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Universidade Presbiteriana Mackenzie - Centro de Comunicação e Letras Publicação feita pelos alunos do 2º semestre de Jornalismo Edição nº 139

Fevereiro de 2014 Ano XI

Prédios nos bairros

apresentam irregularidades

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Bares e restaurantes no ritmo da Copa

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Manifestantes ocupam parte da Assembleia

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Efeito Rock In Rio atinge São Paulo

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Rio de Janeiro recebe jogos paraolímpicos


Editorial

SP em desconstrução Nesta edição do Jornal Acontece, tivemos matérias abordando vários problemas na cidade de São Paulo, englobando tanto os decorrentes quanto os que irão acontecer num futuro próximo devido a grandes eventos comerciais. Ademais, temos uma reportagem que atravessa os limites estaduais para falar do Rio de Janeiro. As repórteres Priscila Annibale, Larissa Rodrigues e Mariana Barbosa realizaram uma matéria sobre moradores de rua na região da grande São Paulo, e as ONGs que os auxiliam, como o CAPE (centro de atendimento permanente e de emergência) e o Bom Prato. Ainda falando da cidade, as repórteres Tamires Lietti, Nathalia Leite e Victoria Oliveira realizaram uma matéria sobre os efeitos do Rock in Rio em São

Paulo. Além do evento trazer muitos artistas internacionais para fazerem shows na capital, também gera lucro para as casas de espetáculo, hotéis e produtoras. A grande quantidade de shows na cidade impulsionou não só a economia local, mas também a construção de novas linhas de monotrilho e metro. Também preocupadas com as consequências de eventos na economia paulista, as repórteres Kamila Gleice e Larissa Kato falaram da movimentação monetária trazida aos bares e restaurantes da cidade pela Copa de 2014. Ja com uma abordagem mais politizada, Bianca Luzetti e Paloma Ghorayeb falaram de Ocupa SP, movimento pacifico que se encontra na frente da Assembleia Legislativa de São Paulo. Elas não apenas conversaram com manifestantes, mas também

Editores: André Nóbrega Dias Ferreira e José Alves Trigo Projeto Gráfico: Renato Santana

Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras Diretor: Alexandre Huady Guimarães Coordenadora: Denise Paieiro

Equipe: Kamila Greice, Larissa Kato, Bianca Luzetti, Paloma Ghorayeb, Camila Rolim, Giovava Sortino, Letícia Gamero, Larissa Rodrigues, Mariana Barboza, Priscila Annibale, Giulia Costa Leocádio, Matheus Mans Dametto, Maria Vicyória Leite e Tamires Lietti.

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com o presidente e com o diretor de comunicação da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, procurando entender melhor o caso e resultando numa matéria pluralizada. Giulia Costa e Matheus Mans comentaram, em sua reportagem, sobre os problemas estruturais presentes em construções civis recentes. Muitos dos problemas citados nasceram como consequência da mão de obra barata. Alguns do prédios nem, ao menos, expõem o nome do engenheiro e arquiteto. A matéria cita fatos que chamaram atenção depois do caso da construção que desabou em São Mateus – Zona Leste de São Paulo - que deixou 10 mortos e 26 feridos, e também chama a atenção para o fato de que problemas estruturais não são exclusivos de construções antigas.

Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, orientados pelo professor André Nóbrega Dias Ferreira, jornalista, MTB n° 26514. Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 200 exemplares.


Bares e restaurantes prontos para 2014 Visando um maior lucro para a Copa, restaurantes e bares planejam melhorias para o evento Larissa Kato

Kamila Gleice Larissa Kato

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om a aproximação da Copa no ano quem vem, proprietários e gerentes estão planejando adaptações em seus estabelecimentos para melhorar o atendimento nesse período e aumentar a margem de lucro. Em uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o segmento de bares e restaurantes foi apontado por 73% dos empresários como bem preparado para receber a Copa das Confederações. O gerente, Bruno Bueno, do Sancho Bar y Tapas, na Augusta também aposta no diferencial para aumentar a renda no período “Se nos planejarmos bem e nos organizarmos, com certeza, aumentaremos o lucro em 50%”. Acostumados a atender clientes estrangeiros, a chegada da Copa mudará completamente a rotina no bar, que não costuma colocar telões para a transmissão dos jogos. “Por sermos um bar espanhol, quando há jogo da Espanha, muitos clientes ligam perguntando se vamos transmitir, não transmitimos porque não é a nossa proposta, mas na Copa não vai ter como fugir disso”. Além das mudanças de sinalização, o bar também fez uma parceria com uma escola de línguas, os funcionários têm 50% de desconto em cursos de inglês ou espanhol. Segundo previsões do consultor Enzo Donna, da Escrituração Contábil Digital (ECD), o número de refeições diárias preparadas no país deve subir dos 62 milhões para 70 milhões em 2014, resultando em um faturamento de R$ 290 bilhões em 2014. O proprietário, Fernando Mendonça, da Pizzaria Vitrine, está de olho na clientela estrangeira. “Vai aumentar bastante o número de estrangeiros, já que nesta região há muitos hotéis”. Para a Copa, terão um cardápio em inglês. Apesar de o restaurante ser aberto até de madrugada, Fernando é mais modesto em relação ao lucro que terá neste período, acredita que o aumen-

