POLÍCIA
DIÁRIO DE SANTA MARIA SEGUNDA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2012
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HOMICÍDIO A frase abaixo é a súplica de um pai que teve sua única filha, Júlia Machado, 6 anos, assassinada brutalmente
‘Eu só dizia: salva a minha filha’ JEAN PIMENTEL
Ele ajudou a procurar a Júlia. Não tinha como desconfiar.”
A médica me disse que eles tinham feito tudo o que podiam... Nem sei explicar o que senti.”
GILBERTO MACHADO, pai de Júlia, sobre o autor confesso do crime
JULIANA MACHADO, mãe de Júlia
MARCELO MARTINS e MARILICE DARONCO
Polícia vai investigar novas pistas nos próximos dias
O quartinho novo, em tons de cor de rosa, foi feito com esmero e sacrifício pelo empilhador de colheitadeira Gilberto Doli Rodrigues Machado, 27 anos, e pela mulher, a dona de casa Juliana Assunção de Moura Machado, 29 anos, para a única filha do casal. Mas não deu tempo de Júlia Assunção de Moura Machado, 6 anos, aproveitar o espaço da casa com o qual tanto sonhava. Na tarde da última sexta-feira, ela foi brutalmente assassinada a cerca de 200 metros de onde morava, na Vila Carolina, em Santa Maria. O autor confesso do crime, Carlos Renan Pinto Galvão, 26 anos, companheiro de uma das primas da menina, contou à polícia que a matou porque não suportava sua constante presença na casa dele para ver o primo, recém-nascido (veja a sequência de fatos que culminou na morte da menina na página ao lado). Os pais não acreditam na versão do suspeito e buscam explicações para o que aconteceu desde o momento em que a menina deixou sua bicicleta em casa até seu corpo ser encontrado em uma sanga, nos fundos da residência do suspeito. – Ele era nosso amigo. Vinha tomar mate, veio num aniversário no
Familiares e vizinhos apontaram suspeitas que devem ser analisadas pela polícia nos próximos dias. A titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de A VÍTMA Santa Maria, CarMenina era o xodó da família la Dolores Castro de Almeida, preferiu não adiantar informações que fazem parte da investigação. Ela afirmou que só o que pode dizer, por enquanto, é que aguarda o resultado da perícia. – Os vizinhos ouviram o Galvão com o som de casa ligado muito alto. Isso não era comum. A gente acha que ele fez isso para despistar os gritos dela – afirma o tio da menina, Juliano Assunção Machado. Perplexos, vizinhos dizem que vão guardar a lembrança da menina dócil que cativava a todos. – A Júlia era muito meiguinha, educada e muito bonita. Ela conquistava a todos com seu jeitinho – diz Catiana Ramiro da Silveira, 17 anos, vizinha da vítima.
O TÃO SONHADO QUARTO Pais da menina assassinada tinham acabado de decorar o novo quarto dela, um espaço que nem chegou a ser usado
domingo. Eles vinham buscar a Júlia para ir na casa deles. Ela (Júlia) era uma menina que gostava de crianças. Eu cheguei às 18h30min (sexta) e ainda falei com ele na esquina. Ele ajudou a procurar a Júlia. Não tinha como desconfiar – afirma Gilberto. Chocado com a brutalidade, o casal não está conseguindo suportar a tristeza. Gilberto e Juliana acreditam que a filha foi violentada e agredida. – Eu não entendo por que ele torturou tanto ela – afirma o pai.
Menina contava os dias para ir à escola
colégio. Em 2013, ela começaria o 1º ano do Ensino Fundamental na Escola Municipal Euclides da Cunha. Descrita pelos vizinhos como Enquanto o tão sonhado momento uma menina educada e de sorriso não chegava, a menina se divertia cativante, Júlia sonhava em ir para o com a bicicleta que ganhou do pai e
da mãe. A última vez que Juliana viu a filha foi quando ela guardou a bicicleta. A família acha que foi nessa hora que a menina foi até o suposto local do crime. – Ela era só alegria. Mas ela também era muito cuidadosa. A Júlia não saía de perto do olhar do pai e da mãe dela. Aqui na rua, ela encantava a todos pela sua educação. Ultimamente, ela estava numa felicidade só. Ela contava os dias e os meses para ir para a escola. A Júlia já estava matriculada e queria muito estudar – conta o padrasto da mãe de Juliana, Antonio da Silva, 44 anos, a quem Júlia chamava de vovô. Tomado pela tristeza, seu Antonio contou, no sábado, que a neta era o xodó da família.
CLAUDIO VAZ
ENTREVISTA Gilberto e Juliana, pais de Júlia
‘Nem um bicho faz isso’ Diário – Vocês acharam que esse Ontem à tarde, os pais da menina assassinada receberam o Diário na carro tinha levado ela? Gilberto – Todo mundo se concasa deles. Confira alguns trechos da centrou nesse carro. Ele (o suspeito) conversa abaixo. veio dizer para mim que tinha procuDiário de Santa Maria – Como rado por toda a parte. Tinha mais de você percebeu que a Júlia tinha cem pessoas procurando a Júlia, mas todo mundo focou no carro e deixou sumido? Juliana – Estávamos na casa da a sanga de lado. Fomos em postos de minha mãe. Ela estava brincando na combustível e em tudo quanto era lurua de bicicleta. Eu disse para ela: Ju- gar. Ele (suspeito) estava ajudando a linha, vai até o beco e volta. Ela dava gente a procurar. uma voltinha e voltava aqui. Mas Diário – Quem contou a vocês uma hora, ela guardou a bicicletinha. Eu acho que chamaram ela na casa sobre a morte de Júlia? Gilberto – O meu cunhado tirou do Galvão, e ela foi. Chamaram ela (choro). Eu achei que ela estava na ela da água e a levou até a calçada. Eu casa da Neri (Neridiane). E eu disse vi o corpo cheio de terra. A gente lepara a mãe que ia pedir para ela tra- vou ela na viatura. Quando chegamos zer a Júlia que já estava ficando tarde, ao hospital, eu vi o médico e só dizia: mas, quando eu liguei, ela disse que salva a minha filha, por favor. Juliana – Quando eu soube que a Júlia nem tinha passado por lá. Depois, ela ligou e disse que viu um car- tinham encontrado o corpo dela, eu passei mal e me levaram para a UPA. ro estranho.
Também tinham levado a Júlia para lá. A médica me disse que eles tinham feito tudo o que podiam, mas que ela já tinha chegado morta. Nem sei explicar o que senti. (choro) Diário – O suspeito já tinha reclamado de a Júlia ir à casa dele? Gilberto – Não. Eles convidavam ela para ir na casa deles. Mas ele disse que estava planejando o crime... O que deixa a gente aflito é porque ele torturou tanto ela. O pescoço, os bracinhos. Nem um bicho faz isso. Ele tinha feito um buraco para enterrá-la. Diário – Como era a Júlia? Gilberto – Ela era agarrada com a gente. Todos os dias, me esperava para pegar uma caroninha de moto. Ela dizia que a moto era dela e que um dia ela ia tirar carteira. Agora, tudo acabou. Mas ela vai estar sem- O LOCAL pre com a gente, é o nosso anjinho. Avô emprestado da menina aponta o local onde o corpo foi achado na sexta