Acontece 138

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Universidade Presbiteriana Mackenzie - Centro de Comunicação e Letras Publicação feita pelos alunos do 2º semestre de Jornalismo Edição nº 138

Fevereiro de 2014 Ano XI

Percurso acidentado para cadeirantes na Consolação 3

Stalk: perseguindo um sonho

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Negligência aos deficientes nas ruas de SP

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Menino de 13 anos é aprendiz de monge

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Xbox One x PS4. A polêmica


Editorial

A cidade sob observação

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esta edição do Jornal Acontece, tivemos matérias abordando vários problemas na cidade de São Paulo, englobando tanto os decorrentes quanto os que irão acontecer num futuro próximo devido a grandes eventos comerciais. Ademais, temos uma reportagem que atravessa os limites estaduais para falar do Rio de Janeiro. As repórteres Priscila Annibale, Larissa Rodrigues e Mariana Barbosa realizaram uma matéria sobre moradores de rua na região da grande São Paulo, e as ONGs que os auxiliam, como o CAPE (Centro de Atendimento Permanente e de Emergência) e o Bom Prato. Ainda falando da cidade, as repórteres Tamires Lietti, Nathalia Leite e Victoria Oliveira realizaram uma matéria sobre os efeitos do Rock in Rio em São Paulo. Além do evento trazer muitos artistas internacionais para fazerem shows na capital, também gera lucro para as casas de espetáculo, hotéis e produtoras. A grande quantidade de shows na cidade impulsionou não só a economia

local, mas também a construção expõem o nome do engenheiro e de novas linhas de monotrilho e arquiteto. A matéria cita fatos que metro. chamaram atenção depois do caso Também preocupadas com da construção que desabou em as consequências de eventos na São Mateus – Zona Leste de São economia paulista, as repórteres Paulo - que deixou 10 mortos e 26 Kamila Gleice e Larissa Kato fa- feridos, e também chama a atenlaram da movimentação monetária ção para o fato de que problemas trazida aos bares e restaurantes da estruturais não são exclusivos de construções antigas. cidade pela Copa de 2014. Já com uma abordagem mais politizada, Bianca Luzetti e Paloma Ghorayeb falaram de Ocupa SP, movimento pacifico que se encontra na frente da Assembleia Legislativa de São Paulo. Elas não apenas conversaram com manifestantes, mas também com o presidente e com o diretor de comunicação da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, procurando entender melhor o caso e resultando numa matéria pluralizada. Giulia Costa e Matheus Mans comentaram, em sua reportagem, sobre os problemas estruturais presentes em construções civis recentes. Muitos dos problemas citados nasceram como consequência da mão de obra barata. Alguns do prédios nem, ao menos, Editores: André Nóbrega Dias Ferreira e José Alves Trigo Projeto Gráfico: Renato Santana

Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras Diretor: Alexandre Huady Guimarães Coordenadora: Denise Paieiro

Equipe: Gabriel Vinicius de Souza, Patricia Bataglia, Isabela Lisboa, José Maria Neto, Lucas Gomes Teves, Rodrigo Ribeiro de Oliveira, Larissa Koloszuk, Willian Paulo, Gabriela Stockler, Júlia Ferreira, Beatriz Augusto e Camilla Queiróz

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A reportagem sobre os jogos paraolímpicos levanta duvidas perante a viabilidade da cidade do Rio de Janeiro estar ou não pronta para receber os atletas do evento. As repórteres, Letícia Gamero, Camila Rolim e Giovanna Sortino, apontam alguns problemas ocorrentes nas vias públicas enfrentados pelos cidadãos para se locomover, como ruas esburacadas, árvores, postes e lixeiras. Apesar de o centro de treinamento estar bem estruturado. A matéria conta também com fontes importantes no paraatletismo nacional, como o Ricardo Roberteres, Auxiliar Técnico de “futebol de sino” na Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais.

Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, orientados pelo professor André Nóbrega Dias Ferreira, jornalista, MTB n° 26514. Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 200 exemplares.


