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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ed. 160 - Ano XI - Outubro de 2015

Divulgação

Entre razões e emoções, a saída é fazer valer a pena Isto é Nx Zero no Mackenzie Day! ­— pág. 2

BEM OU MAL Pra quem respeita a vida e a si mesmo — pág. 10 e 11

ONDE ESTIVER Como as coisas mudam e ficam para trás — pág. 8 e 9

CEDO OU TARDE E sinto que algum dia ainda vou te ver — pág. 3


Nx Zero marca presença no Mackenzie Day Entre outras atrações, o jornalista Caco Barcellos e o apresentador André Vasco Bruna Berti Gabriela Rotella Michelly Nogueira

Arquivo pessoal de Bruna Berti

Os integrantes da banda Nx Zero com nossas repórteres-fãs: isto é Mackenzie Day!

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o sábado, 26 de setembro, o evento anual Mackenzie Day contou com a participação de celebridades como Caco Barcellos, André Vasco e a banda Nx Zero. Reunindo sete mil estudantes que desejam ingressar na universidade, o Mackenzie abriu as portas para que todos os vestibulandos pudessem conhecer o campus da faculdade, assim como alguns alunos dos diversos cursos e seus futuros professores, além de disponibilizar 50% de desconto na taxa de inscrição para o vestibular. Caco Barcellos e André Vasco, em um bate papo descontraído, tiraram algumas dúvidas sobre profissões, contando um pouco de suas trajetórias e como atingiram o sucesso em suas carreiras. Às 16h, encerrando o evento em grande estilo, a banda Nx

Zero subiu ao palco, montado em frente à portaria da rua Itambé, e agitou os futuros mackenzistas com alguns dos seus hits mais famosos, como “Razões e Emoções”, “Cedo ou Tarde” e “Onde Estiver”. Em entrevista concedida ao jornal Acontece, a banda revelou quais foram as maiores dificuldades que enfrentaram para manter o sucesso e como passaram por um período conturbado de transição. Quando perguntados sobre qual foi o maior aprendizado ao longo dos quinze anos no ramo musical, o vocalista Di Ferrero respondeu: “Os erros. Errar é a coisa mais saudável do mundo. É como ficar triste e feliz, é normal, e a gente aprendeu muito com isso. Foi uma fase difícil e passamos mais fortes por ela”. Com a nova fase da banda, o guitarrista

Gee afirmou: “A cabeça muda. O que passamos só a gente sabe. Assim como gravarmos o CD ao vivo, tudo isso fez a gente ser uma nova banda. De uma hora para outra, tudo mudou”. A saída da Universal Music foi um dos aspectos mais marcantes para a transição da banda acontecer de forma positiva. Quando questionados sobre essa mudança, o vocalista afirmou: “O receio existia quando estávamos na gravadora. Nós já tínhamos uma direção pronta quando saímos”. Com as modificações, que envolvem desde um novo instrumentista acompanhando a banda nos shows até a utilização de influências diferentes, o Nx Zero mostra-se confiante e aberto para novos desafios, sem medo de se arriscar.

Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras Diretor: Alexandre Huady Guimarães Coord. Jornalismo: Denise Paieiro

Supervisor de Publicações José Alves Trigo Professor-responsável: Marcelo José Abreu Lopes (MTb 26.169) Equipe: estudantes de jornalismo das turmas 2D11, 2D12, 2D13 e 2J13 (2º semestre de 2015)

Jornal-laboratório vinculado à disciplina Pauta e Apuração. Produção do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 100 exemplares

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Linha quatro do metrô segue incompleta Novamente o governo redefine datas e valores para a abertura da linha amarela completa Bianca Ninzoli Giulia Famá

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atraso na entrega das obras do metrô na cidade de São Paulo já virou rotina na vida dos cidadãos paulistanos. Novamente o governo divulga novas datas e valores para a abertura da linha amarela completa. Antônio Carlos Gerlades, 78 anos, trabalhador da região próxima à estação ainda não concluída Higienópolis-Mackenzie, conta que se mantém incrédulo com a falta de respeito do governo para com a população e o descaso com o dinheiro público. “Uma coisa que não tem cabimento, uma vez que se tem o dinheiro e demora mais de seis anos para fazer uma obra dessas”, relata o trabalhador. Antônio se entristece ao contar que gasta muito mais tempo por ter que utilizar dois meios de transporte para ir e vir do trabalho, enquanto poderia utilizar apenas o metrô, e ressalva que, caso não fosse idoso, também gastaria mais dinheiro em consequência desse atraso. Por fim, Antônio diz que as obras atrapalham o trânsito da região, além de já terem causado danos na estrutura do estacionamento em que trabalha, o qual acabou sendo ressarcido pelo próprio governo, o que não deixou de gerar transtorno. Outro comércio da região prejudicado pelas obras e pelo atraso é o bar do Doni. Paulo Miguel de Assis, 54 anos, sócio-proprietário do bar localizado na Rua da Consolação, disse que no mês de julho recebeu, por meio de um oficial de justiça, a ordem de despejo, tendo como prazo final para saída dia 29 de agosto. “Não tive indenização e vou ter que arrumar outro trabalho, vou sair sem dinheiro

Bianca Ninzoli

Obras da estação Higienópolis-Mackenzie abandonadas

e desempregado”, disse o comerciante. Paulo conta que após ter investido 67 mil reais em vão, ainda terá que gastar dinheiro com o pagamento de advogado para defender a causa de indenização contra o metrô. Somando-se a esse prejuízo, os proprietários terão que vender os objetos de trabalho para pagar as funcionárias, dificultando a perspectiva de abertura de um novo estabelecimento. Percorrendo até a outra extremidade da linha quatro, as opiniões continuam as mesmas, e a situação dos comerciantes também. Taciana Paiva, 36 anos, funcionária do restaurante Almeida Refeições, diz que a obra só proporcionou-lhe prejuízo, além de causar muito trânsito na região. Abimael Novaes Almeida, 42 anos, proprietário do estabelecimento em que Taciana trabalha, relata que, se a estação Vila Sônia estivesse pron-

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ta, gastaria menos dinheiro com transporte. “Espero que com o metrô o movimento volte; resta saber quando isso vai acontecer”, diz o empresário após confessar que já cogitou em fechar seu comércio devido a esse episódio. Elisângela Crisóstomo da Silva, 41 anos, frentista e moradora da região da Vila Sônia, reclama do congestionamento que se intensificou nas localidades após o início das obras: “Depois que eles colocaram o desvio, a faixa de ônibus ficou no lugar dos carros, piorando o trânsito”. E acrescenta que suas filhas usam diariamente o metrô: “caso a estação já estivesse pronta, ficaria muito mais fácil para elas irem e virem do trabalho”. As novas datas para o fim das construções são: 2016 para estação Higienópolis Mackenzie, Oscar Freire, Morumbi, e 2017 para Vila Sônia.


