Notícias do Mar n.º 385

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Notícias do Mar

O Novo Regulamento da Náutica de Recreio

Texto Antero dos Santos

Como Desenvolver a Náutica de Recreio

Com a Carta de Marinheiro já se pode comandar veleiros até 12 m

Agora, que já temos um novo Regulamento da Náutica de Recreio com uma Legislação adequada e de acordo com o solicitado, durante 18 anos e após duas gerações perdidas para a náutica de recreio, é o momento de agir para implementar o seu desenvolvimento e solicitar para o efeito o apoio do Ministério do Mar, para recuperar o tempo perdido.

A

pós a nova Legislação criada pelo Ministério do Mar, são enfim contemplados todos os desportistas náuticos com a Carta de Marinheiro, impedidos de sairem para o mar com uma embarcação segura, ou mesmo navegarem num rio ou numa barragem com a família num barco com toda a segurança e conforto. Havia embarcações para eles, mas não as podiam conduzir. A partir de agora, estão facilitados todos os processos para adquirir uma embarcação, registá-la e usá-la. A Carta de Marinheiro, deixou de limitar os seus titulares a operar barcos só até 7 metros de comprimento e motor com o máximo de 60HP e passou a permitir o 2

comando de embarcações até 12 metros de comprimento, com a motorização adequada ao barco e navegar até 10 milhas de um porto de abrigo e 3 milhas da costa. A Carta de Marinheiro, com estas habilitações, abriu finalmente a porta que trancava o desenvolvimento da náutica de recreio e limitava a prática de todas as modalidades náuticas e aquáticas. Todos os portadores da Carta de Marinheiro passam a ter a possibilidade de navegar ao longo, praticamente, de toda a costa. Os pescadores já podem comprar o barco com que sonham para pescarem

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com segurança e conforto Somando a distância de 10 milhas náuticas de um porto de abrigo com a do próximo porto de abrigo, dão 20 milhas náuticas. Na prática, um pescador com a Carta de Marinheiro, pode sair de Lisboa, que se encontra a 5 milhas náuticas de Cascais, com o barco que quizer até 12 metros de comprimento e ir à pescar no Cabo da Roca.que fica a 10 milhas náuticas de Cascais. E se aqui não houver peixe, rumar até à Ericeira que está apenas a 7 milhas náuticas. de distância. O importante é não navegar para fora das 3 milhas náuticas da costa. Se o pescador pretender pescar no Cabo Espichel, também o pode fazer, por-

que do Bugio a Sesimbra são 20 milhas náuticas e o Cabo Espichel está a 5 milhas náuticas de Sesimbra e já pode ir jantar a Setúbal que fica a 10 milhas náuticas. O Algarve também agora pode quase todo ser navegado com a Carta de Marinheiro. Pesca Submarina em semi-rígidos até 12 metros Com a Carta de Marinheiro, o pescador submarino já pode conduzir qualquer semi-rígido até aos 12 metros de comprimento com o motor adequado ao tamanho do barco e com o máximo de segurança percorrer o litoral à procura de peixe. Até agora estava limitado a


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apoiar-se em pequenos semi-rígidos com 5,00 metros de comprimento com motor de 60HP A Carta de Marinheiro para veleiros até 12 metros Também a vela vai ser potênciada, porque os velejadores deixando de estar limitados aos barcos à vela de 7 metros de comprimento, já podem comandar um veleiro até 12 metros de comprimento com a Carta de Marinheiro, tal como era no século XX, e fazerem regatas ou passear com a família e os amigos, Hoje um skipper tem muita dificuldade em reunir uma tripulação para uma regata, porque há falta de velejadores. No século passado, no estuário do Tejo houve regatas com 100 veleiros e agora nem 30. E os barcos não foram ao fundo. Não saem é das docas. Agora vai ser necessário iniciar quem tem a Carta de Marinheiro a fazer vela. Classificação e Registo de embarcações sem burocracias Porque o Registo das embarcações de recreio é mais simples, sem vistorias, muito mais económico e sem burocracias, quem tem a Carta Marinheiro, agora com mais

Marian 560 Sport com Honda BF60 era o máximo para a Carta de Marinheiro habilitações, vai querer trocar de barco. A Lei SNEM vem simplificar O Ministério do Mar criou agora o Sistema Nacional de Embarcações e Marítimos (SNEM), Decreto-Lei n.º 43/2018, procedendo à simplificação, modernização dos procedimentos de certificação e registo das embar-

cações, bem como da certificação dos navegadores de recreio. Foram eliminadas as vistorias de registo de embarcações de recreio novas e apenas se fazem as vistorias periódicas que passam para 10 anos para as embarcações novas. Para estas, prevê-se também a possibilidade de as vistorias

a seco serem substituídas por vistorias subaquáticas, se a embarcação já estiver dentro de água, permitindo reduzir fortemente o custo das vistorias para os seus proprietários. Outra alteração muito importante, vem permitir que as vistorias periódicas possam ser realizadas por entidades públicas e privadas, sob

Carta de Marinheiro, Frente e Verso 2019 Janeiro 385

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Agora a Carta de Marinheiro dá para Lomac Adrenmalina 7.5 com Honda BF200 determinadas condições. E neste caso, um Clube Náutico pode habilitar-se a fazer as vistorias periódicas às embarcações dos seus associados. Passa igualmente a ser

emitido um livrete eletrónico, ao qual podem estar associados todos os documentos exigidos a bordo. Por outro lado, procedese à extensão do prazo de validade de todas as cartas

de navegador de recreio, tornando-se a renovação obrigatória apenas aos 70 anos. Clubes Náuticos como pólos de

Agora a Carta de Marinheiro dá para BWA 220 Super Pro com Honda BF200 - Foto Vasco Mello Gonçalves 4

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desenvolvimento apoiados pelo Ministério do Mar Em virtude dos Clubes Náuticos disporem de infraestruturas e de organização, o Ministério do Mar tem nestas associações os pólos do desenvolvimento da náutica de recreio. Passadas quase duas décadas, com uma Legislação desmotivante que causou um grave retrocesso em todas as actividades náuticas e aquáticas, a maioria dos Clubes Náuticos viram reduzidos o número de praticantes e de sócios, diminuindo sempre anualmente a sua actividade A partir de agora, o novo Regulamento da Náutica de Recreio vai dinamizar os Clubes Náuticos, promover a entrada de sócios e criar novos postos de trabalho. Promover a iniciação


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É preciso dinamizar a vela de cruzeiro e ensinar vela a toda a gente Em qualquer modalidade para haver praticantes é necessário que haja iniciação. A iniciação da náutica de recreio é a Carta de Marinheiro. A melhor formação para esta carta de navegador de recreio é a que for dada por um Clube Náutico. Quem já tem a Carta de Marinheiro e não sabe de vela até pode querer aprender. Aos novos, a todos os que vão iniciar-se na náutica de recreio o Clube Náutica deve dar-lhes umas aulas de vela. No mar são os que se desenrascam melhor. Actualmente em Portugal não existe uma cultura virada para o mar e o associativismo náutico já só é praticado onde for oferecido alguma vantagem para o sócio. Num Clube Náutico é muito importante a confraternização, que se faz depois de uma saída para o mar, após uma regata, uma jornada de pesca ou um mergulho de garrafas. Todos têm histórias para contar que vão enriquecer o conhecimento dos mais novos e fomentar a amizade entre todos. Depois de estar Integrado num clube, o praticante iniciado vai ouvir os mais experientes e seguir os seus 2019 Janeiro 385

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Agora a Carta de Marinheiro dá para Quicksillver 675 Sundeck com Mercury V6 200 conselhos. Após conhecer os Avisos das Capitanias e a meteorologia vai tomar a decisão melhor se deve ou não sair para o mar no dia seguinte.

“Escola Náutica de Clube” para construir uma cultura náutica A formação é o principal

bem que o iniciado recebe num Clube Náutico, onde é relevante a preocupação pela segurança no mar e se incute o bom senso e espírito de previdência.

Agora a Carta de Marinheiro dá para Quicksilver Captur 675 Pilothouse com Mercury 150 XL EFI 6

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É fundamental que exista uma “Escola Náutica de Clube”, que faça o curso da Carta de Marinheiro, pois apenas nestas escolas de clube cabe a formação, implementa-se a segurança, desenvolve-se o espírito de entreajuda e o acolhimento de um código de exigências, quanto aos equipamentos indispensáveis que cada sócio deve ter no barco. O Clube Náutico, como centro pedagógico, é o pilar da construção de uma cultura náutica, com meios para apoiar os praticantes, implementar o respeito pelo mar e ensinar a navegar. O iniciado depois da Carta de Marinheiro, vai querer progredir e o Clube Náutico com o seu centro pedagógico tem todas as condições e conhecimentos, para organizar os cursos de Patrão Local, Patrão de Costa e Patrão de Alto Mar. Ensinar vela é uma das


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Agora a Carta de Marinheiro dá para San Remo 860 Blue Sky com 2 X Suzuki DF175 missões dos Clubes Náuticos. Estes devem incluir as bases da modalidade no curso da Carta de Marinheiro, Os jovens iniciam-

se nos Optimist, os adultos não, mas os Clubes têm outros barcos para os adultos aprenderem vela. O mais importante é que toda a

gente saiba fazer vela. E se incentive na vela de cruzeiro. Guardar

Agora a Carta de Marinheiro dá para Zodiac N-ZO 680 com Suzuki DF 200 8

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os barcos dos sócios e fazer Vistorias Os Clubes Náuticos estão quase todos situados em


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As Escolas Náuticas de Clube devem ser apoiadas espaços sob a jurisdição das Administrações dos Portos.Têm infraestruturas, alguns com rampas de acesso água, mas a maioria não tem espaço para guardar os barcos dos sócios em seco, um serviço que lhes traria receitas. Os Clubes Náuticos devem agora solicitar ao Ministério do Mar, para se desenvolverem, de maiores áreas de terreno à volta das suas instalações que estão sob gestão das Administrações do Portos. Com mais espaço, os

Clubes Náuticos vão.ganhar mais dimensão e cativar mais associados, que por força das circunstâncias não tinham onde guardar o barco. Podem incorporar a prática de mais desportos aquáticos e náuticos, parquear em seco barcos e prestar mais serviços aos associados, podendo reservar áreas para a manutenção e assistência das embarcações dos sócios. Importa referir a relevância deste serviço que pode ser efectuado por empregados do clube, criando postos de trabalho, ou por empresas que estabeleçam

Agora a Carta de Marinheiro dá para Isonáutica Sport Cruiser 560 com Suzuki DF90 2019 Janeiro 385

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ras que cumpram os mesmos requisitos e obtenham o respetivo licenciamento junto daquela entidade. 6 — Para efeitos do disposto no número anterior, consideram -se entidades parceiras as entidades públicas da Administração central, regional e local e entidades colaboradoras as entidades privadas, as quais são fiscalizadas pela DGRM nos termos do presente decreto-lei.

Agora a Carta de Marinheiro dá para Cobalt 25 SC com Yamaha F300 acordos de parceria. Outro serviço que os Clubes Náuticos agora poderão fazer são as Vistorias Periódicas dos barcos dos associados, porque o Regulamento

da Náutica de Recreio diz: Artigo 5.º Entidades competentes 5 — Podem realizar vistorias as entidades parceiras que cumpram os requisitos

do anexo ao presente decreto-lei,que dele faz parte integrante, e celebrem, para o efeito, um protocolo com a entidade competente, ou as entidades colaborado-

Os Clubes Náuticos com uma “Escola Náutica de Clube” certificada, e a habilitação para proceder a Vistorias Perriódicas aos barcos dos sócios, vão começar a receber novos associados e cumprirão a sua missão no desenvolvimento da náutica de recreio. Caberá agora às instituições desportivas solicitar ao Ministério do Mar todo o apoio necessário.

