Olhar Verde - 2014

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DEZEMBRO DE 2014 - EDIÇÃO 1

Crise do Sistema Cantareira prejudica turismo no interior de São Paulo

Parklets recriam espaço urbano p. 04

Jardins verticais na cidade cinza p. 09

A polêmica das ciclofaixas p. 12

OLHAR VERDE– jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, produzido pelos alunos do 7º semestre. Reitor: Benedito Guimarães Aguiar Neto / Diretor do Centro de Comunicação e Letras: Alexandre Huady Torres Guimarães / Coordenadora do Curso de Jornalismo: Denise Paiero / Professore-orientador: Edson Capoano. Revisão e edição: Tatiane Cristine. Diagramação: Almerino Gonçalves. Os textos são assinados e não refletem necessariamente a opinião da universidade.

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Reservatório do Sistema Cantareira seca e prejudica turismo no interior de São Paulo O Sistema Cantareira chegou a 6,7% de sua capacidade, não registrando aumento de nível significante desde maio, segundo a Sabesp THAÍS LEMOS

Thaís Lemos DE JOANÓPOLIS

Joanópolis é um município com cerca de 12 mil habitantes, segundo dados do Censo IBGE de 2010, é considerado uma estância turística pelos seus recursos naturais e chama a atenção pelos pontos turísticos ligados a água, como a Cachoeira dos Pretos e a represa, que atrai pessoas interessadas em atividades como passeio de barcos, lanchas e jet-skis. A represa formada pelos rios Jaguari e Jacareí, localizada a cerca de 150km de São Paulo em Joanópolis, é um dos reservatórios integrantes do Sistema 2

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Cantareira, e serve de reforço ao abastecimento público da região metropolitana de São Paulo. Em março desse ano, a Sabesp realizou obras emergenciais na região, com o custo estimado de R$ 80 milhões para retirar água do “volume morto”, uma reserva abaixo do nível das comportas com 300 bilhões de litros de água, para abastecer a Grande São Paulo. A primeira cota do volume morto tinha 105,5 bilhões de litros, suficiente para elevar o nível do Sistema Cantareira em apenas 10%. Segundo informações no site da Sabesp, 10% do nível da água caiu entre os meses de junho a agosto. Já a segunda cota do volume morto

possui 106 bilhões de litros. Com isso, a represa que antes chegava a ter 18 metros de profundidade, secou e prejudicou as atrações turísticas que mantinham hotéis e o comércio da cidade movimentado. A pousada Monteleone, que atraia turistas pelos passeios de barcos e lanchas e pelo restaurante perde cada vez mais clientes por conta da seca da represa. O proprietário da pousada conta que os clientes chegavam de barco para almoçar, e que as atividades náuticas eram os atrativos. “Muita gente vinha de outros condomínios em barcos para comer e alugar jet-skis, aos finais de semana era sempre muito movimentado. Hoje não chega mais barco aqui, a seca


ESPECIAL

THAÍS LEMOS

da represa afastou os clientes e o restaurante foi fechado”, afirma Paulo Bonandi, 58 anos. Para reduzir os custos, 23 funcionários do estabelecimento foram mandados embora, e os preços das diárias foram reduzidos, mas o proprietário já espera pelo pior. “Nós vamos esperar a temporada de verão, mas se não melhorar, não teremos como continuar as atividades”, disse Paulo. Os visitantes da cidade, que tem casa de veraneio em condomínios fechados pela região também estão frequentando menos a cidade. “Em julho o condomínio ficou mais vazio do que o normal, e a falta de água na represa dificulta a ven-

da das casas”, disse João Amado, 38 anos, chefe de segurança do Condomínio Porto Danalis, localizado a cinco quilômetros de Joanópolis. Mesmo com o cenário de seca no lugar da represa, João afirma que não falta água na cidade. “Vi na televisão que algumas regiões de São Paulo já têm racionamento de água, mas não está faltando nem no condomínio nem para os moradores da cidade. Mas o ar seco tem causado muitas queimadas pela região”, afirmou. João também mencionou a vista do governador de São Paulo. “O Geraldo Alckmin esteve aqui em maio, é comum ele visitar a cidade. Sempre que pode,

ele vem fazer uma média com o pessoal”, disse rindo. Geraldo visitou a cidade dia 15 de maio, para iniciar junto a Sabesp a captação de águas da reserva técnica do Sistema Cantareira. A situação da represa atual nunca foi vista dessa forma por quem frequenta o condomínio. “Tenho casa aqui a mais de 20 anos, já vi a represa em épocas de seca, ela baixa, mas nunca vi seca dessa forma. Acompanho as notícias do Sistema Cantareira, mas só olhando a situação aqui pude perceber a dimensão do problema, é muito triste”, disse Monica Giachini, 50 anos. A Prefeitura de Joanópolis foi questionada sobre a seca da represa, mas não quis se manifestar.

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Parklets recriam espaço urbano e trazem novas áreas de convivência Locais são extensões da calçada com w-fi e aparelhos de ginástica gratuitos LINCOLN PAIVA

Parklet na Rua Oscar Freire

Francielly Kodama DE SÃO PAULO

Nem todo mundo tem a oportunidade de morar próximo a um parque como o Ibirapuera, ou uma zona arborizada. Pensando nisso, nasceu em São Francisco, na Califórnia, em 2004, os parklets com a ideia de aproximar o público das áreas verdes, cada vez mais escassas na cidade. Também chamados de “Vaga Verde” ou “Vaga Viva”, os parklets funcionam como extensões das calçadas, ocupando uma faixa da rua, antes usada para estacionar carros. As “praças” podem oferecer desde simples espaços com bancos, mesas e floreiras até serviços como wi-fi, aparelhos de ginástica e todos devidamente equipados com lixeiras. 4

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Moradora do bairro Jardim Paulista, a publicitária Luciana Pires, 25, afirmou que apoia e frequenta bastante os parklets. “É uma ideia diferente, é um lugar gostoso não só para passar o tempo, tem alguns modelos com wi-fi que dá até para trabalhar!” Mas não são todos que concordam com o projeto. A publicitária comenta que ouviu uma mulher reclamando do mobiliário. “Tem sempre alguém que não abre mão do carro. Já ouvi uma senhora reclamando que [os parklets] só ocupam espaço e não ajudam a conscientizar em nada.” Apesar de depender de carro para se locomover até o trabalho, no bairro Vila Olímpia, ela afirma que aos finais de semana dá preferência ao uso de transporte público e critica: “As pes-

soas precisam se conscientizar e saber que carro não é uma prioridade. Agora existem outros meios de andar pela cidade.” Os primeiros parklets Em 10 anos, mais de 70 unidades foram instaladas entre os Estados Unidos e Canadá. Aqui no Brasil, o projeto chegou em 2013 com ativista e fundador do Instituto Mobilidade Verde Lincoln Paiva e um grupo de arquitetos, designers e parcerias com ONGs, durante o evento Design Weekend. Paiva explica que para o empreendimento acontecer não basta ter aprovação do governo e de investidores, precisa haver interesse público também. “Em 2013, quando nós montamos o primeiro parklet em São Paulo, notamos que no lugar que ocupava dois carros, poderia receber cerca de 400 pessoas”, comenta. Além de incentivar a diminuição do uso de carros, o projeto foi pensado para tornar as ruas um local de convivência, mais do que apenas de passagem. Segundo o Paiva, São Paulo não oferece tantos espaços público — nem mesmo bancos ou lagares para se sentar — na mesma proporção em que existem vagas de carro. Foi somente em abril deste ano que um modelo permanente foi instalado em São Paulo, por iniciativa do ativista. O lo-


