REVISTA DO LÉO, 9, junho 2018

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REVISTA DO LEO REVISTA ELETRONICA EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

SÃO LUIS – MARANHÃO NUMERO 9 – JUNHO - 2018


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE REVISTA DO LEO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

CAPA: Leopoldo Gil Dulcio Vaz conduzindo a Tocha Olímpica em São Luis-MA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física, Especialista em Metodologia do Ensino, Especialista em Lazer e Recreação, Mestre em Ciência da Informação. Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado; Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e de Pesquisa e Extensão); Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros publicados, e mais de 250 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Comissão Comemorativa do Centenário da Faculdade de Direito do Maranhão, OAB-MA, 2018; Recebeu: Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM; Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; ALL em Revista, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, vol 1, a vol 4, 12 16 edições. Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


EDITORIAL

A “REVISTA DO LÉO”, eletrônica, é disponibilizada, através da plataforma ISSUU https://issuu.com/home/publisher. É uma revista dedicada às duas áreas de meu interesse, que se configuraram na escolha de minha profissão – a Educação Física, os Esportes e o Lazer, e na minha área de concentração de estudos atual, de resgate da memória; comecei a escrever/pesquisar sobre literatura, em especial a ludovicense, quando editor responsável pela revista da ALL, após ingresso naquela casa de cultura, como membro fundador. Estou resgatando minhas publicações disponibilizadas através do “Blog do Leopoldo Vaz” – por cerca de 10 anos esteve na plataforma do G1/Globo Esporte/Mirante, recentemente retirado do ar, quando da reestruturação daquela mídia de comunicação; perdeu-se o registro, haja vista que o arquivo foi indisponibilizado. Quase a totalidade do que ali foi publicado apareceu, também, no Centro Esportivo Virtual – CEV -, http://cev.org.br/ , https://www.facebook.com/cevnauta/: e nas Comunidades que administrava e/ou participava, em especial: - Educação Física no Maranhão, http://cev.org.br/comunidade/maranhao, https://www.facebook.com/search/top/?q=cev%20educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20no %2 0maranh%C3%A3o - História dos Esportes, https://www.facebook.com/search/str/cev+hist%C3%B3ria+da+educa%C3%A7%C3%A3o+f%C3%ADs ica +e+dos+esportes/keywords_search - Atletismo, https://www.facebook.com/groups/cevatletismo/ - Capoeira, https://www.facebook.com/groups/cevcapoeira/ e agora, no Facebook, https://www.facebook.com/groups/cevefma/. Do “Atlas do Esporte no Maranhão” colocarei os capítulos no atual estado-da-arte, e sempre que houver algum fato novo, a sua atualização: http://cev.org.br/biblioteca/atlas-esporte-maranhao/ No campo da Literatura Ludovicense/maranhense, permanece aberta às contribuições, em especial, a construção da “Antologia Ludovicense”. http://all.org.br/all_em_revista.html Esta, a proposta... Está totalmente aberta às contribuições...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR


REVISTA DO LÉO NÚMEROS PUBLICADOS

VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 - MARÇO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL - MARÇO 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 - MAIO DE 2018 - https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 -


SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES E LAZER IDENTIDADES E CULTURAS REGIONAIS E LOCAIS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

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O QUE É A CAPOEIRA? – Leopoldo Gil Dulcio Vaz

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CAPOEIRAGEM NO BRASIL - MARANHÃO E O "AGARRE MARAJOARA" – LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

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FRAN PAXECO – UM DOS PROPUGNADORES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO JOGOS TRADICIONAIS INDIGENAS - Leopoldo Gil Dulcio Vaz JOGOS TRADICIONAIS E BRINCADEIRAS INFANTIS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; REINALDO CONCEIÇÃO CRUZ REMO - Leopoldo Gil Dulcio Vaz LIVRO-ÁLBUM DOS MESTRES CAPOEIRAS MESTRE SAPO MESTRE ROBERVAL SEREJO MESTRE DINIZ MESTRE PATINHO O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. - BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS - FÁBIO ALLEX ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO “ESPORTE” E OS SEUS VARIOS MODELOS - ANTONIO MUSSINO

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NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE

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O CURSO DE DIREITO DE SOUSÂNDRADE – O DA UNIVERSIDADE NOVA ATENAS - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O LEGADO DE FRAN PAXECO - LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O ÚLTIMO CORTEJO DA RAINHA - RAMSSÉS DE SOUSA SILVA VERGONHA E RENÚNCIA – EDMILSON SANCHES CAFETEIRA – O VERDADEIRO CAMPEÃO DOS JEBS – JOSÉ DE OLIVEIRA ROMA

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MEMÓRIA DA EDUCAÇão FÍSICA, ESPORTES E LAZER Artigos, crônicas, publicadas nas diversas mídias – jornais, revistas dedicadas, blogs – pelo Editor, resgatadas... Serão replicadas na ordem em que escritas e divulgadas.


IDENTIDADES E CULTURAS REGIONAIS E LOCAIS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Palestra apresentada no 22º. ENAREL/2010/Atibaia/SP, 19 de dezembro de 2010 - TEMA: LAZER E HOSPITALIDADE - MESA REDONDA 1: LAZER, HOSPITALIDADE, IDENTIDADES E CULTURAS REGIONAIS E LOCAIS

“Eventos são uma forma inigualável de atração turística”; e megaeventos esportivos são excelentes produtos turísticos. Megaevento pode ser um catalisador de investimentos na infraestrutura urbana e ajudar a dinamizar o turismo e a gerar empregos, mas para poucos segmentos econômicos e sociais, de modo concentrado na cidade sede. Por sua elevada importância para uma cidade, região e país como um todo, com um vasto campo ainda a ser explorado, incentiva o desenvolvimento sócio - econômico local, contribuindo para geração de empregos, rendas e criação de infra-estrutura que beneficia não só o turista, como a população da cidade (TASSIS, 2009). Para Almeida; Mezzadri; e Marchi Junior (2009): Megaeventos são eventos de larga escala cultural (incluindo comerciais e esportivos) que tem uma característica dramática, apelo popular massivo e significância internacional. Eles são tipicamente organizados por combinações variáveis de governos nacionais e organizações internacionais não governamentais e ainda podem ser ditos como importantes elementos nas versões “oficiais” da cultura pública. (ROCHE, 2001, p.). Eventos com grandes proporções conceituam o destino internacionalmente, representando prestigio para os gestores, pois são vistos como formadores de imagem criam um perfil para o destino, posicionando-o no mercado e proporcionando vantagem competitiva. Além disso, o turismo de eventos desempenha um papel importante na economia, possibilitando a implantação de novos negócios, bem como o fomento das micro e pequenas empresas (REIS, 2009). Para o “Programa BRASIL LEGADO 2014-2016” são as ações de caráter social, cidadania, participação, formação e desenvolvimento local, no processo da Copa do Mundo FIFA 2014 e Jogos Olímpicos e Para Olímpicos de 2016, que pretendem contribuir para uma significativa transformação na cidade e nas pessoas, servindo de exemplo, motivação para todo o país e referência para o mundo. Ação integrada de desenvolvimento sócio-econômico baseada nos três pilares do Olimpismo: Esporte, Cultura e Meio Meio-Ambiente. Linha do Tempo (próximos seis anos) 2011 – Jogos Mundiais Militares BRASIL 2012 – Campeonato Mundial de Atletismo Masters – BRASIL 2013 – Copa das Confederações FIFA BRASIL 2014 – Copa do Mundo FIFA BRASIL 2016 – Jogos Olímpicos e Para Olímpicos RIO Brasil Almeida; Mezzadri; e Marchi Junior (2009), servindo-se de uma classificação de Roche (2000) afirmam que os eventos a serem realizados no Brasil podem ser caracterizados da seguinte forma: os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo possuem mercado e mídia globais, considerados por isso megaeventos; os Jogos Militares tem impacto de público internacional em menor proporção, com maior ênfase da mídia nacional; e os Jogos Pan-Americanos têm impacto de mídia internacional em menor proporção, porém com público regional. Ou seja, num intervalo de dez anos, o país sediará sete grandes eventos esportivos, sendo somente dois considerados megaeventos: a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos.