Projeto de Lei visa ampliar auxílio a bolsistas Deputado Federal propõe mudanças no regulamento do Programa de Bolsa Permanência, e mais alunos podem ser beneficiados Anderson Teixeira Kayam Mendes

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to de vida mais elevado que a de origem. Está em processo de votação na Câmara dos Deputados em Brasília, o Projeto de Lei (PL) 143/15 que prevê alterações no regulamento da Bolsa Permanência. O PL propõe que, independentemente da carga horária de seu curso, o aluno possa ter acesso ao benefício somente por sua situação financeira. Em entrevista, Wadson Ribeiro, deputado federal, presidente do Partido Comunista do Brasil em Minas Gerais (PCdoB-MG) e autor do PL 143/15, declarou acreditar na aprovação do projeto, hoje na Comissão de Educação, afirmando que o não fornecimento da bolsa-auxílio inviabiliza o prosseguimento do aluno de baixa renda nos cursos mais custosos. O deputado ressaltou que, apesar do momento de crise financei-

ra, após 2016 “o Brasil vai ter que retomar seu caminho de crescimento”, o que possibilitaria a alteração no artigo da Bolsa Permanência para abranger um número maior de alunos já em um futuro não tão distante. Todos os anos, estudantes do Ensino Médio brasileiro tentam, através do ProUni, ingressar nas instituições de ensino privado do Brasil. Para conseguir uma bolsa de estudos pelo programa, é necessário ter participado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), se encaixar nos critérios socioeconômicos e, ainda, atingir a nota estipulada. De acordo com o Ministério da Educação, só este ano foram ofertadas 213.113 bolsas em todo o país, das quais 77.497 são parciais e outras 135.616 integrais; destes, muitos podem ser beneficiados com a aprovação do PL 143/15. Anderson Teixeira

arine Almeida, 22 anos, cursa o quinto ano de Ciências Econômicas na Facamp (Faculdade de Campinas) e afirma que a Bolsa Permanência, auxílio de 400 reais concedido pelo governo federal a bolsistas integrais do Programa Universidade para Todos (ProUni), é fundamental para que ela continue estudando. “Mesmo tendo que trabalhar para completar a renda, vejo que hoje não teria permanecido na faculdade se fosse apenas com a ajuda que minha mãe ‘não’ poderia dar”, conta. Para a estudante, o auxílio é fundamental para os universitários contemplados com bolsa de 100% do ProUni, independentemente da carga horária do curso. Por isso, ela apoia uma alteração do regulamento atual. O benefício no valor de uma bolsa de iniciação científica (R$ 400) é fornecido para ser usado em gastos com os estudos. A lei atual determina que, para ter direito à assistência, o aluno precisa ser aprovado com bolsa integral do ProUni em cursos com seis ou mais semestres e carga diária de aula em seis ou mais horas. Para receber mensalmente, o estudante deve abrir conta corrente individual no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica Federal para a solicitação do benefício e a assinatura do termo de concessão. Este programa torna-se necessário a muitos desses estudantes, porque a transição para universidades privadas implica em dificuldades financeiras quanto a obtenção de materiais escolares e, em grande parte dos casos, instalação em outras cidades com cus-

Campus da Universidade Prebiteriana Mackenzie. Todos os anos, a instituição recebe cerca de 3 mil bolsistas do ProUni

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Leituras no papel e também na tela Como a tecnologia digital afeta o mundo literário Mayara Zago Vitória Hirata Mayara Zago

Enquanto houver um público interessado, os livros terão um lugar também nas prateleiras

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s e-books têm ganhado grande atenção na mídia por se tratarem de uma maneira mais prática de ler. Entretanto, segundo Ednei Procópio, criador do site “eBook Reader” e especialista em e-books, o mercado nacional de e-books não chegou a 3% se comparado ao mercado estagnado dos impressos. Apesar disso, os digitais continuam em ritmo de alta com um faturamento de cerca de 17 milhões só em 2014. “Observando a grande oferta no mercado nacional livreiro, percebe-se que o consumo está aquecido. Acredito que existe espaço para ambos os segmentos”, comenta Milsa Maria Tassi Marques, assessora pedagógica em literatura da Editora Moderna. A aparente aceitação do público se dá pela facilidade de acesso aos conteúdos digitais, que ultrapassa fronteiras e gera proximidade entre o leitor e o autor: a liberdade de modificar a formatação a gosto de quem o utiliza

(margem, espaçamento e tamanho da fonte); ajustes de brilho; caixa de atalho para pesquisa (find/search); oportunidade de fazer anotações; possibilidade da reedição do livro pelo autor e a leveza do produto. “Você pode levar uma biblioteca para ler em qualquer lugar sem ter o excesso de peso em malas”, diz César Rocha Lima, sociólogo, teólogo e autor de e-books. Outro beneficio é a rapidez do envio sem qualquer taxa nas entregas. “Por causa da viabilidade e facilidade de compra, quando você quer um livro já faz o download para o seu aparelho. Essa acessibilidade é maravilhosa”, diz Solange Lima, pedagoga e leitora de livros digitais. Com isso, as plataformas preferidas pelo público são iOS (iBooksStore), Android (Google Play), Kindle (Amazon) e Kobo (oferecido pela Livraria Cultura). Há vantagens também para quem escreve. A tecnologia oferece um meio alternativo para

