Diretriz - Dezembro 2014

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Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie – Ano 9 – Dezembro 2014

Quem lê tanta

notícia? Jornal Diretriz_09 marco_2015.indd 1

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Editorial

A notícia é uma grande mercadoria cessidade constante que as pessoas têm de saber, sem querer e nem ter muito tempo pra pensar? O desafio é achar algo que dure mais ou choque mais. E enquanto nada explosivo ocorre, notícias corriqueiras sobre curiosidades ou acontecimentos locais tomam conta do espaço dos jornais para alimentar a “plateia” apenas no momento e depois serem esquecidas como se nunca tivessem virado notícia. Talvez sejamos consumistas demais com algo que não deveria ser mercadoria, mas é! Assim, a pressa pelo “novo” mata a durabilidade de algo importante. Em muitos casos não sabemos os resultados das matérias publicadas. O que a reportagem provocou? Ajudou ou não? Acreditamos ser importante acompanhar o decorrer dos fatos, talvez apenas para saciar aquele famoso complexo de herói do jornalista. É o que tentamos fazer aqui, nessa nova edição do Diretriz! Resgatar assuntos que caíram no esquecimento ou que não mereceram “suíte” na grande mídia, ou seja, não tiveram continuidade. Mas quem tem tanto tempo e pode se dar ao “luxo” de dedicar uma parte do seu dia para acompanhar o que fazemos diariamente? Seja como for, podendo ou não contar com essa plateia, esse é o nosso desafio!

Cacau Pht

Da janela do meu apartamento “passa” a cidade mais apressada do país. Também a avenida mais apressada da cidade. De terno, camisa, gravata, calça, bermuda… todos correm. Seja lá o que for fazer, todos têm pressa em viver na grande São Paulo. Entre eles, os caçadores do produto mais fugaz que existe: a notícia. Todos os dias os jornalistas vivem na contramão do fluxo incessante da cidade. Enquanto os outros passam, eles repassam. Farejam cada beco feito lobos famintos, cruzando com os personagens, recolhendo fatos, provas e testemunhos para a construção da sua mercadoria. Mas calma aí, mercadoria? Sim, não, talvez. Não posso negar, tampouco afirmar. Fato é que a notícia é um dos maiores exemplos de consumismo do mundo: vida útil curtíssima, procura alta demais. Todos os dias precisam ser trocadas por novas. As de ontem, hoje limpam vidraças e as de hoje, fresquinhas, estampam as bancas pela cidade, acompanham o cafezinho do trabalhador, captam a atenção do telespectador, estão nos portais da internet. Mas a notícia de ontem ninguém quer! Essa brevidade faz com que a profissão de jornalista seja uma das mais apressadas de todas. Como suprir essa ne-

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Comunicação e Letras

O Jornal Diretriz é uma publicação experimental do terceiro semestre do Curso de Jornalismo Reitor: Prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto Decanato Acadêmico: Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida Decanato de Extensão: Prof. Dr. Sérgio Lex Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação: Profa. Dra. Helena Bonito Couto Pereira Diretor do Centro de Comunicação e Letras: Alexandre Huady Guimarães Coordenadora do Curso de Jornalismo: Denise Paieiro Editores: José Alves Trigo,Vanderlei Dias e Edson Capoano Foto Capa e editorial: Cacau Pht

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DIRETRIZ

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Entrevista

“As tragédias são substituídas por outras” O jornalista Ricardo Boechat acredita que a cobrança da imprensa seria eficaz se o trabalho das autoridades fosse competente

Daniele Rodrigues

Todos os anos o Brasil é marcado por tragédias com grande número de vítimas fatais. A maioria delas acontece por irregularidades. A mídia cumpre seu papel dando cobertura ao acontecimento e aos desdobramentos até um mês depois. Após isso, cai no esquecimento da imprensa e, como consequência, da sociedade. No caso do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria-RS, a regra foi mantida. A exceção ficou por conta do programa da Rádio BandNews FM, ancorado pelo jornalista Ricardo Boechat. Durante 242 dias, ele atualizou os ouvintes sobre as investigações da tragédia e sobre as fiscalizações de São Paulo. Em entrevista ao Diretriz, Boechat falou sobre o assunto.

procurei cobrar e acompanhar as medidas legislativas em discussão no Congresso Nacional que uniformizaram nacionalmente a legislação e prevenção de incêndio em ambientes fechados. Foi uma tentativa meio inútil de cobrar

segurança: em áreas de escape, sinalização em ambiente escuro, material inflamável, extintores vencidos ou falta de extintores e tudo mais. Vocês jovens continuam indo a festas, porque farão isso sempre, e entram em ambientes assim

para levar em conta os interesses reais das pessoas. Você acredita que uma possível nota da imprensa informando a irregularidade da Boate Kiss teria evitado a tragédia?

Você acredita que essa iniciativa mudaria a postura das pessoas diante de acontecimento de grande repercussão? A imprensa tem de fazer cobranças gerais. Eu não creio que nós possamos produzir efeitos reais, efetivos. Por outro lado, concordo com você que isso criaria uma cultura, de fato ajudaria, se tivesse uma eficácia por parte de quem é responsável pelas fiscalizações. Além disso, teria de ser feito em diversas áreas, como segurança automobilística, saúde, alimentação, entre outros.

“Se não houver essa postura de cobrar das próprias pessoas, das autoridades, pouco efeito produziria essa cobrança” Por que decidiu informar durante 242 dias os ouvintes a respeito da Boate Kiss? Para provocar um pouco essa reflexão nas pessoas e para cobrar desdobramentos no processo de investigação, eu peguei esse número emblemático e resolvi encerrar o meu programa com uma notícia atualizando o que estivesse acontecendo ou até dizendo que não estava acontecendo nada. Aliás, foi o que aconteceu em muitos dias. Também

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acidente, principalmente com vítimas fatais? Eu não sei como você resolveria, por exemplo, outros cotidianos trágicos com os quais temos de lidar no noticiário. A rigor, você teria que imaginar uma quantidade infinita de espaços, como esse que você está sugerindo, vinculados especificamente à cobrança de um determinado setor. Enfim, ainda que houvesse essa coluna cobrando todos os dias, se não houver essa cultura geral, se não houver essa postura de cobrar das próprias pessoas, das autoridades, pouco efeito produziria essa cobrança existente em um veículo ou dois veículos.

um pouco mais. Como você analisa a postura das pessoas, principalmente frequentadores de casas noturnas, depois da tragédia em Santa Maria? A tragédia de Santa Maria não produziu efeitos. Se você percorrer hoje cem lugares onde são realizadas festas em ambientes fechados, você encontrará falhas primárias de

nos períodos de baladas, como se diz aqui em São Paulo. Com isso, acabam entrando em

arapucas muito semelhantes à boate Kiss, em Santa Maria. Um país que passa por uma tragédia como aquela, com tantos jovens morrendo de forma tão brutal e não tirar nenhuma lição, é fruto de uma cultura de estado deplo-

rável. As autoridades e o Estado brasileiro não estão nem aí

Talvez se um jornal de Santa Maria, uma semana antes do evento, tivesse avisado que ali era uma “arapuca” talvez tivesse produzido algum efeito, mas poderia ter ocorrido também de pegar fogo em outra. O que você acha de os veículos não terem um espaço reservado para uma nota sobre a fiscalização de algum lugar envolvido em algum

Como você analisa o fato de as pessoas não levarem consigo lições tiradas de acidentes fatais? Nós lidamos cotidianamente com essas tragédias e que por causa do esquecimento são substituídas por outras muito rapidamente. Além disso, o noticiário também se volta para novas tragédias ou para outras novidades. De maneira geral, os fatos são esquecidos. E como a memória não cumpre seu papel de relembrá-los, as lições do ocorrido não são aprendidas, não são assimiladas. Portanto, não produzem consequências.

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Cotidiano

Guardada em poucas memórias

Daniele Rodrigues

Um ano e meio depois da tragédia na Boate Kiss, cuidados com a segurança nas boates de São Paulo são praticamente esquecidos Daniele Rodrigues

A boate Inferno Club, na rua Augusta, região central de São Paulo, foi fechada após uma fiscalização feita pela Prefeitura de São Paulo e pelo Corpo de Bombeiros. O estabelecimento ficou interditado durante um final de semana em fevereiro de 2013. O rompimento do lacre de um dos extintores de incêndio, problemas com a rota de fuga e o Auto de Vistoria do Corpo de

O Corpo de Bombeiros realizou 180 mil atividades só em 2013 Bombeiros (AVCB) vencido foram os motivos pelos quais a fiscalização impediu que a casa noturna continuasse funcionando. Casos como esse ganharam espaço na mídia depois que 231 pessoas, em sua maioria jovens universitários, morreram no incêndio que atingiu a boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, no fim de janeiro de 2013. O público de casas noturnas e a mídia se mostraram preocupados com a segurança que esses locais oferecem até um mês após a tragédia em Santa Maria. Foi o caso do universitário Antonio Castro, de 21 anos, que frequenta boates desde os 17 anos. “Quando eu comecei a sair, eu ia muito. Em algumas semanas, começava a sair na segunda-feira e só parava no domingo”. Antonio nunca havia se preocupado com a segurança que os locais ofereciam, mas quando aconteceu a tragédia ele ficou bem preocupado. Atualmente, diz ter praticamente esquecido do que aconteceu e raramente procura saber sobre a segurança do local. Diferentemente de seu filho, Ana Maria do Carmo 4

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A boate Inferno Club, na rua Augusta, ficou fechada durante um fim de semana

Castro, mãe de Antonio, diz que independentemente do incêndio na boate Kiss, sempre teve preocupação. “Aquilo reforçou minha preocupação porque eu me coloquei no lugar daqueles pais que perderam seus filhos, mas sempre me preocupei. A felicidade da minha vida seria se ele me dissesse que não iria mais para a balada”.

Durante 242 dias, a BandNews FM atualizava o ouviente sobre a Boate Kiss Boates paulistanas Depois da tragédia, a Prefeitura de São Paulo prometeu fiscalizar rigorosamente todas as boates do Estado, impedindo o funcionamen-

to das que não estivessem cumprindo com as medidas de segurança. Para isso, o papel do Corpo de Bombeiros é fundamental, mas de acordo com a Corporação eles não têm muito o que fazer, se os proprietários não solicitarem a visita: “O proprietário deve entrar em contato com o processo no Corpo de Bombeiros para que sejam analisadas as condições de adequações. Feito isso, ele deve fazer o pedido de vistoria para que possamos verificar no local as condições dos equipamentos apresentados no projeto”. Além disso, somente a Prefeitura tem o poder de impedir o funcionamento de determinado lugar. Ainda de acordo com os Bombeiros, nos últimos três anos eles barraram o pedido de funcionamento de 70% das baladas de São Paulo. Mesmo assim, muitos locais continuaram recebendo seu público por conta da demora do processo para obter o alvará de funcionamento e do baixo contingente de fiscais da

Prefeitura, responsáveis pelo fechamento das casas. A Corporação também afirmou que só em 2013 eles fizeram mais de 180 mil atividades técnicas em todo o Estado de São Paulo, o que é mais que o normal. Mas para 2014, provavelmente o número de atividades realizadas não seria o mesmo. Procurada pela reportagem, a Prefeitura de São Paulo não deu retorno. até o fechamento desta edição. Atuação da mídia Grande parte da mídia deu boa repercussão ao fato e seus desdobramentos até um mês após o acidente. Mas ao longo do ano praticamente nada foi noticiado pelos veículos. Diferentemente do âncora Ricardo Boechat que durante 242 dias, sempre ao fim de seu programa na rádio BandNews FM, atualizava o ouvinte sobre o que acontecia nas investigações da Boate Kiss, em Santa Maria, e sobre as fiscalizações em São Paulo. (veja na entrevista na pág. 3)

Making of Casas noturnas não devem oferecer só lazer para quem frequenta, mas segurança também. Por conta disso, pensei em um assunto cujo lugar deveria ser reservado pelo menos uma vez por mês na mídia. Além disso, depois de Santa Maria, o assunto das fiscalizações das boates de SP recebeu grande audiência até um mês após a tragédia e só voltou à tona um ano depois. Fora isso, pouco foi noticiado. Busquei matérias sobre as fiscalizações feitas em SP no acervo da Folha de S. Paulo e em outros veículos. Comecei as buscas pela matéria cujo título dizia “Casa noturna Inferno Club é fechada durante vistoria da prefeitura de SP”. Sabendo que seria um processo demorado, logo entrei em contato com o Corpo de Bombeiros fazendo uma solicitação pelo site. Dois dias depois, recebi a resposta na qual informavam que não haveria quem pudesse me receber pessoalmente. Então, a entrevista foi feita via e-mail. O contato com a Prefeitura de SP foi demorada e sem sucesso. Mandei um e-mail para a assessoria de imprensa no intuito de falar com o prefeito Haddad ou com o setor responsável pelas fiscalizações, mas não responderam. Estive pessoalmente com Antonio, um colega de trabalho que frequenta balada desde os 17 anos. Foi um contato rápido e fácil. Através dele consegui entrevistar sua mãe, que, por morar longe, a entrevistei pelo celular. Por fim, o âncora e jornalista Boechat da BandNews FM. O contato foi rápido e fácil, pois sou estagiária na emissora. Depois de dois dias de fazer a solicitação, consegui entrevistá-lo. DIRETRIZ

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Meio Ambiente

Áreas contaminadas trazem problemas para São Paulo Aumento da fiscalização mostra as irregularidades e riscos que os moradores da cidade podem ter no dia a dia

Estudar Sistemas de Informação em uma universidade pública era um dos desejos de Mateus Blasques, 22 anos, e ele viu seu sonho tornar-se realidade ao ser aprovado no vestibular da Universidade de São Paulo (USP). Porém, o que era alegria acabou tornando-se uma dor de cabeça para o estudante: o campus da USP Leste, local no qual ele estuda, acabou sendo interditado em janeiro de 2014 por conta dos problemas de contaminação de solo, e só foi reaberto no dia 22 de julho. De acordo com Mateus, a interdição da área contaminada prejudicou os estudantes, pois mesmo com os dois meses de paralisação das atividades no fim do semestre ainda houve provas e todos foram obrigados a fazer mesmo sem ter visto o conteúdo completo. “Acabei pegando DP em duas matérias“, relata o estudante. No primeiro semestre deste ano, ao saber que as aulas seriam divididas por vários prédios da USP em São Paulo, Mateus se viu sem saída, pois ainda estava à procura de uma república para morar. “Acabei trancando a faculdade nesses dois semestres de 2014. Espero conseguir voltar sem grandes problemas ano que vem. Houve uma tremenda falta de organização por parte da reitoria.” O campus da USP Leste foi construído em um aterro onde era depositado lixo orgânico removido do rio Tietê. A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) exige providências para resolver a questão desde 2005, ano de inauguração da unidade, mas considerou as medidas da universidade insuficien5

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tes e, depois de multá-la, pediu junto ao Ministério Público e a justiça a interdição do local.