Stalk: perseguindo um sonho

Camilla Queiroz

O número de fãs perseguidoras de artistas vem crescendo e surpreendendo cada vez mais os famosos de todo o mundo.

Multidao em frente a radio metropolitana aguardando a banda Emblem3

Beatriz Augusto Camilla Queiroz

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uem nunca teve um ídolo que faria de tudo para conhecê-lo? Muitas meninas fazem loucuras para que isso aconteça. O termo “stalk”, que significa perseguir em inglês, está presente cada vez mais na vida de fãs mais ousadas. Muitas delas perseguem os ídolos em hotéis, eventos e ficam horas e dias na fila de shows, causando preocupações aos pais. “Acho todo mundo deveria ser fã, é um sentimento muito bom! Você simplesmente faz de tudo por alguém que provavelmente nem te conhece sem esperar nada em troca, mas ao mesmo tempo é tão gratificante quando você consegue alguma coisa! Acho isso lindo (risos)” Disse Isabella Bisordi,19

anos, que começou ir atrás de bandas, principalmente internacionais, desde os 14 anos. Partes dessas jovens vão atrás dos ídolos na estrada, em outros países, cidades e estados. São conhecidas como Groupies. “Acho que o termo foi banalizado, e hoje em dia, ser Groupie é uma coisa pejorativa”, explica Isabela Albuquerque, 18 anos, que em janeiro vai para a Irlanda atrás de sua banda preferida. “Acho que estão se divertindo ao modo delas, mas acredito que o grupo pode ser dividido em dois tipos de Groupies: aquelas que seguem uma banda por admiração e amor, e aquelas que estão buscando uma fama temporária.”, afirmou Esperanza Mariano, 18 anos, que começou ir atrás de artistas aos 13 anos Algumas Groupies atingiram a fama, por terem conseguido construir vínculos e até relações amorosas com seus alvos, o que deixa algumas fãs in-

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comodadas. “Cada um faz o que quer, contanto que não seja com a banda que eu gosto e sou fã, quero elas bem longe”, completa Melanie Morais, 19 anos, que começou ir atrás de banda para conhecer pessoalmente artistas que admira. Acompanhando a passagem da banda americana Emblem3, que ganhou destaque depois da participação no programa “The Xfactor”, que seleciona novos talentos, muitas meninas ficaram horas no aeroporto aguardando a chegada dos três meninos. Passaram quase 24h na porta do hotel esperando ao menos um oi de Wesley Stromberg, Keaton Stromberg e Drew Chadwick. Isabella Bisordi, 19 anos, estudante de jornalismo conta que ficou das 10h às 22h na porta do hotel esperando os garotos aparecerem, “eu sei que é loucura, mas no final valeu a pena!”, completa Isabella. Quando questionados sobre as fãs brasileiras, eles disseram que ficaram encantados com o amor, e a maneira como eles foram tratados, Drew Chadwick chegou a publicar em seu instagram (@DrewChadwikMusic) que “aqui elas dão beijos na bochecha quando dizem oi, gostei disso!”. Wesley parecia bem animado ao encontrar as fãs brasileiras e repetia sempre: “vocês são as minhas preferidas”. Segundo informações anônimas, os jovens chegaram a levar garotas para dentro do hotel, e ficaram lá durante algumas horas. Essas garotas, tachadas como sortudas por todas as meninas, foram também julgadas como Groupies, injustamente, já que uma delas que prefere não ser identificada, diz que nada aconteceu. A banda afirmou que não vê a hora de voltar ao Brasil, pois ficaram apaixonados pelo país, pelo clima e principalmente pelas fãs. Contudo, a maioria das garotas que saem em busca de encontros com suas bandas, atores e escritores favoritos são menores de idade, ou iniciaram o stalk durante a menoridade, e precisam saber lidar com os pais nessa situação. “Eu sou fã perseguidora desde os 13/14 anos, que foi quando minha mãe pegou confiança em me deixar andar pela cidade sozinha de ônibus/metrô. Minha mãe nunca gostou dessa minha “paixão”.


