LGBTQIA+ 2025

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ORGU L HO DE VIAJAR

O potencial bilionário do Turismo LGBTQIA+ e os caminhos para um mercado mais inclusivo e preparado

INSPIRAÇÃO DESAFIOS

A trajetória de sucesso de Geninho Góes: um exemplo para todos

Apesar de avanços, viajantes da comunidade LGBTQIA+ ainda relatam uma série de barreiras

Julho de 2025

@orinterpride

TURISMO LGBTQIA+: OPORTUNIDADE, RESPEITO E INCLUSÃO PARA IMPULSIONAR O SETOR

O turismo LGBTQIA+ representa hoje uma das mais promissoras frentes de crescimento da indústria do turismo no Brasil e no mundo. Mais do que um nicho, trata-se de um público que movimenta cifras bilionárias, busca experiências seguras e acolhedoras, e tem o potencial de transformar destinos em verdadeiros exemplos de diversidade e inclusão.

No Brasil, a força econômica da comunidade é expressiva: segundo estudo da NIQ, somente nos doze meses anteriores ao primeiro trimestre de 2024, foram injetados R$ 18,7 bilhões no mercado nacional — um dado que evidencia o impacto direto desse público em setores como turismo, entretenimento e moda. A pesquisa também revela que o gasto médio por lar LGBTQIA+ no e-commerce é 27% superior ao dos demais lares. Essa diferença demonstra o elevado poder de consumo da comunidade e reforça a importância de estratégias específicas para atender suas demandas.

No turismo, isso se traduz em serviços personalizados, destinos com estruturas inclusivas, e, principalmente, em ambientes onde a segurança e o respeito à diversidade sejam garantidos. Não se trata apenas de atrair turistas, mas de oferecer experiências onde eles possam ser quem são, sem medo ou preconceito.

No entanto, para que o setor esteja de fato preparado para atender esse público com excelência, é essencial investir na capacitação dos profissionais que atuam na linha de frente — do receptivo ao atendimento em hotéis, restaurantes, companhias aére -

Presidente Roy Taylor

Vice-Presidente Rosa Masgrau rosamasgrau@mercadoeeventos.com.br - (55-21) 99236-5288

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as e atrações turísticas. A formação contínua sobre diversidade, linguagem inclusiva e acolhimento deve ser parte da cultura organizacional das empresas que desejam se destacar em um mercado cada vez mais consciente e exigente.

As políticas públicas também desempenham papel fundamental nesse avanço. É necessário que os governos — em todas as esferas — reconheçam o turismo LGBTQIA+ como vetor estratégico de desenvolvimento econômico e social. Isso inclui não apenas ações promocionais e de marketing, mas também investimentos em infraestrutura, segurança e legislação que garantam os direitos da população LGBTQIA+ nos destinos turísticos.

A visibilidade e o respeito são pilares indispensáveis. Eventos voltados à comunidade, como paradas do orgulho LGBTQIA+, festivais de cultura queer e feiras de turismo especializado, não apenas atraem turistas como também ajudam a movimentar a economia local, gerar empregos e promover a diversidade como valor social. São momentos em que o turismo se torna também ferramenta de transformação e conscientização.

Apostar no turismo LGBTQIA+ é apostar em um setor mais justo, plural e economicamente forte. O Brasil, com sua diversidade cultural, belezas naturais e vocação para o acolhimento, tem tudo para se consolidar como destino referência para esse público. Mas é preciso fazer a lição de casa: ouvir, respeitar, incluir e, acima de tudo, reconhecer que o direito de viajar em segurança e com dignidade é universal.

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Uma publicação da Editora Mercado e Eventos Ltda

Os artigos e opiniões de terceiros publicados na edição não necessariamente refletem a posição do jornal.

Designer Patrick Peixoto

Í N DICE

6 - MINISTÉRIO DO TURISMO

8 - EMBRATUR

10 - ABIH NACIONAL

12 - SIGLAS DA COMUNIDADE

14 - COMO ATENDER O TURISTA DA MELHOR FORMA

16 - PODER DE COMPRA DA POPULAÇÃO LGBTQIA+

18 - PINKWASHING

20 - PONTOS TURÍSTICOS QUE MERECEM DESTAQUE

22 - CASAMENTO HOMOAFETIVO

24 - MATÉRIA ESPECIAL: O EXEMPLO DE GENINHO GÓES

29- PORTO SEGURO E PIPA: DESTINOS QUE SERVEM DE EXEMPLO

30 - ENTREVISTA COM ALEX BERNARDES

32 - ENTREVISTA COM RICARDO GOMES

34 - ENTREVISTA COM LEANDRO ARAGONEZ

36 - MELHORES PAÍSES PARA O TURISMO LGBTQIA+

38 - SÃO PAULO GANHA DESTAQUE NO CENÁRIO MUNDIAL

40 - CASAIS NA ESTRADA

44 - TROFÉU CORES DO TURISMO

46 - EVENTOS LGBTQIA+ PELO MUNDO

48 - AÇÕES DO TRADE

Foto: Freepik

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BRASIL MIRA LIDERANÇA NO TURISMO LGBTQIA+ COM AÇÕES INÉDITAS DO MTUR

Ministério aposta em edital, capacitação e calendário para o segmento

ANA AZEVEDO

O Ministério do Turismo (MTur) estrutura um conjunto de ações inéditas voltadas à consolidação do Brasil como destino acolhedor para o público LGBTQIA+. O pacote inclui a previsão de um edital de chamamento público, previsto para o segundo semestre de 2025, destinado ao apoio de iniciativas culturais e promocionais do setor, além da formalização de representatividade no Conselho Nacional de Turismo (CNT), produção de dados setoriais e capacitação do mercado receptivo.

“Estamos avaliando a possibilidade de apoiar novas iniciativas programadas para o segundo semestre de 2025, com a previsão de lançamento de um edital para identificar e apoiar eventos de interesse para o segmento LGBTQIA+”, afirma Juliana Oliveira, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério do Turismo (ASPADI/MTur).

Desde 2023, a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil passou a integrar o CNT, principal espaço de formulação de políticas públicas do setor. “Seguindo a premissa de inclusão do governo Lula, esse segmento passou a ser representado no Conselho, assegurando a presença do grupo no principal espaço de participação social do turismo”, reforça Juliana.

Uma proposta técnica para o desenvolvimento de produtos e experiências voltadas ao público LGBTQIA+ foi entregue pela Câmara ao Ministério após reunião realizada em setembro de 2024. O encontro reuniu representantes da IGLTA (Associação Internacional de Viagens LGBTQ+), Embratur, organizadores de Paradas do Orgulho de todo o país e órgãos estaduais e municipais.

Ainda neste ano o MTur deve se reunir com a Rede Brasileira de Observatórios de Turismo para discutir a produção de diagnósticos sobre oferta e demanda do público LGBTQIA+.

A articulação está diretamente conectada à recente pesquisa “O Custo Econômico da Exclusão LGBTQIA+ no Brasil”, que será lançada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania em parceria com o Banco Mundial também em 2025.

“Essa iniciativa busca ampliar o acesso a informações qualificadas e fomentar o debate público sobre os impactos da discriminação e da exclusão LGBTQIA+, subsidiando po -

Juliana Oliveira, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério do Turismo
Foto: Roberto CastroMTur

líticas públicas mais inclusivas”, afirma Juliana.

Na área da promoção internacional, uma parceria entre a Embratur e a Câmara LGBT foi formalizada durante o Salão do Turismo 2023, em Brasília. O acordo visa fortalecer a divulgação de destinos brasileiros voltados à comunidade LGBTQIA+ no exterior, com foco em mercados estratégicos. Entre os destinos mais procurados por esse público estão o Rio de Janeiro (RJ), Florianópolis (SC) e Brasília (DF).

QUALIFICAÇÃO

A qualificação de profissionais do setor é outro eixo do trabalho. Um dos principais instrumentos é a cartilha “Bem atender: turistas LGBTQIA+”, desenvolvida em parceria com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e o Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+. O conteúdo orienta profissionais sobre conceitos relacionados a identidade de gênero, discriminação e atendimento humanizado. “A cartilha tem sido fundamental para incentivar um turismo mais inclusivo e respeitoso, preparando o setor para oferecer a melhor experiência possível”, afirma Juliana.

Além disso, o Cadastur passou a permitir a autodeclaração de identidade de gênero entre prestadores de serviços turísticos cadastrados, medida vista como importante para a visibilidade e inclusão. Um exemplo reconhecido foi o projeto “LGBT+ Turismo Expo”, da Diversa Pride Marketing,

vencedor da categoria “Promoção e Marketing no Turismo” no Prêmio Nacional do Turismo 2023.

O MTur também avalia a produção de novos materiais informativos para operadores, agências e meios de hospedagem. “Estamos desenvolvendo cartilhas e conteúdos voltados ao trade turístico, em articulação com entidades representativas do segmento LGBTQIA+”, informa Juliana. O calendário oficial de eventos também será atualizado. Segundo o Ministério, está em curso o desenvolvimento de uma nova versão do Calendário Turístico Oficial do Brasil, instituído pela Lei nº 14.865/2024, com a previsão de uma aba específica para eventos LGBTQIA+. As programações que atenderem aos critérios estabelecidos poderão ser incorporadas à plataforma nacional.

DENÚNCIAS

Por fim, o Ministério lembra que denúncias de violações de direitos humanos — incluindo LGBTQIAfobia — podem ser feitas 24 horas por dia pelo Disque 100. Casos de violência contra mulheres, incluindo mulheres trans e travestis, devem ser comunicados pelo 180.

Link da cartilha: https://www.gov.br/turismo/pt-br/centrais-de-conteudo-/publicacoes/DICASPARAATENDERBEMTURISTASLGBTQIA1.pdf

BRASIL SE CONSOLIDA COMO DESTINO LGBTQIA+ EM INICIATIVAS

DA EMBRATUR

Agência aposta em promoção internacional, parcerias estratégicas e acolhimento para projetar o país como referência global em turismo diverso

JANAINA BRITO

O Brasil está em plena transformação de sua imagem internacional no turismo LGBTQIA+. Em um cenário em que a diversidade é um ativo valioso e cada vez mais demandado por viajantes ao redor do mundo, a Embratur tem intensificado suas ações para posicionar o país como um destino inclusivo, seguro e acolhedor para todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.

De acordo com Marcelo Freixo, presidente da Embratur, o Brasil já é reconhecido como uma referência no turismo LGBTQIA+, não apenas por sua cultura naturalmente diversa e acolhedora, mas também pelas experiências singulares oferecidas em seus principais destinos. “Nosso país tem a vantagem de carregar, em sua própria identidade, a pluralidade. Isso nos torna naturalmente receptivos, mas é preciso trabalhar para que essa imagem se traduza em ações concretas no cenário internacional”, afirma.

ATUAÇÃO ESTRATÉGICA EM EVENTOS E PARCERIAS

Entre as principais ações recentes da Embratur estão a retomada da parceria com a Associação Internacional de Turismo LGBTQIA+ (IGLTA) e a presença ativa da agência em eventos relevantes do setor. Em 2023, o Brasil foi patrocinador da 40ª edição da IGLTA Global Convention, realizada em Porto Rico, que reuniu mais de 700 participantes de 36 países. Ainda no mesmo ano, a Embratur apoiou o Uruguai LGBT+ Summit Pride Connection, evento que fortaleceu o posicionamento regional do Brasil na promoção do turismo LGBTQIA+.

Já em 2024, a participação brasileira na ITB Berlin, uma das maiores feiras internacionais de turismo, foi marcada pelo apoio oficial ao estande de diversidade, um espaço voltado à inclusão, visibilidade e negócios para o segmento. A agência também promoveu ativações em pelo menos outras 15 feiras internacionais, sempre com foco em divulgar os destinos brasileiros como opções seguras e acolhedoras para o público LGBTQIA+.

Além disso, parcerias com organizações nacionais têm se mostrado fundamentais para garantir representatividade nas ações. É o caso da colaboração com a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil, que

Marcelo Freixo, presidente da Embratur
Foto: Ana AzevedoM&E

contribui com expertise e articulação com a sociedade civil e a iniciativa privada.

INCLUSÃO COMO COMPROMISSO INSTITUCIONAL

Segundo Freixo, a Embratur está empenhada em muito mais do que apenas atrair turistas. “Nosso objetivo é consolidar o Brasil como um destino que não só celebra sua diversidade, mas garante que ela seja respeitada e valorizada em todas as etapas da experiência turística”, explica.

A agência tem investido em ações de promoção da imagem internacional do país baseada em valores como inclusão, respeito aos direitos humanos e liberdade.

Esse compromisso se reflete também nos esforços para capacitar operadores internacionais. Através do programa Brasil Travel Specialist, missões promocionais e rodadas de negócios, a Embratur conecta os desejos do público global com a oferta brasileira de forma qualificada e sensível às especificidades do segmento LGBTQIA+.

As famtours também têm sido utilizadas como ferramentas estratégicas. Com base em inteligência de dados, a Embratur busca proporcionar vivências reais e

positivas aos profissionais que influenciam diretamente a escolha de destinos turísticos ao redor do mundo.

UM BRASIL DE BRAÇOS ABERTOS, COM RESPEITO

O discurso da inclusão está se tornando política pública na promoção do turismo brasileiro. Em um contexto global onde muitos destinos ainda enfrentam desafios relacionados à segurança e aceitação do público LGBTQIA+, o Brasil quer se destacar como uma alternativa positiva e vibrante.

Freixo resume o espírito da nova fase da Embratur: “Queremos que o Brasil seja visto como um país de braços abertos, com afeto, com respeito e com dignidade para todas as pessoas. Estamos investindo para que o turista LGBTQIA+ se sinta verdadeiramente bem-vindo aqui, do planejamento da viagem ao retorno para casa”.

Com destinos turísticos cada vez mais preparados e um posicionamento institucional alinhado aos princípios da diversidade, o Brasil caminha para ocupar um papel de destaque no mapa do turismo LGBTQIA+ mundial. A aposta da Embratur é clara: mostrar que aqui, ser quem se é, com orgulho, faz parte da experiência.