Daniel Zanata

Daniel Zanata Douglas Oliveira

Problema comum A questão de construções em lugares cujo terreno está contaminado não é exclusi-

“O solo contaminado pode provocar intoxicação a curto prazo e câncer a médio e longo prazo” vidade da USP. Em outubro de 2010, o Shopping Center Norte também foi interditado, pois a área apresentou grande concentração de gás metano. Antes do shopping, a região era um grande depósito de lixo orgânico. Essa área, porém, concentra também um conjunto habitacional onde moram dezenas de famílias, o que torna a situação ainda mais grave. Para o doutor em Engenharia de Solos pela USP, Scandar Gasperazzo, áreas como a da USP Leste e do Center Norte, dependendo do nível de contaminação e volume de gases, podem tornar-se um grande risco à saúde e segurança humana. “O solo contaminado pode provocar intoxicação a curto prazo e câncer a médio e longo prazo, dependendo do tipo de contaminante e concentração presente.” Além disso, Gasperazzo aponta um problema mais grave: “O gás metano oferece risco de explosão, por se tratar de um gás inflamável.” Segundo o último levantamento da Cetesb, feito no mês de dezembro de 2013, o estado de São Paulo tem

Campus USP Leste: tapume separa área contaminada do restante da universidade

4.771 áreas contaminadas sendo que em 724 delas já há a confirmação de risco à saúde e 1.047 estão sobre investigação. Ainda segundo dados da Cetesb, 1.556 áreas estão sobre tratamento para eliminar ou diminuir o volume de substâncias contaminantes no solo. Gasperazzo considera que não há muitas informações sobre os problemas e perigos de áreas nessas condições. Para ele, deveria existir uma maior divulgação para que todos pudessem entendê-los e cobrar mais providências dos responsáveis por esses locais. Papel da Cetesb Já Milton Motta, coordenador do grupo técnico de áreas contaminadas da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, afirma que essa cobrança já é feita pela própria Cetesb e, na cidade de São Paulo, também pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, em alguns casos. O aumento constante no número de áreas contaminadas na lis-

tagem da Cetesb é, segundo Milton, devido à ação rotineira de fiscalização. “Confirmada a presença de passivos ambientais, contaminação do solo e/ou água subterrânea, é feito a investigação detalhada e a avaliação de risco à saúde. Nos casos em que o detalhamento dos estudos comprova a existência de riscos à saúde, é elaborado um plano de intervenção”, explica Motta. Sobre as atitudes tomadas pela universidade para que a área não ofereça risco aos estudantes e funcionários, a USP afirmou ter instalado 23 bombas de ventilação de gás metano em todos os edifícios do campus e 117 pontos de monitoramento de gás, além de ter isolado a área na qual foi depositada a terra contaminada. A USP afirma que as medidas foram suficientes para a Cetesb liberar o local. Já os responsáveis pelo Shopping Center Norte, não quiseram se pronunciar. Disseram apenas que a questão já foi solucionada e não desejam ter o nome do Shopping associado a ela.

Making of Escolhemos o tema por uma sugestão do professor Vanderlei. Em uma conversa com ele em sala de aula, percebemos que matérias relacionadas a esse tema não são constantes na mídia e só são apresentadas quando já há a interdição do local. Devido às várias notícias sobre o campus da USP Leste, resolvemos focar nossa matéria nesse caso especificamente e mostrar como isso prejudicou os estudantes da unidade. Entramos em contato com a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) para coletar alguns dados e saber o porquê desse constate aumento do número de áreas contaminadas. Nos disponibilizaram os dados do último levantamento feito por eles, em dezembro de 2013. Durante a produção da reportagem contatamos dois especialistas no assunto: Scandar Gasperazzo, engenheiro de solos pela USP, e Milton Motta, que trabalha na Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo. Ambos responderam nossas perguntas e explicaram mais sobre o tema. Entrevistamos também Mateus Blasques que estuda na USP Leste. Mateus é amigo do Daniel, isso facilitou a entrevista. Entramos em contato também com representantes do Shopping Center Norte para saber sobre a atual situação do local. Porém, a assessoria de imprensa não quis falar sobre o assunto. Além disso, conversamos com a administração da USP Leste e eles nos informaram os procedimentos feitos para que o gás metano e a contaminação não oferecessem perigo para alunos e funcionários da universidade. DIRETRIZ

3/17/2015 12:51:11 AM


Meio Ambiente

A constante luta pela despoluição do Rio Pinheiros Raphael Taets

As águas seguem poluídas, mas a expectativa e a esperança de um rio despoluído, ainda permanecem

Raphael Taets Victor Hugo da Paz Silva

Em março deste ano, em virtude de uma nova tentativa de despoluição pelo Governo do Estado, o Rio Pinheiros voltou a ter destaque na mídia. A nova investida se deu com a abertura de uma licitação em que seis empresas, a seu modo, deveriam recuperar a qualidade das águas do rio em um prazo de 30 dias. Os resultados, então, seriam analisados pela Secretaria do Meio Ambiente,

“O rio precisa fazer parte da vida das pessoas” em conjunto com a Cetesb. Esta, por sua vez, firmará contrato com a empresa vencedora para sequência das atividades. No entanto, este é apenas mais um dos vários experimentos de recuperação da saúde das águas do rio, que já datam de meados da década de 70. Dentre eles, o “Projeto Tietê”, de responsabilidade da Sabesp, é a mais importante intervenção até o momento. O programa consiste na coleta e tratamento de esgoto de 18 milhões de pessoas da região metropolitana, visando melhoria das condições ambientais e de saúde pública. Apesar do nome, o projeto, em vigor desde 1998, contempla também o Rio Pinheiros. Segundo Rodolfo Costa e Silva, engenheiro civil sanitarista da Sabesp, a medida de despoluição simultânea dos dois rios se dá pela impossibilidade de realização deste trabalho em apenas um deles. “A despoluição do Rio Pinheiros só se dará se os outros rios de São Paulo fo6

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Pinheiros: tentativa de reaproximação da população com o rio

rem despoluídos. Não adianta limpar o Pinheiros se o Tietê continuar a despejar lixo nele”, explica. “Para que isto ocorra (despoluição do Pinheiros) é necessário que não só o Tietê, mas todos os outros mananciais do Estado de São Paulo sejam limpos. Isso demanda esforço em conjunto das prefeituras dos diversos municípios adjacentes”, complementa. Projetos de melhoria Existem em prática outros dois projetos de recuperação do Rio Pinheiros. O primeiro deles, conhecido como Pomar Urbano, foi lançado em 1999 pelo então governador Mário Covas, apoiado por diversas áreas da iniciativa privada. Consiste na tentativa de devolução da vida às margens do rio por meio do plantio de árvores e educação ambiental para a população. O segundo projeto é a Ciclovia do Rio Pinheiros, localizada na margem leste do curso d’água, entre o rio e a linha 9 - Esmeralda, da CPTM. Com 21,2km de extensão até o momento, o trajeto tem a missão de reintegrar o Rio Pinheiros à vida

do cidadão paulistano como uma alternativa de lazer nos finais de semana. Stela Goldenstein, diretora executiva da ONG Águas Claras, acredita que os projetos atuais ajudam na inserção do Rio Pinheiros na vida da população, mas que há muito a ser feito. Para ela, existe a “necessidade de maior conscientização por parte do governo e da sociedade para a preservação dos mananciais da cidade. O rio precisa fazer parte da vida das pessoas, pois também é papel delas zelar pela qualidade das águas que passam por nossa cidade”. Mau cheiro atrapalha Para Gustavo D’Alambert, 21, estudante, a criação da ciclovia é uma boa, desde que os esforços para despoluição do rio aumentem. “É horrível pedalar e inalar aquele odor. Utilizei a ciclovia apenas uma vez e pretendo voltar só quando a situação do rio melhorar”. Segundo Rodolfo, “o mau cheiro é fato, mas nada que comprometa a saúde dos usuários (tanto da CPTM como da ciclovia) apesar do incômodo.”

Interferência do homem Parte do problema da despoluição do rio também se dá pela perda de sua capacidade de autodepuração durante seu processo de retificação, iniciado nos anos 30, quando era necessária a produção de mais energia elétrica para a capital paulista. O constante acúmulo de lodo e dejetos nas águas do rio contribuem para a multiplicação de algas e bactérias que impedem a entrada de luz na água e eliminam o oxigênio nela presente, eliminando a chance de sobrevivência de quase todos os tipos de seres vivos de vida aquática. Sandra Mattos, 44 anos, auxiliar de enfermagem, utiliza esporadicamente a linha de trem que margeia o rio. Ela conta que “não se conforma com a situação atual do Pinheiros” e “sente vergonha ao saber que turistas visitam a cidade e o veem desta forma”. Ela complementa, dizendo que “torce para que a saúde do rio um dia seja reestabelecida”. Os resultados dos projetos em prática poderão ser analisados a curto, médio e longo prazo e só o tempo confirmará se as expectativas se concretizarão.

Making of A ideia de realizar uma matéria sobre a despoluição do Rio Pinheiros surgiu após tomarmos conhecimento sobre uma reportagem similar, exibida no Jornal do SBT. Ela tinha como enfoque a revitalização dos Rios Sena, na França, e Reno, presente em seis países europeus (entre eles, Suíça, França e Alemanha). Anteriormente muito poluídos, hoje abrigam restaurantes às suas margens e servem como opção de lazer para banhistas ou turistas que queiram fazer passeios de barco, evidenciando sua total descontaminação. Durante a pesquisa, decidimos entrar em contato com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e a Cetesb, órgãos oficiais ligados ao tema. Por meio de vários telefonemas, entramos em contato com pessoas ligadas a projetos da Sabesp e, por fim, o coordenador do Programa de Despoluição dos Rios, Rodolfo Costa e Silva. Achamos necessário também ouvir a opinião e obter informações de pessoas ligadas à causa ambiental. Após algumas pesquisas, tomamos conhecimento da ONG Águas Claras do Rio Pinheiros, que tem como objetivo contribuir para a recuperação do rio. A partir do site da organização, conseguimos marcar uma entrevista com Stela Goldenstein, ex-secretária do Meio Ambiente e atual diretora executiva da ONG e que também tem algumas declarações publicadas na matéria. Também foram ouvidas opiniões de usuários da linha 9 - Esmeralda da CPTM e da ciclovia.

DIRETRIZ

3/17/2015 12:51:14 AM


Saúde e Educação

O perigo dos aparelhos dentários de enfeite coloridos Acessórios aparentemente inofensivos aplicados por comerciantes não qualificados se tornam uma ameaça aos usuários

Basta um clique para entrar na nova tendência do momento: os aparelhos dentários coloridos. Em uma página do Facebook chamada “Aparelhos”, publicações de fotos do novo acessório são o chamariz e atraem muitas curtidas e comentários de jovens de todo o país que desejam tê-los. No início deste ano, o numero de usuários desses aparelhos odontológicos aumentou. “Os adolescentes começaram a colocar por moda e isso se tornou um perigo para a saúde pública”, explica a ortodontista Maria Teresa Mendes Bazilio. “Os riscos são muito grandes porque uma vez que você coloca o aparelho e o fio fica preso com aquela borrachinha – que eles falam que é a borrachinha da ostentação – esse aparelho fica ativo e movimenta os dentes”, alerta. Segundo o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), o posicionamento inadequado dos aparelhos, pode trazer retração na gengiva, perda óssea dos dentes, sobrecarga dos músculos de mastigação, dores de cabeça e na região do pescoço, ombros e coluna. A maioria desses aparelhos de enfeite possuem elásticos coloridos apenas com um propósito estético. Segundo Wilson Chediek, presidente da comissão de ética do CROSP, faz uma força no dente que pode trazer danos irreversíveis. Além dos elásticos, os fios são mais grossos do que os ortodontistas usam, alguns utilizam-se até de fios de vassoura e cabos de aço. “Hoje em dia, a gente tenta tirar a força do fio do aparelho e eles colocam uma força máxima que nenhum dentista usaria de maneira alguma”, revolta-se Maria 7

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Tereza. A questão não é apenas os aparelhos, mas principalmente quem os aplica: pessoas não qualificadas. “Estão prostituindo totalmente a profissão, estamos vendo pessoas que não tem nenhuma qualificação colocando esses aparelhos”, reclama a ortodontista. A aplicação A aplicação ocorre, principalmente, no centro de São Paulo e um dos maiores problemas é que os materiais utilizados por esses comerciantes são adquiridos legalmente através de sites que vendem artigos odontológicos e não pedem nenhuma identificação do comprador. “Nós estamos tentando juntar a ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária) e estamos tentando fazer com que a venda desse material seja controlada”, assegura Wilson Chediek.

“Os adolescentes começaram a colocar por moda e isso se tornou um perigo” O Conselho, diante da situação, tomou medidas para combater essa prática com o apoio de outras entidades. Essas medidas receberam o nome de “Operação Sorriso Colorido” e envolveram campanhas conscientizadoras para jovens, blitz nas ruas de São Paulo com a assistência da Polícia Civil, audiências com a ANVISA, pedido para o Google e Youtube removerem os materiais que estimulam essa prática

Débora Duarte

Débora Duarte Paulo Neto

Os aparelhos “da ostentação” passaram de moda a um problema de saúde pública

e a solicitação de apoio nas subprefeituras de São Paulo. Essas providências tiveram resultado: “Continuamos fazendo esse tipo de monitoramento e a tendência disso é diminuir”, declara. Mesmo antes disso, alguns profissionais já faziam aplicação de aparelhos sem a real necessidade do paciente: “Já me pediram, mas eu não coloco. Sou uma ortodontista, estudei muito para isso e só coloco para consertar algum problema”, conta Teresa. Visão psicológica Para a psicóloga Rosimeire Verillo toda essa euforia com os aparelhos coloridos “da ostentação” tem uma conotação psicológica. “Para Freud, o indivíduo só pertence a um grupo quando entra num processo de identificação com os outros, quando constrói laços emocionais com base em objetos reais ou simbólicos”. Isto é, para entrar em um grupo, as pessoas devem ter desde ideias até hábitos, vestuários e acessórios em comum. Segundo a psicóloga, a adolescência é o processo de elaboração da identidade e, por isso, os jovens sentem necessidade de fazer parte do grupo mesmo que, para isso, seja preciso co-

locar sua saúde em risco. Para Chediek, esse problema já existia mesmo antes desse modismo e existirá depois. Assim, sustentou que o

CROSP não vai parar a fiscalização mesmo depois que o problema seja resolvido para que uma situação como essa não se repita mais.