Gerente Bruno Bueno, Bar Sancho Bar y Tapas to será em torno de 20%. Ainda não há um investimento em cursos para funcionários, mas cogitam contratar “alguém que possa falar”. A Abrasel (associação brasileira de bares e restaurantes) defende alterações na legislação trabalhista do Brasil para garantir as contratações necessárias para atender as demandas. Eles querem que os funcionários possam ser contratados com carteira assinada por hora trabalhada, o que a legislação atual não permite. A expectativa é que sejam criados 300 mil postos de trabalho em todo o país. Até os bares voltados a atender mais ao público paulistano não irão ficar de fora. O Seu Silva, na Maria Antônia, também sofrerá adaptações para a Copa. O curso de línguas para funcionários está fora dos planos, pois é raro a presença de estrangeiros. Serão instalados telões e televisões, além

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de fazer algumas ações promocionais. “Empresa de pequeno porte, infelizmente não tem verba para excessos de aç¥ões de marketing”, declara o proprietário Rafael Almeida. Ainda assim, ele espera ter um aumento no lucro em torno de 25 a 30%. Luciano Aparecido Dias tem um pequeno bar na Rua Luis Coelho, e sabe que a localidade o obrigará a fazer algumas mudanças. Terá cardápios em inglês e contratará algum funcionário que seja fluente na língua. Acha que seu faturamento aumentará mais ou menos 20%. Entretanto, alguns gerentes não estão preocupados em fazer mudanças para o evento, acham que terão o mesmo lucro e a mesma clientela, “Mudança não vai ter nenhuma não, vai ser como sempre foi em todas as Copas” afirma Helder Zonda, dono do bar Charm da Augusta.


Manifestantes ocupam entrada da Assembleia Legislativa de São Paulo Paloma Ghorayeb

Mesmo depois de diversas manifestações, o movimento Ocupa SP ainda se faz presente

Ocupação de manifestantes em frente a Assembleia Legislativa

Bianca Luzetti Paloma Ghorayeb

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esde o dia 12/08, a Assembleia Legislativa de São Paulo está diferente. Um acampamento com cerca de 50 manifestantes foi montado em frente ao portão principal. O objetivo é reivindicar pautas, discutir questões políticas e acompanhar os projetos de lei que estão sendo discutidos lá dentro. Existem reivindicações de âmbito nacional e estadual, e os manifestantes contam com o apoio do grupo de advogados ativistas. O movimento é o Ocupa SP. Dentro das várias pautas reivindicadas, estão: a imediata aprovação da PEC de iniciativa do Senado Federal, que cobra a revogação dos mandatos através do veto popular; a abertura ao público dos gastos referentes aos casos da suposta corrupção ocorrida no Metrô de São Paulo; aprovação da PEC 20/2013, que visa extinguir o voto secreto dos parlamentares; e a imedia-

ta criação de uma lei que permita que as verbas e salários dos Congressistas, bem como dos Parlamentares, só poderão ser aumentados através de referendo ou consulta popular. A ocupação do espaço público foi a medida que os manifestantes acharam coerente para tentar qualquer tipo de avanço político. Essa medida começou em Brasília, com a ocupação no Palácio dos Bandeirantes, uma semana antes de começar aqui em São Paulo. No acampamento, eles vivem com pouco. Sem luxo, muitas vezes contam com doações. Alguns abandonaram seus próprios empregos para reivindicar os nossos direitos. Os manifestantes deixam bem claro que não são vinculados a nenhum tipo de organização política. Segundo eles, lá não existe um líder, então não existe a quem corromper. “A dificuldade deles lidarem com esse tipo de ocupação é essa, não ter a quem corromper. Esse modelo de protesto é o modelo pacífico mais violento que existe, porque desconcerta toda a estrutura ‘politiqueira’, já que eles não tem quem comprar”, diz