ABIH NACIONAL DIZ QUE O BRASIL

É UM PAÍS GAY FRIENDLY

“A natureza do negócio de hotéis é, por si só, inclusiva e segue à risca todas as legislações existentes”, diz Manoel Linhares

RAFAEL TORRES

Uma das principais características da hotelaria é ser inclusiva e respeitar as diferenças. A Associação Brasileira de da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional) assim como as ABIHs estaduais, não definem, nem se intrometem na política comercial dos hotéis associados, mas sem dúvida, a hotelaria tem entre suas principais características ser agregadora e respeitar todos os grupos sociais, desde que estejam dentro das leis vigentes no país. No caso do Brasil, que é um país gay friendly, a maioria dos hotéis, principalmente nas capitais, tem estrutura e capacidade de atender adequadamente todo tipo de público, sendo vários especializados nesse segmento.

O presidente da ABIH Nacional, Manoel Linhares, define o posicionamento da entidade em relação ao respeito e ao bem-receber não apenas da comunidade LGBTQIA+, mas de todo e qualquer hóspede que faça uso do serviço de hospedagem.

“Nossa entidade não possui nenhum código de conduta para seus associados, uma vez que cada empreendimento tem sua estratégia comercial e suas próprias características e o setor de hotelaria é receptivo à diversidade, seja ela relacionada ao lugar de origem ou comportamento pessoal”, esclarece.

Da mesma forma, o executivo explica que a entidade nacional não costuma orientar ou realizar qualquer tipo de ação no sentido de interferir em posicionamentos individuais de cada entidade estadual, em qualquer atividade. “É importante observar que a ABIH Nacional tem um papel institucional e as ABIH’s estaduais têm liberdade e autonomia para realizarem e orientarem seus associados como melhor convier.

“A natureza do negócio de hotéis é, por si só, inclusiva e segue à risca todas as legislações existentes. Portanto, naturalmente os estabelecimentos de hospedagem sabem lidar com seu público, pois é do seu dia a dia. Em toda relação, com qualquer hóspede, não importa as características que ele tenha, de onde venha, o respeito vem sempre em primeiro lugar”, assinala Linhares.

Indagado sobre a rede Accor, por exemplo, um marco no posicionamento em relação à diversidade, inclusive com a criação do comitê LGBTQIA+, o presidente da entidade destaca que a ABIH Nacional apoia qualquer posicionamento comercial, desde que ele seja inclusivo, respeite as características do negócio e a legislação vigente. “No caso da rede Accor, respeitamos e incentivamos seu posicionamento comercial e todos os outros posicionamentos que abracem causas comuns”, finaliza.

Manoel Linhares, presidente da ABIH Nacional
Foto: Eric RibeiroM&E

DIVERSIDADE IMPORTA. REPRESENTATIVIDADE TRANSFORMA.

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Há 25 anos, criamos viagens baseadas em escuta ativ a, afeto e respeito a todas as formas de ser e amar.

Nosso compromisso com diversidade e inclusão vai al ém do discurso: está em cada detalhe dos nossos produtos e relacion amentos.

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ENTENDENDO AS SIGLAS LGBTQIA+: UM GUIA COMPLETO PARA UM TURISMO MAIS INCLUSIVO

Saiba o que significa cada letra e como elas representam a diversidade, o orgulho e a luta por respeito e inclusão

GIULIA JARDIM

Viajar é uma experiência que vai muito além de conhecer lugares: é sobre conexão, liberdade e expressão autêntica. No turismo LGBTQIA+, essa vivência ganha ainda mais significado, pois celebra a diversidade em todas as suas cores, formas e histórias.

Para que essa celebração seja verdadeira, é fundamental conhecer e respeitar as siglas que representam as múltiplas identidades e orientações sexuais da comunidade. LGBTQIA+ não é apenas um conjunto de letras: é uma representação viva de trajetórias, lutas e conquistas que moldam um mundo mais inclusivo e acolhedor.

A sigla, que está em constante evolução, cresce para abraçar ainda mais pessoas, histórias e expressões. Confira, abaixo, um guia detalhado para você entender melhor cada letra:

L – Lésbica

Mulheres que sentem atração afetiva e/ou sexual por outras mulheres. A palavra “lésbica” tem origem na ilha de Lesbos, onde viveu a poetisa Safo, considerada um ícone da cultura e do amor entre mulheres. É uma identidade de gênero e orientação afetiva que representa força, resistência e uma história de luta por direitos.

G – Gay

Homens que sentem atração afetiva e/ou sexual por outros homens. Também é um termo guarda-chuva usado para pessoas homossexuais de qualquer gênero. É uma palavra carregada de empoderamento, mas que por muito tempo foi usada de forma pejorativa. Hoje, é amplamente ressignificada como símbolo de orgulho.

B – Bissexual

Pessoa que sente atração afetiva e/ou sexual por mais de um gênero, podendo ser por pessoas do mesmo gênero e de gêneros diferentes. A bissexualidade é uma orientação muitas vezes invisibilizada, mas fundamental na diversidade sexual.

T – Transgênero

Termo que descreve pessoas cuja identidade de gê -

As cores da bandeira simbolizam a pluralidade de vivências da comunidade LGBTQIA+
Foto: Thomas ParkerPexels

nero não corresponde ao sexo que lhes foi atribuído ao nascer. Isso inclui homens trans (nascidos com sexo feminino, identificados como homens), mulheres trans (nascidas com sexo masculino, identificadas como mulheres) e pessoas não-binárias, que não se identificam exclusivamente com os gêneros masculino ou feminino. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a importância da afirmação da identidade para o bem-estar dessas pessoas.

Q – Queer

Um termo que abarca identidades e orientações que fogem das normas heterossexuais e cisgêneras, englobando pessoas que rejeitam rótulos fixos ou preferem uma identidade fluida.

I – Intersexo

Pessoas que nascem com variações naturais nas características sexuais biológicas (cromossomos, gônadas ou genitália) que não se encaixam nas definições típicas de masculino ou feminino. A intersexualidade é uma condição biológica, e o respeito à autonomia dessas pessoas é uma pauta essencial de direitos humanos.

A – Assexual / Arromântico / Aliado

Assexual:

Pessoa que experimenta pouca ou nenhuma atração sexual. A assexualidade não implica necessariamente ausência de relacionamentos afetivos.

Arromântico:

Pessoa que não sente atração romântica, ou sente em grau muito reduzido.

Aliado:

Pessoa que não faz parte da comunidade LGBTQIA+, mas que apoia seus direitos e luta contra a discriminação.

+ (Mais)

Representa outras identidades e orientações que não estão explicitamente incluídas nas letras anteriores, como:

Pansexual:

Atração por pessoas independentemente do gênero.

Não-binário:

Identidade que não se enquadra na divisão tradicional entre masculino e feminino.

Demissexual:

Pessoa que só sente atração sexual após estabele -

cer uma forte conexão emocional.

E muitas outras expressões de gênero e sexualidade que compõem a diversidade humana.

FONTES E REFERÊNCIAS PARA SE APROFUNDAR

Para quem deseja entender melhor as siglas LGBTQIA+ e a diversidade que elas representam, indicamos algumas fontes e leituras essenciais:

Organizações e Glossários Online: GLAAD – Glossário LGBTQIA+

Human Rights Campaign (HRC) – Glossário de Termos LGBTQIA+

Organização das Nações Unidas (ONU) –Direitos Humanos e Diversidade

Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT)

Universidade de São Paulo (USP) – Diversidade e Gênero

LIVROS RECOMENDADOS PARA LEITURA APROFUNDADA

“Masculinities” – R.W. Connell (2005)

Um clássico dos estudos de gênero, que aborda as múltiplas formas de masculinidade e suas relações sociais, incluindo perspectivas trans e queer.

“Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity” – Judith Butler (1990)

Obra fundamental para entender conceitos de gênero, performatividade e identidade, referência para estudos LGBTQIA+.

“Queer: A Graphic History” – Meg-John Barker e Julia Scheele (2016)

Uma introdução acessível e ilustrada aos conceitos queer, ideal para leitores que buscam uma abordagem didática e contemporânea.

“O Corpo é Nosso: Saúde, Política e Experiências Trans no Brasil” – Luana Muniz (2020)

Livro que traz relatos e análises sobre a vivência trans no Brasil, focando em saúde e direitos humanos.

“Vivendo em Territórios Queer” – Carla Akotirene (2019)

Discussão profunda sobre interseccionalidade, raça, gênero e sexualidade na realidade brasileira, com ênfase nas lutas da população LGBTQIA+.

“COMO BEM ATENDER O TURISTA

LGBTQIA+” - UM NOVO OLHAR PARA O TURISMO INCLUSIVO

Ministério do Turismo desenvolve guia para garantir atendimento igualitário

BEATRIZ DO VALE

Entre tantas pautas relacionadas ao turismo, uma das principais e primordiais é garantir o cumprimento do que todo cidadão merece: RESPEITO. Tipo de conduta que não deveria ser uma preocupação, mas nem sempre o passar do tempo significa progredir, principalmente para o turista LGBTQIA+.

Para transformar esse cenário e demonstrar a importância desse público como qualquer outro, iniciativas nacionais são fundamentais para uma inclusão digna e igualitária. Por isso, o Ministério do Turismo, em parceria com Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, desenvolveu o guia “Como Bem Atender o Turista LGBTQIA+” através de uma série de cartilhas com orientações aos profissionais do setor turístico sobre as melhores práticas para acolher a diversidade.

O material é uma ferramenta para preparar os pres -

tadores de serviços turísticos sobre a importância de um atendimento respeitoso e garantir que o Brasil seja um destino acolhedor.

Além de reforçar o que é discriminação e esclarecer significados no que diz respeito a identidade de gênero e orientação sexual, o guia oferece dicas, que englobam práticas de como os estabelecimentos podem melhorar a experiência dos turistas LGBTQIA+, que melhoram tanto a qualidade do serviço quanto a atmosfera do ambiente em si, por meio de capacitações de colaboradores. Também disponibiliza a melhor maneira para se referir, principalmente à população trans, para que não haja preconceito.

“Trate as pessoas pelos pronomes de tratamento Senhor ou Senhora de acordo com a identidade de gênero. Se tiver dúvida, pergunte como a pessoa prefere ser chamada”.

Vale destacar que no Brasil a discriminação a pessoas LGBTQIA+ é crime, podendo ser igualada aos crimes de racismo.

RESPEITO NA MESMA MEDIDA

Entre as orientações do guia “Como Bem Atender o Turista LGBTQIA+”, destacam-se as dicas:

- não tente criar intimidade exagerada de forma a mostrar que não é uma pessoa preconceituosa;

- não presuma que um homossexual sempre se assume publicamente;

- nunca dizer “opção”, “escolha” ou “preferência” sexual; o certo é orientação sexual;

- não existe mais o termo homossexualismo, usado para designar a orientação sexual como doença; o certo é homossexualidade, que são alternativas saudáveis da sexualidade;

- não presuma a orientação sexual pela sua aparência;

- em situações de conflito aplique as mesmas regras utilizadas com os heterossexuais;

Resumindo, trate a pessoa como o ser humano que ela é e respeite sua orientação sexual. É simples e fácil.

O respeito e a beleza de ser único estão no centro do palco.

Celebrar a cultura brasileira é celebrar a liberdade de cada um.

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O espetáculo “Aquele Abraço”, convida o mundo para uma experiência única, que valoriza os ritmos, os sabores e as identidades do Brasil.

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PODER DE COMPRA DA POPULAÇÃO LGBTQIA+ CONFIRMA POTENCIAL ECONÔMICO

DA COMUNIDADE

Grupo também encontra autonomia financeira e realização pessoal no empreendedorismo, impulsionando diversos setores da economia

O potencial de compra da população LGBTQIA+ no Brasil movimenta a economia do país

NATÁLIA STRUCCHI

O potencial de compra da população LGBTQIA+ no Brasil movimenta a economia do país, impulsionando diversos setores, como o turismo, entretenimento, moda, entre outros. Estudo recente da NIQ, empresa líder mundial em inteligência de consumo, aponta que somente no período doze meses anteriores ao primeiro trimestre de 2024, a comunidade injetou R$ 18,7 bilhões no mercado brasileiro.

A gerente nacional de Empreendedorismo Feminino, Diversidade e Inclusão do Sebrae, Geórgia Nunes, destaca o significativo impacto econômico da população LGBTQIA+ no Brasil.

“São números que demonstram o poder expressivo de compra da população LGBTQIA+, formada por lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e outras identidades de gênero, mas também chamam atenção para a importância de se construir uma sociedade mais inclusiva e diversa”, pontua.

A pesquisa da NIQ, chamada Raibow Homes, também traz dados sobre o perfil de consumo dessa parte da

população que tem preferido a conveniência e acessibilidade oferecidas pelo comércio eletrônico. O gasto médio por lar LGBTQIA+ no e-commerce, segundo o estudo, é 27% superior ao dos demais lares, com um ticket médio de R$ 363 contra R$ 286 dos outros domicílios, com destaque para as compras de produtos de giro rápido, como bebidas alcoólicas.

EMPREENDEDORISMO COMO FORMA DE RESISTÊNCIA E AFIRMAÇÃO

A gerente nacional do Sebrae também ressalta que empresas que adotam políticas inclusivas e valorizam a diversidade tendem a ser mais inovadoras e competitivas. “A presença de profissionais LGBTQIA+ em posições de liderança e em equipes diversas contribui para um ambiente de trabalho mais criativo e produtivo”, acrescenta Geórgia Nunes.

Ela explica que diante de barreiras estruturais de discriminação e falta de oportunidades, o empreendedorismo tem permitido que indivíduos LGBTQIA+ conquistem autonomia financeira e realização pessoal. “Ao gerir o próprio negócio, é possível criar ambientes inclusivos e explorar nichos de mercado específicos”, finaliza.

