Acontece 175

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ed 175 - Ano XII - Outubro 2016

Um pouco da Itália no centro de São Paulo Acontece • 1 Jornal_Acontece_175_19out.indd 1

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Pílula aumenta chances de trombose

Segundo a Anvisa, o risco passa a ser de 4 a 6 vezes maior em um ano Beatriz Tanabe Natália Vitória

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pílula anticoncepcional é o método mais utilizado pelas mulheres no Brasil, que levam em conta praticidade, acessibilidade e preço, tornando-se a primeira opção de quase 62%, segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS). Apesar de seu grande consumo, o Anticoncepcional combinado com drospirenona, etinilestradiol e gestodeno caso da estudante Juliana Pinatti Bardella, 22, que apresentou doença por profissionais da área. de mama, explica a ginecologista um quadro de trombose cerebral “Mesmo quando questionava so- Lina Perrucci. Segundo ela, ouapós 5 anos de uso contínuo da bre o assunto, diziam-me que, tros métodos contraceptivos são medicação, gerou grande choque por não ter histórico familiar e indicados, como o preservativo, na população, que, muitas vezes, não fumar, seria praticamente masculino ou feminino, DIU e dianão sabe os riscos desse método impossível desenvolvê-la”, disse fragma. a jovem. “Em primeiro lugar, não descontraceptivo. Acompanhada por um neuro- cartar o uso de preservativo”, enJuliana descobriu a doença após passar três semanas com cirurgião, Juliana faz tratamen- fatiza a médica. O uso da pílula fortes dores de cabeça, dificul- to com anticoagulantes por, pelo anticoncepcional só evita a condade de locomoção e confusão menos, seis meses, e exames de cepção, enquanto a camisinha protege também contra doenças mental. Através de uma resso- sangue semanalmente. De acordo com a Agência Nasexualmente transmissíveis. nância magnética de crânio, recional de Vigilância Sanitária Perrucci ainda afirma que o cebeu o diagnóstico de trombose venosa cerebral. A estudante (Anvisa), mulheres que usam médico deve fazer uma anamnede medicina veterinária afirma anticoncepcionais têm um risco se – espécie de interrogatório ao nunca ter sido alertada sobre a de quatro a seis vezes maior de paciente, procurando detalhes que desenvolver tromboembolismo possam auxiliar no diagnóstico – venoso, em um ano, do que as além de uma bateria de exames, mulheres que não usam contra- que inclui o clínico, ginecológico e ceptivos hormonais combinados. laboratorial. Entre 2011 e 2015, foram en“Aconselho às mulheres que Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras contradas 200 notificações de cobrem de seus médicos exames reações adversas relacionadas específicos antes de iniciar o uso Diretor: Alexandre Huady Guimarães aos medicamentos combinados de anticoncepcionais. Discutam drospirenona, etinilestradiol e sobre outros possíveis métodos Coordenador do Curso de Jornalismo: André Santoro gestodeno. contraceptivos e as complicações A chance de uma mulher de- de cada um, principalmente os sinSupervisor de Publicações: senvolver trombose devido ao tomas. A trombose é muito perigoJosé Alves Trigo uso de anticoncepcional é de sa, pesquisem sobre seus efeitos e Prof. Editor de Textos: uma a cada dez mil (0,01%), mas não a negligenciem”, recomenda Paulo Ranieri essa proporção pode ser altera- Juliana Bardella. A Anvisa mantém, até segunda Jornal-Laboratório dos alunos do segundo da de acordo com o histórico de cada paciente. Incluídas nesse avaliação, a comercialização dessemestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade grupo de risco estão mulheres ses anticoncepcionais no país e Presbiteriana Mackenzie. acima de 35 anos com problemas afirma que o perfil risco-benefício vasculares, fumantes, hiperten- da substância continua favorável à Impressão: Gráfica Mackenzie sas, diabéticas, que tenham lu- sua utilização, desde que seguida a pus ou antecedentes de câncer bula e sob supervisão médica. Tiragem: 200 exemplares

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Um inimigo da vida universitária Estudantes de graduação alegam transtornos por pressão psicológica Alice Arnoldi

