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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ed 173 - Ano XII - Outubro 2016

Caça ao Pokémon até no cemitério


Vendedor adoça a Maria Antônia

Gaúcho sustenta a família vendendo brigadeiros na porta do Mackenzie Lara Karoline

Beatriz Russo Lara Karoline

R

icardo Kischer, de 58 anos, veio do Rio Grande do Sul para São Paulo no início de 2015 para dar apoio à sua filha, Simone, selecionada como atleta do salto com vara do clube Pinheiros. Desde então, ele sustenta sua família na capital paulista vendendo brigadeiros na portaria da Universidade Mackenzie. Em 2012, Simone mudou-se para São Paulo, deixando seus pais e irmão já casado para trás. No ano seguinte, Sandra, sua mãe, resolveu acompanhar a filha e, somente em 2015, Ricardo decidiu juntar-se à mudança. Como ele havia estudado administração de empresas e marketing enquanto vivia no Sul do país, obteve grande experiência no comércio, então decidiu vender brigadeiros caseiros. “Como minha esposa tem uma receita de brigadeiros que faz há muitos anos, reuni o útil ao agradável, já que tenho bastante facilidade de comunicação, sou desinibido e desembaraçado”, conta. Assim surgiu o Amiga do Sabor, sua própria marca de doces. Inicialmente, ele realizava as vendas em frente a Santa Casa, próximo de sua residência, onde passavam muitos alunos do Mackenzie. Até que, certo dia, um desses alunos sugeriu que ele vendesse na porta de sua universidade, pois o público seria muito

Ricardo sustenta a família vendendo brigadeiros

maior. Desde então, seu comércio funciona exclusivamente - e com muito sucesso - nesse local. Quando questionado sobre os conflitos e desafios de seu trabalho, Ricardo destaca a parte logística. Nesse âmbito, diz ser de extrema importância analisar os pontos de comércio, o custo da matéria-prima e a situação dos compradores antes de começar um negócio. “Nessa região, vendendo por R$2 o brigadeiro, todo mundo tem esse dinheiro na carteira. Então, é acessível”, explica. Além de todos os cálculos que faz, o vendedor diz que a oratória e a forma de se expressar e se comunicar com o público pesa muito na hora das

vendas, sendo preciso pontualidade de horários e variedade de ofertas. Dessa forma, ele é bem diversificado em seu cardápio, oferece entre 15 e 20 sabores diferentes, e assim acredita: “eu não conquisto um cliente, conquisto um fã do meu produto”. Como já viveu muitas instabilidades pessoais e financeiras, Ricardo confessa se inspirar em um livro chamado “Arte na guerra”, o qual a cada página traz mensagens que o ensinam a viver o dia a dia. “A gente nunca deve desanimar, sempre encarar de frente, porque a vida nos propõe isso. Aí você vai ver se é forte ou fraco para enfrentar essas situações”, reflete.

Supervisor de Publicações José Alves Trigo Impressão: Gráfica Mackenzie

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Comunicação e Letras

Diretor: Alexandre Huady Guimarães Coordenadora: André Santoro

Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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Tiragem: 200 exemplares.


A festa vai acabar

Moradores da Borba pretendem acabar com a badalação. Isabelle Gandolphi

Fernanda Martinelli Isabelle Gandolphi

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Estudantes na rua Maria Borba durante uma sexta-feira

Graduação do Instituto na rua”, diz. “Recebo muitas reclamações dos condôminos em relação a cadeiras e pessoas em frente à porta. Fica difícil a movimentação, pois os jovens acham ruim quando queremos passar e muitas vezes acabam até respondendo”, reclama o síndico. Com a iniciativa de Maria Carlota, ela e João acreditam que será possível fazer com que a rua torne-se mais segura e que tanto os alunos quanto os moradores possam ter boa convivência. Tudo depende da união dos condôminos para maiores manifestos. “Acredito que com segurança e limite a rua volte a ser um lugar melhor”, afirma a moradora. A segurança da rua é o que mais está sendo questionada ultimamente, devido ao aumento do movimento de pessoas de fora. Há muitas queixas de alunos e de moradores. Os furtos estão aumentando