Foto: Freepik

PINKWASHING: OS DESAFIOS CONTRA ESTRATÉGIAS DE MARKETING NO TURISMO

Prática é comum em destinos que buscam atrair, mas não incluir turistas LGBTQIA+

Nem todos conhecem pelo nome, mas por reconhecerem campanhas que não condizem com a realidade. O conceito pinkwashing pode ser descrito quando marcas, empresas ou governos usam o apoio à comunidade LGBTQIA+ como uma estratégia de marketing, sem de fato apoiar ou respeitar os direitos da comunidade.

O termo ganhou uma maior visibilidade em 2010, quando ativistas queer palestinos denunciaram o governo de Israel por usar campanhas pró-LGBTQIA+ com objetivo de esconder ou suavizar críticas a violações de direitos humanos contra palestinos. Já no universo corporativo, também no mesmo ano, quando empresas começaram a “celebrar” o Mês do Orgulho com campanhas e produtos coloridos, muitas vezes sem apoiar efetiva -

BEATRIZ DO VALE
Nem todas as empresas querem incluir, mas ganhar em cima da comunidade

mente a comunidade ou investir em políticas inclusivas.

Apesar de não ser um assunto tão abordado pelas grandes mídias de forma aprofundada, o pinkwashing é uma realidade e precisa ser combatido.

No turismo, muitos destinos se aproveitam dessa luta pela diversidade e inclusão para atrair turistas LGBTQIA+ e simpatizantes pela causa, sem sequer olhar para a causa. Para impedir o pinkwashing é necessário entender como ele acontece pela experiência de quem tem voz no assunto, como o diretor geral da LGBT+ Turismo Expo, Alex Bernardes:

“Como viajante LGBTQIA+, já me deparei com resorts que se vendem como “gay-friendly” em países onde relacionamentos homoafetivos são criminalizados. Já vi cidades promovendo festivais coloridos enquanto aprovam leis anti-LGBTQIA+. Se você, como eu, quer viajar sem financiar hipocrisia, aqui estão algumas dicas para fugir do pinkwashing e apoiar destinos que realmente merecem nosso dinheiro—e nosso orgulho”, enfatizou.

ALEX AINDA COMPARTILHOU COMO EVITAR DESTINOS TURÍSTICOS QUE PRATICAM

PINKWASHING. CONFIRA:

1. DESCONFIE DO MARKETING “ARCO-ÍRIS”

Sabe aquela foto perfeita de um hotel com a bandeira Rainbow na recepção? Ótimo, mas e o resto? Algumas perguntas para fazer antes de reservar:

- Esse destino tem leis que protegem pessoas LGBTQIA+? (Ou ainda criminaliza a homossexualidade?)

- A propaganda é só para turistas, ou há direitos iguais para a população local?

- Existem relatos de viajantes LGBTQIA+ sobre discriminação ou armadilhas?

“Um exemplo clássico: Dubai tem resorts que aceitam hóspedes gays, mas relações homoafetivas podem levar à prisão. Isso não é inclusão—é pinkwashing puro. Mas, daí você vai dizer: ah, o hotel não tem nada a ver com as leis locais. De certa forma você está certo, mas sabemos também que essas empresas podem fazer pressão nos governos locais para o desenvolvimento de políticas públicas que beneficiem os moradores do destino. E é isso que esperamos de empresas que realmente apoiem nossa comunidade”, explica Alex.

2. BUSQUE HISTÓRICO, NÃO SÓ HASHTAGS

Um destino verdadeiramente LGBTQIA+ friendly tem:

-Proteção legal (leis contra discriminação, reconhecimento de casamento igualitário).

- Cultura LGBTQIA+ viva (bares, coletivos, eventos organizados pela comunidade, não só pelo governo).

- Segurança para locais e turistas (se só é seguro dentro de um resort, algo está errado). “Já fui a Buenos Aires, Estocolmo e Berlim, onde a cultura LGBTQIA+ é orgânica e enraizada. Mas também já vi cidades que pintam faixas de pedestres com as cores do arco-íris em junho, enquanto ignoram violência contra trans o ano todo”, exemplifica Bernardes.

3. APOIE NEGÓCIOS LGBTQIA+ DE VERDADE

Em vez de escolher a rede hoteleira que fez uma campanha “Pride” só em junho, prefira hotéis e pousadas de proprietários LGBTQIA+, ou que pelo menos sejam gerenciados por membros da nossa comunidade. Procure frequentar bares e eventos gerenciados pela comunidade local. Contrate guias e receptivos que tenham roteiros que incluam pontos turísticos que estão diretamente relacionados à comunidade LGBTQIA+ do local visitado.

Uma dica extra: Se um lugar se diz “LGBTQIA+ friendly” mas não contrata pessoas LGBTQIA+ ou doa para causas, questione.

4. DENUNCIE QUANDO PERCEBER A PRÁTICA PINKWASHING*

Alguns países usam o turismo LGBTQIA+ para lavar a imagem, enquanto a realidade local é opressora. O que podemos fazer?

- Compartilhe relatos reais em plataformas de viagem. Pode parecer bobagem, mas a comunicação tem poder. Quanto mais pessoas denunciarem situações de pinkwahsing, mais empresas e destinos se sentirão pressionados a mudarem suas posturas.

- Boicotar nem sempre é a melhor opção. O turismo tem o poder de influenciar, e quando se boicota um destino ou uma empresa, abandonamos também os nossos irmãos da comunidade boicotada. O ideal é fazer um movimento ao contrário, consumir em massa o destino ou a empresa que está praticando o pinkwashing e exigir deles uma mudança de comportamento.

5. DESTINOS QUE VALEM A PENA E OUTROS PARA EVITAR)

São muitos os destinos que já valem a pena a gente viajar sem culpa ou arrependimento de estar apoiando o pinkwashing. Um deles é Taiwan, primeiro país asiático a legalizar o casamento igualitário. Recentemente a Tailândia também aprovou a mesma lei. Outro destino que se destaca é Portugal. O país já possui leis progressistas e cenas LGBTQIA+ vibrantes em Lisboa e Porto.

Na América Latina, além do Brasil, temos o Chile, Argentina, Uruguai e Colômbia. Esses países possuem alguns tipos de leis como casamento igualitário e antidiscriminação. Já no Caribe, muitos países já possuem leis de casamento igualitário, mas poucos se promovem como destinos LGBT+ friendly. Um dos poucos que assume abertamente esta postura é Curaçao.

TURISMO COM PROPÓSITO: ROTEIROS COM FOCO EM HISTÓRIA E RESISTÊNCIA LGBTQIA+

Ao redor do planeta, museus, ruas, bairros e monumentos guardam as marcas de uma história de luta

Orgulho e resistência - Chicago, 2018, em uma das muitas marchas pela diversidade

GIULIA JARDIM

Viajar é também um ato político. Para além do lazer e da contemplação, o turismo pode ser uma ferramenta de conexão com narrativas que marcaram o mundo, especialmente quando essas narrativas envolvem lutas por direitos, dignidade e reconhecimento. No caso da população LGBTQIA+, visitar lugares emblemáticos da sua trajetória é uma forma de valorizar conquistas, honrar memórias e manter viva a chama da resistência.

Ao redor do planeta, museus, ruas, bairros e monumentos guardam as marcas dessa história: dos levantes espontâneos contra a violência policial às primeiras Paradas do Orgulho, da repressão durante regimes autoritários à construção de espaços seguros e afirmativos. Esses destinos não apenas acolhem viajantes LGBTQIA+, mas contam histórias que foram, por muito tempo, silenciadas.

Neste especial, reunimos alguns dos locais mais simbólicos para a comunidade LGBTQIA+ no Brasil e no mundo. São pontos de referência que ajudam a compreender o passado, celebrar o presente e inspirar futuros mais livres, diversos e inclusivos.

CONFIRA, ABAIXO, ALGUNS DOS LOCAIS HISTÓRICOS E SIMBÓLICOS

PARA A LUTA LGBTQIA+

BRASIL

Memorial da Diversidade Sexual (São Paulo)

Espaço dedicado à memória e valorização da cultura LGBTQIA+, homenageando ativistas e vítimas da comunidade. Local de eventos culturais e ponto de referência da luta por direitos no Brasil.

Avenida Paulista (São Paulo)

Principal palco das Paradas do Orgulho LGBTQIA+ no país, onde milhões se reúnem anualmente para celebrar e reivindicar direitos. Espaço de forte mobilização social e política.

Escadaria Selarón (Rio de Janeiro)

Obra artística que simboliza a diversidade e a resistência cultural no bairro da Lapa, conhecido reduto histórico da comunidade LGBTQIA+ carioca.

ESTADOS UNIDOS

Stonewall Inn (Nova York)

Epicentro da revolta de 1969 que deu início ao movimento moderno pelos direitos LGBTQIA+. Ícone global de resistência e liberdade.

Christopher Street (Nova York)

Rua histórica que concentra a memória das primeiras manifestações LGBTQIA+, palco das primeiras Paradas do Orgulho.

Castro District (São Francisco)

Bairro pioneiro da visibilidade gay e ativismo, fundamental na luta contra a epidemia de Aids e pela igualdade de direitos.

Compton’s Cafeteria (São Francisco)

Local da primeira rebelião trans contra violência policial, anterior a Stonewall, marco importante na história trans.

Pink Triangle Park (São Francisco)

Memorial dedicado às vítimas LGBTQIA+ do nazismo, símbolo de resistência contra todas as formas de opressão.

MÉXICO

El Museo de la Diversidad Sexual (Cidade do México)

Primeiro museu latino-americano dedicado à história e cultura LGBTQIA+, com exposições que fortalecem o conhecimento e a luta por direitos.

FRANÇA

Le Marais (Paris)

Bairro histórico que abriga a vibrante cena LGBTQIA+ da cidade, com centros culturais, bares e eventos dedicados à comunidade.

ALEMANHA

Berlin Schöneberg (Berlim)

Berço da comunidade queer moderna, com forte tradição desde os anos 1920, enfrentando repressões nazistas e pós-guerra.

ESPANHA

Barri Gòtic (Barcelona)

Espaço histórico de resistência e cultura LGBTQIA+, com museus e centros culturais ligados à comunidade.

AUSTRÁLIA

Sydney Mardi Gras (Sydney)

Evento anual que simboliza a luta por direitos LGBTQIA+ na Austrália, originado em protestos que transformaram a sociedade local.

HOLANDA

Vondelpark (Amsterdã)

Parque público que representa um espaço de liberdade e encontro da comunidade LGBTQIA+ em uma das cidades mais avançadas em direitos.

CASAMENTOS HOMOAFETIVOS BATEM

RECORDE NO BRASIL, MESMO COM QUEDA GERAL NAS UNIÕES CIVIS

As mulheres seguem sendo maioria nos casamentos homoafetivos: 62,7% das uniões entre pessoas do mesmo sexo foram entre cônjuges femininas

NATÁLIA STRUCCHI

O Brasil registrou, em 2023, o maior número de casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo desde o início da série histórica, em 2013. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da pesquisa Estatísticas do Registro Civil 2023, foram formalizadas 11.198 uniões homoafetivas, número que representa um aumento de 1,6% em relação a 2022, quando foram contabilizadas 11.022.

Esse avanço se deu mesmo com a queda no número total de casamentos civis no país. Em 2023, foram registrados 940.799 casamentos em cartórios, o que representa uma redução de 3,0% em comparação ao ano anterior. Desde 2016, o país apresenta tendência de queda no número de uniões civis, com um recuo mais acentuado entre 2019 e 2020.

As mulheres seguem sendo maioria nos casamentos homoafetivos: 62,7% das uniões entre pessoas do mesmo sexo foram entre cônjuges femininas. O número de casamentos entre mulheres cresceu 5,9% entre 2022 e 2023. Já as uniões entre homens tiveram queda de 4,9% no mesmo período.

Em nível regional, o aumento dos casamentos homoafetivos foi puxado pelas regiões Nordeste (alta de 5,6%), Sul (5,3%) e Sudeste (3,9%). Em contrapartida, as regiões Norte e Centro-Oeste registraram queda de 1,7% e 21,4%, respectivamente.

Quando se considera todos os tipos de união civil, a Região Sudeste liderou a queda com um recuo de 5,0% entre 2022 e 2023, seguida da Região Norte, com redução de cerca de 4,0%. O Centro-Oeste, por outro lado, foi a única região que apresentou crescimento geral no número de casamentos civis, com alta de 0,8%.

Desde a aprovação da Resolução nº 175 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 14 de maio de 2013, que garante o direito à celebração de casamentos entre pessoas do mesmo sexo nos cartórios de todo o país, o Brasil tem avançado na formalização das uniões homoafetivas. O recorde de 2023 confirma essa tendência, mesmo diante da queda no número total de casamentos.

Mulheres lideram casamentos homoafetivos no brasil
Foto: Freepik

DE UMA ESCOLHA POR ACASO A UMA VIDA COM SENTIDO: O CAMINHO DE GENINHO GOES NO TURISMO E NA PATERNIDADE

Pai, empresário, idealizador da BNT Mercosul e referência no setor turístico, Geninho Goes compartilha sua trajetória com coragem, afeto e propósito

“Vivemos como girassóis, de frente para a luz” uma filosofia que se reflete também na criação dos filhos

JANAINA BRITO

Em um universo como o do turismo feito de encontros, experiências e descobertas, poucas trajetórias revelam de forma tão clara e serena o poder transformador da autenticidade quanto a de Geninho Goes. Com mais de quatro décadas de dedicação ao setor, ele construiu uma carreira sólida, marcada pela idealização da BNT Mercosul, uma das feiras mais relevantes da América do Sul. Mais do que um empresário respeitado, Geninho é prova de que representatividade se constrói no cotidiano, com afeto, responsabilidade e verdade.

