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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ed 176 - Ano XII - Novembro 2016

Garçon faz obras de arte com rolhas na av. Paulista


Mirante na Paulista ganha reforma Lara Karoline

O espaço atrás do Masp funciona como centro cultural

Espaço de co-working e conveniência do Mirante 9 de Julho

Lara Karoline Natália Mancini

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Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras Diretor: Alexandre Huady Guimarães Coordenador do Curso de Jornalismo: André Santoro. Supervisor de Publicações: José Alves Trigo Publicação da disciplina Pauta e Apuração do segundo semestre do Curso de Jornalismo. Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 100 exemplares.

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Lara Karoline

naugurado e reaberto em agosto de 2016, o Mirante 9 de Julho tem atraído os paulistanos à uma região pouco frequentada da Av. Paulista. Seu estilo diferenciado agrega a cultura em seus mais diversificados tipos, contando com música, artes, cinema, comida e café. O ambiente, a princípio, pode causar certo estranhamento por localizar-se em cima de um túnel e abaixo de um viaduto, na rua Carlos Comenale, Bela Vista, mas é muito bem avaliado pelo público. Atrás do Museu de Arte de São Paulo (MASP), era um espaço des-

conhecido por grande parte da população. Antes de ser reformado, o local era conhecido por ser ocupado por moradores de rua, mas com a ajuda da assistência social da Prefeitura, esses indivíduos foram realocados e o espaço revitalizado pelo Grupo Vegas. “Fizemos uma reforma grande lá dentro e adaptamos isso ao funcionamento de restaurantes e bares”, conta o gerente do estabelecimento Rafael Mitozzo, de 33 anos. Foram quatro anos de projeto e obras para que o Mirante ficasse pronto, contando com investimento público-privado, com participação da empresa MM18 Arquitetura. Atualmente, define-se como um Centro Cultural, muito popular, gratuito e aberto ao público, ao mesmo tempo que foge dos padrões dos pontos de encontro de cultura comuns. Dispõe de um espaço de co-working, onde os frequentadores podem se encontrar para trabalhar, com mesas, internet e café. Falando em café, outra atração do local é a cafeteria Isso é Café, operada pela FAF Studio, empresa comandada pelo mestre Felipe Croce a qual possui grãos considerados como uns dos melhores do mundo. Patrícia Burgos, psicóloga de 26 anos, conta que frequenta o lugar de 15 em 15

dias e afirma: “É muito tranquilo, eu consigo fazer minha hora de almoço e tomar um café, sem ficar necessariamente na confusão dos restaurantes por quilo que tem aqui perto”. O espaço conta ainda com o restaurante Mirante Efêmero, onde é possível encontrar comidas vegetarianas e a cada mês recebe um novo chefe convidado; um cinema a céu aberto em que as poltronas são a própria a escadaria, apresentando uma programação totalmente alternativa mas que agrada todos os tipos de público, e uma galeria que procura exibir uma arte não convencional, que desperte e intrigue seus apreciadores. Por outro lado, Patrícia ressalta as contradições da construção do Mirante. Por conhecer o local antes da reforma, ela reflete: “eu gosto médio daqui, acho que é meio caro. Além do jeito que foi feito: antes era tudo fechado e havia umas famílias de moradores de rua, então sempre achei meio estranho o jeito que elas sumiram”. A psicóloga também discorda da acessibilidade dos preços: “eles só servem a uma parte da população que tem condições de vir aqui e pagar R$6 em um café”.

Lanchonete do Mirante


Museu sobre sexo não atrai interesse Apesar da boa localização, o Museu da Diversidade é pouco conhecido Aleksander Santos

