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Universidade Presbiteriana Mackenzie - Centro de Comunicação e Letras

Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ed 145 - Ano XI - Ago 2014

Espaços para quem curte skate

Acima, adolescentes na Praça Roosevelt, no centro da cidade, e ao lado, a nova pista, na zona oeste, ao lado do Parque Villa Lobos


Skatistas ganham espaço em SP

Texto: Maria Carolina Fotos: Danielle Albuquerque

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Parque Ecológico Cândido Portinari, inaugurado em dezembro de 2013, ao lado do Parque Villa Lobos, trouxe um reforço de mais de 120 mil m² de área de lazer para a região. Entre suas atrações estão presentes ciclovia, pista de caminhada, quadras e playgrounds. Mas o que realmente vem chamando a atenção são as novas pistas de skate no estilo plaza, na qual, por simular obstáculos urbanos, e é possível praticar diversas modalidades. O que mais faz sucesso entre o público é uma ladeira asfaltada sinuosa com cinco curvas próprias para a prática do esporte. É comum ver atletas profissionais, crianças, mulheres, adultos e até idosos andando nas pistas. “Venho aqui todo final de semana com meu namorado e o filho dele. Eles gostam bastante.” conta Juliana Mascara, que estava tirando várias fotografias deles. Mesmo com essa nova área, ainda é possível ver muitas pessoas sob quatro rodinhas pelo parque Villa Lobos,

Fábio Oliveira e seu filho, andando nas novas pistas de skate do parque pois por mais que eles tenham gostado da iniciativa de um novo espaço para lazer na cidade, acham que ainda tem muito o que melhorar na estrutura do local, por exemplo, no final da pista falta uma parede para eles pararem. “Sempre venho aqui com meu filho, mas acho que precisa

Editor: José Alves Trigo

Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras Diretor: Alexandre Huady Guimarães Coordenadora: Denise Paieiro

Equipe: Maria Carolina, Danielle Albuquerque, Camila Eneyla, Sarah Lucchini, Danielle Antunes, Nicole Fanti, Flávia Steiger, Larissa Sugiyama, Mariana Kovelis, Natália Guimarães, Juliana Ibanez, Letícia Andrade, Lucas Farias, Bruno Leão, Amanda Mendes e Emanoella Oliveira.

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de uma melhorada. Falta uma pista de skate para andar rapidamente. Costumo ir em pistas nos EUA, no museu do Ipiranga e também vou em um parque na Doutor Arnaldo, Zilda Natel e no museu do Ipiranga”, disse Fabio Oliveira, pai de Rodrigo Oliveira.

Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 200 exemplares.


Quanto custa um animal de

estimação? Texto e fotos: Camila Eneyla

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e há alguns anos os cachorros eram vistos como companhia ou diversão, hoje representam muito mais que isso, são intitulados de filhos, membros da família. Entre banhos, tosas, caminhas decoradas, petiscos de todo os sabores, bichinhos de pelúcia, perfumes e todo aquele excelente tratamento, os donos fazem de tudo para agradar os seus bichinhos. E os Pet Shops, de tudo para abocanhar e seduzir os seus clientes a um consumo ainda maior. O vendedor Lucas Guimarães, 19, que trabalha no Pet shop Dog´s Family localizado no Shopping Pátio Higienópolis, conta que a maioria dos animais que a loja oferece custam caro, sendo que, já foram vendidos um gato da raça Ragdool e um cachorro da raça Lulu Pomerânia, ambos no valor de R$ 5 mil. Sem contar que os donos nunca levam só o animal, sempre aproveitam pra levar o pacote inteiro: ração, caminha, roupa, coleira, ursinho de pelúcia, potes para comida e tudo mais o que lhes for de direito. Porém, algumas pessoas não se importam em fazer caridade e adotar cães de rua. Dependendo da quantidade, os gastos podem ser muito maiores do que ter apenas um cão de raça. A professora de espanhol e tradutora, Alicia Manzone, 59, cuida de onze cachorros, todos tirados das ruas e SRD (Sem Raça Definida). Por conta da idade avançada, quatro deles fazem fisioterapia uma vez na semana, ao custo de R$ 90 por cada sessão, o que gera em média, uma despesa mensal de R$ 400. Todos têm consulta com veterinário homeopático e toda semana, um vai para o banho. Os gastos com alimentação foram drasticamente reduzidos quando passou a ser preparada em casa, sem o uso de ração. No total, são pouco mais de R$ 4 mil por mês. Porém, Manzone diz que é grande prazer oferecer o que há de melhor para as minhas crianças de quatro patas” e se despede com grande felicidade. O que acontece de fato, é que o ani-