Passemos à discussão. Entendemos aqui cultura como o conjunto de manifestações que dá singularidade a um determinado grupo social, fruto das relações sociais e da profunda interação dos homens com o meio em que vivem. Constitui-se num patrimônio material e imaterial acumulado e transformado ao longo de gerações. Um legado que não se limita a manifestações artísticas, à língua, à religião, mas se nos articula mais variados domínios da produção humana. A cultura confere uma identidade coletiva a um determinado grupo social, espacialmente definido e historicamente determinado. Para Castro (2008), a “memória” consiste na capacidade humana de retenção de acontecimentos, fatos e experiências vividas e na retransmissão deles às novas gerações através de diferentes suportes como a própria voz, a música, a imagem, textos, artesanato, etc. Serve-se de Câmara Cascudo (1971) para definir essa memória, como o alicerce para a identidade regional. Afirma que o conjunto de memórias de uma sociedade tem uma função de convocar tanto o passado quanto o futuro. Tem, portanto, um lado de permanência e outro de produtividade à espera de quem com ela entre em contato. Segundo o autor, “[…] a memória é a imaginação no povo, mantida e comunicável pela tradição, movimentando as culturas convergidas para o uso através do tempo. Essas culturas constituem quase a civilização nos grupos humanos”. Essa memória é que define a origem e identidade do homem, conferindo-lhe também, dignidade. Trata-se de um mecanismo de apoio, que evita que uma localidade fique estagnada no tempo, auxiliando na preservação de fatores como as primeiras regras de vida associativa ou de técnicas de uso cotidiano e de produção tecnológica, lançando-se no mecanismo cumulativo de saber transmitido intra e inter-gerações. Já a identidade, para Castro (2008), é um processo em constante movimento e é o que faz com que o indivíduo reconheça a si mesmo, a priori, como parte de uma identidade coletiva, reconhecendo aos outros como iguais, estabelecendo uma relação íntima ou essencial entre ele e seu grupo. Portanto, a identidade se constrói dentro de um mecanismo que engloba a consciência de si mesmo e o reconhecimento do outro. Assim, a identidade de um povo é o resultado da identidade individual e coletiva estabelecidas pelos membros de uma mesma comunidade. Fábio Lessa (2010), ao fazer uma análise da construção da identidade grega, afirma que “pensar em práticas esportivas e, principalmente, em Olimpíadas nos remete, quase que automaticamente, aos gregos antigos”. Enfatiza esse autor, que o esporte, na Grécia Antiga, se constitui numa prática ritual que atuava na formação do cidadão ideal e na sua demarcação identitária. Cabia às divindades políades a função de regulação social, permitindo a integração dos indivíduos aos grupos sociais. Continuando com Lessa: As pesquisas antropológicas freqüentemente concebem o ritual como elemento de coesão social, servindo ainda para dirimir conflitos ou diminuir rivalidades e ao mesmo tempo para transmitir conhecimento. Roberto DaMatta, por exemplo, afirma que os ritos servem para promover a identidade social (DAMATTA, 1997, p. 29) Marc Augé, em sentido semelhante, destaca que as atividades rituais têm por objetivo essencial a conjugação e domínio da dupla polaridade: individual/coletivo e si-mesmo/outro (AUGÉ, 1999, p. 44-5).

A identidade é relacional e depende de algo de fora dela para se constituir, isto é, da outra identidade. Afirma Lessa (2010): Além de plurais e construídas historicamente, as identidades são constituídas por meio da marcação da diferença, o que significa dizer que a identidade depende da diferença. Afirmar a identidade implica em demarcar fronteiras. Atuam, entre outras coisas, na demarcação dos cidadãos frente aos outros; na explicitação das marcas das diferenças. Podemos mencionar que a questão da identidade, da diferença e do outro é um problema social, porque em um mundo heterogêneo, o encontro com o outro, com o estranho, com o diferente, é inevitável, e ao mesmo tempo, se articula perfeitamente com a dinâmica das práticas rituais. (LESSA, 2010) Ao refletir a identidade local, nos sentidos coletivos e individual, a memória local age reforçando a autoestima. Pollak escreveu A referência ao passado serve para manter a coesão dos grupos e instituições que


compõe uma sociedade, para definir seu lugar respectivo, sua complementaridade, mas também as oposições irredutíveis. Pertencer a uma identidade cultural significa descobrir-se, ser diferente dos comportamentos globais. Por isso, patrimônios culturais intangíveis como as formas de manifestações lingüísticas, de relacionamento, de trabalho com a terra e a tipificidade da culinária, o cultivo e o preparo do vinho, os passos das danças tornaram-se patrimônios da cultura e demonstram a riqueza da relação entre identidade e diversidade da cultura brasileira (REIS, 2009). No século XX a sensação da fragmentação da identidade, da perda das referências culturais, despertou no homem o desejo de “retorno a algo perdido”, ou seja, a necessidade de buscar manifestações culturais que pertencem a seu passado vivo, a comportamentos que deixaram de ser comuns, pois o frenesi contemporâneo exige atitudes da sociedade globalizada: “A preservação do patrimônio tem entre suas funções o papel de realizar “a continuidade cultural”, ser o elo entre o passado e o presente e nos permite conhecer a tradição, a cultura, e até mesmo quem somos, de onde viemos. Desperta o sentimento de identidade. Margarita Barreto defende a “recriação de espaços revitalizados”, como um dos fatores que podem “desencadear o processo de identificação do cidadão com sua história e cultura (Barreto, 2000. p.44)”. Então, ao se buscar a identidade, fatalmente chegar-se-á a quem realmente se é. A essência cultural é o que une os povos, permitindo que se reconheçam como grupo, como coletividade diante de sua diversidade. A identidade irá se concretizar a partir da consciência de que a riqueza das pluralidades culturais, reveladas através da memória coletiva, está inserida no potencial de superação de marcas particulares do indivíduo. Até que ponto é possível conservar essa identidade num mundo marcado pela intensificação de fluxos globais de informação? É possível pensar em mundialização da cultura? Costa (2002) considera haver um “paradoxo das identidades culturais em contexto de globalização”: Porventura, um dos aspectos mais importantes a sublinhar é, justamente, o cruzamento de dinâmicas identitárias que este tipo de contexto urbano cosmopolita proporciona. Cruzamento que se estabeleceu entre cada uma das representações de identidade cultural nacional ali presentes e a representação de uma “síntese global” da multiplicidade cultural planetária; síntese global essa, por sua vez, “localizada” num espaço de representação que se constituiu como referente identitário privilegiado da cidade e da sociedade promotoras. (COSTA, 2002, p. 23) Já Castro (2008) afirma que da globalização cultural emergem novas identidades nacionais, regionais e locais agora com novas abordagens. Vê-se atualmente o ressurgimento das culturas populares com algumas de suas características regionais modificadas para atender um novo mercado de consumo de bens simbólicos em um mundo gerido pelos meios de comunicação, de informação e inclusive, do turismo. No caso do Maranhão, com o qual estou mais familiarizado, isso vem ocorrendo com as manifestações do Bumba-meu-Boi, que vem deixando de ser o pagamento de uma promessa a São João, pelos brincantes do Boi, para se transformar em um negócio, formando-se ‘companhias de dança’, com músicos e dançarinos profissionais. É de todo pertinente o registro de Carlos de Lima: “Aos grupos folclóricos moderninhos que insistem em se autodenominar bumba-meu-boi, apropriaram-se na brincadeira junina tradicional e transformaram-na em um show de TV, espetáculo colorido e esfuziante, agradável aos olhos, senão imitação pelos menos inspirados nos grupos de ‘tchan’ ou nas escolas-de-samba.” (…) “O antigo rebanho agora se chama quadra de ensaio. Os cordões são alas. A dança primitiva e espontânea obedece a uma coreografia ensaiada por experts de ballets. O amo passou a mestre-sala. Os adereços têm grifes de renomados artistas plásticos. Enfim, o boi sofisticou-se.” (…) “Aliás, realçado pelas