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escritores independentes ao dispensar o custo da taxa de entrega e distribuição. É o caso da renomada escritora independente australiana Jaymin Eve, autora da série Walker Saga, que por meio de seus livros publicados na plataforma digital conquista leitores de todos os lugares. “Autores independentes estão quebrando barreiras todos os dias”, diz ela. Jaymin acredita ainda que as grandes editoras monopolizam o mercado ao escolherem qual será a próxima “febre”. A publicação independente abriu um novo mundo de possibilidades ao atender todos os tipos de público, e por meio do contato com os leitores e a divulgação pelas redes sociais é estabelecido uma proximidade maior entre quem escreve e quem lê. “E daí que o livro é horrível? Se há pelo menos uma pessoa que goste da história, não há razão para o livro não estar disponível ao público”, completa Jaymin.


Violência sexual preocupa estudantes Dentro ou fora das universidades, o estupro é uma ameaça real Fernanda Campos Tayná Medeiros

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blog “Tio Astolfo” causou polêmica entre os universitários por fazer apologia ao estupro. De cunho preconceituoso, racista e misógino, possui posts com títulos como: “Abusar de meninas não é pedofilia”, “Guia de como estuprar meninas da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas)”, referindo-se às estudantes da USP, e “Pais deveriam ter o direito de estuprar suas filhas”. Levando em conta casos de estupros que aconteceram dentro de universidades, como o ocorrido em junho deste ano com uma estudante da FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP), ergue-se a questão de quais providências poderiam ser tomadas para evitá-los e quais punições são impostas aos estupradores. A policial Jade Laís do Rego, que trabalha em uma sede em Bauru, conta que a punição depende de cada caso, podendo acarretar de seis a 30 anos de reclusão dependendo da idade da vítima, se houve lesão corporal grave, ou morte. Ela disse que os casos que chegam à polícia são poucos se compararmos com a quantidade de vezes que isso realmente ocorre, devido ao silêncio das vítimas. As denúncias que chegam nem sempre são devidamente apuradas, por conta das dificuldades e do desconforto da vítima para provar esse crime. Muitas vezes não há um bom preparo dos profissionais que lidam com a segurança para atender mulheres que sofreram violência sexual. Mesmo assim, ela acredita que sempre se deve denunciar, exigindo direitos e justiça.

Tayná Medeiros

Constrangidas, muitas mulheres ainda não denunciam os abusos

Referindo-se ao blog, a policial alegou que, primeiramente, uma parte especializada da PM está encarregada de descobrir o anonimato e a partir disso o caso será levado a julgamento para que haja a devida punição do autor. Em relação ao que se sucede após um crime como o estupro, ocorrido em uma instituição de ensino superior, Adriana Cruz, assessora de imprensa da USP, diz que “são abertas sindicâncias e processos administrativos, que podem levar até à expulsão do aluno da universidade”. As medidas são válidas para todos os alunos, mesmo que o evento ocorra fora da instituição. Perguntamos a algumas universitárias como elas se sentiam e o que faziam para se prevenir em situações de perigo do dia-a-dia. Angélica Constantino da Silva, estudante de história da

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Unicamp, disse que sempre procura estar acompanhada de pessoas confiáveis nas festas, nos bares e nas baladas. Ela também não aceita copos ou qualquer outro tipo de comida de pessoas estranhas. Laura Leite Pacheco, estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, respondeu que, no geral, sente-se insegura e com medo de sofrer alguma violência em ambientes públicos à noite. Disse que já pensou em levar consigo algo para autoproteção (como spray de pimenta), mas pensa o quão absurdo seria se as mulheres começarem a sentir medo de algo tão simples, como sair na rua. E complementa: “Tem coisas que fazem você perder a fé na humanidade. O quão errado está o mundo quando você sente medo de sentar ao lado de um estranho no ônibus?”


Educação contra LGBTfobia Câmara se opõe à questão, mas há manifestações a favor Clarissa Mattos Victor Melo

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o mês de agosto esteve em votação o novo Plano Municipal da Educação (PME), que decidiria os rumos do ensino na cidade para os próximos dez anos. Entre suas propostas iniciais, estava a inclusão de discussões sobre discriminação por gênero e orientação sexual, visando conter a evasão por parte de estudantes LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Houve manifestações na Câmara Municipal a favor e contra essas pautas. Com argumentos como o de que os estudantes não vão à escola para discutir sexualidade, os trechos que se referiam a essa inclusão foram retirados do Plano. Para João Oliveira, estudante de medicina na USP, falar sobre esses assuntos é questão de ensinar os alunos a respeitarem uns aos outros. Junto com alguns colegas, ele criou um projeto visando informar e debater alguns desses temas na escola. Utilizando recursos multimídia, eles abordam questões como a desigualdade de gênero, a LGBTfobia, o aborto e o HIV. A ideia foi posta em prática com estudantes dos primeiros anos do ensino médio. “A maioria deles ficou interessada”, conta João. “A gente chega lá e vê que falta discutir com eles gênero e orientação sexual”. De acordo com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), 96% dos estudantes procuram manter distância de homossexuais nas escolas. Além disso, a incidência de discriminação por orientação sexual é de

Victor Melo

Pó cor-de-rosa é jogado em opositores às pautas LGBT

87%. Essa hostilidade não se limita à rejeição. Segundo estudo da Unesco, mais de 40% dos homens gays já foram agredidos fisicamente durante a vida escolar. Mas quem mais sofre com essa discriminação é o grupo “T”. Muitas pessoas trans ou travestis sequer chegam a terminar o ensino básico. No Enem 2014, houve 95 solicitações de uso de nome social, enquanto o total de inscrições para a prova foi de oito milhões. Segundo relatório do Transgender Europe, o Brasil é o país que mais mata essa população no mundo. Procurando ir contra esse ciclo de marginalização foi criado o cursinho popular Transformação, na República, em parceria com o Centro de Referência da Diversidade. Cátia Kim, Guilherme Rocca e Carolina Munis, organizadores do projeto, contam que a ideia é proporcionar um ensino libertador, diferente da