Pet Shop localizado no Shopping Pátio Higienópolis

Acima, fachada de pet shop em Higienópolis e abaixo, a hora de nanar da família de Alicia Manzone

mal não se preocupa com o status do seu dono, sua classe social, sua cor. Tudo o que ele quer é companhia e sinceridade. No entanto, sabe-se que até mesmo a perspicácia humana não

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tem a compreensão deste “pensar” canino. Então, a forma de alguns humanos expressarem seus sentimentos pelos animais é oferecendo-lhes todo o conforto que cabe no bolso.


Uma Mansão Texto: Sarah Lucchini Foto: Danielle Antunes

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ituada no coração de São Paulo, a Casa das Rosas, tem materializado progressivamente a liberdade e verve artística dos paulistanos e peregrinos que por aqui se instalam, através de peças de teatro, saraus, lançamentos de livros, ciclos de debates, recitais, exposições ligadas à cultura e outros tipos de formatos que difundam a arte e a poesia no geral. A Mansão em estilo clássico francês, conta com trinta cômodos, uma edícula, jardins, quadras e um pomar, na Avenida Paulista, local que reunia a maioria dos milionários barões do café. O Espaço foi residência de Francisco de Paula Ramos de Azevedo, famoso arquiteto brasileiro, até 1986. Depois abriu como galeria de artes e no final de 2004 reinaugurou com o nome de Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, em homenagem ao poeta paulistano, falecido em 2003. A instituição, que também é o primeiro espaço público do país destinado à poesia, foi uma iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura, que juntamente com o Instituto de Apoio à Cultura, POIESIS, administra o local, palco de reconhecimento da poesia, literatura e arte em geral. A Casa conta também com um acervo doado pela família de Haroldo de Campos. “Quando ele morreu, a família doou o acervo dele, que é em torno de 20 mil livros para o Estado, e quando abriu o Espaço de Poesia e Literatura, eles acharam que seria bacana ficar aqui”, conta Paula Renata, 32, guia e monitora da Casa das Rosas. A mansão número 37, funciona de terça a sábado, das 10h às 22h, e de domingo e feriados, das 10h às 18h . As atividades realidades são bimestrais e gratuitas, e traz inovações, como, a Feira de Trocas, realizada mensalmente. A feira, segundo Paula Renata, começou com a troca de livros, gibis e brinquedos, mas ao longo do tempo as pessoas passaram a quer trocar

Acima, fachada da Casa das Rosas. À direita, entrada de uma das salas da Casa das Rosas

outras coisas, então no final do ano passado se tornou uma feira de troca tudo. “Nada pode ser vendido, é tudo trocado e tem sempre uma pessoa do núcleo educativo que participa dessa troca com o material que tem na casa”, relata a guia do Espaço. A feira de troca funciona aos sábados, uma vez por mês, com a disposição de mesas para o público expor seus produtos de escambo. Neste mês de abril a troca da vez são as figurinhas da Copa 2014, isso sem contar, os CD’s, DVD’s, HQ’s, roupas, brinquedos, livros e até

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mesmo conselhos, que são escritos em papéis e podem ser trocados independente de conhecer ou não a pessoa com quem se troca. Além disso, a Casa das Rosas, não recebe só paulistanos, mas também pessoas de outros estados e até estrangeiros. “Eu achei muito interessante. Me surpreendeu bastante, porque eu achei que era mais uma casa antiga que era um patrimônio tombado e exposições”, conta Thaís Ferreira, 20, estudante de medicina, de Boa Vista - Roraima.


Museu aberto de arte moderna Manifestação artística em espaços públicos Texto: Nicole Fanti Fotos: Flávia Steiger