Making of O tema foi escolhido de acordo com o conhecimento pessoal que tínhamos sobre essa questão já que foi um assunto muito comentado e debatido no inicio de 2014, principalmente, entre os jovens. Primeiramente, procuramos nas redes sociais páginas sobre os aparelhos coloridos e perfis de seus usuários, assim, entramos em contato com alguns adolescentes que, infelizmente, não nos responderam e, quando respondiam, não compartilhavam as informações que necessitávamos. Desta maneira, fomos obrigados a mudar o foco da nossa reportagem. Partimos para uma linha mais técnica, ou seja, as fontes que antes seriam secundárias – como ortodontista, psicólogo e autoridades – passaram para primeiro plano para que nossa matéria servisse como um alerta. Em seguida, procuramos uma experiente ortodontista, Maria Teresa Bazilio, e marcamos

uma entrevista pessoalmente na qual ela nos concedeu informações sobre o desenrolar na área em que ela atua. Logo após, entramos em contato com o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo através do e-mail da assessora de imprensa, desta forma, além de enviar muitos dados técnicos, ela nos forneceu o número telefônico da comissão de ética para realizarmos a entrevista. Fizemos a ligação e conversamos com Wilson Chediek, o presidente da comissão, que nos informou sobre a atuação do CROSP em toda essa situação. Por último, contactamos a psicóloga Rosimeire Verillo via e-mail que nos respondeu todas as questões psicológicas, como a relação dos usuários com o seu grupo e o porquê de essa moda ter sido tão forte. Depois de reunirmos todos os dados juntamente com as três entrevistas, elaboramos e redigimos a reportagem final. DIRETRIZ

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Saúde e Educação

De mãos limpas Após o surto de gripe suína, muitas pessoas herdaram o hábito do uso do álcool gel

Houve uma época em que o álcool gel sumiu das prateleiras de farmácias e supermercados. Isso ocorreu em 2009, o produto foi um dos protagonistas da pandemia de gripe H1N1, mais conhecida como gripe suína. Mas após o controle do surto o produto caiu no esquecimento. O uso do álcool gel foi incentivado pelo governo e reforçado com anúncios e lembretes em todos os lugares. Escolas incentivaram os alunos a usarem, estabelecimentos públicos disponibilizaram o produto e pessoas adquiriram pequenos tubos como forma de prevenção da doença, junto ao uso de máscaras. Quando o surto diminuiu pouco se falou no uso do álcool gel e nem de seus benefícios. Não existem mais indicações para usá-lo, e poucos são os lugares que ainda o disponibilizam. Nos hospitais, o uso é obrigatório segundo à resolução n.42, de outubro de 2010, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Questão de higiene Amanda Ferreira, de 19 anos, estudante de administração, conheceu o produto na época da pandemia. A escola em que ela estudava disponibilizava o álcool gel aos alunos a cada troca de aula, Amanda foi uma das pessoas que mantiveram o hábito do uso do produto tanto para prevenção como para higiene das mãos. “Eu não trocaria a lavagem das mãos pelo álcool gel , mas quando eu estou em algum lugar que não tem um local pra lavar as mãos, eu utilizo o produto. Acho uma medida bem eficaz para a higiene e também contra doenças”. O produto não sai da bolsa da estudante desde então. Segundo ela, a emba8

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lagem pequena é essencial e muito prática no dia a dia, serve para todas as horas. Para Manoel Ferreira Lima, infectologista formado pela Universidade de São Paulo (USP), mesma cidade onde atuou por trinta anos na Secretária de Saúde, o álcool gel é uma medida emer-

Larissa Maida

Larissa Maida Mariana Souza

“Mulheres sempre usam o álcool gel, são mais prevenidas; 99% delas usam” gencial. “A higiene deve ser permanente, portanto, não se deve substituir a lavagem das mãos pelo produto”, alerta. Sobre a ideia da disponibilização do álcool gel em lugares públicos o infectologista não vê necessidade: “O uso do produto só é necessário onde há pessoas fragilizadas”. Segundo ele, a principal diferença entre o álcool gel e o álcool liquido é o transporte, o manuseio e a desidratação da pele, no caso do líquido. “O álcool gel ao entrar em contato com a pele elimina 99% de vírus e bactérias por duas horas, se não houver nenhum contato neste período”. O produto em restaurantes Em restaurantes e lanchonetes o produto é, na maioria das vezes, disponibilizado aos clientes, o que os deixa mais seguros em relação ao estabelecimento. Mesmo nos restaurantes em que o álcool gel não está visível, o produto é algo essencial nas cozinhas para a higiene dos funcionários. Mas se o cliente desejar, pode solicitar o produto. “Caso alguém peça eu disponibilizo em um copinho para o cliente. Já houve um

O álcool gel ainda é disponibilizado em alguns estabelecimentos caso de uma mulher que pediu”, conta Rosana Mafort, proprietária do restaurante Subway localizado no Soho’s Place da Rua Maria Antônia. Rosana também disse que não disponibiliza o produto no balcão por não solicita-

“O álcool gel ao entrar em contato com a pele elimina 99% de vírus e bactérias por 2 horas, se não houver nenhum contato neste período” rem com frequência. Já Tomio Kitamura, proprietário do restaurante Coração Mineiro, também localizado no Soho’s Place, disponibili-

za o álcool gel no balcão do self-service para quem quiser. Ele conta que 80% dos clientes utilizam o produto, sendo que a maioria dos usuários são mulheres. ”Mulheres sempre usam o álcool gel, são mais prevenidas; 99% delas usam”. Modismo Houve algumas outras situações como essa no passado, como foi o caso da obrigatoriedade do porte de kits de primeiros socorros nos carros, segundo a resolução nº 42 de maio de 1998, na época, os kits eram o principal assunto falado, mas após algum tempo caíram no esquecimento, apenas aqueles que adquiriram o hábito continuaram com o porte em seus veículos. “Situações como essas atendem a demanda momentânea da população, mas produtos como o álcool gel valem ser lembrados devido a sua praticidade e eficácia em diversas situações”, conclui o infectologista Manoel Lima.

Making of Começamos pela escolha da pauta: o uso do álcool gel após a gripe suína e o porquê do seu “sumiço”. Para a realização da matéria decidimos pesquisar sobre o produto e sobre o seu “auge” na pandemia. Fomos visitar alguns restaurantes de uma praça de alimentação próxima à Universidade Presbiteriana Mackenzie, para observar a disponibilidade do produto nos estabelecimentos alimentícios, mesmo não sendo obrigatório. Conversamos com alguns dos proprietários dos locais sobre a disponibilidade do produto e sobre como os clientes reagem ao ver o álcool gel disponível. Rosana Mafort e Tomio Kitamura foram os proprietários que nos cederam a entrevista. Depois disso precisávamos ouvir um especialista da área. Tentamos diversas vezes, por diversos dias contato, com mais de 5 infectologistas, mas não tivemos retorno e nem respostas. Após mais alguns dias procurando algum especialista na área, conseguimos o contato, através de um colega de sala de aula, do infectologista Manoel Ferreira Lima, formado pela Universidade de São Paulo (USP), que trabalhou por 30 anos na Secretária da Saúde. Ele nos concedeu a entrevista tranquilamente. Para a nossa personagem, conseguimos o contato da Amanda Ferreira, após sabermos através de uma amiga que tinha o hábito de utilizar o álcool em gel. Fizemos o contato e a estudante logo se prontificou em nos ajudar. Pesquisamos sobre algumas resoluções e sobre a obrigatoriedade do produto em hospitais. Também tentamos relacionar o “desaparecimento” do produto dos bolsos de vários brasileiros com o caso da obrigatoriedade do kit de primeiros socorros nos veículos, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. DIRETRIZ

3/17/2015 12:51:19 AM


Saúde e Educação

“Dependência” digital provoca Nomofobia Raphael Boer

Vício em celular cresce entre jovens e especialistas alertam para sintomas e tratamentos Caio Siqueira Raphael Boer

“Eu sempre saio com meu celular carregado ou com um carregador na bolsa. Porém, teve um dia em que eu estava almoçando com umas amigas e percebi que a bateria havia acabado. Além disso, naquele dia acabei esquecendo o carregador em casa. Fiquei desesperada. Parece exagero, mas foi uma sensação horrível, comecei a pensar que todos estavam querendo falar comigo mas não conseguiam. Me senti incomunicável com o mundo”, conta Jennifer Liu, de 18 anos que cursa publicidade no Mackenzie. Esses sintomas de ansiedade e insegurança da estudante podem ser considerados uma doença. Trata-se da Nomofobia, ou seja, transtorno no qual o indivíduo se sente angustiado por ficar sem celular ou sem a cobertura de sinal. Reflexo disso é o aparecimento de aparelhos como smartphones, tablets e ultrabooks que têm estimulado um grande número de pessoas a estarem conectadas diariamente. O termo, de origem inglesa, é construído da junção das palavras “no”, “mobile” e “fobia” que, em tradução livre, significa “medo de ficar sem celular”, bem como sem conexão. Muitas das pessoas portadoras da síndrome não conseguem reconhecer a dependência que criaram com o aparelho. Como identificar De acordo com o psicólogo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Marcelo Moreira Neumann, “dormir com o aparelho ligado, não dar atenção às relações pessoais diretas e privilegiar as relações virtuais, não respeitar horas importantes como 9

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Obsessão não é exclusiva dos jovens, adultos também são afetados

suas necessidades fisiológicas: refeições, banho, sono, etc”, são alguns dos principais sinais de que a pessoa está usando tecnologia de forma excessiva. Em uma pesquisa realizada no Reino Unido, 66% dos entrevistados declararam que ficam “muito angustiados” com a ideia de perder o celular. Entre jovens de 18 e 24 anos, o índice é maior ainda: 76% deles abominam a ideia de viver sem o apa-

“O indivíduo deve priorizar suas relações, verificar o que é mais importante para a vida dele” relho. No Brasil, o número de aparelhos celulares já ultrapassa o de habitantes (dados da Anatel indicam cerca de 227 milhões de aparelhos até setembro de 2011). Estudos demonstram que a aquisição desses aparelhos

já se transformou em item de primeira necessidade, mesmo entre os mais pobres. Isso tem prejudicado o orçamento de muitas famílias, mas, eliminar essa despesa, para muitos, está fora de cogitação. Para o estudante Matheus Gonzalez, de 20 anos, o aparelho celular proporciona uma grande praticidade. “Eu uso mais o meu iphone para entrar nas redes sociais do que para fazer ligações. O que antes eu fazia pelo computador, agora faço pelo celular.” Preocupação mundial Em uma ação na cidade de Washington D.C., nos Estados Unidos, as calçadas foram demarcadas para “usuários de telefones” e “não usuários”. A iniciativa vem do canal de televisão National Geographic, com o intuito de fazer a população repensar hábitos cada vez mais corriqueiros, como andar e digitar ao mesmo tempo. Na Inglaterra, o diretor Gary Turk lançou a campanha “Look Up” (olhe para cima). Nela, Turk incentiva as pessoas a se desconectarem: “[...] Tire as mãos do seu celular, você não precisa na-

morar sua lista de contatos, aprenda a coexistir, [...] Somos uma geração de idiotas: smartphones e gente boba”. Possível solução Contudo o transtorno psicológico possui tratamento. Segundo Neumann, o indivíduo deve priorizar suas relações, verificar o que é mais importante para a vida dele, avisar os amigos e familiares que não irá atender ou responder mensagens quando está executando tarefas importantes como por exemplo assistir uma aula. “Não atender o celular em momentos importantes e colocar limites nas pessoas, facilita o bom desempenho de suas atividades. O mundo não vai acabar se ele não responder imediatamente um chamado. Vinte anos atrás todos viviam bem sem esses aparelhos”, explica o psicólogo. Aproveitar oportunidades como conversar pessoalmente com um colega de trabalho, observar mais as coisas ao seu redor, ler um bom livro ou ouvir uma boa música com certeza contribuirá para aumentar a qualidade de vida e é considerada a melhor solução para a dependência digital.

Making of Tivemos a ideia da pauta baseada em uma matéria do veículo “Gazeta Online”. Após isso começamos a escrever sobre a importância do tema, bem como possíveis fontes de entrevistas, perguntas e dados a serem colocados na matéria. Logo começamos a procurar tais dados e entrevistas concedidas por especialistas a veículos de relativa expressão. Achamos e incorporamos à nossa matéria, dando os respectivos créditos aos jornais e revistas. Após essa fase, fomos pessoalmente ao prédio do curso de Psicologia no Mackenzie. Entramos na sala dos professores e conversamos com três deles, nisso o nome de Marcelo Moreira Neumann, professor da área, foi indicado. Procuramos ele por todo o estabelecimento, e sem sucesso, recorremos ao e-mail. Desse modo conseguimos a entrevista com um especialista. As entrevistas com os estudantes Matheus Gonzalez e Jennifer Liu foram feitas pessoalmente. Com tudo em mãos partimos para o texto. Escrevemos, tiramos a foto e finalizamos o trabalho.

