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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ed 174 - Ano XII - Outubro 2016 Nathalia Bellintani


A difícil locomoção em Higienópolis Moradores e estudantes reclamam dos obstáculos nas ruas Amanda Verniano

Amanda Verniano Raphaela Bellinati

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Carro Atende no campus

ele, o problema de acessibilidade está dentro da universidade. “No caminho do campus para o CCL, que fica fora do Mackenzie, a saída não tem opção de rampa, o que tornava a passagem complicada para mim, que estava de muletas”. Além disso, o que também atrapalhou o estudante, foi a falta de metrôs nos arredores da universidade, “Eu demorava meia hora andando até o metrô”. No campus, sobram escadas e faltam rampas, mas a universidade não nega abrir seus portões para deficientes físicos. Literalmente. O transporte público especial da prefeitura de São Paulo, pode entrar no campus para levar e buscar alunos que possuem ne-

Amanda Verniano

pesar de ser uma região nobre e ter fama de ser um dos melhores lugares para se viver, Higienópolis deixa a desejar no quesito acessibilidade. Os arredores da Universidade Presbiteriana Mackenzie de fato, possuem algumas ruas planas, com guias rebaixadas e anti-derrapantes, o que ajuda muito na locomoção de pessoas com deficiências ou machucadas, porém, algumas ruas da região são despreparadas para atender pessoas com necessidades físicas. Isadora Travagin é uma estudante de 19 anos e mora na rua Maria Antônia. No ano passado ela machucou seu joelho e ficou dois meses dependendo de muletas, uma experiência que se tornou pior pelo fato da despreparação de algumas ruas ao redor de sua casa. “Posso afirmar com os pés juntos que algumas ruas não tem estrutura para deficientes”. As ruas Maria Antônia, Itambé e Piauí são irregulares, inclinadas e possuem buracos, além de terem calçadas estreitas, o que é ruim devido a grande circulação de pessoas. Já Daniel Ventre, 18 anos, estudante de Publicidade e Propaganda da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que quebrou o pé, disse que a região é bem acessível e de fácil locomoção. Para

Daniel Ventre, estudante

cessidades especiais, vantagem que, muitas faculdades de São Paulo, não dão muita atenção.

Supervisor de Publicações José Alves Trigo Impressão: Gráfica Mackenzie

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Comunicação e Letras

Diretor: Alexandre Huady Guimarães Coordenador do Curso de Jornalismo: André Santoro

Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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Tiragem: 200 exemplares.


O negativo da foto revive na República Centro antigo de São Paulo é palco para os amantes da fotografia

Na galeria é possível encontrar várias outras lojas com artigos para fotografia

Texto e foto: Natália Mancini

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char locais que ainda trabalhem com o fotografia analógica pode ser considerado um desafio por aqueles que escolheram não abandonar essa atividade, porém no bairro da República é possível achar um refúgio para esse público. Situada na Rua Sete de Abril, número 125, loja 31, a Angel Foto é um desses locais. Robert Costa, 30 anos, responsável pela loja conta que a quantidade de clientes atual se for comparada com a quantidade do início dos anos 2000 ou quando a loja abriu (1998) não é grande, mas “não é um mercado que morreu ou está perto de morrer”. Apesar da maioria dos clientes procurarem o material digital, aqueles que compram o analógico são féis. Costumam ter duas características principais, ou são pessoas de mais idade que optaram por esse modo de fotografar por conta do saudosismo ou jovens que bus-

cam fazer suas fotografias de maneira incomum. “São jovens que acham legal esse processo de fotografar e revelar, fazer revelação em preto e branco em casa”, disse. Tugo Ogava trabalha na Rua Barão de Itapetininga, número 50 desde 1957 e é um dos poucos que ainda trabalham com a revelação de negativos. Considerado pelos seus clientes como a melhor pessoa para realizar o serviço, atende todos com muita alegria, atenção e eventualmente ajuda seus clientes com qualquer problema fotográfico que eles possam ter. Ogava começou a trabalhar com revelação devido à idade. “Você não vai, depois de 80 anos, sair por aí fotografando. Então aprendi a revelar. ”, diz brincando. Complementa ainda que pode ficar, às vezes, várias horas sem ter nenhum trabalho, mas que “quando chega, chega muito”. A concentração de lojas que oferecem aparatos analógicos no bairro da República dá-se por conta de uma grande loja que existiu nos anos 70 chamada Sosecal. Boa

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parte dos donos das atuais pequenas lojas que se encontram por ali, eram empregados da Sosecal. E após o seu fechamento alguns deles decidiram iniciar um negócio por conta própria e continuar no ramo, “ O mercado analógico nunca se extingue, ele foi diminuindo, perdendo espaço para o digital, só que chegou um momento que ele parou e se estabilizou”, explica Robert.