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ocê sabia que existe um museu aberto de arte urbana no bairro de Santana, em São Paulo? Localizado nas colunas da linha azul do metrô na avenida Cruzeiro do Sul, Zona Norte de São Paulo, o MAAU (Museu Aberto de Arte Urbana) foi inaugurado em outubro de 2011. Em abril de 2011, Binho Ribeiro e seu grupo foram detidos por grafitar e espalhar arte nas pilastras de sustentação do metrô. No dia seguinte, Binho e Chivitz, transformaram o incidente em um projeto inovador que apresentado para a secretaria da cultura de São Paulo, para a prefeitura e para o metrô, deram início ao museu. São quase dois quilômetros de arte urbana, dando o ponto de partida em Santana e se estendendo até a estação do Carandiru e a Tietê. O museu aberto contém 70 painéis com trabalhos inéditos de mais de 60 artistas. Desenhados em 34 colunas de 4 metros de altura cada. Além do MAAU, existem outros museus como o Beco da Vila Madalena e alguns outros. “Nada mais são do que vitrines que alguns artistas e grafiteiros usam para expor sua arte para o mercado”, disse Luis Antonio Cunha, jovem grafiteiro mackenzista. A arte do grafite está crescendo muito nos últimos anos. “Hoje em dia, com a internet é mais fácil comprar material e ver desenhos dos seus grafiteiros preferidos, o que acaba por incentivar a produção do grafite.”, comenta Luis Antonio. Além da beleza, o grafite é uma arte contemporânea bastante trabalhosa, pois são noites em claro, custo alto de materiais e dependendo do lugar em que for fazer o grafite, pode-se assinar processo criminal ou como mais conhecido, crime ambiental. A população brasileira enxerga o grafite como uma arte que enfeita a cidade, tirando um pouco daquele clima cinzento de poluição.Em outros lugares do mundo, o grafite é visto como algo totalmente marginal, assim com as pessoas aqui veem a pixação. “Quando passo por lugares onde frequento muito e vejo um novo grafite, acho legal, pois antes eu nem tinha reparado aquele espaço da cidade e o grafite agora me chama atenção.”explica Luis. Segundo Luis, o legal do grafite é que você percebe que alguns julgamentos sobre a beleza e outros são secundários, pois o que mais importa é fazer o grafite, e quanto mais se faz mais se tem reconhecimento nas ruas. “O grafite é uma questão de satisfação pessoal, pois você está constantemente colocando-se em prova a cada grafite.” comentou Luis Cunha. “Os grafites que mais tenho prazer em fazer são os que faço em eventos realizados nas periferias, pois é uma oportunidade de levar arte e cultura para uma área carente.”.

Arte contemporânea urbana

Grafite na coluna do MAAU

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Violência aumenta em Higienópolis Bairro discute saídas para minimizar roubos Texto: Amanda Mendes Foto: Emanoella Oliveira

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onda de crimes no bairro nobre de Higienópolis, na região central de São Paulo, tem se alastrado. Os roubos e latrocínios frequentes no ponto de ônibus que fica na Rua da Consolação, perto da Rua Maria Antônia, levaram ao crescimento de cerca de 51% nos registros na 77º DP e 4º DP, na Consolação, que atende Higienópolis. Houve um aumento no total de inquéritos policiais instaurados, entre janeiro e fevereiro de 2014 na região de Santa Cecília, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Para tentar reduzir esses crimes, muitos moradores procuram os Consegs (Conselhos Comunitários de Segurança), que são grupos de pessoas do mesmo bairro ou município que se reúnem para discutir e analisar, planejar e acompanhar a solução de seus problemas comunitários de segurança. Também desenvolvem campanhas educativas e estreitam laços de entendimento e cooperação entre as várias lideranças locais. A região também conta com dois distritos policiais (Santa Cecília e Consolação) e um batalhão da PM na Avenida Angélica. O presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Higienópolis, José Braz Leme, 60, comenta sobre a importância dos Consegs e mostra o que significa a assistência dessa ação comunitária. Braz, revela que o Conseg nada mais é do que um elo entre a comunidade e a polícia. Para ele, entre dez reclamações, oito tem a ver com a prefeitura e portanto, são mais difíceis de serem solucionadas. A dificuldade na consolidação da queda dos índices de criminalidade na região de Higienópolis está na dependência de medidas da prefeitura. Quando questionado a respeito de como e quando acontecem as reuniões do Conseg, Braz diz que, no caso do Conseg-Higienópolis, os encontros acontecem uma vez, na última

José Braz Leme, 60, presidente do Conseg de Higienópolis

terça-feira do mês. Qualquer pessoa, independente ou não de ser morador da área, de pertencer a uma associação de moradores, comerciante ou não, pode participar. Nessa reunião é feita uma mesa, na qual o presidente coloca as pessoas que vão participar, que geralmente é o capitão da companhia da área, o delegado titular da delegacia, no caso o 4º DP, o membro da guarda da inspetoria da área e o representante da prefeitura, que vem representar o subprefeito daquela região. Segundo José Braz, a maior dificuldade do Conseg está na Subprefeitura, que tem o poder de fechar os estabelecimentos. Isso porque, o maior problema do Conseg-Higienópolis são os bares. Dois bares da região já receberam denúncias de que distribuíam drogas. O Conseg depende da Subprefeitura para uma fiscalização eficaz. Um bar próximo à rua Maria Antô-