Agora a Carta de Marinheiro dá para Jeanneau Cap Camarat 9.0 CC com 2 X Yamaha F250 10

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Economia do Mar

Texto Gonçalo Carvalho

Acabar com a Sobrepesca da Superfície ao Mar Profundo

Atum patudo Comunicado Sciaena Oceanos # Conservação # Sensibilização Lisboa, 8 /11/2018

Mensagens chave Em novembro de 2018, vão decorrer duas reuni-

ões internacionais sobre pescas onde Portugal terá um papel importante e a possibilidade de defender

a gestão sustentável de duas pescarias icónicas e de grande importância económica - a do atum e

Barco cercador espanhol a levantar atuns 12

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a das espécies de profundidade. Portugal terá de ser uma voz pelo fim da sobrepesca: da superfície ao mar profundo. O atum patudo, um stock crucial para Portugal, particularmente para os Açores e a Madeira, está em mau estado e ameaça cair numa situação muito grave de sobrepesca. O estado do stock piorou desde 2015 e é urgente que o ICCAT aprove medidas claras que permitam a sua recuperação, nomeadamente: um plano de recuperação que tenha pelo menos 50% de probabilidade de acabar com a sobrepesca em 2020 e 70% de probabilidade de recuperar o stock o mais tardar até 2028; uma captura total que não exceda as 50.000 toneladas; a redução da mortalidade


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de juvenis associada ao uso de Dispositivos de Concentração de Peixes (DCP – FAD em inglês); e uma monitorização melhorada da pescaria de palangre. Os stocks de profundidade são extremamente vulneráveis à pesca. De ciclo de vida longa, estão perfeitamente adaptados aos ambientes em que vivem e desempenham funções cruciais nestes frágeis ecossistemas, em grande medida ainda desconhecidos pela Humanidade. Espécies como o peixe-espada preto e o goraz são importantes para várias pescarias portuguesas e têm sido frequentemente explorados a níveis insustentáveis. O Conselho de novembro de 2018 é a última oportunidade para estabelecer limites de pesca de acordo com os objetivos de acabar com a sobrepesca até 2020, acordada na PCP. Os Ministros das Pescas da UE têm que seguir os melhores pareceres científicos disponíveis e assegurar medidas de gestão adi-

cionais que permitam atingir os objetivos ambiciosos da PCP, cujo Parlamento Europeu, Conselho e a Comissão acordaram em 2013, sob o olhar atento dos cidadãos europeus. Introdução O outono é habitualmente uma altura do ano ocupada para aqueles que trabalham em políticas e gestão de pescas. Todos os anos é assim. Mas este ano, o mês de novembro promete ser particularmente relevante, ainda mais para quem o faz a partir de Portugal. Isto porque irão decorrer duas reuniões onde serão discutidas e definidas as medidas de gestão para os próximos dois anos – nomeadamente as quantidades que se podem capturar – para duas pescarias icónicas e de grande importância económica para as frotas nacionais. Primeiro será o atum, mais concretamente o atum patudo, durante a reunião anual da Comissão Internacional para a Con-

servação dos Tunídeos do Atlântico (CICTA - ICCAT em inglês), que irá decorrer em Dubrovnik, na Croácia, de 12 a 19. Depois, será a vez das espécies de profundidade, como o goraz e o peixe-espada preto, no Conselho de Ministros de Pescas e Agricultura da União Europeia, em Bruxelas, nos dias 19 e 20. Será Portugal capaz de ser uma voz pelo fim da sobrepesca - da superfície ao mar profundo – assegurando benefícios ambientais e socioeconómicos para as frotas que dependem de ecossistemas marinhos e stocks saudáveis? É

determinante que sim. ICCAT – A “Hora H” para o atumpatudo Nos dias 12 a 19 de novembro, acontecerá a 21ª reunião do ICCAT, a Organização Regional de Gestão das Pescas responsável pela gestão da pesca das grandes espécies pelágicas no Oceano Atlântico. Como sempre, a reunião juntará os mais de 50 membros da convenção - entre as quais a União Europeia (UE) e os seus Estados-Membros – para discutir e tomar decisões sobre vários stocks de enorme importância ecológica e económica, como os atuns e os espa-

É necessário reduzir a morte de juvenis associada ao uso de Dispositivos de Concentração de Peixes 2019 Janeiro 385

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Protesto da Green Peace contra os Dispositivo de concentração de Atum

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dartes. Mas este ano, as atenções das organizações de conservação do ambiente que assistirão à reunião estarão focadas num ponto em particular – conseguirá o ICCAT evitar que o atum patudo se transforme no próximo ícone da sobrepesca? A pesca do atum patudo do Atlântico (Thunnus obesus) vale milhões de euros por ano, naquela que é uma das pescarias mais valiosas no oceano Atlântico, alimentando não só o mercado do atum enlatado, mas também a procura de atum fresco de alta qualidade. No entanto, anos de sobrepesca, o declínio recente da população e práticas de pesca insustentáveis ameaçam a viabilidade e a rentabilidade a longo prazo das pescarias de patudo. O Comité Permanente de Investigação e Estatística do ICCAT (CPIE – SCRS

em inglês) considera que o stock está em situação de sobrepesca desde 2015, e já em outubro deste ano confirmou que o seu estado piorou desde então. Esta situação é particularmente dramática para as frotas de salto e vara dos Açores e da Madeira, para as quais esta espécie é essencial e que têm visto as suas capturas diminuir de forma dramática nos últimos anos. É importante ter em conta que foram as frotas de salto e vara dos Açores e Madeira as primeiras a explorar comercialmente este stock, em meados do sec. XX., e que o salto e vara é um método de pesca extremamente seletivo – capturando apenas os atuns da espécie e do tamanho pretendido – e com reduzidos impactos nos ecossistemas marinhos. Por outro lado, é re-


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Dispositivo de concentração de peixe

conhecido que o aumento da pesca de patudo juvenil pelas frotas cercadoras, nomeadamente espanholas, que utilizam Dispositivos de Concentração de Peixes (DCP – FAD em inglês) tem sido um dos principais causadores pelo declínio do stock. As boas notícias para o patudo e para o sector que dele depende são que a recuperação do stock pode ser relativamente rápida, em grande medida devido a este atum crescer tão depressa. Mas isto só será possível se forem tomadas medidas robustas que reduzam a captura de juvenis em particular e o esforço

de pesca sobre o todo o stock. Em 2016 as partes contratantes do ICCAT, já com conhecimento do mau estado do stock, optaram por adotar medidas suaves para 2017 e 2018, que claramente não surtiram o efeito desejado. Se agora acontecer o mesmo, o atum patudo corre o risco de seguir os mesmos passos do atum rabilo (Thunnus thynnus), para o qual os avisos foram ignorados, resultando numa situação de sobrepesca extrema da qual o stock só agora parece estar a recuperar, uma década depois, com enormes prejuízos para os ecossistemas marinhos e

para o sector. Pelo menos desde 2017, nas últimas reuniões do ICCAT, bem como nas discussões em que se prepara a posição da UE, em Bruxelas, Portugal tem chamado a atenção para a necessidade de serem tomadas medidas claras para permitir a recuperação do atum patudo. No entanto, na semana de 12 a 19, será crucial que Portugal aumente o tom das suas reivindicações e junte a sua voz à de outros países membros do ICCAT para que sejam adotadas as seguintes medidas: - Um plano de recuperação que tenha pelo menos 50% de probabilidade de acabar com a sobrepesca em 2020 e 70% de probabilidade de recuperar o stock o mais tardar até 2028; - Um TAC (Total Admissível de Captura) e uma captura total que não exceda as 50.000 toneladas; - A redução da mortalidade de juvenis associada ao uso de Dispositivos de

Concentração de Peixes (DCP – FAD em inglês); - Uma monitorização melhorada da pescaria de palangre. Para além do atum patudo, existem mais dois assuntos em que será crucial Portugal ser uma voz pela sustentabilidade dentro do ICCAT. No que toca ao atum rabilo oriental, o parecer do SCRS de 2018 tem que ser seguido – um apelo ao ICCAT para não enfraquecer as medidas de controlo e monitorização que estão em vigor, o que inclui manter: os limites de capacidade de pesca e de engorda; os tamanhos mínimos; as épocas de abertura e encerramento das pescarias de palangre, cerco e arrasto pelágico; e a definição de captura acessória como não mais do que 5% da captura total. A reunião de Dubrovnik será também uma oportunidade para o ICCAT aumentar os seus esforços no combate à pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN

A Marinha Portuguesa a fiscalizar as águas dos Açores 16

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Frota espanhola de da pesca atum em cerco

– IUU em inglês) e assegurar a total transparência e responsabilização dos membros do ICCAT no cumprimento dos compromissos atualmente assumidos. Espécies de profundidade A última oportunidade de acabar com a sobrepesca até 2020 Nos dias 19 e 20 de novembro, em Bruxelas, os Ministros das Pescas da EU estarão reunidos em Conselho para definir os limites de pesca para 2019 e 2020 para determinados stocks de peixes de profundidade, entre os quais o goraz (Pagellus bogaraveo) e o peixeespada preto (Aphanopus carbo), que são de

grande importância para Portugal. Este será o último Conselho para definir TAC que acabem com a sobrepesca para as espécies de profundidade até 2020, conforme exigido legalmente pela PCP. A natureza vulnerável e sensível destas espécies torna ainda mais vital acabar com a sua sobreexploração, pois os stocks de profundidade são rápidos a colapsar mas muito lentos a reproduzirse e a recuperar. Assim, não será justificável qualquer adiamento adicional da transição para pescas de profundidade sustentáveis. Tendo em conta que não existem estimativas de Rendimento Máximo Sustentável (RMS – MSY

em inglês) para qualquer um destes stocks, o Conselho terá de aprovar oportunidades de pesca que sejam consistentes com a abordagem precaucionária [artigo 4(1)(8) da PCP], o que dará a estes stocks um grau de conservação comparável àqueles com estimativa de MSY [artigo 9(2) da PCP]. As oportunidades de pesca têm que seguir os pareceres científicos disponibilizados pelo Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (CIEM – ICES em inglês). Não existindo estimativa de MSY, o parecer precaucionário do ICES não pode ser excedido. A lacuna persistente e contraproducente entre os pareceres científicos e as decisões políticas deve

ser colmatada, de forma a os obter benefícios ambientais, económicos e socias de longo prazo decorrentes de uma gestão pesqueira sólida. A Comissão e os Estados-Membros têm que intensificar de forma significativa os seus esforços para cumprir a legislação europeia e acabar com a sobrepesca o quanto antes e o mais tardar até 2020, bem como assegurar a implementação total da obrigação de desembarque a partir de 1 de janeiro de 2019. Isto exigirá resistir a pressões para enfraquecer, adiar ou ignorar os requisitos da PCP, tais como remover TAC ou adiar a definição de oportunidades de pesca em linha com os