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violência do ensino regular. “Devemos abrir caminho para que os sonhos dos e das estudantes ganhem lugar aqui”, diz Carolina. O foco do cursinho é o Enem, por ser o vestibular que proporciona mais possibilidades para os inscritos. Há uma preocupação em fazer com que a pessoa em aprendizagem se sinta segura, respeitada e capaz de se emancipar. Os organizadores contam que esperavam lidar com escassez de recursos, mas que agora eles têm um grande número de voluntários entrando em contato e se oferecendo para ajudar na causa. Contudo, para eles ainda seria preferível que o cursinho não precisasse existir. Sobre o PME, Cátia diz que se preocupa com essa retirada das questões de gênero da escola porque “a escola pode ser o único ambiente de conscientização das pessoas, ou o mais determinante”.


Alunos encontram dificuldades na Capital Estudantes vindos do interior relatam a experiência da mudança Caio Vendramini Júlia Mello

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odos os semestres, estudantes das mais diversas cidades do interior paulista, assim como de todo o país, mudam-se para São Paulo a fim de estudar em faculdades da capital. Eles buscam melhor qualidade de ensino e de vida, assim como uma melhor oportunidade de emprego, fazendo com que busquem moradia em apartamentos e repúblicas, geralmente próximas às faculdades. Segundo Luana de Oliveira, de Atibaia, estudante de ciências contábeis na PUC - Monte Alegre, junto com o incentivo dos pais, a principal motivação para a mudança foi a qualidade de ensino da faculdade, assim como a oportunidades de estágios, empregos e a vida noturna que a cidade oferece. Uma das maiores dificuldades relatadas pelos estudantes entrevistados foi encontrar um lugar para morar. Com receio de morar em repúblicas e com desconhecidos, foram em busca de um apartamento próximo da faculdade. Entretanto, os apartamentos nas regiões universitárias disponíveis para locação por estudantes são muito concorridos, além de ter um preço salgado. Outra dificuldade encontrada foi o custo de vida da capital. Não só a moradia e a mensalidade da faculdade, mas também atividades extracurriculares, como curso de línguas estrangeiras, academia e aula de violão; assim como serviços em geral como transporte (público e táxi), supermercado, salão de beleza e restaurantes. Outro fato comum entre os estudantes que saem de suas cidades é o receio com a falta de seguran-

Caio Vendramini

Marianna Arbia, estudante de medicina

ça da metrópole. Marianna Arbia, estudante de Medicina na Faculdade das Américas, relatou que quando se mudou não saía de casa com acessórios de luxo que chamassem muita atenção, além de tomar precauções com a bolsa e o celular. Hoje está mais tranquila, mas ainda mantém certas precauções. Luana, por exemplo, foi assaltada logo após sua chegada, no caminho entre a faculdade e sua casa. Ao serem questionadas sobre o que sentem mais falta de sua cidade natal, as saudades de casa, da família e das amizades foram respostas unânimes, assim como as mordomias de morar com os pais, como roupa lavada, comida pronta, casa limpa e não ter que fazer supermercado. Em contraponto, Ana Júlia, de Piracicaba, estudante de Administração na ESPM,

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ressalta a vantagens de morar sozinha: a independência; como não ter que arrumar o quarto, não ter hora para voltar para casa, assim como não ter que dar satisfação para os pais. “Aprendi a ser independente, então só tenho a agradecer”, disse Ana Júlia, que, antes de se mudar, tinha uma visão destorcida da cidade, via a metrópole como uma grande Marginal Tietê “feia, fedida e poluída”. Embora sinta muita falta dos eventos de Piracicaba, não voltaria a morar lá, porque não se imagina vivendo de novo no interior sem as facilidades que São Paulo oferece, como ter acesso a serviços a qualquer horário. Ressalta também a dificuldade que é se locomover aqui, como ter que se programar com horas de antecedência para uma simples visita a casa de uma amiga.


Jovens adultos Estudantes contam como é viver longe dos pais e seus principais obstáculos para seguir o sonho de uma profissão Larissa Zapata Rebeca Simão

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ão é de hoje que, para seguir um sonho, uma pessoa precisa sair de sua cidade para realizá-lo. Mas como será a vida desses jovens que ficam longe de casa para estudar e conseguir o futuro que tanto almejam? Entrevistamos estudantes que saíram de casa e mostramos seus medos, suas conquistas e como é essa “vida nova” que estão levando. Comida pronta e louça lavada, foi o que mais ouvimos quando perguntamos para os entrevistados do que mais eles sentem falta por não morarem com seus pais. Acostumados com o conforto de casa, estão agora tendo que lidar com problemas de “gente grande”, como explica a estudante da Unicamp, Camila Miki, de 19 anos: “Na primeira semana, por exemplo, trocamos a geladeira e tivemos que ir lá negociar, pagar e buscar. São coisas que normalmente estão resolvidas quando moramos com nossos pais.” A maioria dos estudantes que entrevistamos divide moradia com outros, fator que contribui para a adaptação do jovem na cidade desconhecida, mostrando que há muitas pessoas passando pela mesma situação. Porém, dividir moradia tem também suas desvantagens, “visto as diferenças na questão de manter a casa limpa e na higiene de cada um”, como aponta Fernando Suzuki, de 19 anos, sobre qual foi sua maior dificuldade ao perceber que teria que se virar sozinho. Porém, esse parece não ser o mesmo problema para Bruno Hassan, de 19 anos, que divide a casa com Fernando e mais seis

