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ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI 52 Hack4Moz, 2.ª edição
especial inovações daqui
50 HACK4MOZ
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Evento realizado pela Agência Nacional de Desenvolvimento Geo-Espacial, em parceria com a Tmcel e o BCI, desafiou programadores nacionais a desenvolverem soluções tecnológicas para responderem aos desafios reais da sociedade nas áras da Saúde e Educação, entre outras
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DJAMPA STARTUP HUB
Uma Ferramenta que Facilita a Assistência Empresarial e Assegura o Sucesso dos Negócios
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PANORAMA
As Notícias da Inovação em Moçambique, África e no Mundo
Olhar os Problemas de Hoje Programando as Soluções do Futuro
Num mundo cada vez mais digital, em que os desafios do desenvolvimento são, cada vez mais, indissociávels da evolução tecnológica, iniciativas como a Hack4Moz, uma maratona de programação realizada pela ADEA, em parceria com a UN Habitat, a Tmcel e o BCI, fazem uso da vontade de jovens talentos da programação para ‘reescreverem’ (em código) o presente, encontrando assim soluções inovadoras para resolver alguns dos problemas do País em áreas como a saúde, educação, mobilidade e energia.
TEXTO Nário Sixpene • FOTOGRAFIA Mariano Silva
OO desenvolvimento encontrou, nos últimos anos, e especialmente em África, um forte aliado: a tecnologia e as suas infindáveis possibilidades.
E os sinais desta tendência têm sido demostrados, ao longo dos últimos anos, em iniciativas que vão sendo colocadas em prática por jovens movidos pela paixão pela tecnologia com o fito de resolver problemas do dia-a-dia com que milhões de africanos se deparam por via da criação de soluções inovadoras.
Hackathon: criação em tempo real (acelerado)
Uma Hackathon é uma maratona de programação, que pode durar entre 24
Focamos muito nas soluções tecnológicas para problemas de desenvolvimento e os que foram levantados são os que estão alinhados os compromissos do Governo na Agenda 2030
horas a dois ou três dias, num termo que resulta da combinação das palavras inglesas “hack” (programar de forma excepcional) e “marathon” (maratona). Nestes eventos, os participantes têm a oportunidade de criar ideias, colocá-las em funcionamento através da programação, com o intuito de concorrer a prémios, conhecer outros profissionais da área, fazer networking ou participar de um projecto colaborativo num ambiente específico de programação. O que faz um evento como este ser um sucesso é o desafio e uma espécie de magia intangível que ocorre sempre que um grupo de pessoas focadas num único objectivo se juntam para atingir uma finalidade específica. Por fim, fazem um pitch perante um júri e apresentam as suas ideias vencedoras. Claro que nem todas o são, e aqui entra, de facto, o mais essencial dos aspectos: tem de ser uma boa ideia.
Os méritos do processo hackathon são já mais do que assumidos pela indústria tecnológica e não faltam eventos do género levados a cabo por empresas que todos conhecemos. É o caso da Netflix que realiza vários ‘hack day’ ao longo do ano com o objectivo de criar novos caminhos para o seu serviço; o Facebook (quem não recorda a ‘maratona ca-
seira’ de Zuckerberg para criar a rede social, tão bem ilustrada no filme de 2010 de David Fincher) e que já tem, no seu serviço, ideias ‘inventadas’ em hackathons passadas, como é o caso da timeline que surgiu, precisamente, numa jornada de programação promovida pela gigante tecnológica; e a própria Microsoft que, anualmente, desde 2014, realiza a sua One Week, que já chegou a juntar mais de 23 mil funcionários e parceiros na busca de soluções disruptivas para a empresa (e, posteriormente, para

