado de Andy Murray, ao passo que Novak Djokovic ficou com o ‘desejado’ David Ferrer como possível adversário nas meiasfinais. Nas senhoras, a metade superior ficou com a parelha de semifinalistas mais difícil já que Serena Williams e Victoria Azarenka, as melhores de 2012, estão em rota de colisão no lado oposto do quadro onde pontificam Maria Sharapova e Agnieszka Radwanska. A única representação nacional com entrada directa por mérito de ranking pertence a João Sousa, que tem o acessível wild card australiano John-Patrick Smith na ronda inaugural e pode bem defrontar Andy Murray na segunda eliminatória. Mas


Maria João Koehler e Michelle Larcher de Brito juntaram-se ao vimaranense para apresentar pela segunda vez duas portuguesas no quadro principal de um torneio do Grand Slam após Michelle Larcher de Brito e Neuza Silva terem jogado a edição de Wimbledon de 2009. Aliás, duas portuguesas e meia, porque a russa Nina Bratchikova já contraiu matrimónio com o seu técnico Pedro Pereira. Mas só Maria João Koehler sobreviveu à ronda inaugural, ultrapassando a italiana Karin Knapp em três partidas. O mérito e alguma sorte serão determinantes para o desfecho da 101ª edição do mais relevante evento desportivo do Hemisfério Sul. Durante duas semanas, mais de 400 jogadores irão animar Melbourne Park nas vertentes individuais e de pares, seniores, veteranos e juniores – com um total de 30 milhões de dólares australianos em distribuição (houve uma pseudo-ameaça de boicote que conduziu a um aumento de cerca de 10 por cento) que fazem do Open da Austrália o mais endinheirado dos Grand Slams realizados até ao momento. Os campeões individuais recebem cada qual 2,43 milhões de dólares australianos (cerca de 1,91 milhões de euros), considerado o mais chorudo cheque de sempre num evento do Grand Slam. jogadores irão animar Melbourne Park nas vertentes individuais e de pares, seniores, veteranos e juniores – com um total de 30 milhões de dólares australianos em distribuição (houve uma pseudo-ameaça de boicote que conduziu a um aumento de cerca de 10 por cento) que fazem do Open da Austrália o mais endinheirado dos Grand Slams realizados até ao momento. Os campeões individuais recebem cada qual 2,43 milhões de dólares australianos (cerca de 1,91 milhões de euros), considerado o mais chorudo cheque de sempre num evento do Grand Slam. Longe vai o tempo do parente pobre sem tecto. Agora é sempre a abrir.

“DURANTE DUAS SEMANAS, MAIS DE 400 JOGADORES IRÃO ANIMAR MELBOURNE PARK”

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Imprensa Internacional

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Paganini ĂŠ o compositor em que o artista Federer confia


Por detrás da durabilidade de Roger Federer está um preparador físico que poucos conhecem mas que conhece o campeão suíço como poucos. E frisa que o segredo da consistência não é genético Pedro Keul Para os melómanos, Paganini é um nome que recorda o compositor e violinista do século XIX, Niccolò de baptismo. De quem falamos aqui é de um homem bem mais discreto, mas não menos famoso ou não fosse ele o preparador físico de Roger Federer, a “ full time” desde 2000. Pierre Paganini nasceu na Suíça há 54 anos e concedeu uma rara entrevista ao jornal New York Times, no final de 2012, ano em que Federer confirmou o seu estatuto de “maestro”, ao conquistar o 17.º Grand Slam da carreira e regressar ao primeiro lugar do ranking. Aos 31 anos! Paganini conheceu Roger em 1994, quando o tenista frequentava o centro nacional de treino da federação suíça. Em 2000, tornouse membro permanente da equipa de Federer, inicialmente com um projecto para três anos. Já passaram 12 anos e o jogador suíço pode orgulhar-se de nunca ter abandonado o court a meio de um encontro e já leva 52 torneios do Grand Slams e 11 ATP Tour Masters disputados consecutivamente… Claro que os objectivos do trabalho físico foram mudando com a idade. “Quando se trabalha com um jovem de 19 anos, trabalhamos a longo prazo, pensando no hoje mas também nos objectivos da carreira. Quanto mais velho, mais cada época e o próprio momento se tornam importantes. Roger tem uma incrível capacidade de ainda progredir. É por isso que ainda está no top: mentalmente é muito forte e também pode adaptar-se no aspecto físico. Com Roger, temos que ser suficientemente bons para encontrar exercícios que lhe coloquem problemas. Ele é tão coordenado! Em 2000, quando começámos outra vez a trabalhar em ‘full-time’, propus-lhe uma coisa complexa e, enquanto ele a fazia, senti que era cada vez mais perfeito. No fim, explicou-me porque é que eu lhe pedi para fazer aquilo. Foi fascinante; ele percebeu enquanto atleta como