Aleksander Santos Lucas Soares

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ocalizado em um espaço de aproximadamente 600 metros, dentro da estação República, o Museu da Diversidade, inaugurado em 2012, disponibiliza para todo público um contato mais próximo com a cultura e a diversidade sexual. Apesar de estar localizado em uma área muito acessível, é difícil de acreditar que a grande maioria dos usuários do metro não se interessa pelo espaço ou se quer repararam do que se tratava. Suas paredes externas são estampadas com pinturas e cores chamativas, na tentativa de despertar curiosidade em quem passa no local, mas ainda sim os frequentadores do Metrô assumem não terem tempo suficiente para entrar e apreciar sua arte. “Eu passo todos os dias por aqui para chegar à faculdade, mas nem me toquei que isso era um museu. A ideia é legal, mas a correria do dia a dia não deixa a gente parar e olhar dentro,“ comentou Daniella Iannoni, 21 anos, aluna de administração na FAAP. Por outro lado, o vendedor ambulante, Carlos Pereira, 53 anos, passa boa parte do dia no interior da estação e diz que já conheceu o museu, mas que a frequência de visitas é baixa, especialmente durante a semana. “Eu fico a tarde toda aqui na estação e é muito raro ver alguém entrando. Algumas pessoas param e olham, mas são poucas as que realmente entram lá,” comenta o vendedor, que tenta justificar seu ponto de vista dizendo, “Acho que muita gente tem até vergonha de entrar lá, pois tem medo

Museu, despercebido por frequentadores da estação

do que os outros vão pensar deles”, concluiu. Franco Reinaldo, 38 anos, gerente do museu, tenta justificar o motivo pelo público-alvo reduzido. “Se tratando de um tema tão diferente como diversidade sexual, acredito que atingimos nossa meta, temos o nosso publico, mesmo ele sendo pequeno”. Entretanto, quando questionado sobre relacionamento direto com o público, o gerente explica: “O espaço é muito acessível. Estamos na interligação de duas das mais frequentadas linhas do metro. Esperávamos que o movimento fosse ser maior, mas acho que a falta de tempo e interesse do povo atrapalha e muito a expansão desta nossa mensagem”. Franco também comentou sobre os outros projetos do grupo, “O Museu da Diversi-

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dade vai além de seu espaço físico, temos programas de incentivo a diversidade, além de palestras, e um site a respeito do tema”. Com a entrada gratuita, os temas de exposição mudam de tempo em tempo, sempre focando em algum personagem que se relacione à cultura LGBT. Este mês, o museu apresenta o escritor Caio Fernandes Abreu, já falecido, que em suas obras abordava de forma nítida temas tais como o amor e a sexualidade, porém com outra perspectiva. O museu da diversidade é coordenado pelo Governo do Estado de São Paulo em parceira com uma empresa privada, todavia, existem informações de que o espaço poderia ser transferido para a Avenida Paulista, visando atingir novos espectadores e ampliar a conscientização social.


Mulheres sofrem ao pegar ônibus A aventura do trabalho para casa ao migrar pelo Terminal Campo Limpo Julia Reis

furto dentro do ônibus, mas ninguém fez nada. "A gente se sente vulnerável né?". E quem tem experiência para falar disso é Luiza, 20, que passa a viagem no celular para a hora passar mais rápido. Ela é estudante de arquitetura e faz estágio na Av. Rebouças. Segundo a jovem, a pior hora do dia é quando tem de pegar o transporte. Isso devido à falta de respeito que os homens tem perante as mulheres no coletivo. "Eles mexem, olham, aproveitam e não estão nem aí". E a moça sentada ouvindo a conversa concorda. Ela é enfermeira e diz que não tem um dia em que andar de ônibus seja uma aventura. "A gente tem que tomar cuidado se tá vázio, se tá cheio... Não tem jeito", diz Patrícia Melo. Elas e tantas outras andam por não ter opção, mas também por serem cidadãs. É também em qualquer metrô ou trem da região, onde pessoas com propósitos errôneos aproveitam de outras vulneráveis, em que o tumulto parece não ter fim e a segurança é inexistente. Julia Reis

Fabiana, 63, sentada no degrau do ônibus

Ana Lygia Costa Julia Reis

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nome 8700-10 é só para os íntimos. O ônibus Terminal Campo Limpo - Praça Ramos que suporta até 130 pessoas é considerado um dos transportes mais movimentados em horários de pico do Estado de São Paulo. Da zona sul ao centro ele passa a cada cinco minutos nos pontos da Republica, Consolação, Eusébio Matoso e Francisco Morato, lugares onde o movimento de pessoas é intenso.