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Embarcação da frota espanhola com cerco aos atuns

melhores pareceres científicos. A proposta para as oportunidades de pesca para as espécies de profundidade lançada pela Comissão no início de outubro foi, em boa medida, uma desilusão para as organizações de conservação do ambiente. Se é de louvar propostas para alguns stocks em linha com os pareceres científicos – como é o caso do goraz e dos imperadores (Beryx spp.) em águas portuguesas – a proposta contém vários elementos que claramente vão acima do recomendado pelo ICES e que colocam em causa os objetivos da PCP – como é o caso das capturas propostas para stocks como o peixe-espada preto nas águas portuguesas e a remoção dos TAC para a 18

abrótea-do-alto (Phycis blennoides). Antes de abordar concretamente as recomendações para os stocks que dizem respeito a Portugal, uma nota sobre a remoção dos TAC. As organizações de conservação consideram que remover um TAC gera naturalmente uma situação em que as capturas desse stock podem ser ilimitadas, independentemente do estado do seu estado. Isto claramente põe em causa o objetivo da PCP de acabar com a sobrepesca e recuperar todos os stocks. E a remoção de TAC de stocks não-alvo ou menos importantes do ponto de vista comercial e da obrigação de desembarcar todas as capturas destas espécies não irá resolver o problema das

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rejeições, reduzir o desperdício nas pescarias ou estimular melhorias adicionais na seletividade, como é pretendido pela introdução da obrigação de desembarque. Se a Comissão e o Conselho decidirem remover um TAC, as organizações de conservação exigem que seja implementado uma estratégia de gestão cientificamente validada, monitorizada e controlada, para assegurar que os objetivos da PCP relativos à mortalidade por pesca e biomassa são cumpridos. Esta estratégia tem que assegurar que a taxa de exploração que gera o MSY não é excedida, que a biomassa do stock é recuperada e mantida acima de níveis capazes de gerar o MSY e que as medidas de salvaguarda

adequadas são desencadeadas em resposta à evolução dos parâmetros biológicos e de capturas. Em tais circunstâncias, os decisores têm as mesmas responsabilidades de gerir o stock e de reportar sobre o seu estado anualmente, para assegurar que os objetivos da PCP são alcançados. Portugal tem 7 stocks de profundidade Para Portugal, há 7 stocks de profundidade que são explorados e que têm importância comercial: imperadores (Beryx spp.) no Atlântico Norte; peixeespada preto nas zonas 8-10 (Golfo da Biscaia, Águas Ibéricas e Açores) e na zona CECAF 34.1.2 (Madeira); goraz na zona 9 (Águas Ibéricas) e na


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Embarcação espanhola interceptada pela Marinha Portuguesa

zona 10 (Açores); e abrótea-do-alto nas áreas 8 e 9 (inclui Águas Ibéricas) e nas áreas 10 e 12 (inclui Açores). Há ainda espécies de tubarão de profundidade que alegadamente são capturadas apenas como captura acessória mas que são relevantes para algumas pescarias, tanto em Portugal continental como nos arquipélagos. Para estes stocks, as nossas recomendações e as justificações específicas são as seguintes: - O Conselho deverá aprovar limites de captura de acordo com os pareceres científicos para todos estes stocks, independentemente de a proposta da Comissão ir nesse sentido ou não. Justificação – o stock de 20

goraz nos Açores é um bom exemplo de gestão, já que as medidas implementadas nos últimos anos para reduzir o pressão de pesca e valorizar a captura parecem estar a dar resultados também a nível do estado do stock. É preciso recorrer a este tipo de medidas para outros stocks, aceitando os pareceres científicos para acelerar os benefícios económicos de os ter em bom estado ambiental. - Não remover os TAC de abrótea-do-alto antes de ser apresentada, avaliada pelo ICES como estando de acordo com a PCP e devidamente implementada uma estratégia de gestão destes stocks. Justificação - Segundo o ICES, existe um risco reduzido de se-

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rem explorados de forma insustentável sem TAC, mas a mesma entidade também refere que irá propor potenciais medidas de gestão alternativas específicas para estes stocks, que deverão ser avaliadas anteriormente à sua implementação, bem como devidamente monitorizadas posteriormente para assegurar que o stock não é sobreexplorado. O ICES refere ainda que o stock tem importância para algumas pescarias a nível local, que se desconhecem os níveis de rejeições – bem como informações importantes sobre a biologia e ecologia da espécie – e que poderá haver tendência ao desenvolvimento de pescarias que tenham como alvo estes

stocks se os TAC forem removidos. - Portugal tem que apresentar uma estratégia de gestão que inclua um TAC em linha com os pareceres científicos para o peixe-espada preto da Madeira, que seja avaliada pelo ICES como estando em linha com a PCP para assegurar uma gestão sustentável deste stock. Justificação – não nos opomos que a gestão deste stock passe a ser exclusivamente da responsabilidade de Portugal, mas o EstadoMembro e a Comissão Europeia têm a responsabilidade de assegurar que essa gestão cumpre inteiramente com os requisitos da PCP, pois este stock está claramente ao abrigo dela. Portugal em parti-


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cular não deve ignorar as inúmeras evidências dos benefícios económicos e sociais de manter um stock em níveis comparáveis ao do MSY. - Relativamente aos tubarões de profundidade, recomendamos que não sejam atribuídos novamente TAC apenas destinados a capturas acessórias em pescarias de palangre dirigidas ao peixe-espada preto. Justificação – em 2016, estes TAC foram atribuídos a título experimental e com o objetivo de recolher informações científicas sobre tubarões de profundidade permitindo durante 2017 e 2018 desembarques limitados de capturas acessórias inevitáveis de tubarões de profundidade em pescarias artesanais de profundidade com palangre dirigidas ao peixe-espada-preto. Era também indicado que os Estados-Membros em causa deveriam criar medidas de gestão regional para a pesca do peixeespada preto e estabelecer medidas específicas de recolha de dados para os tubarões de profun-

Tubarão atraído por um DCP

didade, a fim de garantir uma estreita monitorização das unidades populacionais. Ora, até ao momento, desconhecemos que tenham sido tomadas medidas significativas, tanto a nível das estratégias de gestão regionais, como a nível de recolha de dados. Não é do nosso conhecimento ainda que tenham sido incentivadas experiências sobre medidas adicionais para minimizar a capturas acessórias das várias espécies de tubarões.

Informações adicionais Atum A história do Atum Patudo do Atlântico https://www.pewtrusts.org/pt/research-and-analysis/issuebriefs/2018/07/the-story-of-atlantic-bigeye-tuna A Declaração dos Açores de Apoio à Pesca de Atum de Salto e Vara estabelece o compromisso definitivo para garantir um futuro sustentável e equitativo para as pescas, bem como para dar prioridade às necessidades das comunidades e culturas associadas https://www.azoresdeclaration.info/portugues Resumo do parecer do SCRS do ICCAT sobre o atum patudo do atlântico (2015) https://www.iccat.int/Documents/SCRS/ExecSum/BET_ENG.pdf Espécies de Profundidade Recomendações das ONG para as oportunidades de pesca de espécies de profundidade 2019-2020 https://www.pewtrusts.org/-/media/assets/2018/09/20180905_ ngo-recommendations-deep-sea-tacs-2019-2020-final.pdf?la=e n&hash=45D0FDDE32CDFC4A966579AA35911B13520C6A6F Proposta da Comissão Europeia de TAC de espécies de profundidade para 2019-2020 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/HTML/?uri=CE LEX:52018PC0676&from=EN Regulamento de TAC de espécies de profundidade para 20172018 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/HTML/?uri=CE LEX:32016R2285&from=EN “Recuperar os stocks de peixe e implementar por complete a Obrigação de desembarque: Gerir a mortalidade por pesca para alcançar os objetivos da PCP” http://image.pewtrusts.org/lib/fe8215737d630c747c/m/1/NGO+ Position+Recovering+fish+stocks+and+fully+implementing+the +Landing+Obligation.pdf Pedido especial ao ICES (2018): Pedido da UE sobre o papel dos TAC como intrumento de gestão de pescas e conservação para determinados stocks de espécies de profundidade http://www.ices.dk/sites/pub/Publication%20Reports/ Advice/2018/Special_requests/eu.2018.11.pdf

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Electrónica

www.nautel.pt

Novidades Nautel

FURUNO NAVpilot-300 Este novo piloto automático apresenta como principal novidade uma unidade de comando remoto de mão, sem fios (CG-001), que permite governar a embarcação com um simples gesto.

C

om o FURUNO NAV pilot-300 basta carregar num botão, apontar ao rumo pretendido e já está…. Ao soltar o botão a embarcação navegará automaticamente ao dito rumo. Este comando de mão sem fios faz já parte do fornecimento. Não é uma opção. O piloto incorpora adicionalmente as mesmas funcionalidades que os das séries profissionais da FURUNO. Exemplos: O modo SABIKITM, ideal para a pesca “ji22

gging”, o software FANTUM FeedbackTM exclusivo da FURUNO que, para lá de simplificar a instalação em embarcações com motores fora de bordo, permitirá dispor de direção assistida. Ao todos, são os seguintes os modos de navegação e pesca : Modo Auto, Modo Auto Avançado, Modo NAV/ Rota assim como o “FishHunterTM” e o anteriormente mencionado SABIKITM. A simplificação da instalação advém também do facto do sistema ser em rede NMEA2000. Também pode ser coman-

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dado via os Multifunções da FURUNO, GP-1871F e 1971F, assim como os TZtouch2. Outras caraterísticas - Pequena caixa processadora com estanquicidade IP55 - Adaptável a barcos com motor fora de borda, motores interiores, ou tipo “sterndrive” - Compatível com VOLVO IPS, YAMAHA HelmMaster e YANMAR VC10 - Sistema “Self-learning” de auto ajuste a várias condi-

ções de navegação, pelo estado do mar e vento - Composição base : Comando de mão, unidade fixa de comando e apresentação, e processador. - Inúmeras instalações onde a opção unidade de referência de leme, não é precisa. - Se já houver a bordo alguma unidade de sensor de rumo compatível com NMEA2000, esta opção também já não será precisa. - Gama de bombas hidráulicas disponível na Nautel, para satisfazer qualquer requisito de instalação.


Electrónica

VHF CLASSE D FURUNO FM-4800 Novo VHF CLASSE D FURUNO FM-4800 Trata-se de um 5-em-1…. Rádio VHF, GPS, AIS, Loud Hailer (alta-voz) , NMEA2000 e DSC classe D. A Furuno lança seu novo equipamento de comunicação VHF, modelo FM-4800, incorporando os seguintes recursos: Recetor de GPS de alta sensibilidade com 72 canais GPS e antena interna que elimina a antena externa do GPS e seus requisitos de interligação. Quando conectado a um Multifunções ou ChartPlotter , que possa interpretar e afixar dados AIS, o receptor AIS embutido garantirá maior segurança no mar, fornecendo todos os dados necessários para o conhecimento da situação e assim se evitarem colisões. Com DSC Classe D (Chamadas Seletivas Digitais), o FM4800 permite transmitir chamadas de rotina e chamadas de socorro em caso de emergência. O “Loud Hailer” de 25 W PA tem 8 sinais automáti-

cos de presença em nevoeiro / aviso e uma capacidade de escuta que permite uma comunicação bidirecional, audio. O interface plug&play NMEA2000 permite conectar facilmente o FM-4800 aos seus dispositivos de navegação. Quando conectado ao NavNet TZtouch2, as chamadas DSC podem ser iniciadas diretamente do seu MFD. O microtelefone opcional

HS-4800 suporta todas as funcionalidades do FM-4800 e funciona como uma segunda estação. A função de intercomunicação também é suportada nesta configuração de dupla estação. Estanquicidade pelo padrão IP67. Novo VHF CLASSE D FURUNO FM-4850 Trata-se de um outro

5-em-1….Rádio VHF, GPS, AIS, Loud Hailer (alta-voz) , NMEA2000 e DSC classe D. No entanto, o sistema é em arquitetura “caixa preta” e microtelefone para comando. Todo o restante que acima se indica para o FM-4800, se aplica a este rádio que é ideal para economia de espaço em consolas e permitir múltiplas estações.