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cal escolhido para receber a proposta urbanística foi a Rua Padre João Manuel com a Avenida Paulista, por cerca de R$ 40 mil. Agora foi a vez da Rua Fidalga, na Vila Madalena, receber o novo espaço – em fase de montagem desde o dia 29 de setembro. Segundo o presidente do Instituto, Lincoln Paiva, a ideia é construir mais 30 parklets até o fim do ano. É importante deixar claro que, apesar de ocupar um espaço público, todas as instalações — assim como as manutenções — são feitas com financiamento privado, por pessoas físicas ou jurídicas, por meio de um requerimento à subprefeitura. O custo depende do que for pensado para o parklet, mas sempre respeitando os regras pré-estabelecidas como, por exemplo, a proibição de qualquer propaganda no mobiliário.

que, inclusive, reclamou quando soube que o projeto temporário teria de ser removido. “Pessoas entenderam como uma área de convívio”, comenta. Ainda assim, o parklet foi removido e agora conta com sete unidades permanentes — e uma em andamento — espalhadas pela cidade de São Paulo, sendo a da Rua Francisco Leitão a mais recente, inaugurada no dia 29 de setembro.

ILUSTRAÇÃO: MANUAL DE IMPLANTAÇÃO

Onde e como são construídos A escolha, explica Lincoln, não é aleatória: “Precisam ser locais com grande fluxo de pedestre, áreas mistas com comércio, empresas de serviços e residências.” Mas se a região onde você mora não se encaixa nesse perfil, a instalação do parklet pode partir da própria da vizinhança. O Manual de Implementação, desenvolvido pela prefeitura de São Paulo em conjunto com Paiva, está disponível no site Início do projeto no Brasil do Instituto Mobilidade VerA ideia, relembra Lincoln, de e contém todas as normas começou quando foi convidado a conhecer o projeto no Califórnia. Ele conta que ficou surpreso ao ver as tais “praças” ocupando parte das ruas. Lincoln revela que tentou implementar a ideia no Brasil em 2010, mas, em sua opinião, o país não estava preparado para receber esse tipo de iniciativa. Dois anos depois veio outra oportunidade, ao ser convidado pela Bienal de Arquitetura de São Paulo. Com o tema “Cidades: Modos de fazer, modos de usar”, Lincoln se juntou ao grupo de designers para construírem o primeiro modelo de teste, inaugurado no ano seguinte. Ao contrário do que imaginava, Lincoln conta que recebeu completa aprovação do público

e um histórico sobre o projeto para quem se interessar em colocar a mão na massa. Esta, aliás, é uma das grandes metas de Lincoln com o projeto. Ele acredita que em breve as pessoas se sentirão motivadas a construírem e manterem seus próprios parklets. “Que elas usem para recontar narrativas da região, porque sem isso não se cria uma afetividade pelo local”, comenta. Os parklets podes oferecer serviços diferentes, mas independente disso precisam obedecer aos critérios do manual. Todos eles devem ter no máximo 10m de comprimento por 2,20m de largura. Além disso, devem estar, pelo menos, há 15m de distância da esquina e não podem ocupar guias rebaixadas, faixas de pedestres, pontos de ônibus e táxi ou áreas de acesso a pessoas com deficiência. Vale ressaltar que seu uso é público e, de acordo com a Lei Cidade Limpa, os parklets não podem ser usados para fins publicitários.

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Retrofit é o brechó da construção civil e tem adeptos em São Paulo Preocupada com a preservação do patrimônio e em diminuir os impactos que o imóvel causa no meio ambiente, a técnica vem conquistando adeptos Ana Paula Pereira Pappa e Luiza Amad DE SÃO PAULO

São Paulo é uma cidade relativamente nova. Seu crescimento se deu nos últimos sessenta anos e existem muitos edifícios e casas abandonados, principalmente no centro da cidade. Se a palavra de ordem de alguns anos atrás foi ‘construir’, agora deve-se pensar em reabilitar. Citado no Plano Diretor, o retrofit se refere à uma técnica de adaptação de construções antigas que tem como objetivo final manter a estrutura original e

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modernizá-la com equipamentos e materiais novos e ecológicos. O retrofit, é uma nova tendência que nasceu na década de 90 na Europa e nos Estados Unidos, impossibilitando esses dois acervos históricos de modificar totalmente seus edifícios a solução foi reforma-los de uma forma que os gastos fossem retornáveis. Para entender melhor como o retrofit funciona e como ele pode ser aplicado à vida em sociedade, basta pensar em um brechó. Nele, peças que já não possuíam utilidade para alguns, se transformam e adquirem ou-

tra função nas mãos de outros. O mesmo acontece com as tantas casas que, antes eram a residência de alguém, e hoje têm outra finalidade como acontece em muitos casos bem sucedidos na cidade de São Paulo. Retrofit, restauração e reforma, podem ser confundidos. O primeiro diz respeito às modificações que o imóvel passa, mantendo as características originais ao atualizar as estruturas. A restauração só devolve as características originais do imóvel, enquanto a reforma não tem compromisso com o projeto original da construção. O retrofit se utiliza das técnicas de restauração e reforma, tendo foco em áreas como a iluminação, conservação de água, climatização, preservação da fachada e consumo de energia. Com o uso do retrofit, é possível reabilitar o imóvel e utilizá-lo para outro fim, como ocorreu com o Espaço Bela Cintra e o We Design Hostel. O primeiro é um casarão que, por 99 anos, abrigou quatro gerações da mesma família que se negaram a abrir mão do imóvel para que edifícios fossem construídos no terreno. Hoje, a casa serve de espaço para locação de eventos, realização de reuniões empresariais, mini cerimonias de casamento, etc, em um clima mais intimista. Divididas entre o térreo e o andar superior, o casarão totaliza 6 salas e um mini auditório.