86% das mulheres que pegam o transporte público todos os dias, afirmam já ter sofrido assédio ou abuso segundo a organização internacional de combate à pobreza ActionAid. Sua presença nos ônibus é quase maioria, porém muitas delas não se sentem seguras dentro. Maria do Carmo tem 60 anos e é diarista. "Eu vou até a Oscar Freire, mas subo no Taboão da Serra, a volta costuma ser mais tranquila que a ida", diz ela, que pega a condução às 6h e retorna no final da tarde. Afirma que já foi vitima de

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Luiza passa o tempo no ônibus


Jovens exibem arte em estação

Estação Santana é palco de diversas cenas escritas por Shakespeare Beatriz Araujo

Artistas finalizam a apresentação e agradecem ao público que permaneceu

Beatriz Araujo William Lima

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ual é o melhor lugar para apresentar um espetáculo? Se perguntar para esses atores eles dirão:no Metrô, é claro. Quem passava pela estação Santana na quinta, 25 de outubro e rumava em direção ao trem que leva à estação Jabaquara se surpreendeu. Um grupo de teatro estava lá, em frente às escadas rolantes apresentando uma mistura de cenas de Beatriz Araujo

Emblemática caveira de Hamlet

William Shakespeare. Macbeth, Sonho de uma Noite de Verão e Hamlet são só algumas das várias peças encenadas. A atriz Beatriz Ramos, 18 anos, já fez teatro em sua escola e, após ingressar no teatro profissional, não parou desde então. Seu companheiro, Maicon Douglas Bertollutti, 23 anos, começou há seis anos. Sobre a importância desse evento e o impacto nas pessoas, Maicon afirma que a ideia é parar a correria de São Paulo. “A gente propõe esse trabalho para que elas possam se divertir, aproveitar e interagir nesse universo de Shakespeare”, disse. Beatriz destaca a exposição da arte para todas as pessoas “Acho importante poder dar acessibilidade às pessoas. Esse é o papel fundamental da arte, você ter o contato direto com qualquer público seja ele do mais rico ao mais pobre, em qualquer momento. Fazer com que elas parem e olhem nem que seja por três segundos”. De palcos a praças públicas os atores relatam que já tiveram diversas experiências em ambientes improvisados. “Nós já fizemos em torno do palco do teatro, subindo escadas, descendo até o porão e em ambientes mais abertos tam-

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bém.”, afirma Maicon. O público era passageiro. As pessoas viam pedaços da apresentação e seguiam seu caminho. A exceção foi Osvaldo Bezerra de Lima, aposentado, 62 anos, que permaneceu durante a peça inteira. “Primeira vez que vejo uma, e gostei bastante, não acompanho coisas do tipo, mas achei essa apresentação bem bonita. Se tivesse mais, iria participar”, disse. Linha da Cultura Organizada pela Companhia do Metropolitano de São Paulo, a Linha da Cultura, realiza neste mês mais uma exposição presentes nas principais estações de metrô da região metropolitana. As linhas Azul, Vermelha e Amarela estão recheadas de pontos culturais. O objetivo do programa é abordar temas para despertar, por meio da interação entre o espectador e a obra, o interesse social e educativo. Esse mês o destaque é Shakespeare, após 400 anos de sua morte, há muito que ser lembrado. A estação de Santana recebe uma exposição que celebra e relembra grandes obras do autor. Faz parte do programa Shakespeare Lives. A programação foi até o final do mês de outubro.


Rolhas de vinho viram arte na Paulista

O criador das artes atende uma criança interessada nos produtos.

Beatriz Russo

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rancisco Canindé de Lima, 57 anos, teve a ideia de produzir artes com rolhas de vinho. Tem um atelier no bairro da Bela Vista na Rua rocha, 360. Porém, monta sua banca na Avenida Paulista todos os domingos. Apesar de ser do Rio Grande do Sul, veio para o Guarujá, litoral de São Paulo há 38 anos a trabalho e atuou como garçon no Casa Grande Hotel e Jequitimar. Mora na capital há 25 anos e começou a fazer suas artes há dez. Estudou na Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo, pois sempre foi apaixonado por vinhos. Durante sua carreira de garçon e sommelier(especialista em vinhos que trabalha em restaurantes ou lojas) costumava guardar as rolhas quando o cliente deixava, por saber que cada uma delas tem muita história. “Começa com