VHF CLASSE D FURUNO FM-4850 2019 Janeiro 385

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Náutica

Teste Isonáutica 570 Açor com Suzuki DF90A

Texto e Fotografia Antero dos Santos

Para Pesca e Passeios com Excelente Desempenho

Agora a Carta de Marinheiro dá para o Isonáutica 570 Açor com Suzuki DF90A Testámos vários barcos da gama Isonáutica, na de Aveiro em Setembro passado, um dos quais, o 570 Açor com Suzuki DF90A, provou ser um modelo para a pesca lúdica e aptidão para os passeios, com excelentes performances e seguro a navegar e que já pode ser conduzido com a Carta de Marinheiro

C

om uma gama de embarcações destinada ao pescador lúdico, o estaleiro Isonáutica de Aveiro, desenvolveu uma linha de modelos com uma estética semelhante e elegante. Todos têm a proa ligeiramente elevada e o 24

casco do tipo marinheiro, com um V bastante acentuado desde a proa e a terminar bem marcado à popa. Principalmente o ângulo à popa determina bom desempenho quanto à comodidade a navegar e segurança a curvar. Quanto aos planos de

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estabilidade laterais são bastante salientes, para manter o barco estável no arranque e a navegar, não adornando demasiado nas curvas. Presentemente a gama Isonáutica compõe-se dos seguintes modelos: Sport Cruiser 560, 570 Açor,

550 Master e 480 Open. Salientamos ainda o excelente acabamento dos barcos e a possibilidade duma boa utilização polivalente, devido à grande gama de acessórios standard e opcionais à dfisposição dos clientes.


Náutica

Consola de comando

de 6 pessoas, o ideal para levar a família a passear para os piqueniques náu-

Isonáutica 570 Açor O 570 Açor pertence à linha dos barcos Open, aberto à frente. Com o comprimento de 5,63 metros é um barco desenvolvido pelo estaleiro para os pescadores lúdicos e desportivos, com espaço para os pescadores circularem facilmente detrás para a frente sempre em segurança. Tem a lotação

ticos. O posto de comando do 570 Açor encontra-se

numa consola de condução central e dispõe de um pára-brisas alto e lar-

Um V bastante bem marcado à popa 2019 Janeiro 385

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Náutica

O novo Suzuki DF90A

go com um corrimão em aço inox. Para o piloto está montado um banco duplo estofado, com um encosto amovível, para se virar

para trás na pesca ao corrico ou para a mesa que se monta ao meio do poço. Há frente da consola e junto à proa, o 570 Açor

tem um banco em forma de U que comporta dois compartimentos laterais com tampas que servem de assentos ou onde pode-se montar um solário na hora

Banco duplo do piloto 26

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dos banhos de sol. Neste espaço também se pode montar uma mesa. O 570 Açor tem no poço junto à popa um banco com dois lugares. No meio do poço pode-se montar uma mesa. O 570 Açor é um barco versátil para os pescadores, que podem usar o banco da popa para guardar o peixe em caixas ou montar um viveiro de isco vivo. Para arrumar palamenta e equipamentos, há muito espaço no 570 Açor, porque tem um porão sob o poço, existem dois compartimentos à frente com tampa, dentro do banco do piloto, sob o assento à popa e ainda dentro da consola. Na proa existe uma roldana, o porão do ferro e dois cunhos de amarração.


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Náutica

O 570 Açor é um barco muito estável

Um varandim à popa comporta os porta canas e uma torre com o anel de esqui, para os desportos aquáticos.

No teste muito seguro e confortável O 570 Açor tinha montado o novo Suzuki DF90A, em

branco. No teste o grande poder de aceleração do motor foi uma das notas que se conjugaram mais nas performances.

Compartimentos à proa convertíveis em solário 28

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O tipo de casco do 570 Açor também facilitou nas rápidas medições que obtivemos. Logo no arranque o barco começou a


Náutica

Suzuki DF90A

O

Viveiro de isco vivo

planar em 1,69 segundos. E na medição da aceleração até às 5.000 rpm, para os que gostam de fazer ski, em apenas 7,43 segundos atingimos os 22,5 nós. Também confirmámos a característica do casco descolar bem na água, quando procurámos qual a velocidade mínima do barco a planar e obtivemos apenas 10 nós às 3.100 rpm. Esta qualidade do casco é uma vantagem quando se associa a um motor económico, como

o Suzuki DF90A que incorpora o sistema “Lean Burn”,que consegue notáveis ​​reduções no consumo de combustível. Deste modo conseguimos fazer uma velocidade económica de cruzeiro de19,6 nós às 4.000 rpm, muito boa para navegar até aos pesqueiros. Quando procurámos atingir velocidades de topo, obtivemos a máxima às 5.900 rpm com 31,5 nós. Que consideramkos uma elevada performance. Muito interessante foi

Assento à popa

Suzuki DF70A / DF90A tem 4 cilindros em linha com a cilindrada de 1502 cm3, DOHC com 16 válvulas e pesa 158 Kg. São motores fora de borda que foram projectados a partir do zero, com uma construção compacta e ligeira, para proporcionar um desempenho emocionante juntamente com uma excelente eficiência de combustível. Estes motores apresentam muitas das conquistas de engenharia que tornam a Suzuki lider em tecnologias inovadoras nos motores a 4 tempos e são a escolha perfeita para uma grande variedade de barcos Nas tecnologias introduzidas nos DF70A/DF90A destaca-se o LEAN BURN, que funciona usando processos e sensores de computador em tempo real, para optimizar a admissão de combustível, fornecer uma mistura ar-combustível precisa, e alcançar notáveis ​​reduções no consumo de combustível. O motor tem excelente capacidade de aceleração, devido a um elevado binário em baixa e média rotação, e uma relação de caixa de 2.59:1, que oferece uma maior eficiência na propulsão, navegação eficiente com cargas pesadas e enorme eficácia com de hélices de grande diâmetro. Outras Tecnologias: - Injeção de combustível electrónica sequencial multi-ponto. - Sistema de arranque facilitado Suzuki. - Veio de transmissão desviado. - Sistema de comando de Cames de duas fases. - Corrente de distribuição banhada em óleo. - Sistema de arrefecimenton de admissão. - Computador de 32 ites. - Engrenagem de redução de duas fases. - Cambota forjada inteiriça. - Sistema de auto-diagnóstico. - Alternador arrefecido a ar. - Ignição directa. - Caixa de velocidades simplificada. - Controlo do ar do ralenti. - Bujão do dreno do óleo de fácil acesso. - Contra Rotação disponível. - Padrões RCD (EO1). - CARB 3 estrelas: Emissões ultra-baixas (EO3). - Sistema de limitação do TILT. - Rampa de injecção refrigerada a água. - 2 terminais de lavagem com água fresca - Sistema de ignição totalmente transistorizado. - Sistema de aviso de mudança de óleo. - Sistema anti-corrosão Suzuki. - Sistema Troll Mode Suzuki.(opcional) - Leme Muli-funções ((DF90ATH/70ATH (opcional)

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Náutica

A curvar é de excepcional segurança

o ensaio de navegação, pois julgamos que este barco vai ser um dos procurados por aqueles que apenas têm a Carta de Marinheiro e não o podiam conduzir e agora já podem com o novo Regulamento da Náutica deRecreio. O.desempenho do 570 Açor foi de acordo com a resposta dos cascos Isonáutica, muito seguro a curvar e como corta a água com suavidade é bastante confortável. A proa deflecte bem a água

e não molha para a coberta. Devido aos planos de estabilidade serem salientes o barco é muito estável, mantendo-se com pouco balanço quando está parado, uma qualidade que os pescadores gostam. Para finalizar, consideramos que o 570 Açor com o Suzuki DF90A, constitui um excelente conjunto, a um preço económico dirigido a um cliente que pretende um barco com utlização versátil e não apenas para a pesca.

Viveiro de isco vivo 30

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Performances Arranque

1,69 seg.

Aceleração 5000 rpm

22.5 nós em 7,34 seg.

Velocidade cruzeiro

19.6 nós às 4000 rpm

Velocidade máxima

31.5 nós às 5900 rpm

Mínimo a planar

10 nós às 3100 rpm

3500 rpm

12,4 nós

4000 rpm

19,6 nós

4500 rpm

23,2 nós

5000 rpm

26 nós

5500 rpm

29 nós

5900 rpm

31,5 nós

Características Técnicas Comprimento

5,63 m

Boca

2,39 m

Massa s/motor

798 Kg

Deslocamento

1.420 Kg

Calado

0,28 m

Lotação

6

Carga máxima

652 Kg

Categoria CE

C

Potência máxima

115 HP

Motor em teste

90 HP

Preço barco/motor

26.534 €C/IVA

Estaleiro / Importador ISONÁUTICA Edificio Nautica Argus Estrada Nacional 109, 3800-533, Cacia, Aveiro - Portugal Telefone: 916 011 329 - isonautica@sapo.pt MOTEO Portugal, SA Rua João Francisco do Casal, S/N, 3800-264 Aveiro Tel: 234300760 - geral@veiculoscasal.pt - http://www.suzuki.pt


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Notícias do Mar

Notícias da Docapesca

Reforço das Condições de Segurança dos Pescadores A Docapesca investe 63.000 euros nas pontes-cais do Porfto de Pesca do Rio Arade.

A

Docapesca vai reforçar a proteção das pontes-cais 1 e 2 do Porto

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de Pesca do Rio Arade, localizado no concelho de Lagoa, entre Portimão e Ferragudo, num inves-

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timento de 63 mil euros, cujo procedimento concursal foi lançado recentemente. Com o objetivo da melhoria das condições de segurança no embarque e desembarque das tripulações e no estaciona-

mento das respetivas embarcações, a empreitada prevê a montagem de 258 defensas de borracha na ponte-cais nº 1, para fixação lateral ao argolão de suspensão de corrente existente. Os trabalhos incluem


Notícias do Mar

ainda a instalação de novos troços de borracha nas laterais do argolão superior de suspensão das defensas já montadas nas duas pontes-cais. A solução técnica a im-

plementar foi desenvolvida conjuntamente com pescadores e armadores locais, no sentido de melhor se adaptar às características das respetivas embarcações.

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Notícias do Mar

Tagus Vivan

Crónica Carlos Salgado

A Educação Ambiental do Cidadão Ribeirinho

O cidadão ribeirinho do Tejo, bem assim como os seus respectivos municípios pela proximidade que têm ao rio que esteve na sua origem, devem ser os seus principais guardiões, e não podem esquecer que no tempo em que o Tejo era navegável permitindo a navegação comercial de transporte de mercadorias pessoas e bens, ele foi a sua principal fonte de riqueza, bem assim como quando ele com a sua água invadia as lezírias e fertilizava-lhes os solos.