Alice Arnoldi Beatriz Santiago

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que deveria ser motivo de satisfação para recém-formados no Ensino Médio, tornou-se o pesadelo de muitos: o começo da rotina universitária. A psicóloga Leila Rocca, 37, explicou que maioria de seus pacientes jovens, ao buscar por terapia, desabafa sobre a pressão causada pelo processo da graduação e o almejo de um bom emprego: “[...] Esse paciente se preocupava muito em se formar e já conseguir trabalhar em lugares maravilhosos, com salários altos, poder sair, fazer viagens e atrair pessoas para relacionamentos por já ser bem sucedido”. O surgimento de transtornos psicológicos, como depressão, crises de ansiedade e síndrome do pânico, muitas vezes, ocorre pela intimidação do vestibular, complementado pelo início de uma nova fase. “É a questão do jovem em uma nova realidade: antes, o am-

biente escolar era familiar, mas, ao entrar na faculdade, o aluno passa a ser apenas um número. Isso pode causar dificuldades, como intensa inquietação e sentimento de ‘perdi meu lugar no mundo’, além da indecisão sobre a escolha da profissão”, comenta a orientadora vocacional Caioá Lemos, 46. Tainá Domingues, 18, expôs que, por mais que as cobranças de sua instituição de ensino não tenham sido a causa do desenvolvimento do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), cooperaram para o aumento das crises. A estudante, que sempre frequentou escolas públicas, disse como é difícil acompanhar as exigências dessa etapa, principalmente para quem não teve recursos o suficiente: “Eu sinto uma pressão constante. São tantas leituras, coisas para fazer e comprar, que a minha rotina gira em torno disso”. Algo semelhante acontece com a estudante Viviane Maia, 26. Diagnosticada com crises depressivas, explicou que o percurso en-

tre Campinas e São Paulo, somado às demandas de estudo, como as leituras rotineiras e as reuniões de iniciação científica, fizeram com que ela sentisse sua personalidade definida pelas conquistas acadêmicas: “A rotina me fez acreditar que sou só uma estudante que precisa fazer inúmeras coisas e alcançar determinados resultados”. Isso se dá, principalmente, segundo Caioá Lemos, porque o ensino brasileiro precisa ser revisto. Como medida paliativa à situação, Aloizio Mercadante, ex-Ministro da Educação, buscou adicionar matérias relacionadas aos cursos de graduação na grade curricular das escolas. Para aliviar as tensões do dia a dia, Caioá complementou que o importante é balancear a rotina: “A crise de ansiedade está virando uma doença contemporânea, afinal, quem não é ansioso hoje em dia? Portanto, é necessário fazer coisas como atividades físicas e conviver com os amigos, pois isso ameniza a situação”.

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"Turistando" em casa Paulistano começa a conhecer o lado cultural e histórico da cidade Carol Huertas

Carolina Huertas Bruna Liu

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Foto por" Bruna Liu

ão Paulo é uma cidade em movimento. Repleta de bares, festas, parques, shopping centers, eventos, shows, teatros, centros culturais e lugares históricos o que não falta é onde ir. A pergunta que fica no ar é: todos esses pontos são conhecidos por quem vive na capital? Pesquisa com 130 entrevistados que moram em São Paulo revelou que metade deles não conhece pontos culturais e históricos, como o Theatro Municipal, Pateo do Collegio e o Centro Cultural de São Paulo, mas 100% das pessoas já visitaram a avenida Paulista, via comercial e residencial que oferece diversos tipos de entreterimento, e 70% já foram ao estádio do Pacaembu. “Conversando com amigos descobri que poucos conhecem os pontos culturais da própria cidade, é assustador. Conhecer a própria cidade é fácil, principalmente tratando-se de São Paulo.” Declarou a estudante Giulia Freitas, 18. “A correria do dia-a-dia do paulistano não o permite desfrutar da cidade, e, muitas vezes, quando tem tempo, acaba desinteressado

São Paulo também é turismo.

Pinacoteca de São Paulo, um dos pontos do Circular Turismo

devido às milhares de possibilidades de lazer que a cidade oferece”, conclui. Para outros, o que nos falta é olhar para a nossa cidade com o mesmo carinho e atenção de um turista. ”Na correria do dia-a-dia não nos programamos para esses passeios. Quando visitamos outras cidades estamos com a cabeça de turista. Acredito que aconteça a mesma coisa com as outras cidades”, afirmou um paulistano. Outra questão levantada é o próprio desconhecimento. Leandro Mendes, educador na pinacoteca alega que não há divulgação por falta de investimento: "Muitas pessoas nem sabem da pinacoteca, passam por aqui todo dia e não fazem ideia do que tem”, afirma. O site http://www.cidadedesaopaulo.com/ é o site oficial do turismo de São Paulo, que concentra diversas opções de como você pode conhecer incríveis lugares em São Paulo, fugindo do convencional e fazendo até um roteiro turístico. O site oferece roteiro temático, passeios guiados, calendário de eventos, passeios imperdíveis e muito mais. O ônibus Circular Turismo, com veículos de dois andares de vista panorâmica, foi inaugurado