Larissa Zapata

Entre muitas viagens de ida e volta para suas cidades natais, estudantes mantêm seus sonhos apesar de todas as dificuldades

amigos: “A maior dificuldade é a constante preocupação com as contas da casa.” Para os entrevistados, é difícil se adaptar a ficar longe da família, mas, com o tempo e as responsabilidades na faculdade aumentando, se acostumam, ou pelo menos esquecem um pouco a saudade de casa. O conforto e o carinho são o que mais fazem falta, e muitos confessaram que já se arrependeram da escolha, mas nenhum deles a ponto de realmente desistir. Apesar de todas as dificuldades, os universitários não se abalaram e nos contaram que a maior satisfação que a nova vida lhes proporciona é a liberdade de morar sozinho ou com os amigos, além do amadurecimento e a responsabilidade que adquirem por crescerem com a experiência. “Acho que a maior satisfação foi ver o quanto eu era capaz de resolver os meus problemas sozi-

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nho.”, disse Bruno Couto, de 18 anos, que hoje mora em São Carlos. Quando questionados sobre o futuro, apenas um dos estudantes entrevistados disse que pretende continuar na cidade onde estuda após se formar – Vinícius Delgado, de 20 anos, o entrevistado que mora há mais tempo fora de casa. Muitos pensam em voltar para a cidade natal para trabalhar, ou então ir para outra com mais oportunidades, já que a maioria mora em cidades universitárias. Com a apuração foi possível avaliar diferentes opiniões de estudantes ante a transição para a vida adulta. Embora os laços familiares sejam fortes e permaneçam mesmo depois do período de dependência do jovem, essa mudança é essencial e mostra que vale a pena lutar para perseguir um sonho mesmo que longe daqueles que mais amamos.


O uso de suplementos e anabolizantes Jovens buscam melhorar sua imagem. E para isso vão atrás de atividade fïsica, muitas vezes sem orientação Patrícia Holando Raissa Andrade

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uando falamos de musculação, há alguns caminhos alternativos para alcançar os resultados de uma forma mais rápida. Dentre eles, encontram-se os suplementos e anabolizantes. Porém, poucos sabem diferenciá-los. Filipe Feitosa, formado em Educação Física, explica que a diferença entre ambos é que os anabolizantes são feitos a partir de hormônios, enquanto os suplementos são extraídos de alimentos. Além do mais, Maria Campos, professora e personal trainer na Humanas Academia, acrescenta: “os suplementos auxiliam a suprir o que não é consumido na dieta, diferente dos anabolizantes, que agem diretamente no metabolismo, podendo causar danos a alguns órgãos.” A diversidade de suplementos é muito grande, e varia de acordo com a necessidade. Uns podem auxiliar no ganho de “massa magra” e, outros, na perda de gordura. Como exemplo, Filipe cita os hipercalóricos, termogênicos, proteicos, antioxidantes, polivitamínicos, minerais, creatina e BCAA. Entretanto, há prós e contras desse uso. “Os suplementos devem ser usados apenas em casos de extrema necessidade, caso contrário podem prejudicar o funcionamento metabólico por conta do excesso de algumas substâncias não essenciais para o organismo. Porém, se utilizados de forma correta e bem orientada, serão eficazes sem prejudicar o indivíduo”, disse Maria. Douglas Terci, também professor na Humanas Academia, cita outra vertente responsável pela grande divulgação da musculação: a mídia. Com o avanço das redes so-

Raissa Andrade

Academias lotadas são cada vez mais frequentes

ciais, muitos procuram a atividade física para melhorar sua imagem. Acompanhando perfis de personalidades famosas, acabam fazendo dietas absurdas e treinando sem a devida orientação. Filipe diz que estamos passando por um momento em que as pessoas estão buscando a prática de atividade física com o objetivo errado, além de colocá-la como principal forma de emagrecer. Mas devemos ter em mente que alguns hábitos diários devem ser mudados. Segundo ele, a busca por fazer treinos milagrosos e diferentes é o fato mais aparente nas academias, pois a culpa da pessoa ter fracassado nunca será dela mesma. Um exemplo é Fabrício de Moura, estudante de 19 anos. Ele começou a treinar sozinho há um ano. Inicialmente, era por saúde e

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melhoria na auto-estima, mas hoje seu foco já mudou e é por pura estética. Além do esporte, sua dieta é regrada, e ele utiliza muitos suplementos, mas sem orientação nenhuma. Diferente de Carlos Magri, 23 anos, que é uma referência na forma sensata de praticar exercício físico. Elecomentou que malha há oito anos e, desde que começou a musculação, sua saúde melhorou, deixando-o mais satisfeito com seu corpo, além de ter aderido a uma dieta moderada, devidamente orientada por profissionais. E é o que adverte Maria: “tudo deve ser devidamente seguido por um profissional, pois os riscos de lesão são altíssimos. Assim como a saúde pode estar em risco, afinal, temos que ter controle da pressão e da frequência cardíaca para saber como vamos trabalhar em exercício.”


Jovens: nova fase, novos hábitos Para você, o que seria um hábito? Se pensou em alguma coisa relacionada a uma ação repetitiva e frequente, acertou Isabella Massoud Vanessa Piovezan

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estudante Renan Menoncello, desde que começou a estudar nutrição na Universidade São Camilo, mudou seu jeito de se alimentar: “Não foi uma mudança brusca nem drástica, mas melhorei. O ambiente universitário, principalmente o da saúde, no meu caso, influenciou bastante”. Enquanto Carlos Henrique, que estuda química na Faculdade Oswaldo Cruz, resolveu dedicar-se ao jogos de futebol da atlética esportiva: “Entrei pra atlética no primeiro semestre, e isso me ajudou a deixar um tempo pra praticar algum esporte, porque já arrumei estágio e estava sem tempo de fazer exercícios”. No caso do Renan, a alimentação saudável trará benefícios para sua saúde e corpo: “Eu comecei a pensar de outra forma. Isso só trará consequências boas para o meu futuro”. Em contrapartida, nessa nova jornada, hábitos considerados negativos também são apresentados e adquiridos por aqueles que têm sede de experimentar e se enturmar com os novos colegas. A estudante de relações internacionais do Centro Universitário Belas Artes, Ana Lemes, acredita que tornou-se mais responsável e independente ao entrar na faculdade. Porém, ao mesmo tempo, começou a consumir cerveja. Ela afirmou que sabe os danos à saúde e ao corpo mas, apesar disso, ir ao bar eventualmente com os amigos depois da aula é um modo de descontrair e se entrosar com pessoas da mesma faixa etária, o consumo da bebida é só uma consequência. “Quando você está em uma roda de amigos jogando conversa fora, e um começa a beber, você acaba querendo entrar na ‘vibe’ também e bebe junto”, ela explica.