reduzidas indumentárias das brincantes que põem em destaque as formas esculturais de verdadeiras modelos. Mas, por que chamá-lo bumba-meu-boi? Por que não classificá-lo, com toda a propriedade e justiça como grupo de dança folclórica, teatro de rua ou coisa equivalente?” O turismo apropria-se de rituais comunitários (alguns dos quais de natureza religiosa) e outros espetáculos dirigidos aos públicos nativos, para convertê-los em shows, muitas vezes aproveitando-se da condição de pobreza dos integrantes dos grupos tradicionais. Aparentemente, essas apresentações seriam interessantes para a divulgação e preservação da cultura popular. O que se verifica, porém, é o estabelecimento de dependência das apresentações ao modelo encomendado pelos órgãos promotores, privilegiando os aspectos visuais do espetáculo, em detrimento da diversidade musical e coreográfica da manifestação folclórica. Além disso, em se tratando de rituais e não de shows, há uma evidente descaracterização de função, da mítico-religiosa para uma função exclusivamente de espetacularização (CASTRO, 2008). Nesse processo de (re) criação e (re) invenção da festa, os rituais, que inicialmente possuíam um caráter quase espontâneo dos valores e das tradições populares dos diversos grupos sociais, vêm sendo apropriados pelos administradores públicos e empresariais, transformando-se em megaeventos, cujo caráter de empreendimento econômico e comercial tornou-se muito acentuado. Uma vez institucionalizados pelo poder público, esses eventos têm assumido a forma de grandes espetáculos urbanos, atraindo pessoas e gerando renda (BEZERRA, 2008). Temos assim que a relação entre o turismo e cultura local é muitas vezes abordada somente na perspectiva econômica. Para o turismo visto como “explorador”, as tradições e o folclore são formas de agregar valor à sua função produtiva. O uso do folclore por esse tipo de turismo abrange a imposição de transformações nas práticas tradicionais, visando a sua espetacularização, para que se torne a manifestação folclórica atraente ao consumo massivo, descaracterizando assim a autenticidade da manifestação popular em si. Concordo com Reis (2009) quando este coloca que a dinâmica dos tempos nos revela que as culturas não se congelam, adaptam-se. As trocas culturais são comuns. Por outro lado, as comunidades que se organizam para revelar seu patrimônio, que assumem sua identidade e que recuperam formas tradicionais de culinária, danças e festas estão tendo oportunidade de revelar para a sociedade globalizada suas diferenças, peculiaridades e modos de comportamento. Está, justamente, no ser diferente que reside a geração de renda, emprego e visualização de que a tradição cultural deve ser encarada como identidade da comunidade, fazendo com que as pessoas não necessitem ser como todos são. Não tenho dúvida de que a cultura globalizada, de que o comportamento tipicamente consumista e capitalista geram impactos, interferem nos comportamentos tradicionais, transforma bens culturais em produtos de consumo. ALMEIDA, Bárbara Schausteck de; MEZZADRI, Fernando Marinho ; MARCHI JUNIOR, Wanderley CONSIDERAÇÕES SOCIAIS E SIMBÓLICAS SOBRE SEDES DE MEGAEVENTOS ESPORTIVOS. In Motrivivência Ano XXI, Nº 32/33, P. 178192 Jun-Dez./2009 AUGÉ, M. Por uma antropologia dos mundos contemporâneos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997, citado por LESSA, 2010, obra citada. BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000, citada por REIS, 2009, obra citada, disponível em http://www.lo.unisal.br/nova/publicacoes/patrimoniocultural.doc BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. Memória, linguagem e identidade – Memória hoje. Morpheus – Revista Eletrônica em Ciências Humanas, ano 02, n. 03, 2003. Disponível em <http://www.unirio.br/cead/morpheus/>. BETTIO, Valéria Maria da Silva. Movimento Brasileiro: crítica e nacionalismo no Modernismo. Porto Alegre: PUCRS, 2000. CASCUDO, Luis da Câmara. Tradição, ciência do povo. São Paulo: Perspectiva, 1971, p. 9, citado por CASTRO, 2008. CASTRO Cláudia Steffens de. Educação para o tursmo: preservação da identidade regional e respeito à cultura imaterial. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2008 Vol. 5 Ano V nº 4, ISSN: 1807-6971, Disponível em: www.revistafenix.pro.br acessado em 09/09/2010 COSTA, António Firmino da. Identidades culturais urbanas em época de globalização. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17 n. 48, fev. 2002, citado por ALMEIDA, Bárbara Schausteck de; MEZZADRI, Fernando Marinho ; MARCHI JUNIOR, Wanderley. CONSIDERAÇÕES SOCIAIS E SIMBÓLICAS SOBRE SEDES DE MEGAEVENTOS ESPORTIVOS. In Motrivivência Ano XXI, Nº 32/33, P. 178-192 Jun-Dez./2009 DAMATTA, R. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997, citado por LESSA, 2010, obra citada.


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O QUE É A CAPOEIRA? Leopoldo Gil Dulcio Vaz Professor de Educação Física – CEFET-MA Mestre em Ciência da Informação

Três notícias do nosso “Jornal do Capoeira” (http://www.capoeira.jex.com.br/) chamaram-me a atenção, André Lacé - CAPOEIRA LUTA - DEBATE ABERTO E FRANCO - Crônica por Andre Luiz Lacé Lopes, tendo-se como foco a Capoeira Luta. Afinal, a Capoeira é ou não uma luta/arte marcial? , e André Lacé - Capoeira :: VALE TUDO, MESTRE HULK E A TGA - Crônica de Mestre André Luiz Lacé Lopes sobre Vale Tudo, Capoeira e Mestre Hulk, com algumas considerações sobre a Teoria Geral da Administração na Capoeira, e Política Pública - Capoeira :: CREF, Confef & Políticas públicas - Dança, Capoeira, Ioga, Artes Marciais e Pilates estão novamente sob ameaça na Câmara dos Deputados.. Miltinho Astronauta, em Nota do editor, assim se manifesta, acerca da ultima notícia: “Recebemos em nossa redação uma "circular" enviada pelo Mestre Cafuné, da Bahia, versando sobre o PL 7.370/2002, proposto pelo deputado Luiz Antônio Fleury (PTB/SP). Pelo teor de tal circular podemos ver que o "lobby" do Sistema CREF/CONFEF continua forte e reinante. Acreditamos ainda que o Congresso Nacional de Capoeira e/ou outros movimentos paralelos e independentes, consigam alguma vitória rápida e rasteira... Seria até interessante que nossos representantes nacionais - Jairo José Junior (CNC) e Gersonilto Heleno de Sousa (CBC)-, ou mesmo internacional (Sérgio Vieira - Federação Internacional de Capoeira - FICA) emitissem, vez ou outra, algum posicionamento do que tem sido feito, e de quais os avanços na causa.... Acredito que este é o momento, pois as eleições estão aí. Embora grande parte dos capoeiristas acreditam que o trem já passou e que ficaremos na estação. A julgar pelo caminhar da carruagem, "adeus viola". Miltinho Astronauta.” A notícia, com o título “Dança, Capoeira, Ioga, Artes Marciais e Pilates estão novamente sob ameaça na Câmara dos Deputados” referia-se à tramitação do Projeto de Lei Nº 7.370/2002, de autoria do deputado Luiz Antônio Fleury (PTB/SP), que acrescenta parágrafo único ao art. 2º da Lei 9.696, de 1º de setembro de 1998, dispondo que não estão sujeitos à fiscalização dos Conselhos Regionais de Educação Física os profissionais de dança, artes marciais e ioga, continua emperrada na Câmara dos Deputados por força do poderoso lobby exercido por setores ligados ao Conselho Federal de Educação Física. O projeto, apresentado em 21 de novembro de 2002 e arquivado em 31 de janeiro de 2003 sem ter sido apreciado em nenhuma comissão foi desarquivado em 21 de março de 2003 - PL 7.370/2002 - e enviado à Comissão de Educação, Cultura e Desporto, onde o deputado Gilmar Machado foi designado seu relator. Em 19 de abril de 2004, o deputado Gilmar Machado devolveu o projeto sem apresentar seu parecer. A Comissão de Educação e Cultura designou então a deputada Alice Portugal para relatar a matéria, que na condição de relatora propôs e realizou audiências públicas para debater o assunto com os diferentes segmentos profissionais e culturais envolvidos. Realizadas as audiências públicas, a deputada elaborou seu parecer, apresentando substitutivo que estabelecia que "Não estão sujeitos à fiscalização dos Conselhos previstos nesta lei os profissionais de dança, capoeira, artes marciais, ioga e método pilates, seus instrutores e academias". O substitutivo da deputada Alice Portugal foi aprovado por unanimidade na Comissão de Educação e Cultura e o projeto foi encaminhado à Comissão de Turismo e Desporto, onde o deputado Josué Bengtson (PTB-PA) foi designado relator. Também nesta Comissão, a despeito das pressões em contrário, o texto da deputada Alice Portugal foi mantido pelo relator, que teve seu parecer aprovado em 4 de maio de 2005. Com a aprovação em duas comissões temáticas, o Projeto de Lei nº 7.373/2002 seguiria então para a Comissão de Constituição e Justiça, onde poderia ser aprovado em caráter terminativo. Porém, antes da distribuição da matéria para a Comissão de Constituição e Justiça, o deputado Gilmar Machado (PT/MG) e o deputado Cláudio Cajado (PFL/BA) apresentaram requerimento solicitando que o projeto fosse apreciado também pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público. Acatados os requerimentos, o PL 7.370/2002 foi remetido em 20 de maio de 2005 à Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, onde o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB/SP) foi designado relator. Aberto o prazo para a apresentação de emendas, estranhamente foram apresentadas emendas modificativas exatamente iguais, tanto no conteúdo das modificações propostas, quanto nas justificativas apresentadas. Os autores das emendas são os


