GERAL
DIÁRIO DE SANTA MARIA
Sábado e Domingo, 7 e 8/04/2007
11 Juliano Mendes – Especial
✝ A PÁSCOA NOS ENSINA QUE...
...é possível
SOFRIMENTO
Fernando Ramos – 2/04/07
M
2ª
casa cheia de gente e as festas animadas são a memória de Elizandro Cardoso de Vargas (foto), 36 anos, da época em que ainda não havia descoberto que tinha Aids. Desde 2004, quando foi internado pela primeira vez no hospital, Vargas viu muitos daqueles que considerava “grandes amigos” desaparecerem. Se era difícil acreditar no diagnóstico de Aids, pior ainda enfrentar o preconceito dos que estavam mais próximos. – Eu estava emagrecendo muito rápido, mas achava que era porque não me alimentava direito. Quando recebi a notícia que tinha Aids, foi muito difícil. Eu era um cara normal. Não pertencia a nenhum grupo de risco. Por isso, não costumava usar camisinha – lembra Vargas. Como boa parte das pessoas que acreditam estar livres do HIV, Vargas sabia pouco sobre o vírus. Só acreditou que sobreviveria
A
DO oacir dos Santos Medeiros era um jovem saudável de 25 anos quando descobriu que havia herdado da família uma doença rara e grave. A Síndrome de Machado Joseph roubou-lhe quase todos os movimentos do corpo. O calvário de Medeiros foi ocorrendo em etapas, como o sofrimento de Cristo. Primeiro, veio a deficiência para caminhar. Depois, a cadeira de rodas. Em seguida, a perda da fala. Hoje, com 43 anos, ele está preso a uma cama. Muitos podem crer que o caso de Medeiros é uma cruz pesada demais para ele e para sua família carregarem. Não é o que pensa a irmã dele, Sandra Medeiros Reis. Caçula, ela
PRECONCEITO
a cruz
Jesus Cristo foi condenado por sua pregação, foi surrado, castigado, humilhado e obrigado a suportar o peso da cruz. Cansado, caiu três vezes. Tinha o rosto ensangüentado, dores no corpo e espinhos na cabeça. Mas nunca, em seu calvário, desistiu de salvar a humanidade. Mais de 2 mil anos depois desse episódio, contato na Bíblia Sagrada, cristãos relembram a viasacra na época da Páscoa. Seja qual for a crença ou a religião, cada um enfrenta cruzes muito pesadas. É a via-sacra da vida. Quem não encontrou no seu caminho uma doença, uma desilusão, um preconceito, o desemprego? Mais do que uma época para saborear deliciosos chocolates, a Páscoa é também um momento para refletir sobre a cruz que carregamos e que os outros carregam e como é possível torná-las mais leves. Nesta e nas próximas três páginas, o ‘Diário’ conta a história de 12 pessoas que tomaram sua cruz ao ombro e lutaram para serem mais fortes que o peso que lhes castigava. Elas ensinam a superar o calvário.
DO
vencer
MARILICE DARONCO Especial
cuida do irmão como quem zela por uma preciosidade: – Ele é o nosso bebezão. Gosto de tratá-lo com muito carinho e atenção. Apesar do que passamos (há cinco casos da doença na família), nós demos a volta por cima. Quando a gente se reúne, brincamos e comemoramos juntos. Apesar de saber que não existe tratamento que possa curar o irmão, Sandra não desiste. Ela não quer apenas que ele fique longe do risco de pneumonia – uma das principais ameaças trazidas pela doença – mas que possa aproveitar ao máximo sua vida. – Quando estamos em família, ele sorri muito. Isso alivia qualquer sofrimento que possamos ter – afirma Sandra.
JESUS COLOCA A CRUZ NOS OMBROS – Mesmo ferido pelos açoites, Jesus recebe a cruz sobre seus ombros. Ela era um instrumento de suplício usado na época para executar os condenados à morte. Jesus começa seu calvário. A etapa sugere que as pessoas precisam encarar de frente a cruz ou as dificuldades que encontram pelo caminho
quando uma médica lhe disse que, se fizesse o tratamento adequadamente, poderia levar uma vida normal. – Pensei: se é assim, tenho uma chance. Mas ainda tinha de fazer alguma coisa de útil com a minha vida. Voltei a estudar, terminei a Educação de Jovens e Adultos (EJA) no ano passado e estou estudando para o vestibular – comemora Vargas. Vargas diz que muitas coisas mudaram em sua vida desde que recebeu o diagnóstico. Além de se dedicar aos polígrafos para garantir a aprovação no curso de Jornalismo, ele passou a valorizar os amigos verdadeiros: – Consegui ver quem eram os meus amigos. Hoje, tenho coragem de enfrentar os problemas, o preconceito e a discriminação. Se for preciso dar a minha cara a bater para que outras pessoas não passem pelo que eu passei, dou. Me tornei forte.
1ª
JESUS É CONDENADO À MORTE – Após castigar Jesus e colocar uma coroa de espinhos em sua cabeça, Pôncio Pilatos, representante do governo, lava as mãos e responsabiliza o povo pela condenação de Jesus à morte na cruz. Essa estação simboliza o preconceito com Cristo, a inveja, o egoísmo e a covardia
DA CONDENAÇÃO À RESSURREIÇÃO ▼ Via-sacra, via-crúcis ou calvário é o caminho percorrido por Jesus Cristo do momento em que foi condenado à morte até a ressurreição. Ela é representada pelas 15 passagens mais importantes dessa trajetória ▼ A tradição de refazer o caminho na época da Quaresma teria se originado com a Virgem Maria, que, após a ressurreição do filho, teria visitado os lugares do calvário. No século 12, os irmãos franciscanos colocaram pequenas capelas e pedras em cada um dos pontos da Via Dolorosa – a estrada por onde Cristo passou em Jerusalém. Esses marcos seguiam a ordem cronológica da condenação de Cristo
▼ No século 12, a via-sacra era dividida em 12 etapas. Mais tarde, o papa João Paulo 2º fez adequações nas passagens e dividiu a via-crúcis em 14 estações. As vias mais modernas incluíram mais uma etapa, a ressurreição de Cristo ▼ Como muita gente não podia ir à Terra Santa, a imagem das estações foram reproduzidas em quadros. Na maioria das igrejas de Santa Maria, é possível ver as reproduções da via-sacra nas paredes ▼ Os católicos costumam encenar a via-sacra durante a Quaresma para relembrar o sofrimento de Cristo
✝✝✝✝✝✝✝✝✝✝✝✝✝✝✝ As informações históricas sobre a via-sacra foram prestadas pela assessoria de imprensa da Diocese de Santa Maria
SEGUE