“Penso que subestimámos todo o trabalho que Roger faz” 51


Imprensa Internacional o fazer e o porquê. Ele integrou os aspectos internos e externos, não é alguém que apenas consome. É uma pessoa que cria”, contou Paganini. Para apresentar a regularidade exibicional com que Federer continua a surpreender, Paganini sublinha que é essencial saber quando parar. “Penso que toda a sua vida é relacionada com ténis, mas ele também sabe recuar um passo, o que é realmente importante. Sabe que a recuperação é uma parte importante do processo, por isso, para ele é natural recuperar depois de uma série de torneios e, então, está ainda mais motivado para recomeçar a treinar-se. O que acho interessante é que ele está tão motivado agora como quando era júnior. Diria até que ainda mais em relação ao treino físico. Quando era novo, era um artista que queria ser artista. Agora é um artista que sabe exactamente o que precisa para expressar o seu virtuosismo.” Em 2012, Federer elevou para 34 o número de presenças consecutivas em quartos-de-final de torneios do Grand Slam, um recorde que ainda pode ser ampliado. Uma coisa que Paganini recusa é a explicação das qualidades de Federer serem genéticas. “Ouço sempre isso. Ter potencial é uma coisa, mas expressá-lo durante 70 encontros por ano é outra coisa. É esse o objectivo de Roger, ser consistente em cada encontro e sessão de treino. Penso que subestimámos todo o trabalho que Roger faz e é um lindo problema que ele tem. Subestimámo-lo porque quando vemos Roger jogar, vemos um artista a expressar-se, quase nos esquecemos que ele teve de trabalhar para chegar lá. Como quando vemos um bailarino: vemos a beleza, mas esquecemo-nos do trabalho que estás por detrás. Tem que se trabalhar muito, muito duramente para ser esse lindo bailarino”, recordou o preparador físico ao New York Times.

“Pedimos para ser rápido repetidamente, durante muito tempo” 52

Atendendo à evolução do ténis nos últimos anos, a rapidez é um factor importante, mas não numa forma de velocidade pura, conforme frisa Paganini. “Estamos a falar sobre velocidade e resistência juntas. Não se pode pedir um sprint como a


alguém que faz os 100 metros. Durante três horas ou mais, é pára-arranca. É muito duro, mas tem 25 ou 90 segundos para recuperar. Em todo o trabalho que fazemos, temos que estar cientes disso. Não pedimos para bater um recorde de velocidade. Pedimos para ser rápido repetidamente, durante muito tempo. É isso que torna o ténis interessante. Não corremos 40 quilómetros quando um encontro que dura cinco horas, talvez seis quilómetros no máximo”, lembrou. Apesar da idade de Federer, o preparador físico está totalmente convencido que o tenista não perdeu qualidades. “Não nos podemos esquecer também que Roger tem uma qualidade de antecipação que é enorme. No ténis, não é preciso ser apenas rápido. Tem que se correr bem e usar a velocidade de forma inteligente e Roger é muito inteligente nesta área. É a visão do court, a antecipação, a maturidade…”

Roger é um poliglota no court As comparações com Novak Djokovic e Rafael Nadal são recorrentes, em especial na área da condição física, onde os dois

Apesar da idade de Federer, o preparador físico está totalmente convencido que o tenista não perdeu qualidades

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Imprensa Internacional

Roger Federer é muito bom na prevenção de lesões

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são muito fortes. Mas não são as aptidões dos dois rivais que fazem com que Federer tenha de trabalhar mais. “Não é por causa da sua condição física ser menos visível no court que ele precisa de trabalhá-la. Roger varia muito o jogo, o que significa que tem um jogo de pés mais variado. Isso significa que tem de treinar-se para adaptar ao seu tipo de jogo. É por isso que é impossível usar um método com todos os jogadores. Federer é um jogador diferente de Nadal e Djokovic, mas os três são campeões. Pegue em alguém que fale bem inglês e francês e em alguém que fale inglês, russo, japonês, espanhol e chinês. Para mim, Roger, é do segundo tipo. Fala muitas línguas no court com a sua criatividade, mas também fala muitas línguas com a sua velocidade, coordenação e o seu físico, porque é obrigado a isso, porque é um jogador criativo. O que é mais difícil? Falar sete línguas ou duas? Sete, o que prova que quando se tem muito talento temos que trabalhar muito e é o que Roger faz. Não