deputados Cláudio Cajado (PFL/BA), Alceu Colares (PDT/RS), Laura Carneiro (PFL/RJ), André Figueiredo (PDT/CE), Nelson Marquezelli (PTB/SP), Mário Maia (PT/RS) e Tacísio Zimmermann (PT/RS). As emendas apresentadas por esses parlamentares estabelecem que as atividades de dança, artes marciais, ioga, capoeira e método plilates, "praticadas com características desportivas e/ou com o cunho de exercícios, na busca de condicionamento físico", ficarão sujeitas à fiscalização do Conselho Federal de Educação Física. Aqui, no Maranhão, há uma discussão por parte dos Capoeiras – Angolas e Regionais – se a Capoeira é cultura ou esporte. Os Angolas a querem como cultura – fazem parte da cultura corporal do povo maranhense, e suas apresentações – rodas – devem fazer parte do calendário da Secretaria de Cultura e inseridas nos diversos eventos culturais, inclusive com acesso às verbas e subsídios para esse fim ; os Regionais querem-na como Luta, e disputada em Torneios e Campeonatos de Capoeira – roda -, além de – já incluída – nos Jogos Escolares Maranhenses; também reivindicam acesso às verbas da Cultura, além das do Esporte... Se – e não estou defendendo o Sistema Confef/Cref – for praticadas com características desportivas e/ou com o cunho de exercícios, na busca de condicionamento físico então é atividade de Educação Física ... e os seus profissionais devem estar sujeitos as formas da Lei. E isso vai depender de qual definição para “Capoeira” se adota. Dependendo dela é que se vai caracterizar a CAPOEIRA... a) “Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada”. Federação Internacional de Capoeira FICA1 b) “um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança, esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica”. (VIEIRA, 2005).2 A “regulamentação” da Capoeira como atividade física – portanto passível de profissionalização - dá-se nas primeiras décadas do século passado. Segundo REIS (2005)3 foram nos anos 30 e 40, em Salvador, que se abriram as primeiras "academias" com licença oficial para o ensino da capoeira como uma prática esportiva. Destacando-se dois mestres baianos negros e originários das camadas pobres da cidade, Bimba e Pastinha. Mestre Bimba, criador da capoeira Regional Baiana, não verá nenhum inconveniente em "mestiçar" essa luta, incorporando à mesma movimentos de lutas ocidentais e orientais (tais como Box, catch, savate, jiu-jitsu e luta greco-romana). Por outro lado Pastinha, contemporâneo de Bimba e igualmente empenhado na legitimação dessa prática, reagindo àquela "mestiçagem" da capoeira, afirmando a "pureza africana" da luta, difundindo o estilo da capoeira Angola e procurando distingui-lo da Regional. Para REIS (2005), Bimba e Pastinha elaboraram, através da capoeira, estratégias simbólicas e políticas diferenciadas que visavam, em última instância, ampliar o espaço político dos negros na sociedade brasileira e propõem dois caminhos possíveis para a inserção social dos negros naquele momento histórico4:

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Aprovados em Assembléia Geral de fundação da Federação Internacional de Capoeira - FICA - ocorrida por ocasião do I Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado nos dias 03, 04, 05 e 06 de junho de 1999 na Cidade de São Paulo, SP, Brasil, revisados na Assembléia Geral Extraordinária ocorrida na Cidade de Lisboa, Portugal, em 02 de julho de 2001 e pelo II Congresso Técnico Internacional de Capoeira, realizado na Cidade de Vitória, ES, Brasil, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2001 2 VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. 3 REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). 4 In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005. Grifos meus).


“A capoeira "mestiça" representada pela capoeira Regional. Embora incorpore elementos de lutas ocidentais, a capoeira Regional guarda elementos que reafirmam a identidade étnica negra nas músicas, nos toques do berimbau e nos próprios movimentos que, conforme depoimento de mestre Bimba, são provenientes também do batuque e do maculelê (Rego, 1968:33). Assim, a capoeira Regional, ao colocar em contato sistemas de valores distintos e, portanto, construções corporais distintas (os movimentos corporais brancos e os negros), opera uma mediação, criando um campo simbólico ambíguo e ambivalente: (a) A capoeira Regional seria uma afirmação de identidade que é mais ampla que a da capoeira Angola pois afirma não a existência do negro excluído da sociedade branca mas sua presença enquanto parte da sociedade brasileira e, finalmente, enquanto símbolo da nação como um todo. (b) tem no ecletismo de que faz prova (por exemplo, a incorporação de elementos de outras formas de luta e a nova racionalidade na maximização dos efeitos dos golpes) um elemento de dinamismo que permite a construção de uma nova presença negra no cenário nacional. (c) tem um preço a pagar por tudo isso, no plano político, que significa renunciar à afirmação de uma diferença na "identidade negra". “A capoeira Angola, em contrapartida:(a) a capoeira “pura”, como forma inequívoca de afirmação da identidade étnica. A capoeira Angola, em sua própria designação, reafirma peremptoriamente sua origem étnica e, ao "conservar" a construção corporal negra, demarca uma forma culturalmente distinta de jogar capoeira.(b)existindo como resistência no momento de inclusão do negro na sociedade brasileira, só é revalorizada como reafirmação dessa mesma resistência em função da recuperação de uma "identidade negra" específica no cenário nacional, no bojo da construção política (contemporânea) de uma "consciência negra". (c) essa construção só se torna possível a partir de uma postura "conservadora", que reinventa a tradição e só se mantém com a recuperação simultânea dos outros elementos que, no plano simbólico, organizam essa "visão de mundo negra" (como por exemplo, a afirmação da origem africana da capoeira a partir do ritual de iniciação denominado dança da zebra ou "N'Golo"). Taffarel (2004)5 levanta como possibilidade histórica a responsabilidade social dos capoeiristas – enquanto produtores associados, intelectuais orgânicos –-, na construção de uma nova cultura - a cultura socialista -, o que exige rigorosa consideração da teoria do conhecimento e teoria pedagógica que subsidia, constrói e consolida a práxis capoeirana, responsável também pela sociabilização da classe trabalhadora. A Autora traz como dados empíricos da inserção da capoeira em tais complexos econômicos – empresariamento, mercadorização, esportivização, espetacularização, privatização da capoeira - as discussão sobre produção do conhecimento, formação de mestres e professores, políticas públicas e sobre ética e violência, exemplificando a ação do sistema CREF/CONFEF interferindo na cultura e na economia popular contribuindo para a destruição das forças produtivas. Afirma a ilustre Professora-Doutora em Educação Física, manifestando sua contrariedade pela perda que a mercantilização da capoeira representa para os valores culturais da própria Humanidade, justificando sua fala: “Para contribuir com a reflexão da temática proposta neste ano “Capoeira a Serviço do Social ou do Capital?” apresentei o tema CAPOEIRA E PROJETO HISTÓRICO expondo dados da realidade sobre a destruição das forças produtivas, enquanto tendência do modo do capital organizar a vida e suas expressões na capoeiragem. Levantei a tese de que a capoeira está em franca degeneração e decomposição de seus valores genuínos - capoeira patrimônio da humanidade - quando subsumida ao modo do capital de produzir mercadorias para usá-las e trocá-las em relações capitalísticas. Procurei demonstrar que as abordagens da questão da capoeira centradas na ética, na ciência, na educação, na compreensão de cultura popular e, na normatização/monitorização reguladas pelo Mercado, pelo Estado e Comunitária são limitadas quando desprovidas da referencia de um projeto histórico explicito, superador do modo do capital organizar a produção – uso e troca de mercadorias.”. Essa Autora levanta algumas teses, com base na economia política, para poder compreender as relações estabelecidas no âmbito da cultura e o processo atual de destruição, decomposição e degeneração da 5

TAFFAREL, Celi Zulke. Capoeira e projeto histórico. In VI SIMPÓSIO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE CAPOEIRA - VI SNUC, Florianópolis-SC - 12, 13 e 14 de novembro 2004, Universidade Federal de Santa Catarina - Temática do evento: Capoeira a Serviço do Social ou do Capital!?


capoeira (primeira hipótese); A segunda hipótese que a Autora levanta é a da destruição das forças produtivas – trabalho, trabalhador, meio ambiente, cultura – dentro do que se localiza a destruição, degeneração, decomposição da capoeira, enquanto uma produção social, historicamente acumulada. A terceira hipótese, é que a maioria dos estudos sobre capoeira faz referência à ética em uma sociedade contraditória e altamente violenta, recorrência esta que necessita ser questionada porque desarticulada do projeto histórico alternativo ao modelo do capital. A quarta hipótese, é de que uma nova cultura capoeirana, uma genuína práxis capoeirana, exige sintonia com uma novo projeto histórico e será reconhecida na organização do trabalho pedagógico de construção da cultura, com nexos e implicações em uma dada teoria do conhecimento e teoria pedagógica e em um projeto histórico superador do projeto capitalista. Um outro autor, Hajime Nosaki (2004)6, ao tratar das relações de trabalho no campo profissional da Educação Física, dentro do sistema Sistema CONFEF/CREF apresenta elementos acerca do reordenamento do trabalho do professor de educação física, da regulamentação da profissão e da disputa de projetos históricos. A Regulamentação da profissão veio para “regulamentar a terra de ninguém”. Isto significou que o ensino de todas as praticas corporais, entre as quais a capoeira, passaram a ser exclusividade de quem tem a carteira do CONFEF. Ou seja, o desenvolvimento de um relevante bem social, a capoeira, passa a ser propriedade privada da educação física. Com base na analise do mundo do trabalho são apresentados elementos mediadores entre o movimento mais geral do capital e a especificidade do trabalho na educação física e particularmente a questão da regulamentação da profissão, exigência do mercado do trabalho e, portanto, do capital e sua estratégia de reordenamento para manutenção da hegemonia. São apresentados dados concretos sobre o Conselho Federal de Educação Física, resgatando-se elementos históricos desde as primeiras intenções presentes nas Associações de Professores até a legalização dos Conselhos pela aprovação da Lei 9696/98 que encontrou sua base de sustentação na Lei 9649/98 – principalmente em seu artigo 58 que transforma conselhos profissionais em entidades privadas. Hajime nos apresenta dados sobre a ingerência de tais conselhos juntos aos trabalhadores de educação física, aos trabalhadores de outras áreas, tanto na formação quanto na qualificação.A ação inibidora do Sistema CREF/CONFEF está contribuindo para atacar a cultura e destruí-la, tornando a ação de construção da cultura um monopólio exclusivo de professores de educação física. Isto diz respeito a reserva de mercado. Com isto somem culturas, trabalho, trabalhador. ENGELS em “Do socialismo utópico ao socialismo cientifico” (pg.19) já afirmava: “Quando nos detemos a pensar sobre a natureza, ou sobre a história humana, ou sobre a nossa própria atividade espiritual, deparamo-nos, em primeiro plano, com a imagem de uma trama infinita de concatenações e influências recíprocas, em que nada permanece o que era, nem como e onde era, mas tudo se move e se transforma nasce e morre.”. A isto está sujeita a capoeira, enquanto pratica, conhecimento, profissão, formação, mercadoria. Como Taffarel (2004), aceitamos que a capoeira é um dos fenômenos sócio-culturais da alta relevância no Brasil e constitui o processo civilizatório7, e que hoje: “... está situado dentro da divisão social internacional do trabalho e portanto, neste momento histórico sofre também o processo de degeneração, decomposição e destruição.” Isto é visível quando observamos o empresariamento da capoeira internacionalmente – no sistema de franquias. A mercadorização da capoeira, vista nos empórios e centros turísticos, a espetacularização da capoeira visita na mídia e nos fantasiosos espetáculos. Na esportivização da capoeira, na construção de confederações, federações com finalidades competitivas, necessidade imperiosa do capital. O que é a Capoeira? Um PRODUTO CULTURAL ou uma MERCADORIA?