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nia já foi fechado pela subprefeitura por descumprimento de ordens e denúncias de distribuição de drogas no local. De acordo com Braz, tudo é uma questão de respeitar a lei: “ninguém quer fechar ninguém. A lei permite que abram o estabelecimento, mas tem que obedecer, porém muitos não querem isso e quando a fiscalização não vem eles abusam”. Outros casos semelhantes também foram denunciados, nas regiões da Maria Antônia, na Borba, na Cesário Mota, na Augusta e na Antônio Carlos. Apesar das dificuldades, o Conseg permanece como uma iniciativa bem sucedida entre a integração da polícia e da comunidade. Os interessados em participar das reuniões mensais podem acessar o site da Secretaria de Segurança Pública para a verificação das datas e para mais informações.


Saudades do Higienópolis antigo Moradoras contam como era morar no bairro Texto e fotos: Bruno Leão

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Higienópolis é um dos bairros mais nobres e tradicionais que compõe o centro da cidade de São Paulo. Formado principalmente pela cultura europeia, o bairro atualmente enfrenta sua história com transformações positivas e negativas. Moradora do bairro Higienópolis há 8 anos, Margot Tabacnikis nasceu em São Paulo, mas é de origem alemã, formada em economia na Alemanha. Bat-cheva C. Massaguer, outra moradora entrevistada, é de origem russa, formada em história pela Universidade de São Paulo e reside no bairro há 18 anos. Caminhando lentamente com uma sacola nos arredores do Mackenzie, encontrava-se Margot. Aos 82 anos, carregava seus materiais de artes; voltava para sua casa, situada na Av. Angélica. Tendo a mesma idade de Margot, Bat-cheva entrava distraída na Livraria Saraiva do shopping Pátio Higienópolis. Margot e Bat-cheva entregam em suas vivências as mudanças que sucederam no bairro ao passar dos anos;

para Bat-cheva a sensação que o tempo traz é de insegurança. “Às vezes, ao sair na rua, sente-se insegurança porque não se sabe o que vai acontecer. Tem que estar sempre alerta”, comenta. Para Bat-cheva, um dos motivos que vem aumentando a violência - não só no bairro - é ostentar roupas modernas. “Ficou mais perigoso, as pessoas ostentam roupas modernas. A parte do consumo atrai bandidos”, explica. Ela explica ainda, que a construção do shopping trouxe mais segurança ao bairro, oferecendo um local de passeio para os moradores. No entanto, Margot diverge sobre a construção do shopping. Ela não concorda em demolir construções que mostram a história de São Paulo e de Higienópolis. “Hoje não sobra nada, apenas um shopping center como qualquer um”, diz a moradora, completando que o ideal seria construir uma estação de metrô na Av. Angélica, onde estava planejado em 2011. Para atender a demanda está sendo construída a estação Higienópolis-Mackenzie - cruzamento da Av. Consolação com a rua Piauí.

Margot voltando para sua casa após a aula de aquarela no Mackenzie

A saudade que fica Por fim, quando questionadas sobre aquilo que mais tem saudades, Margot e Bat-cheva reafirmam suas opiniões. “Morei também na rua Dr. Albuquerque Lins [próximo da Av. Higienópolis]. Talvez quando eu morava ali havia menos perturbação, menos violência”, relata Bat-cheva. “Talvez quando você tiver minha idade, também tenha saudades de uma São Paulo mais velha”, diz Margot para este repórter. “O brasileiro não

consegue preservar a história, acho que precisa cuidar melhor a história do país e da cidade”, completa. A historiadora Bat-cheva explica que a política está cada vez pior no país, muitos dos problemas que a cidade e o Brasil vive são referentes a falta de atenção por parte do governo. “Devido à política, parte econômica. Há um certo desequilibrio”, comenta. Bat-cheva além de propor ao bairro a preservacão da natureza, ela afirma que há tempos o Higienópolis vem sofrendo por desmatamento. “Higienópolis precisa voltar a ter mais arvores, tínhamos uma área verde incrível”, afirma.