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Todos têm o nome de algum membro da família, como a sala Marilia ou a Sala VIP Anna. Segundo o gerente do espaço, essa foi uma ideia dos familiares. “Mesmo transformando a casa em um espaço comercial, a família optou por dar um tom mais íntimo e acabou batizando cada sala com o nome de um deles”, explica Leonard Singer, gerente do Espaço Bela Cintra. Realizar demolições é um ato muito comum em grandes cidades do Brasil, nas quais empresas setorizadas realizam esse serviço. Em um processo deste tipo, no entanto, a quantidade de resíduos de materiais que são descartados é grande e, se o descarte ocorrer de forma errônea, os danos causados ao meio ambiente são altos. Optar pelo retrofit significa, também, não contribuir para o aumento de lixo e entulho gerado pela cidade, já que grande parte do imóvel será aproveitada sem necessidade de demolição total. O Plano Diretor facilita a reforma de imóveis deste tipo desde que eles preservem a mesma volumetria. Tal prática pode ser economicamente mais viável do que uma reconstrução do imóvel, já que a estrutura será preservada. Além deste fator, o retrofit também é sustentável, já que diminui os gastos energéticos e melhora o potencial construtivo do empreendimento. No Brasil, 45% da energia, 22% da emissão de CO2 e 21% da água potável são consumidos em edifícios em um período de um ano. Ao incorporar o retrofit, é possível ter uma redução de até 30% no consumo de energia e até 50% no consumo de água. Os números sugerem uma grande economia para os edifícios, mas

não exclui os benefícios para casas que adotam o procedimento. Segundo o Programa de Educação Tutorial da Engenharia Civil da Universidade Federal de Juiz de Fora, a técnica pode valorizar os imóveis em até 50%. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro caminham para uma adoção em maior escala do retrofit, enquanto este mercado lucra cerca de U$ 236 bilhões nos Estados Unidos. Diversos projetos conhecidos já lançaram mão do retrofit, como o estádio do Maracanã e o Empire State Building. Segundo o Programa, o edifício localizado em Nova York economiza por volta de U$ 4,4 milhões por O

retrofit pode

gerar uma

redução de

no consumo de energia e até

no consumo de água

ano, enquanto o estádio brasileiro utiliza a intervenção para reutilizar energia solar. Outro empreendimento que se apropriou do retrofit foi o We Hostel Design, situado na Vila Mariana. A casa é uma antiga residência do início do século 20 e chamou a atenção de Guilherme Perez, empresário e um dos proprietários do hostel. Percebendo que o padrão de qualidade dos hostels brasileiros não se equiparava aos estrangeiros, Guilherme saiu do banco em que trabalhava e apostou no setor. “Demorei um tempo para encontrar um lugar legal para abrir o hostel. A ideia era proporcionar um encontro entre a São Paulo antiga e a atual, e en-

contrei isso nesta casa”, afirma. Depois de reformado, o imóvel adquiriu uma identidade visual aconchegante e moderna, passando de residência a hostel, adequando as necessidades de um empreendimento comercial e preservando o patrimônio externa e internamente. Funcionando desde setembro de 2012, Guilherme economizou com a reforma e agora tem um retorno dos hóspedes que passam por lá. “A maioria das pessoas gosta muito do ambiente e fica espantada ao se deparar com uma casa antiga em uma cidade que não para de crescer, como São Paulo. Os estrangeiros têm a imagem da Avenida Paulista na cabeça e ter a chance de se hospedar em um lugar como o We Hostel Design acaba fazendo parte da experiência”, completa Guilherme. Com um total de 9 quartos e capacidade para 46 pessoas, o hostel é exemplo de como é possível aliar empreendimentos comerciais à preservação de patrimônio e ainda lucrar com isso. “Durante a reforma, recebemos orientação de que seria melhor começar do zero e construir uma casa moderna desde o início, mas os números e a fachada do imóvel pesaram na hora da escolha, então optamos por preservar”, diz. Opinião dos paulistanos Selo Gilvan, 22 estudante da PUC, militante e ambientalista, diz que a questão econômica ainda implica na moradia retrofit. “ A maioria dos edifícios em que foi instaurada essa reforma, é de caráter comercial, e prédios comerciais são muito caros nos dias atuais, mas se a alternativa fosse para setores residências eu gostaria de poder usufruir desse beneOLHAR VERDE

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ANA PAULA

fício que surgiu agora no Brasil.” Quando a questão é quem faz a reforma as coisas ficam um pouco mais escondidas, muitos veículos de comunicação tocam no assunto, como revistas, catálogos de imobiliárias, alguns artigos e blogs, porém, como tudo na questão ambiental, tem pouco espaço no conceito comunicativo nacional. A jornalista Lígia Maciel, 22 trabalha na empresa sustentável Namu, ela reforça dentro da empresa, sempre, que devemos pisar fora da zona de conforto ao falar da reciclagem do lixo e devemos falar mais da reciclagem do conceito de sustentabilidade. “ A sustentabilidade está em tudo, olhamos para qualquer lado e podemos visualizar alternativas sustentáveis. A reforma verde, (como é popularmente chamada por membros de empresas sustentáveis) é muito 8

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nova ainda. Temos muito que expandir esse conceito no âmbito da comunicação para que ele possa sair das principais metrópoles, São Paulo e Rio de Janeiro.” A Namu, não é uma empresa muito grande, mas ela luta por ter princípios refrofits em sua instalação de trabalho, é o que retifica Lígia. Marcos Shinohara, 47 é um investidor fiel em questões ambientais, para começar sua nova fase empresarial ele já entrou em contato com inúmeras imobiliárias para que seja feita a compra de um escritório em um edifício retrofit, “ Eu acredito que temos que nos entregar ao que fazemos, como sou adepto da sustentabilidade e das questões ambientais que ajudam a superar o que os governos e as instituições ambientais nos oferecem eu começo fazendo a

minha parte, seja ela qual for, e qualquer que seja o tamanho do impacto que causará na sociedade capitalista em que estamos inseridos. Se para mim, algo irá mudar referente ao que acredito, então eu serei o primeiro a fazê-lo,” reforça Marcos. O interessante do retrofit é na maioria dos jovens, a estagiária de engenharia Najla Zogheib, 23 fez na P&G, se baseou no conceito retrofit para criar uma tática usada para o gasto menor e minimizado de energia em instalações comerciais. “Não conhecia o retrofit, para mim era apenas uma alternativa puramente da parte de engenharia, como falei com meus supervisores eles me indicaram dois arquitetos para conversar comigo sobre o que era o retrofit, confesso que foquei mais na essência do que nas aplicações que estão sendo feitas no Brasil, mas pelo visto o projeto deu certo! E agradeço aos arquitetos que me mostraram a reforma verde, se não fosse por eles eu não teria o pensamento amplo, que se preocupou em visar conceitos econômicos, inovadores, atuais e ecológicos.” conta Najla, muito entusiasmada. Abordada a questão em todos os seus pontos de vista, resume que o retrofit deve ser encarado como uma alternativa de mudança, algo a longo prazo, por que não é tão barato, devido ao uso de instrumentos e materiais de alta tecnologia e alto custo no mercado. Porém, ele deve ser encarado como uma tentativa de mudança para locais onde a arquitetura tem que ser preservada e que também esteja saturado de construções, como é o caso de São Paulo e estados dos Estados Unidos e da Europa.