Com 58 anos, ele divide a vida com seu companheiro Duda,

de 48, ambos, como gostam de dizer, “bem vividos”. Juntos, construíram uma família numerosa (são cinco filhos adotivos) e cheia de histórias. A primogênita, Maria Helena, chegou com 8 anos e hoje está com 16. Seis anos depois, vieram os demais: Ellen, que chegou aos 10 e hoje tem 13; Wellington, que veio com 7 e está com 10; Allyson, que tinha 4 e agora tem 7; e a caçula, Rai, que chegou ainda bebê, com 1 aninho, e hoje tem 3 anos e meio. Cada um chegou em seu tempo, mas todos trouxeram novos significados para a palavra amor.

Nesta entrevista ao M&E, ele compartilha sua história marcada por coragem e muitas escolhas conscientes. A seguir, confira a entrevista completa com um dos nomes mais inspiradores do turismo nacional.

Foto: Eric RibeiroM&E

MERCADO & EVENTOS - Geninho, você tem mais de 40 anos de atuação no setor do turismo. Como foi o seu primeiro contato com esse universo e quando percebeu que era essa sua vocação?

Geninho Goes – Isso mesmo, mais de 40 anos. Meu primeiro contato com esse universo foi por acaso, porque eu queria fazer faculdade de Psicologia ou Jornalismo. Entrei como segunda opção no Turismo. Isso mostra que a gente não está no controle de tudo. Pensei: vou entrar no Turismo e depois mudo de faculdade. Mas me apaixonei pela atividade. Desde o primeiro ano, comecei a trabalhar na área. Primeiro na Folha de S.Paulo, no caderno de Turismo. Depois em operadora, trabalhei com projetos como o Turismo, hotelaria. Experimentei várias áreas do setor. Então não é apenas vocação, é aproveitar a oportunidade e perceber aquilo que você realmente gosta.

M&E - Você é idealizador da BNT Mercosul, um dos eventos mais relevantes para o setor. Como surgiu essa ideia e qual foi o maior desafio na criação e consolidação da feira?

Geninho Goes – A ideia surgiu há 32 anos atrás. Eu montei minha empresa, era professor de faculdade de Turismo, trabalhava em hotel, e resolvi fazer um evento para divulgar a região Sul do Brasil, porque sentia falta disso. O maior desafio foi esperar oito anos para o evento se consolidar. Hoje todo mundo quer retorno imediato, mas o desafio foi exatamente esse: a espera. Com profissionalismo e seriedade, mostrando que seu trabalho tem valor. Esse, pra mim, é o grande segredo do sucesso.

M&E - Durante todos esses anos, o setor passou por

muitas transformações. Quais foram os momentos mais marcantes da sua trajetória profissional e como você lidou com eles?

Geninho Goes – O mundo passou por muitas transformações, e o turismo também. Quando comecei a BNT, vendia via fax. Não existia rede social, nem celular. Passei por muitas áreas mesmo tendo a BNT como meu principal negócio. Fui diretor de hotel, trabalhei no poder público como diretor de Marketing e como secretário de Turismo em dois municípios. Também fui palestrante, escritor, diretor de franquias, professor universitário e consultor do Sebrae. Os momentos marcantes foram essas mudanças constantes e o fato de nunca ter ficado parado. Sempre estive conectado com o mercado em várias frentes.

M&E - Existe alguma viagem, destino ou projeto que tenha sido especialmente simbólico para você nesses anos todos?

Geninho Goes – Sim. Um dos momentos mais simbólicos foi o desapego. Eu era diretor do Beto Carrero, resolvi sair, e eu e o Duda viajamos por três meses. Sempre tive abertura pro novo, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Outro marco foi deixar a secretaria de Turismo de Balneário Camboriú por vontade própria. E também os livros que escrevi. São oito, na área de motivação e relacionamentos, que contam essa outra parte da minha trajetória, sobre paixão, afetividade, além de outras formações que busquei. Porque uma pessoa não é sucesso só na vida profissional. Sempre olhei para os dois lados: pessoal e profissional.

M&E - Por falar em lado pessoal, você é pai de cinco filhos e compartilha sua experiência nas redes através do perfil @paiciencianapratica. Como nasceu o desejo de construir essa família?

Geninho Goes – O desejo surgiu depois da legalização do casamento homoafetivo e da possibilidade de adoção no Brasil. Foi algo espontâneo. Antes disso, eu dizia que não queria ser pai. Isso só aconteceu quando eu tinha uns 48, 49 anos. A legalização despertou esse desejo que estava adormecido por falta de possibilidade. Foi um chamado. O Duda disse que era tanto amor dentro da gente que precisava se manifestar. E sermos pais foi a forma que encontramos de manifestar esse amor.

A paternidade me ensina sobre vínculos afetivos e sobre o amor “ “
Segundo Geninho, fazer turismo no Brasil é ótimo com as crianças

M&E - Como foi o processo de adoção? Quais foram os aprendizados e os desafios emocionais e legais que você enfrentou como homem gay adotando crianças no Brasil?

Geninho Goes – É uma pergunta importante. Adoção é um processo burocrático e emocional. As pessoas precisam se cadastrar, fazer curso, se inscrever no Cadastro Nacional de Adoção. Dependendo do perfil, pode demorar até dez anos. No nosso caso, enfrentamos com muita leveza. Não tivemos problema algum por sermos gays. Passamos por tudo de forma muito natural.

M&E - Qual é a maior lição que a paternidade te ensinou – e continua ensinando?

Geninho Goes – A paciência. E a transformação. Um filho é a chance de você rever a própria vida, curar feridas de infância. E a certeza de que não controlamos nada, nem o outro. Existe um propósito maior do que profissão e trabalho, que é a sua família. A paternidade me ensina sobre vínculos afetivos e sobre o amor. Freud dizia que as pessoas adoecem não por falta de amor, mas por não desenvolverem a capacidade de amar. A principal lição é essa: o amor.

M&E - Em uma sociedade ainda marcada por preconceitos, como você lida com os olhares externos sobre a sua família? Como conversa sobre isso com seus filhos?

Geninho Goes – Eu não lido. Se alguém tem preconceito, o problema é da pessoa, não meu. Nós vivemos como girassóis: de frente para a luz, de costas para a escuridão. Ninguém é obrigado a gostar de todo mundo, desde que não nos agrida. Vivemos em paz. Nas redes sociais, com quase 500 mil seguidores, não recebemos ataques. Se acontece, é problema do outro.

M&E - Você já disse em outras ocasiões que viajar em família é uma das suas maiores alegrias. Como são essas experiências com seus filhos? Existe alguma viagem que se tornou um marco para vocês?

Geninho Goes – Viajar com a família é uma alegria enorme. Por enquanto, só viajamos pelo Brasil, por causa da idade e do número de filhos. Preferimos resorts, hotéis fazenda, onde temos mais estrutura e conforto. A primeira viagem com todos foi inesquecível. Mas cada viagem é única. A gente viaja duas vezes por ano, e como cada criança está em uma fase diferente, cada viagem é uma nova experiência.

Se alguém tem preconceito, o problema é da pessoa, não meu. Nós vivemos como girassóis: de frente para a luz, de costas para a escuridão
Entre risos e abraços a rotina com cinco filhos exige energia, mas devolve muito amor!

M&E - Você percebe uma evolução na forma como o turismo brasileiro (e internacional) recebe famílias homoafetivas e pessoas LGBTQIA+ em geral? O que ainda precisa mudar?

Geninho Goes – A gente não se rotula. Somos uma família. Não tradicional, talvez, mas uma família. Não exigimos atendimento diferenciado. Hoje está muito mais livre. Antigamente, os bares LGBTQIA+ tinham só uma bandeirinha escondida. Hoje há mais liberdade de expressão. Ainda há violência, claro, mas ela afeta muitas pessoas, não só LGBTQIA+. O importante é que não vivemos mais escondidos.

M&E - Como homem gay, você já enfrentou situações de preconceito ou invisibilidade no setor do turismo? Poderia compartilhar alguma experiência que te marcou?

Geninho Goes – Jamais. Nunca tive esse problema. Porque minha competência profissional não tem nada a ver com minha orientação. As empresas querem desempenho, resultado. A vida pessoal de cada um é individual. Se alguém não gosta de gay, que não se case com um. Sempre me posicionei assim. Me respeito e sou respeitado.

A gente não se rotula. Somos uma família. Não tradicional, talvez, mas uma família. Não exigimos atendimento diferenciado

M&E - O que significa para você ocupar espaços de liderança em um setor ainda predominantemente heteronormativo? Você sente que sua trajetória inspira outras pessoas LGBTQIA+ a ocuparem esses espaços também?

Geninho Goes – Representatividade salva vidas. E você pode levantar bandeiras apenas com o que você faz. Recebo muitos depoimentos de jovens, casais, dizendo que se inspiram em nós. Somos minoria, sim, mas também somos seres humanos. O importante é entender o espaço que se ocupa e se respeitar primeiro, antes de exigir respeito dos outros.

M&E - Com tantos papéis – pai, empresário, palestrante, ativista da parentalidade, homem gay –como você equilibra tudo isso no dia a dia?

Geninho Goes – Vivendo o essencial. Quando você entende que é dono do seu tempo, não deixa ninguém administrá-lo por você. Hoje delego mais, vivo com serenidade, faço escolhas conscientes. Recusei quatro palestras este mês porque minha prioridade é minha família. E tudo bem.

Orientação sexual é diferente da competência. Você pode ser qualquer letra da sigla, viver bem com isso. O essencial é amor próprio. O limite é você quem dá. O outro só ultrapassa se você permitir.

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Antes da adoção dos outros irmãos, Geninho e Duda levaram a Maria pra um safari na África
Em casa ou viajando, a essência é a mesma: presença, respeito e vínculos verdadeiros

M&E - O que você gostaria que seus filhos soubessem sobre quem você é como ser humano, além da figura paterna?

Geninho Goes – Que eu fui uma pessoa do bem. Que eles possam se espelhar nisso. Que fui alguém que os amou, que cuidou, que deu afeto e segurança. Se eles entenderem que até quando a gente briga ou diz “não” foi por amor, está ótimo.

“Família é sobre amor. Viajar é sobre vontade, tempo e planejamento. E a carreira é sobre entrega.

M&E - Que mensagem você deixaria para jovens LGBTQIA+ que sonham em construir uma carreira sólida, formar uma família e viajar o mundo, como você fez?

Geninho Goes – Que orientação sexual é diferente da competência. Você pode ser qualquer letra da sigla, viver bem com isso. O essencial é amor próprio. O limite é você quem dá. O outro só ultrapassa se você permitir. Família é sobre amor. Viajar é sobre vontade, tempo e planejamento. E a carreira é sobre entrega.

M&E - Olhando para trás, com tudo o que você viveu, qual é o maior orgulho que carrega hoje – como homem, como pai, como profissional?

Geninho Goes – A certeza de que tudo o que aconteceu era para ter acontecido. Se eu fosse pai aos 30, 35 anos, não seria o pai que sou hoje. Hoje sou mais equilibrado, mais paciente e mais consciente. Vivi a minha vida!

A família Goes em uma de suas viagens favoritas
Geninho revela que gosta de fazer uma foto em família em cada viagem pra ver o quanto os filhos cresceram

PORTO SEGURO (BA) E PIPA (RN)

CELEBRAM INCLUSÃO E DIVERSIDADE

Os visitantes LGBTQIA+ encontram em ambos o respeito institucional e um ambiente real de acolhimento

NATÁLIA STRUCCHI

Em um Brasil cada vez mais acolhedor, dois destinos se destacam como referências em turismo LGBTQIA+: Porto Seguro, na Bahia, e a Praia de Pipa, no Rio Grande do Norte. Ambos vão além de belas paisagens, destacando-se também pelo apoio a ações afirmativas e pelo compromisso com a inclusão.

Porto Seguro tem se consolidado como destino LGBTQIA+ através de um movimento intenso de promoção, qualificação profissional e visibilidade no cenário nacional. O município participou do Think Thank Brasil promovido pela IGLTA em 2024, além de lançar a campanha “Aqui Respeitamos a Diversidade”, com o emblemático azulejo de Milton Cunha.

Foi ainda palco da 1ª Semana da Diversidade, ano passado, com a realização de debates, intervenções artísticas e a primeira Parada da Diversidade. Também promoveu seminários com o apoio da IGLTA, Sebrae e Senac, para capacitar o trade turístico a acolher bem o público LGBTQIA+.

Já a pequena vila de Tibau do Sul, onde está a Praia de Pipa, tornou-se um polo LGBTQIA+ reconhecido pela IGLTA via o mo-

vimento Preserve Pipa. Desde 2020, com a lei estadual que exige cartazes contra discriminação em estabelecimentos, Pipa reforça seu compromisso com o acolhimento.

A atividade do Preserve Pipa inclui treinamentos para equipes de hotelaria e promoção em feiras, e desenvolve planos para sediar eventos dedicados, como o Festival TriboQ. Também lançou o “Roteiro LGBT Pipa 7 noites” para orientar visitantes LGBTQIA+.

INCLUSÃO E ACOLHIMENTO

Enquanto Porto Seguro traz o charme histórico e festa vibrante com base em ações municipais robustas, Pipa une natureza deslumbrante com uma comunidade ativa, envolvimento local e foco no atendimento especializado. Os visitantes LGBTQIA+ encontram em ambos o respeito institucional — cartazes, capacitação — e um ambiente real de acolhimento.

Ambos os destinos se posicionam como verdadeiros paraísos para quem busca sociabilidade, diversão, cultura e experiências memoráveis — sempre com segurança, respeito e integração.

Fotos:
Embratur
Sebrae
Porto Seguro se destaca pela inclusão
Pipa atrai com paisagens paradisíacas e acolhimento

CRIADOR DA LGBT+ TURISMO EXPO DESTACA TEMA DA EDIÇÃO 2025: “FAMÍLIAS LGBT’

A rodada de negócios reunirá somente produtos nacionais para fomentar o turismo interno

RAFAEL TORRES

Alex Bernardes, criador e diretor do maior evento direcionado à comunidade LGBTQIA+ do Brasil e da América Latina, fala sobre a LGBT+ Turismo Expo 2025 que acontece no próximo dia 24, no Hotel Unique, em São Paulo, do crescimento da feira em apenas quatro anos e do que representou para a comunidade as apresentações, em Copacabana, de suas divas e musas Madonna e Lady Gaga.