em março deste ano, sendo uma ótima opção também para turistas de fora do estado, ou mesmo paulistanos que não conhecem os pontos pelas quais o passeio percorre. O serviço oferece, ainda, direito à gratuidade em espaços culturais, como museus. A região da Luz, no centro de São Paulo, é a primeira de nove paradas do roteiro criado pela São Paulo Turismo (SPTuris), seguindo por mais 11 locais como o Mercado Municipal, praça da República, estádio do Pacaembu, MASP, Parque do Ibirapuera, Liberdade, Pateo do Collegio, Theatro Municipal, Centro Cultural São Paulo e a Casa das Rosas. O ingresso custa R$ 40 e tem duração de 24 horas. É permitido, a quem queira, saltar nos pontos de parada e gastar mais tempo nos lugares que interessar, no entanto, programar antes onde interromper a viagem é uma dica valiosa, pois será necessário esperar o ônibus recomeçar o trajeto para conseguir terminar o percurso no mesmo dia. Os ônibus funcionam de segunda a sábado, com viagens às 9h, às 12h40 e às 16h. Aos domingos e feriados, às 10h, às 13h40 e às 17h.

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Gastronomia para todos os paladares Ofertas de almoço agradam alunos e profissionais de Higienópolis Danielle Romanelli

Danielle Romanelli Nathália Martins

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Diversidade atrai mais clientes

dos outros tipos de sua preferência no balcão da cozinha. O preço é de R$44,90/kg. Próximo à entrada do Mackenzie, à Rua Piauí, há uma van equipada para a montagem de cachorros-quentes que faz sucesso entre os alunos. O dono da “lanchonete móvel” está lá há 16 anos e relatou que todos os dias alunos almoçam seus lanches. Os preços variam entre R$6 a R$10. Dentro do Mackenzie existe desde self-service a salgados e lanches. A praça de alimentação oferece um restaurante por quilo, que inclui sopas (somente à noite) e sobremesas. Em seu ambiente há um balcão de cada lado servindo as mesmas opções de comida, ao lado do caixa estão dispostas as bebidas e as sobremesas. O preço é R$49,90/kg, as sopas são R$16,90 por cumbuca (acompanha queijo parmesão ralado e pão/torrado) e as sobremesas variam entre R$5 e R$8. Ainda no interior da faculdade, um quiosque localizado fora da praça de alimentação, que conta com mesas e cadeiras ao ar livre em sua proximidade para conforto dos alunos. O lugar serve desde salgados, tostex e saladas de

frutas, até lanches quentes, hot dogs, lanches naturais e bebidas. O preço dos lanches varia de R$7 a R$13. Ao questionar os estudantes do Mackenzie sobre os preços e opções de alimentação que estão em suas proximidades, estes concordaram que as opções são bem diversas podendo agradar a todos, porém dizem que preferem comer fora da universidade, pois na maioria dos estabelecimentos os preços são bem mais baixos. “Os restaurantes que eu mais gosto estão do lado de fora do campus. Para mim, dentro tem pouca opção de comida mesmo com o preço acessível”, diz Giovanna Delazari, 18 anos. Danielle Romanelli

e segunda a sexta-feira, o bairro Higienópolis é um dos mais movimentados da capital paulista. Isso porque a região é cercada por muitas empresas, colégios e universidades. Devido ao trânsito e às longas distâncias entre bairros de São Paulo, as pessoas optam por almoçar perto de seus trabalhos e faculdades. Com isso, comparamos alguns lugares com diversas opções de alimentação e preço. Dentre as opções pelas ruas de Higienópolis, está a praça de alimentação Soho’s, localizada na Rua Maria Antônia. O local conta com 16 estabelecimentos para agradar a todos os gostos, incluindo dez restaurantes e fast-foods, uma loja de conveniência, uma chocolateria, uma loja de açaí e três quiosques (de massa, doce e sorvete). Entre esses estão os por quilo, com preços que variam de R$29/kg a R$38,90/kg. Alguns deles dão descontos para estudantes e empresas da região. Ainda na Rua Maria Antônia, um restaurante mais descolado, estilo bar, possui pratos prontos durante o horário do almoço e no resto do dia serve diferentes porções e salgados. O local é mais frequentado por alunos da faculdade. Os pratos e os preços variam de acordo com o cardápio do dia, que é sempre inovado, mas sempre agradando todos os gostos e bolsos. Já na Rua Dona Veridiana, há um restaurante self-service que conta com muitas opções de comidas, podendo atender a todos os paladares, até mesmo aos veganos. O ambiente é bem agradável e espaçoso contando com área externa e interna. Há alguns tipos de carne dispostas no balcão principal, porém podem ser requisita-

Cardápios novos diariamente

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Um pedaço italiano no coração de SP Avanhandava, uma rua que inaugurou o conceito de renovação urbana Emily Nery Carolina Torelli