o mundo). Depois, há casos de grandes negócios que surgiram em competições de programação acelerada. É o caso da GroupMe, uma app de mensagens de texto, que foi prototipada durante a feira TechCrunch Disrupt, em 2010, e que recebeu mais de dez milhões de dólares de investimento, tendo sido depois foi comprada pela Microsoft e integrada na família Skype, gerando, até hoje, mais de 80 milhões de dólares de volume de negócio.
Outra app famosa nascida numa hackathon é a EasyTaxi, uma espécie de uber brasileiro, que nasceu inicialmente como aplicativo para monitoramento de autocarros, mas que se tornou no projecto vencedor do Startup Weekend Rio em 2011. A dupla de criadores conquistou investidores, a app chegou a mais de 30 países e 420 cidades, e foi vendida por muitos milhões de dólares.
São apenas dois exemplos de como uma boa ideia pode, literalmente, impactar nas vidas de quem as recria e, obviamente, na dos utilizadores. E neste despertar de toda uma nova geração de pesquisadores tecnológicos, na necessidade de união de esforços, na partilha de conhecimento e intercâmbio em busca de respostas para a resolução dos problemas concretos do dia-a-dia das pessoas, individualmente, e de toda a sociedade.
Como funciona?
E porque mentes e iniciativas brilhantes não devem passar ao lado das entidades que detêm o poder de as catapultar, a Agência Nacional de Desenvolvimento Geo-Espacial, com o apoio da operadora de telefonia móvel tMcel e o Banco Comercial e de Investimentos (BCI), organizaram a segunda edição do Hack4Moz nos dias 1, 2 e 3 de Julho, no auditório do banco, em Maputo.
Neste encontro, programadores, estudantes de engenharia informática (na sua maioria) e alguns, vários, autodidactas com paixão pela programação, organizados em diversos grupos (no total eram mais de 100 os jovens programadores), foram desafiados a criar soluções inovadoras focadas nas áreas de energias renováveis, saúde, educação e mobilidade urbana, devidamente acompanhados por ‘mentores’ da UN Habitat e das empresas parceiras, que com eles foram trabalhando para “organizar as ideias” e encontrar os melhores caminhos para as apresentar, no pitch final, que ocorreria no domingo à tarde. A atmosfera era a expectável num evento do género. Bem, talvez se nos lembrássemos de alguns filmes que retratam mo-

Na sua segunda edição (a primeira realizou-se em 2019), a Hack4Moz contou com mais de uma centena de estudantes de engenharia informática, programadores e autodidactas, que vão poder beneficiar de estágios profissionais e entrar no mercado de trabalho
mentos do género, faltassem as latas de red bull e o fumo no ar. Mas o foco absoluto estava lá e, era de tal forma que (presenciámo-lo), várias refeições foram esquecidas.
Tudo em nome da programação, algo que consome o tempo, de forma voraz. E tempo é algo precioso neste tipo de acontecimentos, até porque o fito passa por, em pouco menos de três dias (entre a tarde de sexta-feira e domingo) apresentar uma solução digital (de preferência já a funcionar) para um problema real.
A E&M conversou com alguns responsáveis do programa, nomeadamente a Agência Nacional de Desenvolvimento Geo-Espacial (ADEA), um instituto público criado há dois anos, que tem o mandato de fazer uso de informação com referências geo-localizadas e, de acordo com Marlene Mendes Manave, que responde pela área de desenvolvimento de negócios e relações institucionais, “o objectivo do evento é promover o desenvolvimento deste ecossistema a fim de, com os dados que a nossa plataforma já disponibiliza, ajudá-los a encontrar soluções tecnológicas para alguns desafios fundamentais da nossa sociedade”.
Já Alexandra Antunes, em representação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – que oferece assistência técnica à ADEA – refere que “o hackathon revela como a tecnológica pode ser absolutamente determinante para enfrentar os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável, compromissos assumidos pelo Governo no âm-