Um dos itens mais procurados


Coleção de carros passa de pai para filho Valdir cuida da loja desde 1962 e mantém paixão por carros antigos

uem anda pela rua Marquês de Itu se depara com a loja de Valdir Pereira. Aos 44 anos de idade ele coleciona carros antigos e toca a loja de sua família, a qual ele assumiu na década de 1980. Sua história de colecionador vem de herança do pai. “Mudei um pouco a ramificação e ampliei o ramo de trabalho. Hoje eu faço funilaria, mecânica e tenho outros estabelecimentos, não é apenas customização e áudio mais”, conta Valdir. Logo na entrada da loja se encontram uma Mercedes e um Camaro antigos, os únicos modelos que ficam no local a vista de todos. O Camaro preto é considerado por Valdir o seu preferido. “Comecei a dirigir ele com 12 anos”, afirmou. Apesar do foco em modelos antigos a loja de Waldir trabalha com

mecânica e funilaria de veículos em geral. Além da unidade próxima ao Mackenzie ele possui outras em mais locais. Na Marquês de Itu seus clientes em maioria são pessoas do próprio bairro, mas também aparecem pessoas de outras cidades. “Trabalho com pessoas de outras cidades e outros estados na área de peças que é outro ramo aqui da loja. Muitas vezes a pessoa tem um carro desses e não encontra peça para conserto, então eu envio a peça e ele faz o conserto onde mora”, disse. Os carros mais “trabalhados” em sua loja são da década de 1974, em sua maioria de uma categoria denominada de muscles cars. A preferência de Valdir são por modelos americanos desta categoria. Os muscle cars são modelos V8 com mais de 300 cavalos de potência característicos das décadas de 60 e 70. Um exemplo clássico de carro dessa categoria é o Shelby Mustang GT500, de 1967.

Nathalia Bellintani

Aline Fatima e Nathalia Bellintani

Modelo antigo exposto na loja

Esses carros são característicos para provas de corrida. Atualmente, Valdir conta participar de alguns eventos de competição com eles. “Já participei de exposições e feiras, hoje participo apenas de eventos de competição. Não gosto muito de feiras, prefiro correr. Sempre tem uma corrida a cada 15 ou 30 dias”. Nathalia Bellintani

Valdir observa o motor do carro de um cliente

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Giorgio Galli expõe obras na capital O artista ganhou exposição graças ao Istituto Italiano di Cultura

Fachada do Istituto Italiano di Cultura

Giovana Costa Ventura Marina Marques Lara Pinto

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xiste, na capital paulista, uma casa que reúne inúmeros dados sobre a imigração Italiana ao Brasil e que traz aos espectadores exposições de artistas italianos e brasileiros focados no tema imigratório. O Istituto Italiano di Cultura trouxe para o Brasil “A prática da Arte - O futuro possível”, obras de Giorgio Galli, exibidas no Mostei-