CIDADE CIDADE

Jardins verticais

Uma solução para a cidade cinza VICTORIA OLIVEIRA

Victoria Oliveira DE SÃO PAULO

A cidade de São Paulo, maior metrópole do Brasil, cresceu de forma desorganizada, com problemas de planejamento e falta de fiscalização sobre as eventuais melhorias. Como consequência, a cidade hoje vive sob a pressão do trânsito, poluição excessiva, má qualidade do ar, problemas com a distribuição de moradias, grande diferença social e o desmatamento das áreas verdes. No primeiro semestre desse ano, o prefeito Fernando Haddad sancionou o novo Plano Diretor, que visa uma nova e melhorada organização para a cidade. Ou seja, trazer melhorias que tornem a cidade mais sustentável e melhor distribuída. A grande questão do Plano é uma melhor ocupação da cidade, aproveitar melhor os espaços e com isso muitas alternativas para revitalizar o verde na cidade têm aparecido. Em 2012, muito antes de o Plano Diretor ser sancionado, o goiano Guil Blanche escreveu um manifesto em que fala sobre a cidade cinza que vemos todos os dias e sobre um projeto francês criado por Patrick Blanc em Paris. O projeto conhecido como Mur Végétal, se trata de cobrir superfícies verticais cobertas com plantas, uma parede verde. Trazendo á realidade brasileira, o goiano criou o Mo-

Primeiro prédio do Minhocão a receber o Jardim Vertical

vimento 90º, em que o objetivo é criar jardins verticais por São Paulo. Segundo o manifesto “é preciso solucionar a carência de verde nas grandes cidades, onde também existe a forte presença das chamadas: empenas cegas, paredes sem janelas em prédios. Estes não lugares são catalizadores dos grandes problemas urbanos e existem na paisagem urbana como prova da consequência negativa de uma cidade que cresce sem consciência”. Os primeiros jardins verticais implantados na cidade

pelo Movimento foram na Rua Augusta, durante uma ação da Escola São Paulo na Virada Cultural de 2013. A chamada “Augusta ComVida” tinha como objetivo “ocupar os espaços públicos e ruas com atividades feitas por pessoas e para pessoas, trazendo vida onde não havia”, conta Santiago Mazzoli, um dos organizadores do Movimento 90 º. Mazzoli também explica que além da beleza estética que os jardins proporcionam aos edifícios e à cidade, eles reduzem a poluição atmosOLHAR VERDE

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férica, atuam ativamente na regulação do conforto térmico, tanto do edifício onde está instalado, quanto do seu entorno. “As plantas auxiliam, também, no controle da umidade, além de representarem uma significativa barreira acústica”, completa. A instalação dos jardins verticais é simples, pode ser feita em qualquer superfície vertical e como conta Mazzoli, o movimento criou uma técnica feita de placas modulares de compensado reciclado de embalagens tetrapak e duas camadas de feltro de alta densidade onde se abrem bolsas que acolhem as plantas. Estas placas são fixadas a 4 cm das paredes, permitindo a circulação do ar por trás da estrutura e evitando infiltrações. Todo o jardim forma um ecossistema vivo, mantido por um sistema de irrigação automatizada que garante a constante nutrição das plantas. Os jardins verticais têm por sua natureza serem sustentáveis e para isso possuem um sistema automático de irrigação que reutiliza a água, evitando o desperdício. No final de 2013 foi inaugurado o mais famoso jardim vertical do Movimento. Localizado no Minhocão, o jardim foi patrocinado pela marca de vodka sueca, Absolut. Ao lado do jardim, no outro bloco do prédio, foi feito uma instalação com lâmpadas que iluminavam a parede e trazia os dizeres: Transform Today. Essa foi uma ação publicitária, que procurou fazer um marketing sustentável e segundo Mazzoli essa é uma tendência entre as empresas do segundo setor. Para 2015 , o Movimento pretende construir 8 mil me10

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tros quadrados de jardim vertical em torno dos prédios próximos ao Minhocão, criando um corredor verde. Para se ter uma ideia, 8 mil metros quadrados equivale a um campo de futebol profissional, ou seja, um dos espaços mais feios da cidade receberia muito verde. Para isso, é necessário um investimento de cerca de R$850 por metro quadrado. O Movimento está atrás de patrocinadores privados para custear as instalações e a manutenção, uma vez que o prédio não arca com nenhum custo, só cede a empena cega. Guil Blanche afirma que espera que as empresas se identifiquem com a causa da mesma forma com que os bancos privados se mobilizaram com a causa das bicicletas públicas, que têm obtido grande sucesso e aceitação em São Paulo. O outro lado Os moradores do edifício localizado no minhocão que recebeu o jardim vertical patrocinado pela Absolut têm opiniões diferentes sobre o jardim. Como conta o porteiro e zelador do edifício Zé Maria, 32 anos, no começo todos aprovaram a instalação do jardim e gostaram do efeito visual que melhorou a estética do prédio, que antes da Lei Cidade Limpa possuía propagandas e outdoors nessas empenas vazias. A instalação durou cerca de um mês de trabalho intensivo por parte do Movimento 90º, porém Zé conta que como eles tinham um prazo para a entrega e lançamento do jardim, o trabalho infringiu algumas leis do prédio que determinou horários para a “obra” e houve muitas reclama-

ções, porém após o lançamento o prédio foi muito elogiado e se tornou uma espécie de ponto turística na região. O acordo de duração de um ano, não será renovado e em janeiro de 2015 o jardim deverá ser retirado. Uma pena, para a cidade. Para os moradores, um alívio. Durante esse ano de duração apresentou problemas, muitos dos quais o movimento dizia que não ocorria. Houve uma pequena infestação de bichos que se desenvolveram no jardim e para conter o prédio teve de ser dedetizado; Um dos apartamentos, localizados no 5º andar, apresentou infiltração em um dos quartos e até hoje não houve reparos por parte do Movimento, que assumiu que poderia ser consequência da agua do jardim; Porém o problema principal é a questão da água. São Paulo está vivendo um racionamento de água e mesmo assim o jardim, que é irrigado sete vezes ao dia com 320 litros de água, não foi instalado com a bomba que iria permitir o reuso dela. Ou seja, todo dia 2.240 litros são despejados na rua após a irrigação. Em um banho de 15 minutos em um chuveiro elétrico são gastos cerca de 135 litros, portanto , com essa água desperdiçada todos os dias seria possível tomar dezesseis banhos. Zé Maria, explica que no projeto inicial o reuso da água estava determinado, porém na instalação houveram problemas e a bomba não foi instalada. Essa é a principal reclamação dos moradores, que votaram a favor da retirada do jardim. “O jardim teve tudo para dar certo, mas por falta de diálogo e aten-


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ção, não deu. É triste, por que é muito bonito”, conta Zé. O projeto inicial proposto era que o minhocão iria receber diversos jardins verticais, porém poucos dias depois da inauguração do primeiro jar-

marketing que a empresa estava esperando ocorrer, logo o projeto foi abortado e houve uma falta de interesse com o jardim já instalado, que demorou a receber reparos e nunca funcionou como deveria.

como um calço para que ela não escorregue. Repita com as outras garrafas escolhendo a quantidade e a distância entre elas. Com as garrafas devidamente presas e alinhadas, basta prender as

cordas na parede ou no teto. Então coloque a terra, a semente e aguarde ela crescer linda e saudável. E como manutenção só é necessário regar e adubar a terra. Pronto! Seu jardim vertical está pronto.