“Se a Poluição continuar outra Arca de Noé temos de arranjar” - Painel de 10 m2 pintado coletivamente pela Escola Paula Vicente, Lisboa, 1973

E

ste nosso Tejo ainda pode criar muita riqueza às comunidades ribeirinhas, pelo que elas têm o dever de voltar a interessar-se por ele, a defenderem-no

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e preservarem-no, porque ele não deixará de retribuirlhes A AAT- Associação dos Amigos do Tejo, que foi formalizada no ano de 1984, pela mão de um grupo infor-

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mal de jovens velejadores de Alhandra que teve origem nos anos sessenta, cuja obra de 25 anos está hoje a ser continuada pela Confraria Cultural do Tejo Vivo e Vivido, a Tagus Vivan, acompanhou a transição dos anos 60 para a década de 70 que registou a politização das correntes ambientalistas e das plataformas internacionais que se debruçaram sobre as questões ambientais em Portugal, que pela emergência de uma política ambiental deu origem no dia 8 de junho de 1971 à CNA - Comissão Nacional do Ambiente. No quadro da Lei de Bases do Ambiente foi criado em 1987 o Instituto Nacional do Ambiente – INAMB, com competências no domínio da formação e informação dos

cidadãos, veio incrementar de modo significativo as práticas de Educação Ambiental (EA) no nosso país. Estas práticas resultaram do apoio e promoção de projetos de educação ambiental e de projetos ligados à defesa do património natural e edificado, para além do apoio às associações de defesa do ambiente, que passaram a desenvolver ações de sensibilização e formação com as escolas. Precisamente nesse ano de 1987, a AAT, uma das primeiras associações de defesa do ambiente que se inscreveram no INAMB, foi parte integrante, como entidade dinamizadora do Programa “O Tejo na Escola”, resultante do protocolo celebrado entre a Secretaria de Estado do Ambiente, a Secretaria de Estado da Educação e a AAT que também realizou nesse ano de 1987, integrado nas celebrações do ano Europeu do Ambiente, para além de outras atividades de formação de jovens no terreno, o 1.º Congresso do Tejo, na Fundação Gulbenkian em Lisboa, e foi encarregada de organizar a Sessão Solene das referidas Comemorações do Ano Europeu do Ambiente em Santarém, complementada por uma grande exposição temática sobre os Patrimónios Nartural e Cultural, material e imaterial do Tejo. A Educação Ambiental A Educação Ambiental nas escolas não teve a sua continuidade assegurada durante


Notícias do Mar

alguns anos, salvo raras exceções, simplesmente porque não houve a preocupação dos responsáveis para seguir a estratégia preconizada pelos “Amigos do Tejo”, de manter viva e com continuidade a cadeia de transmissão dos conhecimentos resultantes da Educação Ambiental na escola adquiridos pelos jovens, os filhos, para a sensibilização dos pais, dos avós e da comunidade onde estavam inseridos, por razões de falta de visão ou de inércia dos responsáveis que muitas vezes preferem fechar-se no seu mundo interpares, de costas voltadas para o exterior, que é o país de todos nós. No caso presente, puxando a brasa à nossa sardinha, nem se trata de Educação Ambiental de Adultos, mas simplesmente de uma sensibilização dos cidadãos ribeirinhos do Tejo, jovens e menos jovens, para a defesa e a preservação do seu rio e do meio ambiente que os rodeia, que também não deixa de ser uma formação de boas práticas e de civismo, trabalho esse que pode e deve ser feito perfeitamente pelos respetivos municípios com campanhas específicas para o efeito ao longo do ano, e vão ver que essa política vai contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos seus munícipes que até acaba por ser retribuído em votos. Partindo do princípio de que estamos a viver consequências do dia-a-dia despreocupado dos seres humanos para com o ambiente, tornase indispensável mudar de atitude em defesa do rio Tejo, o que requer um trabalho sério e persistente de alertar os cidadãos para a questão inadiável de apostar na consciencialização ambiental como contributo para salvar o nosso bem comum, o Tejo.

bater a desertificação. Um Encontro vai reunir com cerca de 30 autarcas sobre a construção de uma ligação entre Montalvão, concelho de Nisa, e povoação espanhola de Cedillo, Cáceres, onde fica localizada a barragem que é responsável por deixar passar mais ou menos água do Tejo de Espanha para Portugal por ordem da Iberdrola, é uma das principais reivindicações. Os dois lados da fronteira “apenas se cruzam” aos fins-de-semana, quando são abertos os portões de acesso a uma ponte. Cerca de 30 autarcas do Alto Alentejo, Beira Baixa e da província de Cáceres, em Espanha, vão reunir com o objetivo de alertar os governos dos dois países para os problemas da desertificação. O “SOS” que pretendem lançar através desta iniciativa vai ser dado em Montalvão, no decorrer de um encontro onde também será debatida a falta de acessibilidades, situação que condiciona a ligação destas zonas separadas pelos rios Tejo e Sever. “A desertificação é um pro-

blema e este encontro serve para alertar para as nossas necessidades, e uma das formas de evitar o isolamento é através de ligações que possam juntar estas três regiões”, disse o presidente da Junta de Freguesia de Montalvão, José Possidónio, em declarações à agência Lusa. A construção de uma ligação ou a abertura diária da ponte que liga Montalvão à povoação espanhola de Cedillo é uma das principais reivindicações dos autarcas. Enquanto os governos de Espanha e de Portugal não avançam

com nenhum projeto, as populações dos dois lados da fronteira “apenas se cruzam” aos fins-de-semana, quando a empresa hidroelétrica espanhola Iberdrola retira os cadeados dos portões e reabre ao trânsito a ponte situada na confluência dos rios Tejo e Sever. As duas comunidades distam a 15 quilómetros uma da outra, mas durante a semana as populações têm que percorrer cerca de 120 quilómetros para poderem conviver ou efetuar trocas comerciais.

Notícia Recente de Muito Interesse Autarcas de Portugal e Espanha reúnem-se para de2019 Janeiro 385

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Notícias do Mar

Tagus Vivan

Crónica Carlos Salgado

Conclusões do Congresso so Tejo III

A TAGUS VIVAN tomou a iniciativa de promover a realização do Congresso do Tejo III, precedido de um Ciclo de Conferências Preparatórias, que decorreram desde Outubro de 2016, dez anos depois da realização do II Congresso do Tejo no ano de 2006.

M

ais uma vez foi considerado que era chegada a altura oportuna para dar a conhecer ao país o Tejo real com os seus problemas, as suas carências e as suas potencialidades. Verificouse que a Administração Central foi eliminando, durante os últimos anos, a anterior política de reformas importantes para uma moderna e eficiente gestão de recursos hídricos, invocando a crise económica que se instalou, que alarmou e penalizou a Sociedade Civil. As Conferências Preparatórias do Congresso do Tejo 36

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III tiveram como objectivo principal cobrir regionalmente o Rio Tejo, enquanto que o Congresso teve como objectivo principal cobrir o Rio Tejo de uma forma temática global. De montante para jusante as Conferências Preparatórias foram designadas respetivamente como: Alto Tejo Português e Tejo Internacional (em Vila Velha de Ródão) Médio Tejo, Sustentabilidade do Rio Tejo (em Vila Nova da Barquinha) Lezíria do Tejo, Sustentabilidade do Rio Tejo e Polí-


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ticas de Desenvolvimento (em Samora Correia) Navegabilidade do Tejo (em Vila Franca de Xira) Estuário do Tejo (em Vila Franca de Xira) Embora cobrindo regionalmente o Rio Tejo, pelo facto de em cada troço haver uma predominância de uns aspectos em relação aos outros, verifica-se que os vários temas regionais, também estiveram presentes no Congresso, sendo por esse motivo elaborar umas conclusões únicas, abrangendo as Conferências Preparatórias e o Congresso propriamente dito. Quer nas Conferências Preparatórias, quer no Congresso, a TAGUS VIVAN teve a preocupação de convidar os oradores pertencentes a entidades públicas e privadas, conhecedoras da utilização do Rio Tejo, cidadãos, políticos, técnicos e cientistas. O diagnóstico do rio Tejo deve ter por base aspetos técnicos e de conhecimentos dos fenómenos fluviais, dos recursos naturais, dos recursos económicos e da sociedade. As medidas de ação e desenvolvimento terão de integrar o preconizado na Diretiva Quadro da Água, e outros documentos legais, nacionais, europeus e internacionais, e incluir parcerias entre

cidadãos, associações, entidades privadas e entidades públicas e privadas. Na elaboração das Conclusões e Recomendações deste Congresso foram tidas em consideração todas as comunicações apresentadas, bem como as informações que os promotores do Congresso do Tejo III tiveram acesso, pela sua experiência direta e contactos informais com as mais variadas pessoas conhecedoras do Rio Tejo. Estas Conclusões, em sequência as Recomendações constituem um conjunto alar-

gado de propostas objetivas e oportunas apresentadas de uma forma hierarquizada pela sua emergência, importância, pertinência, oportunidade, inovação e impacto para servirem de orientação, apontar caminhos e medidas correctivas a tomar, propondo até algumas soluções. Seguindo este raciocínio, foi adotada a matriz das Conclusões do II Congresso do Tejo, isto é, é feita uma relação de alguns princípios que são considerados fundamentais, tendo como matriz base o desenvolvimento do Tejo com a envolvência

social e económica do seu vale. O ciclo de conferências, de índole regional, permitiu analisar a realidade atual do rio Tejo, da água, da sua utilização, das dificuldades e das possibilidades, permitindo preparar o Congresso do Tejo III. Ao percorrer o rio Tejo de montante para jusante, são enunciadas as conclusões com base nas Conferências Preparatórias e no Congresso. CONTINUA NO PRÓXIMO NÚMERO DESTE JORNAL

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O Voo do Guarda-Rios

Turismo Náutico Fluvial em França Na sequência do relato que saiu neste jornal no passado mês de Dezembro sobre a viagem que o GR fez a França por ter ouvido dizer que o turismo náutico nos rios franceses estava a ter uma grande atividade e incremento, com qualidade e com um resultado económico muito significativo, foi por essa razão que voou para além do Golfo da Biscaia e aterrou primeiro no rio Sena para certificar-se do que lá se passava nesta matéria, e depois de ver e de enviar-nos o seu relatório, aproveitou para voar a seguir até ao Vale do Loire, devido à fama que este rio e o seu vale têm como percurso turístico muito particular, quer paisagístico quer monumental, graças aos seus magníficos e célebres castelos, “Les Chateaux du Loire”, para nos por a par da técnica e da qualidade do seu turismo de excelência para o conhecermos e podermos ficar mais esclarecidos para podermos opinar e informar os municípios ribeirinhos, os operadores de turismo, os empreendedores e as Entidades Regionais de Turismo, como contributo válido para a implementação no Vale do Tejo de um turismo náutico diferenciado, com qualidade garantida, adaptado às características, atributos e valências do nosso maior rio. O rio Loire, é o maior rio da França com 1 013 Km de comprimento. Nasce em ‘Ardèche’, no monte 38