Bat-cheva dentro da Livraria Saraiva, no shopping Pátio Higienópolis

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Comida sem sofisticação Nova tendência gastronômica ganha força em São Paulo Texto: Larissa Sugiyama Fotos: Mariana Kovelis

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ma guerra às toalhas de mesa foi declarada. Cada vez mais, os restaurantes de São Paulo estão optando pela simplificação de seus estabelecimentos com o objetivo de reduzir os custos, mas sem abandonar a qualidade de seus serviços. O “Movimento dos Sem-Toalha”, como ficou conhecida essa nova tendência gastronômica, foi baseada no “Bistronomie”, um movimento que surgiu na Europa há alguns anos, durante a crise econômica, que visava o corte de gastos e supérfluos. Aqui no Brasil, começou a se fortalecer em 2012, com a abertura de pelo menos dez casas desse gênero. Estes novos restaurantes são estabelecimentos menores, com decorações despojadas, atendimentos mais simples, preços mais justos e sem muitos luxos. O chef é sócio da casa e comanda tanto a cozinha quanto o movimento dos clientes. Para o chef Marcelo Correa Bastos, 32, sócio do Restaurante Jiquitaia (localizado no bairro da Consolação), além da redução dos custos, outro motivo que o levou a aderir a esse movimento foi o fato de não ver sentido em toda aquela sofisticação. “Não vejo muito sentido naquele serviço mais sofisticado; não faria um restaurante que eu não frequentaria.” Contudo, mesmo com essa simplicidade, a qualidade dos pratos oferecidos promete continuar sendo a mesma. “O prato, você poderia comer em um restaurante fino, mas só muda o atendimento. Nosso foco é no produto e não tanto nos supérfluos e mordomias”, afirma Marcelo. Quanto aos clientes, esses pareceram aprovar a nova tendência gastronômica. Além dos preços serem mais acessíveis e os pratos muito bons, a maioria não se importou com a ausência desses luxos. Neste restaurante, a fórmula fixa do cardápio, R$ 39 no almoço e R$ 59 no jantar (entrada, prato e sobremesa que mudam a cada dia), evita surpresas desagradáveis na hora de pagar a conta. O serviço não é cinco estrelas, mas o atendimento sim, e a comida vale o que custa. “Faz falta uma toalha de mesa? Um jogo americano fica menos sofisticado? Acho que não. Eu não me incomodaria em ir a um restaurante onde não houvesse toalhas de mesa ou guardanapos de pano”, finaliza Marcelo.

Restaurante Jiquitaia investe em decoração espartana

Mesas menores e próximas entre si compõe o interior do restaurante

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Mais vida no caminho para a Zona Leste Grafite renova o caminho até o estádio do Corinthians

Texto: Natália Guimarães Fotos: Juliana Ibanez

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s margens da Radial Leste, na zona leste de São Paulo, uma gigante bandeira do Brasil com 60 metros de comprimento começa a dar uma nova cara ao bairro da Patriarca, e dá uma pequena amostra do que será a maior intervenção de grafite a céu aberto na América Latina. O Projeto 4KM, como é chamado, traçará uma nova galeria de arte que se estenderá desde a estação Patriarca do metrô, até a estação Corinthians-Itaquera, onde se encontra o estádio onde foi dado o pontapé inicial à Copa do Mundo no Brasil. A obra é uma ação do Governo do Estado de São Paulo, com o Comitê Paulista 2014 e foi estruturada há pouco mais de dois anos. O projeto não tem como único objetivo colorir o caminho até o estádio, uma vez que serão geradas oportunidades para novos talentos, incentivar o turismo da região e promover uma participação mais ativa no desenvolvimento dos arredores da Arena Corinthians. Sob o olhar atento dos artistas curadores Barbara Godoy, Zezé Zéfix, Thiago Falgetano e Danilo Roots, foram criados desenhos a partir dos três temas centrais propostos pelo Comitê. São eles a cidade de São Paulo, o

futebol e a torcida brasileira. Além dos curadores que participam da realização da arte nos muros, outros 70 foram escolhidos a dedo para representar através de desenhos esses mesmos temas. “ A seleção foi feita pela internet, onde os artistas se inscreveram e mandaram suas ilustrações para avaliarmos. Cada um tem um estilo e isso enriquece a obra”, conta Danilo Roots, que está envolvido com o grafite há mais de 20 anos. Muitos aspectos do Projeto 4KM foram modificados ao longo desses dois anos de preparação, dentre os principais a mudança no número de participantes (que, aumentou) e do local onde seria realizada a obra. “Inicialmente, o grafite ia ser feito dentro das estações de metrô, mas tornou-se inviável por conta do grande fluxo de usuários e ficou mais atrativo aos olhos de quem passa na rua”, explica Zezé Zéfix, um dos curadores, que observa desde a infância o grafite e começou a pratica-lo a partir dos 16 anos. A escolha dos curadores foi feita pelo próprio Comitê Paulista, que os convidaram por terem um grande reconhecimento na área em que trabalham. Zezé conta que, o trabalho é muito satisfatório, já que faz o que ama, e ainda recebe dinheiro por isso. “Não existe melhor recompensa do que essa”. O ritmo de trabalho dos curadores é variável, já que os horários são