Dois anos após aprovação da lei das calçadas, imóveis ainda têm passeios irregulares e impróprios para deficientes

Gabriel Vinicius de Sousa Patricia Battaglia

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s inúmeras dificuldades existentes em um simples trajeto de dois quarteirões marcam o descaso dos governantes em relação aos deficientes. Com o descumprimento da lei 15.442/2011, que obriga proprietários de imóveis com frente para a rua reservarem no mínimo 1,20m de calçada para a passagem de pedestres sem nenhum tipo de obstrução, tanto de mesas e cadeirantes como existência de postes, o percurso que passa pelas ruas Piauí, Consolação e Maria Antônia se torna um desafio para a pessoa com necessidades especiais.

O caminho da repórter cadeirante para ir da faculdade até o Soho`s, onde geralmente almoça é de dois quarterões, mas parece uma maratona. Ao subir a rua Piauí, é necessária ajuda a todo momento, já que além de esburacado, o caminho também é completamente desnivelado e com muitos postes. Passando pela rua da Consolação, as calçadas pioram cada vez mais, se tornam mais estreitas, mais destruidas e com mais postes e árvores que quase impedem a passagem. Ainda tem a obra do metrô que ocupa tanto espaço que a minha cadeira de rodas mal passa. Chegando na rua Maria Antônia o percurso conta com mais dificuldades, como a falta de guia rebaixada na faixa de pedestre e inúmeros buracos. O caminho só dá uma melhorada quando se passa pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, que aparecem em algumas partes do percurso, onde as calçadas são bem cuidadas, sem nenhum buraco e com o nivelamento quase perfeito. Em todo o percurso, poucos pontos apresentavam piso tátil, que auxilia a locomoção de cegos e alerta onde há faixas de pedestres. Segundo Fábio Siqueira, assessor de imprensa da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED), “qualquer cidadão pode denunciar falta de acessibilidade em espaços públicos (de qualquer esfera de governo), através de requerimento/ofício a ser protocolado nas subprefeitura”. Caso a demanda não seja atendida, Siqueira sugere protocolar a reclamação/solicitação na Ouvidoria da Prefeitura. Também existe a opção de acionar o Ministério Público a qualquer momento, mas a primeira maneira é mais recomendada. Ressalta ainda que a munici-

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palidade não se auto fiscaliza como deveria, porém tem a obrigação de cumprir a lei independente de ser acionada ou não pelo Ministério Público. O descumprimento da lei pode acarretar em multas de até R$ 300 por metro linear. Siqueira acentua que alguns projetos estão sendo realizados para melhorar a acessibilidade a deficientes, tais como: o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Rotas Acessíveis com o compromisso da Prefeitura em reformar 850 mil m² de calçadas públicas nos locais de maior movimentação, da forma que foi feita na av. Paulista, com os primeiros trechos concluídos até julho de 2014 e previsão de término em 2016. Em parceria com o Centro de Apoio ao Trabalho (CAT), a Prefeitura visa ajudar nas divulgações de vagas de emprego destinadas a pessoas com necessidades especiais. Além disso, a Central de Intérpretes de Libras contará com acompanhantes às pessoas com deficiência auditiva para auxílio em bancos, hospitais, delegacias, consultórios médicos, entre outros. Esse serviço estará disponível no começo de 2014.


Igreja não está preparada para o fim do celibato, afirma frei Celibato voltou às rodas de discussão no último mês de agosto após padre baiano renunciar à batina durante a missa Isabela Lisboa José Maria Neto

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Foto Isabela Lisboa

questão da abstenção sexual, ou celibatarismo, ganhou destaque nas últimas semanas. Gerônimo Moreira, pároco na cidade de Gavião, interior da Bahia, leu uma carta, durante uma celebração, a qual falava sobre sua intenção de deixar o sacerdócio. Motivo: a vontade de constituir família. Frei Rafael, da Paróquia de Santa Teresinha, Higienópolis, disse que a igreja aceita o pedido de dispensa e também o de retorno, no caso de arrependimento. “Muitos padres erram”, afirmou. Segundo ele, “o celibato é um tema muito quente”. Durante um curto período após o surgimento da igreja, alguns padres se casaram. Com a carta de São Paulo, porém, a recomendação de que moças virgens se mantivessem nessa condição até o matrimônio e clérigos não tivessem relações sexuais se popularizou até virar uma Lei Positiva. Positivas são as leis não-naturais, criadas dentro de instituições sociais.