o produtor que prepara o solo, depois vem às podas e coletas, muitas delas são a mão. Depois o preparo do mosto para ser vinificado, então o enólogo toma cuidados diários até o dia do engarrafamento”, além de mostrar que sua profissão trabalha com a parte do paladar, olfato e o visual do vinho. Chegou a juntar sacos de rolhas, mas sua mulher sempre o falava para jogar fora. Dito isso, ele até mesmo procurou alguém para doar, por preocupação pelo dano que elas iriam causar na natureza. No final, não achou ninguém e teve a ideia de transformá-las em arte. Hoje em dia tem até a possibilidade de ganhar dinheiro com as criações. No momento mora com sua esposa e três filhos, está desempregado e se dedicando totalmente as artes e o atelier, acrescenta que acha muito importante não agredir a natureza e ser um consumidor sustentável.

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Beatriz Russo

Garçon cria arte com rolhas e monta sua banca na Avenida Paulista

Ele ainda menciona que sua cortina tem 1230 rolhas e a maioria delas são especiais “Uma delas é de um champagne Perrie Jouet e a garrafa tem um ramalhete desenhada a mão por artistas franceses”. Conta que a produção na época foi baixa, então precisaram de duas safras, mas foram as melhores de todas. Ele a conseguiu com um cliente que fez uma comemoração e levou a mesma no hotel em que trabalhava. Além disso, Francisco recebeu a carteira de último artesão sustentável cadastrado na SUTACO (Subsecretaria de Desenvolvimento do Trabalho Artesanal nas Comunidades) junto a uma homenagem ao seu trabalho pelo Sebrae. Na solenidade que ocorreu na comemoração de 80 anos do Parque da Água Branca, localizado na Barra Funda, Zona norte de São Paulo.


Loja vende sapatos com sola de avião Há 37 anos o estabelecimento é exemplo de paixão pela profissão

Fachada da loja Calçados Calça Pé

gião da Maria Borba. No entanto, José Tarcísio não trabalha sozinho, ele tem seu companheiro de serviço, o senhor João Roberto Perentti, 71. João já trabalha no ramo de sapatos há 57 anos. Ele mexia com sapatos em Franca, mas também já teve uma loja na região da Brigadeiro em São Paulo e na Bela Vista, ambas as lojas não deram certo e as vendas começaram a cair muito. “Aqui nessa loja, como somos amigos desde que ele abriu aqui e trabalhavam comigo. Eu vim para cá. Estou aqui tem 12 anos”, conclui João Tarcísio. A loja é dividida, em um lado há calçados para o público masculino, e no outro, feminino. Os sapatos femininos são fabricados na loja do irmão do João Roberto, enquanto os masculinos são de diferentes fábricas. “As mulheres compram muito mais. O homem compra um par de sapato é suficiente. A mulher não, quer dois ou três coloridos. Então a mulher compra mais”, diz João Roberto, 71.

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Heloísa Campos

É comum ver nos arredores da Universidade Presbiteriana Mackenzie diversas lojas de sapatos. No entanto, há uma especial chamada “Calçados Calça Pé”. Fundada em 1979, e localizada na rua Dr. Cesário Mota Júnior, ela se destaca por ser uma das mais tradicionais da rua. "Hoje não fabricamos mais, compramos pronto”, conta José Tarcísio Araújo Ferreira, 50 anos. José começou a trabalhar na loja em 1988 e após a morte do dono, assumiu a administração do comércio. "O movimento já esteve melhor...Agora, com essa crise, tá devagar. Do início até a época do Collor era muito bom. Depois, começou a desandar”, conclui José Tarcísio. A loja já foi uma fábrica, onde os sapatos eram produzidos e vendidos. Hoje em dia, os modelos são importados de outros fabricantes e a fábrica desativada. Atualmente vende-se em média 25 pares de calçados por dia no local. Existe uma procura por sapatos específicos. Motoqueiros e seguranças são importantes clientes para a loja. Logo na faixada, é possível ver o anúncio de um dos mais diferenciados modelos da sapataria: o sapato com sola de pneu de avião. Apesar do fluxo de vendas ter minguado nos últimos tempos, José Tarcísio ainda aprecia seu trabalho. O movimento da Avenida Consolação pode ser observado do estabelecimento, e é algo que alegra os vendedores. O estabelecimento é tombado pela prefeitura, isso quer dizer que o prédio não pode ter a estrutura alterada. Além disso, José Tarcísio compartilhou que a prefeitura tem planos de fazer uma praça na re-

