
3 minute read
4. O que é um conflito?
sobretudo quando acontecem entre pessoas de boa vontade. Isso frequentemente afeta
nossa confiança na humanidade.
Advertisement
Assim, em vez de querer negar ou camuflar o conflito, não seria mais sábio
considerar que o conflito é “inevitável”, inerente às relações humanas, ao menos no estado atual da nossa evolução humana e espiritual? Logo, as questões são: de onde vem
o potencial conflitante dos seres humanos? E o que fazer com ele?
Momento para refletir
a) Dentre as três atitudes citadas nesse capítulo, qual é aquela utilizada na
instituição com a qual você trabalha? Como você se sente em relação a isso?
b) Você tem a impressão de ter banalizado, normalizado os conflitos na sua vida?
c) Você consegue diferenciar os conflitos úteis, necessários e os conflitos inúteis,
desnecessários?
4. O que é um conflito?
“O conflito é pai e senhor de todas as coisas.
Heráclito (500 a.C.)
O conflito é um choque de, pelo menos, duas forças complementares. Cada uma dessas forças forma um obstáculo para a outra. Essas forças (sujeitos ou agentes)
disputam geralmente um mesmo objeto.
O conflito pode ser aberto ou latente (fala-se, nesse caso, de “tensões”). É importante poder identificar o objeto da disputa, para que a dinâmica do conflito possa
ser analisada, como veremos mais adiante.
Quais são os conflitos mais comumente encontrados? São justamente os “conflitos de objeto” que podem ser (aparentemente) insignificantes ou, ao contrário,
vitais: um brinquedo entre crianças, ou uma criança no meio de um conflito entre adultos
(por exemplo, no momento de um divórcio ou em casos extremos como no Julgamento
de Salomão) etc. Pode também ser um objeto total (ou meta-objeto) como um território.
Porém, existem conflitos onde o objeto é mais imaterial, abstrato ou simbólico: conflitos
de valores, de crenças, de definição, de interesses.
Certas situações geram conflitos internos como no caso do conflito de lealdade
(nos divórcios, nos movimentos sociais etc.). O conceito de conflito de lealdade define o
sofrimento interno de uma pessoa vendo dois modelos amados ou admirados por ela em
conflito. Por exemplo, um filho vendo os pais brigando. Ele sente amor e lealdade por
seus dois modelos existenciais e, vendo esses dois modelos em conflito, desenvolve um
conflito interno. O mesmo acontece, por exemplo, em uma igreja ou um movimento
social onde os membros (fiéis, militantes) assistem, impotentes, ao conflito entre dois
líderes.
Em ambientes horizontais (ex.: organizações com gestão compartilhada) onde as
relações são igualitárias (assim como em casais ou grupo de amigos), podem existir
conflitos quanto aos limites e ao domínio de cada um dos membros. São ambientes
altamente sujeitos a mal-entendidos e a uma comunicação contraditória, como as
injunções paradoxais do tipo: “seja autônomo, seja proativo!”. Se a pessoa for proativa demais, ela pode ser vista como uma ameaça! Se ela não quiser se impor e demorar um
pouco para se envolver, poderá ser vista como “preguiçosa”, “acomodada” e será, talvez,
alvo de comentários que a levarão ao desânimo e a se distanciar da organização.
Esses conflitos podem evoluir para formas mais “puras”, mais abstratas ainda,
como o conflito ontológico ou metafísico. O conflito ontológico é aquele que opõe
protagonistas que deixam de brigar pelo ter, mas sim, pelo ser, no que se refere à
definição “do que é” e “do que não é” certo, correto, real etc. Essa categoria remete às dimensões mais simbólicas da realidade e da sociedade. É o caso dos conflitos
ideológicos, filosóficos ou religiosos. Este tipo de conflito geralmente não tem solução
imediata.
Na sua forma banal, cotidiana, ilustra-se, por exemplo com frases como as
seguintes, contextualizadas durante uma reunião:
Um fala: “O problema é o seguinte...” E o outro responde:
“Não, o problema é...” O que revela um conflito sobre a definição do problema e
sua natureza.
E a querela continua:
“Para resolver, basta fazer tal coisa” E o outro responde:
“Não! Não é isso. Você tem que...”
Esse esboço de diálogo mostra um conflito sobre 1) a natureza e definição do
problema e 2) sobre os métodos de resolução do problema – mal definido! Será que,
nesse caso preciso, o problema não viria exatamente da maneira de definir e expressar a
percepção do problema? Uma simples falta de tato pode dar início a uma sequência de