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Isabelle Gandolphi

rua Maria Borba é famosa pelo movimento dos estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pelos seus bares que chamam a atenção devido ao menor preço comparado a outros. De quinta e principalmente às sextas-feiras a badalação aumenta e o incômodo também. A maioria dos frequentadores são estudantes, porém na rua há trabalhadores e aposentados que reclamam constantemente do barulho embaixo de suas janelas. Maria Carlota Zimmermann, de 68 anos, é uma moradora que pretende acabar com a bagunça da rua e diz sobre a sua irritação em relação às festas. A senhora reclama da ineficiência da polícia e da falta de educação dos jovens que ali ficam. Carlota pretende movimentar mais moradores para que consiga impor algo que melhore as condições atuais da rua. “A polícia parece que defende os adolescentes. Me sinto sozinha. Já saí reclamando nos bares e já sofri ameaças. Tenho crise do pânico e já passei mal no meio do tumulto”, diz a aposentada. Logo abaixo do prédio onde ela mora há um bar. O som e o forte cheiro de cigarro e outras drogas é capaz de chegar até o terceiro andar. O síndico do edifício, João Batista da Silva, diz que tem receio em relação à segurança e que se sente incapaz de resolver algo. Afirma que já tentou acordo com a prefeitura e até com o próprio Mackenzie, porém não obteve sucesso. “Tentei contato com o Mackenzie pelo fato de haver a Pós

Moradora da rua Maria Borba.

constatemente, e geralmente as “festas” estão acabando com arrastões. A rua chama a atenção dos bandidos devido a grande quantidade de aparelhos celulares e desatencão dos jovens, que acabam sendo vítimas dos ataques. A polícia chega, mas os objetos roubados já se foram.


Paulista é palco de ativistas

A visão das pessoas que dedicam seu tempo em defesa de ideologias usa saia que ele é gay...Ou porque uma mulher usa boné que é lésbica”, disse Gabriel Guimarães Caetano, 16 anos. Para eles, assim como os captadores de recursos, ou os voluntários, o importante é passar uma mensagem, e ajudar o mundo a ser um lugar melhor para viver.

Heloísa Campos

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judar os outros, fazer caridade, poupar seu tempo para uma causa é algo muito nobre. A Avenida Paulista, em São Paulo, é conhecida por ser um local de protestos, voluntariados. Ao andar por ela é possível ver pessoas com coletes coloridos pedindo doações para ONG’s, ou indivíduos com cartazes fazendo intervenções. “Eu fico 7h por dia na rua, porém com 1h de almoço, de segunda a sexta”, disse Adriano de Oliveira Lima, 29, Funcionário da UNICEF e ativista do Greenpeace. O que muitos não sabem é a diferença dos ativistas voluntariados para os captadores de recursos. As pessoas que ficam na rua vestindo coletes coloridos, são pagos e contratados por uma empresa, enquanto os voluntários, não recebem dinheiro em troca. Há um certo ceticismo quanto aos ativistas e pedintes de rua. A desconfiança perante eles é enorme, já que não se sabe se a causa é realmente verídica ou o dinheiro arrecadado iria para algo de má fé. “Em minha opinião não resulta em melhorias. Se realmente ajudasse não tinha tanta gente passando fome. Não sei para onde esse dinheiro irá”, disse Eliana de Souza, 49. Mais da metade dos entrevistados não ajudam nenhuma ONG ou instituição, e também não param quando são abordados por manifestantes ou captadores de recursos. Todos os ativistas entrevistados disseram que já foram tratados mal, muitas vezes xingados. No entanto, não há nada que os façam desistir do trabalho, eles acreditam que isso faz parte do processo. “Um dia, eu fui abordar uma mulher, e ela respondeu muito

grossa: ‹sai da frente moleque, que estou morrendo de pressa.› Eu respondi assim: ‹tudo bem. Porém, não morra de pressa, morra de amor.› Ela parou e perguntou o que eu falei. Eu repeti morrendo de medo de apanhar. Porém, ela me deu um abraço.“ Tanto os receptores de recursos, quanto os ativistas voluntariados, acreditam que o sorriso de uma criança do projeto que apoiam, ou a tranquilidade de dormir sabendo que estão fazendo algo para mudar o mundo, é suficiente e mais gratificante do que qualquer ganho material. Um menino de saia. Uma menina de boné e bermuda. Esses são alguns adolescentes fazendo uma intervenção na Avenida Paulista. O objetivo do projeto é tentar fazer as pessoas repensarem sobre o preconceito quanto a roupa e opção sexual. “Não é porque um homem

Estudantes manifestando sobre a diferença de gênero

Heloísa Campos

Amanda Fackri Heloísa Campos

Adriano de Oliveira, ao centro, é funcionário da UNICEF

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Uma forma de arte pelas ruas