Bandeiras do Brasil, Itália e UE

ro São Bento até a primeira sema- viva a tradição italiana e facilitar na de outubro. o intercâmbio cultural. “São Paulo O artista possui tendências entre tem a maior comunidade italiana o Informal e o Neo Dadá e se utili- do mundo, fora da Itália”, contou za de técnicas antigas de afrescos e a bibliotecária, e o instituto manencáusticas (uso de calor para criar o efeito de translucidez nos pigmentos de cera). A exposição conta com 24 obras e duas esculturas. Em 1922, o atual local que funciona o instituto, foi construído para a família de Oscar Rodrigues Alves, filho do então presidente. Após algumas vendas, foi instituído, em 2002, sede do maior acervo de cultura Italiana do Brasil. Sônia Maria Guimarães, de 57 anos, é bibliotecária do Instituto Biblioteca do Istituto Italiano. e contou que há apresentações de tém isso de forma vívida. italianos e de brasileiros sempre Giorgio Galli nasceu em Roma, voltados para a imigração, contri- em 1951, onde mora até os dias buindo na arte, cultura e pensa- de hoje. O artista já veio ao Bramento. Além disso, a casa é aberta sil com sua exposição "Alquimias para todos que queiram utilizar a curadas", que teve como local o vasta biblioteca, ver um filme ita- Istituto Italiano di Cultura em liano às terças ou apenas conhecer 2007. Além da capital paulista e o local. de sua cidade natal, ele já expôs O objetivo do Istituto é enrique- suas obras em países como Peru, cer a paisagem cultural, manter Coréia do Sul, Japão e Argentina.

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Um negócio bom para cachorro

Em Higienópolis, João se destaca vendendo acessórios para pets

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Acessórios vendidos por João

tar, “minha família está aqui e a minha forma de ganhar dinheiro também, então nao penso em voltar para morar na cidade nesse instante, mas para visitar os amigos e parentes eu tenho vontade sim”. Adriano de Sousa

atural de Itajubá, interior de Minas Gerais, João Pereira Ananias, 50 anos, viu em seu tempo ocioso uma forma de ampliar sua renda. O segurança privado que trabalha um dia sim e outro não, vende materiais como roupas e camas para os cachorros, de médio e grande porte. Improvisado na esquina da Avenida Angélica com a Avenida Higienópolis, próximo a universidades como o Mackenzie, aos colégios Nossa Senhora de Sion e Renascença e ao Shopping Pátio Higienópolis, ele diz que lucra bastante em determinados dias, porém nem sempre o negócio flui. “O lucro é bom, ajuda bastante, mas depende muito do dia. Tem dias que ganho entre R$ 500 e R$ 600, alguns R$ 200 e tem dias que não ganho nada, mas na maioria é bem rentável”, afirma João. O local de trabalho foi pensado estratégicamente por ele. De acordo com o vendedor, Higienópolis é um dos bairros que mais tem cachorros em São Paulo, colaborando muito com a suas vendas. Outro fator que atrai muitos clientes é a proximidade do Shopping Pátio Higienópolis, quem frequenta o shopping já sabe onde comprar roupas para seus cães por um valor muito mais acessível. As peças encontradas são compradas e revendidas por ele. O preço varia de acordo com o acessório. Roupas de cachorros pequenos custam R$ 20 e de cachorros grandes R$ 50, enquanto as camas valem entre R$ 15 a R$ 70. João Ananias é divorciado, pai de dois filhos, mora com a

sua esposa atual, junto ao filho dela e seu filho mais novo. Para atingir sua meta de renda familiar e manter a família em boas condições, um dia ele trabalha como vendedor e no outro como segurança privado. Este é motivo de algumas vezes não encontrá-lo no seu local de vendas. Isso não é um problema para ele, a clientela já sabe que toda segunda, quarta e sexta ele está no mesmo local no período da manhã e da tarde. João diz que não pretende trabalhar com materiais “pets”para sempre, “comecei a trabalhar nesse mercado por conta de um amigo que me disse que daria dinheiro, quando eu não lucrar mais com isso vou ter que procurar outra forma de completar a renda de minha família. Espero que demore pra acontecer isso, pois gosto bastante desse negócio e me da um ótimo lucro”. O segurança diz ter saudades de sua terra. Porém, não pretende voltar para morar e sim para visi-

Adriano de Sousa

Adriano de Sousa Vinícius Martinez

João Ananias em seu ponto de venda na esquina da Av. Higienópolis

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Sebo ambulante inova na Roosevelt

Diferente dos sebos comuns, o comércio de livros acontece ao ar livre Laís Dantas

