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OPINIÃO
Ricardo Velho • Business Unit Manager na InSite Consulting
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Gestão da Inovação vs Competitividade
Um dos conceitos de competitividade com o qual mais me identifico é: “A competitividade de um país ou empresa depende da sua capacidade para colocar no mercado produtos e serviços que atendam aos padrões de qualidade dos mercados locais e mundiais a preços competitivos e que proporcionam rendimentos face aos recursos utilizados ou consumidos na sua produção.” (1)
Embora o conceito possa parecer simples, não é. Ser competitivo hoje, ao ritmo a que o mundo cada vez com menos fronteiras tem evoluído, faz com que tenhamos de estar constantemente atentos ao nosso contexto interno e externo e tenhamos de estar continuamente a inovar.
A nossa incapacidade, como empresas, para antecipar ou reagir de forma preparada e eficaz às mudanças e necessidades do novo contexto demonstra a nossa falta de competitividade e, consequentemente, condiciona a nossa existência. Este é, em última análise, o custo de não inovar.
Podemos, pois, concordar que um dos factores que influenciam a competitividade das empresas é a sua capacidade em inovar. Entendendo-se por inovação a “entidade (produto, serviço, processo, modelo, método) nova ou alterada que realiza ou redistribui valor” (3); ou, segundo Peter Drucker, o meio pelo qual o empreendedor cria novos recursos produtores de riqueza ou dota recursos existentes com maior potencial para a criação de riqueza.
Existe ainda uma ampla discussão sobre se devemos deixar a inovação acontecer de forma espontânea, ou se devemos criar condições para que aconteça em condições que a estimulem, de forma organizada, planeada e estruturada. Há quem defenda que ter processos para a inovação compromete a criatividade. Mas, por outro lado, de que nos serve ser criativos se não conseguirmos, de forma sistemática e eficaz, transformar a ideia em valor?
Num inquérito sobre inovação, 84% dos executivos, a nível global, afirmaram que é extremamente importante, mas 94% estavam insatisfeitos com o seu desempenho inovador. (2)
Perante tais resultados, podemos questionar: o que estará a condicionar o desempenho das organizações em termos de inovação? Muito provavelmente a abordagem.
Considero que a inovação deve fazer parte da estratégia das organizações. Como tal, deve ser gerida como um sistema e devem ser criadas as condições para que aconteça de forma estruturada, consistente e contínua.
Ao contrário do que acontece em muitas organizações, que atribuem a responsabilidade pela inovação apenas ao Departamento de I&D (Inovação & Desenvolvimento), a inovação deve ser assumida de forma transversal por toda a organização. Deve observar a interacção contínua de todas as suas áreas do saber, sectores e processos, incluindo da área técnica, de desenvolvimento do negócio, de marketing, da área legal e financeira, entre outras.
Nesta abordagem, a inovação é o resultado da interacção multidisciplinar e do conhecimento acumulado sobre e pela organização. Este conhecimento deve considerar a informação sobre o mercado, o feedback dos clientes e as lições apreendidas sobre a experiência da empresa em projectos anteriores (incluindo os aspectos positivos, mas, também, o que correu menos bem) e analisar a existência de oportunidades que possam ser transformadas em inovações.

A capacidade de inovar é um dos ingredientes mais importantes para a competitividade das empresas
Adicionalmente, pode e deve-se, também, procurar informação e inspiração nas partes interessadas, tais como Universidades, Laboratórios, Institutos, outras empresas, Indústrias, Negócios, Serviços; Institutos Públicos, Peritos Técnicos, Consultores, Peritos de Normalização e Avaliação de Conformidade, Associações Comerciais, Empresariais e Industriais.
Finalmente, o processo de Inovação deve ter em conta a incerteza sobre o grau em que os resultados esperados serão alcançados e a medida em que os clientes irão aceitar o produto de acordo com as previsões, permitindo que se consiga obter o retorno do investimento realizado conforme previsto. Ao falarmos da incerteza, estamos automaticamente a falar do risco. Logo, o risco associado à inovação deve ser considerado e é de suma importância na gestão do projecto.
Acredito que quem está familiarizado com a abordagem dos sistemas de gestão já esteja a juntar as peças e a imaginar o que vem a seguir. Efectivamente, para que todos os factores relevantes sejam considerados de forma integrada e sistemática, a inovação deverá ser gerida como um sistema dentro da organização, sendo essa a abordagem, por exemplo, da Norma ISO 56002.
O sistema tem como objectivo possibilitar a interacção e a inter-relação dos elementos e actividades, que permitem às organizações desenvolverem e melhorarem as suas capacidades de inovar de modo formal, sistemático e planeado. A adopção de um sistema de gestão da inovação permitirá, pois, definir, planear e executar as ideias para transformá-las em inovações.
A organização poderá adoptar uma forma disciplinada de combinar a liberdade e a criatividade com o formalismo necessário para gerir os riscos, o investimento e a implementação de projectos. A operacionalização das actividades de inovação, com monitorização sustentada e mensurada, conduzirá à melhoria contínua (4) .
Finalmente, a transformação de oportunidades em valor é uma das condições, talvez das mais importantes, para sermos competitivos e valorizados e para nos distinguirmos da concorrência. Quando devidamente implementado, este sistema gera conhecimento que, por sua vez, permite reunir as condições para criar ou reconhecer as oportunidades e as transformar em valor de forma consistente, contínua e eficiente. Logo, podemos concordar que este sistema possibilita a que as organizações se tornem mais competitivas e valorizadas, potenciando o posicionamento das empresas e das suas marcas na vanguarda dos mercados.
Como disse Raymond Turner “Only one can be the cheapest; everyone else has to innovate”.
(1) www.dgae.gov.pt (2) www.mckinsey.com (3,4) ISO 56000 – Gestão da Inovação – Fundamentos e Conceitos