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Notícias do Mar

‘Gerbier-de-Jonc’ no ‘Massiço Central’ e desagua no Oceano Atlântico a oeste de Anjú. Em meados do século IX, o rio Loire, tal como aconteceu no nosso Tejo, era a via fluvial principal de comunicação por onde eram transportadas as mercadorias do interior do país até o porto de Nantes. O aparecimento do transporte ferroviário que liga Paris a Saint Nazaire, passando por Le Mans, mudou a história. Depois de Orleans, o Rio Loire corre por 450 Km, desde leste a oeste até Anjou. O Vale do Loire (Le Val du Loire) foi inscrito no ano 2000 na UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade e é conhecido por “Rio Real”, devido ao grande número de castelos (palácios acastelados ou castelos apalaçados) que se situam entre o Sully-sur-Loire (no Loiret) e Charlonnes-sur-Loire (em Maine-et-Loire). O Château de Chaumont, o Château d’Amboise, o Château de Azay-le-Rideau, o Château d’Azay-le-Rid e o Château de Chinon são célebres na história de França outros que se encontram neste Vale. Este rio é considerado excecional também devido à sua diversidade biológica, assim como à sua riqueza histórica e cultural (parques, castelos e vilas). La Loire à vélo (o Loire de bicicleta) é um projeto com 800 Km ao longo do Rio Real, para dar aos amantes de bicicletas o prazer de descobrir as suas paisagens e as suas vilas históricas: Sancerre, Gien, Orléans, Blois, Amboise, Tours, Langeais, Montsoreau, Saumur, Angers, Saint-

Florent-le-Vieil e Nantes. Nós por cá temos o Tejo que também tem as suas particularidades muito interessantes com uma diversidade paisagística e cultural bastante interes-

sante e uma biodiversidade riquíssima, e também alguns castelos, uma história de navegação desde a antiguidade, e a capital dos Descobrimentos, de onde os nossos navegadores

partiram e deram a volta ao globo terrestre contribuindo para a primeira globalização mundial. HÁ POIS QUE INVESTIR NO TEJO TURÍSTICO!

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Voo do Guarda-Rios

Uma Flor Tão Bonita, mas Tão Preversa ! A beleza da flor do jacinto de água levou o homem a querer plantá-la nos seus jardins e também nos cursos de água desconhecendo que esta planta é exótica e invasora e reproduz-se com muita facilidade produzindo frutos e sementes em abundância o que está a causar um problema em todo o mundo, pelo que tem vindo a ser investigado por vários cientistas e universidades, contudo nem todos os governos dos países infestados, dentre eles o nosso, lhe têm ligado a devida importência.

E

ste problema está a verificar-se no rio Tejo, bem assim como noutros rios, ribeiras, valas e paiúis do nosso país, que por estar a recrudescer chegou a um ponto muito pre-

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ocupante, não obstante certos cientistas reconhecerem que esta planta exótica também possui funções que ajudam na despoluição de ambientes eutrofizados, com a capacidade de absorver e acumular

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poluentes filtrando a água, mas está provado que mesmo que exista essa possibilidade, na realidade esta planta pela sua elevada capacidade de reprodução torna-se muito difícil de controlar, e o seu efeito negativo supera as pontuais qualidades positivas que possa ter, daí o problema com que determinados municípios ribeirinhos e regiões hidrográficas se debatem, pelo que deve ser reconhecida como uma praga pelas autoridades em Portugal. O jacinto de água cujo nome científico é “crassipes Eichhnornia” é bastante mais prejudicial ao ambiente hídrico do que se possa pensar pelo facto de formar um tapete espeço a cobrir a superfície da água impedindo a troca de oxigénio com a atmosfera, e

impede também a passagem da luz para o interior do espelho de água, para além de libertar matéria orgânica, o que agrava a qualidade da água Não obstante a venda e a posse do jacinto de água para decoração ser proibida por lei (Decreto –Lei n.º 565/99, DR n.º 295, Série I-A de 1999-12-21) em Portugal, não consta que alguma autoridade tenha intercetado alguém a comprá-la. Desde a Índia à América do Sul esta planta invasora tem vindo a causar problemas nos rios e valas. Em Portugal, como é de esperar, a quantificação da sua invasão não está efetuada, mas para ter-se a consciência da capacidade da sua reprodução e proliferação, sabe-se que na vizinha Espanha no rio Guadiana, desde Mérida até à nossa fronteira, podem ser capturadas oitocentas toneladas por dia. O projeto para controlar e eliminar o jacinto de água no troço espanhol do rio Guadiana para impedir que chegue ao território português, é um exemplo de cooperação transfronteiriça apontado hoje. O projeto, intitulado ACECA -Atuações para o controlo e sua eliminação no troço transfronteiriço do Rio Guadiana, envolve um investimento de cerca de 5,5 milhões de euros e foi aprovado pelo programa comunitário INTERREG. O presidente da Confederação Hidrográfica do Guadiana, o espanhol José Martinez, explicou à agência Lusa, que esta planta exótica invasora já afeta “150 quilómetros” do rio Guadiana, do lado de Espanha. “Estamos a lutar con-


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tra o jacinto de água e, em parte, estamos a conseguir eliminá-lo, mas a 100% vai ser praticamente impossível”, porque se trata de uma massa problemática que se regenera de forma exponencial, frisou. Apesar dos esforços desenvolvidos para a sua remoção é sempre possível que alguma planta fique presa em juncos e, no momento em que se dão as condições climáticas mais adequadas, volta a reproduzir-se como autêntica espuma. Já o responsável da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Alentejo, André Matoso, também reconheceu que o jacinto de água representa um problema muito sério no Guadiana do lado espanhol e também em Portugal noutros rios como nas bacias do Tejo, do Cávado e do Mondego, mas no que toca ao Guadiana, numa altura de seca como a atual, em que o caudal do rio Guadiana de cá é mais reduzido, a probabilidade desta planta chegar ao Alqueva é mais baixa, mas quando chegarem as grandes chuvadas é preciso combater e estar mais atentos a todas as pequenas plantinhas que venham na água. É sabido que há quem tenha utilizado em mais de uma vala de acesso ao Tejo uma embarcação com um dispositivo que consegue desagregar/ destroçar esta planta quando ela está a cobrir a

superfície dos espelhos de água na tentativa de eliminar esta praga, esquecendo-se que por este processo estará provavelmente a contribuir para que se libertem mais facilmente as suas sementes e os frutos que ao espalharemse pela água iniciam um novo ciclo de crescimento para uma nova invasão, ainda com mais força. Como nos tempos de hoje está a atribuir-se a maior importância às energias alternativas, não se compreende porque razão não se pensou ainda, a sério, a possibilidade da transformação desta planta que se reproduz espontaneamente em quantidades elevadíssimas, da qual pode obterse bioetanol, biocombustíveis sólidos e biogás, como já Carlos Pimenta dizia nos anos oitenta, quando os navegantes eram confrontados com esta praga ao navegarem na Vala Real de Azambuja ou quando, na mesma altura, em viagem de estudo ao santuário da biodiversidade do Paul do Boquilobo, se deparava com aquela enorme alcatifa vegetal a tapar o Sol. No Brasil estão a avançar para um processo de transformá-la em briquetes, e noutros países já estão a usar esta planta como “matéria prima” para obterem bioprodutos para fertilizantes e biogás, e outros investigadores estão a procurar por meio de hidrólise enzimática alcançar a

fermentação para a produção de etanol, onde já estão a ser efetuados estudos e ensaios em fase avançada para por meio de um processo químico ou um processo combinado – químico com explosão de vapor, recorrendo como reagente ao ácido sulfúrico, para de hidrólise ácida e hidróxido de sódio para hidrólise alcalina. Na fase de hidrólize enzimática e fermentação alcoólica, o processo é realizado em etapas separadas, sendo a celulose o principal complexo de enzima utilizado, tendo como objetivo final produzir o etanol, porque a matéria prima existe em abundância. Pelos vistos, a forma provavelmente mais eficaz no controle futuro desta praga, nomeadamente no Tejo, está em criar uma As-

sociação, Parceria ou até uma Start-up de utilidade pública que integre os agricultores das margens dos veios de água invadidos por esta planta, e também os municípios afetados por esta praga (Azambuja, Cartaxo, Santarém, Golegã, Salvaterra etc.) para fazer a remoção e processamento industrial desta infestante para os fins já conhecidos: briquetes, adubos, etanol, biogás, etc, que gerido com saber, vai conseguir obter um retorno ao investimento que compense os custos da sua remoção e transformação, para manter o processo em funcionamento contínuo porque a jacinto de água não vai parar de crescer e de continuar a invadir os nossos cursos de água.

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Notícias do Mar

Notícias do Porto de Sines

Porto de Sines

Realiza Simulacro de Segurança

Realizou-se, no passado dia 30 de Novembro um simulacro de segurança no Porto de Sines que teve como objetivo treinar a articulação e comunicação entre diversas autoridades e agentes económicos que operam nesta infraestrutura portuária.

O

cenário simulado compreendeu a ocorrência de um incêndio a bordo de um navio de contentores, com feridos graves, pretendendo-se verificar e testar a eficácia do Plano de Emergência do Porto de Sines e dos planos internos de emergência da PSA Sines e da Svitzer. Com este simulacro aferiram-se os procedimentos estabelecidos, testaram-se os meios de comunicação, coordenou-se a adequabilidade dos meios disponíveis e a resposta das 42

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Notícias do Mar

várias entidades em termos de reação, rapidez e eficácia. Diretamente estiveram envolvidas a Autoridade Portuária (APS), a Capitania do Porto de Sines, a Polícia Marítima, a PSA Sines, a Svitzer

e os Bombeiros Voluntários de Sines, tendo ainda participado como observadores a DGRM, o SEF, a Autoridade de Saúde, o Serviço Municipal de Proteção Civil, a Portsines e a REN Atlântico.

O Porto de Sines atribui extrema importância a questões de segurança, contribuindo este tipo de simulacros para que toda a Comunidade Portuária esteja preparada para atuar em situações reais.

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Notícias do Mar

Notícias Docapesca

Investimento de 122 mil euros

A Docapesca investe na construção de um novo espaço de trabalho no porto de pesca de Sesimbra para beneficiar as condições de segurança.

A

Docapesca iniciou no passado dia 10 de Dezembro, a construção de um novo estendal das artes de pesca de palangre, através da requalificação

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de um terreno com cerca de 3.600 metros quadrados no porto de pesca de Sesimbra, numa intervenção que estará concluída no prazo de 90 dias e que representa um investi-

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mento de 112 mil euros. A empreitada pretende melhorar as condições de trabalho e de segurança dos profissionais que se dedicam à atividade de preparação das artes de

palangre, realizada atualmente de forma desordenada em toda a área do porto, e inclui também a instalação de um toldo constituído por telas impermeáveis que garantam a proteção a condições atmosféricas adversas. Esta intervenção permitirá ainda a criação de 122 lugares de estacionamento, três dos quais reservados a pessoas com mobilidade reduzida, a utilizar durante os fins-de-semana, dando assim resposta a alguns dos constrangimentos de estacionamento na zona ocidental da vila de Sesimbra, verificados particularmente durante a época balnear.


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Pesca Desportiva

Aventuras de Pesca

Texto e Fotografia Vitor Ganchinho

Mar alto: Um dia de terror!

O assunto é sério. É verídico, passou-se há uns bons 20 anos e tratou-se mesmo do pior dia da vida de um simpático motorista de uma empresa de distribuição. Explico-vos como e porquê:

Pampos malandros, a espreitar uma amostra ainda dentro do Sado.