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há o programa da prefeitura “Revitalização de Ruas Comerciais”, que, desde 2005, apoia iniciativas privadas a reformar suas ruas. Segundo a Assesoria de Imprensa da Famiglia Mancini, Walter não possui mais nenhuma meta, apenas o desejo de administrar seus restaurantes e a rua. Atualmente, comanda o Il Ristorante Walter Mancini – Cucina e Música e se divide entre a gestão de suas casas e a conservação da rua, da qual é considerado “pai”. Todo este trabalho já rendeu para ele 15 prêmios, incluindo o de melhor restaurante de comida italiana e longas filas de espera em seus estabelecimentos aos finais de semana. De fato, a Avanhandava se destaca em meio ao caos de São Paulo e serve de exemplo quanto à sua decoração, receptividade e principalmente à força de vontade da iniciativa privada a reformar um pedaço da capital. Carolina Torelli

uzes coloridas, chafariz com estilo europeu, Ray Charles pintado pelo muralista Kobra e restaurantes temáticos nos dois lados. Essa é a primeira impressão da rua Avanhandava, no trecho entre a rua Martins Fontes e o viaduto Martinho Prado, no bairro da Bela Vista, centro de São Paulo. Diferentemente das ruas ao redor, esta foi “apadrinhada” por Walter Mancini, responsável pela revitalização de sucesso. Fundado em 1980, o restaurante italiano Familgia Mancini foi apenas o começo da série de estabelecimentos abertos pela família no local. Nos 36 anos, somam-se cinco restaurantes e duas lojas em apenas 100 metros de rua. Todos estão localizados à mesma rua, segundo Walter, pela facilidade de administração, além de aproveitar o público que já conhece os antigos restaurantes. Não faltam elogios de Valdoado Valério, 65, à rua. Professor de Educação Física e morador há sete anos, nunca registrou problema. “Aqui é seguro demais, nem parece o centro de São Paulo. Sem falar na beleza, é lindo”, enaltece. Paulo Rogério Araújo, 54, mora no local há 13 anos e pode acompanhar todo o processo de pavimentação e decoração da rua. De mesma opinião de Valdoado, o aposentado acredita que a reforma só trouxe benefícios à rua, em especial referente à segurança. “Este primeiro quarteirão, até a sinagoga (localizada ao final da rua Martinho Prado, Bela Vista), é mais tranquilo. Depois dali acho meio perigoso pelos conhecidos assaltos”, afirma. A reforma durou 5 meses em 2007 com uma parceria privada.

Dentre as novidades, a Avanhandava ganhou recapeamento de calçadas, um ecológico sistema de drenagem e trouxe o conceito “traffic calming” das ruas europeias, privilegiando o pedestre com calçadas mais largas, transformando a rua paulistana em boulevard. A grande inspiração de Walter está, sem dúvidas, na Itália. Desde o chafariz, presença típica da decoração italiana, até as lâmpadas coloridas que acendem ao anoitecer e tornam o ambiente mais agradável e receptível. Apesar de poucos saberem, a prefeitura apoia inciativas de revitalização de ruas, tanto residenciais quanto comerciais. Segundo a Subprefeitura da Sé, basta a comunidade local aderir à proposta e assumir completamente os gastos. A responsabilidade da prefeitura ficará em negociar com as concessionárias (TV a cabo, telefonia, internet) e fiscalizar a obra. Inclusive

O chafariz no começo da rua já remete às origens italianas da família

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Geração de Cultura Bienal é palco para jovens autores lançarem o primeiro livro Dominique Santana Letícia Garcia

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Letícia Garcia

Bienal do Livro de São Paulo ocupou o Pavilhão de Exposições do Anhembi de 26 de agosto a 4 de setembro, em sua última edição. Com cerca de 480 editoras, livrarias e distribuidoras nacionais nos stands, o evento também serviu de palco para lançamentos de livros de jovens autores, como foi o caso de Myrna Andreza, 19, com o livro “Até o limite” e Athos Briones, 20, com “Muito mais que o acaso”. Ambos sempre tiveram interesse por livros e, desde muito jovens, escreviam. Myrna é leitora assídua e escritora de histórias de ficção, que costumava publicar em sites de fanfiction. “Sou acostumada a ler desde pequena, leio mais ou menos dois livros todo dia”, conta a autora, afirmando também que começou a escrever devido à sua mania de aperfeiçoar tudo que lê. Depois de algum tempo, suas

leitoras pediram para ela enviar o manuscrito para editoras, mas ela se sentia insegura. Quando enviou, foi aceita em quatro, sendo uma delas internacional, porém demorou um ano para fechar contrato com a editora Pandorga, em virtude do valor que a escritora teria de pagar. No caso de Athos, filho da escritora Bianca Briones, sua paixão começou pela sua maior inspiração: sua mãe. “Muito Mais que o Acaso”, seu primeiro romance, retrata uma história de superação, inspirada na própria vida do autor. O jovem diz que escrevia muito quando criança e retomou o hábito com 17 anos: “Desde que minha mãe lançou o primeiro [livro], tenho vontade, mas nunca acreditei que conseguiria, até tentar mesmo”. Atualmente, o índice de jovens escrevendo e se interessando pela leitura tem crescido muito. Na visão da professora da área de Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Valéria Martins,