No caso da comunidade católica, o celibato estabeleceu-se no Direito Canônico da igreja ocidental durante o Concílio de Trullo, no ano de 692. “É como um jogo de damas. Se você quer jogar damas, existem regras. [...] A igreja também tem suas regras”, disse o Frei. Enquanto não ordenar-se padre, o seminarista é livre para se relacionar. Depois, caso torne-se diácono, compromete-se a praticar a abstenção sexual. Do contrário, peca contra o sexto mandamento (Não pecarás contra a castidade). Além disso, o matrimônio de padres não é reconhecido pela igreja. As diferenças entre “vida de casado” e “vida de solteiro” são razões fortes para a vigência do celibatarismo eclesiástico até os dias atuais. Esposa e filhos exigiriam um desdobramento de atenção e maiores responsabilidades aos diáconos que, para Frei Rafael, “já possuem suas preocupações e correrias”. Luís Augusto Schmidt Totti, professor no curso de Letras da UNESP de São José do Rio Preto estudou dos 11 aos 14 anos de idade num seminário salesiano. “O que me motivou a não prosseguir em meus estudos religiosos não foi própria ou diretamente o celi-

Frei Rafael, da Paróquia de Santa Teresinha, do Bairro Higienópolis

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bato”, afirmou. Porém para ele, a adolescência “é um período inadequado para se estar num colégio interno, junto a mais de uma centena de outros colegas, e sob cuidado de religiosos que não têm com você a ligação afetiva”. Para os que seguem mais adiante, o celibato vira uma norma importante que, consequentemente, provoca dúvidas. “Quando ingressei no seminário, minha classe da 5ª série tinha 53 alunos. Certa vez, um dos padres, que também era um de nossos professores, cantou que dos que estavam alí apenas 3 chegariam a ser ordenados padres. Não se tratou de um exercício de futurologia, mas de afirmação fundamentada num histórico de números que permitia elaborar uma estatística. E realmente é por aí”, disse Totti. Apesar do aparente consenso a respeito da ideia de celibato em torno da ala mais conservadora da Igreja Católica, tal dilema divide os fiéis menos fervorosos e alguns padres da nova geração, causando diversos questionamentos morais e éticos nos membros do clero. Essa contestação foi uma das bandeiras de dissidência da Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB) em meados dos anos 40, quando Dom Carlos, depois de ser excomungado pelo Papa Pio XII, fundou a vertente alternativa católica de difusão da fé, totalmente independente da Igreja romana e calcada nos lemas que persistem até hoje: por Deus, terra e liberdade. Muito mais do que uma versão brasileira da Igreja Católica, a ICAB se caracteriza hoje como uma opção menos resistente às evoluções da sociedade contemporânea. Ex-freira da Instituição romana, Fátima Pires cuida há nove anos da secretaria administrativa da Diocese de São Paulo da pouco conhecida divisão eclesiástica. “Na ICAB abrimos espaço para todas as formas de celebração do amor e da vida. Da mesma forma que realizamos matrimônio de pessoas divorciadas e fazemos o ritual da confissão de maneira coletiva, não nos opomos ao casamento dos nossos padres e bispos”, afirmou a a missionária.


Menino de 13 Anos é aprendiz de monge Jeferson descobriu sua vocação aos cinco anos. Hoje estuda para ser tanto monge quanto padre.

