VERGONHA E RENÚNCIA - (ONDE ESTÁ A VERDADEIRA PROSTITUIÇÃO?) Há exatamente 51 anos, no dia 9 de maio de 1967, um prefeito imperatrizense renunciava ao cargo. Eurípedes Bernardino Bezerra, o Euripão, coronel da Polícia Militar, que assumira em 04 de fevereiro de 1967, entregou o cargo, depois de ter tentado mudar a Farra Velha (zona de meretrício) da rua Sousa Lima, no centro de Imperatriz, para o lugar chamado Cacau, nas proximidades do Departamento Nacional de Estradas e Rodagens - DNER). Ao saberem disso, os vereadores foram contra. E deu no que deu. No lugar de Euripão, tomou posse no cargo de prefeito o vice, Raimundo Sousa e Silva, que governou até 31 de janeiro de 1970. A história poderia terminar aí, mas um depoimento do próprio Euripão, em 2001, ao professor e pesquisador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, revela que a prostituição verdadeira e vergonhosa não era aquela das mulheres de difícil vida da tradicional "escolinha" da Farra Velha. A prostituição -- dessa de caras cínicas, caras lavadas e almas sujas -- estava no Poder Legislativo. Vereadores souberam que foram destinados 42 milhões de cruzeiros novos para Imperatriz (o cruzeiro novo era a moeda que acabara de ser instituída no Brasil, em 13 de fevereiro de 1967). Aqueles milhões, claro, eram para o prefeito fazer as melhorias necessárias na Imperatriz daqueles tempos. Conta o prefeito Eurípedes Bernardino Bezerra em entrevista ao professor Leopoldo Gil: "[...] eles [os vereadores] vieram em cima de mim, tipo urubu atrás da carniça. Aí eu disse: ' -- Esse dinheiro não é nosso, não pode ser.' [...]" Contabiliza e conta Euripão que, "no total", dos 42 milhões, os vereadores "queriam 24 milhões para eles". E qual foi a reação do prefeito: "Eu fiquei tão enojado com aquilo... Vocês sabem de uma coisa?" "Cansado" -continua Euripão --, "peguei a máquina de escrever"... e eis um pouco do que o prefeito escreveu em sua carta de renúncia: "Senhores vereadores, minha presença aqui [em Imperatriz; Euripão tinha vindo de São Luís] representou um cachorro fiel, encarregado de uma carniça gorda. Os urubus famintos não permitiram que eu zelasse até o fim [...]" E, após mencionar os "instintos podres e imundos" dos vereadores", "cumprimento do dever" etc., assinou a carta e, encerra ele: " -- Adeus!...Vim embora." Será se hoje ainda existe "prostituição", "urubus atrás de carniça" e outros "instintos podres e imundos" nas excelsas casas legislativas local, municipais, estaduais e federais, no Brasil? Será? Um resumo da biografia do ex-prefeito Euripão, que consta da "Enciclopédia de Imperatriz", que escrevi, lançada em março de 2003: EURÍPEDES BERNARDINO BEZERRA. Coronel da Polícia Militar do Maranhão e político. Prefeito de Imperatriz, renunciou pouco tempo depois da posse. Governou no período de 4 de fevereiro a 9 de maio de 1967. Nasceu em 17 de dezembro de 1915, no povoado Curador, antigo distrito de Barra do Corda (MA) e hoje Presidente Dutra (MA). Sucedeu ao interventor federal “Doutorzinho”*. Chegou a Imperatriz como delegado de polícia, em 9 de julho de 1962, nomeado pelo governador Newton Belo. Candidatou-se a prefeito de Imperatriz, em 1966, a convite de José Sarney, governador do Maranhão, e Henrique de La Rocque. O concorrente era Manoel Ribeiro*, que venceu a eleição mas morreu antes de assumir. Eurípedes recebeu 1.254 votos e perdeu o pleito para Manoel Ribeiro por uma diferença de 12 votos. Recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e, depois, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A dois dias do