Nos pontos de ônibus da capital, Leandro vende amendoins há 7 meses

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Julia Reis

s famosos petiscos que exalam seu cheiro em um dos pontos de ônibus da Consolação feitos na hora por Leandro, 33 anos, um homem de talento e simplicidade. Na movimentada rua da Consolação, diante de um transito caotico de pessoas e veículos, um homem de 33 anos dedica o seu tempo à venda de amedoins de varios sabores. Leandro os vende por R$2,50 a unidade e afirma que os mais vendidos são o tradicional e o de Leandro Soares em seu ponto da Consolação. coco. Há exatos 7 meses neste ramo, decidiu mudar a chuva não para nunca”, a rotina trabalhando um disse. Descobriu que nestempo em um restauranta rua há uma facilidade te. e com a ambição de trabalhar como autôno- maior para o trabalho, mo novamente, optou por uma vez que é mais prátivoltar aos pontos de ôni- co. Porém, já comercialibus. “Dá pra pagar as con- zou seus produtos em outros três pontos da capital tas”, diz. Observador que é, diz e ressalta que os dias já que há muita gente inte- foram melhores. A bagagem é grande. ressante e diferente, que se destaca em meio à tur- Leandro conta com um carrinho, gás, um pequebulenta São Paulo. As dificuldades tam- no fogão e uma panela bém estão muito presen- para fazer seu caramelo. tes no cotidiano, princi- Segundo ele, o fato de palmente quando chove, transportar diariamente Leandro acaba “perdendo estes utensílios é extremao dia”. Por não ter onde mente trabalhoso, disse. guardar seus materiais, “É preciso de alguns esforele é obrigado a se re- ços para manter o prato na colher o mais depressa mesa”. Soares chega na Conpossível, finalizando seu turno. “Por isso que cos- solação por volta das 12h e tumo olhar a previsão do encerra o seu expedidente tempo todos os dias antes no tardar da noite. Sempre de sair de casa. "Tem dias rodeado por muitas pessoas, Leandro afirma que gosta muito do que faz. que não compensam, que ele possui vários clientes.

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Julia Reis

Ana Lygia Costa Julia Vieira Reis


O trabalho “invisível” dos coletores

A realidade, dos catadores de materiais recicláveis em Higienópolis

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Lucas Soares

Aleksander Santos Lucas Soares comum no bairro de Hi-

Lucas Soares

gienópolis encontrar catadores de materiais recicláveis que tiram seu sustento de restos deixados pelos jovens. Nos bares, principalmente aos fins de semana, quando o consumo de álcool é maior, o descuido com o descarte das garrafas e latas aumentam, e os “catadores” começam seu trabalho. Geraldo de Assis Correia, 46 anos, há meia década encontrou na venda e reciclagem de materiais a saída para o desemprego. “Depois que a firma fechou, fiquei sem opção, e sem ninguém. A única saída foi esse trabalho”, afirmou. Além do serviço cansativo, a remuneração é baixa “Trabalho o dia todo e mal consigo comer, dependo da ajuda dos outros”. Assim como outros, Geraldo representa um grupo da sociedade que é invisível aos olhos de grande parte da população. Nicholas Beeby, de 18 anos, estudante de engenharia civil que frequenta os bares do bairro, afirma que os catadores estão sempre por perto, mas que nunca valorizou seu trabalho. “Nunca dei atenção pra eles, sempre me perguntam por latinhas, mas as vezes também apenas recolhem sem avisar. Alguns estão alcolizados, as vezes é dificíl conversar com eles sem ter um pouco de receio”, comentou. De acordo com site oficial da Prefeitura de São Paulo, existem atualmente programas sociais, tais como a Coleta Seletiva, que busca inserir novamente estas pessoas na sociedade, além de incentiva-las a colaborar com o meio ambiente e serem remune-

Geraldo de Assis, 46 anos, explicando seu cotidiano

rados pelo serviço. O programa já atinge 96 distritos do município de São Paulo e conta com cerca de 1,1 mil colaboradores. Entretanto, a divulgação do programa ainda é muito precária e pessoas como seu Geraldo, ainda não conhecem o projeto e terminam encontrando como alternativa cooperativas terceirizadas. “Nunca ouvi falar dessas coisas. Vendo meu material num ferro velho ali no Butantã . É difícil, mas a gente vai levando,” concluiu.