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NOZAKY, Hajime. EDUCAÇÃO FÍSICA E REORDENAMENTO NO MUNDO DO TRABALHO: MEDIAÇÕES DA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO. Tese Doutorado. Universidade Federal Fluminense, 2004. 7 ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. DEPORTE Y OCIO EM EL PROCESO DE LA CIVILIZACION. México : Fundo de Cultura Econômica, 1992


AtlAs dA CApoeirAgem no BrAsil Maranhão e o "AgArre MArAjoArA" Nota do Editor:

Sem Diagnóstico não se faz Planejamento sério e eficaz. Sem diagnóstico, portanto, será temerário lançar um Plano Nacional, muito menos um Plano Mundial para a Capoeiragem. Salvo se o plano mágico for decidido entre quatro paredes em função de uns poucos iluminados. Mas, neste caso, será mais um plano pretensioso, sem representatividade nem legitimidade. Raciocínio que serve, também, para os freqüentes congressos nacionais e internacionais que, em função de um pequeno grupo de vestais, pensam que vão resolver todos os problemas da capoeiragem. Salta aos olhos que, mais do que nunca, é hora de um grande diagnóstico, bairro a bairro, cidade por cidade, estado por estado. Precisamos saber a história e a estória locais, de cada região, precisamos saber ao certo o perfil sócio-econômico dos nossos mestres e contramestres, precisamos descobrir as diversas capoeiras que tenderão a morrer esmagadas pelas grifes mais poderosas. Não se trata de um sonho impossível, agora mesmo, a Escola e Educação Física e Desporto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (que vai prestar grande e longa homenagem ao Mestre Artur Emídio de Oliveira) começa a estudar a viabilidade de assumir um projeto desses em relação ao Estado do Rio de Janeiro. O melhor exemplo, entretanto, até porque já está em marcha, vem do Maranhão. Quem já ouviu falar sobre o Agarre Marajoara? Pois muito bem, informação como esta, valiosa, começa a vir à tona, através do extraordinário trabalho que vem sendo coordenado pelo Professor Leopoldo Vaz, em São Luis do Maranhão. Daí porque, a seguir, tomo a liberdade de transcrever o e-mail que dele acabo de receber. Miltinho Astronauta ----- Original Message ----From: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Subject: CAPOEIRA NO MARANHÃO Caro Milton Cezar Ribeiro - Miltinho Astronauta / Jornal do Capoeira Já retornei de Caratupera, região do Alto Turi, fronteira com o Pará ... conversei com alguns capoeiras da área - Caratupera e Maracassumé - que estão ligados ao Pará, attravés do Mestre Zeca ... não consegui informações, ainda, sobre a "capoeira carioca", pois, muito jovens não conhecem a história da região. Turiaçu fica bem próximo de Carutapera, na mesma região do Turi ... O grupo de Carutapera denomina-se ACANP - Associação Capoeira Arte Nossa Popular - fundada por Mestre Zeca, de Belém do Pará - Jose Maria de Matos Moraes (33 anos) -, que atua em duas escolas - Escola Valter Leite, do município e outro grupo no Abrigo João de Deus Mantém vários grupos atuando na região do Alto Turi, no Maranhão, e em outras localidades do Pará, alem de Belém.


Em Carutapera a ACANP mantém cerca de 40 alunos, de idade entre 05 e 16 anos, liderados pelo Monitor Canela - Donaldo Conceição (27/04/82) - da cidade de Maracassumé, onde mantém outro grupo; em Carutapera, o núcleo foi fundado em 23/03/2002, e é dirigido por Reginaldo Tavares (23/03/76) - Estagiário Verdão - e conta ainda com Jose Nilson da Silva (25/05/78) , na capoeira, Batizado Nanico. A ACANP é filiado aa Federação Paraense de Capoeira - e o estilo praticado é o "Angola com Regional", estando desenvolvendo, em Maracassumé, e introduzindo em Caratupera, o estilo desenvolvido pelo Mestre Zeca, que denominam de "Onça Pintada" - que seria uma fusão da Regional com o Agarre Marajoara. O pessoal já manteve contato com a federação Maranhense, de Mestre Bae e Mizinho e é visitada por Mestre Índio Maranhão, mas foi recomendado que se mantivessem em contato com o Pará, devido aa distância ... De acordo com Álvaro Adolpho, de Belém do Pará, ex-diretor do Departamento de Educação Física do Pará, o "Agarre Marajoara" é uma luta desenvolvida pelos índios da Ilha do Marajó - que guarda uma certa semelhança com o Aku-Aku - havendo registro de sua pratica ha mais de 300 anos. De acordo com o Prof. Álvaro, talvez seja a primeira luta-esporte com registro de sua pratica no Brasil. Existem estudos sobre isso, que ficou de mandar, assim como o grupo de Carutapera ficou de enviar um histórico do grupo,com essa historia da capoeira local ... Leopoldo Vaz Professor de Educação Física do CEFET-MA ........................................................................................

http://geocities.yahoo.com.br/terrabrasileira/ritos/kuarup.html & site do Ministério dos Esportes


FRAN PAXECO – UM DOS PROPUGNADORES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IF-MA / IHGM / ALL vazleopoldo@hotmail.com RESUMO – Ao estudar a introdução da Educação Física/Ginástica no Maranhão, encontra-se o portugues Fran Paxeco como um dos incentivadores. Miguel Hoherann, o primeiro Diretor da Divisão de Educação Física do Estado expediu um diploma ‘aos propugnadores da educação física’, estando o consul portugues entre os agraciados. Anos depois, quando da realização do I Congresso Pedagógico do Maranhão, 1922, Fran Paxeco inclui a Educação Física como uma área a ser estudada, buscando sua regulamentação nas escolas públicas. EDUCAÇÃO FÍSICA. MARANHÃO. FRAN PAXECO

Manuel Fran Paxeco (nascido Manuel Francisco Pacheco), mais conhecido como Fran Paxeco (Setúbal, 9 de Março de 1874 — Lisboa, 17 de Setembro de 1952) foi um jornalista, escritor, diplomata e professor português; cônsul de Portugal no Maranhão, no Pará, em Cardiff e em Liverpool. Chegou a São Luís do Maranhão em 2 de Maio de 1900, sendo autor de diversas obras sobre temas de interesse para a região. Primeiro ocupante da Cadeira 14 do IHGM, patroneada por Antonio Bernardino Pereira do Lago, o seu amor pelo Maranhão levou-o a recusar transferências para postos da carreira diplomática muito mais prestigiosos que o consulado de São Luís do Maranhão. Fica mais de 20 anos no Brasil, período durante o qual empenhou muitos esforços para desenvolver as relações literárias entre os dois países. Em Setembro de 1902 é convidado para sub-secretário da Associação Comercial do Maranhão. Organizou, por exemplo, um congresso literário luso-brasileiro em 1903. A 21 de Agosto de 1911 é nomeado cônsul de Portugal no Maranhão por Teófilo Braga (Chefe do Governo Provisório da República Portuguesa). De Novembro de 1913 a Fevereiro de 1914 está no Rio chamado pelo primeiro Embaixador de Portugal no Brasil, Bernardino Machado para o secretariar; em 1916 publica "Angola e os Alemães" e segue para Lisboa onde chega a 27 de Maio para ocupar entre outros cargos o de secretário particular do Presidente da República, Bernardino Machado, mas continuando como cônsul de Portugal no Maranhão (tinha sido promovido a cônsul de 2ª classe em 4 de Julho de 1914). Exerce as funções de secretário da Comissão Portuguesa de Acção Económica contra o inimigo e da Comissão de Fomento da Exportação Portuguesa. Em 1919 vai ao Pará resolver a “Questão dos Poveiros” o que conseguiu com êxito. A 18 de Agosto de 1919, em reunião de professores da Faculdade de Direito do Maranhão, propõe a realização do Primeiro Congresso Pedagógico do Maranhão, o que veio a realizar-se no ano seguinte. Em 8, 28 e 31 de Janeiro de 1920, houve sessões preparatórias. A sessão inaugural teve lugar a 22 de Fevereiro. Em São Luis, no mês de agosto de 1922 recebe Sacadura Cabral, festejando a travessia aérea do Atlântico Sul; em 1923 o encontramos em Belém do Pará como cônsul, lugar que deixa em Junho de 1925, quando volta para Lisboa; em 1927 vai para Cardiff, desempenhar idênticas funções diplomáticas. Escreve "Portugal não é Ibérico". Faz parte da "South Wales Branch" da Ibero American Society, contribuindo para