bito da agenda 2030, e que incidem em vários pontos, alguns dos quais foram seleccionados para ser abordados neste evento (saúde, educação, mobilidade urbana e energias renováveis”.
Soluções disruptivas
Do lado dos developers, só houve tempo e disponibilidade para conversar no domingo, quando os projectos já estavam prontos a ser apresentados ao júri que os iria avaliar, naquela que era, por si só, uma verdadeira maratona em tempo recorde de três minutos por pitch.
Rafael Alexandre, programador que participou pela segunda vez nesta iniciativa, explica que esta “apresenta temas que realmente preocupam a nossa sociedade”, convencido de que as habilidades de programação que possui “irão ajudar a solucionar os problemas do País e a mudar o mundo”.
Se há traços identitários que podem ajudar a caracterizar este tipo de evento, sonhar alto é, sem dúvida, um dos mais destacados. Rafael propôs-se criar uma solução na área da saúde que se chama “Hinkweno”, em tsonga (uma das línguas mais faladas no Sul do País) e que significa “todos”. “Segundo a UNICEF, a vacinação cobre apenas 9% das crianças no meio rural”, explicou.
“Como nestas zonas há um grande fluxo de telefones de baixa tecnologia, então desenvolvemos um aplicativo que funciona com base no USSD (gateway que não necessita de net, funcionando apenas para quem tem um telefone ligado a uma operadora móvel), que vai dar informação de acesso à informação sobre as campanhas de vacinação, onde se podem dirigir para o fazer e quando”, complementa.
Tal como Alexandre, Jone Bulande, estudante e autodidacta na área da programação, tem-se debruçado sobre a linguagem de código poder fazer face às necessidades reais que as pessoas enfrentam, a começar pela experiência dele mesmo. “Quando estava no ensino secundário, tive dificuldades em encontrar exames na Internet como forma de me preparar. Então, tendo alguns conhecimentos de programação, pensei em criar uma plataforma que vai sanar esse problema, e criei o “Marrar” (que significa estudar, numa linguagem mais informal), e que agrega informação útil aos alunos e exames resolvidos apresentados em anos anteriores que os auxilie na sua preparação”, esclareceu.
Cíntia Natália, de 21 anos, e estudante do curso de engenharia em tecnologias e sistemas de informação na Universidade Joaquim Chissano, destacava-se por ser uma das poucas raparigas ali presentes. Mesmo assim, em maior número do que seria expectável há alguns anos, numa área que foi sendo tomada pelos rapazes, mas onde as raparigas começam a surgir em força. “Estou a
desenvolver um protótipo para criar um mapa digital capaz de ilustrar as áreas que tenham sido cobertas pelas campanhas públicas de vacinação”, explicou, referindo-se, em seguida, ao contributo que esta solução oferece na avaliação das necessidades, sucesso ou insucesso das campanhas.
O Hack4Moz culminou com a premiação dos melhores projectos desenvolvidos ao longo dos três dias. Das 21 equipas participantes, quatro receberam 50 mil meticais cada. Outras quatro receberam menções honrosas. No mesmo contexto, o BCI disponibilizou três vagas de estágio remunerado para as equipas vencedoras.
Só dentro de alguns anos saberemos o impacto (para todos nós e para estes jovens developers) de algumas das ideias que, naquele fim-de-semana, ali foram apresentadas. Mas na memória, para já, fica a vontade de escrever (em código) direito pelas linhas tortas do dia-a-dia que eles tanto querem mudar.
Programadores e estudantes de programação foram desafiados a criar soluções tecnológicas para as áreas de educação, saúde, energias renováveis e mobilidade urbana num período de três dias
DJAMPA STARTUP HUB Um 'Jump' Para o Sucesso dos Negócios

Geralmente, os empreendedores em Moçambique iniciam os seus negócios com pouco conhecimento sobre empreendedorismo, o que ocasiona perdas na fase inicial. A Djampa Startup Hub touxe a solução para o mercado, através de um programa de incubação e aceleração das Micro, Pequenas e Médias Empresas
TEXTO Nário Sixpence • FOTOGRAFIA Mariano Silva
Grande parte das empresas moçambicanas declaram falência logo nos primeiros anos após iniciarem as operações.
Há razões de diversa ordem para a ocorrência deste fenómeno, mas as que têm sido apontadas pelas organizações que respondem pelo sector, como o Instituto para a Promoção das PME (IPEME), têm que ver com a falta de domínio das boas práticas de gestão. A Cowork Lab viu, neste problema, uma oportunidade e desenhou um programa de incusão financiados pela União Europeia e o restante é financiado pela Cowork Lab e outros parceiros.
Como funciona? Com dez centros de incubação distribuídos por todas as províncias do País, excepto Inhambane, o projecto conta com 16 formadores que estão disponíveis para prestar assistência às MPME.
“Nós temos aqui o projecto que tem várias componentes e que tocam esses aspectos de aceleração e incubação. Quando falamos de incubação, estamos a falar de um aspecto geral das empre-
bação e aceleração das Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME), em que a prioridade é dar-lhes a oportunidade de desenvolver as suas ideias de negócios com um acompanhamento que lhes permita obter resultados satisfatórios.
Para isso criou uma ferramenta designada por Djampa Startup Hub, que tem como foco não só a promoção do auto-emprego, como criar empregos sustentáveis. O projecto tem um orçamento total de cerca de 800 mil euros (50,6 milhões de meticais), sendo que destes, 750 mil euros (47,5 milhões de meticais)

B
PROJECTO
Djampa Startup Hub
ÁREA
Consultoria
CRIAÇÃO
2022
GESTOR DO PROJECTO
Dércio Sitoe

sas, no sentido de ajudar empreendedores a tornarem os seus negócios viáveis economicamente. Para isso prestamos apoio, que conta com centros de incubação distribuídos pelo País “, explicou Pedro Ferreira, director-geral da Cowork Lab.
Dércio Sitoe, gestor do projecto Djampa, explicou, igualmente, que “a componente de aceleração prioriza, neste momento, startups que têm melhor capacidade financeira, no sentido de que têm uma base de negócio que não requer muito esforço financeiro, permitindo que se tornem melhores no mercado e que possam também expandir o fornecimento de serviços ou produtos”. O projecto tem em vista também garantir a identificação de potenciais financiadores para as empresas que vão ser aceleradas, bem como a possibilidade de interacção com outros intervenientes do ecossistema de empreendedorismo.
Espera-se que, no fim do projecto, as três empresas que forem identificadas como as melhores do ponto de vista do processo de aceleração e aptidão para financiamento participem num concurso internacional, designado Get In The Ring, organizado pelo Unknown Group. A Djampa Start-Up espera impactar três mil empresas no processo de incubação e durante o projecto que vai até 2024 e projecta acelerar 60 negócios.
O processo de registo para aceder às incubadoras é pelo site Cowork Lab, que contém um tag do Djampa, e que permite aceder a toda a informação sobre as componentes do projecto, nomeadamente a incubação, e-learning e aceleração