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Geraldo mostra seu trabalho


Aprendendo a fazer arte com a vida

Grupo de teatro de São Paulo ajuda jovens a se expressar e conviver Foto: Raquel Paiva

Integrantes do grupo depois do ensaio

Raquel Paiva Tatiane Vieira de Melo

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a Biblioteca Estadual Monteiro Lobato, localizada na Praça Rotary – Vila Buarque, um grupo de adolescentes entre 12 e 19 anos se reúne no grupo Timol (Teatro infantil Monteiro Lobato) que já existe há mais de 50 anos e incentiva os jovens a ter contato com a arte. Como a Biblioteca está passando por mudanças, eles devem adaptar-se à falta de um diretor adulto que sempre foi presente. Nathalia Novaes, 16 anos, ressalta: “o bom é que acima de tudo o respeito pelo outro reina naquele palco, portanto os problemas nunca viram bolas de neve, pois sempre discutimos o que está incomodando ou o que achamos errado e

entramos num consenso”. Atualmente um dos participantes de longa data, Nuno Jogral, 16 anos, assumiu a diretoria e conta sua experiência: “pra mim é muito gratificante dirigir o grupo em que eu conheci o teatro e me descobri ator” e completa dizendo que faz seu melhor para os colegas: “aprendo muito e tento fazer com que cada um sinta-se livre e em um ambiente especial, como sempre foi na historia do grupo”. Carolina Lagazzi, 13 anos, está satisfeita com a mudança: “não vejo problema nenhum nisso, até porque foi assim que o Timol começou! Um grupo de jovens atuando e dirigindo da sua maneira”. O Timol funciona como mais do que um grupo para performances teatrais. Os alunos se envolvem de forma muito pessoal e expressam seus conflitos inter-

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nos, desafios e sentimentos. “ A gente até brinca que lá é tipo uma ‘terapia de grupo’ porque é como se fosse um carregador de energias pra semana” – Nathalia brinca e conta como o grupo muda a vida dos integrantes. “Cada improvisação, cada exercício tem uma reflexão por trás, que pode ser pessoal ou social, sem dúvidas quem entra no timol sai outra pessoa”. Nuno termina dizendo porque todos deveriam fazer teatro. “Na vida, estamos cada vez mais blindados, e ser sensível virou sinal de fraqueza”. Ele afirma que fazer teatro é revolucionário por remar contra essa frieza e falta de empatia do cotidiano. “Praticamos humanidade. Não interessa se queremos seguir carreira ou só perder a timidez, essa arte é um respiro nesse caos que é a vida”.


Jogo atrai gente para o cemitério Cemitério vira ponto de encontro de jogadores de Pokémon Go

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O cemitério parece ermo mas é fácil encontrar jogadores

William Lima

esde seu lançamento no dia 3 de agosto deste ano, Pokémon Go tornou-se uma sensação. É cada vez mais comum ver pessoas nas ruas, em grupos ou individualmente a olhar para seus celulares e jogar. O popular desenho japonês já fazia muito sucesso em meio aos jogadores de vídeo game, mas com os monstros de bolso que chegam aos smartphones seu apelo cresceu muito. A ideia do jogo é sair de casa, andar pela cidade e caçar Pokémons em ambientes específicos, como edifícios famosos, praças, museus e outros pontos. Esses lugares atraem vários jogadores pela quantidade de bichos que aparecem, entre esses, até mesmo em cemitérios. No centro de São Paulo, o Cemitério da Consolação é um local popular para jogadores como a Lorena Ribeiro da Silva e seu amigo, Pedro de Lacerda Humber, ambos com 17 anos de idade e estudantes do primeiro semestre de Publicidade e Propaganda no Mackenzie. “Eu não assistia muito o desenho, mas achava legal a ideia dos bichinhos.”, diz Lorena. ”Não era minha coisa favorita, mas eu gostava. Aí veio o jogo e eu falei: vamos, né?“. Já Pedro, conta que o desenho fazia parte de sua infância. “Quando eu era pequeno eu brincava com os meus amigos. Usando a imaginação mesmo, a gente caçava Pokémon. Agora isso é verdade. É meio que nossa brincadeira e está muito legal!“, disse. Mas em um cemitério, ao final da tarde, é visto como um local estranho para aventurar-se com o aplicativo. ”Ando aqui sempre, mas nunca tinha entrado. Não sabia que o Monteiro Lobato e Tar-

sila do Amaral estão enterrados nesse cemitério”, comenta Pedro. Ele também destaca o fato de estar conhecendo mais a cidade onde mora por conta desse hobbie. Desrespeito e segurança são assuntos familiares para os caçadores, principalmente em locais inusitados. Comerciante próximo ao cemitério, Oscar Felipe Carvalho Fernandes de 23 anos, acredita que jogar nesses locais é de certa forma, falta de respeito: “Acho o cúmulo do vício, mas... Não sei, é legal”. Quando viu os estudantes com seus celulares em mãos, aproveitou o intervalo para caçar um Pokémon raro. A administração permite que os jogadores se divirtam livremente, mas não quis se pronunciar a respeito do assunto.

William Lima

Beatriz Araujo William Lima

Pedro e Lorena não deixam o cenário atrapalhar sua diversão

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