que o nome fosse mudado para "Hispanic and Portuguese Society". Com o cônsul do Brasil consegue abrir e manter no Technical College uma cadeira de língua portuguesa; No ano de 1933 está de volta a Lisboa ocupando a Direcção Geral dos Serviços Centrais do Ministério dos Estrangeiros. A 24 de Novembro já está em Liverpool a cumprir mais uma missão diplomática onde se mantém até 1935, quando regressa a Portugal, de onde nunca mais saíu. É perseguido pelo Estado Novo, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros nunca mais lhe atribuíu nenhuma missão diplomática (graças ao Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Teixeira de Sampayo, monárquico convicto), o que muito o fez sofrer. 1939, um AVC com graves sequelas: fica sem fala, sem poder escrever e paralítico, as suas grandes formas de comunicação como grande orador e escritor que era. A Biblioteca do Grémio Literário Português em Belém do Pará e a Praça do Comércio em São Luís do Maranhão têm o seu nome. O seu nome encontra-se presente nas toponímias de Setúbal, de São Luís do Maranhão e de São Paulo. Foi fundador da Academia Maranhense de Letras, da Faculdade de Direito, da Universidade Popular, do Centro Republicano Português, do Instituto de Assistência à Infância, do Casino Maranhense, da Associação Cívica Maranhense, da Câmara Portuguesa do Comércio, da Oficina dos Novos, da Legião dos Atenienses, participou do revigoramento e reorganização da Associação Comercial do Maranhão, entre outros organismos, todas as iniciativas relevantes. Profere palestras literárias, cortejos e homenagens cívico-culturais, luta por modernos meios de transporte, pelo incentivo à agropecuária, pela criação de um parque industrial, pela melhoria dos serviços de saúde, pela urbanização da cidade. E tudo isso de par com atividades no magistério público e particular, com diuturna atuação na imprensa, com viagens e trabalhos na Amazônia, com a publicação de livros, com idas ao Rio de Janeiro e a Portugal. Na imprensa maranhense deixou uma colaboração tão diversificada e ao mesmo tempo copiosa, que ainda hoje aguarda e reclama a seleção temática da qual resultarão seguidos volumes de interesse para o estudo da vida maranhense. Tais volumes viriam somar-se às obras maranhenses desse autor de vasta bibliografia que compreende assuntos tão variados quanto foram os campos de interesse de seus estudos. Casou com Isabel Eugénia de Almeida Fernandes, natural de São Luís do Maranhão, de quem teve uma filha, Elza Paxeco, primeira senhora doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. PROPUGNADOR DA EDUCAÇÃO FÍSICA Djard MARTINS (1989) registra que com o nascimento das atividades esportivas no Maranhão, o hábito de repousar nos fins de semana é substituído pelas festas, corridas de cavalo, partidas de tênis, regatas, corso nas avenidas, matinês dançantes, e pelo futebol. A “gymnástica” era praticada pelas elites, que tomavam aulas particulares, conforme se depreende de anúncios publicados nos jornais. O Euterpe, fundado em 1904, também passou a difundir atividades esportivas, como o “tiro ao alvo“, tênis, o tênis de mesa (ping-pong), etc. Nessa primeira década do século XX, a juventude maranhense estava principiando a entender o quanto era importante praticar esportes e desenvolver a formação física. Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." (MARTINS, 1989). Em 1911, Miguel Hoerhan ministrava “exercícios de gymnastica sueca, de esgrima, de espada e florete” no Colégio Militar – Rio de Janeiro. É listado junto com outros professores – “dirigidos pelos instructores professor Miguel Hoerhan, tenente Migrel Ayres e capitão Valério Falcão” – durante visita dos membros do Conselho Superior de Ensino. (Diário Oficial da União (DOU) de 12/08/1911), Pg. 14. Seção 1). Para Karina Cancella (2012) a prática esportiva em meio militar foi intensificada na virada do século XIX para o XX sob o argumento de que para a estruturação de Forças Armadas era fundamental o desenvolvimento físico do pessoal militar. Estas atividades eram consideradas importantes para a formação


não somente de militares mais preparados, mas também de potenciais “soldados-cidadãos” e “cidadãosmarinheiros” entre os praticantes civis. Identificado Fran Paxeco com o Maranhão, vemos que no referido diploma de mérito consta ‘aos propugnadores da educação physica’ e está assinada por Miguel Hoerhann, passado em 18 de maio de 1904.

O que nos chama atenção, são elementos icnográficos que aparecem no Diploma: na bandeira com as cores nacionais (verde e amarela) onde está impresso os “4Fs”, traduzidos na parte de baixo, esquerda, do referido diploma como ‘Firme, Forte, Franco, Fiel”.

Mazo e Gaya (2006), ao estudar as associações esportivas de Porto Alegre-RS trazem que nas bandeiras adotadas por essas associações sempre havia a inscrição dos quatro “efes” posicionados no formato quadrangular: frish, fromm, frölink e frei, que significavam, respectivamente: saudável, devoto, alegre e livre. Os “efes” também eram encontrados em todas as bandeiras desportivas da Alemanha. Em Porto Alegre a bandeira da Turnerbund reproduziu o símbolo dos “efes”, além da simbologia da insígnia com as datas históricas do turnen. Afirmam que a adoção de símbolos e exaltação dos heróis alemães aparecia nos uniformes da Turnerbund, símbolos que identificavam a pátria de origem. (MAZO e GAYA, 2006). Traz ainda imagens de ginástica sendo executadas em diversos aparelhos, em claras referencias ao turnen – movimento criado por Friedrich Ludwig Jahn, pedagogo alemão, além de ativista político. A utilização de discursos esportivos para a difusão de ideias e sentimentos nacionalistas tem um significado histórico: Está relacionada com a identificação de um esporte com os interesses e desejos de um determinado grupo social que pode ser uma etnia, uma classe, etc., ou um conjunto mais heterogêneo representado numa nação. Compreendo a nação como


sendo uma entidade que se insere no final de um processo de construção de símbolos e convenções de identificação nacional, ocorrido em diversos países da Europa e da América, iniciado a partir do final do século XVIII até fins do século XIX e início do século XX (HOBSBAWM, 1990). Nesse contexto o esporte tornou-se um dos mecanismos do nacionalismo que contribuíram para a construção da identidade nacional. Fran Paxeco idealiza e organiza o Primeiro Congresso Pedagógico do Estado do Maranhão entre o final de 1919 e início de 1920: Por estes dias, reunidos em sessão pedagógica da Faculdade de Direito, o diplomata português Fran Paxeco, presidente administrativo do Instituto da Assistência à Infância, diretor-geral do jornal local “A Pacotilha”, professor da Faculdade de Direito no Estado do Maranhão e lenthe da Congregação do Lyceu Maranhense, propôs aos colegas bacharéis e docentes do Instituto Superior acima mencionado a realização de um Congresso Pedagógico para apresentar teses e reflexões sobre a instrução pública maranhense, suas limitações e possibilidades. (OLIVEIRA, 2012)59. O QUE DIZ O DIPLOMA DE FRAN PAXECO “Não é sem grande risco da futura humilhação e grave comprometimento da nossa raça que poderá continuar a indiferença, o abandono e desprezo da educação física da infância do Brasil”. Dr. Eduardo de Magalhães”. “Concedido ao Exmo. Sr. Fran Paxeco pela propaganda literária que tem feito a favor da Educação Física”. “Para que uma raça se assinale na história como um fator poderoso de civilização e de progresso, para que possa distinguir-se pelo seu amor enérgico e viril à liberdade e à gloria, é preciso que a educação física do homem seja objeto de serias preocupações e desvelado cuidado. “O Diretor de Educação Física “(MIGUEL HOERHANN) “Maranhão, 18 de maio de 1904”. Dos documentos que consultamos, não encontramos referencias de sua participação em atividades esportivas realizadas no período de 1902-19, quer como atleta, quer como organizador ou homenageado. Ainda... Mas encontramos propostas referentes à Educação Física no I Congresso Pedagógico, por ele proposto (1919) e organizado (1920). Temos um diploma de mérito concedido a Fran Paxeco, ainda em 1904, “pela propaganda literária que tem feito a favor da Educação Física”. Quanto a Miguel Horhann, apenas aquela referencia de Dejard Martins: “Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física.”



ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO Replicando os capítulos do Atlas do Esporte do Maranhão, em sua versão atualizada, até o presente momento, e ainda em construção. A partir daqui, as atualizações serão acrescidas em postagens adicionais, e depois incorporadas no texto definitivo, na medida em que novas descobertas se apresentarem.


JOGOS TRADICIONAIS INDIGENAS Leopoldo Gil Dulcio Vaz Por definição do Atlas do Esporte no Brasil (2005, p. 33/34), são atividades corporais com características lúdicas, pelas quais permeiam os mitos e os valores culturais, que requerem um aprendizado específico de habilidades motoras, estratégias e/ou chances. Visam, também, a preparação dos jovens para a vida adulta, a socialização, a cooperação e/ou a formação de guerreiros, ocorrendo em períodos e locais determinados, com regras estabelecidas, não havendo limite de idade para os jogadores. Em diferentes culturas e diferentes épocas houve alguma forma de manifestação do movimento representado pela corrida e esta sempre teve, primeiro, um caráter de sobrevivência. Ritualizada, passa a fazer parte da cultura onde representa os valores e as normas sociais, o mesmo ocorrendo quando levada para a esfera do lazer (lúdico). CATHARINO, José Martins, ao fazer uma análise do “Trabalho índio em terras de Vera ou Santa Cruz e do Brasil” (Rio de Janeiro : Salamandra, 1995), refere-se, dentre esses trabalhos a dois que nos interessam particularmente: “O trabalho desportivo” e “O Trabalho locomotor”. Ao analisar o trabalho desportivo, considera que nesse mundo, antes da chegada dos brancos, a sobrevivência exigia qualidades atléticas, exercícios constantes, com descanso e repouso intercalados, de duração sumamente variáveis. Por isso, os índios se tornavam atletas naturais, para sobreviver, pois tinham que, em terra, andar, correr, pular, trepar, arremessar, carregar, e, na água, nadar, mergulhar e remar. Realizar trabalho-meio, autolocomotor, com suas próprias forças, apenas e/ou, também, com auxílio de instrumentos primitivos, para obtenção de produtos necessários: “Entre prática guerreira e desportiva há um nexo de causalidade circulativo, proporcionalmente inverso. Mais prática desportiva, menos guerra. Mais guerra, menos aquela. Causas produzindo efeito repercutindo sobre a causa. Nexo fechado, de recíproca causalidade e efeito. O trabalho-meio, autolocomotor, servia de aprendizado e adestramento – atlético que era – ao competitivo”. Entre a infância e a puberdade, e a adolescência e a virilidade ou maioridade, entre os 8 e 15 anos, a que chamamos mocidade, os kunnumay, nem miry nem uaçu, tomavam parte no trabalho dos seus pais imitando o que vêem fazer. Não se lhes manda fazer isto, porém eles o fazem por instinto próprio, como dever de sua idade, e já feito também por seus antepassados: “Trabalho e exercício, esses mais agradáveis do que penosos, proporcionais à sua idade, os quais os isentava de muitos vícios, aos quais a natureza corrompida costuma a prestar atenção, e a ter predileção por eles.Eis a razão porque se facilita à mocidade diversos exercícios liberais e mecânicos, para distraí-la da má inclinação de cada um, reforçada pelo ócio mormente naquela idade”. Após essas explicações, o Autor informa que essa seção – o trabalho desportivo – é dedicada ao trabalho competitivo entre índios, embora caçando e pescando, competissem amiúde com outros animais, considerados irracionais, o que faziam desde a infância. Sem falar nos jogos educativos: “... jogos e brinquedos (Métraux) dedicou um só parágrafo, quase todos graças a d’Evreux, acerca dos feitos pelos Tupinambás. “Tratava-se de ‘arcos e flexas proporcionais às suas forças’. O jogo, educativo para a caça, pesca e guerra, era possível porque reunidos plantavam, e juntavam cabaças, que serviam de alvo, ‘adextrandoassim bem cedo seus braços’. Assim, brincavam os meninos de 7 a 8 anos. Kunumys-mirys. As meninas, na mesma faixa etária, Kugnantins-myris, além de ajudarem suas mães, faziam ‘uma espécie de redesinhas como costuma por brinquedo, e amassando o barro com que imitam as mais hábeis no fabrico de potes e panelas’. Ao descrever as atividades da educação física no Brasil colonial, MARINHO (s.d.) afirma serem a "pesca, a natação, a canoagem e a corrida a pé processos indispensáveis para assegurar a sobrevivência de nossos índios". Os primeiros registros de atividades corporais, no Maranhão, datam da chegada dos franceses, em 1612, e aparecem nas crônicas de Abeville e deEvreux. 1614 – “História da Missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas”, por Claude d´Abbeville, publicada pela primeira vez em 1614. 1864 – “Viagem ao norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614”, por Yves D´Evreux, publicada pela primeira vez em 1864.


CORRIDAS Desde 3.000 a.C – as corridas (Atletismo) aparecem no Maranhão anterior ao período colonial, através da Corrida de Toras – pertencente ao grupo de provas de revezamentos – dos Índios Kanelas Finas – pertencente à etnia Jê, presentes por estas terras há pelo menos cinco mil anos. A ocupação do território maranhense se deu através de três correntes migratórias - Lácidas, Nordéstidas e Brasílidas, nessa ordem. Os Lácidas, descendentes dos australóides, atingem o Maranhão. Das famílias lingoculturais suas descendentes, destaca-se a JÊ, grupo mais populoso; de maior expansão territorial; e de melhor caracterização étnica. Os Jês caracterizam-se pela ausência da cerâmica e tecelagem, aldeias circulares, organização clânica e grande resistência à mudança cultural, mesmo depois de contato, como se observa entre os Kanelas, ou RANKAKOMEKRAS como se denominam os índios da aldeia do Escalvado (DICKERT & MEHRINGER, 1989). Os Jê são conhecidos no Maranhão com a denominação de "TIMBIRAS", e se dividem em dois ramos principais, segundo seu habitat - Timbiras do Mato e Timbiras do Campo -, estes apelidados de canelas finas "pela delicadeza de suas pernas e pela velocidade espantosa que desenvolvem na carreira pelos descampados", conforme afirma TEODORO SAMPAIO (1912, apud CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p. 41), confirmando SPIX e MARTIUS (1817, citados por CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p.59) quando afirmam, sobre os Canelas, "... gaba-se a sua rapidez na corrida, na qual igualariam a um cavalo.". 1946 - NIMUENDAJÚ estuda os Kanelas, e descreve a corrida de toras como sendo uma forma de honrar as almas mortas. 1964 - SCHULTZ segue a interpretação de NIMUENDAJÚ (1946), em suas investigações sobre os Krass, mas enfatiza também o "caráter esportivo". Os RANKAKOMEKRAS confirmam que a tora seria uma alma dos mortos. Mas "... a alma do morto (megaro) teria se transformada numa moça e agora se encontraria na palmeira Buriti...". 1969 – STAHLE, ao estudar os Kanelas, encontrou a corrida de toras como "culto da morte", pois "...todas as toras são consideradas 'representantes dos mortos' e a corrida de toras possibilita uma 'ressuscitação das toras como forma de garantia da vida para além da morte para os mortos"; estabeleceu que a época das corridas corresponderia ao início das chuvas. 1984 - JUNG & BRUNS ao analisarem os aspectos rituais das corridas de longa duração em diferentes culturas e épocas afirmam ser " uma outra forma de corrida religiosa ... a chamada corrida do tronco dos índios Jês no Brasil meridional ... A corrida podia ser um rito ou também ter caráter profano. Os participantes podiam ser homens, mulheres ou inclusive crianças". Não descartam o contexto ritualista da corrida, que marcam os "ritos de iniciação, o regresso à aldeia após uma caçada ou também como prova de matrimônio", não havendo surpresa em que essas corridas fossem executadas às vezes diariamente. Segundo os regulamentos, duas equipes, - representação dual da sociedade Canela onde as duas metades da aldeia, a ocidental e a oriental se "opõe" (DICKERT & MEHRINGER, 1989a) - teriam que carregar os troncos de madeira (palmeira buriti) - (DICKERT & MEHRINGER, 1989b) - em uma corrida por um caminho previamente traçado, até uma meta estabelecida, quase sempre fixada na praça da aldeia. As "corridas de aldeia" eram realizadas com mais freqüência, sempre por volta das 6 horas da manhã e/ou à tarde, pelas 4 horas, no caminho circular de 850 metros. Cada equipe carrega um tronco que é trocado com freqüência, já que é muito pesado para ser levado por um só corredor durante o longo trajeto percorrido. O tronco é passado do ombro de um corredor para o de outro, repetindo-se a cada 50 a 100 metros: " O objetivo da competição é transportar a tora, fazendo trocas entre os corredores - carregadores - o mais rápido possível, entre a partida e a chegada, onde ela deve ser jogada primeiro. Isso só pode ser feito quando cada membro do grupo dispor tanto de uma boa condição para a corrida como também de uma boa força para o transporte. Além disso deve acontecer uma constante combinação entre os corredores (atitude tática), sobre quando deveria ser feita a troca da tora. Além disso não pode haver perda de tempo na troca da tora de um ombro para outro. Deve-se por esgotamento do carregador ou durante a troca. Assim sendo, sempre se combinam as coisas no grupo antes da corrida ...". (DIECKERT & MEHRINGER, 1989a, p.13). Verifica-se, pelas regras principais, que se trata de uma corrida de revezamento onde toda a equipe vai correndo atrás de quem leva o tronco, e têm um caráter competitivo entre os dois grupos adversários, onde o objetivo sério é: vencer (DICKERT & MERINGER, 1989a, 1989b). No entanto não há nem elogios para o ganhador, nem críticas para o perdedor (JUNG & BRUNS, 1984) pois conforme informou um dos corredores a DIECKERT e MEHRINGER (1989a) "(...) ele sempre procura não correr muito mais rápido