IMAGENS: DIVULGAÇÃO / MARCELO ROSEMBAUM

dim, a prefeitura notificou o prédio dizendo que de acordo com a Lei Cidade Limpa, a parede não poderia apresentar marcas e quaisquer outras palavras. Então, como não haveria a possibilidade de o

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onstruir um jardim vertical é mais fácil do que você imagina. Você tem uma parede vazia na sua casa? Veja como deixa-la mais viva e de quebra melhorar a qualidade do ar da sua casa, tudo isso com material reciclável! Para fazer um jardim vertical adaptado para casas ou apartamentos, o arquiteto Marcelo Rosembaum explica que são necessários os seguintes materiais: garrafas PET de dois litros (vazias e limpas); tesoura; corda de varal; terra e mudas de planta. O primeiro passo é cortar as garrafas na parte lateral, de forma que faça uma abertura onde a planta irá crescer. Lembrem-se a garrafa deve ser usada na horizontal! A seguir faça quatro furos próximos à abertura, um de cada lado, em cima e em embaixo. Por esses furos irão passar o cordão que segura as garrafas e o ideal é que os furos tenham a mesma distância em todas as garrafas para que elas fiquem alinhadas quando colocadas na parede. No fundo da garrafa faça um furo que possibilite a saída do excesso de água. Pegue a corda de varal e passe cada uma por um lado da garrafa. Faça um nó com a corda logo abaixo da garrafa, que servirá

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São Paulo e as ciclofaixas: entre tapas e beijos Ana Luíza Simões e Tatiane Cristine DE SÃO PAULO

Antes de sair de seu apartamento na Avenida Paulista o publicitário de 24 anos, Rodrigo Abrahão, veste sua camisa, tênis e um jeans. Em um dia muito quente em São Paulo, agradece por não precisar usar terno e agora, tem um novo motivo para ser grato na cidade. O jovem conse12

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gue ir ao trabalho utilizando um meio de transporte que para ele é bem mais que um simples meio, e sim, uma paixão: a bicicleta. Ele coloca seu colete refletor, capacete, óculos escuros e uma tornozeleira também refletiva para que a calça não se enrosque nas correias da bicicleta “andar de bicicleta mudou minha relação com a cidade”, afirma. O motivo para a satisfação de Rodrigo se deve as novidades deste ano. Até bem pouco

tempo, a bicicleta era tida como uma alternativa para um grupo específico de pessoas. A mudança que presenciamos agora é que este meio está sendo inserido para que possa, cada vez mais, fazer parte da realidade e cotidiano dos paulistanos. Desde junho desse ano, as ciclovias estão sendo implantadas na cidade com uma força bem maior do que anteriormente. Porém, nem todos estão contentes como o ciclista e este “boom”


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vêm dividindo opiniões. Parte do comércio não gostou muito dessa história. A moradora e comerciante do bairro Barra Funda, Heneida, 57, afirma estar sendo organizando um abaixo-assinado contra a instalação da faixa exclusiva para bicicletas. Segundo ela, a prefeitura não avisou sobre a mudança e não apontou alternativas de estacionamento para quem vive na região. “Tenho um salão a mais de 15 anos. Vários clientes, inclusive eu, estacionam em frente enquanto esperam ser atendidos. Além deles, também serei impedida de parar em frente ao meu próprio estabelecimento”, reclama. Os moradores dizem que a Rua Lopes de Oliveira, por ser do lado da estação de metrô Marechal Deodoro é bem movimentada. A região é bastante residencial e boa parte dos moradores, explica a dona do salão, param os carros na rua. “A prefeitura acha que pode sair pintando onde quer sem nem pedir licença?”, questiona. A moradora do prédio Vicente Capoano, Rosimeire Pereira Lima Reis, 47, diz que para ela não altera muito a ciclovia, pois nunca estacionou na frente de casa. “Como tenho medo de assalto, coloquei portão eletrônico e nunca paro na rua. Mas, meus vizinhos reclamam muito, pois

não tem onde parar”, comenta. Por isso, os ciclistas Antônio Miotto, 48 e Rodrigo Abrahão ressaltam que a prefeitura deve planejar o local onde as estruturas serão instaladas. “Não adianta colocar ciclovias pela cidade se não tiver lugar para parar as bicicletas”. Mas também não adianta colocar os paraciclos em qualquer lugar. É preciso planejamento. “Colocar os suportes onde há grande fluxo de pessoas e onde não atrapalhe

os pedestres”, afirma Antônio. Rodrigo já acredita que a instalação é mais necessária em avenidas de tráfico intenso, onde os ciclistas ficam mais expostos, mas não descarta a importância em ruas menos movimentadas. “De qualquer forma, é difícil fazerem algo a respeito e agora estão fazendo, então acho muito valido”. Procurada, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) disse que a criação de novas ciclovias, assim como a implanta-

ção de faixas de ônibus, significa uma mudança cultural no sentido de valorizar o transporte coletivo ou alternativas para a cidade. A companhia diz ainda que a elaboração de novos projetos é feita analisando as características da região, como presença de ciclistas na via, volume de trânsito, composição da frota e se a área é, por exemplo, residencial ou comercial. “Todas essas características interferem na seleção das vias destinadas a compor a malha cicloviária assim como definem o tipo de espaço de circulação cicloviária mais adequado para a situação, optando-se preliminarmente pela segregação do fluxo ciclístico em relação ao fluxo motorizado através de ciclovia, ciclofaixa, tráfego compartilhado (calçada) ou via ciclável, tendo como principal objetivo garantir o trajeto que ofereça maior segurança e conforto ao ciclista”, diz email enviado pela CET. A CET também afirma que está aberta para conversar e que o plano demobilidade cicloviária está sendo estruturado dentro das normas estabelecidas no CTB (Código de Trânsito Brasileiro) Do total de ciclovias existentes na cidade, a atual gestão inaugurou 117,2 km desde junho deste ano. A meta da gestão Fernando Haddad (PT) é ter uma malha de 400 km até o fim de 2015.