seria capaz de continuar se não gostasse de o fazer. Podese trabalhar sem se gostar quando se é novo porque estão determinados, mas quando já se conseguiu muitas coisas, temse mesmo que gostar porque sabemos o que esperar. E quando o preparador físico aparece, Roger ainda sorri”, salientou Paganini. Um aspecto onde Federer é muito bom e poucos sabem, é na prevenção de lesões. “Roger conhece o seu corpo e é muito bom a comunicar. Já aconteceu muitas vezes ele sentir uma coisa mal antes de algo de concreto surgir e isso ajuda-nos a antecipar”, contou Paganini, que está convencido que o seu atleta poderia ter vingado noutro desporto se não se tivesse dedicado ao ténis. “No futebol poderia ser muito bom. Roger tem uma coordenação da cabeça às mãos e pés. Poderia ser um bom lançador de dardo, no basquetebol, no voleibol ou no esqui porque tem um grande sentido de equilíbrio. É muito versátil. Penso que os mais novos deviam inspirar-se nele porque é como aprender uma língua. Quando se desenvolve uma boa e variada capacidade de coordenação enquanto se é novo, isso ajuda a expressar-se mais quando se é mais velho. Treinar ténis não deve ser feito num túnel, mas mais num pátio”, concluiu Paganini.

“Roger varia muito o jogo, o que significa que tem um jogo de pés mais variado” 55


Coisas da cabeça

“... quando um Homem sonha...”

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A motivação, sua génese, processos e consequências será, porventura a área de estudo mais abrangente dentro da psicologia do desporto. Como Daniel Costa facilmente se compreende, é uma emoção que produz naturalmente efeitos no tocante aos objectivos desportivos, onde encontramos uma correlação muito estreita com a gestão da ansiedade, tem efeitos palpáveis no desempenho e, consequentemente, na construção da auto-estima. Na forma de construção da motivação, encontramos factores ligados ao género, á idade e ao nível desportivo. É comummente aceite que, por exemplo, nas motivações para a práctica desportiva, o género feminino se orienta, mais, por factores ditos cooperativos ou sociais e que o género masculino é atraído para a práctica desportiva pelos elementos de ordem competitiva. Assim sendo, importa que no treino sejam

introduzidas estratégias diferenciadas de trabalho, consoante estivermos perante elementos de um género ou outro, por forma a se optimizar o prazer desportivo e, em última estância, o desempenho. Uma situação idêntica é passível de ser observada, ao se analisar a atitude perante a prestação desportiva em atletas de nível distintos, onde os de nível superior analisam a sua prestação desportiva com a tónica na qualidade do seu desempenho, enquanto outros ao prestarem a sua reflexão, o fazem referenciando, quase exclusivamente, as questões relativas ao resultado. Finalmente, convém referir que, nestas questões da motivação, a importância do ‘feed-back’ na sua consolidação. Neste campo, é relevante notar que, enquanto que dos seus pares espera ser interpelado (positiva ou negativamente) de uma forma quantitativa, o(a) jovem atleta tem fundadas expectativas de que a informação emocional ao lhe ser transmitida pelos adultos referenciais (pais e/ou treinadores) o seja feito de forma qualitativa.

“NA FORMA DE CONSTRUÇÃO DA MOTIVAÇÃO, ENCONTRAMOS FACTORES LIGADOS AO GÉNERO, Á IDADE E AO NÍVEL DESPORTIVO”


TÁCTICA

O Serviço Consistência

Se no caso do 1.º serviço a consistência se torna importante, no 2.º ela torna-se imperativa. Luís Damasceno Com efeito, é a única Treinador situação em que temos duas oportunidades para concretizar um objectivo. Acresce o facto que este é o único golpe do ténis que não é afectado directamente pelo adversário. Por isso, a maioria dos treinadores costuma afirmar que a dupla-falta é o erro mais estúpido que existe no ténis.

Objectivo

Tenha sempre um objectivo a servir, seja a colocação, efeito, potência, subida á rede ou outro propósito táctico.

Variação

Procure variar o seu serviço, seja o 1.º ou o 2.º, de tal forma a que o seu adversário nunca consiga antecipar: em ‘slice’ (efeito lateral), chapado, ‘topspin’ (efeito por cima), direito ao corpo, curto para fora, comprido junto ao T, subindo atrás do serviço e outras opções; batendo na subida ou num ponto mais alto; velocidades e direcções diferentes.