J

osé Paciência tinha entrado para a empresa um ano antes. Pescador à linha, habitual presença na muralha do Sado, em Setúbal, com os resultados normais para quem faz aquele tipo de pesca: nada ontem, nada hoje mas amanhã é que vai ser. Ao longo de meses e meses, ouviu regularmente falar de caçadas aos sargos, aos polvos, aos robalos, feitos por pessoas que conhecia da sua rotina de trabalho, mas com quem nunca tinha saído. Pela sua 46

mente passavam grandes cometimentos, grandes peixes e grandes aventuras. Queria mesmo participar! Dia após dia, demonstrava a sua enorme vontade de ir connosco, de se ver metido no meio da acção, de fazer uma pescaria realmente boa. Começou a moer-me o juízo com tantos pedidos até se tornar insuportável. Ou porque o tempo estava muito bom e não queríamos ser empatados por um principiante que nada de bom poderia trazer-nos, ou porque o tempo estava muito

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mau e provavelmente a coisa poderia dar ao torto para o lado dele, a verdade é que não ia. Que não, que não estava em condições, que era melhor esperar, …enfim, desculpas e mais desculpas para não o levarmos. Saída como habitualmente no Clube Naval de Setúbal Até um frio dia de Novembro, que não estava nem bom nem mau, estava como se diz no Alentejo, açordível, e apenas havia um compa-

nheiro para ir, José Carlos Garcia, da Amareleja, moço rijo, mas mais para o lado do “sequeiro”, da pesca ao achigã com os pés firmes no chão, do que para os lados da água salgada de mar. Saímos os três. O Zé Garcia apareceu vestido como quem vai para um casamento: debaixo do casaco grosso, uma camisa abotoada até acima ao colarinho, calça de fazenda vincada e sapatos pretos engraxados. Como habitualmente, o barco foi colocado na grua do Clube Naval de Setúbal, e o rumo


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feito às pedras do costume. O semi-rígido Stress VI fazia o percurso em cerca de 50 minutos, mas dado o vento que se fazia sentir, abrandámos a marcha, para os corpos não chegarem com falta de peças. Para além disso, estava um frio de rachar, à saída de casa, o carro marcava apenas 2º C positivos. O plano era simples: eu iria mergulhar e eles ajeitavam o peixe nas caixas, por especialidades. Nada de misturar polvos com salmonetes. Vestir o fato com água fria é algo que não se deseja nem ao pior inimigo, mas faz-se. A sensação da água gelada nas costas é superada pela vontade de andar pelos fundos, de ver como estão de peixe. Pese embora o mar estivesse a levantar, ainda tinha alguma visibilidade. Mês de Novembro é mês de muitos polvos e de grandes safios que os seguem na sua migração para a costa. E ali estavam, nas pedras do costume, à profundidade do costume. _ Os sargos são pequenos, mas temos em baixo uns 12 a 15 polvos de bom tamanho, e está um safio matulão enfiado numa fenda. Vou começar pelos polvos mais pequenos, para aquecer. Quando se fala em polvos pequenos, tratamos de polvos de 5 quilos. Sim, os mais pequenos têm ali cerca de 5 kgs, porque os de tamanho abaixo são comidos por estes e pelos outros, os grandes. Mas a esses já lá vamos. Com o barco fundeado, a âncora relativamente leve obrigava a uma vigilância constante, para detectar a tempo algum desgarre. Os dois artistas que estavam dentro do barco não tinham noção nenhuma de como o conduzir, e apenas um deles era visita pontual, esporádi-

ca, das minhas caçadas. O mar começou a subir. Passados 15 minutos, estavam 3 polvos a bordo. O Zé Paciência ajudava diligentemente a puxá-los do gancho para dentro das caixas. Na descida seguinte, quem veio ajudar foi o meu amigo Garcia: _Olha, ele parece-me que está um pouco azamboado, está a dizer-me que se sente mal. Quem está a mergulhar tem muito pouca vontade de longas conversas, pelo que lhe disse qualquer coisa curta e seca, e seguramen-

te imperceptível, dado que nem tirei o tubo da boca. Desci mais uma vez e mais um polvo. _ Olha que ele está a vomitar tudo, e diz que está muito mal!... Respondi-lhe grosso, dizendo-lhe que se deitasse no fundo do barco, e que aguentasse, que eu estava quase a chegar ao último polvo. O mar subia mais e mais e tinha receio de que a água viesse a turvar rapidamente. Mergulho e pressa são coisas pouco compatíveis, sobretudo quando tratamos de 18 a 19 metros de

profundidade. Cada gesto tem de ser muito bem pensado, muito bem avaliado, porque tudo se pode precipitar. À chegada à superfície, com mais um dos polvos da pedra, o Zé Carlos Garcia disse-me: _Olha que ele está a dizer-me que vai morrer aqui, que não aguenta mesmo!!! O rapaz está mal! -Esse gajo levou meses a remoer que não o trazia… .e agora está nisto!....Vou aí ver. Subi ao barco, retirei as barbatanas, e olhei para ele. Babava-se e estava branco

Dois polvos, 20 kgs de polvo. Já são raros os que chegam a estes pesos, hoje em dia. Um deles tem um pampo agarrado pelos dentes… 2019 Janeiro 385

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Pesca Desportiva

Toca típica de polvo: Retaguarda protegida pela reentrância na rocha, e pequenas pedras à frente, para protecção contra safios. Algumas das pedras foram previamente afastadas para a foto. como a cal da parede. Com esforço, levantou os olhos para mim e por aquele olhar mortiço e almareado percebi que já tinha dado o estoiro. _ Temos mais 4 polvos lá em baixo, e temos ainda o safio. Vamos ter de o levar para a praia. Ele em terra,… arrebita. Daqui a meia hora já te venho buscar Tudo foi executado de acordo com o figurino: despimos o atleta, a roupa foi colocada num grande saco de plástico preto, de 100 litros, e dei um nó apertado para não entrar água. Barco junto à costa o mais perto possível, e saltámos para a água, eu de saco de plástico numa mão, a outra a abraçar como podia o desalentado Zé Paciência pela cintura, e muita força de pernas e nas barbatanas, para fazer andar aquilo tudo à minha frente. Passar a rebentação foi relativamente fácil, sobretudo 48

para mim, que tinha um fato de mergulho de 6,5mm. Não imagino o sofrimento dele, completamente despido. As ondas pegavam nos corpos e empurravam, fazendo galgar metros atrás de metros. Na praia, o meu colega batia o dente, mas estava vivo. _ Ficas aqui uma meia hora, e eu já te venho cá buscar. Veste as roupas porque isto aqui não é o Meco, não podes estar aqui descascado e de gaita ao léu! Voltei ao barco, e em poucos minutos retornámos ao local onde tinha deixado a bóia de marcação. Na praia, cá de longe, víamos alguém enrolado na areia, encolhido, sem se mexer. Levei uns minutos a recuperar o ritmo cardíaco certo para voltar a descer. Os polvos continuavam lá, mas eram enormes e estavam bem entalados nas frestas. Havia ali trabalho para algum tempo. Os polvos grandes quando sobem abrem os tentáculos, e por isso ofere-

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cem muita resistência. São autênticos guarda-chuvas abertos. O mar subia a olhos vistos e o vento tornou-se constante, aumentando as vagas. O Zé Carlos Garcia começou a dar sinais de impaciência. Passados mais uns vinte minutos, os polvos estavam a bordo, sendo dois deles bastante grandes, na casa dos 10kgs cada um. Um deles tinha ao lado um pampo, que de tão enregelado que estava, nem ofereceu resistência e foi capturado dentro do buraco, à mão. Faltava o safio. Uma baixada, um tiro, mas em posição muito ruim. Tentei puxar de imediato, mas o melhor que consegui foi fazê-lo entender ao que ia. Entalou-se ainda mais. Estava ali um bico-de-obra. Mais pressão e certamente a barbela iria abrir. Voltei ao barco para dobrar o tiro com outra arma. O espaço disponível para atirar com uma arma comprida era miserável, e o melhor

que consegui foi colocar um arpão ao lado do outro. Ainda assim, a segurança era bem maior. Puxar e puxar, um esforço medonho e poucos resultados. Sabia que o safio iria ceder, mas não sabia quando. O mar continuava a subir, e as condições cada vez piores. Descida após descida, sentia que estava quase. Num arreganho de vontade, coloquei um pé de cada lado do buraco, as duas mãos a agarrar firmemente os arpões, força com as pernas, e ei-lo, a saltar do buraco como uma rolha de garrafa de champagne. Convencer o Zé Paciênci a entrar na água fria Finalmente podia ir buscar o Zé Paciência. Arrumado que foi o barco, as caixas cheias de polvos e com um safio de 18 quilos, chegámos à praia. O problema era muito pior do que imaginava. As ondas rebentavam fora, e estáva-


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Quadro de polvos à antiga: média de 6/8 kgs por polvo. mos a mais de 100 metros da praia. Impossível fazer o barco aproximar-se mais da costa. Analisadas as condições, resolvi inventar um plano alternativo: _Zé Carlos, vais ter de fazer aqui uma manobra que não vem nos cursos de Patrão Local. Desatamos a âncora e vamos utilizar esse cabo, que tem 150 metros. A ideia é eu levar a bóia de salvamento amarrada ao cabo, ir à praia, entregar a bóia, preparar o moço, e trazer a roupa dele novamente dentro do saco, através da rebentação. Quando ele estiver pronto, eu levanto o braço e tu fazes marcha atrás devagar, para o ajudares a passar as ondas da praia. Entendeste?! _ Para me ir embora daqui, eu entendo tudo. Fica descansado…. Convencer o Zé Paciência a entrar na água fria foi coisa de mais uns quantos 50

minutos. As ondas rebentavam acima da cabeça dele, e só por milagre foi possível fazê-lo acreditar que o plano podia resultar. Lentamente, despiu-se novamente e passou a bóia pela cintura. Benzeu-se duas vezes. Tínhamos à nossa frente ondas de 2,5 a 3 metros. Ainda com água rasa, pelos joelhos, levantei o braço para o barco. Ainda nem sequer tínhamos começado a sua execução e percebi imediatamente que o plano já tinha falhado por completo. A 100 metros de distância, o Zé Carlos meteu a marcha atrás na máxima força. O corpinho gordo e almofadado do Zé Paciência rodopiou no ar e aí vai ele, atravessado, preso pela cintura. Rebocado pelo barco, apenas teve tempo para emitir um enorme grito de aflição. No espaço de poucos segundos desapareceu nas águas, que o cobriram. Com o saco

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plástico das roupas, metime à rebentação para tentar ajudá-lo, mas as paredes de água eram de tal forma que isso não passou de uma breve e fugaz intenção. Quando não estava submerso pelas ondas eu tentava perceber onde poderia estar o meu companheiro. Nada. Nem sinal, no meio de toda aquela espuma. Deixei de ver o barco, deixei de ver terra, apenas tentava manter-me à superfície, sem largar o saco. Adivinhava o pobre do moço a bater de onda em onda, a não conseguir respirar, preso ao cabo da bóia, numa agonia sem fim. Passados minutos que me pareceram uma eternidade, consegui passar a barreira de ondas. Na cava da onda não via nada, mas enchendo bem o peito de ar, no topo das cristas, conseguia ver ao longe o barco, e o Garcia a recuar, sempre a olhar apara trás. Levantei os braços

para o fazer parar, mas nem olhava para a frente, apenas concentrava a sua atenção em algo que estava na retaguarda. Mais um esforço e consegui aproximar-me. O cabo da âncora estava pendido para o fundo e balançava ao sabor das ondas. Temi o pior. Dei a volta ao barco e foi então que vi o pobre do Zé Paciência agarrado por uma mão à pega lateral. Estava vivo. Rapidamente consegui subir para o Stress VI, descalçar as barbatanas, e daí, com um esforço titânico, levantei em peso o meu desafortunado colega. Ficou inerte no fundo do barco. O corpo enregelado não mexia, a boca estava paralisada, e os olhos fechados. Mas respirava. Aos poucos, senti-o retornar à vida. Tão depressa quanto possível, esfregámo-lo com uma