DIRETRIZ

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Cotidiano

“Não é papo de feminista chata” Com altos índices do crime, Capão Redondo é o retrato real do estupro Por Hanna Oliveira

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Hanna Oliveira

O estupro tem se mostrado uma doença coletiva que tem deixado pesadas marcas na sociedade. Isso se relava não só através de dados e estatísticas, mas no cotidiano da população, principalmente, da mulher. No ano de 2012, o número de estupros superou o número de homicídios dolosos no Brasil. O dado mostra um número de 26,1 estupros para cada 100 mil habitantes, segundo a 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Cerca de 70% das vítimas desse tipo de agressão são crianças e adolescentes, como aponta a pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), neste ano. Já na fase adulta, aumenta o índice do estuprador desconhecido. Na cidade de São Paulo, a região com mais casos de estupros, em dados da Secretaria de Segurança Pública, é o Capão Redondo. No entanto, é preciso cautela ao analisar esses dados, principalmente nos que tratam a maior incidência de estupros em áreas periféricas, como alerta a professora do Departamento de Sociologia da PUC-SP, Carla Cristina Garcia. “Tem um fato que marca a denúncia. A classe média tem muito mais a perder em seu status social, do que as classes populares. De maneira geral, você tem mais denúncias entre as classes desfavorecidas”. A forma de interpretar uma estatística pode ocasionar numa conclusão rasa da situação real. “Fica parecendo que os pobres são mais violentos, se você tiver uma leitura muito apressada da estatística”, conclui Carla. Beatriz de Azevedo, 29, coordenadora de Serviço do

No Brasil, o número de estupros já ultrapassa os de homícidios dolosos.

Centro de defesa da Mulher do Campo Limpo, “Mulheres Vivas”, que atende à região do Capão, vive na prática o relato da socióloga. “Muitas mulheres de alto poder aquisitivo vem procurar ajuda”, diz. “A mulher de baixa renda, muitas vezes, é arrimo da família, ela é a que trabalha. Existe algo mais socializado na periferia. Em classes mais altas, são outros combinados, outro jogo de poder. Em que muitas vezes ela [a mulher de classe mais abastada] nunca trabalhou. Muitos dos casamentos são feitos por contrato”, revela a coordenadora. A socióloga também destaca o papel da mídia com relação ao enquadramento dos veículos ao tratar do estupro. “A mídia vai montando esse cotidiano violento que faz com que a mulher

tema a rua ou lugares aonde as mulheres podem andar sozinhas, a roupa”. Isso se comprava na fala de Izabel Aguiar, 31 anos, moradora do Capão Redondo, que embora afirme não ouvir muitos relatos de casos de estupro na região, evita andar pela rua sozinha. “A gente procura sempre tomar cuidado com as crianças e com a gente”. Outra confirmação da sensação de insegurança da rua criada em torno do estupro é o dado do 47º DP Capão Redondo apontando que 75% dos casos de estupro na região partem de um familiar ou conhecido. E, em escala nacional, esse número é de 70% em pesquisa realizada pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). Embora se tenha número tão expressivos de casos de

estupros dentro do ambiente familiar, Izabel afirma não ouvir relatos do tipo. “não, a maioria dos casos que ouço é na rua”. Não só ela como as estudantes, Lyandra Silva, 14 e Yasmim Silva, 14, afirmam não ouvirem muitos informações de casos, tampouco casos dentro do ambiente familiar. “ouço mais na rua, dentro de casa não”, afirma Yasmin. As garotas também cerceiam suas rotinas por conta dos casos de estupro e não saem à noite desacompanhadas. Beatriz, do ‘Mulheres Vivas’, destaca que na maioria dos casos de violência à mulher do centro de defesa, há o caso do estupro. “Porque quando elas começam a entender que elas têm o domínio de seus corpos, tem o direito de falar não, e que aquilo é uma violência, elas

percebem que sofreram essa violência. E muitas delas conseguem verbalizar isso”. Ao deixar de tratar do estupro no ambiente familiar, deixa-se de pensar em medidas e soluções para os casos que acontecem cotidianamente na cidade de São Paulo e no Brasil. Para Solange de Moura, 51, funcionária de acolhimento do CECCO Santo Dias e moradora do Capão, além de pensar em segurança pública em torno do estupro, é preciso pensar em medidas sociais. “Às vezes, você denúncia um caso de estupro, encaminha aquela mulher à delegacia, mas uma hora ela vai ter que voltar para casa e o homem que a violentou vai querer se vingar”. O medo da vingância e a vulnerabilidade da mulher são expostos na Pesquisa

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Cotidiano Hanna Oliveira

DataSenado de 2007. A pesquisa revelou que 73,2% das mulheres vítimas de violência afirmaram que não conviviam mais com o agressor. Mesmo após a separação, o agressor ainda submete sua vítima a seus desmandos. Entretanto, as mulheres que querem ir para abrigos especializados na violência encontram grande dificuldade.. Na Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) 2013, mostra que apenas 2,5% dos municípios brasileiros possuem esse tipo de estrutura, mesmo sendo previsto na Lei Maria da Penha – uma revolução em relação a legislação de gênero no Brasil – que os municípios criem estruturas para abrigar as mulheres. O Centro de Defesa da Mulher com o nome fantasia de “Mulheres Vivas”, é um dos locais que atendem a essas demandas. Ele é uma parceria entre a Prefeitura da Cidade de São Paulo e a União Popular das Mulheres do Campo Limpo, uma frente popular, criada no início da década de 80 no bairro. A primeira função do local é falar um pouco da violência no território, “porque ela é muito velada”, relata Beatriz, a coordenadora do local. “A gente sabe que a região periférica tem muita violência, não que nas outras camadas da sociedade também não tenham, mas ela é mais explicitada” A outra função do local, é o acolhimento de mulheres em situação de violência e para a convivência delas, através de oficinas de artes, produção de pãos, para elas poderem gerar sua própria renda. Além de aulas de empreendedorismo, bem como discussões sobre o papel da mulher através de filmes e livros. Dentre as motivações da violência sexual, Carla Cristina ainda destaca a questão

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Centro de Defesa da Mulher localizado no Campo Limpo da cultura do estupro: “a ideia principal da cultura do estrupo é que você tem como dado do senso comum de que o estupro é facilitado pela própria vítima. E todo o tipo de campanha que se faz é em cima da vítima, não em cima do estuprador”. As dificuldades da cultura do estupro engessam as possibilidades até de denuncia do crime. “Antes de 1984, o problema de quando a moça ia denunciar que havia sido estuprada, é que tinham todos os olhares condenadore dos próprios policiais. Eles falavam, você está com uma roupa provocante. Mas está provocando o quê?”. Ainda há a vergonha de se denunciar casos de estupros dentro do próprio relacionamento. “A gente fala muito do estupro do desconhecido na rua. O estupro não é só assim. Muitas mulheres, cotidianamente sofrem estupros dentro do relacionamento”, destaca Beatriz Azevedo. Solange lembra que a maior parte dos casos de estupros são cometidos contra crianças, e que um episódio de violência sexual envolvendo uma menina deu origem

à criação do Dia Nacional de Combate a Exploração Sexual de Crianças, que acontece todo dia 18 de maio. “Uma criança foi morta e violentada por poderosos de uma cidade”, diz a funcionária de acolhimento. O episódio ocorreu em 1973, uma menina de 8 anos foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada

no Espirito Santo. Seu corpo apareceu seis dias depois carbonizado e os seus agressores, jovens de classe média alta, nunca foram punidos. Para Beatriz, a única forma de se diminuir os casos de estupros é através da tomada de consciência e da educação. “Enquanto nós mulheres, não tivermos autonomia so-

bre os nossos corpos, formos subjugadas pelo outro sobre as nossas vontades, acho que não vai mudar. A sociedade tem que entender que isso não é papo de feminista chata. Se educarmos nossas crianças a ter noção de gênero, do que é violência, nós criaremos adultos mais conscientes”.

Making Off A escolha da pauta veio através de um triste ocorrido de uma conhecida ter passado com um episódio de estupro. Trazendo a ideia para a aula, orientada pelo professor dei o enfoque para um dos bairros com maior índices de estupro da cidade: o Capão Redondo. Ali se iniciava um dos meus maiores desafios até agora. Realizar a matéria in loquo, num local desconhecido, e cheio de estigmas em minha cabeça. A grande pergunta que movia minha matéria caiu na primeira entrevista com a socióloga Carla Cristina Garcia: os bairros periféricos não têm necessariamen-

te mais casos de estupros, só são mais expostos. Com uma mochila nas costas, acompanhada de um gravador e uma câmera, lá fui eu tentar recolher material para uma matéria que trata de um assunto muito delicado e com sua pergunta motriz derrubada. Sem destino certo, desci na estação do Capão com apenas duas informações: o nome de um ônibus e de um parque com muitos casos de estupro. Peguei o ônibus, desci em frente ao AMA do Capão, e lá, batendo perna pela avenida, pude ver um pouco do cotidiano daquela gente. Andei, conheci pessoas

incríveis que me acolheram e me contaram um pouco de sua história e cotidiano da mulher no Capão. Tive a chance de descobrir que o estupro não é só casos de polícia, ele tem a ver com emancipação feminina e está intrinseco a violência contra a mulher. Conheci o projeto “Mulheres Vivas” que devolva a dignidade a mulheres em situações subumanas. Desconstrui preconceitos, senti a cidade, e me encantei um pouco mais por essa profissão que mais do que conta histórias, ajuda no processo de formação de uma sociedade melhor, mais justa e plural.

3/17/2015 12:51:21 AM


Cotidiano

Correios restringem entrega em áreas consideradas de risco em São Paulo

A empresa não entrega encomendas em zonas consideradas perigosas e moradores são direcionados a buscá-las na agência mais próxima Bruna Barboza Camila Vietri

Fazer compras em lojas físicas requer tempo de sobra, algo que muitas pessoas não têm. A internet solucionou esse problema com o comércio virtual. Com praticidade e facilidade é possível realizar qualquer tipo de compra com apenas um clique. O que tem aborrecido alguns consumidores, porém, é a incerteza da entrega de suas encomendas. “Eu tive que retirar a minha encomenda, porque eles alegaram que compareceram na residência e não havia ninguém”, conta a estudante Melissa Miuki, 18 anos, moradora do Itaim Paulista, extremo leste da cidade, insatisfeita com o serviço dos Correios. De acordo com o site oficial dos Correios, cujo slogan é ‘’Você manda, a gente entrega’’, “a empresa realiza importante função de integração e de inclusão social, papel imprescindível para o desenvolvimento nacional (...)”. As propagandas referentes ao serviço realizado pela empresa fazem o consumidor acreditar na eficiência das entregas, mas alguns cidadãos são obrigados a retirarem a mercadoria em uma unidade próxima do seu endereço, a fim de ser realizada a retirada interna. Os Correios não efetuam entregas de encomendas em áreas de risco da cidade de São Paulo, onde, segundo a empresa, há perigo de assalto. Os termos ‘’integração’’ e ‘’inclusão social’’ talvez não tenham sido empregados corretamente. Isso porque existem restrições às entregas, excluindo alguns moradores da regra. Dentre as restrições, estão alguns lugares característicos que impossi12

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“Os Correios não efetuam entregas de encomendas em áreas de risco da cidade de São Paulo, onde há perigo de assalto” bilitam o trabalho da empresa. As entregas domiciliares não são realizadas “em algumas cidades, em área rural, logradouros de difícil acesso ou de risco”, de acordo com o site oficial. A página que contém essas informações, todavia, é difícil de ser encontrada, fazendo-se necessário o uso de sites de busca com as palavras-chave. Falta de clareza É possível verificar apenas as restrições, sem entender como elas funcionam. Os critérios utilizados para identificar uma zona de risco, por exemplo, não são divulgados. Ainda no site, caso o cliente queira saber se uma área de entrega é de restrição, ele deve simular o envio de uma encomenda. Em seguida, uma mensagem em vermelho informa que: “O CEP de destino está sujeito a condições especiais de entrega pela ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) e será realizada com o acréscimo de até sete dias ao prazo regular”. O que significa que, mesmo com o aumento do prazo, a empresa afirma que a entrega será realizada. Não foi o que aconteceu com Melissa. Segundo ela, o prazo de en-

trega da encomenda de uma compra realizada pela internet já havia expirado, e a taxa de entrega já tinha sido paga. Ao rastrear a mercadoria pelo site dos Correios, a mensagem em vermelho apareceu. Dessa maneira, a estudante descobriu que seu endereço estava em uma zona de restrição. O acréscimo de sete dias além do prazo, porém, também já tinha sido ultrapassado. Melissa buscou a empresa dos Correios: “Eu tive que retirar minha encomenda, porque alegaram que compareceram na residência e não havia ninguém. Mas eu tenho certeza que nem vieram, já que sempre tem alguém em minha casa”.

“O consumidor que pagou pelo serviço dos Correios pode exigir reembolso ou indenização, conforme o Código de Defesa do Consumidor” Escolta O transporte por meio de escoltas também é uma alternativa utilizada pela empresa, quando o endereço é considerado perigoso. Todavia, esse serviço de segurança não funcionou com Elaine de Lourdes, estudante, 19 anos, moradora do Capão Redondo, bairro da zona sul da cidade. A compra foi realizada pela internet, o prazo expirou

e a taxa também já havia sido paga pela cliente, como no caso de Melissa. A empresa informou que não poderia realizar o serviço de entrega, já que seriam necessárias escoltas para isso. Elaine precisou realizar a retirada interna da mercadoria em um endereço próximo e de menos risco que o de destino, após um mês de atraso. Os fatos citados referem-se exclusivamente às encomendas. A reportagem enviou uma carta-teste da agência dos Correios do bairro Tatuapé, na zona leste, para o endereço de Melissa e em menos de vinte e quatro horas a estudante informou o recebimento. Um funcionário da empresa, que pediu para não ser identificado, alegou que carteiros de todo país são assaltados diariamente, mas a preocupação maior é com a própria mercadoria. Indenização O consumidor que pagou pelo serviço completo dos Correios pode exigir reembolso ou indenização, conforme o Código de Defesa do Consumidor, caso haja prejuízo comprovado. Para isso, é necessário imprimir o histórico de acompanhamento da encomenda e formalizar uma queixa no SAC dos Correios e PROCON. Em nota de esclarecimento, a assessoria de imprensa dos Correios explica que, por ser assunto relacionado à segurança, estatísticas e locais não são divulgados. A empresa diz que presta assistência médica e acompanhamento psicológico aos profissionais que são vítimas de violência. O Diretriz solicitou à assessoria uma entrevista, mas, até o fechamento desta edição, não obteve resposta.