Vanessa Piovezan

Exemplos de hábitos opostos dos jovens

Já Franchescoly Carnevale, estudante de direito na FMU, fuma cigarro há cinco anos e apenas intensificou o vício ao entrar na faculdade. Ele contou que o fato de fumar o ajudou a fazer amigos com mais facilidade por já terem algo em comum. Apesar de se incomodar com o cheiro forte que o cigarro deixa marcado na roupa, Franchescoly relatou que já saiu no meio da aula só para fumar com os amigos. Os exemplos mais comuns, bebidas e drogas, causam efeitos alucinógenos a curto prazo, porém algum tempo após o uso contínuo causam dependência. A universidade acaba sendo um ambiente facilitador de novas experiências. As atléticas valorizam a prática de esportes oferecendo oportunidades para alunos que têm talento e até oferecem bolsas para os jogadores de destaque. “Todo mundo falava como era legal fazer

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parte da atlética, além de ficar mais conhecido como ‘o menino da atlética’”, afirma Carlos. Nos arredores das faculdades, bares ganham fama por vender bebidas e cigarros a preços acessíveis aos estudantes; além das festas open bar (o estudante paga a entrada e pode consumir qualquer bebida alcoólica durante a noite), que são vistas como modo de comemorar e criar laços com os novos colegas. Uma pesquisa realizada pela Secretaria Nacional Antidrogas, em 2010, mostrou que 86,2% dos jovens universitários brasileiros relataram já ter consumido álcool e 46,7% deles já consumiram produtos de tabaco pelo menos uma vez. Esses estudos mostram que o número de estudantes usuários cresce cada vez mais, e a liberdade adquirida na mudança de fase serve como aprendizado, nas palavras de Renan: “É você cuidando de você”.


Alimentação em Higienópolis O bairro conta com uma ampla variedade no setor alimentício, com qualidades e preços diversos Gabriel Santos Paola Saltoratto

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igienópolis está localizado na região centro-oeste da capital paulista. O bairro possui um grande f luxo de pessoas no decorrer do dia, devido à grande quantidade de comércios, além dos estudantes, já que no bairro estão situados grandes colégios e universidades, como o Colégio Rio Branco e a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Por possuir toda essa movimentação, muitas pessoas se alimentam na região. O Sesc Consolação, situado na rua Dr. Vila Nova, 245, foi fundado no ano 1967 e desde então possui uma grande diversidade de pratos, com produtos de qualidade a um custo baixo. Sendo assim, diversos moradores, funcionários e estudantes da região se alimentam nas instalações do prédio. Lourdes Silva, aposentada, vai à unidade todos os dias para tomar o café da manhã. Ela conta que toma café expresso e come pão de queijo há anos: “virou uma tradição, sempre tomo café da manhã aqui por ter um preço em conta e produtos com ótima qualidade; gosto também da variedade”, diz a aposentada. Karine Borges, 24 anos, é estagiária de nutrição do Sesc Consolação. E aponta que ali se proporciona uma alimentação tipicamente brasileira, com boa qualidade e preço justo. “Adicionamos sempre produtos brasileiros em nossos pratos, até mesmo na salada, que acrescentamos castanha do Pará”, afirma a estudante de nutrição. O cardápio da unidade é bem variado, des-

Gabriel Santos

Vitrine de salgados do Sesc Consolação conta com opções diversas

de o tradicional café expresso, que custa R$ 2,00, a pratos de massas como o nhoque de mandioquinha, que sai a R$ 7,50. Conta ainda com opções saudáveis como uma salada com mix de folhas e queijo branco a R$ 4,00 e sanduíche de palmito com mussarela de búfala custando R$ 6,00 cada. Muito próximo dali, na rua Maria Antônia, está localizada a praça de alimentação Soho’s Place, que conta com uma ampla variedade de opções para fazer todos os tipos de refeições. São cerca de 20 estabelecimentos comerciais, entre eles grandes franquias de fast-food, como a rede de hambúrgueres McDonald’s; e o Subway, conhecido por ter comida rápida e saudável. A praça conta com opções para atender a variados gostos, além disso, são dois

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andares com mesas, incluindo área de fumantes. A praça conta ainda com banheiros e acesso livre à internet via wi-fi. É por isso que a moradora do bairro Stefani Hebita, 23 anos, sempre se alimenta na lá. Para ela, o Soho’s conta com boas opções com preços variados. “Por possuir fácil acesso e restaurantes com preços justos sempre como aqui”, afirma a jovem que almoça e janta todos os dias no estabelecimento. Para quem quer comer bem e pagar pouco, o restaurante Belo Monte, situado na esquina da rua da Consolação com a rua Maria Antônia, é uma boa opção. O restaurante possui um cardápio restrito a pratos feitos, o famoso “PF”. No cardápio estão presentes filé de frango, omelete e bisteca e preços que variam de R$ 11,00 a R$ 17,00.