Myrna Andreza com seu livro na Bienal

esse alto índice de lançamento de livros por jovens não se trata de uma “febre”. Ela afirma que com as plataformas on-line ficou mais fácil escrever para o mundo e, desta forma, ter mais visibilidade e encorajamento. Continua dizendo que “dar voz ao cidadão através de livros é fundamental para uma sociedade reflexiva, mas nem sempre conseguir uma editora é um caminho fácil. ”. Marisa Lajolo, professora titular no Departamento de Teoria Literária na Unicamp, compartilha da mesma opinião, ressaltando que é inspirador saber que temos esperança em uma nova geração que se interessa por cultura e a compartilha. Além disso, acrescenta sobre a linguagem utilizada hoje em dia, e assegura que isso é comum em qualquer língua. “Nenhuma língua morre, todas se transformam”, diz. A blogueira Karol Pinheiro, 29, acaba de lançar seu primeiro livro, “As melhores coisas do mundo”. Para ela, o aumento no número de jovens escrevendo é facilitado com a internet e a identificação entre as pessoas através dela. Karol Comenta que, pela visibilidade que ganhou com seu blog, publicar o livro ficou mais fácil.“Antes [do blog], provavelmente, eu teria que ir atrás de alguma editora com o material pronto para vende-lo. Hoje em dia, as editoras vieram atrás de mim”. Thiago Biaggi, expositor do stand da editora Intrínseca, comprovou essa afirmação dizendo que livros de jovens renomados na internet têm um grande público comprador. “Nós fazemos um trabalho conjunto com os influenciadores digitais”, diz o expositor, relatando que as pequenas editoras que, normalmente, publicam livros de autores mirins, como foi no caso de Myrna e Athos.

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A próxima estação Gianluca.

A vida de quem vive de estação em estação fugindo da lei

Gian Cavalcante Cecilia Malavolta “Não ultrapasse a linha amarela enquanto o trem não chega”. Este é um dos dizeres que, provavelmente, todo mundo que pega o metrô ou o trem fica observando enquanto espera o próximo carro. E não é diferente com Edmílson. O vendedor ambulante espera pacientemente atrás da linha amarela, segurando em uma das suas mãos uma mochila aparentemente cheia, enquanto a outra mão acaricia levemente a nuca de seu filho, Ruan, de 10 anos. O ruído inconfundível dos vagões andando sobre os trilhos e o movimento de uma massa de ar sobre seu rosto indica a chegada do trem. As pessoas presentes na estação começam a se agitar, aguardando a abertura das portas. As pessoas, Edmilson e Ruan entram. Edmilson olha ao redor e coloca a mochila no chão. Ruan tira do bolso um bolo de papeizinhos. Dois apitos eletrônicos indicam que as portas vão se fechar. Pai e filho trocam um olhar e um aceno com a cabeça. Os dois se separam. Um para cada lado do vagão. Ambos sabem que não será preciso saltar em nenhuma estação. “Olha o chocolate! Tem branco, preto e ao leite! Não tem outro com essa qualidade”. A voz de Edmilson ecoa em um mesclado de esperança e cansaço. Já são 14h e sua energia já não é a mesma da manhã, quando as vendas começaram. “Ruan e eu entramos aqui às 8h, quando horário de pico começa a diminuir e dá pra gente andar pelo vagão. Se a gente conseguir uns R$ 30 ou R$ 40, dá para sair às 19h ou 20h”. A parada para o almoço depende do dinheiro conquistado também. “Com R$ 15 já pra bater um

Placa da estação São Caetano, na linha Turquesa da CPTM

rango, né, Ruan?”, diz ele, entre risos, olhando para o filho. Enquanto Edmilson vende, Ruan entrega um papelzinho para todos os passageiros. O papel contém um pequeno texto explicando a situação de sua família. “Moramos na Vila Prudente. Tenho mais dois filhos menores que a minha mulher cuida. A gente tá passando por um problema de aluguel e por isso estou aqui. Preciso pagar as contas”, conta Edmilson. A vida de ambulante dos trens não foi sua primeira opção. Edmilson antes trabalhava como vendedor no Brás até ter sua loja apreendida. “Pegaram minhas coisas porque era pirataria. Então resolvi arriscar no metrô". Apesar das atividades de venda também serem ilegais no metrô, Edmilson preferiu tomar esse risco, do que continuar no Brás. “Aqui é mais escondido. É só tomar um pouco de cuidado. E, se te pegarem, você não terá tanto prejuízo”. A vida de um ambulante começa cedo. Dependendo do local onde mora, a maioria acorda às 5h para poder ir para a estação de