Making of A ideia da pauta surgiu a partir da matéria sobre a não entrega dos Correios em áreas de risco, de Jerusa Rodrigues, repórter do jornal O Estado de São Paulo, do dia 11/08/2014. Em várias reuniões com o nosso professor e editor, expusemos a nossa indignação por ser um assunto de interesse público não divulgado pela maioria dos veículos de imprensa. Durante o processo de apuração, passamos por várias fontes, sendo quatro delas utilizadas na matéria: Melissa Miuki, moradora do Itaim Paulista, que relatou problemas com uma compra que não foi entregue e duas compras não finalizadas, já que mora em endereço considerado perigoso; Elaine de Lourdes, moradora do Capão Redondo, que realizou uma compra e precisou de escolta para receber o produto; Um funcionário dos Correios que pediu para não ser identificado, e relatou que a preocupação da empresa é com a mercadoria do cliente; E, por fim, a assessoria de imprensa dos Correios, que nos enviou um press realise com informações sobre o caso. Nós solicitamos uma entrevista à empresa, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta edição. Para testarmos se o problema era com encomendas, não com cartas e/ou contas, enviamos uma carta para o endereço de Melissa na terça-feira (09/09/2014) aproximadamente às 16h e ela recebeu no dia seguinte, 10/09/2014, também na parte da tarde. A matéria passou por três edições até atingir a versão final. Modificações foram feitas junto ao editor, a fim de deixarmos o texto claro e rico em informações para o leitor. DIRETRIZ

3/17/2015 12:51:22 AM


Cotidiano

ONGs restagam gatos em tragédia do Tatuapé Cibele Mendes e Eduardo Nunes

No último dia 8 de setembro, a demolição de uma casa no Tatuapé, zona Leste de São Paulo, foi palco de grande comoção aos amantes e defensores dos animais. O terreno, que fica na rua Elie Sarfatis n* 33 pertence à pastora evangélica Edna Venezian Pagliarin, que demoliu a casa em que morava uma senhora porque pretende construir uma igreja no local. O problema da demolição, é que foi feita com aproximadamente 40 gatos e um cachorro dentro da casa, Sérgio Bustamante vizinho da dona dos gatos, reclamou que o prazo combinado com a pastora não foi respeitado “O problema é que conseguimos um prazo, que conversamos com a pastora, e com os filhos dela, esse prazo começava segunda e terminaria no domingo, mas a coisa desandou e segunda chegou um pessoal com uma máquina”. Sabendo da existência dos animais, Sérgio procurou por ajuda na Zoonoses e em abrigos públicos, “Você liga pra Zoonoses, pra abrigos, e estão todos cheios, e não podem te ajudar, tive que apelar pro pessoal alternativo que são os que resolvem”. Esse “pessoal alternativo” ele encontrou ao publicar em sua página pessoal do Facebook sobre o problema que estava enfrentando, e que precisava de ajuda: “Entrei na internet sábado, não sabia o que fazer, tava apavorado. Postei no meu

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Em pé, protetoras individuais e embaixo Mary Salazar da ong “Adote um gatinho” Facebook, postei pros meus amigos. Eu tenho um amigo em comum com ela, Fabiola Ampessan, que escreveu pra ela me ajudar”. Fabiola Ampessan, que se auto intitula protetora independente, entrou com contato com Sérgio, e visitou a casa antes da demolição “Eu liguei pra ele pra saber se era verdade, como era a história.” Com a ajuda da Internet, várias ongs, abrigos e lares temporários souberam do caso e ofereceram ajuda como a Adote um gatinho, Bicho Brother, Aujudando

Miaujudar entre outras, que abrigam, tratam e castram gatos e os colocam para adoção em seus sites e páginas. Os animais que foram encontrados estavam muito assustados, dos aproximadamente 40 gatos, 30 adultos foram salvos, seis um pouco machucados, como a gata que estava prenha e sofreu um aborto perdendo toda sua ninhada. Há ainda, uma quantia não contabilizada de gatos desaparecidos, de outros que foram atropelados na avenida próxima e dos que foram acolhidos pelos vizinhos.

Making off

A escolha da pauta foi feita junto ao professor, que a indicou por ter sido um tema pouco explorada pela midia na semana do acontecimento e por ser motivo de indignação aos amantes e defensores dos animais. Depois de escolhida e pesquisada o tema, fomos no Tatuapé local da casa, e depois em Itaquera, onde é a sede da ong Bicho

Brother. As visitas foram boas no contexto geral e também tivemos sorte, colhemos ótimas entrevistas e fotos, que evidenciavam o amor que essas pessoas tem pelo que fazem, tivemos acesso aos últimos gatos resgatados, e que inclusive estão dentro das caixas na primeira foto. Na semana seguinte, demos início a matéria, foram escolhidas falas e as melhores fotos. Entre as inúmeras edições, chegamos a esse resultado.

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Cotidiano

Portas que não se fecham

Investimentos em segurança no metrô são perdidos, com instalação de portas nas plataformas que não funcionam Paula Del Trejo Vinicius Ribeiro

Making of

O número de acidentes envolvendo passageiros e os trilhos da malha metroviária de São Paulo vêm, infelizmente, ganhando espaço nos noticiários dos últimos meses. As ineficiências operacionais nas estações somadas com a infraestrutura deficiente tem influência direta

“O acidente deixou cicatrizes. Infelizmente fui lesada física e emocionalmente” neste aumento significativo das ocorrências no metrô; desde os mais leves como queda de pertences pessoais até acidentes fatais. Vítimas A falta destes dispositivos não é exatamente o grande problema, uma vez que já existem em diversas estações, as barras de proteções de ferro e as portas automáticas – que podem ser encontradas em toda extensão da linha 4 amarela. Mas até que ponto essas ferramentas de segurança garantem o bem-estar dos usuários do metrô na capital paulista? Implantadas nas estações de maior movimentação, as barras de proteção existentes hoje não são suficientes na visão de Caroline de Oliveira, 21 anos, usuária da linha 3 vermelha. “Raramente eu fico perto da faixa amarela, em horário de pico muito menos. Sempre acho que vou cair nos trilhos”. Foi inclusive nesta linha, na estação da Sé - uma das mais superlotadas do metrô de São Paulo e com maior risco de acidentes devido a 14

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grande circulação de pessoas nos horários de pico - que Maria da Conceição de Oliveira tornou-se vítimas da falta de segurança. Em fevereiro deste ano, enquanto esperava seu trem na plataforma, Maria foi empurrada nos trilhos resultando na amputação de seu braço. “Meu dia começou normal. Era meu aniversário, e por isso me atrasei um pouco ao sair de casa decidindo pegar o metrô”. A secretária reclama da falta de barreiras físicas e da presença de profissionais qualificados capazes de garantir a proteção e o bom funcionamento das normas de segurança do local. “O acidente deixou cicatrizes. Infelizmente fui lesada física e emocionalmente.” Apesar do incidente, ela tem esperanças de que sua história sirva de exemplo para que a segurança dos usuários esteja sempre em primeiro plano. E na teoria ela está. Investimentos O investimento anual de

2014 direcionado para modernização e manutenção do sistema metroviário está es-

“Elas estão aqui só pra ocupar espaço e gastar nosso dinheiro. Nós pagamos imposto pra isso!” timado em aproximadamente 200 milhões de reais. Uma das maneiras de se aplicar esse orçamento nas necessidades de segurança do metrô de São Paulo seria na implantação de portas de vidro automáticas, que se abrem quando o vagão do trem para na estação e se fecham na saída do mesmo, como as existentes na linha 4 amarela. Matéria da Folha de S. Paulo mostrou que um projeto para a instalação das “portas de plataforma” na linha 3 vermelha foi aprovado no ano de 2009 com orçamento milionário, porém apenas parte dele foi cumprido.

Ineficiência A instalação das portas foi realizada, mas quem utiliza hoje esse caminho às encontra inoperante, existindo apenas as molduras de vidro onde as elas deviam fazer o bloqueio e a liberação dos passageiros. “Elas estão aqui só pra ocupar espaço e gastar nosso dinheiro. Nós pagamos imposto pra isso!” reclama a usuária Valesca Alfredo, 24 anos. Também em matéria da Folha de S. Paulo em 2012, o Metrô alega que o gasto não foi em vão e a ineficácia do dispositivo de segurança se dá apenas pela divergência no tamanho das composições. Procurada pela nossa equipe, a companhia de Metrô de São Paulo não respondeu as solicitações de entrevista. até o fechamento desta edição. No entanto, apenas as portas não resolvem. Valesca acredita que se houvessem mais linhas de metrô aliviaria muito o fluxo das atuais, mas enquanto estas expansões não se concluem, resta aos passageiros a cautela ao usarem o transporte público até que os devidos cuidados para evitar acidentes sejam tomados.

A escolha do tema foi baseada no acidente ocorrido no dia 03/07/2014 na plataforma da estação Consolação da linha 3 - verde, que resultou na morte do estudante Victor Castro Rodrigues de 20 anos. O acontecimento nos fez questionar a segurança dos usuários que utilizam diariamente o metrô paulistano. O primeiro passo foi encontrar vítimas da falta de dispositivos de segurança neste transporte público. Entrevistamos Maria da Conceição de Oliveira, que ao ser empurrada nos trilhos, teve seu braço amputado. Além dela, conversamos com passageiros das composições a respeito das dificuldades do dia-a-dia, especialmente quanto a segurança ao utilizarem este meio de transporte. Depois de identificar as opções de dispositivos oferrecidos pela Companhia Metropolitana de trens de São Paulo, já existentes em algumas plataformas da rede, com intuito de resguardar a vida daqueles que utilizam o metrô, descobrimos duas alternativas: as portas de vidro automáticas e as grades de proteção. Verificando a inexistência das mesmas na maioria das estações e a ineficácia do serviço em outras, procuramos estabelecer contato com os responsáveis pelo metrô de São Paulo para saber sobre o orçamento disponível e o destino da verba redirecionada à segurança, apresentado em uma matéria da Folha de São Paulo em 2012. Encontramos algumas planilhas orcamentárias no site da instituição mas ao questionarmos os planos de investimento e as reais condições do mesmo, via telefone, email e pela lei de acesso à informação, não recebemos uma resposta oficial até o fechamento da edição. DIRETRIZ

3/17/2015 12:51:24 AM


Cotidiano

São Paulo ganha seu primeiro centro para imigrantes Atraídos por melhores condições de vida, o número de imigrantes na cidade é alto

A prefeitura de São Paulo inaugurou, no dia 29 de setembro, o primeiro Centro de Referência e Acolhida de Imigrantes, localizado na região da Bela Vista. O Centro conta com suportes jurídicos, aulas de português, abrigo e orientação para imigrantes, visando acolher também estudantes estrangeiros e refugiados. Além do novo centro, a cidade de São Paulo conta com organizações independentes que tem como função ajudar o imigrante a se estabelecer no país. A Casa do Migrante é um exemplo disso. Localizada na Igreja Nossa Senhora da Paz, busca integrar o imigrante à sociedade brasileira. Vista como referência pelos imigrantes, a organização já chegou a receber mais de 300 pessoas em um dia. Outro projeto é o Pátria Minha. Localizado na região do Guaianazes, também tem cumprido um papel importante ao visar a integração de imigrantes haitianos no Brasil, através das áreas espiritual, social e esportiva. Atualmente, o projeto já conseguiu atender mais de 80 haitianos, conseguindo doação de alimentos e roupas, além de procurar emprego para os imigrantes. Os imigrantes Vindo da Macedônia, Elis Bislim tem 37 anos. Conheceu sua esposa enquanto ela viajava pela Europa e veio para o Brasil para que pudessem viver juntos, uma vez que ela é brasileira. Quando perguntado sobre o que acha do Brasil, Elis demora um pouco para responder. Vivendo aqui há quase três anos, o imigrante diz que o Brasil é um país muito bonito, onde as pessoas são gentis 15

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e bem humoradas, mas acha que nosso maior problema está no sistema educacional. Formado em pedagogia, Elis ressalta a importância da educação para que as famílias possam viver bem. “Independentemente da área em que se vive, o trabalho social é importante, é necessário trabalhar na educação. Na Europa a educação era diferente. Nós estudávamos aquilo que estava acontecendo no momento, tínhamos bastante estudo teórico e prático”, explica. Elis descreve sua vida na Macedônia como a de uma pessoa normal. Ele conta que quando estudava pedagogia se interessou por línguas. Começou estudando sua própria língua, o macedônio, depois inglês, alemão e línguas da Yugoslavia, mas nenhuma de origem latina. “Para mim é difícil falar português porque nunca aprendi línguas latinas. Muitas coisas me confundem, os verbos são muito diferentes”. Elis completa debochando do som da sílaba “ce”, dando risada ao confessar sua dificuldade para pronunciar. Mituky Charlye Brawn tem 33 anos e veio da República Democrática do Congo. Quando perguntado sobre sua idade, ele brinca, “é que você sabe, africano é muito jovem, é muito cuidadoso. É que não tem muita comida né. Aqui vocês têm muita comida, tem mocotó, mocotó é muito bom”. Há cinco anos passa temporadas alternando entre Brasil e seu país de origem, porém está aqui permanentemente desde janeiro. Inicialmente ficou hospedado na Casa do Migrante e hoje já conseguiu alugar uma kitnet na região central, onde vive com sua cachorra de estimação. “Estava hospedado ali [Casa do Migrante], mas

graças a Deus consegui um quarto para alugar... eu e minha Princesa... minha filha”, comenta ele, com sua cachorrinha, Princesa, no colo. Já estudou jornalismo, administração de empresas e até RH. Hoje vende livros de autoria própria na região central de São Paulo e tem o projeto de abrir uma igreja evangélica na região do Jabaquara. Mituky afirma ser um evangélico feliz, diferente dos que ele costuma ver aqui no Brasil. Bem humorado, Mituky conta que sabe falar um pouco de italiano, alemão, hebraico, português, espanhol e inglês. Quando questionado sobre quantas línguas co-

havia chegado a São Paulo há três dias. Omar conseguiu chegar ao Brasil através da embaixada brasileira no Senegal, onde conseguiu visto para viver no país legalmente. Para ganhar a vida vende fones e capinhas para celulares na praça Santa Cecília, onde tem uma banca. Já conseguiu alugar um apartamento na República, que divide com mais dois colegas, entre eles Cheikh. Quando indagados sobre o que mais os impressionou no Brasil, Omar não hesita em dizer que para ele foi a mulher brasileira, enquanto Cheikh diz para que ele o Brasil representa uma opor-

