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OPINIÃO

A corrida para 5G e as implicações nas telecomunicações e o conteúdo local

Benson Marlon Nhambire • Gestor da Banca de Cadeia de Valores e Conteúdo Local no Absa Bank Moçambique

Não faz muito tempo que Moçambique recebeu a tecnologia LTE e já está a conversar sobre a possível implementação da 5G. Esta tecnologia representa um salto para a indústria e promete a transferência de dados em velocidades outrora impensáveis, que contribuirão para o rápido desenvolvimento da Web 3.0, que, por si também, já é um grande tema de debate, considerando que um dos maiores objectivos da mesma é o da descentralização de vários segmentos do mercado através da tecnologia bockchain. Estes novos avanços na indústria irão traduzir-se em oportunidades significativas na cadeia de valor, considerando as actualizações necessárias para a infra-estrutura. Moçambique é um país bem representado no que respeita à indústria de telecomunicações, onde, hoje em dia, conta com três grandes empresas que cobrem o País de Rovuma a Maputo, que oferecem diversos serviços, como voz, dados e carteiras móveis. Hoje, a distribuição da quota de mercado para esta indústria: a Vodacom com 49%, a Movitel com 28% e, por último, a Tmcel com uma quota de mercado de 23%. Esta indústria factura, anualmente, quase 30 mil milhões de meticais e apresenta um gasto com procurement anual aproximado de 15 mil milhões de meticais. Apesar de este número ser bastante apetitoso, não é tão linear pois, infelizmente, mais de 70% das oportunidades contratuais não são alocadas às empresas Moçambicanas.

As dificuldades de acesso das empresas Moçambicanas a esta indústria

É de extrema importância salientar que, na maioria das vezes, as empresas multinacionais detêm políticas internas de procurement centralizadas, o que ajuda nas negociações de preços, tendo em conta o volume de serviços quando o contratante apresenta várias jurisdições no continente ou no mudo. Contudo, nos dias de hoje, estas políticas não têm grande impacto na decisão final, tendo em conta que a maioria das empresas multinacionais tem, nas suas políticas, um ênfase bastante grande no apoio ao conteúdo local e, consequentemente, apresentam políticas de procuremet preferencial, visando apoiar o crescimento das empresas/fornecedores locais, com o intuito de garantir um desenvolvimento económico nas comunidades onde operam. Apesar da implementação destas políticas, a penetração de empresas locais nestas cadeias de valor ainda é reduzida, muito devido às suas capacidades de qualificação. A qualificação continua a ser um dos maiores problemas para as Pequenas e Médias Empresas (PME) Moçambicanas, que poderemos dividir aqui em duas classes: por um lado, a certificação e, por outro, a capacidade de execução. Este tema tem sido debatido em vários painéis até de outros sectores, como o do petróleo e gás, mas o mesmo precisa ser abordado em mais fóruns, pois é um tema transversal a todas as PME da maioria das indústrias no mercado.

A Certificação

Para esta indústria, em particular, existem vários tipos de certificações essenciais que habilitam as PME Moçambicanas a poderem participar, tais como: a gestão de ambiente (ISO 14001:2004, ISO 14004:2004, ISO 5001), saúde e segurança (ISO 22000, IWA 1:2005, ISO 9001:2000), transporte (ISO/TS 16949, ISO/PAS 30003:2008) e, por fim, a família ISSO 31000 para questões de gestão de risco. Vamos-nos focar apenas nas mais importantes: (i) Saúde e segurança ISSO 9001:2000 - Ajuda a regular a gestãoda qualidade na indústria de dispositivos médicos. Em particular, fornece recomendações e regras para empresas, que são necessárias para a melhoria, criação e estabelecimento desses dispositivos. O padrão também considera o monitoramento constante dentro da indústria. (ii) Gestão do Ambiente ISSO 14001:2004 - Este padrão é a base para o aprimoramento de uma estrutura de gestão ambiental (SGA). Um EMS (Environmental Management Systems) é um arranjo de regras e métodos criados por uma associação para garantir a consistência. Um EMS beneficia

A qualificação continua a ser um dos maiores problemas para as PME Moçambicanas, que podemos dividir aqui em duas classes, nomeadamente a certificação e a capacidade de execução

O desenvolvimento das telecomunicações representa uma importante oportunidade para o crescimento das PME

uma associação, expandindo a consciência ecológica e examinando abordagens para diminuir os seus gastos. (iii) Transporte ISO/TS 16949 - Audita todos os territórios da rede de abastecimento da indústria automotiva. Ele concentra-se em faixas de monitoramento, treinamento, investigação e actualizações dentro da indústria. A norma também se concentra em cursos para os fornecedores, a fim de diminuir os seus gastos e aumentar a proficiência. ISO/PAS 30003:2008 - É preciso ter em conta questões específicas dentro dos transportes e da tecnologia marítima. Também se concentra em regiões, por exemplo, na gestão de reciclagem de navios e outros materiais, que podem ter potenciais impactos ambientais. Também aborda questões específicas da indústria como, por exemplo, emissão de amianto e outros materiais perigosos. Apesar de tudo, o nosso país já dispõe de várias empresas que se especializam em preparar as PME para a certificação através do INNOQ ou outras entidades responsáveis. O Absa Bank Moçambique também criou parcerias com diversas entidades com o objectivo não só de permitir a certificação, mas também de reduzir o custo associado à preparação das PME Moçambicanas para a certificação.

A capacidade de execução

A capacidade de execução, por sua vez, desdobra-se em dois tópicos importantes: conhecimento técnico da indústria e estrutura de capital para execução. (i) Conhecimento técnico da indústria - na maioria das vezes rapidez é inimiga da qualidade e muitas PME apressam-se em submeter as suas aplicações para participarem em concursos, quer para novas indústrias, quer para indústrias existentes sem ao menos entenderem a operabilidade da mesma. Em algumas situações, onde o contratante não faz o devido due-deligence, dando preferência ao preço e à rapidez da PME em executar, faz com que, muitas vezes, as chances do contratado ser executado com um serviço de excelência serem reduzidas, o que, no curto prazo, representa uma redução na seleccção de contratação de PME Moçambicanas. (ii) Estrutura de capital – sob o risco de perder oportunidades no mercado, várias empresas Moçambicanas prestadoras de serviços em diferentes cadeias de valor não são claras com o seu contratante sobre a sua real capacidade financeira, o que afecta na qualidade de entrega do produto ou serviço. Este é um problema que também afecta muito a indústria de telecomunicações, uma vez que os fornecedores locais não detêm uma estrutura de capital robusta para executar os trabalhos exigidos pelos seus contratantes. O apoio à estrutura de capitais para PME poderá passar por várias formas, tais como: financiamento por bancos, parcerias com empresas com capital (joint ventures) ou adiantamento parcelado por parte do contratante. Recordo-me que, num artigo similar, a Economia & Mercado publicou, em detalhe, os diferentes métodos a que se pode recorrer para financiar as PME nas diferentes cadeias de valor, com enfoque especial na oferta em vigor no Absa Bank Mozambique. Em nota de conclusão, é notável a necessidade de mais programas subsidiados por diferentes entidades, sejam elas o Governo, ONGs, Bancos e Empresas Corporativas, para capacitar as PME com vista a que estas estejam actualizadas com os requisitos globais de procurement, impulsionando, deste modo, a sua penetração nas grandes cadeias de valor das indústrias que dominam o mercado.