Amanda Fackri

Heloísa Campos Amanda Fackri

O vendedor João Roberto Perentti

O estabelecimento é frequentado por pessoas de diversos lugares, não apenas da cidade de São Paulo. "Tem cliente que vem do interior pra cá. Veio um agora de Santana", diz José Tarcísio. O movimento da Rua da Consolação é contraste diante do clima calmo da sapataria. O horário de funcionamento da loja Calçados Calça Pé, é de segunda à sexta, das 8h às 19:30h e no sábado das 8h às 17h.


Casal cria linha de produtos veganos A proposta é defender a saúde e meio ambiente Isabelle Gandolphi

Fernanda Martinelli isabelle Gandolphi

P

Casal criador da linha vegana Puja

ser por completo” concluiu o casal. Seu principal público é feminino, entre 18 e 60 anos, veganos e também “curiosos”. Possuem clientes fixos, que sempre pedem por reposição de produtos: “tornaram-se muito fiéis”, afirmam. Com a correria do dia a dia, o casal opta pelas redes sociais para realizar suas vendas, como Facebook, Instagram e o blog da marca. Aos domingos, eles vão à Avenida Paulista. E quando há oportunidade, realizam feiras. Os produtos mais vendidos são desodorante, sabonetes, hidratante corporal e facial e desinfetante. A linha completa conta também com pasta de dente, reparador de pontas de cabelo, repelente e detergente. Eles explicam que Puja significa reverência, honra e oferecer. “O maior legado que podemos deixar para uma futura geração é o exemplo, e este só se faz por ações. Ações que começam agora,

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não precisam ser radicais, podem ser simples, pequenas, porém cotidianas. Um passo de cada vez, e o caminho percorrido será tão vasto no final da jornada, que valerá cada segundo. Vamosmudar o mundo juntos?”, resume a missão do casal, segundo eles. Isabelle Gandolphi

rodutos e alimentos veganos estão cada vez mais em alta. Diante de uma insatisfação geral, o casal Rodrigo Guedes e Flávia Mohini teve a ideia de criar uma linha totalmente vegana, desde cosméticos até produtos para casa. “Sou técnico têxtil e sempre trabalhei no ramo da moda. Fiquei por muito tempo em uma crise interna por saber que muitos dos produtos que usamos no dia a dia nos envenenam. Saí do local onde trabalhava, pois era uma marca que pregava a sustentabilidade, porém fazia produtos com lona de caminhão e pneus usados. No fundo a marca é um grande marketing verde que mais polui o meio ambiente do que ajuda”, desabafou Rodrigo. Ele conta que a ideia surgiu a partir daí. A marca foi criada em abril, mesmo mês em que ele saiu da empresa onde trabalhava. O casal sempre quis levar uma vida mais equilibrada e livre de produtos químicos, por isso decidiram criá-la. “A Flávia já estava fazendo alguns cursos de cosmética natural e eu já tinha essa ideia guardada há anos, mas pensava em outras formas como alimentos e etc. Em um conversa, juntamos as duas ideias e então nasceu a Puja” explicou Rodrigo. A marca preza pela saúde e pelo meio ambiente. Os ingredientes utilizados durante a fabricação são todos à base de óleos e plantas, como os aromatizantes. Já as embalagens são quase sempre de vidro, para que o consumidor possa reutilizá-la, e as de plástico são de reuso dos óleos essenciais que eles compraram. “Cremos que o conceito de sustentabilidade deve

Tabela de preços dos produtos


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De mãos sujas e coração cheio Da Paraíba para a República o caminho é longo