Anne Gonçalves

Anne Gonçalves Rebeca Bergue

Mituky com sua cachorrinha Princesa nhece, ele diz “Quase 10, na África temos estudo, depois você vai aperfeiçoando”. Ele brinca que não esta mais sozinho aqui, no Brasil, já que conseguiu uma companheira “Uma princesinha linda, ‘guapa’, minha acompanhante. Eu estava sozinho, agora com ela, tenho minha acompanhante”. Omar Diallo e Cheikh Abdou ambos com 27 anos, vieram do Senegal para o Brasil há sete meses. Eles se conheceram na África, mas apenas se tornaram amigos aqui no país. Omar se instalou aqui em São Paulo, Cheikh esteve em outras regiões do Brasil como Paraná e Tocantins e

tunidade de trabalho, afirmando que tem uma namorada o esperando na África. Os dois dizem sentir saudades do Senegal e da família. Cheikh conta que conversa com seus pais todos os dias através do Skype e brinca dizendo “Internet é bom”. Os dois aprenderam a se comunicar convivendo com os brasileiros, Omar afirma que conversar com os clientes o ajudou muito a aprender a língua e já pronuncia palavras e expressões essenciais para a venda de seus produtos fluentemente. Raul Ribeiro tem 25 anos. Apesar de ter vivido nos Estados Unidos quando crian-

ça, foi cedo para o Peru, onde passou os últimos dez anos. Trabalhava em um banco preenchendo fichas de solicitações para cartões de crédito, abertura de conta e créditos bancários. Quando questionado sobre os motivos que o trouxeram ao Brasil, Raul conta que veio a convite de seus amigos. Buscavam por emprego e melhores condições de vida. Após passar três meses no Brasil, vivendo em um hotel, Raul não conseguira emprego. Segundo ele, estava acostumado a ouvir que o Brasil era um bom lugar para trabalhar, mas, ao chegar aqui percebeu que a realidade era bem diferente. Decidiu, então, voltar para o Peru. De mala nas costas, um mapa do metrô e o passaporte em mãos, procurava um caminho para o aeroporto, já que tinha uma passagem comprada de volta para Lima. Apesar de ter vindo com os amigos, o imigrante perdera contato com eles ao chegar no país e voltava sozinho. “Me sinto nervoso” dizia ele, ao pensar em seu caminho de volta. Mesmo estando de saída do Brasil, Raul afirmou ter um interesse particular em nossa língua. “Eu quero aprender português. Eu aprendi espanhol, português é similar”, explica. Making Off Conseguimos agendar uma visita à Casa do Migrante para que pudéssemos conhecer a organização. Pudemos visitar a igreja, conhecer o alojamento e o funcionamento da missão. A partir dai, também pudemos ter contato com alguns imigrantes que nos concederam entrevistas. Quanto aos imigrantes, a maior dificuldade foi em relação à comunicação. DIRETRIZ

3/17/2015 12:51:27 AM


Política e Economia

Número de eleitores de 16 e 17 anos é o menor desde as eleições de 2006

Danielle Fernandes Victoria Köhler

A cada quatro anos o número de desconfiados com a situação política do país aumenta e se sobressai. O grande fator responsável por esta mudança de pensamento é a formação política dos jovens eleitores, que tem se desenvolvido cada vez mais. As manifestações de junho de 2013 foram o estopim

“Os partidos costumam manipular discursivamente” para uma série de questionamentos da população às autoridades do país, refletidas no número de pessoas que desejavam mudanças nestas eleições de outubro de 2014, que foi de 74%, segundo o instituto Datafolha. O número de jovens de 16 e 17 anos que exerceram seu direito de voto nessas eleições foi o menor desde 2006, o que demonstra certa insegurança dos jovens no cenário político atual. A falta de mudanças tem provocado descrença e tornou a vontade desses jovens de votar ainda mais difícil. O número de eleitores facultativos (menos de 18 anos) para as eleições de 2014 foi de apenas um quarto da população nesta faixa etária, enquanto em 2006 foi de 39%. Para o sociólogo Fernando Moreno, a principal causa dessa queda está numa descrença cada vez maior na política como força capaz de transformar a sociedade. Moreno acredita que o “efeito contágio” das ideias do resto do mundo, potencializado pela web, 16

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pode ser uma das causas desta descrença. “Ainda que o cenário politico brasileiro não seja o mesmo do resto do mundo, a constante troca de informações entre ativistas políticos e intelectuais, potencializada pela web, faz com que as mesmas ideias e mesmos sentimentos do resto do mundo contaminem nosso debate”. Os jovens eleitores têm pensamentos bem diferentes quanto à política brasileira. O estudante Gustavo Lemos, de 16 anos, apesar de não ser obrigado por lei, requisitou seu título de eleitor assim que completou a idade mínima. “Acho importante que os jovens já comecem a trabalhar sua consciência política desde a minha idade. Ver toda aquela gente saindo nas ruas pedindo mudanças me deu mais vontade de participar da maior mudança, que é através do voto”. Porém, em sua primeira eleição, o jovem achou a organização do processo eleitoral muito confusa. “Tive problemas para encontrar a minha zona eleitoral e demorei uma hora e meia pra conseguir votar”. Redes Sociais As manifestações de junho de 2013 foram impulsionadas pela força dos jovens na internet como forma de divulgação. A jovem Natalia Christine, de 22 anos, acha que as redes sociais foram um fator primordial para os acontecimentos dos últimos anos. “Os protestos que levaram os jovens às ruas interferiram de forma positiva nas eleições, tornando os jovens mais críticos, interessados na política e preocupados em mudar nosso país”. Já para a jornalista Alice

Reprodução

Índice de 39% há oito anos chegou a apenas 25% nas eleições de 2014

A jovem Natalia Christine acredita que o poder das redes sociais foi fundamental para as mobilizacoes de junho de 2013

Risso, de 25 anos, as manifestações de junho de 2013 não influenciaram no resultado das eleições de outubro: “Depois de toda a balbúrdia das manifestações, o PT e o PSDB continuaram a ter mais votos e foram para o segundo turno”. Para Alice, a falta de interesse dos jovens aptos a votar tem dois motivos principais: “Primeiro pela própria alienação que ele se submete. Segundo ,é tanta falcatrua e roubalheira que a sociedade em geral acaba por se cansar de querer saber do que se passa”. Efeito Marina Nas eleições deste ano, o cenário político sofreu uma reviravolta com a candidatura da ex-senadora Marina Silva após a morte trágica do presidenciável Eduardo Campos. Marina conquistou o voto de muitos jovens ao idealizar uma mudança geral no país. Segundo Moreno, a ascensão de Marina nas pesquisas de intenção de voto foi o efeito mais visível das manifestações de junho de 2013. Para o professor Aldo For-

nazieri, Doutor em Ciência Política pela USP, a candidata Marina Silva representaria uma grande chance de reformulação da política no Brasil: “Marina sinalizava o discurso da nova política. No entanto, é uma coisa bastante vazia. Eu acho que teria que dar uma nova cara para consolidar essa ideia de que é possível fazer uma política diferente da que os partidos tradicionais normalmente fazem. Eles costumam manipular discursivamente, se tornaram muito mais aparato de interesses de grupos do que de defesa do bem comum e interesse comum”. Após o primeiro turno das eleições presidenciais, a expectativa sobre Marina Silva não se confirmou nas urnas e a candidata do PSB foi ultrapassada pelo tucano Aécio Neves, que seguiu em disparada nas pesquisas nos últimos dias que antecederam o primeiro dia de eleições e alcançou o segundo lugar com 33.55% dos votos, oito pontos percentuais atrás da candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, com 41.59% dos votos.

Making of Decidimos fazer a matéria diante do cenário político confuso que se formou para as eleições de outubro de 2014, intensificado após as manifestações de junho de 2013. Diante da desmotivação da camada jovem da população em participar das eleições, o objetivo foi analisar a relação entre as manifestações com o decréscimo no número de jovens aptos a votar. Através de coleta de dados em sites governamentais como o do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), constatamos que, de fato, o número de jovens de 16 e 17 anos que não são obrigados por lei, mas estão aptos a votar, vem caindo desde 2006. Em seguida, buscamos profissionais como sociólogos e historiadores, bem como jovens da faixa etária analisada, que pudessem acrescentar algo a nossa matéria. Entrevistamos Gustavo Moschen e Natalia Christhine, jovens estudantes interessados na situação política do país. Também falamos com Alice Risso, jornalista, que participou ativamente das manifestações de junho de 2013. Fizemos a entrevista por e-mail, já que hoje, Alice mora em Pilar do Sul (SP). Na área profissional, entrevistamos o sociólogo Fernando Moreno, formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, que respondeu prontamente todas as perguntas realizadas. Através de Ricardo Chapola, jornalista do Estadão, conversamos com o professor e doutor em Ciência da Política Aldo Fornazieri, em entrevista realizada na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). DIRETRIZ

3/17/2015 12:51:28 AM


Política e Economia

O futuro dos metroviários dispensados Reprodução/Sindicato dos Metroviários

Funcionários demitidos na ultima greve do Metrô de São Paulo ainda lutam por readmissão Aline Oliveira Vivian Estrela

Alex Santana é funcionário do Metrô de São Paulo há três anos trabalha como operador de trens na linha 3 vermelha e sustenta sua família com essa renda. Sempre foi envolvido nas mobilizações por melhorias da categoria junto com o Sindicato dos Metroviários, sendo um dos ativistas mais presentes nas lutas sindicais. Em meados de 2014, há poucos dias antes da Copa, os Metroviários do Estado de São Paulo realizaram uma greve em favor de melhores condições de trabalho e aumento de salário. Na época, em cinco dias, paralisaram parcialmente em horários combinados, três das cinco linhas em funcionamento. Paulo Ianonne, assessor de imprensa do sindicato, afirma que antes houve várias negociações para evitar o ato, mas todas negadas. “A greve foi o limite da mobilização. O próprio sindicato fez a oferta e ao invés de usar essa ferramenta legal que é a greve, sugerimos que liberassem o transporte público, usassem a catraca livre durante a negociação, mas o metrô não negociou nada, evitou diálogos”. Com o fim da greve e em contrapartida ao ato, Alex e mais 41 funcionários foram demitidos por justa causa e notificados via telegrama sob a alegação de “atrapalharem a circulação dos trens”. “Como a maioria dos funcionários demitidos são ativistas na causa, nós classificamos como perseguição política”, afirma Alex. O Metrô juntamente com o Governo do Estado, alegou ainda que foram praticados atos de vandalismo nas estações e entraram com uma ação na justiça, com uma multa diária de 17

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Metroviários aguardam decisão do Juiz, para todos voltarem aos seus cargos

“Como a maioria dos funcionários demitidos são ativistas na causa, nós classificamos como perseguição política” R$ 500 mil reais caso houvesse a continuação da greve após o quarto dia. Os grevistas não voltaram na data estipulada pela justiça, e acabaram levando uma multa de R$ 900 mil reais. Pelos quatro dias parados sem 100% da frota no horário de pico no valor de R$ 100 mil, e mais R$ 500 mil pelo quinto dia, conforme afirma Alex Fernandes, secretário geral do sindicato. “O sindicato está recorrendo da multa. Naquela oportunidade o tribunal (TRT)

bloqueou as contas do sindicato, nós conseguimos desbloqueá-la, porém os R$ 900 mil estão bloqueados numa conta separada que está em litígio ainda.” Após isso, o sindicato trabalhou na reintegração dos funcionários demitidos. “O sindicato deu um apoio total, em todo momento, fazendo reuniões e mobilizações, tanto na parte externa e interna, como também no jurídico”, explica Santana. No dia 17 de Julho, o Tribunal Regional do Trabalho concedeu uma liminar e dois foram readmitidos sob a alegação de falta de provas de envolvimento nos atos alegados pelo metrô. Já no dia 25 de Agosto, outros dez foram readmitidos, também por falta de provas. O Juiz Thiago Melosi Sória, disse no ato, que embora os grevistas estivessem na plataforma, “não aparecem impedindo o fechamento das portas dos trens.” Santana foi um deles. Voltou a trabalhar normalmente no dia oito de Setembro, cinco dias após o Metrô receber a liminar. O TRT ainda determinou que os demitidos deveriam voltar para os seus cargos

sem nenhuma mudança, nem de salário nem de posição, em até cinco dias; Caso o metrô não cumprisse estaria sob multa para R$ 500 mil reais ao dia. O Metrô cassou a liminar, porém os funcionários continuam trabalhando. Procurado pela reportagem para falar sobre o assunto, o Metrô não respondeu aos contatos. Com as readmissões, ficaram restando 30 do total inicial. No dia 30 de Setembro outros 23 foram readmitidos, também por falta de provas. Dos restantes, “três estão em processo diferente, por conta de serem diretores sindicais com estabilidade, que a CLT prevê outro modelo jurídico para demissão”. O Sindicato ainda entrará com uma ação contra o Metrô e o governo do Estado por danos morais, devido às acusações de vandalismo. “Esperamos reintegrar todo mundo, desmascarar esse governo e continuar fazendo o que mais sabemos fazer, que é transportar a população de São Paulo, que chega a 5 milhões de usuários por dia”, finaliza Fernandes.

