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OPINIÃO

A Inflação Global

Wilson Tomaz • Analista do departamento de Research do Banco Big Moçambique

aeconomia mundial entrou numa recessão histórica na primeira metade de 2020, em resultado dos impactos da pandemia do covid-19. A nível mundial, os Governos foram forçados a adoptar medidas para o controlo da proliferação da pandemia, nomeadamente através de confinamentos, medidas de distanciamento social e restrições na mobilidade de pessoas e bens, o que resultou numa contracção da actividade económica, que foi de uma magnitude e velocidade sem precedentes. A nível dos mercados de commodities, assistiu-se a uma queda acentuada e transversal dos preços durante os primeiros meses de 2020. A pandemia afectou tanto a procura como a oferta agregada de diferentes bens e serviços, em resultado dos impactos das medidas de mitigação na actividade e nas redes de abastecimento. Contudo, a redução geral de preços foi, sobretudo, motivada pela queda da procura de bens e serviços, que superou os impactos e disrupções que a pandemia causou do lado da oferta. A título de exemplo, os preços das energias despencaram no início do ano, tendo os futuros do petróleo atingido valores negativos em Abril de 2020, com os receios dos investidores relativamente a uma recessão prolongada, e os seus impactos em sectores como a indústria e os transportes. As medidas de restrição também tiveram um impacto negativo no mercado laboral. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (ILO), a redução global de horas de trabalho no primeiro e segundo trimestres de 2020, em comparação com o quarto trimestre de 2019, foi equivalente à perda de 155 e 400 milhões de empregos em tempo integral, respectivamente. Como forma de evitar uma recessão prolongada, vários Governos e Bancos Centrais de quase todo o Mundo, particularmente de economias desenvolvidas, adoptaram políticas monetárias expansionistas e aprovaram estímulos fiscais, como forma de preservar a sobrevivência das empresas, dos empregos e estimular a procura, mitigando, assim, parcialmente, os impactos adversos da pandemia. A partir da segunda metade de 2020, com algum sucesso na implementação de medidas económicas e sociais e os avanços no desenvolvimento de vacinas, as economias mais avançadas começaram um processo gradual de abertura, motivando um aumento repentino da procura por bens e serviços. Grande parte desta procura encontrava-se reprimida pelas restrições impostas devido à pandemia e, com a incapacidade imediata de resposta do lado da oferta, observou-se uma trajectória crescente dos preços. Este aumento de preços tem sido transversal a nível mundial, e até ao final do primeiro semestre de 2021, os índices de preços tinham atingido níveis superiores aos pré-pandémicos, com a inflação a superar os limites superiores de referência definidos pelos Bancos Centrais nos EUA e Zona Euro. Os principais constrangimentos do lado da oferta têm-se verificado, sobretudo, no sector tecnológico - devido à escassez na produção de chips -, no sector logístico e no sector energético. Segundo a Fitch Solutions, os choques globais de preços têm sido dominados por factores locais. No sector energético, em particular, os preços subiram no 3º trimestre de 2021 na maioria dos mercados, atingindo máximos históricos. No entanto, as causas variaram em cada mercado: Na Europa, os preços de energia triplicaram desde o início do ano devido a uma combinação entre a fraca produção de energia eólica e a redução dos stocks de gás natural para os valores mais baixos verificados em mais de 10 anos; Na China e na Índia, os aumentos de preços foram impulsionados pela escassez de carvão; no Brasil, os problemas de electricidade resultaram de causas naturais, nomeadamente de uma seca; na América do Norte e na Australásia, os preços mantiveram-se mais estáveis, numa tendência, contudo, ascendente. Com o aumento da inflação a nível global têm crescido os receios de um aumento das taxas de juro pelos principais

Com o aumento da inflação a nível global, têm crescido os receios de um aumento das taxas de juro pelos principais Bancos Centrais e, consequentemente, um aumento das yields das obrigações, particularmente preocupante para as empresas e para os países mais endividados

As restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus desestabilizaram os mercados com efeitos negativos ao nível da inflação

Bancos Centrais e, consequentemente, um aumento das yields das obrigações, particularmente preocupante para as empresas e para os países mais endividados. Em Moçambique, a inflação tem-se apresentado controlada desde o início do ano, estando em linha com os limites de referência estabelecidos pelo Banco Central. Esta estabilidade resulta em parte da apreciação do metical observada na primeira metade de 2021. No entanto, nos últimos meses tem-se assistido a um crescimento da inflação de forma contínua, espelhando os impactos nos preços que se têm vindo a observar nos mercados internacionais. Sendo Moçambique um país altamente dependente de importações, a inflação local estará necessariamente dependente da evolução dos preços a nível global. Segundo as previsões do FMI, estima-se que a inflação em Moçambique ascenda a 7,3% no final de 2021, reduzindo para 5,5% em 2022.