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determinados conforme os momentos de maior criatividade de cada um, porém isso não interfere na realização da galeria no prazo estimado, que é próximo ao início da Copa do Mundo. Segundo Zéfix, a pressão não deixará de existir até que a obra fique pronta, e aponta como maior desafio ter de agradar a maioria para realizar sua arte. A população já demonstra o envolvimento com o projeto. A resposta é produtiva para a maioria dos que já viram de perto a grande bandeira. É possível encontrar pedestres, ciclistas e até mesmo motoristas registrando com fotos o processo de criação da obra. É evidente a excitação por parte da comunidade, e ainda mais das pessoas que cuidam do projeto. Dar um colorido à cidade cinza, e apresentar novas formas de ver a arte são os aspectos mais gratificantes de realizar um trabalho de grande dimensão e proporção como este para os artistas. Além de participar ativamente nas mudanças que precedem a Copa do Mundo, o sentimento é de dever cumprido para com a cidade de São Paulo. “Temos de preencher os espaços vazios. Tudo merece ser preenchido com alguma coisa. Aqui, existe o grafite para isso”, reflete Zezé. A Copa modificará não só as paisagens urbanas, mas também, o sentimento de como cada um enxerga a cidade onde vive.


Texto: Letícia Andrade Foto: Lucas Farias

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skate é a válvula de escape dos problemas diários para três jovens. A praça Franklin Roosevelt, situada no coração de São Paulo, é utilizada como pista, e para eles tem a arquitetura perfeita para a prática do esporte. Corrimãos, bancos e escadas têm o formato adequado para a execução de manobras, melhores do que qualquer outro ponto da cidade feito exclusivamente para a diversão dos skatistas. “O lugar além de ser perfeito, é totalmente acessível. Tem ônibus e metrô por perto”, afirma Raynan Sanchez, 16 anos, morador do bairro de Santa Cecília e frequentador diário da praça Roosevelt. Segundo ele, o esporte tira muitos jovens do mundo das drogas e de outras coisas ruins. “Skate é o nosso ponto de fuga”, desabafa. Moisés Villalba, 18, é paraguaio e veio ao Brasil, ainda criança, junto com seus pais que buscavam uma vida econômica melhor. Começou a andar de skate em sua infância e hoje é apaixonado pelo esporte. Conheceu a praça através dos amigos de seu bairro,

Bom Retiro. De acordo com Moisés, na Roosevelt é muito fácil fazer novas amizades. “Sempre é união. Mesmo sem conhecer, skatista cumprimenta skatista”, acrescenta. O último dos três amigos e companheiros de rotina, Guilherme Gonzaga, de 17 anos, é skatista desde os 15. Frequenta a praça duas vezes por semana, geralmente no período da tarde. Já participou de vários torneios na Roosevelt oferecidos por marcas patrocinadoras do esporte. “Todo mês tem campeonato, sempre lota. O maior público que já vi foi de sete mil pessoas em uma competição promovida por uma grande marca de skate de São Paulo”. A praça Franklin Roosevelt foi construída na década de 60 em homenagem a José Vicente Faria Lima, prefeito da época. Sofreu uma reforma em 2010 e foi reaberta após dois anos. Já foi centro de discussões polêmicas sobre a sua utilização ou não pelos skatistas, que ocupam uma grande parte da praça. “Não queremos destruir, apesar dos danos causados pelo skate. A praça é muito importante

Skatistas amigos posam para foto na praça Roosevelt

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para nós”, conclui Raynan. Os três jovens amigos têm o skate como algo além da diversão. Não entendem o porquê de tanta perseguição do esporte feita pela sociedade. Vivem com o skate nos pés e não abrem mão disso. E para os companheiros, não importa a etnia, cor, credo, nem algo a mais, e sim a amizade e a união dos skatistas. Guilherme relata com convicção que sempre terá o skate ao seu lado, “De skate eu vim, de skate eu vou”.

Guilherme, após executar manobra


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