Gabriela Stockler Júlia Ferreira

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o mosteiro de São Bento, localizado na região central de São Paulo, Jeferson Henrique Alves Moreira, de 13 anos, estudante do sétimo ano, é aprendiz de monge. Com sete anos conheceu o mosteiro, descobriu a ordem de São Bento e ali decidiu ser monge, porém aos cinco já havia decidido ser padre. “eu queria ser padre bem mais novo, quando eu vi um falei: ‘quero ser padre”, diz Jeferson. Sobre a opinião de sua família ele diz que sua mãe não se incomodou, ela acha que ele deve seguir sua vida da maneira que ele achar certo. Para se tornar monge é necessário decorar em seis meses as regras de São Bento, um livro com 73 capítulos, além disso, para ser padre é preciso estudar teologia e filosofia no ensino superior, além de um seminário. Jeferson sabe disso e diz que o fará.

Sendo Acólito do mosteiro, utiliza uma batina e uma sobrepeliça (uma espécie de poncho), ademais ele já conheceu a clausura e diz “lá tem tudo, tem a sala da internet, biblioteca, tem uma sala só de televisão, tudo o que vocês imaginam tem”. A clausura é aberta a cada cem anos, e há aproximadamente dois, ele teve a oportunidade de entrar lá como visitante, não como ajudante do padre. É possível deixar o monastério se o monge se apaixonar, Jeferson diz que não quer se envolver emocionalmente com alguém, já decidiu que quer viver o resto de sua vida no mosteiro. Ele conta que reza o rosário todo dia e mil ave-marias uma vez ao mês, tudo por vontade própria. Dom Camilo, professo solene, é considerado seu melhor amigo, “Eu estava assistindo uma missa, ele veio, fez amizade e me deu uma bíblia”. O professo solene tem grande importância nas decisões da comunidade, como por exemplo, da votação do abade. Os candidatos a monge entram inicialmente como postulantes, em seis meses Júlia Ferreira

Jeferson em frente ao mosteiro

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ele aprende sobre a vida no mosteiro e conhece todas as exigências ali presentes. Após esse período ele pode ser admitido como noviciado, conhecendo melhor as tradições cristãs e monásticas, frequentando aulas de sagradas escrituras, patrística, historia da vida monástica, regra de são bento e algumas outras como o idioma latim. Isso dura um período de dois anos, sendo que no segundo ano, o irmão pode iniciar estudos acadêmicos, como teologia e filosofia. Ao fim do noviciado é possível professar por três anos os votos monásticos, sendo eles: conversão dos costumes, obediência e estabilidade no mosteiro. Ao fim de três anos o irmão pode optar por deixar o mosteiro ou seguir a vida monástica, se tornando então professo solene. Segundo dados do mosteiro de São Bento o acervo bibliográfico é constituído por obras impressas que revelam aspectos da cultura beneditina de são Paulo, tendo aproximadamente cem mil volumes, sendo eles livros antigos, tendo incunábulos do século XV, obras do século XVI ao XVIII, além de acervos do século XIX ao XX. No ano de 1999 o mosteiro começou a oferecer ao publico bolos, pães, geleias, biscoitos, sendo as receitas seculares, e estavam guardadas no arquivo da abadia. Essas comidas alimentaram o papa Bento XVI, quando visitou em maio de 2007 o mosteiro. Jeferson nos conta que existe um administrador que gerencia o dinheiro recebido, ele é enviado para cobrir despesas não só do mosteiro, mas da faculdade e escola de São Bento. ”Não é pelo dinheiro, é só para eles viverem, o administrador é quem administra tudo, tudo!”. Jeferson disse que também conversa com uma monja enclausurada na igreja de Frei Galvão, Contou que ela usa roupas que cobrem todo seu corpo, inclusive o rosto, deixando apenas dois pequenos buracos nos olhos. Ele diz: “tento ir lá toda semana, nunca vi seu rosto, é diferente ser amigo de alguém a quem você não conhece o rosto só a fala”.


Arte Pública como condição de existência Artista plástica Denise Milan mostra outra visão a respeito do caos urbano em suas obras

Denise Milan ao lado de uma pedra ametista, em seu ateliê na Avenida Paulista.