ALMERINO GONÇALVES

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Brasil perde força na luta contra desmatamento Não assinatura de documento internacional, aumento nas emissões de gases e represamento de dados oficiais colocam em xeque atual política ambiental

Henrique Julião DE SÃO PAULO

A divulgação dos dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases do Efeito Estufa 2014 (Seeg) no último dia 19 confirmou algo que já se temia: os avanços do Brasil na luta pela defesa do meio ambiente estagnaram. Em 2013, as emissões de dióxido de carbono subiram 7,8% em comparação com o ano interior. O índice apresentava queda desde 2005. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o aumento nas emissões não implica em uma proporcional elevação nos índices de desmatamento. Contudo, a não divulgação dos dados coletados pelo sistema de monitoramento do governo federal referentes aos meses de setembro e outubro indica que há algo de errado. Antes mensais, os relatórios são agora trimestrais. A mudança ocorreu às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais – acredita-se que os índices poderiam ser utilizados como propaganda contra o governo de Dilma Rousseff. Um relatório preliminar do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) obtido pelo jornal Folha de S. Paulo indica que o desmatamento no país cresceu 122% em comparação ao mesmo período de 2013. 14

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Soma-se as más notícias ambientais a recusa do Brasil em assinar a “Declaração de Nova York sobre Florestas” durante a reunião da cúpula da ONU na última semana de setembro. A carta de intenções estipulava novas metas para a diminuição do desmatamento global: reduzir pela metade a derrubada de florestas até 2020 e zerá-la até 2030. O acordo foi assinado por 27 países, 35 empresas, 45 entidades civis e três estados brasileiros (Acre, Amapá e Amazonas), além do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) – mas não pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. “Infelizmente, não fomos consultados [sobre a declaração]. Acredito que seja impossível pensar uma iniciativa em prol das florestas a nível mundial sem incluir o Brasil. Não faz sentido”, declarou a ministra à Associated Press. Lideranças do movimento ambiental, como Márcio Astrini, coordenador do Greenpeace no Brasil, condenaram a atitude: “A desculpa sequer foi decente. O Brasil não tem que ser informado sobre os textos, o Brasil tem que escrever os acordos de florestas do mundo”, declarou o coordenador do Greenpeace. Um dos possíveis pontos de discordância entre o tratado da ONU e a atual política ambien-

tal brasileira é a questão das metas de redução das florestas. O objetivo do governo é diminuir em 80% na derrubada de árvores, e não 100%, como sugere o documento internacional. Isso porque a proposta iria de encontro às áreas de “desmatamento legal”, permitidas e fiscalizadas pelo governo desde a promulgação do novo Código Florestal, em 2012. A flexibilização do uso do solo causada pelo novo código é uma dos responsáveis pelo aumento das áreas devastadas. “A análise da questão ambiental da [gestão] Dilma é muito simples: houve uma diminuição do desmatamento no passado porque houve um histórico de esforços para reduzir o desmatamento. Já no governo Dilma, você tem um esforço para aumentar”, declara Astrini. Os últimos dados divulgados pelo INPE, no dia 10 de setembro, indicaram elevação de 29% nas áreas desmatadas na Amazônia entre agosto de 2012 e julho de 2013; Mato Grosso e Maranhão registraram aumento de 50%. Já no Acre e no Amapá – estados que assinaram a Declaração de NY à revelia do governo federal – os índices caíram. Na abertura da Assembleia Geral da ONU, que ocorreu no dia 24 de setembro em Nova York, a presidente Dilma Rousseff citou a política ambiental nacional e considerou que o Bra-


POLÍTICA

sil está definindo a agenda mundial de discussões sobre o tema: “Entre 2010 e 2013, deixamos de lançar na atmosfera, a cada ano, em média, 650 milhões de dióxido de carbono por ano. Alcançamos em todos esses anos as quatro menores taxas de desmatamento da nossa história. Nos últimos 10 anos, reduzimos o desmatamento em 79%, sem renunciar ao desenvolvimento econômico nem à inclusão social. Mostramos que é possível crescer, incluir, conservar e o proteger”. A fala irritou ambientalistas. “É uma frustração a presidente discursar na ONU como se o problema tivesse sido resolvido”, declarou Astrini. “80% da madeira da Amazônia é ilegal. Dois terços da madeira que sai do Pará, que produz metade da madeira da Amazônia, é sem registro. A cada um minuto um campo de futebol é desma- dos investimentos na área para fontes de energia não-renováveis tado ilegalmente”. e apenas 9% para fontes limpas, como a solar e a eólica: “É um Energia Perdida Márcio Astrini também criti- potencial natural que a gente tem cou o Plano Decenal de Expan- e que o governo nega. A energia são de Energia, que prevê 70% solar é de graça, você só paga a

DECLARAÇÃO DE NOVA YORK SOBRE FLORESTAS HENRIQUE JULIÃO

instalação. É difícil de compreender. E muito dinheiro em hidroelétricas, que estão cada vez mais sob ameaça, porque há um efeito climático no Brasil muito presente que tem mudado a ocorrência de chuvas”.

Planos ambientais: Ideia x Realidade Redução do desmatamento e da emissão de gases eram propostas ambientes da presidente Dilma Rousseff na última eleição Pedro Agnelo DE SÃO PAULO

Na época das eleições cada candidato tinha o seu próprio plano de governo explicando suas ideias sobre que caminho

seguir com o país. Com a reeleição da presidente Dilma os seus planos para o meio ambiente podem começar a ser implementados, mas quais são eles? Um dos principais tópicos do plano foi o uso de energia limpa, a presidente pretende

expandir o número de hidroelétricas e termoelétricas no país, mas qual o custo delas? A usina de Belo Monte é um dos casos mais memoráveis e serve como um exemplo para as consequências de uma usina hidroelétrica. Belo Monte tem atualmente um OLHAR VERDE

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REALIDADE

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POLÍTICA

custo estimado de 30 bilhões de reais e estudos mostram que sua construção pode causar diversos impactos ambientais como a destruição de diversas raízes de árvore que servem como alimento para peixes da região, assim causando uma diminuição no número de peixes e afetando o mercado da pesca da região. A ideia por trás da usina hidroelétrica é complementar outro plano de Dilma que envolve a diminuição da emissão de gases estufa até 2020. É verdade que uma hidroelétrica não polui, mas seus impactos ambientais afetam todo o sistema ecológico, sendo assim até uma contradição ao terceiro plano ambiental da presidente que envolve a diminuição do desmatamento de florestas. Então vale a pena se perguntar: de um lado estão evitando o desmatamento para que mais florestas não seja destruídas, mas por 16

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outro não existe problema em destruir essas florestas e ecossistemas se o motivo for trazer energia para as pessoas? Existe contradições no plano ambiental, que podem ser solucionados com uma analise cuidadosa e investimentos nas áreas certas. E se Aécio tivesse vencido? O plano de governo de Aécio Neves durante as eleições tinha um foco similar ao de Dilma: Diminuir a emissão de gases carbonos, porem suas táticas para isso são completamente diferentes da presidente. Para redução de gases e para ampliação de fontes de energia ele propôs uma ampliação no uso de energia solar e eólica no país, que são energias renováveis e não destroem o ambiente, mas não produzem tanta energia quanto uma hidroelétrica ou termoelétrica, por isso os investimentos iniciais para tais ener-

gias seriam elevados, mesmo tendo chances de retorno futuramente. Dados divulgados na campanha da candidata Marina apoiavam essa ideia de energia solar, mostrando que em nos lugares menos ensolarados do Brasil ele ainda recebe 40% a mais de energia do que na Alemanha que é um dos países que mais investe na energia solar. A energia eólica também é de alto custo, tendo a necessidade de encontrar territórios em que o vento seja constante, por isso traz certas dificuldades de implementação, mas se feita com sucesso pode trazer retornos financeiros rapidamente. O ex-candidato, também tinha planos para trazer uma agricultura de baixo carbono, uma ideia que traria uma implantação de meio renováveis nas fazendas, aumentando a produtividade e aumentando reflorestação ao plantar árvores para meios comerciais.