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um manifestante que preferiu não se identificar. Lá, os ocupantes acompanham as seções e manifestam suas opiniões. Um exemplo é a votação da PEC 01, que visa proibir o Ministério Público de investigar a administração pública. Ela foi colocada em discussão, porém, nos dias que se seguiram ela virou uma PEC fantasma, uma vez que nunca haviam deputados o suficiente para concordar ou derrubar a proposta. “Eles fazem o que querem porque não tem acompanhamento do público. Tem a TV ALESP mas ninguém assiste. E se assistir não adianta nada, porque eles não podem te ouvir. Fica uma galeria aqui vazia”, relatam os manifestantes. Quem passa pelo local estranha o movimento. Conversamos com um funcionário da Assembleia, Lucas Marques, 18, que acha válida a ocupação. “Concordo com eles, porque o Brasil tem que mudar de algum jeito. Se ficarmos parados, o país nunca vai sair do lugar, e eles estão lutando por um direito de todo mundo”, diz Lucas. Em entrevista com Ênio Lucciola, Diretor de Comunicação na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, ele falou sobre as alterações que o protesto causou na rotina da Assembleia. “Não houve nenhum ato de violência, nem invasão. Eles podem entrar como todo cidadão”, afirma. Mas apesar do protesto ser pacífico, o diretor diz que traz um certo desconforto aos funcionários, uma vez que a entrada ocupada é muito usada e agora tem restrições de acesso. “Os funcionários tem que dar uma volta muito grande”, diz. O presidente da Assembleia, Samuel Moreira, recebeu reivindicações feitas pelos manifestantes e, segundo ele, a grande maioria (95%) não poderia ser resolvida na própria Assembleia. Ênio diz que os manifestantes querem que eles resolvam “coisas do planeta”. Os manifestantes afirmam que a luta é válida. Um deles nos pergunta “até quando as pessoas vão ficar esperando o carrasco ficar bonzinho? Querendo ou não, nós temos responsabilidade social”. Os manifestantes não tem previsão de até quando vão continuar acampados ali.


Efeito Rock in Rio atinge São Paulo Festival vai além da Cidade do Rock e agita também a capital Paulista

Nathalia Leite

Maria Victória Oliveira Nathalia Leite Tamires Lietti

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capital Paulista se beneficia em diversos aspectos com a vinda de artistas para a nova edição do festival Rock in Rio. No caso da cantora norte-americana Beyoncé, a busca por ingressos para o show do Morumbi foi maior e mais disputada devido aos fãs que não conseguiram garantir sua entrada para o festival carioca, que ocorre em setembro. A 5ª edição no Brasil recebe em torno de 160 artistas nacionais e internacionais que agitam um público de 100 mil pessoas diariamente. O sucesso é tão grande que outros artistas também aproveitam a vinda ao Brasil para realizar shows em São Paulo. Alguns fãs de Beyoncé, como Jéssica Lima, 22 anos, e William Nunes, 21 anos, estão se preparando desde dezembro de 2012 para o evento. William, que chefia uma barraca com 35 pessoas acampadas no estádio, pôde contar com a ajuda das redes sociais para montar um grupo de revezamento, organizado de maneira que as pessoas possam conciliar suas rotinas e seu turno no estádio. A convivência dos fãs nas barracas é aparentemente tranquila. Bruna Santos, 21 anos, afirma que, logo que chegou ao local, recebeu as informações sobre a ordem e organização da fila. “Foi uma recepção bem calorosa”, diz. Já Renan Augusto, 20 anos, explica que as pessoas têm que saber quem está na frente para que não haja corte na ordem de chegada, pois isso seria injusto com todos. Quanto aos problemas no dia a dia, os acampantes afirmam que, apesar da bagunça, há um entendimento. Ismair Alves, 20 anos, acredita que não há problema em dividir a intimidade com desconhecidos: “Estamos todos aqui por uma diva só; a gente tem papo, a gente se entende”. ECONOMIA Com o aumento da circulação de pessoas e a vinda de turistas de outros estados e países a fim de prestigiar os eventos, há um aumento exponencial no lucro do comércio. De acordo com