Larissa Koloszuk Willian Paulo

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enise Milan, 59 anos, é uma renomada artista plástica que tem como objetivo desconstruir temporariamente o caos das grandes cidades e provocar um momento de reflexão nos cidadãos de passagem. Ambientes como São Paulo são caracterizados pela confusão e pelo trafego de milhões de pessoas que buscam cumprir seus deveres em meio à correria e ao pouco tempo. A arte tem a capacidade de fazer com que esses indivíduos parem por um momento para compreenderem melhor o espaço que os circunda e refletirem sobre ele. Esse é o principal propósito da Arte Pública, vertente artística a que pertence Denise. A Arte Pública não é apenas um conjunto de obras espalhadas pela cidade. Ela abrange todo um significado retórico na medida em que conversa, dialoga e estabelece um contato com a população e o ambiente no qual se encontra. A obra, o admirador e o espaço urbano formam, assim, uma unidade relacional. “É dessa interlocução que uma obra pode ser significativa ou não, ter uma repercussão maior do que o próprio umbigo do artista”, afirma Denise. A artista dialoga com o espaço urbano utilizando-se, principalmente, de pedrarias, fotocolagens e esculturas na

composição de suas obras. Ao falar de sua ligação com as pedras, é perceptível sua preferência, sobretudo, pelos cristais. A ideia de trabalhar com eles surgiu por meio de uma sugestão, em 1986, em uma exposição chamada “Luzes”, no MAM (Museu de Arte Moderna). Porém, com dúvidas a respeito da interferência que faria no material, observou-o durante um ano antes de fazê-la. Desse período de análise, nasceu a exposição Garden of Light, na P.S.1 – uma das maiores e mais antigas instituições de arte contemporânea sem fins lucrativos dos EUA -, em Nova Iorque, na qual ela fez uma série inteira de peças de quartzo. “Eu trabalho com o quartzo, porque o quartzo está presente em 90% da crosta da Terra e ele forma uma rede cristalina, ele é um mineral comum, o que é comum é o que nos une”, ressaltou a artista. O processo de formação do quartzo se dá no interior dos vulcões. No magma, formam-se bolhas de ar, as quais o quartzo e o basalto – outro tipo de formação rochosa -, no estado líquido, lutam para invadir. “Ambos vão disputar a bolha. Quem ocupá-la é quem vai existir. Se o quartzo entrar e não se proteger, não fizer uma casca, o basalto invade a bolha e o quartzo não existe. Então, o que a gente está discutindo? O ser ou não ser. Qualquer ideia da gente pode existir ou pode deixar de existir”. A criação baseada nessa linguagem das pedras deve, então, sustentar e potencializar o processo criativo dos jovens. Ela consiste em fazer com que

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as ideias emergentes sejam pensadas e estruturadas, com o objetivo de formar uma casca impenetrável à coerção exógena. “Quantas vezes a gente tem uma ideia e a fala para alguém que nem teria que falar. A pessoa que não entende o que é que você está falando direito diz: ‘mas que bobagem’. E você, que ainda não se apropriou direito da sua ideia, deixa o quê? O Basalto invadir a bolha e a tua ideia é abortada”, complementa ela. Outras obras públicas de Denise, tais como a Drusa, no Vale do Anhangabaú, e O Ventre da Vida, na estação Clínicas do metrô, demonstram essa história. No entanto, cabe ao indivíduo agregar a sua percepção. “O artista traz um signo aberto para que o público possa, então, cada um trazer a sua versão sobre a obra. Ele produz um símbolo que interroga a posição nossa perante aquilo que a gente está vendo”, explica Denise. Para a fiscal de obras Andressa Imidicera, 35 anos, a obra que está na estação Clínicas pretende “demonstrar que as pessoas têm um interior além do que você está observando, porque todos acham que, no dia a dia, elas são frias, e a obra quer passar que todo mundo tem alguma coisa em especial: um cristal, um diamante. Todo mundo é uma pessoa a ser descoberta, mas que tem que buscar isso bem no fundo de si”; já a administradora Silvana Espósito, 50 anos, crê que a obra passa “muita luz e energia” e alega importante esse tipo de arte no metrô, porque o povo brasileiro precisa de mais cultura.