MERCADO & EVENTOS – A LGBT+ Turismo Expo, principal evento B2B de Turismo LGBT+ da América Latina chega a sua 4ª edição agora em 2025. O que esperar em termos de novidades, expositores e público?

Alex Bernardes - A LGBT+ Turismo Expo está entrando na quarta edição com várias novidades, a começar pelo tema de 2025, centralizado em ‘Famílias LGBT’ e

quatro subtemas relativos. No final do ano passado, o IBGE divulgou que 50 mil crianças foram adotadas por casais homoafetivos entre 2021 e 2023, logo entendemos que há 50 mil novas famílias buscando um destino acolhedor, um equipamento respeitoso que receba bem esse perfil de família, o que nos levou a debater este ano o tema voltado para a família.

M&E – Tem como fazer uma linha do tempo e mostrar o crescimento exponencial da LGBT+ Expo? E adiantar o próximo local do evento?

Alex - O evento começou no Rio em 2022 com cerca de 40 expositores. Hoje a LGBT+ Expo vem com 64 expositores em São Paulo. Estamos falando de um crescimento bem interessante, substancial. Também tivemos a primeira rodada de negócios realizada no Brasil em 2024 com 16 produtos LGBT+, que ampliamos para 20 produtos na edição 2025. Não temos um local defi -

Alex Bernardes, diretor da LGBT+ Turismo Expo

nido para a Expo 2026, mas pretendo ficar aqui em São Paulo. Já recebi convites para levar a feira para Fortaleza e Salvador, mas não tem nada fechado. Na verdade, já temos robustez suficiente com a temática do turismo LGBT+ para sair dos grandes centros e do eixo Rio-São Paulo, mas por enquanto a minha previsão é de manter o evento em São Paulo no próximo ano.

M&E – Parece então que a rodada de negócios volta com força total este ano. Algum esquema especial para essa troca de informações tão importante e necessária e busca de oportunidades de negócios?

Alex – Exato, vamos ampliar a rodada de negócios. Serão 20 expositores, desde receptivos até hotéis e pousadas, barcos para cruzeiro e iates que trabalham bem com o público LGBT. É importante salientar que a rodada de negócios reúne somente produtos nacionais. Não vamos ter, por exemplo, destinos internacionais na rodada de negócios. Tudo que a LGBT+ Expo terá são produtos nacionais, justamente para fomentar o turismo interno.

M&E – Quantos buyers internacionais foram convidados para esta edição?

Alex - Esse ano estamos com alguma novidade na rodada de negócios com a chegada de alguns buyers internacionais que a LGBT+ está trazendo. São dois da Espanha, um que trabalha com homens gays, 40 mais, e outro com mulheres lésbicas, também 40 mais. Um terceiro da Itália, que também tem escritório em Londres e, claro, ele atende tanto o público inglês quanto o público italiano, e mais duas agências argentinas que trabalham o mercado LGBT+ de Buenos Aires.

M&E - O que representa ou qual simbolismo podemos destacar com os shows das musas LGBT+ Madonna e Lady Gaga, ambos realizados em Copacabana, no que se refere à celebração da diversidade?

Alex – Esses grandes shows com as divas LGBT+ são

muito importantes, pois conseguem transmitir o quanto a comunidade LGBT+ movimenta. É uma quantidade, um volume de pessoas que esse segmento representa que nos prova que investir no quesito turismo e lazer também é uma celebração. E aqui incluímos a nossa diversidade, o reconhecimento e a força da comunidade LGBT+, a importância que temos enquanto comunidade, poder econômico, enfim a nossa relevância e o quanto ajudamos a levantar os destinos.

M&E – Em São Paulo este ano a Parada LGBT celebrou o tema “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro”. Como avalia essa escolha?

Alex – O tema, a causa é muito importante. A parada acertou no tema deste ano, creio que a comunidade LGBT+, os membros 60+, enfim, são pouco vistos por nós, na verdade prestamos pouca atenção. Esse é um tema muito sensível, a gente está tendo a primeira geração de LGBT’s fora do armário, aberta para a sociedade que está chegando nessa idade, que está envelhecendo...então é muito importante que olhemos para esse segmento, para essa faixa etária dentro da nossa comunidade. Temos que estar atentos à essa problemática, às dificuldades, para que possamos solucionar problemas das próximas gerações que também vão envelhecer. Então, eu acho que a Parada do Orgulho deste ano super acertou no tema. É uma geração que iniciou esse movimento todo que temos hoje. Vale a homenagem, é muito importante. Só chegamos aqui enquanto comunidade porque tivemos esses bravos guerreiros lá trás que foram abrindo as portas pra gente. É isso, o futuro para o amanhã, que seja uma sociedade mais aberta, que as pessoas sejam mais livres para serem quem elas são de verdade. Uma sociedade que entenda que somos iguais nos direitos e nos deveres, mas diferentes enquanto seres humanos. Que todos têm que se respeitar e se amar, independente da orientação sexual, da identidade de gênero, da cor da pele, da religião, enfim, é isso.

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Que seja uma sociedade mais aberta, que as pessoas sejam mais livres para serem quem elas são de verdade. Uma sociedade que entenda que somos iguais nos direitos e nos deveres, mas diferentes enquanto seres humanos. Que todos têm que se respeitar e se amar, independente da orientação sexual, da identidade de gênero, da cor da pele, da religião

“O

BRASIL É LINDO, DIVERSO E CHEIO DE POTENCIAL, MAS AINDA NÃO É UM

DESTINO INCLUSIVO DE VERDADE”

O Presidente da Câmara LGBT fala sobre o que falta para o país ser referência no turismo LGBTQIA+, o papel das empresas e o impacto real em comunidades locais

FELIPE ABÍLIO

O Brasil é aquele destino que todo mundo quer conhecer: tem praia, festa, floresta, diversidade e uma das maiores populações LGBTQIA+ do mundo. Mas na hora de falar em inclusão de verdade, o discurso ainda não acompanha a prática. Falta estrutura, falta campanha, falta política pública que dure mais que um governo.

Quem conhece bem esse bastidor é Ricardo Gomes, presidente da Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil. À frente da entidade há quase uma década, ele tem batido na tecla de que turismo LGBTQIA+ não é nicho: é oportunidade, impacto social, respeito e desenvolvimento. Nesta entrevista, Ricardo fala sobre o que trava o Brasil, o que já está acontecendo na prática e por que não dá mais pra aceitar pinkwashing disfarçado de arco-íris em junho.

MERCADO & EVENTOS – O Brasil tem um enorme

potencial turístico e uma das maiores populações LGBTQIA+ do mundo. O que ainda impede o país de se destacar globalmente como um destino realmente inclusivo?

Ricardo Gomes - O que atrapalha o Brasil de ser hoje um país mais inclusivo e atrativo para o turista LGBT é a falta de políticas públicas consistentes. É necessário um investimento do governo federal que se posicione de forma clara, com campanhas duradouras e permanentes, que sigam independentemente de quem esteja no poder. Isso precisa ser uma política de Estado, e não apenas de governo, como acontece na Espanha, na Argentina e em diversos outros países. Para isso, o poder público precisa se declarar favorável, estabelecer campanhas com objetivos claros. As pesquisas mostram que um destino só é bom para o turismo LGBT se também for bom para as pessoas LGBT que vivem e trabalham ali.

M&E – Quais são as principais ações da Câmara

Ricardo Gomes, da Câmara LGBT

de Comércio e Turismo LGBT do Brasil para tornar o país mais acolhedor para turistas da comunidade?

Ricardo Gomes - A principal atuação da Câmara é treinar, capacitar e apresentar todas as tendências do mercado para que o setor turístico se interesse genuinamente pelo turismo LGBT. Quando há esse interesse, ele se soma ao trabalho que o poder público deve desenvolver na promoção desse segmento. A iniciativa privada também tem papel fundamental. A Câmara realiza, por exemplo, a Conferência Internacional da Diversidade, que em 2025 acontecerá de 9 a 12 de setembro, já em seu nono ano de existência. É um evento com um dia exclusivo para o turismo LGBT, focado em fomentar negócios e também em compartilhar conhecimento. Mesmo durante o governo anterior, que não apoiou e não desenvolveu nenhuma iniciativa voltada ao turismo LGBT, seguimos levando a bandeira do Brasil LGBT para conferências nos Estados Unidos, México, Argentina, Uruguai e por todo o país, participando de eventos como a WTM, a WGS e diversos outros, com estandes, palestras e materiais dedicados ao turismo LGBT.

M&E – As empresas do setor turístico estão mais abertas à diversidade ou ainda tratam o público LGBTQIA+ apenas como um nicho comercial?

Ricardo Gomes - As empresas estão, sim, mais abertas. No entanto, ainda existem aquelas que veem a comunidade apenas como um nicho comercial. Um exemplo é a Meta, que embora não pertença ao setor turístico, reflete um padrão que também vemos aqui: marcas que querem apenas o dinheiro da comunidade, mas não têm real compromisso. Por outro lado, muitas empresas, ao começarem a lidar com esse público e a se prepararem com treinamentos e capacitações, acabam desenvolvendo um carinho e um respeito verdadeiro. Compreendem que tratar todos de forma adequada e igual, respeitando as necessidades específicas de cada público, é o ideal, e que isso também pode se converter em bons negócios. A grande vitória é quando uma empresa faz um projeto voltado à comunidade LGBT de forma correta, organizada, com equipe treinada, e entende como atender melhor e com mais respeito. Algumas continuam focadas apenas no lucro, mas outras se tornam verdadeiras aliadas da causa.

M&E - Em termos de impacto social, como o turismo LGBTQIA+ pode ajudar a transformar pequenas comunidades ou destinos menos explorados no Brasil? Ricardo Gomes - O turismo LGBT pode contribuir significativamente para o desenvolvimento de pequenas comunidades. Um exemplo disso é o projeto “Love Noronha”, em Fernando de Noronha, voltado à população gay. No início, muitos moradores se opuseram à ideia. Hoje, esse cenário mudou completamente: a população local apoia o projeto, inclusive com relatos de moradores dizendo que preferem trabalhar com turistas LGBT, que muitas vezes deixam as casas mais organizadas do que encontraram. Isso mostra que a presença da comunidade pode gerar impacto positivo, não só econômico, mas social, cultural e relacio -

nal. Para isso, é essencial que esses destinos menores estejam preparados e capacitados para receber esse público de forma correta e respeitosa. A própria comunidade pode ajudar a divulgar e impulsionar esses lugares. Mas o poder público local também precisa fazer sua parte.

M&E – Como a Câmara vem atuando junto a prefeituras e governos estaduais para implementar políticas públicas que valorizem a diversidade e promovam segurança aos visitantes LGBTQIA+?

Ricardo Gomes - A Câmara trabalha com diversos destinos, como Bahia, Estado e Cidade de São Paulo, entre outros. Desenvolvemos ferramentas como cartilhas, capacitações, mapas da diversidade e também atuamos diretamente com as equipes das secretarias de turismo. Buscamos atrair os gestores públicos para que participem da conferência e de eventos internacionais, incentivando o networking e o aprendizado com outras experiências. Em nível federal, temos um acordo de cooperação com a Embratur para o fomento do turismo LGBT e, embora ainda não haja um acordo formal com o Ministério do Turismo, realizamos eventos em parceria. Após muitos anos de esforço, a Câmara hoje tem uma vaga no Conselho Nacional do Turismo, onde atuamos na defesa do segmento LGBT.

M&E – Quais são os destinos brasileiros que vêm se destacando positivamente em ações voltadas ao turismo inclusivo?

Ri cardo Gomes - Diversos destinos vêm se posicionando publicamente como inclusivos. Eles estão lançando campanhas específicas com personagens da comunidade LGBT e promovendo datas importantes como Carnaval, Réveillon e São João com figuras da diversidade. Isso é fundamental porque rompe a bolha de campanhas exclusivas da comunidade e amplia o alcance. Muitos festivais no Brasil têm uma média de 30% de público LGBT, e no Carnaval de cidades como o Rio de Janeiro, esse percentual também se mantém ou é até maior. Esses exemplos mostram que o posicionamento claro, aliado a campanhas bem elaboradas e inclusivas, pode inspirar outros destinos a adotarem práticas semelhantes.

M&E – Como equilibrar campanhas verdadeiramente comprometidas com a causa LGBTQIA+ e ações que não soem apenas como pinkwashing?

Ricardo Gomes - A resposta está no comprometimento contínuo. A campanha “Orgulho Fora do Mês”, por exemplo, nasce da ideia de que a valorização da comunidade LGBT precisa acontecer o ano inteiro, e não apenas em junho. É essencial que campanhas com representatividade aconteçam também em eventos tradicionais e que as ações ultrapassem o marketing superficial. O envolvimento genuíno passa por treinamentos, preparo das equipes e um entendimento real das necessidades da comunidade. O pinkwashing acontece quando as empresas ou destinos só lembram da causa em datas comemorativas, sem nenhuma ação concreta ou contínua. O equilíbrio está em fazer com verdade, compromisso e constância.

LEANDRO ARAGONEZ: “O TURISMO

LGBTQIA+ PRECISA SER MAIS DO QUE CIFRAS. TEM QUE DEIXAR LEGADO”

Com trajetória global, ele reforça que inclusão, acessibilidade e impacto local devem caminhar junto com o crescimento econômico

FELIPE ABÍLIO

O turismo LGBTQIA+ movimenta mais de US$ 350 bilhões por ano no mundo e, mesmo assim, ainda enfrenta barreiras sociais em muitos destinos. Mas como transformar todo esse potencial econômico em impacto social real? Essas e outras questões foram debatidas com Leandro Aragonez, que é um dos principais nomes brasileiros na promoção global do turismo inclusivo.