Fãs acampam em frente aos portões do Morumbi Ismair, os acampantes usufruem das instalações de uma pousada na região para realizarem sua higiene pessoal. Os donos do local cobram por banho e pelo fornecimento de água e comida. Não apenas estabelecimentos comerciais lucram em épocas movimentadas. No caso da copeira Valéria Bezerra, 32 anos, o lucro é pessoal: por vezes, ela é contratada para tomar conta de barracas enquanto os responsáveis estão fora. Além do dinheiro que recebe pelo trabalho, Valéria ganha um extra para manter-se acampada na porta do estádio. “Eles estão provendo para mim para que eu possa prover para eles”, afirma. Ela diz que não é sacrifício algum, “eles fazem isso para se divertir, eu estou me divertindo antes”. A produtora de eventos XYZ Live organiza a maioria dos shows internacionais nas principais capitais brasileiras. Em entrevista, Daniela Gomes, 20 anos, diz acreditar que o São Paulo Futebol Clube tem um lucro significativo quando grandes atrações estão na capital, visto que seus cachês são extremamente altos. Sendo assim, as produtoras são obrigadas a direcionar os eventos para

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estádios de grande porte, como o Morumbi, que comporta um grande número de pessoas, compensando o alto custo da vinda desses artistas. Para quem trabalha no ramo, o benefício é o “alívio” da rotina. Os produtores que trabalham em campo durante longas jornadas não recebem hora extra. O tempo de trabalho excedido é convertido em dias de descanso num período menos movimentado. Em épocas cheias, há um grande aumento na contratação de freelancers, que cumprem funções como produtor financeiro e de camarim, assessoria de imprensa e administração de redes sociais. “Não faz sentido ter sempre uma equipe desse tamanho, já que os shows são reduzidos a períodos do ano”, constata Daniela. Outros aspectos positivos podem ser vistos na realização de eventos em São Paulo. O Capitão Wantuil, do 16º Batalhão da Polícia Militar, afirma que a população pode se beneficiar com os efeitos dos eventos realizados, tanto jogos quanto shows, uma vez que linhas de monotrilho e metrô serão inauguradas na área, devido à intensa movimentação.


Rio recebe Jogos Paraolímpicos Letícia Gamero

A acessibilidade aos paraatletas é questionada: será que tudo funcionará como o prometido?

Camila Rolim Giovanna Sortino Letícia Gamero

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m outubro de 2009, foi anunciado que a cidade do Rio de Janeiro seria a sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos em 2016. E para tal, foi anunciado uma reestruturação a fim de receber os atletas paraolímpicos e equipes, fornecendo a eles uma boa acessibilidade durante a realização das competições. O governo declarou que priorizará construções de vias expressas, túneis, linhas de BRT (Bus Rapid Transit – corridor exclusive de ônibus) e vilas para abrigar as equipes. Além disso, todo o sistema de transporte público da cidade até 2016 será acessível aos atletas paraolímpicos, porém, ainda há muito a ser feito para que tudo seja efetivo. O técnico Ricardo Robertes, 52 anos, fez parte da Comissão Técnica da Seleção Brasileira em 2012 e é hoje Auxiliar Técnico de “futebol de sino” na Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais. Ele explica que o futebol original foi adaptado aos deficientes, no qual a particularidade é a bola. Ela produz um som conforme se movimenta, que é fruto dos guizos introduzidos nela. Dessa forma, os jogadores percebem a aproximação ou distanciamento em toda a quadra. Ricardo conta sua experiência na

Seleção: “Eu ficava na ANDEF (Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos) que é toda adaptada, mas fora de lá, não tem lugar nenhum”. Ele diz que mesmo com a Lei de Acessibilidade, ainda existem muitos obstáculos nas ruas - como postes, lixeiras, árvores e calçadas esburacadas - e acrescenta que não só no Rio de Janeiro, mas em todos os lugares, não há algum que seja totalmente acessível. “Vou brincar de ser ingênuo agora… Aquele velho discurso do legado, que com as Paraolimpíadas no Rio, traga mudanças não só para o centro de treinamento, e sim para onde ficam a maior concentração de pessoas”. O Comitê Paraolímpico Brasileiro avalia que há chances de o país ficar em terceiro lugar no quadro de medalhas. Se depender da equipe paraolímpica, essa é uma grande possibilidade, já que os competidores se mostram bastante esforçados para trazer medalhas ao país. Um exemplo dessa vontade é o atleta paraolímpico Fabrício Medeiros da Cunha, 28 anos, que diz ter amor pelo esporte desde que nasceu. Aos 17 anos, por influência de seu vizinho também deficiente visual, começou a frequentar treinamentos de esportes para cegos. “A adaptação foi rápida porque a vontade já ajuda bastante”. Ele conta que consegue conciliar sua vida esportiva com seu trabalho de analista financeiro. Em relação à inclusão dos atletas deficientes, Fabrício diz que ainda faltam muitas melhorias, e que “a maior parte é deles”, referindo-se aos atle-