metrô ou CPTM mais próximas de suas casas. Edmilson e Ruan são da Vila Prudente e trabalham o dia todo na linha Turquesa da CPTM, que se estende da estação Brás até Rio Grande da Serra, atravessando o ABC Paulista em seu caminho. A vida nos metros é perigosa. Edmilson afirma que tem consciência de que a venda é ilegal: “Eu sei que pode dar problema, mas vou fazer o que? Tenho que, pelo menos, comer.” A atividade ilegal acaba, muitas vezes, sendo a última alternativa dos ambulantes. Muitos estão endividados e vivem nas periferias de São Paulo, portanto, necessitando do dinheiro dos milhões de usuários que utilizam esse transporte público todos os dias. Existe uma certa comoção social com estas pessoas por trás da parte jurídica que impede as atividades. Algumas pessoas no metrô compram o produto e nem o usam, pois se identificam com a realidade em que vive o vendedor ambulante. Edmilson, ao sair do vagão, ratifica isso em um grito: “A gente é do povo e o povo está com a gente”.

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STF permite candidatos tatuados Candidatos com tatuagens poderão se classificar em concursos públicos Layane Bittencourt Vitória Rezende

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STF decidiu no dia 17 de agosto, a mudança nas regras de admissão dos concursos públicos. O edital, que antes desclassificava candidatos com tatuagens nas seletivas, proíbe, agora, que haja a eliminação por esse requisito, a não ser que a tatuagem viole valores constitucionais. O tema, que divide opiniões e gera até preconceitos, foi tratado de maneiras diversas ao longo dos anos. A tatuadora Galega Bonifácio diz que já recebeu clientes que procuravam um lugar no corpo não tão exposto para preservar o trabalho, principalmente em profissões mais conservadoras que vão desde psicólogos a advogados. “Esses dias, recebi uma psicóloga que precisava fazer uma tatuagem não tão visível, por medo do que os seus clientes podiam pensar”, conta a tatuadora. Na hora da contratação, Adriana Fernandes, 36, conta que, no banco em que trabalha, depende da tatuagem, do significado, do local e se está visível. “No meio jurídico propriamente dito de escritório, ainda tem um pouco mais de preconceito, porque é um ambiente mais conservador. Os donos são pessoas mais velhas, na época deles não era comum, então a maneira como eles lidam com isso é um pouco diferente”, completa Adriana. A estudante de Direito, Marianna Perrucci, 21, conta que, antes mesmo de entrar na faculdade, sabia que existia um grande preconceito quanto ao concursado no geral. “A minha primeira tatuagem foi na nuca, onde dá para cobrir com o cabelo”. Marianna

acrescenta que, hoje em dia, trabalha em um gabinete no Tribunal de Justiça, mas não tem problema algum com suas cinco tatuagens e dois piercings. De acordo com o Censo de Tatuagem no Brasil, realizado em 2013 pela revista Superinteressante, cerca de 32,7% dos entrevistados já sofreram preconceito por possuir tatuagem. Em meio a tantos casos, em 2014 a desclassificação de um candidato tatuado em um concurso público para a Policia Militar foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal e colocou em pauta a necessidade de uma mudança no edital. “Fiquei muito feliz quando li que mudaram o edital”, afirma Marianna e acrescenta que vai até fazer uma tatuagem grande e aparente “sem medo de ser feliz”. Na opinião do advogado Rafa-

el Mariano, “a decisão do STF foi excelente, pois prioriza a liberdade dos indivíduos, que têm direito de ter tatuagem sem que isso implique em vedação no concurso público”. Ele diz também que o judiciário está em sintonia com o modo de vida atual da sociedade e as mudanças em que nela ocorre. O advogado ressalta pontos que acha importante da decisão: “diz respeito à democracia, que permite aos cidadãos se manifestarem da forma que quiserem, desde que não represente ofensa direta a grupos ou valores éticos”. Além disso, comenta o caso do candidato tatuado em 2014, “um policial não se torna melhor ou pior em suas funções apenas por ter tatuagem”. “Acredito que, no mesmo sentido da decisão do STF, as tatuagens serão encaradas com mais naturalidade com o passar do tempo”, completa Rafael.