De mãos estendidas Jovens fazem trabalho voluntário em São Paulo Maria Clara Lucci Victória Silva

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encontram-se os escritórios do Mensageiros da Alegria. A ONG começou em 1995 em Belo Horizonte, criada pelo casal Krishnamurti e Arlete de Abreu para ajudar instituições da cidade, e agora tem escritórios em Campinas, São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. O projeto formado por jovens visita hospitais públicos, creches, asilos e orfanatos e, para se manter, vende cartões com poesia nas ruas e ônibus. Rogério Souza, um dos coordenadores do projeto em São Paulo, afirma que, apesar de jovens, todos têm uma obrigação social. “Lidar com jovens não é fácil, o que faz a diferença é o nosso compromisso.” Todos os dias os jovens chegam ao escritório, maquiam-se e são mandados para seus lugares de atuação. Segundo os voluntários Luiza*, 27 anos, e I.S, 16 anos, apesar do desrespeito a que ficam

expostos todos os dias, a mobilização jovem é importante para conscientizar a juventude do seu poder de mudança e ensinar as pessoas que crer no outro e, no próprio futuro, vale à pena. Luiza, que conheceu a organização por meio da compra de um cartão no ônibus acrescenta: “Dentro do hospital você aprende que crianças e adultos ainda sonham. Por que você que está aí saudável não pode sonhar?” Para fazer parte do projeto Mensageiros da Alegria é preciso disponibilidade integral, mas para participar dos atos de voluntariado o interessado deve agendar uma palestra de instrução e assim poderá acompanhar a equipe nas próximas visitas. “Se a pessoa vai viver mais um dia, esse dia vai ser de alegria”, completa Rogério. *Luiza teve sua real identidade protegida. Victória Silva

ovens inspiradores como os membros das ONGs Mensageiros da Alegria e Turn your love mudam o mundo um dia por vez, na cidade de São Paulo. Nascida em 2013, a ONG Turn your love surgiu de uma conversa entre Brendha Moura e Nadine Marini, adolescentes que decidiram criar um site de conscientização sobre os cuidados com os animais domésticos. Segundo Nadine, no primeiro momento não havia a intenção de fazer resgates, pois as duas criadoras do site moravam em cidades diferentes (Nadine em São Paulo e Brendha em Porto Alegre), e não têm abrigo próprio, mas colaboram com o Abrigo da Thelma, em São Bernardo do Campo. “A gente faz mutirão de ração, castração, vacina, carinho, passeio”, disse Nadine. “Para além de proporcionar a alimentação dos animais, a gente proporciona também o carinho pra eles.” O primeiro caso de Brendha e Nadine foi o de um cachorro chamado Bolota que, sem chances de sobreviver por muito tempo, teve a eutanásia como recurso oferecido. Hoje no abrigo, dois anos após ser resgatado, passa bem e pode andar. Após o caso bem sucedido, a ONG decidiu interferir em tratamentos. Cada uma das jovens conta com uma equipe veterinária em sua cidade para tratar dos animais resgatados. Os tratamentos são feitos com dinheiro arrecadado em doações e vendas de produtos online. Assim como a Turn your love, a ONG Mensageiros da Alegria possui sedes em outras cidades além de São Paulo. Na rua 24 de maio

Equipe Mensageiros da Alegria

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Grandes ligas norte-americanas no Brasil O interesse dos brasileiros pela NFL e NBA aumentou nos últimos anos Brian Reis Victor Russo

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uitas são as ligas esportivas norte-americanas que exercem influência em boa parte do mundo, entre elas, as mais tradicionais são a de futebol americano (NFL) e a de basquete (NBA). São essas também as mais transmitidas no Brasil. A NFL é a que mais tem caído no gosto dos brasileiros. A liga é transmitida pela ESPN Brasil com seis jogos por rodada, às segundas-feiras, às quintas-feiras e aos domingos. Esse número já foi um aumento em relação à temporada anterior, na qual eram televisionados cinco jogos por semana. Mas o aumento do número de partidas que passam na televisão não é o único fato que comprova o crescimento da popularidade da NFL no Brasil, já que a final deste ano apresentou a maior audiência da história. O jogo que recebe o nome de Superbowl foi visto por mais de 500 mil pessoas, segundo informações do jornal Lance e da própria ESPN. Estima-se que, desse total, 70% são homens e 30% são mulheres (6% a mais que no ano anterior). “O Superbowl desse ano superou todas as expectativas, sua audiência foi maior que a da final da Liga dos Campeões da Europa, algo que até pouco tempo era inimaginável para um país que é considerado o país do futebol”, afirmou Pedro Trajano, estudante de administração da Faap e filho do jornalista José Trajano, da ESPN Brasil. A NFL tem feito todos os anos uma clínica no Brasil para ensinar e divulgar o esporte aos jo-

Brian Reis

Brian Reis

O evento NBA 3x empolgou o público de Barueri

vens brasileiros. Nelas estiveram presentes jogadores famosos como Marshawn Lynch. Além disso, a liga estuda realizar o jogo das estrelas (partida que reúne os melhores jogadores da temporada) em território brasileiro. Outro feito importante para o esporte no país foi a primeira disputa de uma copa do mundo. Apesar da penúltima colocação no torneio, o fato de participar do campeonato já foi visto como uma vitória para os apaixonados pelo esporte. Enquanto a NFL é exclusiva dos canais ESPN, a NBA conta com quatro canais que televisionam o esporte, entre eles a ESPN Brasil, o Canal Space, o Sports+ (exclusivo da SKY) e o Sportv. A popularidade da NBA não cresce no mesmo ritmo da NFL, pois o Basquete já é um esporte bastante popular no Brasil há muitas décadas; já o futebol

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americano é bem mais recente no país. Mesmo assim, as finais da NBA de 2015 atingiram a maior audiência desde o último título de Michael Jordan, em 1998, segundo dados da Folha de S.Paulo. Aproveitando essa volta do interesse dos brasileiros, a NBA promoveu pela segunda vez o “NBA 3X” nos dias 29 e 30 de agosto, em Barueri. O evento consistiu em um campeonato de três contra três, estilo de jogo que lembra muito o basquete de rua, e contou com a presença ilustre do ex-jogador da NBA e heptacampeão da liga, Robert Horry. Nos dois dias de evento, Horry deu uma clínica de basquete para as crianças. Dois pontos destacados por ele foram: o quanto o basquete tem crescido no Brasil e que os olhos da NBA estão voltados para o país sede das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.