Segundo serviço

Para muitos especialistas, um jogador vale pelo que vale o seu 2.º serviço. A primeira regra é servir comprido, para ‘empurrar’ o adversário para trás da linha de fundo. Nunca desacelere o movimento e sirva sobre o ponto fraco do adversário.

Percentagem

No 1º serviço, pense primeiro em percentagem e depois em potência. Na maior parte das vezes, o adversário ainda não optou por uma estratégia de contra-ataque e, desta forma, pode assegurar a vantagem da condução da jogada. Se não tem uma estatura elevada (mais de 1,85m), utilize o serviço chapado com moderação.

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ARBITRAGEM

Jogo Contínuo No passado mês de Dezembro, num torneio do grupo juvenil, jogado em terra batida e sem árbitro de cadeira, surgiu Jorge Cardoso uma situação curiosa e Árbitro recorrente em encontros do género: o jogador A serviu e a bola saiu um pouco comprida, sendo portanto falta, se bem que bastante próxima da linha; acto contínuo, o recebedor grita falta, e dirigese para a marca da bola definindo um semicírculo à volta da mesma. O servidor, incomodado com a demora, protesta, dizendo não estar o recebedor pronto, atrasando-lhe desta maneira a execução do segundo serviço. A verdade é que a ação do recebedor foi instintiva e suficientemente rápida, não tendo provocado estorvo ao servidor.

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Esta situação remetenos para a regra 29, Jogo Contínuo. Por definição, o jogo deve ser tal como a regra o define, contínuo, desde a altura em que é batido o primeiro serviço do encontro até ao seu final. Entre os pontos, os jogadores têm direito

a um máximo de 20 segundos. Quando da mudança de lado, têm direito a um máximo de 90 segundos e ao fim de uma partida (set), têm um máximo de 120 segundos. Por norma, o recebedor deve estar pronto para responder dentro de um tempo razoável. Por outro lado, o servidor apenas deve servir quando o recebedor estiver pronto, só que, muitas vezes e erradamente, evoca os 20 segundos como seu tempo de proteção. Caberá ao árbitro sancionar o recebedor se eventualmente entender ser deste a responsabilidade do atraso ao jogo. O responsável pelo atraso deverá ser sancionado com violação de tempo, sendo advertido na primeira infração e punido com a perda de um ponto nas infrações seguintes. Em jogos disputados sem árbitro de cadeira ou mesmo com árbitro, mas sem apanha bolas, torna-se evidente a quase impossibilidade do cumprimento deste procedimento temporal. Torna-se nestas circunstâncias fundamental gerir a situação com bom senso.


BOLA NA TELA

Alfred Hitchcock João Carlos Silva

O Desconhecido do Norte-Expresso

dr

Uma partida de ténis serve ao mestre do suspense, Alfred Hitchcock, para deitar mão a toda a sua enorme bagagem de truques numa das cenas mais fantásticas deste filme de 1951, estudada em escolas de cinema. Para não revelar muito, digamos apenas que Guy Haines é um tenista profissional que precisa de ir com urgência máxima evitar que alguém coloque no local do crime uma prova que o vai incriminar, injustamente, como assassino da mulher. Mas há um problema: antes, tem de fazer um jogo de ténis num torneio. Ou seja: tem de despachar o adversário o mais depressa possível. Hitchcock filmou os planos com público em Forest Hills, durante os campeonatos dos Estados Unidos. O adversário de Haines (o actor Fairley Granger) é Fred Taylor, o tenista profissional Jack Cushingham, sem grande palmarés na época. A pressa de Haines em despachar o encontro leva-o a mudar o seu estilo, optando por um jogo mais agressivo. Um comentador que vai relatando a partida sublinha isso mesmo. Ele não sabe porquê – e quem vê o jogo também não. Só nós, que vemos o filme. Neste contra-relógio, Haines fica à beira de resolver o match. Mas é então que ouvimos

O Desconhecido do Norte-Expresso, 1951 Realizador: Alfred Hitchcock Baseado num livro de Patricia Highsmith, com argumento de Raymond Chandler

o locutor dizer que Cushingham fez uma recuperação fantástica. A partida vai demorar mais e nós sofremos com isso – tal como Haines, que entre cada bola vai olhando para o relógio do estádio. O Desconhecido do Norte-Expresso (Strangers on a Train, no original) é um belo Hitchcock. Para os apaixonados do ténis tem um extra, funciona como uma cápsula do tempo que permite recordar as raquetes de madeira, o calçado, o vestuário, o mobiliário do court, o público, a atmosfera geral.

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