Pequenas e grandes empresas se mostram preparadas para lidar com a falta d’água Empresas do setor privado, como a Heineken Brasil, se preparam há anos para enfrentar a crise de hoje; empresas menores investem em tecnologias alternativas Vinicius Máximo DE SÃO PAULO

Com as represas do sistema Cantareira em crise, operando com aproximadamente 11,9% de sua capacidade hídrica, empresas que dependem de seu abastecimento precisam traçar planos e metas para que a dependência diminua sem afetar a produção. A Heineken Brasil é um exemplo de grande empresa que possui a economia de água como prática internalizada há alguns anos. Em março de 2014, quando a crise hídrica batia à porta, a Heineken divulgou no Dia Mundial da Água uma economia de cerca de 600 milhões de litros d’água até 2013. As pequenas empresas, entretanto, não ficam de fora da mira da sustentabilidade e responsabilidade de poupar o recurso natural. É o caso da WTT Paulmar – especializada na produção e comercialização de cilindros e vedações –, que investe em poços artesianos para suprir as necessidades internas. Desta forma, utiliza o mínimo possível de água vindo da Sabesp sendo 80% autossuficiente em água. Quanto essas iniciativas ajudam a economizar? A Brewing a Better Future, estratégia de sustentabilidade da Heineken, tem a intenção de reduzir em 25% o volume da água utilizada para fazer cerveja até 2020 – tendo em vista que

a marca utiliza 4,2 hectolitros de água para produzir um de cerveja, ou seja, 4.200 litros de água para a produção de 1.000 de cerveja. Segundo Karla Brandão, diretora de Relações Corporativas da Heineken Brasil, a cerveja é constituída de 95% de água, o que torna o líquido ainda mais valioso pra a empresa. “O intuito é que a Heineken seja a cervejaria mais verde do mundo até 2020”, afirma. A WTT Paulmar não controla os dados da quantia exata de economia de água da Sabesp em função de seus poços artesianos. Porém, segundo a Diretora de Compras, Andréa Souza, quanto menos água a empresa utilizar, mais sobra para o bairro em que está instalada, em Taboão da Serra na Grande São Paulo. “Laguna é um bairro simples e tenho certeza que na hora de fazer racionamento, é de lugares como este que a água é cortada. Portanto, se usarmos os nossos próprios recursos, é possível que a população local sofra menos impacto”, pontua. A Heineken afirma que possui programas de reuso da água e captação da chuva, além de reaproveitamento de água do tratamento de efluentes. Duas unidades de cervejaria, em Pacatuba e Araraquara, relataram ter deixado de gastar 96 mil m³ de água. O que é necessário para viabilizar a instalação de poços artesianos?

No caso da WTT Paulmar, a empresa Ecoservices é a responsável para a perfuração e, posteriormente, manutenção dos poços artesianos. Para empresas de pequeno e médio porte é um bom custo-benefício, já que por cerca de 600 reais, a empresa terceirizada faz uma análise mensal e confere o medidor de cloro, enviando posteriormente os dados para a Vigilância Sanitária. A cada semestre um geólogo responsável pelos poços confere de perto todas as especificações de água para que a empresa possa continuar a usá-los. Quais os benefícios de investir em tecnologias hídricas? O programa Brewing a Better Future da Heineken, citado anteriormente, visa melhorar a economia da água e ampliar suas capacidades verdes, e atua na proteção dos recursos hídricos, sustentabilidade do fornecimento, redução de emissão de CO2 e o consumo responsável. A empresa acredita poder colher os resultados positivos destas ações entre quatro e dez anos, e afirma que de acordo com os resultados obtidos até o momento já podem concluir que o caminho escolhido obterá sucesso. A cervejaria também afirma fazer parcerias com fornecedores agrícolas para a minimização do uso de recursos hídricos nas plantações, ou seja, as ações passam por todas as etapas de produção da cerveja internacional. OLHAR VERDE

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ECONOMIA

Empresas lucram com a falta d’água em São Paulo Lavanderias que reaproveitam ou não usam água saem ganhando com a pior crise hídrica da história do Estado Almerino Gonçalves e Mariana Silva DE SÃO PAULO

O Sistema Cantareira já registra menos de 10% de sua capacidade, e o risco iminente de um racionamento oficial tem deixado a população em alerta. Mas como tudo tem seu lado bom, para algumas pessoas, a maior crise hídrica da história do Estado de São Paulo acabou se tornando um bom negócio. É o caso do Seu Marrocos, 47, dono da “Lavanderia Marrocos”, localizada na Rua Lopes de Oliveira, no bairro da Barra Funda. O estabelecimento, que já tem mais de 40 anos passando de pai para filho, costumava oferecer dois tipos de lavagem: a convencional com água e sabão e a expressa, popularmente conhecida como lavagem a seco. Em meio ao problema dos baixos índices dos reservatórios do Estado, Seu Marrocos foi obrigado a dar prioridade à lavagem a seco e viu a demanda do serviço praticamente duplicar. “A gente faz todo tipo de lavagem, mas ultimamente só utilizamos água em casos específicos”, afirma. Segundo moradores da região, desde maio, o bairro que fica na Zona Oeste de São Paulo sofre com cortes frequentes de fornecimento de água no fim da 18

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tarde. Contudo, o que seria uma ameaça para uma lavanderia tornou-se uma grande aliada ao negócio do Seu Marrocos. “O salão aqui ao lado passou a fechar mais cedo por conta da falta d’água. Como nós oferecemos a lavagem a seco, acabamos superando esse problema, além de termos recebido muitos clientes de lavanderias concorrentes que dependem exclusivamente da água”, conta. Ao contrário do que o nome sugere, a lavagem a seco não é tão seca assim. Nesse processo, a roupa é mergulhada em um solvente denominado percloroetileno (ou simplesmente PERC), que evapora tão rapidamente a ponto de as peças não precisarem ser estendidas. Desta forma, o serviço é dotado de praticidade, pois lava e seca as roupas em um período de uma hora, além de dispensar o uso de água, a cada dia mais escassa em nossa cidade. O aumento da preferência pela lavagem a seco provavelmente não se deve de modo direto apenas à falta d’água, mas também à publicidade espontânea que o serviço ganhou com a crise hídrica. “De fato, lavar a seco parece ecologicamente mais correto hoje e é possível que tenha gente procurando o serviço por esse motivo também”, conclui Seu Marrocos.