Tatuagens deixam de ser empecilho em concursos públicos

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As contas não podem esperar De forma rápida, brasileiros buscam alternativas para seu sustento Manuela Martins

Flávia Fasanella Manuela Martins

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Felipe Puga pronto para mais uma corrida

prego, ficou um mês parado, e viu, há quatro meses, uma oportunidade de trabalhar como Uber. “A remuneração é bem melhor do que no trabalho antigo e tenho minha própria autonomia, estou bem satisfeito”, diz. Diante de todos os problemas pelos quais o Brasil está passando, muitos optaram por começar seu próprio negócio, como Anderson Gomes Spagnole, 36, dono do foodtruck “hot dog do Kbelo”, localizado na Rua Piauí. Já trabalhou em copiadora, mas percebeu que o fluxo de estudantes seria maior com alimento, então encontrou um caminho que deu certo até hoje. “As pessoas têm que se virar, as contas não esperam. Quando se tem uma receita e o valor cai muito, deve-se achar alternativas para complementar esse valor mensal”, desabafa Márcio Moreira, 36, gerente e manobrista de um estacionamento na Rua Maria Borba. Sua

ocupação principal era corretor de imóveis, mas, devido à crise desde 2014, recorreu ao emprego atual para ter a possibilidade de equilibrar o pagamento de suas contas junto de sua esposa. Mesmo com seu salário recente sendo 20% menor que o anterior e trabalhando cerca de 12 horas por dia, folgando apenas um, declara, com um sorriso no rosto o quanto está satisfeito com sua área atual.

Manuela Martins

om a crise política e econômica, boa parte da população brasileira está desempregada, e outra parte está insegura sobre seu emprego, tendo consciência e medo de perdê-lo a qualquer momento. No primeiro trimestre de 2016, segundo o SPED (Sistema de Pesquisa de Emprego e Desemprego) do DIEESE e da fundação Seade, o número de trabalhadores desempregados atingiu cerca de 11,1 milhōes, superior à 15,0% da força de trabalho brasileira. As cidades mais afetadas são Salvador, Distrito Federal, São Paulo, Fortaleza e Porto Alegre. Os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) mostram que a desocupação cresceu mais entre jovens de até 24 anos e adultos acima de 40 anos. As perspectivas para o futuro são ainda mais preocupantes: a OTI (Organização Internacional do Trabalho) prevê um brasileiro em cada cinco novos desempregados no mundo em 2017. Com isso, a população brasileira busca outra solução para conseguir renda e, desta maneira, houve aumentos nos trabalhos por conta própria (com 1,4 milhão de ocupados) e do trabalho doméstico (240 mil), que são menos protegidos pela legislação, ou seja, eles têm menos proteção trabalhista, e tiveram redução de 5,5% nos rendimentos. Luiz Felipe Puga, 22, era analista de faturamento, e, com o corte na empresa, foi mandado embora no início do ano. Ele conta que depois de receber o seguro desem-

Anderson em seu "dog do Kbelo"

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Evento de skate atrai adeptos “Independência ao Longboard” acontece na ladeira do Ipiranga Raphael Caran

Raphael Caran Victor Hackbarth

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o domingo, 28 de Agosto, a ladeira do Museu do Ipiranga foi palco da sétima edição do evento anual de skate “Independência ao Longboard”, onde diversos skatistas competem em quatro categorias. Além da competição, o museu estava lotado de pessoas que foram curtir a ensolarada tarde de domingo a fim de praticar outros esportes, como andar de bicicleta, carrinho de rolimã e, inclusive, aproveitar o espírito do evento, andar de skate. Bruno Rinaldi Hupfer, 30, um dos organizadores do evento e também gerente de academia, disse um pouco sobre o incentivo dos organizadores para a realização: “Todo ano é bem legal. Nós fazemos o evento para o público que comparece. O objetivo é a felicidade geral”, disse ele, que já competiu. Entretanto, apesar de ter sido bem organizado, Bruno contou que já teve problemas com a Prefeitura de São Paulo sobre a estrutura do evento: “Tivemos problemas na estrutura, pois a Prefeitura não pôde dar nenhum serviço, já que os contratos com a seguradora estão em investigação, como os de limpeza e segurança”. Para participar do evento, todos os competidores tiveram que doar dois quilos de alimentos não perecíveis para a Instituição MAESP Unidade Ipiranga. A organização, sem esquecer o lado social do esporte, convidou a Equipe Anjos Guerreiros, que pratica esportes adaptados para deficientes, para uma apresentação, visando

Evento acontece pela sétima vez, reunindo competidores de 4 categorias.