Com mais de 18 anos de carreira, Leandro já passou por países como Angola, Marrocos, Espanha e Estados Unidos, representou a Embratur no exterior e participou da construção de projetos que unem diversidade, capacitação e desenvolvimento regional. Nesta entrevista exclusiva ao Mercado & Eventos, ele fala sobre inclusão, acessibilidade, visibilidade e o papel transformador que o turismo pode (e deve) exercer no Brasil e no mundo.

MERCADO & EVENTOS - O turismo LGBTQIA+ movimenta bilhões no mundo, mas ainda enfrenta barreiras sociais. Como transformar esse potencial econômico em impacto social concreto, especialmente em países com histórico de preconceito?

Leandro Aragonez - O turismo LGBTQIA+ movimenta mais de US$ 350 bilhões por ano, e o Brasil representa até 15% desse total. A previsão é que o setor atinja US$ 600 bilhões até 2030. Apesar dos números, o verdadeiro desafio é transformar esse potencial econômico em impacto social. Isso inclui gerar oportunidades, inclusão e desenvolvimento nas comunidades locais. Para isso, são essenciais políticas públicas eficazes e participação ativa da população LGBTQIA+.

M&E - Você já atuou com destinos em diferentes continentes. De que forma o turismo pode ser uma ferramenta concreta de transformação para a comu -

Leandro Aragonez

nidade LGBTQIA+ e outros grupos historicamente marginalizados?

Leandro Aragonez - O turismo tem um papel poderoso na conexão entre pessoas, culturas e economias. Mesmo em contextos sociais difíceis, ele pode servir como plataforma de diálogo e desenvolvimento. Vi de perto como destinos que investem em inclusão geram transformações reais. Em Angola, por exemplo, trabalhei com o Ministério do Turismo em iniciativas que impactaram positivamente as comunidades locais. Também acompanhei a criação de centros de capacitação para pessoas trans e ações de apoio a negócios nas periferias.

O segredo está em construir com a comunidade, ouvir quem está no território e cocriar soluções. Quando isso acontece, o turismo passa a promover mudanças que vão muito além do setor.

M&E - Visibilidade é importante, mas ainda existem muitos obstáculos quando falamos de acessibilidade. Como garantir que o turismo inclusivo contemple pessoas trans, negras, periféricas e com deficiência?

Leandro Aragonez - Essa é uma pergunta essencial. Visibilidade é um passo importante, mas acessibilidade é o que concretiza a mudança. Ela precisa ser física, econômica e digital, mas também afetiva e social. Não adianta um hotel ter rampa se uma pessoa trans não se sente segura. Não basta realizar um evento LGBTQIA+ se a população local, especialmente a mais vulnerável, não consegue participar. A inclusão vai além da estrutura: envolve cultura organizacional, atitudes, respeito e geração de oportunidades reais. Visibilidade abre portas. Acessibilidade garante que todas as pessoas possam entrar, permanecer e se sentir verdadeiramente bem-vindas.

M&E - O Brasil conta com iniciativas como a Câmara LGBT e ações de empresas privadas. Mas o que ainda falta nas políticas públicas para que o turismo se consolide como vetor de inclusão e geração de renda?

Leandro Aragonez - Temos iniciativas importantes e inspiradoras, como as ações da Câmara LGBT, da Embratur e de secretarias de Turismo em estados como Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul. Para continuarmos avançando precisamos focar em três pontos: prioridade, orçamento e continuidade.

Muitas vezes os recursos já existem, mas faltam direcionamento estratégico e compromisso com metas de longo prazo. É preciso institucionalizar a inclusão, garantindo que ela esteja presente nos editais, nos critérios de incentivo e nas lideranças do setor. Quando a diversidade está prevista no orçamento e nas políticas de Estado, ela deixa de ser pontual e passa a gerar transformações reais.

M&E - Como criar um diálogo coerente entre iniciativas globais de inclusão e as realidades locais, muitas vezes marcadas por desigualdades profundas?

Leandro Aragonez - Iniciativas globais só fazem sentido quando estão conectadas com o contexto local. O maior erro é tentar replicar modelos prontos sem ouvir quem vive os desafios no dia a dia. Projetos transformadores são aqueles cocriados com lideranças LGBTQIA+, coletivos periféricos e comunidades tradicionais. Um exemplo claro disso são as iniciativas de turismo de base comunitária na Bahia, onde povos indígenas e quilombolas protagonizam a construção do turismo local.

Cabe ao setor público e privado oferecer ferramentas, recursos e, principalmente, escuta. Quando as soluções são construídas com quem está no território, a inclusão deixa de ser discurso e vira impacto.

M&E - Qual é a sua visão sobre o futuro do turismo como agente de transformação? É possível pensar em uma indústria que seja ao mesmo tempo inclusiva, sustentável e lucrativa?

Leandro Aragonez - Acredito que não só é possível como é necessário. O turismo do futuro precisa ser inclusivo, sustentável e rentável. Quem não entender isso vai ficar para trás. Hoje há uma demanda crescente por experiências autênticas, seguras e com propósito. O público LGBTQIA+ procura destinos de acolhimento e respeito. As novas gerações valorizam o impacto social. E investidores estão cada vez mais atentos ao compromisso real com a diversidade e a sustentabilidade. O segredo está na estrutura. Quando a inclusão e a responsabilidade social são pensadas desde o início, e não como vitrine, todos ganham. O turismo deixa de ser só negócio e passa a ser um motor de transformação. É esse caminho que eu acredito e defendo: planejamento com humanidade, propósito e resultados concretos para as pessoas e para o setor.

Visibilidade é um passo importante, mas acessibilidade é o que concretiza a mudança. Ela precisa ser física, econômica e digital, mas também afetiva e social “

OS MELHORES PAÍSES NO MUNDO PARA O TURISMO LGBTQIA+

Islândia chega ao topo de países mais acolhedores, se juntando a Canadá, Malta, Portugal e Espanha

RAFAEL TORRES

Pela primeira vez a Islândia chega ao topo de países mais acolhedores para o turista LGBTQIA+, se juntando a Canadá, Malta, Portugal e Espanha, segundo o site Spartacus, referência no setor que anualmente divulga o ranking dos melhores países para o turismo LGBTQIA+.

Mas foram Grécia, Tailândia e Curaçao que tiveram o maior salto na comparação com o ano de 2024. O reconhecimento do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo foi fator determinante para os três destinos subirem no

Foto: Freepik
Parada gay em Reykjavik - Islândia

ranking. A Grécia se tornou o primeiro país cristão ortodoxo a aprovar uma legislação sobre o tema, a Tailândia o primeiro do Sudeste Asiático e Curaçao recebeu a legalidade por decisão do Supremo Tribunal dos Países Baixos.

O Brasil se manteve na 30ª colocação. Nos últimos cinco anos demos um salto de 19 posições no ranking, mas ainda seguimos abaixo de países do continente como Uruguai (8º), Chile (12º) e Argentina (15º). O Brasil recebeu nota máxima em relação aos direitos das pessoas transgêneros e boa avaliação sobre a legislação pró-LGBT, mas ainda recebeu classificação negativa nas categorias influência religiosa, nativos hostis e, especialmente, nos números de crimes de ódio.

Este ano os Estados Unidos registraram um declínio por conta das medidas anunciadas pelo governo Trump. A queda de sete posições pode ser ainda maior no próximo ano com novas medidas anunciadas sendo colocadas em prática. A Geórgia, sob forte influência do governo russo, também foi destaque negativo na edição de 2025. Afeganistão, Arábia Saudita, Irã e Iêmen estão juntos na última colocação.

CARACTERÍSTICAS DE TRÊS DOS MELHORES DESTINOS INTERNACIONAIS PARA A COMUNIDADE

O Canadá é um dos destinos mais seguros e acolhedores para a comunidade LGBTQIA+. No país, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é legalizado, além de existirem proteções constitucionais contra discriminação e criminalização da homofobia como crime de ódio.

Em Toronto, o bairro Church and Wellesley, conhecido como “The Village”, é o coração da comunidade, com bares, clubes e eventos culturais. O Toronto Pride ainda atrai milhões de visitantes anualmente. Já em Vancouver, o bairro Davie Village é famoso por seus estabelecimentos voltados para o público LGBTQIA+.

A Suécia é um destino conhecido por sua forte cultura de igualdade e direitos humanos. Desde a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2004, o país oferece proteções constitucionais contra a discriminação e criminaliza a violência contra a população LGBTQIA+. Em Estocolmo, o bairro Södermalm é famoso pela vida noturna, e o Stockholm Pride atrai visitantes de todo o mundo com desfiles, festas e atividades culturais.

A Noruega é outro país favorável aos direitos LGBTQIA+ e está em terceiro lugar na lista. Em Oslo, o bairro Grünerløkka é conhecido por seus cafés, bares e lojas, além do Oslo Pride anual, que celebra a diversidade com desfiles e shows.

Foto: Agência Brasil
Foto: Vikipedi
Foto: Freepik
Parada Gay em São Paulo
Palácio Auberge de Castilli, La Valeta
Toronto Pride

SÃO PAULO SE FIRMA COMO DESTINO DE DESTAQUE PARA O TURISMO LGBTQIA+

De forma integrada, São Paulo tem construído um turismo que acolhe, celebra e respeita

Com uma das maiores Paradas do Orgulho do mundo, uma vida cultural vibrante e políticas públicas voltadas à inclusão, a cidade de São Paulo se consolida, ano após ano, como um dos principais destinos LGBTQIA+ da América Latina.

Além dos inúmeros bares, restaurantes, casas noturnas e espaços culturais que se identificam como LGBTQIA+ friendly, a capital paulista carrega um histórico de iniciativas voltadas à diversidade — e transforma isso em atrativo turístico. É na cidade que acontece

a tradicional Parada do Orgulho LGBTQIA+, um dos maiores eventos do segmento no planeta, que atrai turistas nacionais e internacionais. Além disso, São Paulo abriga o Museu da Diversidade Sexual, o primeiro museu público do tipo na América Latina, localizado dentro da estação República do metrô.

De acordo com a Embratur, a promoção da diversidade tem sido uma prioridade para o turismo brasileiro. “Entendemos que hoje o mundo é diverso, então precisamos apostar num turismo que tenha esse entendimento. O foco é que haja respeito à dignidade humana e à potência que é a comunidade queer para o turismo”,

A Parada do Orgulho em São Paulo atrai milhões de pessoas todos os anos
Foto: TH
GustavoPexels

afirma Marcelo Freixo, presidente da entidade.

INCLUSÃO NAS RUAS PAULISTANAS

Em 2024, São Paulo foi reconhecida como um dos melhores destinos turísticos para a comunidade LGBTQIA+ em premiações como o Prêmio Viaja Bi!, que destaca tendências apontadas por um júri formado por especialistas em turismo e viajantes com olhar atento à inclusão. Pelas ruas da cidade, é comum ver a bandeira do arco-íris tremulando em fachadas de comércios, centros culturais e até prédios públicos. Regiões como a Avenida Paulista, o Baixo Augusta, a Rua Frei Caneca, o Largo do Arouche e o Bixiga concentram uma ampla oferta de estabelecimentos acolhedores e uma vida noturna pulsante.

Entre os atrativos indicados pelo Ministério do Turismo para quem busca experiências inclusivas e culturais estão o Centro Cultural da Diversidade, o Cabaret da Cecília, a Casa Fluida, o Parque Augusta – Prefeito Bruno Covas, o Espaço Itaú de Cinema, além das já citadas Avenida Paulista, Baixo Augusta, Frei Caneca, Largo do Arouche, Praça Roosevelt, Praça Benedito Calixto e o bairro do Bixiga.

PARADA LGBT+ 2025 MOVIMENTA SÃO PAULO

E DEVE GERAR R$ 548,5 MILHÕES

Realizada no início de junho, a 29ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo teve como tema “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro” e mais uma vez mobilizou turistas, moradores e o setor de turismo da capital paulista. Segundo estimativas do setor e do Observatório de Turismo e Eventos (OTE), o evento deve ter movimentado cerca de R$ 548,5 milhões, com impacto direto em hotéis, bares, restaurantes, shoppings e comércios da região central — especialmente no entorno da Avenida Paulista, onde ocorre a manifestação.

A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) também destacou o aumento nas vendas durante o evento, em especial no setor de bebidas. A organização oficial e a Polícia Militar ainda não divulgaram o número final de participantes, mas um levantamento parcial do Monitor do Debate Político, do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), apontou um pico de concentração às 13h58, com 48.787 pessoas presentes na avenida.

MUITO ALÉM DA PARADA: UMA

AGENDA CULTURAL ATIVA

A Parada é o ponto alto do calendário LGBTQIA+ em São Paulo, mas está longe de ser o único evento voltado à comunidade. A cidade conta com uma programação diversa e contínua, que reforça seu compromisso com a inclusão. Entre os destaques estão o Festival MixBrasil de Cultura da Diversidade, a Conferência Internacional da Diversidade e Turismo LGBT+, a Feira Cultural LGBT e Cãominhada da Diversidade, a Marcha do Orgulho Trans, o Futebol das Drags, o Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade LGBT+ e o Realness Ball, evento dedicado à cultura ballroom.

De forma integrada, São Paulo tem construído um turismo que acolhe, celebra e respeita. E mais do que destino, tem se tornado referência.

AINDA HÁ CAMINHOS A PERCORRER

Embora São Paulo tenha avançado muito e se destaque como destino LGBTQIA+, a cidade ainda enfrenta desafios importantes quando o assunto é inclusão plena. Questões sociais e estruturais, como a vulnerabilidade de pessoas LGBTQIA+ em situação de rua, seguem sendo um problema presente. A segurança da população trans e travesti, apesar dos progressos, ainda demanda atenção constante. Além disso, a oferta de políticas públicas específicas para o turismo inclusivo e a capacitação de profissionais nos estabelecimentos ainda podem evoluir, garantindo experiências cada vez mais seguras e acolhedoras para todos os visitantes.

Reconhecer São Paulo como um destino de referência para o público LGBTQIA+ é fundamental, mas é importante que esse reconhecimento venha acompanhado de um compromisso contínuo com a promoção da equidade.