FinTech
Estabelecida a interoperabilidade das instituições de moeda electrónica do País
As operações entre clientes dos serviços financeiros mkesh, m-pesa e e-Mola passam a estar interligados entre si e à rede bancária SIMO (Sociedade Interbancária de Moçambique), possibilitando assim que os clientes das três instituições de moeda electrónica possam transferir e receber dinheiro entre si de forma cómoda e segura.
Este processo assinala uma etapa fundamental no processo das transacções financeiras. Antes desta possibilidade, os utilizadores não podiam enviar dinheiro para números de outra operadora, nem receber o que reduzia as possibilidades de inclusão financeira.
Com esta inovação, que se enquadra na Estratégia Nacional de Inclusão Financeira 2016-2022, reduz-se a distância e o tempo de espera nos balcões bancários e estende-se o acesso aos serviços financeiros pela maioria da população moçambicana, que não tem uma agência bancária próxima.
Saúde
Estudo pondera usar larvas para combater a malária em Moçambique
Uma pesquisa está a usar larvas de mosquito para estudar a resistência aos insecticidas usados contra a malária na província de Gaza, Sul de Moçambique. O estudo consiste na colheita de larvas de mosquito nos postos sentinela estabelecidos pelo Programa Nacional do Controlo da Malária e no crescimento das mesmas no insectário de Xai-Xai, até à sua fase adulta, antes de serem submetidas a vários testes de susceptibilidade, refere um comunicado divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das entidades envolvidas na pesquisa. O documento acrescenta que a pesquisa é parte do projecto AFRO II para prevenção e controlo de doenças, que arrancou em 2018 e termina em Dezembro próximo.
Os resultados dos testes de susceptibilidade servirão para ajudar o Programa Nacional de Combate à Malária na tomada de decisão sobre a selecção do insecticida a ser usado na pulverização intradomiciliária e no tipo de redes mosquiteiras a usar. Segundo dados da OMS de Dezembro de 2021, Moçambique é um dos seis países de África que concentra mais de metade de todos os casos de malária no mundo.
Transportes
Lançada a plataforma electrónica que reduz índices de corrupção na via pública

A referida plataforma é designada por “Chatbot Código de Estrada” e foi lançada pelo Centro de Integridade Pública (CIP). Vai permitir que os automobilistas e o público em geral, incluindo os agentes de polícia de trânsito, possam, através do telemóvel, consultar facilmente o Código de Estrada, bem como “contravenções de que os automobilistas possam ser acusados”, declarou o CIP, em comunicado divulgado na sua página de Internet.
O dispositivo trará vários benefícios aos utentes, com destaque para a redução dos focos de corrupção nas estradas, perpetrados por agentes da Polícia de Trânsito e outros.
A plataforma vai permitir, igualmente, aos automobilistas consultar de imediato o valor real a pagar em caso de multas e outras irregularidades quando interpelados pelas autoridades.
Inovação
Sul-africano cria Parket, um software de gestão de parques de estacionamento
Fundada por Joshua Raphael, a Parket fornece uma plataforma intuitiva de gestão de software que interage com a tecnologia de acesso impulsionada por IoT (Internet of Things), e uma aplicação que permite aos senhorios empresariais atribuir lugares de estacionamento sem a necessidade de folhas de cálculo, diários de bordo ou etiquetas de acesso.
As entradas e saídas para as instalações estão equipadas com o Leitor de Placas de Licença de Parket activado por IoT e scanner de código QR para acesso de visitantes. Além disso, os senhorios têm uma visão, em tempo real, da ocupação das baías e, juntamente com a inteligência de dados que a plataforma fornece, são capazes de comercializar baías não utilizadas, listando-as na aplicação móvel da Parket, criando assim um novo fluxo de receitas.
A Parket App ajuda os motoristas a procurar, encontrar, reservar e pagar pelo estacionamento a partir dos seus smartphones. Antes da viagem, os utilizadores da aplicação podem reservar previamente o estacionamento diário ou mensal e, à chegada, conduzir simplesmente até à rampa e ganhar a entrada.