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Letícia Gamero

Partida de Goalball entre jogadores paraolímpicos em São Bernardo do Campo (SP)

Fabrício Medeiros Jogador paraolímpico tas olímpicos. “Estamos melhorando, quem sabe lá para 2247 fique bom”, brinca. O “futebol de sino” e o Goalball são suas verdadeiras paixões. O Goalball é um jogo criado especialmente para jogos paraolímpicos. Ele envolve algumas técnicas do vôlei e do handball, mas é praticado de forma única. É preciso treinar a audição e o tato, e estar atento aos sons emitidos pela pesada bola de guizo, para que ela não passe pelos jogadores. Eles ficam deitados no chão, com braços e pernas alinhados, como goleiros. Algum do time levanta-se somente para fazer o rebote. A troca de posições entre os jogadores, durante o jogo, explica a utilidade de uma grande linha (barbante), que vai de uma ponta a outra da quadra para auxiliar os atletas cegos. O Brasil está prestes a passar por transformações ao ser o anfitrião de grandes eventos ao longo destes futuros dois anos.


E os moradores de rua… Com cerca de 5.800 moradores de rua, apenas na grande São Paulo, Ong’s e governo se juntaram para criar novos meios de interação

Priscila Annibale

Larissa Rodrigues Mariana Barboza Priscila Annibale

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xistem ONGs no Brasil desde 1991. Estão envolvidas em diversas áreas sociais e são voltadas para a educação popular. ONGs como Anjos da Noite e CAPE são voltadas para a área social de pessoas que se encontram em situações de miséria chegando a não ter moradia. No entanto, os moradores de rua, em sua grande maioria, não se sentem receptivos com a ideia de albergues e moradias provisórias, pois sentem que sua liberdade fica limitada e não gostam de seguir regras e a disciplina imposta no local. Por esse motivo as ONGs e o governo têm desenvolvido projetos diversificados que dão mais opções aos moradores de rua do que apenas albergues e abrigos. JC, 48, mora na rua há 15 anos. Seu sustento vem da coleta de papelão e latinhas. Na maioria das vezes é expulso dos lugares por suas roupas e mau cheiro. Existem muitos outros moradores no mesmo estado que JC e se encontram por toda grande São Paulo. O Centro de Atendimento Permanente e Emergência (CAPE), atua contra o frio na cidade. Eles fazem circular pela internet um aviso com um número de telefone informando a populaçao uma maneira de ajuda-los nas noites mais frias em São Paulo. Quando a temperatura está abaixo de 13ºC o CAPE entra em ação, circulando pelo centro convidando os moradores de rua para dormir no abrigo, quando eles não aceitam deixam cobertores e alimentos. Com a resistência que os moradores de rua apresentam em sua maioria quanto a dormir nos albergues e abrigos, o CAPE desenvolveu outros projetos que não envolviam albergues ou abrigos, o projeto Atenção Urbana, foi um novo meio de chegar aos moradores, com um espaço de convivência ao lado do Terminal Parque Dom Pedro II, que funciona das nove da manhã às nove da noite, e atendem às necessidades básicas e imediatas,

“Bom Prato”, unidade da rua 25 de março. Junto com o CAPE também se encontra a ONG Anjos da Noite, que atua em prol dos menos favorecidos há 24 anos com o projeto Casa Hope Fisher, que funciona como algo mais que uma simples moradia provisória, lá é possível retirar doumentos, atendimento social, psicologico e medico, além de refeições e cuidados com a higiene. L, 34, não se lembra há quanto tempo é moradora de rua. Costuma pedir dinheiro no farol e diz que não gosta de dormir junto com outros moradores de rua por medo de sofrer algum abuso.