Making of A decisão de fazer a matéria sobre a demissão dos funcionários partiu do principio de que nenhum meio de comunicação havia mais falado da situação em que os funcionários se encontram depois do acontecido, após lermos uma matéria no G1 sobre o caso. Partindo desses dados, começamos a nos perguntar onde estão esses funcionários demitidos? Como que o governo e o metrô resolveram a situação dessas pessoas e se foram ou não readmitidas. Começando a coleta de dados, conseguimos informações no site do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Paulo Iannone, assessor do sindicato nos contatou dizendo que poderíamos fazer a entrevista. Realizamos a entrevista com ele no dia 28/08, por volta das 10h30 da manhã; e durou cerca de 40 minutos. Como uma segunda fonte e personagem para a matéria, entrevistamos o funcionário Alex Santana. Como ele não tinha disponibilidade de fazer pessoalmente por conta do horário de trabalho, realizamos a entrevista por telefone no dia 06/10. Entramos em contato com o Metrô por email, porém não obtivemos resposta. No dia 17/10 realizamos o contato por telefone com a assessoria do sindicato, a fim de conseguir uma entrevista com o presidente. No contato, foi informado que o presidente não estava no local pois estava em um congresso. Mas estava presente o Secretário Geral do Sindicato, Alex Fernandes, terceiro na linha do comando, atrás apenas do Presidente e do Vice-Presidente. Fomos ao sindicato no mesmo dia e realizamos a entrevista com Alex Fernandes por volta das 17h, e durou cerca de 30 minutos. DIRETRIZ

3/17/2015 12:51:30 AM


Política e Economia

Seguradoras investem para evitar fraudes Número de fraudes cresce no Brasil e seguradoras tentam se prevenir a qualquer custo Beatriz Araujo Rodrigo Bitar

Com base nos estudos realizados pela Fenaseg (Federação Nacional de Seguros Gerais), chegou-se a uma estimativa de 11,6% de fraudes, cerca de R$1,45 bilhões, calculado como percentual dos sinistros pagos no conjunto de ramos e seguros, excluindo os setores de saúde e previdência. Os setores mais atingidos pelas adulterações são relacionados aos automóveis (acidentes, roubo e incêndios), ao transporte e à saúde. Especificamente cerca de 70% das fraudes acontecem em seguros automotivos. Segundo dados da CNseg (Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais), em 2012, as falsificações em seguros de carros custaram R$194 milhões às seguradoras. Além do enorme prejuízo que o sistema nacional de seguros sofre ano a ano com fraudes, essa conta acaba sendo paga pelo próprio consumidor, pois, na medida em que aumenta a ocorrência de fraudes, o custo dos seguros também é elevado. Apesar disso, não são apenas os proprietários de carros e residências que visam lucrar, mas os próprios funcionários das seguradoras e das corretoras também. O diretor da empresa VICS Corretora de Seguros, Vitor Hugo Marques, explicou que as fraudes cometidas pelos funcionários das empresas para benefício pessoal. “As mais comuns são fraudes em demonstração de números em relatórios gerenciais, que não representam um problema grave para a empresa, pois somente tem a intenção de evitar cobrança de desempenho ou demissão de funcionários”, diz Marques. Vitor Hugo afirma que um 18

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meio de prevenção dessas adulterações existentes é estabelecer procedimentos rotineiros de auditoria interna ou externa, para se ter certeza de que tudo está ocorrendo seguindo os padrões estabelecidos, que normalmente precisam de aprovação por escrito ou de forma eletrônica de um superior. “A verdade é que para as fraudes mais comuns, que em teoria não geram prejuízo financeiro direto para as empresas, o único procedimento é a melhoria dos processos e controles internos”, indica o diretor da VICS a respeito de métodos que possam ser utilizados para prevenir falsificações em geral. Quando esse tipo de problema ocorre, as seguradoras tratam de resolvê-lo da maneira mais ágil possível e com seus próprios recursos, como por exemplo, seus investigadores, que descobrem as causas do acontecimento. Por esse motivo, a Polícia Militar não recebe muitos casos para resolver. O tenente Verona afirma que “por se tratar de um crime já ocorrido, no caso em que a seguradora suspeite de fraude, eles próprios investigam, pois acabam se tornando vítimas” O tenente diz que atualmente, com advento da tecnologia, a população em geral começou a utilizar cada vez mais as facilidades oferecidas pelos bancos, atraindo assim, de alguma forma, meliantes que usam das mesmas tecnologias para ludibriar os cidadãos. “O método mais utilizado é a ‘frente falsa’. Nessa modalidade o criminoso cria uma cópia fiel da frente de um caixa eletrônico, utilizando um notebook com o monitor ligado a um modem 3G e no momento em que o cliente insere o cartão, o criminoso lê a tarja magnética transmitindo online as informações

Tenente Verona, da Policia Militar para outro computador, que contêm dados como senha e contas”. A Polícia Militar vem realizando um trabalho através do patrulhamento preventivo, conseguindo realizar diversas detenções de quadrilhas de estelionatários. Com abordagens a pessoas suspeitas nos arredores de agências bancárias, foi possível impedir que dispositivos fossem instalados e que pessoas fossem surpreendidas por ladrões que se passavam por falsos funcionários. “É de suma importância que os clientes fiquem atentos e nunca aceitem ajuda de pessoas estranhas ao banco, principalmente de finais de semana e fora do horário normal bancário. Em caso de suspeita de fraude retire-se do local, acione a policia mi-

litar através do 190 e procure outra agencia bancária, evitando também utilizar caixas que estão fora das agências, pois esse são os mais fáceis de serem fraudados”, esclarece o tenente Verona. Apesar de muitas empresas sofrerem com as adulterações, há aquelas que se previnem melhor e diminuem o prejuízo com os casos. Felipe Gomes é Subscritor Jr. de Property (propriedade) de em uma seguradora, que tem um bom trabalho de defesa contra fraudes. Gomes, que é o encarregado de escrever as cláusulas dos contratos, diz que eles não visam apenas o lado da empresa, mas, antes de tudo, ajudar o cliente a se proteger contra desastres, ou catástrofes, que podem acabar com todo seu patrimônio, sua história ou nome. “Nos-

sas medidas primeiramente são analisar financeiramente a empresa que quer o seguro, porque um empreendimento financeiramente quebrado teria como última das suas preocupações proteger seu patrimônio pagando um seguro. Em seguida, uma empresa terceirizada é contratada para fazer uma inspeção no local do risco. Essa inspeção, obrigatoriamente, vai gerar um relatório contendo informações do tipo de construção, dos processos que são feito neste lugar, das medidas de proteções e, por último, das exposições vigentes”, diz o Subscritor Jr. Ele conclui dizendo que “caso a fraude seja comprovada pela perícia, a seguradora tem o direito de rescindir o contrato de seguro sem pagar a indenização”. DIRETRIZ

3/17/2015 12:51:31 AM


Política e Economia TIPOS DE FRAUDES

Felipe Gomes, responsável por formular os contratos da empresa Há empresas que conseguem se prevenir melhor e diminuem o prejuízo causado pelos casos de fraudes. Felipe Gomes é subscritor Jr. de Property (propriedade) de em uma seguradora, que tem um bom trabalho de defesa contra fraudes. Gomes, que é o encarregado de escrever as cláusulas dos contratos, diz que eles não visam apenas o lado da empresa, mas, antes de tudo, ajudar o cliente a se proteger contra desastres, ou catástrofes, que podem acabar com todo seu patrimônio, sua história ou nome. “Nossas medidas primeiramente são analisar financeiramente a empresa que quer o seguro, porque um empreendimento financeiramente quebrado teria como última das suas preocupações proteger seu patrimônio pagando um seguro. Em seguida, uma empresa terceirizada é contratada para fazer uma inspeção no 19

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local do risco. Essa inspeção, obrigatoriamente, vai gerar um relatório contendo informações do tipo de construção, dos processos que são feito neste lugar, das medidas de proteções e, por último, das exposições vigentes”, diz o subscritor Jr. Ele conclui dizendo que “caso a fraude seja comprovada pela perícia, a seguradora tem o direito de rescindir o contrato de seguro sem pagar a indenização”. Marco Albanez, dono da A2 Corretora de Seguros ltda, explicou que o seguro existe para repor a perda do segurado, não deve trazer lucro e que qualquer situação que traga lucro ao segurado pode ser considerada fraude. “O ramo mais vulnerável e comum a fraude que temos conhecimento é o do automóvel, cerca de 70% das fraudes ocorrem em veículos, e 12% dos seguros indenizados relacionados a auto-

móveis são em decorrência de fraude”, diz Marco. O dono da corretora afirma que é comum associar às fraudes de veículos situações que envolvem o desmanche de veículos, as colisões propositais, as simulações de furtos, a inclusão de outros veículos no acidente e assumir indevidamente a responsabilidade do acidente, fazendo com que a seguradora pague o prejuízo do terceiro. Marco Albanez concluiuque, no Brasil, as seguradoras ainda estão em processo de evolução em relação a medidas de prevenção e diagnósticos de fraude. Porém, algumas medidas já são tomadas obtendo resultados significantes, como prevenção o fato das seguradoras cercarem o segurado com informações mais detalhadas de seu perfil, e a seguradora não aceitar segurados que possuam restrições no cpf, diminuindo o risco.

No caso do autoroubo, o possuidor do veículo vende-o para um desmanche ou ferro velho e contata a seguradora que o carro foi roubado para receber a indenização. Na inversão de responsabilidade, o carro do culpado que entra em colisão com o da vítima que por sua vez possui seguro, assume a culpa para que os dois sejam beneficiados pela indenização do seguro. O superfaturamento de orçamento ocorre quando o carro é levado a um mecânico, e o segurado pede para que a nota fiscal conste um valor maior do que realmente foi gasto no concerto. Dessa forma a seguradora irá reembolsar um valor maior pelo incidente. Alguns segurados chegam a oferecer uma parte para oficina caso eles aceitem superfaturar o orçamento. A omissão de informações, diz respeito ao fato de omitir fatos como no caso dos seguros de carro, o segurado esconde informações a respeito da vistoria do carro, e no seguro de vida o mesmo é feito com doenças pre-existentes. Na fraude morte acidental, a pessoa morre de morte natural mas a família informa (ou forja) que foi um acidente. A indenização por morte acidental chega a ser o dobro pela morte natural. Declaração de consultas que não ocorreram, é feita por segurados de seguro saúde, onde obtém um atestado de consulta e repassam à seguradora para que eles possam reembolsar o valor da consulta. O mesmo é feito com superfaturamento de remédios e despesas médicas. No caso suicida, o paciente em estado terminal se suicida para a família receber a indenização. Homicídio arquitetado, a pessoa planeja a morte da pessoa para receber a indenização do seguro de vida. Incêndio provocado, é um tipo de fraude feito principalmente por empresas. A empresa projeta o incêndio para receber a indenização do seguro por incêndio. Fraude a caixas eletrônicos, uma prática delituosa que vem crescendo nos dias atuais, essa atividade criminosa, tem como objetivo principal ter acesso aos dados bancários das vítimas, seja através de clonagem de cartão ou, identificar e descobrir senhas.

MAKING OFF

As fraudes em seguros são pouco abordadas por conta do sigilo de informações, o que exigiria um grande desafio para obter os dados que não são facilmente cedidos. Para isso fomos atrás de responsáveis pela parte de Sinistros de seguradoras e corretoras de seguros. Logo depois entramos em contato com os locais e também com o Tenente Verona para saber se as denúncias de fraudes chegavam de algum modo para a Polícia Militar resolver. A matéria começou a ganhar forma com o recolhimento de dados sobre o assunto, principalmente no site da Fenaseg (Federação Nacional de Seguros Gerais). Para recolhermos um número maior de informações, tentamos um contato direto com a Federação em duas oportunidades, mas foi em vão. Em paralelo, conversávamos com uma seguradora e três corretoras de seguro. A seguradora e duas corretoras nos responderam até o final. Deixamos uma das corretoras de fora, à princípio, mas ela também acabou sendo publicada. Com todas as entrevistas feitas e as informações coletadas escrevemos a matéria sem grandes dificuldades. Ao terminarmos, ficamos felizes com o resultado, mas julgamos que poderia ter ficado ainda melhor com a palavra da Fenaseg, localizada no Rio de Janeiro. Por conta da distância não conseguimos um contato pessoal e os e-mails e as ligações não obtiveram efeito. DIRETRIZ

3/17/2015 12:51:31 AM


Cultura

“Você não consegue sobreviver fazendo teatro”, reclama fundador de companhia teatral Companhias dependem de editais do governo para manterem suas atividades Bruno Leão e Victor Reche

Teatro de Escola Estadual 20

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O teatro da E. E Albino César, localizado na zona norte de São Paulo, foi fundado junto com a escola na década de 60. Neusa Pallione, 63, formada em Letras na USP, já foi aluna do colégio e também se apresentou, na mesma época, como atriz de algumas peças do teatro. Ela passou a cuidar do teatro em 1979, assim que tornou-se professora de literatura. Com o passar dos anos, a própria escola deixou de dar prioridade ao teatro, que enfrentou diversas dificuldades de infraestrutura e desinteresse das gerações seguintes de alunos em relação à participação nas peças. Toda essa trajetória resultou na formação de um grupo para o teatro. O grupo de teatro ‘Antídoto’ é formado por Neusa, seus dois filhos, dois ex-alunos e estudantes do colégio. “No decorrer desses 36 anos, evoluímos muito. Tem alunos que estão comigo há muitos anos e contribuíram para isso. Cada um deu um palpite e fomos crescendo”, declara a senhora de 63 anos. Mesmo com algumas reformas realizadas pela FDE (Fundação de Desenvolvimento Escolar), o teatro continua com inúmeros problemas na infraestrutura. Um deles é o telhado; o mesmo desde a inauguração, com vazamentos que danificam o teatro. “A diretora me chama rapidinho e fala: ‘Eu tenho aqui [por exemplo] 12 mil reais que o governo mandou para compras de materiais permanentes’”, diz Neusa.

Ela também revela que o te- arcar com a despesa aqui”, atro fica com a sobra desta diz Eduardo Carvalho, adverba proporcionada do go- ministrador do Espaço. verno à escola. Carvalho comenta tamAlém desta sobra da ver- bém sobre a desvalorização ba, os ingressos vendidos a do teatro pelo público: “Aqui, R$ 3,00 são uma forma para o pessoal reclama de pagar manter o teatro em funcio- vinte reais na meia [entranamento e dar retorno à di- da], mas toma 4 cervejas, que reção. “Arrecadamos 3 mil custam cinquenta reais e fareais. A metade divido para lam que o teatro está muito os alunos; eles tiveram as caro.” despesas de roupas, maquia- Com isto, apenas as bilhegens, a outra metade dou terias das peças não são sufipara a direção”, explica. cientes para manter o Espaço aberto, necessitando que ele exerça outras atividades: “O Espaço Parlapatões que salva o teatro é a grana do bar, que acabou se torLocalizado na Praça Roo- nando um ponto de enconsevelt, São Paulo, o Teatro tro. Um escritório da classe Parlapatões foi fundado por artística”. Há uma lojinha de uma dupla de atores que ti- souvenir e livros no espaço, nham a intenção de se apre- onde também acontecem atisentar lá e alugar o espaço vidades artísticas, vitrines e no tempo ocioso. “Um custo noites de jogos, além do bar, muito extraordinário ain- que são outras práticas para da tem que contar com o complementar a renda. desembolso dos donos, que Segundo ele, os encargos ganham na Globo, etc, para também pesam: “[A maior

dificuldade é] na hora de pagar os gastos, o décimo terceiro, todas as condições trabalhistas. Uma demissão que fazemos aqui deixa o caixa apertado”. Eduardo também explica como é funciona o aluguel e a divisão da bilheteria. A noite custa 25% da bilheteria, sendo, no mínimo, R$600 para a companhia que se apresentar. Caso não complete-se o mínimo do valor, o contratante completa o dinheiro ‘do bolso’. Teatro Infantil e profissionalismo No teatro, há um cenário muito respeitado e colaborativo para a educação cultural das crianças: teatro de bonecos. “Por que nós gostamos da criança?”, pergunta Dario Uzam, 56 anos, fundador e roteirista da Cia. Articularte Teatro de Bonecos. “Ela é o melhor crítico do mundo, ela Victor Reche

“Você não consegue sobreviver fazendo teatro”, conta Miguel Hernandez, 45, fundador, diretor e ator da Cia. Anjos Pornográficos. Ir ao teatro era algo corriqueiro algumas décadas atrás. Com o crescimento de outras mídias, o público e o faturamento do teatro caíram, deixando as pequenas companhias em situação difícil. Jackeline Simões, 28, atriz da Cia. Teatro de Garage [sic], trabalha de segunda a sábado como atendente de chat da empresa Natura para complementar a renda. “É muito comum as pessoas trabalharem como garçom, trabalhar em outros empregos, principalmente quando a pessoa é mais jovem”, completa Miguel. Em alguns casos, os atores exercem múltiplas funções nas próprias companhias; vender seus ingressos é uma delas. A Cia. Teatro de Garage, fundada há dez anos por Daniel Eugênio, 48, é uma delas. “Encontrei uma forma de processo que não é o ideal, mas é o mais justo: os atores cuidam do figurino, eu corro atrás do cenário”, conta. O funcionamento da Anjos Pornográficos é diferente: “Nós [Miguel e Nathalia, a outra fundadora e também atriz] mantemos a companhia e convidamos os artistas para fazer as montagens. Em cada montagem a gente reúne um elenco diferente”, explica.