A capital paulista reune história cultura e eventos que fortalecem a comunidade
Foto: Paloma
ClaricePexels

TURISMO LGBTQIA+: ALÉM DO LAZER, UMA LUTA POR LIBERDADE E ACOLHIMENTO

Três casais LGBTQIA+ compartilham experiências que revelam o paradoxo de viajar sendo quem se é em um mundo que avança em direitos, mas ainda impõe desafios

FELIPE ABÍLIO

Viajar a dois ou a três é dividir o fone de ouvido, o silêncio da estrada, o pôr do sol na varanda de uma pousada aconchegante. Mas, para casais LGBTQIA+, a bagagem vai além das roupas leves e do protetor solar. Vem carregada de perguntas silenciosas. É seguro andar de mãos dadas aqui? Vale a pena reservar aquele hotel? Será que vão nos olhar torto no café da manhã?

Mesmo em 2025, amar em público ainda exige cálculo. Mas também há respiros. Abraços acolhidos, destinos que surpreendem, passeios que viram boas memórias. Porque existe lugar onde o afeto é bem-vindo, e isso muda tudo.

Três casais LGBTQIA+ compartilham experiências que revelam o paradoxo de viajar sendo quem se é em um mundo que avança em direitos, mas ainda impõe

Fábio Pastorello e Cleber Alcantara

olhares enviesados, barreiras sutis e silêncios desconfortáveis. Os relatos se entrelaçam entre momentos de encantamento e episódios de alerta, mostrando que o turismo LGBTQIA+ vai muito além do lazer. É também um exercício de afirmação, resistência e liberdade.

Essas vivências mostram que o turismo LGBTQIA+ tem camadas que não cabem em roteiros prontos ou pacotes promocionais. Ele fala de identidade, pertencimento, do direito de existir sem precisar se esconder. E, acima de tudo, da possibilidade de encontrar no outro, e no próprio caminho, um lugar seguro para ser quem se é, sem reservas.

FICAMOS ENCARANDO

O SUJEITO INCRÉDULAS

Carol Couto e Cau Queijo, de São Paulo, já passaram por situações desconfortáveis em viagem, simplesmente por serem quem são. “Fizemos uma viagem para um hotel hype e, durante o jantar, um homem sentado com a família fez questão de berrar que era um absurdo a Ludmila e a esposa anunciarem que teriam um filho no Fantástico, que elas nunca seriam homens. Ficamos encarando o sujeito incrédulas. Mas não o abordamos, porque nessa hora sempre bate a insegurança, já que somos um casal de mulheres”, conta Carol.

Elas aprenderam a pesquisar antes de escolher o destino, especialmente após casos de violência com outros casais. Mas também já viveram experiências surpreendentemente acolhedoras. “Itacaré nos surpreendeu! Foi uma viagem muito prazerosa e circulamos tranquilamente por lá, seja no centrinho à noite ou nos passeios turísticos”, conta. “Na nossa lua de mel fomos para Boipeba e fizemos questão de perguntar se lá era seguro para a gente, também fomos surpreendidas.”

Carol Couto e Clau Queijo

As duas sabem que o cenário pode ser ainda mais delicado fora do Brasil. “Estava acompanhando um casal em que uma das meninas teve problemas de saúde e o país não reconhece os direitos civis de casais homossexuais. Foi um terror conseguir que a esposa tivesse acesso ao hospital”, lembra.

Mas o mais simbólico veio do amor. “Passamos a noite no Fasano em Salvador e no dia seguinte fomos para Boipeba, paisagens incríveis, parecia que o tempo corria em outro ritmo. Foi lindo. Acho que a viagem reforça o quanto a gente ama a nossa vida, enquanto casal. A gente brinca que de cinco a sete dias fora de casa é o ideal, mais que isso já ficamos morrendo de saudade da nossa casa.”

É MUITO POSSÍVEL SER FELIZ FORA DOS PADRÕES

Vitor Garcia, Lucas Caparroz e Allyson Soares formam um trio que viaja junto com frequência. Morando entre São Paulo e Santos, eles já estão acostumados a lidar com olhares curiosos, especialmente em cidades menores do interior.

“Nunca enfrentamos preconceito direto. O que sempre notamos são os olhares, principalmente em cidades pequenas. Isso vale tanto para as viagens que fiz só com o Lu, no passado, quanto agora, que estamos viajando bastante eu, o Lu e o Ally. Nesse último caso, os olhares são ainda mais frequentes e menos discretos”, conta Vitor.

Mesmo assim, foi justamente nesses lugares que eles encontraram o melhor acolhimento. “Mais do que o destino em si, o que faz a diferença é como as pessoas recebem os visitantes. Temos o hábito de ficar em pousadas pequenas, tocadas pelos próprios donos, e em todas fomos tratados com muito respeito e carinho.”

No exterior, o trio guarda boas lembranças do Uruguai e do Chile. E Vitor explica o critério para avaliar a experiência: “Sempre me pergunto se consegui ser quem eu realmente sou naquele lugar. Se consegui demonstrar afeto pelo Lu e pelo Ally sem precisar medir gestos ou palavras.”

Eles nunca deixaram de visitar um destino por medo, mas já eliminaram vários do mapa. “Não digo só por segurança, mas porque sabemos que não nos sentiríamos à vontade. Se não estamos confortáveis, não conseguimos nos expressar como gostaríamos. Quando isso é reforçado pela política oficial ou pela cultura local, as chances de um episódio ruim aumentam, e as formas de buscar ajuda diminuem.”

A viagem mais simbólica foi para a região serrana do Rio. “Foi a primeira vez que eu, o Lu e o Ally viajamos só nós três por um período mais longo. Estar ali, curtindo juntos, assistindo ao show da Urias, visitando o Museu Imperial, passeando pelo centro do Rio, me trouxe uma certeza: outras formas de amar e

se relacionar são possíveis. E, mais do que isso, que é muito possível ser feliz fora dos padrões que a sociedade tenta impor.”

Para Vitor, viajar é também um termômetro do relacionamento. “Nas viagens, a gente se coloca em situações imprevisíveis. E é justamente aí que eu percebo por que estou com quem estou. Porque até dá para sair de certas situações sozinho, mas é muito mais gostoso, e mais leve, quando a gente está com as pessoas que escolheu dividir a vida.”

AGORA TEMOS DOIS PARES DE ALIANÇAS

Fábio Pastorello e Cleber Alcantara, criadores de

Vitor Garcia, Lucas Caparroz e Allyson Soares

conteúdo do canal Viagens Cine, talvez tenham vivido o clichê mais bonito do amor: um pedido de casamento em Paris. Mas com um detalhe especial. “Os dois viajaram com o mesmo plano, de pedir o outro em casamento. Então acabou rolando um pedido duplo. E no fim das contas, agora temos dois pares de alianças.”

Nem tudo, porém, foi tão romântico assim. Eles já passaram por situações desconfortáveis, especialmente nos primeiros anos de viagem juntos. “A gente enfrentava aquele clássico problema da cama de casal. Mesmo reservando o quarto certo, muitas vezes chegávamos e encontrávamos duas camas de solteiro. Uma vez, o hotel ainda mandou uma senhorinha juntar as camas na nossa frente. Foi constrangedor. Mas, felizmente, já faz tempo que não passamos mais por isso.”

No Brasil, alguns destinos marcaram pela acolhida calorosa. Fábio cita Pipa, no Rio Grande do Norte, São José da Coroa Grande, em Pernambuco, e várias cidades do Rio Grande do Sul como lugares onde se sentiram verdadeiramente respeitados. “Sempre fomos tratados como um casal, nos hotéis e nos serviços. Isso faz toda a diferença.”

Com o tempo, o casal passou a planejar as viagens com mais critério. “A gente sempre pesquisa antes de escolher o destino. Consultamos sites como o da ILGTA e da Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil, que indicam os lugares e empresas mais pre -

parados para nos receber. Também olhamos rankings como o Spartacus Gay Travel Index, que aponta os destinos mais perigosos para pessoas LGBTQIA+. Esses a gente evita, porque não faz sentido viajar para um lugar onde vamos precisar esconder quem somos.”

E se o mundo ainda tem barreiras, a relação entre eles cresceu justamente ao atravessá-las juntos. “Viemos de uma época em que esconder a homossexualidade era a regra. Por isso ainda temos gestos contidos, principalmente em público. Mas aos poucos estamos nos soltando. Estamos aprendendo a viver nosso amor sem medo.”

AMOR EM MOVIMENTO

Mais do que promover eventos coloridos ou campanhas pontuais, o setor precisa assumir sua responsabilidade social. A inclusão não pode ser apenas sazonal, tampouco se limitar ao topo da cadeia. É urgente que políticas públicas, investimentos e ações concretas cheguem à base, garantindo dignidade e proteção para todas as pessoas.

Viajar não pode continuar sendo privilégio de poucos, nem risco para quem ama fora do padrão. Enquanto houver medo, ainda falta muito para que o turismo LGBTQA+ seja verdadeiramente acolhedor e livre.

Com relatos de Carol Couto, Cau Queijo, Vitor Garcia, Lucas Caparroz, Allyson Soares, Fábio Pastorello e Cleber Alcantara.

TROFÉU CORES DO TURISMO SERÁ ENTREGUE PARA ANTONIETTA VARLESE

Reconhecimento do Festuris aos feitos em prol da comunidade LGBTqia+ chega ao quinto ano de homenagens

NATÁLIA STRUCCHI

A vice-presidente sênior de Sustentabilidade, Comunicação e Relações Institucionais da Rede Accor, Antonietta Varlese, é o nome que vai representar a diversidade no 37º Festuris – Feira Internacional de Turismo de Gramado, que ocorre de 6 a 9 de novembro, na Serra Gaúcha. Nesta edição do evento, é ela que recebe o troféu Cores do Turismo.

“Entregar o troféu Cores do Turismo para Antonietta é um reconhecimento justo e necessário à sua dedicação à defesa de duas causas fundamentais para a construção de uma sociedade mais evoluída: inclusão e sustentabilidade. Sua atuação exemplar demonstra que a justiça social e a preservação do planeta são lutas interligadas, pois não há verdadeira sustentabilidade sem inclusão, e não há inclusão sem um com-

promisso com o bem-estar coletivo e o respeito à diversidade”, exalta o CEO do Festuris, Eduardo Zorzanello.

Antonietta é executiva com mais de 20 anos de experiência em ESG, comunicação corporativa e relações públicas. Atua com foco em diversidade, equidade e inclusão, gestão de crises, relações governamentais e comunitárias. Liderança em equipes multigeracionais, multiétnicas e transversais. Antonietta trabalha para o Grupo Accor desde 2013, e atualmente ela gerencia a estratégia para 14 países e mais de 450 hotéis.

Antonietta também trabalhou na BAT Itália e fez parte de outras instituições como Citibank e Governo da cidade de São Paulo. É graduada em Jornalismo com MBA em Marketing e especialização pela Universidade de Syracuse. Ela é membro do Conselho da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial e da Associação Internacional de Viagens LGBT.

A homenagem existe há cinco anos e já reconheceu o trabalho e trajetória de personalidades como Clovis Casemiro, Alex Bernardes, Saulo Santos e Maria do Céu.

DIVERSIDADE E INCLUSÃO

Clovis Casemiro foi o primeiro nome a receber o troféu Cores do Turismo. Ele é gerente de Membros da IGLTA (Associação Internacional de Viagens LGBTQ+) para América do Sul e Portugal e destaca a relevância deste reconhecimento. “O Troféu Cores do Turismo veio para trazer e posicionar a importância do Festuris quando pensamos em diversidade e inclusão”, comenta.

“E neste ano, ter a Antonietta da Rede Accor ganhando o troféu Cores do Turismo é algo muito importante para nós.

A Rede Accor foi a primeira no Brasil a trazer todas as suas comunidades LGBT internas, depois conversou com seus fornecedores e chegou aos seus clientes de forma muito participativa de ações a favor da comunidade LGBT, tanto dentro do turismo, como das associações”, acrescenta.

E esse trabalho chegou na Accor mundial. “A Antonietta começou a falar isso no Brasil e isso se expandiu de uma forma muito importante aqui nos países da América Latina até chegar na sede da Rede Accor na Europa. E virou planejamento da rede em entender cada vez mais o turismo LGBT, entender suas equipes LGBTs e trazer a importância da diversidade e inclusão no turismo mundial”, finaliza Clovis.

Antonietta Varlese
Foto: Danilo Borges

EVENTOS LGBTQIA+: CELEBRAR TAMBÉM CONSCIENTIZA E PROMOVE A DIVERSIDADE

Celebrações inclusivas constroem uma sociedade mais acolhedora; veja calendário

BEATRIZ DO VALE

Muito mais do que celebrar, os eventos LGBTQIA+ promovem a diversidade, a inclusão e uma maior conscientização sobre os desafios enfrentados por essa comunidade.