Só um real, moço…

O restaurante popular Bom Prato surgiu no ano 2000 com o intuito de levar uma refeição balanceada e acessivel a todos, principalmente a quem possui baixa renda ou moradores de rua. Uma das unidades disponíveis na capital paulista situa-se na rua 25 de Março, região central que possui grande quantidade de moradores de rua. Nesse local, por ser frequentado mais por essas pessoas, a comida deixa um pouco a desejar, é o que conta o economista e advogado Antonio Alvez, 54. Ele afir-

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ma que o melhor dia para almoçar lá é quarta, quando é servido feijoada como prato principal. Cada dia da semana um tipo diferente de refeição é servido. O advogado também afirma que no Brás, por ter classes mais favorecidas, a comida é de melhor qualidade. Cada restaurante tem empregados registrados, mas a maioria é voluntária. O restaurante da rua 25 de março é comandado pela Empresa Paulista de Alimentos e todo o lucro é destinado a ela. “Cada refeição custa R$1,00, mas o preço do prato seria R$4,00. O governo do estado paga os R$3,00 restantes de cada almoço para que as pessoas de classes mais baixas possam se alimentar bem sem gastar muito” conta o segurança. Só na grande SP, existem em torno de 5.800 pessoas na rua, pelo ultimo senso. Elas se espalham desde a Santa Cecília até o Ipiranga. De todas as ONGs da Capital, poucas oferecem serviços além de albergues e o Bom Prato é o único com preço acessível, nas 21 unidades, número ainda baixo comparando o de moradores, que não para de crescer.


Prédios novos com problemas Matheus Mans Dametto

Corte de gastos e falhas na fiscalização de contruções civis são as principais causas de transtornos em edificações, segundo especialistas Giulia Costa Leocádio Matheus Mans Dametto

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corte de gastos em materiais para construções se tornou mais frequente devido ao aumento da procura por imóveis em função do boom imobiliário no Brasil. Essa medida promovida por construtoras, em conjunto com a fraca fiscalização por parte do governo, são as principais causas para acidentes como o do prédio em construção que desabou em São Mateus – zona Leste de São Paulo - deixando 10 mortos e 26 feridos. Para tentar aumentar a fiscalização, a deputada estadual Telma de Souza propôs, em 2012, o projeto de lei 218, que obrigaria uma inspeção predial a cada cinco anos. Uma série de cumprimentos por parte da construtora teria que ser tomado no ato da compra, como a disponibilização da lista de materiais utilizados na construção. “O meu projeto é a clara oportunidade de fiscalização e de prevenção de novas catástrofes. Além disso, ele é um cuidado com o morador, com o cidadão”, afirma a deputada. “Se minha lei tivesse sido aprovada, São Mateus não teria tido um desabamento e os operários estariam vivos agora, com suas famílias”. A proposta é defendida amplamente por pessoas relacionadas à segurança de edifícios. Adriano Carrega, o gerente de condomínios da administradora Prop Starter, diz: “eu acho excelente, pois quanto mais certificados você tiver de órgãos que fiscalizam a parte de segurança do condomínio, melhor”. Adão Marques Batista, professor de construção de edifícios do Centro Paula Souza e engenheiro civil,possui o mesmo posicionamento quanto a prédios em construção: “a aprovação da lei da deputada seria algo muito positivo para o ramo da construção de edifícios”. Um prédio localizado no Ipiranga – zona Sul de São Paulo – é outro caso que exemplifica falhas na vistoria

Prédio no Ipiranga não tem a identificação obrigatória de engenheiro e arquiteto. de construções. A placa de identificação do engenheiro e do arquiteto responsáveis pelo projeto não foi afixada pela Vitacon, construtora encarregada. A mão de obra é outra área afetada. Adão Marques Batista confirma: “existe um grande número de mão de obra mal qualificadasendo utilizada na construção de edifícios. Há operários que, devido à falta de treinamento, se acomodam e tornam-se desinformados e despreparados para novas tecnologiasde construção, acarretando problemas de execução durante a obra”. Contratar mão de obra menos qualificada é mais econômico para uma construtora. Prédios novos que apresentam irregularidades e têm o Habite-se – certificado que permite a habitação do edifício - entregue são frequentes. “A construtora entrega e logo começam a aparecer trincas em fachadas e problemas na garagem”, afirma Adriano Carrega.

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Atualmente, uma das principais formas de fiscalização é feita pelo Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (CBPMESP). Se a edificação dispuser dos requisitos de segurança contra incêndios, é emitido o AVCB (Auto de Vista do Corpo de Bombeiros). O documento deve ser renovado de dois em dois anos ou de três em três anos. “É necessário que o edifício passe por vistorias constantes para evitar futuros grandes problemas, como recalques e fissuras. A fiscalização no Brasil é muito fraca e falha muitas vezes. Ela deve se tornar mais rígida tanto para órgãos públicos quanto para órgãos privados”, conclui o professor Adão. No episódio de São Mateus, a obra prosseguiu mesmo após ter sido embargada e a empresa responsável ter sido multada duas vezes pela subprefeitura local por causa de irregularidades estruturais e falta de alvarás de execução.


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