(Grupo de teatro ‘Antídoto’)

O bar salva as financias do Espaço Parlapatões DIRETRIZ

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Cultura

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fala: ‘tá chato, mãe, vamos embora’”, responde. Dedicando seus roteiros ao público infantil, ele afirma ter “uma responsabilidade”. “Que cidadão vai brotar vendo besteira desde pequeno?”, questiona. Dário aluga um espaço para ensaiar com sua companhia, o local - é uma garagem -, também é usado para realizar oficinas voltadas ao teatro. A Cia. Articularte tem 15 anos desde sua formação. Segundo o fundador, sobreviver no teatro é uma decisão que exige não apenas dedicação, mas também ser profissional - ou seja, considerar a companhia como uma empresa. “Tem companhia que gosta de fazer só teatro, mas os tempos mudaram”, diz Dario em relação às companhias que querem sobreviver no ramo teatral. Às companhias que enfrentam dificuldades ao formular um projeto, ele afirma que para ser aprovado no edital são necessárias ideias convincentes e explicar o grande diferencial do projeto. “O teatro mudou, antes fazíamos teatro, hoje fazemos projeto para fazer teatro”, alerta. Ter uma produtora é uma questão de escolha; nem todas companhias acham necessário, mas a Cia. Articularte utiliza uma para obter patrocínio e captação - fechar vínculos com as empresas e arrecadar dinheiro delas. É desta maneira que funciona a Lei Rouanet. Dario conta que os diretores das empresas não têm tempo para a cultura, inclusive aprovam o projeto para captação dentro do elevador na hora que eles estão chegando ou saindo. “Você mostra o powerpoint com tablet, [com seu projeto de] cinco páginas até chegar o andar dele e aí ele fala: ‘legal, muda aqui e então tá. Está aprovado’”, conta.

Dario Uzam mostra o “Gafanhoto”, boneco do espetáculo “Pequeno Polegar Capoeira” Também de bonecos, a companhia foi fundada em 2000 por artistas vindos da Articularte. Já em no ano seguinte se apresentaram no SESC Consolação. Formado na Escola de Arte Dramática da USP, Fábio Parpinelli, 36, entrou em 2002 e hoje também faz a parte administrativa da companhia, que hoje tem três pessoas. Hoje, a companhia viaja pelo interior para se apresentar em apresentações contratadas pelo SESI, o que causa despesas, além dos outros gastos. Isso fez com que a Fábio formasse uma reserva de dinheiro e assumisse a parte administrativa: “A Lana faz os bonecos e o João faz as estruturas de cenário[...] cada um contribui como pode”. Ele conta ainda que escreve os projetos para os editais e que a companhia conseguiu a Lei para o fomento ao Teatro (Prefeitura de São Paulo) três vezes, publicaram um livro e gravaram um CD com músicas, além das apresentações em SESIs, SESCs e bibliotecas. Fábio, que também escreve os projetos para os

editais, lembra da importância do planejamento e de poupar o dinheiro “Esse fundo de grupo que ajuda a gente a fazer as coisas e é dinheiro que gera dinheiro [...] Quando a gente recebe um cachê, pagamos todas as despesas, impostos, depois os atores convidados iluminador e divide [o restante] por quatro, que são os três atores e o fundo do grupo”. Fábio fala que a companhia guarda os materiais em um galpão alugado e administra a companhia em sua casa, inclusive, com conta bancária própria. Uma cooperativa de teatro cuida da parte jurídica, também notifica sobre os editais em aberto e ‘empresta’ o CNPJ para as companhias que não tem empresa registrada. Em troca, a companhia destina 3,5% de cada cachê para a cooperativa, além de outras taxas. Fábio conta, ainda sobre o mercado do teatro: “Todo mundo tem que vender o seu peixe [...] as leis são iguais ao mercado”. Ele discorda do conceito da ‘mercantilização da arte’: “Pode parecer um pouco de hipo-

crisia [o discurso contra a mercantilização da arte], porque é o que a gente sabe fazer [teatro], sou formado nisso, tudo o que eu vejo é voltado para isso, então eu tenho que receber por isso, é o meu trabalho. Lúdica A Companhia de 1993, também focada em crianças, tem uma visão diferente do teatro. Com críticas ao “Teatro Comercial” e alguns aspectos da Lei Rouanet, Marcya Harco e Paulo Drumond, coordenadores do projeto, prezam muito pela sua filosofia própria. “Já tínhamos uma ideia de fazer um teatro nada comercial e sim um grupo de pesquisa. Um espaço lúdico, [que] uma ideia lúdica estivesse muito presente”, diz Paulo. Os coordenadores administram a companhia e escrevem os projetos para os editais, no entanto, admitem que não têm tanta habilidade: “Não temos nenhum modelo administrativo. Nós somos um fracasso no administrativo. Nós não temos essa vocação”, diz Drumond. “Mas no administra-

tivo [prestação de contas] somos muito rigorosos, muito firmes”, ressalva. Paulo critica a Lei Rouanet, a empresa que patrocina não deveria ter o direito de escolher a companhia que receberá os recursos: “A empresa não patrocina cultura, ela patrocina a empresa”, diz Drumond. “Deve-se criar um fundo e uma comissão especializada para [decidir] o que realmente vai ser patrocinado”, completa. A ideologia dos coordenadores é algo determinante nos resultados da Cia., ambos são veganos (não consomem qualquer produto de origem animal) e não aceitam patrocínios ou apoios de empresas que sejam contra estes princípios: “Às vezes conseguimos patrocínios mais éticos, claro do nosso ponto de vista. Também conseguimos prêmios pelo PROAC”. Os coordenadores, no entanto, admitem que esta postura interfere no andamento da companhia. Como as outras, a companhia também tem uma reserva de dinheiro: “Às vezes essa reserva da e as vezes entra no cartão mesmo”.

Making Off A escolha da pauta se deu a partir da observação de diversas companhias de teatro com dificuldades e decidimos nos aprofundar no assunto. Entrevistamos, primeiramente, uma companhia de teatro amadora (Garage), um administrador do Espaço Parlapatões, uma Companhia que se apresentava lá naquela semana, Anjos Pornográficos, e uma companhia de teatro escolar, Antídoto. Posteriormente, entrevistamos três companhias de teatro infantil, Lúdica, Patética e Articularte, as duas últimas bastante profissionalizadas. Portanto, ouvimos fontes variadas dentro do ramo.

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Entretenimento e Esporte

Incipiente, Futebol Americano começa a evoluir no Brasil Lucas Valim Matheus Riga

São dois treinos por semana. Um deles, na quarta-feira à noite, numa escola particular na Barra Funda, o outro, sábado à tarde, no Parque Orlando Villas-Boas. Mas, pelo fato de Marcelo Tarifa, atleta do São Paulo Storms, estudar à noite, ele acaba perdendo o treino de quarta, só podendo comparecer aos sábados. Ir aos treinos já foi mais difícil para ele. Marcelo comenta, brincando, que vai de carro, mas já foi de metrô, CPTM e carona. Disposição não foi a única coisa que Marcelo teve de investir no esporte, já que ele diz que os equipamentos de uso pessoal, tais como o capacete são, geralmente, adquiridos pelos próprios jogadores. Fora dos gramados, Marcelo procura sempre que possível se manter apto a jogar, executando outros tipos de atividades físicas, como, por exemplo, indo à academia para manter o condicionamento físico. Além de ter uma rotina cansativa extracampo e ir aos treinos por conta própria, o jogador do São Paulo Storm não se arrepende desta árdua jornada. “O esporte pega um grande espaço do meu tempo livre, mas para mim não é problema, pois é algo que eu gosto de fazer”. Marcelo, ao analisar a situação do esporte no país, reconhece que as coisas estão melhorando. Ele pensa que “o Futebol Americano no Brasil cresceu muito, mas de forma desorganizada” e que as coisas estão encaixando agora. Para ele, muito dessa desorganização se deve ao fato de que falta incentivo ao esporte, seja da iniciativa privada ou pública. 22

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CBFA Assim como Marcelo, Flávio Cardia, presidente da CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano), também concorda que falta apoio às instituições. Ele exemplifica esse descaso: “Agora em janeiro teremos um jogo contra o Panamá, lá no Panamá, que vale uma vaga para a Copa do Mundo de FA, e não temos sequer um patrocínio para arcar com as passagens da delegação”. E ele não acha que é só isso, pois ainda faltam resolver questões estruturais, de logística, e sobretudo financeiras. Apesar de toda a dificuldade, o presidente cita o constante crescimento do Futebol Americano no Brasil. Flávio mostra que, desde 2008, o país saiu de apenas 2 times equipados, com mais de 50 atletas cada, para mais de 100 atualmente. Para controlar e regulamentar tamanha expansão, a CBFA busca, cada vez mais, uma organização sólida ao esporte. Por

“Não temos sequer um patrocínio para arcar com as passagens da delegação” isso, além da federação máxima, foram criadas federações estaduais para auxiliar em tarefas administrativas localmente. Além disso, os torneios administrados pela entidade, como a Superliga Nacional ou a Liga Nacional, têm uma regulamentação que facilita a logística, separando times por regiões, para diminuir viagens e gastos.

Divulgação/Flickr

Com início conturbado, o esporte tem se encontrado e prosperado no país

São Paulo Storm em ação contra o Itatiba Priests pelo campeonato paulista de Futebol Americano

Torneio TD Embora a CBFA seja a grande federação do esporte no Brasil, existem torneios paralelos aos organizados pela entidade, como é o caso do Torneio Touchdown. Criada em 2009, a competição, que conta com 20 equipes das mais diversas regiões do país, acontece anualmente e é um dos mais consistentes torneios do esporte. O sucesso, segundo Luis Cláudio Lula da Silva, presidente do torneio, é gerar interesse de patrocinadores. “O investimento de empresas é fundamental para a estruturação do esporte”. Além dos patrocinadores, outro fator do sucesso, para Luís, é o auxílio jurídico, de regulamentação, e financeiro, de despesas com viagens. A estruturação das equipes, segundo ele, fez com que a qualidade dos jogos aumentasse e, consequentemente, o torneio se consolidasse. “O desenvolvimento do Futebol Americano no Brasil é uma questão de tempo, paciência e profissionalismo”, analisa Luís. Momento Antony Curti, editor-chefe do The Concussion, site

especializado em Futebol Americano, também acha que os times mais estruturados têm mais chances de sobrevivência. “A necessidade de comprar equipamentos, que são caros, exigiram maior organização. Assim, as equipes mais organizadas sobreviveram e as demais, acabaram”, comenta. Já que o dinheiro não entra tão fácil nos clubes, o mais sensato foi tomar conta do pouco que entra. É por isso que Luis reitera a necessidade de patrocinadores no esporte. “O investimento de empresas é fundamental para a estruturação do esporte. Torcemos para que, cada dia mais, empresas se interessem em patrocinar times, jogos ou campeonatos. Após um início conturbado em solo brasileiro, o Futebol Americano, com a criação de uma confederação nacional, e várias estaduais, e o início de algumas gestões profissionais, tem se ajeitado. A tendência é que não só a desorganização seja superada, mas também a falta de estrutura e condições financeiras com um maior investimento de empresas e patrocinadoras. A esperança de quem trabalha com o esporte é que ele cresça mais, num futuro não muito distante.

Making of A proposta de realizar uma matéria a respeito do panorama do Futebol Americano aqui no Brasil se deve ao interesse da dupla pela modalidade, a fim de buscar esclarecimentos acerca das principais barreiras que impedem o crescimento do esporte em nosso país. Com esta ideia já bem definida, o próximo passo foi selecionar as fontes com maior influência sobre o esporte no Brasil, como, por exemplo, Flávio Cardia, presidente da CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano), Antony Curti, editor-chefe do The Concussion, site especializado na modalidade, e agora também comentarista dos canais ESPN, e Marcelo Tarifa Coelho, jogador do São Paulo Storm. Para cada uma dessas fontes, separamos uma lista com diversas perguntas, como, por exemplo, a rotina de treinamentos; a respeito da atual situação do Futebol Americano no país; as dificuldades em assimilar as regras; o modo como sites, federações e ligas atuam na divulgação da modalidade, entre outras. Realizada esta etapa de perguntas, decidimos focar na rotina de Marcelo Tarifa, contando detalhes da sua rotina de treinos e sua motivação em se tornar um jogador de Futebol Americano, bem como a infra-estrutura de seu atual clube, e como é feita a disponibilização dos equipamentos. Ao longo da matéria, colocamos também alguns depoimentos interessantes de Flávio Cardia e Antony Curti, especialistas no esporte, para que a matéria pudesse atingir o melhor nível de credibilidade. DIRETRIZ

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