Xbox One VS Playstation 4: a Polêmica Foto; Lucas Gomes Teves

A nova geração de videogames chegou trazendo várias polêmicas acerca de jogos usados e da necessidade de se conectar constantemente com a Internet Lucas Gomes Teves Rodrigo Ribeiro de Oliveira

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mercado de games aguardava ansioso para a nova geração de consoles, mas o anúncio do Xbox One trouxe uma série de polêmicas entre os jogadores e os especialistas. Através das reclamações dos fãs e das respostas diretas da Sony, sua concorrente, a Microsoft voltou atrás. Em fevereiro desse ano era anunciado o primeiro console da próxima geração de videogames, o Playstation 4, prometendo gráficos melhorados e um sistema mais simples, eficiente e robusto para os programadores de jogos, a Sony estava ali mostrando as suas armas para o futuro, só faltava a Microsoft com o sucessor de seu maior sucesso no ramo dos videogames, o XBox 360, e no dia 21 de Maio desse ano foi anunciado o XBox One, com um choque para quem esperava um anuncio semelhante com o que a Sony fez, longe disso, a Microsoft mostrou o novo console mais como uma plataforma multimídia do que um videogame, como conversa no Skype e uso do videogame para interagir com a programação da TV, muitos fãs se sentiram traídos pela empresa não focar no que é exatamente o mais importante para um produto desses, os games. E não parava por aí, a Microsoft anunciou depois da apresentação algumas características técnicas do console que deixaram ainda mais a comunidade gamer furiosa, como o DRM, sigla para o uso exclusivo do usuário da cópia de um jogo, sendo que se usado em outro aparelho, não funcionaria exceto com uma taxa adicional, inferindo praticamente nos direitos do consumidor. Além de trava de região, com a qual um console americano não podendo rodar um jogo japonês, por exemplo. Um sistema já usado há muito tempo pela Nintendo, e talvez o mais agravante, ter que freqüentemente entrar no modo online do console para atualização e verificação de dados, o que impossibilitaria as milhares de pessoas

´ Gamer em dúvida de qual console escolher: E você? Qual vai escolher? no mundo que não tem acesso à internet ou não tem como ativar o modo online de seu aparelho jogar o videogame. João Manoel Quadros Barros, professor no Mackenzie e desenvolvedor de games, diz que: “como jogador acho ruim, o jogo usado é meu e em caso de querer trocar por outro ou mesmo vender, fico preso a quem tem o mesmo console diminuido tremendamente as chances de negócio. No Brasil existe um mercado enorme de jogos usados e mesmo em outros países essa é uma prática muito comum. A Microsoft anda na contra-mão dessa realidade com essas atitudes”. O que piorou a situação da Microsoft foi o que Don Mattrick, na época presidente da divisão XBox, anunciou para quem não tivesse a possibilidade de se conectar na Internet do XBox, a Live, que ficasse com o antigo console, o XBox 360 que não necessita de tal atualização constante. Isso promoveu uma revolta nas mídias sociais e na mídia especializada que acabou levando a empresa cancelar todas esses aspectos do console no dia 19 de Junho,

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além de, coincidência ou não, marcar a saída de Don Mattrick a presidência da empresa no dia 1 de Julho. A respeito disto, João Manoel diz que “isso, sim, demonstra uma agressividade enorme com mercados menos competitivos, ou menos favorecidos, nesse caso, sim, um erro grande de comunicação, nós sabemos que mercados menos favorecidos a chance de jogos off-line continuarem ativos é muito grande, mas dito da maneira que foi, gera uma antipatia enorme como marca”. Toda essa resposta negativa fez com que a Microsoft desse um passo atrás nessas características, mostrando que o consumidor tem o direito de reclamar e pode ser ouvido pelas empresas E no fim, com todas essas reviravoltas, os dois consoles serão lançados em Novembro, Playstation 4 no dia 15 e Xbox One no dia 21, uma semana antes da Black Friday, o que pode fazer tanto os consumidores e a mídia esquecerem todas essas polêmicas e realmente se focar no que importa para todos: os games.


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