Amanda Verniano

Mão de Ernani, suja de graxa

Amanda Verniano Raphaela Bellinati

“S

e parar o bicho come, se correr o bi-

em sua cidade natal. Apesar de seu local de trabalho ser considerado perigoso devido aos inúmeros assaltos que acontecem no local, em todo seu tempo de engraxate, Ernani nunca enfrentou nenhuma situação de risco e ainda disse que considera a praça segura. Foram poucas as vezes que ele presenciou assaltos, mas em sua opinião, os mesmos ocorrem por falta de cuidado das pessoas que transitam lá. Amanda Verniano

cho pega!”, disse Ernani Silva que, aos 72 anos, vive de engraxar sapatos debaixo de um guarda-sol vermelho na Praça da República. Com as mãos pretas de graxa, Ernani espera paciente algum de seus clientes fixos da semana chegar. Seu concorrente, do outro lado da praça, engraxa pacientemente os sapatos de um homem. Seu Ernani nem se incomoda, sua clientela é fixa e diária. Ernani, que veio da Paraíba e há 45 anos senta no mesmo banco para lustrar sapatos daqueles ainda mantêm essa tradição muito comum há, mais ou menos, 40 anos. Ele, que já não paga mais imposto para a prefeitura. Disse, de forma carismática que, é dono de metade da praça. Com três filhos, dez netos e um bisneto, Ernani trabalha para prover para sua família, que não para de aumentar. Morando em Itapevi, município de São Paulo, ele faz um percurso de ônibus de, no mínimo, duas horas diariamente para poder trabalhar. “Se eu não gostasse, já tinha largado". A gente tem que gostar do que faz, se

não se gosta do que faz, não consegue fazer direito!”, diz com um sorriso no rosto. E ainda diz que não escolheria outra profissão. Ernani tem pouco tempo de descanso nos finais de semana e uma rotina corrida. Mesmo assim, ele afirma “é um trabalho sossegado, não me arrependo de ter seguido esse caminho.” Outra coisa da qual ele não se arrepende é de ter vindo para São Paulo. Ernani acredita que teve melhores oportunidades aqui do que teria

Seu Ernani, em seu banquinho na Praça da República.

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O Te Vi que ninguém vê Após anonimato, o criador do Te Vi no Mackenzie é revelado Adriano de Sousa Vinícius Martinez

Adriano de Sousa

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Lucas fala sobre a página

sei e disse pra um amigo – Sou eu né?”, conta o publicitário que já saiu na sua própria página. O único ganho de Lucas com o Te Vi são Vips que ele pede para as festas que desejam publicar o evento na página. Fora isso “só quando é post à parte. Tipo uma mulher que queria publicar sobre vestidos de formatura, aí ela paga a parte e só” explica o moderador. Pedro Vilela Doretto, 19 anos,

Adriano de Sousa

ascido em Rio Claro, interior de São Paulo, Lucas, cujo sobrenome não foi revelado, é um publicitário de 25 anos, formado pelo Mackenzie,. Teve em abril de 2013 a ideia de copiar uma página feita para a Universidade Anhembi Morumbi e transformá-la na mais famosa página de curtição dos mackenzistas no Facebook, a Te Vi no Mackenzie. A página conta com pouco mais de 39 mil curtidas. Quando criado o Te Vi contava com três colaboradores, porém depois de formados eles acabaram deixando a página de lado. Atualmente o Te Vi tem mais um colaborador que trabalha no Mackenzie ajudando nas reclamações feitas à própria universidade, encaminhando o aluno à ouvidoria da faculdade. A página ganha destaque pelo campus do Mackenzie devido a forma de ajudar as pessoas a encontrar quem viu dentro da universidade ou nos arredores e não conseguiu o contato. Conta ainda com um estilo particular pela forma de postagem, na qual o próprio leitor (anônimo) é o autor do texto postado. As publicações são programadas por Lucas para serem postadas automaticamente. Ele explica, “o que a pessoa manda até umas 6, 7 horas da tarde é postada no mesmo dia. Mensagens que chegam depois desse horário são postadas no dia seguinte”. Segundo o criador da página, “os dias que mais chegam mensagens, gira em torno de 40 a 50, mas tem dias que não chegam nem a dez”. “Eu estava jantando no Soho´s quando recebi uma mensagem, dizendo de um garoto de blusa vermelha comendo japonês, pen-