Pesca Desportiva

toalha seca. Foi vestido com o mesmo jeito e zelo com que se veste um defunto, tentando enfiar as mangas sem lhe partir os dedos. Reparei que toda a pele dos flancos tinha saltado. A bóia de salvamento (!?) estava muito justa, e com a força das ondas a empurrar para o lado de terra, o barco a puxar para fora, ficou logo abaixo das axilas, entalada. Uma larga faixa de pele ficou agarrada ao plástico rijo da bóia. Mal conseguia respirar. Não falava. Não tínhamos nada quente para lhe dar, pelo que me lembrei de o fazer beber umas goladas de água quente do jacto do motor. Enrolei-lhe a minha roupa à volta do pescoço e da cabeça, já que seria impossível vestir-lha. O Zé era gordo, mas gordo a valer. De regresso, dei gás ao barco dentro do possível, mas o mar encapelado não permitia grandes desenvolturas. A espaços faltava água debaixo do barco, que saltava de vaga em vaga. O nosso náufrago, deitado no chão, desamparado, batia com a cabeça nas caixas, e não reagia. À medida que nos aproximámos começou a acalmar, e permitiu uma navegação mais confortável. Aos poucos, senti-o retornar à vida. Levantou a cabeça, dorido. Melhorou imenso quando lhe disse que estávamos a voltar a Setúbal, e que já faltava pouco. Quando chegámos ao Clube Naval, a ânsia de se ver em terra era tanta que ainda a dois metros da escada lançou-se para a frente, em desespero. As mãos firmaram-se como tenazes sobre os varões da escada. Não caiu à água por milagre, já que os degraus de inox são lisos, e têm sempre alguns limos verdes. Subiu a escadas rapidamente e desapareceu a correr,

sem mais uma palavra. Quando vínhamos a caminho de casa, perguntei ao Zé Garcia por que razão não tinha feito a manobra mais lenta, com mais cuidado. Respondeu-me: _ A ideia era despachar o serviço, o moço estava em pêlo, dentro de água fria, e por isso quanto mais depressa o sacasse dali melhor.

_ Sim, mas podias ter acabado com o rapaz. Ele vai num estado que nem acredito que volte a entrar num barco mais vez nenhuma na vida… .e já agora, porque é que ias sempre a olhar para trás?! _ Vitor, tu sabes que a vida custa a todos e a mim ainda mais. Estavam a entrar vagas de água dentro do barco, e eu tenho sapa-

tos com sola de cabedal. Tenho as meias pingando. Ora já se sabe que se estou com essa preocupação de não estragar o calçado, tenho lá tempo para ver o Paciência e o que se passa à frente do barco. Eu não me posso estar a meter em despesas e queira Deus não tenha de mandar pôr umas meias solas à conta disto….

Muita luta subaquática, muita força para convencer a vir para cima. 2019 Janeiro 385

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Notícias GO Fishing

Novos produtos GO Fishing O Egging, ou pesca de chocos, lulas e polvos, é algo que tem vindo a sofrer um enorme incremento ao longo dos últimos anos.

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possibilidade de pesca em caiaque, a existência de um stock significativo de cefalópodes, o facto de se tratar de uma pesca fácil e divertida, faz com que esta modalidade seja cada vez mais praticada pelos pescadores nacionais. A GO Fishing, a exemplo de muitas outras inovações lançadas no nosso país, resolveu importar do Japão o melhor equipamento, o topo de gama das amostras nipónicas. Apenas nos interessa ter o melhor em stock, e o melhor, neste momento, é isto. Já disponível na nossa loja em Almada, ou à venda na nossa loja online em: store.gofishing.pt 52

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Surf

Campeonato Nacional de Surf Esperanças

Campeonato fecha com chave de ouro no Cabedelo

Francisca Veselko campeã nacional sub 16 e Mafalda Lopes campeã nacional sub 18 Mafalda Lopes e Francisca Veselko sagraram-se campeãs nacionais de 2018, em Sub 18 e em Sub 16 respetivamente, no passado dia 6 de janeiro na praia do Cabedelo, em Viana do Castelo, onde se realizou a Finalíssima destas categorias do Campeonato Nacional de Surf Esperanças.

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stavam “Condições excelentes”, “altas ondas” e

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“grande nível competitivo” o que caracterizou esta prova, que havia sido adiada em

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agosto de 2018, e que contou com a organização do Surf Clube de Viana (SCV)

e da Federação Portuguesa de Surf (FPS). Mafalda Lopes sagrou-se


Surf

campeã nacional de Sub 18, seguida por Francisca Veselko, e por Carolina Santos e Matilde Passarinho. “O meu objetivo, desde o início, era ser campeã nacional. Estou contente! As condições estavam boas. Deu para fazermos o nosso surf e para nos divertirmos. O nível estava alto. Não foi fácil, mas dei sempre o meu melhor”, referiu Mafalda Lopes. Francisca Veselko conquistou o título de campeã nacional de Sub 16, à frente de Carolina Santos, e de Beatriz Carvalho e Concha Balsemão. “Estou super feliz! Trabalhei o ano todo para ser campeã nacional. Também gostava de ter conquistado o título de Sub 18 pela primeira vez, mas já estava muito cansada…”, avançou Francisca Veselko,

tendo também considerado que, “hoje, tivemos altas ondas, as ondas perfeitas para demonstrarmos o nosso surf e termos uma

boa Finalíssima”. Raquel Otero, atleta da casa, perante prestações muito consistentes das adversárias, terminou em 7º

lugar em Sub 16. “Devido ao intenso calendário da FPS quase todas as datas estão ocupadas ao longo do ano.

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Surf

Apesar de ter sido complicado para o SCV gerir as expetativas até nova data para a Finalíssima, compensou, pois as ondas estiveram incríveis e a prova foi muito bem disputada”, avançou João Aranha, presidente da FPS. SCV vai organizar o 1º Campeonato da Europa de Surf Adaptado O SCV vai organizar, entre 20 e 26 de maio próximo, o EUROSURF Adaptive 2019, contribuindo para a afirmação de Viana do Castelo e 58

de Portugal como destinos de eleição de surf adaptado e para que a modalidade seja considerada paralímpica, a curto prazo. A assinatura do contrato para a realização do Campeonato da Europa de Surf Adaptado, entre a Federação Europeia de Surf, a FPS, a Câmara Municipal de Viana do Castelo (CMCV) e o SCV, aconteceu ontem, no Centro de Alto Rendimento de Surf de Viana (CAR Surf). João Aranha considera que “a realização desta primeira competição de seleções europeias será

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um momento histórico para Portugal, para a Europa e para a modalidade”, aproveitando também para agradecer à CMVC “o apoio incrível que tem dado ao surf adaptado”. “Esta iniciativa pioneira na área do desporto é uma oportunidade para o município se afirmar como destino nos desportos adaptados. Para nós é um orgulho e, em simultâneo, um desafio”, explicou José Maria Costa, presidente da CMVC, avançando que, “este campeonato é também uma homenagem à Marta Paço, um contri-

buto para que Viana do Castelo seja um concelho inclusivo”. Para Vítor Dias, Diretor Regional do Instituto Português do Desporto e da Juventude, “este 1º Campeonato de Surf Adaptado é o resultado do magnífico trabalho que está a ser feito em Viana do Castelo, quer pelo SCV quer pela Câmara Municipal, que tudo têm feito para que o desporto seja mais inclusivo”. A candidatura, realizada com o apoio da Fundação do Desporto e da Santa Casa da Misericórdia de


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Lisboa, beneficiou, sobretudo, da experiência do SCV na organização de eventos da modalidade, numa história que se começou a escrever, de forma mais evidente, a partir de 2016. “À experiência acumulada, junta-se o facto de termos uma atleta que, recentemente, conquistou uma medalha de bronze, no ISA World Adptative Surfing Championship,

na Califórnia, bem como as excelentes condições logísticas do CAR Surf de Viana, as condições naturais da praia do Cabedelo e ainda as infraestruturas turísticas de apoio existentes”, refere João Zamith, presidente do SCV. “A organização do primeiro Campeonato da Europa de Surf Adaptado representa um grande desafio para o clube. Que-

remos que seja exemplar e que contribua para que Viana do Castelo seja um destino de surf adaptado friendly, para que o CAR Surf seja um centro único de treino e de preparação de seleções e para que Portugal tenha uma resposta efetiva para a modalidade. Será um ponto marcante deste ano, no qual o SCV comemora o seu 30º aniversário”, acrescentou.

SCV vai organizar o 1º Campeonato da Europa de Surf Adaptado 2019 Janeiro 385

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Notícias do Mar

Últimas Notícias do Clube Naval de Cascais

Largou a Cascais Dragon Winter Series

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José Cancella de Abreu com a tripulação vencedora, Miguel Magalhães, José Magalhães e Diogo Machado Pinto

oi dada a largada 2018-2019 para mais uma Cascais Dragon Winter Series, um das provas mais importantes do calendário de regatas do Clube e da classe Dragão. Composta por seis etapas em cinco series e o Troféu do Rei, as Winter Series da Classe Dragão prometem aquecer o inverno dos Dragonistas. A21ª Série do evento foi realizada neste fim-de-semana e reuniu quatro tripulações que durante os dois dias de prova disputaram quatro regatas. No Sábado, primeiro dia de prova, com o vento a soprar do quadrante NW e com 13 nós de intensidade,

foi possível realizar quatro regatas. Ao final do dia a tripulação do “Peggy”, de Miguel Magalhães, José Magalhães e Diogo Machado Pinto liderava a tabela de classificação. O Domingo amanheceu

com sol, vento muito fraco, pelo que não foi possível realizar nenhuma regata, confirmando a equipa do “Peggy”, de Miguel Magalhães, José Magalhães e Diogo Machado Pinto no 1º lugar. Em 2º lugar ficou a equi-

pa do “Whisper” de Mário Quina, Fernando Passeiro e Raul Bulhão Pato , e, em 3º lugar, a Equipa do “Catarina III”, de Manuel Rocha, José Bello, Manuel Charola e Filipe Loureiro

Director: Antero dos Santos – mar.antero@gmail.com Director Comercial: João Carlos Reis - noticiasdomar@media4u.pt Colaboração: Carlos Salgado, Gustavo Bahia, Hugo Silva, José Tourais, José de Sousa, João Rocha, João Zamith, Mundo da Pesca, Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas, Federação Portuguesa de Motonáutica, Federação Portuguesa de Pesca Desportiva do Alto Mar, Federação Portuguesa Surf, Federação Portuguesa de Vela, Associação Nacional de Surfistas, Big Game Club de Portugal, Club Naval da Horta, Jet Ski Clube de Portugal, Surf Clube de Viana, Associação Portuguesa de WindSurfing Administração, Redação: Tlm: 91 964 28 00 - noticias.mar@gmail.com

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