incentivar a prática de esportes por todos. O evento, que teve o apoio da radio 89 e patrocínio da marca Kyw, começou às 8h. A primeira competição, da categoria Slalom, teve início às 8h45, seguida pela categoria Mirim, que começou às 10h30. Ao meio-dia, a competição teve uma pausa para o público aproveitar o show da banda Acústriplo. Às 13hs, a categoria LB Open dominou a ladeira do Ipiranga com seus competidores e, às 14h50, a Edú Marrom Band tomou conta no palco principal. Para terminar, a última e mais aclamada categoria, chamada Classic, teve seu início às 16h20, seguida pela premiação. O campeão da categoria Classic foi Alan Deilon de Almeida. Em segundo e terceiro, respectivamente, Vinicius Nalu e Luiz Marcone completaram o pódio. Depois da premiação, a LayBack Band dominou o palco e agitou ainda mais o público, que já estava satisfeito com

a competição. Um dos competidores da categoria Classic, Miguel Sarmiento, 44, que trabalha com publicidade, disse sua opinião sobre a prática de longboard: “Para mim, é como se estivesse na praia surfando, algo que eu gostava muito de fazer antes de começar a andar de skate. Longboard é como o surf, um esporte que você se sente relaxado e descontraído”. Essa foi a terceira vez que Miguel participou da competição, alcançando a oitava posição, seu melhor desempenho até hoje. Quando perguntado sobre a organização do evento, disse que foi bem conduzido pelo Quintal do Ipiranga, assim como todos os anos anteriores. Miguel também disse que o grupo faz de tudo para que o evento seja divertido. Mais uma vez, o evento foi um sucesso entre os competidores e o público, que elogiaram a organização. Agora é esperar a edição do próximo ano para vermos se vai ser tão boa quanto esta.

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A destruição terapêutica Métodos para descontar o estresse estão cada vez mais inovadores

Raíssa Haddock Lobo

Raíssa Haddock Lobo

A

leveza, deixada aos poucos em casa, no mêtro lotado, no motorista imprudente torna-se a angústia e o peso no peito. Toda essa grande crise, não econômica, mas exisencial, transcende do psicológico e é exposta em prateleiras. Lançado em 2013, o livro “Destrua este Diário” é fruto de uma reflexão da artista canadense Keri Smith, exausta com a exaltação do perfeccionismo. A proposta lúdica de interação “literária” instrui os donos a rabiscar, molhar e até manchar o livro. Baseando uma terapia por meio da arte, mas a arte como instalação, arte inacabada. No entanto, a professora de literatura ocidental do Instituto Federal de São Paulo, Carla Souto, 36, rechaça: “o problema é considerá-lo arte, e aplicar isso a outros materiais literários, não podemos considerar como uma obra, a não ser que a pessoa parasse de seguir instruções alheias a passasse a escrever com intenções estéticas.” Além de pequenas intervenções, esse perfil autodestrutivo ganhou maiores escalas. Instalado há cinco meses na Avenida Interlagos, o Break Lab Entertainment é um bar pioneiro no quesito desconstrução. Sob os cuidados do casal de estudantes Tainah Marques, 19, e Eduardo Leonel, 21, os clientes podem desfrutar de cervejas artesanais e hambúrgueres gourmet no andar de baixo e, após um pequeno lance de escadas, têm acesso ao Break Lab, onde, equipados de botas, óculos, máscaras, luvas e jaquetas anti-vidro podem escolher o eletrônico de sua preferência para destruir com o

Break Lab oferece sala especial para quebrar os objetos

instrumento de sua preferência também, pelo preço mínimo de R$ 39,90 (pequenos televisores), ou as garrafas de cerveja que consumirem, de graça. O suprassumo consumista contemporâneo é, em instâncias, inconsciente, mas gritante na demanda de eletrônicos para estraçalhar. “O pessoal de escritório só pede por impressora, e as mulheres por eletrodomésticos. Além das pessoas que pedem marcas específicas como Apple... O mais inusitado que aconteceu recentemente foi o pedido por um fogão inteiro!”, conta Tainah. Embora o perfil profissional dos frequentadores não seja sempre conhecido, o gosto pela sensação é quase unânime: a maioria que experimenta quebrar as garrafas que consumiu acaba gostando e pede por mais objetos. Porém, visualizar esse ato como terapia não é recomendá-

vel. Segundo a psicóloga Maria Inês Fassina, 60, e mais de 30 anos de consultório, a reação causada pela descarga de energia por meio da quebra é catártica e momentânea, não traz mudanças internas efetivas. Essa busca liga-se muito aos limites impostos pela sociedade, entre o certo e o errado e leva o ser de volta aos instintos primitivos. Quem busca um alívio pontual, o “quebrar” socialmente aceito pode ser uma opção, mas terapêutica, como sair para beber com amigos e exercitar-se. O perfil psicológico levantado pela doutora, evidencia pessoas que não praticam atividades fora do ambiente de trabalho, sem um local saudável para liberar sua energia e até frustração. Assim, o reflexo do mal-estar da sociedade tem total clareza –e preço- no mercado, como válvula de escape.

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