é estudante de Comércio Exterior no Mackenzie e já saiu na página duas vezes. Ele acha “ uma página muito divertida que também pode iniciar uma autoconfiança em alguém mais tímido, pois você se sente bem em saber que os outros te admiram”. Além de uma rede social de paqueras, o “Te Vi” também é usado para fazer denúncias do que ocorre na região a fim de alertar os estudantes. Com essas postagens, aparecem casos que ficam famosos na mídia. Um grande exemplo disso é o “manja rola do Fil” que teve milhares de compartilhamentos, foi uma postagem que causou muita discussão sobre a igualdade de gênero, tema ainda muito discutido na sociedade atual. No post, os rapazes que frequentam o bar do Fil reclamavam do suposto homem que se esconderia no banheiro para observar os outros urinando. A reclamação feita por eles causou a indignação de um grupo de mulheres que fizeram comentários semelhantes aos que são feitos quando uma mulher é assediada, expondo os homens a se questionar sobre esse assunto, o acontecimento foi repercutido por diversos veículos de notícia.

Pedro Vilela mexendo na página

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ONG usa o funk para inclusão social

Associados ritmando no ensaio

Raquel Paiva Tatiane Vieira de Melo

A

Raquel Paiva

Liga do Funk disponibiliza um salão para jovens usarem seus talentos na composição e improvisação de músicas. O intuito é incentivá-los à criatividade e mostrar o funk como parte da cultura brasileira. Em sua página oficial eles caracterizam o projeto como objeto de “formação tanto musical quanto social” determinante para o “crescimento profissional de jovens que buscam oportunidades dentro do movimento funk”. O técnico de estúdio e assessor de imprensa Fabio Ramos da Silva, 31 anos explicou a experiência que os funkeiros têm dentro da Liga e quais as oportunidades que ela abre para eles: “Quando achamos que eles estão preparados a gente leva eles pra abrir os bailes e fazer entrevista com a rádio” Isso acontece depois de aulas de canto, preparação de palco e debates culturais. Nessas aulas, eles impõem algumas regras: “os Mc’s vem improvisar aqui, cantar as letras deles lá no palco e não pode ter palavrão, tem que maneirar na letra porque se a gente for colocar na rádio um dia não pode ter”, preparando-os para o mer-

cado de trabalho. A importância da iniciativa se dá tanto no âmbito externo, como forma de reconhecimento cultural, quanto no âmbito interno, como parte da vida dos associados. Fábio ainda afirma que “o trabalho da liga do funk não é só pra MC usa aplicativo ensinar carreira, mas também pra ensiná-los a viver no meio”. Eles da na mídia, mas não é só isso”. O propõem debates para “falar so- trabalho deles é apresentar para o bre algum assunto que tem que ser mundo o lado humanizado e cadiscutido, algumas meninas tem racterístico de uma grande parte ensinado muito sobre feminismo da população brasileira. “O funk e a gente discute tudo mesmo”, é uma cultura feita pela quebracomo forma de incluir aspectos da para a quebrada e é por isso sociais e morais não somente nas que gera tanto estigma” diz Maíletras das canções, mas também ra. Para ela, a visão que se tem do como estilo de vida dos MC`s. funk é muito estereotipada e deve A estudante de direito Maíra ser vista com outro olhar: “Funk Pinheiro confirma, alega ter esses fala da realidade que elas vivem aí debates propiciado um ambiente a gente tem que jogar as contradide descontração e aprendizado: ções disso sem querer colonizar a “Eu venho aprendendo muito com arte que essas pessoas fazem.” esse espaço, venho direto a uns 2 Fabio ainda ressalta que denmeses, participando das discus- tro do funk não existe preconceito, sões.” “aqui tem gente de todas as classes Isso causa um grande impacto sociais, orientações sexuais e cor, a na sociedade. Para Fábio “as pes- gente aceita todo mundo” ele tamsoas precisam parar de pensar que bém conta que todas as discussões o funk é só p****** e ostentação, abriram a cabeça do pessoal e as isso é só uma parte que é mostra- letras refletem isso.

Tatiane Vieira de Melo

Raquel Paiva

Marcelo Galático cria a Liga do funk para jovens que sonham em ser Mc’s

Exercício preparatório para a desenvoltura dos MC`s no palco

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