Laís Dantas Laura Marcondes

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Praça Roosevelt, um espaço aberto para pedestres, ciclistas e, principalmente, skatistas, é a vista que Sidney Rodrigues Neves, de 49 anos, tem todos os dias, na Avenida Consolação. O paulista, natural de Mogi das Cruzes, é um vendedor ambulante com uma mercadoria um pouco inusitada para as ruas: livros. Com vários tipos de publicações, Sidney puxa seu carrinho até o local onde monta seu comércio, que funciona das 12h às 19h, de segunda a sexta na Consolação, onde está há seis meses, e perto do Shopping Frei Caneca aos domingos. “Eu trabalhava na 25 de Março, com outro tipo de mercadoria, [mas] não dava pra ficar muito lá que a prefeitura não deixa né, aí vem fiscal pra tomar mercadoria e tal, eu tive que sobressair com o livro.”, explica o vendedor. Ele compra, troca e ganha as obras que vende. “As pessoas que gostam de livros, que compram livros e vivem de livro são muito mais educadas também, é mais por aí também que eu...que me interessou.”, diz Sidney, que, es-

Sidney Rodrigues Neves, na rua, onde monta seu "sebo"

poradicamente, até mesmo deixa alguns exemplares à disposição de quem quiser pegar, sem esperar nada em troca. Mas nem tudo é conto de fadas. As vendas são difíceis e cansativas, pois mesmo que localizado em um lugar movimentado, a maioria das pessoas não dá atenção. Além disso, o vendedor ainda tem que competir com os sebos tradicionais que se encontram por perto, como nas ruas Augusta e Maria Antônia. Apesar das dificuldades, Sidney não se deixa abater. Talvez seu começo tão inesperado nesse rumo, caixas cheias de livros em bom estado largadas em uma caçamba de lixo, o tenha enchido de esperança de que oportunidades podem simplesmente aparecer. “Tava

passando numa caçamba de lixo, achei numa caçamba de lixo, mais ou menos umas oito caixas de livro. Aí já tava precisando mesmo, queria mudar, na verdade, pra trabalhar com livro, que eu já tinha intenção e achei.” Em São Paulo há várias histórias parecidas com a de Sidney Rodrigues Neves. Pessoas fazendo seu comércio nas regiões movimentadas do centro, correndo o risco de perderem suas mercadorias e ficarem sem nada. Pessoas que, dia após dia, vivem novos capítulos de sua própria história, com um sorriso no rosto e a simpatia guardada no bolso. E, assim, biografias silenciosas são escritas, prontas para irem para o papel e perpetuarem-se na vida da cidade. Laís Dantas

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O vendedor ambulante de frutas

Antônio Ribeiro ganha a vida há 19 anos na mesma esquina Giulia Landriscina

Antônio Ribeiro descasca abacaxi na avenida Higienópolis Giulia Landriscina Isabelle Mantovalli

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Giulia Landriscina

Esquina onde ele trabalha

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costuma comprar duas vezes por semana de Antônio há cerca de 14 anos. Já a aposentada Marina Tisi, 87 anos, garante: “fui uma das primeiras clientes a começar a comprar dele. É bom saber que estou ajudando alguém, além das frutas serem uma maravilha”. Giulia Landriscina

osicionado entre as ruas Martim Francisco com a Marquês de Itu, em Higienópolis, o comerciante Antônio Ribeiro, 42 anos, transporta suas frutas do Mercado Municipal até a esquina onde

trabalha há 19 anos. O morador do Brás trabalha quatro dias por semana, devido às feiras que ocorrem toda segunda. “Por mais que seja arriscado, prefiro trabalhar em algo que seja meu e não ser empregado em uma feira, como já fui. Tenho paixão pelas vendas e pelos produtos. Isso me move”. Além disso, o movimento em sua barraca chega a ser maior do que o esperado. “Não há concorrência, tenho clientes fiéis. Eles me conhecem", disse Antônio criou um delivery com seus produtos. Basta o cliente ligar ou mandar uma mensagem em seu celular com o pedido e ele o leva pessoalmente. “Criei pensando nos moradores desses prédios, muitos não têm a opção de descer e fazer a compra. Assim, entrego eu mesmo e crio um vínculo com eles”, disse. A cuidadora de idosos Maria Celma Silva, 63 anos, afirma: “O preço é mais em conta e as frutas são de boa qualidade’’. A cliente

Ambulante com seus produtos


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