Reaproveitando a água Outras empresas também já perceberam o quão importante é para os negócios não ignorar o crescente engajamento da população às causas voltadas para a economia de água. É o caso da Rotovic, uma lavanderia industrial fundada há 40 anos, localizada em Taboão da Serra. Recentemente, a empresa investiu em um sistema de filtragem que transforma a água suja, resultado das lavagens, em uma água cristalina e potável. Atualmente, 50% de toda a água utilizada na empresa pas-


ECONOMIA

sa por esse processo. E o tratamento não é só importante por reaproveitar a água em tempos de crise, mas também porque os resíduos de produtos químicos utilizados em lavanderias industriais podem contaminar o meio ambiente, caso essa água seja devolvida à natureza sem que haja um cuidado apropriado. Entretanto, ao mesmo tempo em que abraçam causas ambientais defendidas por boa parte dos consumidores, as empresas precisam lidar com o preconceito de outros. A estudante de direito Ana Carolina Ferro, de 22 anos, por exemplo, utiliza os serviços de uma lavanderia em São Paulo, já que mora sozinha e fica pouco tempo em casa, mas o reuso a deixa em dúvida. “Eu uso porque realmente preciso e acho bom que algumas empresas estão tendo essa consciência, mas se soubesse que eles trabalham com água reaproveitada, eu não sei se continuaria a utilizar. Será

que a água é limpa mesmo?”. De acordo com a assessoria de imprensa da empresa, o processo é seguro. A água com resíduos, que sai das máquinas após as lavagens, passa por quatro tanques, em um processo de decantação e purificação. Um sistema é responsável por verificar o ph e a quantidade de cloro presente na água antes que ela possa ser reutilizada pelas máquinas da lavanderia. A água pode ficar até mais limpa do que era antes. A verdade é que reaproveitar água é mais comum do que se imagina. E em diversos países como Austrália, Israel e Estados Unidos a água não é reutilizada apenas para lavar roupas. Em Orange County, no Estado americano da Califórnia, por exemplo, há mais de 30 anos a água residual do esgoto é tratada e transformada em água potável. No Arizona, estima-se que 80% do gosto retorna às torneias.

Armazenamento Eliete Bustamente, 47, tem sofrido com a falta d’água no Jardim da Saúde, Zona Sul de São Paulo. Por outro lado, também viu seu negócio, o Depósito Dom Vilares, crescer. Segundo Eliete, é comum não ter água na região depois das 10 da noite. Em meio a essa situação e com um possível racionamento oficial a vista, consumidores começaram a se preparar investindo em caixas d’água. “Antes eu costumava vender só para quem estava construindo casa. Já passei um semestre inteiro sem vender nenhuma caixa. Hoje, elas não ficam no estoque”, comemora. E é o que nos resta em meio à nossa maior crise hídrica. Gerar consciência, economizar água e manter a positividade típica do povo brasileiro, preferindo fingir ver uma represa meio cheia do que uma represa meio vazia. ALMERINO GONÇALVES

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O dilema dos testes de laboratório em animais no Brasil Danielle Andrade DE SÃO PAULO

Muito se discute a respeito da utilização dos animais em testes de laboratório. Por um lado, entra em jogo a proteção aos bichinhos e a garantia do seu bem-estar. De outro, sem esses testes, estariam as prateleiras das farmácias vazias? Será que existem outras opções que possam poupar o sofrimento dos animais e ainda assim permitir avanços medicinais para o bem estar humano? Parece que além de existir outras formas, esse tipo de experimento não é totalmente confiável. Segundo a HSI (Humane Society Internacional), 90% dos testes feitos em animais se mostram ineficazes. Isso porque as diferenças genéticas e substâncias testadas em animais têm resultados diferentes quando são testados em humanos. Existe como alternativa, e mais eficaz, tecidos humanos artificiais criados em laboratório. Os experimentos feitos utilizando esse método são capazes de determinar o nível de irritação que a pele humana sofre, assim como testes feitos em tubos de ensaio que diferenciam ingredientes tóxicos de ingredientes que causam dano ao ser humano. Mas se existe outra forma de realizar os testes, não deveria ser proibido o uso de animais nos procedimentos? Em alguns lu20

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gares do mundo já é assim, mas no Brasil, por enquanto, não. Por aqui, os testes utilizando bichinhos não são obrigatórios, mas fica por decisão das empresas e fornecedores de ingredientes decidirem utilizar desse método ou não. Já em outros países, no caso de haver alternativa para o experimento que não necessite da utilização dos bichos é proibida o emprego de qualquer tipo de animal. Desde o meio do ano, outros métodos já foram descobertos pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Conea). “Estamos lutando para que o Brasil seja mais um nesse movimento mundial de maior preocupação com o sofrimento em vão dos animais. A primeira preocupação da HSI é o sofrimento dos animais que possuem sentimentos e sofrem nos testes de toxicologia. A segunda é que esses testes são arcaicos e, portanto, não tão confiáveis como alguns métodos descobertos pela ciência moderna.” Helder Constantino da HSI Após a invasão em outubro de 2013 no instituto Royal, o governo vem sendo pressionado cada vez mais para a proibição do uso de animais em testes. Mas ainda segundo o Concea, no Brasil, são 230 institutos credenciados para o uso dos testes em animais e apenas 10 buscam métodos alternativos. As empresas que buscam mé-

todos alternativos são chamadas cruelty free (livres de crueldade) e utilizam mais de 5.000 ingredientes já testados capazes de criar produtos novos, modernos e eficientes, que já estão disponíveis no mercado, mas são raros e bem mais caros. No Brasil, o número de pessoas que apoiam a proibição nacional de testes para cosméticos é de 66%. A estudante de engenharia civil, Victória Tezzoto, quando perguntada sobre o assunto afirmou “Não que eu seja à favor dos animais sofrerem, mas também sou não sou contra o testes em animais. Se não fosse por eles como poderia confiar em utilizar algum produto?” Em 80% dos países os testes feitos em animais ainda são permitidos. Na China, onde é obrigatório, acontecem 300.000 mortes de bichos por estes métodos. Nos Estados Unidos 219 animais morrem por minuto em laboratórios. Os animais mais usados nos testes são camundongos, macacos, cachorros, gatos, porquinhos da índia e ratos. Testes em animais vêm sendo feitos dede 1920, sendo arcaicos e muitas vezes não confiáveis. Animais e humanos possuem organismos diferentes e podem reagir de forma distinta a determinadas substâncias. Atualmente há experimentos capazes de indicar toxidade e irritação de um produto sem que seja necessário o sofrimento de animais ou colocar algum ser humano em risco.


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