Cada vez mais presentes em calendários de diversos países, no Brasil não seria diferente. São centenas de eventos o ano todo, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, que atraem milhões de pessoas. Confira as próximas datas nacionais e internacionais de Paradas e Festivais de 2025:

PRINCIPAIS EVENTOS:

LGBT+ Turismo Expo – dia 24 de julho em São Paulo

Miss Gay Brasil 2025 – dia 23 de agosto em Juíz de Fora (MG)

Conferência Internacional da Câmara de Comércio e Turismo LGBT+ do Brasil – 9 a 12 de setembro, em São Paulo

Festival Love Iguassu – dia 20 de setembro, em Foz do Iguaçu (PR)

Festival Love Noronha – Weekend party acontece de 23 a 27 de outubro

Festuris - Pavilhão do Turismo LGBT+ –

6 a 9 de novembro, em Gramado (RS)

Festival MixBrasil – de 12 a 23 de novembro, em São Paulo

PRÓXIMAS PARADAS DO ORGULHO LGBT NAS

CAPITAIS BRASILEIRAS EM 2025:

Belo Horizonte (Minas Gerais): 20 de julho

Maceió (Alagoas): 31 de agosto

Campo Grande (Mato Grosso do Sul): dia 13 de setembro, na Praça do Rádio Clube

Goiânia (Goiás): dia 14 de setembro, na Praça Cívica; 39º Esquenta LGBT+ do Dia do Orgulho, dia 29 de de julho no Cepal do Setor Sul. Salvador (Bahia): 14 de setembro

Florianópolis (Santa Catarina): 29 de novembro, na Avenida Beira-Mar Continental

CIDADES PAULISTAS TAMBÉM SE DESTACAM COM SUAS PARADAS

LGBTI+ EM 2025:

São João da Boa Vista, Franca e Suzano – dia 20 de julho

Mogi das Cruzes – 27 de julho

Arujá, Vinhedo, Ribeirão Preto e Itatiba – 17 de agosto

Santo André – 24 de agosto

Sorocaba, Itaquaquecetuba e Bauru – 31 de agosto

Mogi Guaçu, São Bernardo do Campo e Ferraz de Vasconcelos - 14 de setembro

Sertãozinho, Osasco e Marília – 21 de setembro

Guarulhos - 28 de setembro

Praia Grande, Fernandópolis e São José do Rio Preto – 26 de outubro

Itanhaém e Catanduva – 9 de novembro

São Vicente e Capão Redondo –16 de novembro

Poá e Sumaré – 30 de novembro

Peruíbe – 7 de dezembro

VALE DESTACAR QUE GRANDES EVENTOS FORAM REALIZADOS NO PRIMEIRO SEMESTRE, COMO:

Circuito Rio das Cores – todo mês de junho no Rio de Janeiro

Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo - 22 de junho

PELO MUNDO

Convenção Anual Global da IGLTA – de 21 a 25 de outubro, em Palm Springs, Califórnia

PRÓXIMOS EVENTOS: JULHO

Gay Pride Barcelona (Espanha) – até dia 20

Gay Pride Berlim (Alemanha) – até dia 27

Gay Pride Estugarda (Alemanha) – até dia 27

San Diego Pride (EUA) – até dia 20

Gay Pride Frankfurt (Alemanha) – até dia 20

Gay Pride Belfast (Irlanda do Norte) – até dia 27

Gay Pride Portland (EUA) – até dia 20

Orgulho de Nuremberga (Alemanha) – de 24 de julho a 3 de agosto

Gay Pride Amsterdã (Países Baixos) – de 26 de julho a 3 de agosto

Gay Pride Hamburgo (Alemanha) - de 26 de julho a 3 de agosto

Stockholm Gay Pride (Suécia) – de 28 de julho a 3 de agosto

Gay Pride Praga (República Tcheca) – de 28 de julho a 3 de agosto

Montréal Pride (Canadá) – de 31 de julho a 10 de agosto

AGOSTO

Gay Pride Essen (ruhrPride) (Alemanha) – dia 2

Gay Pride Brighton (Reino Unido) – dias 2 e 3

Gay Pride Reiquiavique (Islândia) – de 5 a 10

Gay Pride Antuérpia (Bélgica) – de 6 a 10

Pride Copenhaga (Dinamarca) – de 9 a 17

Gay Pride Manchester (Reino Unido) – 15 a 25

Gay Pride Dortmund (Alemanha) – dia 16

Orgulho do Charlotte (EUA) – dias 16 e 17

Orgulho Gay de Bremen (Alemanha) dia 23

Austin Pride (EUA) – dia 23

SETEMBRO

Gay Pride Benidorm (Estados Unidos) – de 1 a 7

Gay Pride Malta – dias 6 a 15

Boise Pride Festival (Estados Unidos) – dias 6 e 7

Querr Block Island Pride (Estados Unidos) – de 14 a 17

Curaçao Pride – de 26 de setembro a 5 de outubro

Orange County Gay Pride (Estados Unidos) – dia 27

OUTUBRO

Atlanta Gay Pride (Estados Unidos) – 11 e 12

LGBT Pride Taiwan – de 23 a 26

Buenos Aires Pride (Argentina) – de 27 de outubro a 4 de novembro

NOVEMBRO

Perth PrideFest (Austrália) – de 21 a 30

DEZEMBRO

White Party Bangkok (Ano Novo LGBTQIA+) – Tailândia – de 27 a 31

INCLUSÃO NO TURISMO: COMO AS EMPRESAS DO TRADE ESTÃO MUDANDO O JOGO

Estratégias, desafios e ações concretas que garantem segurança e respeito ao público LGBTQIA+ nas viagens

ANA AZEVEDO

A discussão sobre inclusão no turismo tem ganhado espaço em feiras, campanhas e discursos institucionais. Mas, longe do palco e dos slogans prontos, o que de fato está sendo feito dentro das empresas do trade para garantir que o público LGBTQIA+ viaje com segurança, respeito e autenticidade?

A resposta vai além das estatísticas. De acordo com a ABTLGBT, o turismo LGBTQIA+ cresceu a uma média de 11% ao ano, quase três vezes mais rápido que o turismo tradicional. Mas o que conta, de fato, são as ações — ou a falta delas — que moldam a experiência de quem viaja.

Neste contexto, ouvir quem toma decisões estratégicas nas operadoras não é mais opcional: é urgente. Trata-se menos de discurso e mais de estrutura, que começa na curadoria e termina no atendimento da linha de frente. O MERCADO & EVENTOS conversou com a Orinter, tg.mob, Kaluah e TGK, que afirmam ter a diversidade como parte ativa de sua atuação e não como um adorno publicitário. Elas compartilham perspectivas e desafios diante de um mercado que exige muito mais do que a simples etiqueta “LGBT friendly”.

Há um consenso importante entre as empresas ouvidas: o público LGBTQIA+ tem papel estratégico no turismo e deve

ser atendido com segurança, acolhimento, personalização, parcerias coerentes e equipes bem preparadas. O atendimento genérico, segundo elas, não cabe mais.

As abordagens, no entanto, variam em tom, foco e método. Algumas constroem sua atuação a partir de experiências pessoais que espelham o tema da diversidade de forma íntima e direta. Outras estruturam frentes dedicadas, investem em treinamentos formais e desenvolvem programas contínuos.

Há quem aposte na empatia como guia da operação e quem recorra a dados de mercado para mapear riscos e oportunidades. As estratégias são diferentes e é justamente nesse contraste que se revela a complexidade de tratar a inclusão com seriedade.

Entre os destaques, estão a criação do Orinter Pride como estrutura estratégica permanente, a ênfase na capacitação dos agentes de viagens, vistos como elo essencial com o cliente final, e o uso de dados relevantes, como os citados pela tg.mob, para embasar decisões e reconhecer gargalos ainda presentes no setor.

Neste levantamento, apresentamos o panorama da atuação dessas operadoras diante do desafio de oferecer experiências verdadeiramente inclusivas, com foco em estratégias, compromissos e desafios que marcam o mercado atual.

Foto: Freepik

KALUAH

A Kaluah mantém um compromisso constante com a inclusão, focando em uma curadoria sensível e personalizada que valoriza cada detalhe da experiência turística. Para a empresa, incluir o público LGBTQIA+ não é uma vantagem competitiva ou ação de marke -

ting, mas uma obrigação ética e social que guia toda a jornada do viajante.

“O turismo é uma experiência de liberdade, conexão e pertencimento — e isso só acontece quando todos se sentem realmente bem-vindos”, afirma Fabiana Tourinho, CEO da Kaluah, ressaltando que o cuidado com os detalhes e a escuta ativa são diferenciais essenciais para garantir esse acolhimento genuíno. A escolha de destinos, hotéis e receptivos é feita com base em critérios que valorizam a hospitalidade inclusiva e o alinhamento de valores, buscando sempre parceiros que compreendam e compartilhem esse compromisso.

Além disso, a Kaluah investe em comunicação representativa e em treinamentos para que o atendimento seja empático e livre de estereótipos, aproximando o serviço do que o público espera e merece. A inclusão está presente no dia a dia da empresa, que constrói experiências de viagem pautadas no respeito, na diversidade e na autenticidade.

ORINTER

Entre as operadoras ouvidas nesta reportagem, a Orinter é uma das que estruturou sua atuação no turismo LGBTQIA+ com planejamento contínuo e formalização institucional. A criação do Orinter Pride, em 2023, marcou o início de uma frente estratégica permanente, voltada à curadoria de experiências e à capacitação de agentes de viagens — com foco em inclusão, representatividade e profissionalismo.

A atuação 100% B2B da Orinter também molda sua abordagem. Em vez de dialogar diretamente com o viajante, a empresa aposta no agente de viagens como parceiro ativo

do processo de inclusão. “Acreditamos que educar o agente sobre a melhor forma de atender o viajante LGBTQIA+ é o caminho a ser seguido”, afirma Jorge Souza, diretor de Marketing da Orinter e líder do projeto. Na prática, isso se traduz em treinamentos, workshops e ações de visibilidade que envolvem desde capacitações internas até eventos em feiras e períodos estratégicos, como o Mês do Orgulho.

A escolha dos produtos passa por uma curadoria com critérios claros: fornecedores com boas práticas documentadas, receptivos treinados e meios de hospedagem com histórico ou certificação inclusiva. Há também uma atenção à experiência como um todo, da inspiração à volta para casa que, segundo Jorge, só é possível com escuta ativa, comunicação responsável e consistência de mercado. “Não fazemos isso para cumprir tabela de ESG. A inclusão faz parte da essência da empresa”, reforça.

A leitura que a Orinter faz do mercado é pragmática, mas crítica. Jorge reconhece que houve avanços importantes nos últimos anos, mas destaca que a profissionalização ainda é desigual, e que a segurança e a representatividade real seguem como gargalos. A resposta, segundo ele, depende da articulação entre empresas comprometidas e destinos que se disponham a criar um ambiente livre de preconceito. “Nos posicionamos como ponte entre esse viajante e os melhores players do mercado”, diz

Foto: SEM CRÉDITO
Foto: DivulgaçãoKaluah
Jorge Souza, da Orinter
Fabiana Tourinho, CEO da Kaluah

INCLUSÃO NO TURISMO: COMO AS EMPRESAS DO TRADE ESTÃO MUDANDO O JOGO

TG.MOB

Se há algo que diferencia a tg.mob no debate sobre inclusão no turismo, é a convergência entre o discurso institucional e a experiência pessoal de quem lidera a operação. Leandro Pimenta, CEO da empresa, não fala apenas como gestor: fala como homem gay, viajante frequente e alguém que conhece, na prática, os riscos de uma experiência que não considera segurança e pertencimento como parte da entrega.

Essa perspectiva se traduz em decisões operacionais claras, como o treinamento antidiscriminatório aplicado aos motoristas e coordenadores, justamente onde o contato direto com o passageiro acontece e onde os riscos de violên-

TRAVEL GLOBAL

A Travel Global enxerga a viagem como um gesto de liberdade e ressalta que “todo viajante merece ser acolhido com respeito, cuidado e autenticidade”, nas palavras de Leila Minatogawa, diretora de Parcerias Estratégicas do Grupo TGK. O público LGBTQIA+ ocupa lugar essencial na dinâmica do turismo contemporâneo, não só pelo impacto econômico, mas também pela influência cultural e pela sensibilidade ao buscar experiências com significado.

A empresa destaca que vai além do atendimento tradicional e busca compreender as necessidades específicas desse público. Para isso, a curadoria inclui destinos e parceiros com

cia simbólica (ou direta) são mais altos. “Não basta ter frota moderna e operação monitorada se o atendimento não for humano e sem julgamentos”, resume Pimenta, ao explicar o cuidado com quem está na ponta do serviço.

A tg.mob é associada à Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil e declara só firmar parcerias com fornecedores que compartilham valores de diversidade e respeito. Mas vai além do protocolo: assume publicamente que nem todos os destinos e empresas do setor estão preparados para atender viajantes LGBTQIA+, e encara esse cenário como responsabilidade coletiva e sua também. “Quando viajo, observo se serei bem-vindo no transporte, no hotel e no destino. A tg. mob quer contribuir para mudar esse cenário”, afirma.

Para isso, aposta naquilo que define como “entrega emocional”: oferecer mais do que transporte, oferecendo confiança e segurança como parte essencial da jornada. E fundamenta suas escolhas com dados. Pimenta cita, por exemplo, que o turismo LGBTQIA+ cresce cerca de 11% ao ano, quase três vezes mais rápido que o tradicional, segundo a ABTLGBT. E lembra ainda que, de acordo com a Booking.com, 58% dos turistas LGBTQIA+ brasileiros já sofreram algum tipo de discriminação durante uma viagem.

“Não estamos falando de nicho, estamos falando de urgência”, reforça.

reputação consolidada em hospitalidade inclusiva e segurança, como as redes Axel Hotels e cidades internacionais reconhecidas pela receptividade, entre elas Barcelona, Buenos Aires e Nova York. “Nossa comunicação é leve, respeitosa e atualizada, porque a forma como nos expressamos também constrói pertencimento”, afirma Leila.

O diferencial da Travel Global está no cuidado com os detalhes que importam para a experiência: liberdade para ser, conforto nas escolhas e autenticidade no percurso. “Cuidamos da experiência como um todo — com inteligência, empatia e estilo”, destaca a diretora, ressaltando que a empresa entrega apoio consultivo e uma estrutura flexível, alinhada às demandas do presente.

Apesar dos avanços percebidos no segmento, a Travel Global reconhece desafios que permanecem, como a necessidade de “escutar mais, qualificar profissionais e investir em experiências verdadeiramente autênticas — que respeitem as diferentes vivências, sem fórmulas prontas”.

A empresa reforça seu compromisso em contribuir para um turismo mais plural e contemporâneo, com atuação “coerente, linguagem afinada ao presente e um portfólio que celebra o que há de mais plural, contemporâneo e inspirador no ato de viajar”.

Foto:
Leandro Pimenta, CEO da tg.mob
Leila Minatogawa, diretora de Parcerias Estratégicas do Grupo TGK

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