Da porta ao portal Facilidades do e-commerce atraem empresários e consumidores Cecilia Ferreira Stephanie Ramos

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egundo o relatório WebShoppers, o e-commerce (comércio virtual) brasileiro encerrou o primeiro semestre deste ano com o faturamento de 18,6 bilhões de reais, 16% a mais do que no ano passado. Facilidade de pagamento e grande variedade de produtos são apenas alguns dos atrativos para os consumidores. Para o blogueiro Gabriel Camcho, 19 anos, as compras online são mensais pela facilidade, variedade e preço. A loja Peguei Bode é uma das que se destacam com o público que busca artigos de luxo. Fundada pelas irmãs Gabriela e Daniela Carvalho, a loja vende desde roupas até acessórios. “Começamos com uma brincadeira que deu muito certo”, diz Gabriela. Hoje uma das maiores preocupações é a concorrência. “Na web as coisas acabam sendo mais simples e fáceis, mas você tem que estar antenado em todas as redes sociais, porque senão, suas concorrentes vão passar você”, complementa a irmã Daniela, 29 anos. Para Carolina Lacerda, fundadora da Breshop, a loja online é muito vantajosa para o empreendedor por ser uma forma econômica de se fazer negócios, uma vez que não é necessário pagar aluguel em um ponto comercial e possuir muitos funcionários. “Conseguimos alcançar pessoas em todos os pontos do país”, completa. Quanto as maiores reclamações dos consumidores, estão entrega demorada e falta de veracidade em como os produtos são oferecidos. “Às vezes você compra o produto e vem uma coisa dife-

Stephanie Ramos

Enjoei.com, site de lojas pessoais, onde você pode vender suas coisas

rente da que você imaginou”, diz Isadora Veras, estudante. Já Gabriel diz que muitas lojas têm um prazo absurdo com frete muito caro. Para ajudar na hora da compra, existe o site Reclame aqui, onde os consumidores podem contar suas experiências com as empresas. Destacam-se, também, plataformas para a venda de usados direto com o proprietário, como o aplicativo Skina. No app (disponível para celulares com sistema Android) é possível determinar a distância entre consumidor e o vendedor. Depois de tomar uma decisão, é só marcar pelo chat um local para fechar o negócio. Segundo o responsável de marketing, Gabriel Di Bernardi, o Skina aposta na mudança de comportamento do consumidor brasileiro: “Escolhemos o mercado de classificado em mobile porque o brasi-

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leiro já está realizando transações por esse meio”. Como funciona a troca de produto? Quem compra pela internet também tem direito de troca garantido pelo código de defesa do consumidor. Segundo a lei 8.078/90, há o prazo de garantia legal para todos os produtos de 30 dias para reclamar de vício ou defeito de produto não durável e 90 dias em produto durável. A contagem do prazo de garantia começa a valer a partir da efetiva entrega do produto ao cliente. O código de defesa também prevê o direito de arrependimento, com o chamado prazo de reflexão de sete dias. O consumidor pode desistir da compra ou do contrato nesse prazo sem precisar explicar o motivo.


A modernização do entretenimento Na era da rapidez e praticidade, novas mídias popularizam-se Ana Gabriela Graças Maria Catarina Mazzitello

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os últimos anos, houve uma mudança na maneira como a população busca se entreter. Hoje a praticidade é colocada em primeiro lugar. O aumento na demanda pelo uso de serviços de streaming (transmissão de dados que ocorre através da internet) e de download tornaram-se alvo de observação e conflito. No Brasil, filmes, seriados e músicas são as buscas mais realizadas. Os locais onde esses conteúdos têm sido encontrados são plataformas como o Netflix, Popcorn Time e Spotify. As pessoas que as utilizam consideram-nas uma outra opção aos meios midiáticos convencionais e não as veem como formas ilegais de entretenimento. O Netflix, corporação criada em 1997 nos Estados Unidos, ganhou força no Brasil apenas nos últimos quatro anos. O acesso ao serviço é feito, primeiramente, pelo cadastro de dados no site da empresa. Em seguida, uma mensalidade é debitada diretamente da conta de um cartão de crédito do cliente. Segundo dados informados pela assessoria de imprensa, o programa possuía 50 milhões de membros ao redor do mundo em 2014. “Uso porque vale a pena, o custo benefício é ótimo, o entretenimento é bem variado e o preço é justo”, justifica Júlio Paulucci, 17 anos. Já o Popcorn Time, originado por um grupo argentino e posteriormente assumido por colaboradores do “YTS” (site localizador de filmes em tamanhos leves para download), dispõe de um sistema chamado bit torrent para fazer a transmissão dos arquivos simul-

Ana Gabriela Graças

As plataformas Netflix e Spotify são exemplos de novas mídias

taneamente. O aplicativo funciona como uma alternativa gratuita ao Netflix. Um de seus representantes, que se identifica por “Watdafox”, fala sobre a receita do sucesso do aplicativo: “Combine a quase ausência de formas confiáveis com um aplicativo bem pensado que funciona, além de sua gratuidade”, afirma. Diante de novas plataformas tão práticas, gerou-se uma polêmica em relação à regulamentação. Grandes operadoras julgam o Netflix, por exemplo, como um concorrente desleal. “O Netflix Brasil paga todos os impostos devidos”, assegura a empresa. Além disso, alega que aguarda para trabalhar com órgãos competentes, enquanto eles discutem sobre essa forma de distribuição não tradicional de conteúdo. Acredita-se, por um lado, em uma discussão desnecessária, visto que os servidores são pagos

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(com exceção do Popcorn Time). Por outro lado, há também usuários defendendo uma regulamentação. “Isto viabiliza a competição de mercado, o que leva a melhorias nos demais serviços de comunicação, assim como nos próprios serviços de streaming”, diz Eloísa Mendes, 18 anos. O Spotify, por sua vez, é um aplicativo de músicas que possibilita uma reprodução delas sem armazenamento no smartphone. É semelhante ao Youtube, exceto pela ausência de vídeos. Há planos pagos e gratuitos, contudo ambos só funcionam através da internet. Apesar da mudança no estilo de consumo de conteúdos de vídeos e músicas, todos entrevistados enfatizam sua crença que não ocorrerá substituição de mídias. “O que provavelmente acontecerá é a crescente procura pela descentralização dos conteúdos de entretenimento”, diz Watdafox.


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