do que o adversário. Isso poderia causar inveja e, também, haveria o perigo de um 'feiticeiro' (bruxo curandeiro mau) castigá-lo..." (p. 14). 1989 - DIECKERT & MEHRINGER afirmam que as corridas de toras são realizadas durante os cinco diferentes ciclos festivos "que ocorrem na época das secas, de março a setembro". as formas de movimento dos índios Canelas se manifestam num contexto de ritual (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b; JUNG & BRUNS, 1984). Por ser uma sociedade dual - onde as duas metades da aldeia se opõe -, o que determina a conseqüente formação de grupos (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b), situações de conflito são resolvidas, por exemplo, com a realização da "corrida de toras" (FEITOSA, 1983). Nela se manifestam os valores e as normas sociais (DICKERT & MEHRINGER, 1989a). São as festas que aproximam os jovens dos valores e normas culturais, que lhes permite "vivenciar" o mundo de acordo com suas leis (DICKERT & MEHRINGER, 1989b). Parece verdadeira a interpretação de ser a corrida de tronco um culto aos antepassados (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b; JUNG & BRUNS, 1984), pois as regras da corrida foram ensinadas 'pelos bisavós' e ainda são respeitadas (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b). Há um sentido mais profundo na realização da corrida pois aquele que "quiser viver como caçador e coletor e também como guerreiro tem que apresentar uma excelente condição física". Por isso, essa "necessidade de sobrevivência" foi formulada "(...) enquanto 'objetivo de ensino' para os jovens, num contexto cultural, a fim de garantir a continuação da tribo." (DICKERT & MEHRINGER, 1989a). Observase que em diferentes culturas e diferentes épocas houve alguma forma de manifestação do movimento representado pela corrida (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b; JUNG & BRUNS, 1984) e esta sempre teve, primeiro, um caráter de sobrevivência. Ritualizada, passa a fazer parte da cultura onde representam os valores e as normas sociais, o mesmo ocorrendo quando levadas para a esfera do lazer (lúdico). Os Canelas, ao codificarem as corridas realizadas em suas aldeias - regras dos bisavós -, estão repetindo o que fizeram outras culturas. Se é aceita a codificação das regras de corridas pelos Gregos em seu período clássico como precursora das regras atuais do Atletismo, também deve-se aceitar a corrida entre os Canelas como a primeira manifestação desse esporte em terras maranhenses, pois quando as diversas nações européias modernas aqui chegaram por volta dos anos 1.500 já encontram diversas outras nações, sendo a mais antiga delas os Canelas. NATAÇÃO CATHARINO, José Martins ao fazer uma análise do “Trabalho índio em terras de Vera ou Santa Cruz e do Brasil” (Rio de Janeiro : Salamandra, 1995), acredita ser inconcebíveis vida e cultura índias sem locomoção pelas próprias forças. Por isso, os índios fazem exercícios constantemente. Essa constante movimentação concorria para sua higidez, robustez e estado atlético, tornando-os mais aptos a enfrentar as naturais dificuldades do meio, e a manterem-se sadios. Tinham profunda intimidade com a água, nela se sentindo à vontade, para o que, por certo, concorria o costume das mães banharem seus filhos logo após tê-los. Não admira soubessem nadar. Os costeiros e os do interior. De todas as idades, mais ainda os meninos e as meninas, moços e moças. Quando da chegada dos primeiros portugueses, relata Vespúcio: “...e antes que chegássemos à terra, muitos deles lançaram-se à nadar e vieram nos receber a um tiro de nesta no mar (equivalente a 150 metros), que são grandíssimos nadadores... Continua o Autor: “Nadam fora de toda expectativa, e melhor as mulheres que os homens, porque os encontramos e vimos muitas vezes duas léguas adentro do mar sem apoio algum iram nadando”. Serve-se de vários autores, para ilustrar o quanto nossos índios dominavam a arte da natação: “... Ramirez: ‘ellos som mui ligeros é mui buenos nadadores ... Lopez: ‘E vinham apoz de nós, hús a nado e outros em almadias, que nadam mais que golfinhos; ... Knivet: ‘Levou-me esse cannibal pela praia, e fomos ter a uma penha que sahe ao mar; tomou-se então elle às costas, e, tendo nadado comigo por fóra dos parceis, continuámos a nossa viagem ... D’Abeville:Vimos maravilhados inúmeros índios se lançarem-se a nado (Tupibambá) para nos encontrar e trazer seus agrados. Jaboatam, acerca dos gentios Goyatacá: ‘Costumavão, por não Ter outro modo, andar de nado pelas ribeiras do mar esperando os Tubarões, com um pau muito aguçado na mão, e em remetendo o tubarão a eles, lhes engastavão a ponta pela garganta a dentro, com tanta força, que o affogavão, e morto assim o traziam à terra...”. Não eram apenas exímios nadadores. Também sabiam mergulhar. Sobre os índios do Maranhão, como acima a nota de Claude D’Abeville citada, serem os “Tupinambás grandes nadadores e mergulhadores, chegando a nadar três a quatro léguas. Se de noite não tem com que pescar, se deitam na água, e como


sentem o peixe consigo, o tomam às mãos de mergulho; e da mesma maneira tiram polvos e lagostins das concavidades do fundo do mar, ao longo da costa... “Eram, os Tupinambás, extremados marinheiros, como os metem nos barcos e navios, onde todo o tempo ninguém toma a vela como eles; e são grandes remadores, assim nas suas canoas, que fazem de um só pau, que remam em pé vinte a trinta índios, com o que as fazem voar ...”. CANOAGEM Os índios, aqui estabelecidos de há mais de 5.000 anos, já praticavam o Remo, conforme se depreende dos cronistas da época e historiadores. CATHARINO informa que Soares já elogiava os Tupinambá como excelentes marinheiros, ninguém tomando a vela melhores do que eles. Já Caminha, em sua carta acerca dos achamentos dos portugueses referia-se às almadias – canoas feitas de tronco ou casca de árvore - e jangadas, com que se deslocavam pelas águas – mares e rios: igará era denominação genérica; ubá a feita de uma só casca de árvore; igaraçú, as grandes, de um só tronco; igaritê, as pequenas. Igaratim chamavam aquelas canoas em que iam os morobixabas e se diferenciavam das demais por levarem à prôa um maracá – maracatim dos Igaraunas, do Maranhão. No Maranhão, faziam-se, e ainda se fazem, balsas de talo de buriti – periperis; delas tomou nome o considerável afluente que o Parnaíba recebe pelo lado esquerdo. Pode-se afirmar que os índios também impulsionavam periperi com remos. Aos remos – apecuitá; ao leme – yacumá; à pá do leme, iacumã. Em sendo o leme peça fixada na popa, para ser a embarcação governada e dirigida, ficou a dúvida se ela existia em canoa, ou se, como leme, era usado remo, sendo mais provável esta hipótese. Quanto ao trabalho de remar, variava em conformidade com o tamanho e a capacidade das canoas; variável também o número de transportados e dos remadores. Falando da ida dos Tupinambá para a guerra, Léry disse que vogam em pé, com um remo de pás duplas, ao qual seguram pelo meio. A descrição indica remo usado para impulsionar caiaque, o que permite remar metendo na água alternadamente cada pá por cada borda. Os Igaraunas, do baixo Maranhão, são tidos em conta dos melhores remeiros do país porque a este exercício se afazem desde a infância. Foram eles, que à força de remos, levaram o comboio do capitão Teixeira desde o Oceano até à costa dos Andes. Esses índios tinham suas canoas de guerra de quarenta a cinqüenta pés de comprimento e feitas de um só tronco de árvore, a qual davam o nome de maracatins. DANÇA E MÚSICA 1815 - PAULA RIBEIRO descreve uma das principais "manifestações do lúdico e do movimento" - para usar uma expressão de DIECKERT & MEHRINGER (1989b) -, na cultura Jê, referindo-se à música e à dança: "... enquanto as muitas mulheres guizam as comidas, dançam eles e cantam ao som de buzinas, maracás e outros instrumentos ... esta dança e música noturna, melhor repetida depois da ceia, dura quase sempre até às cinco da manhã ...". JOGOS E BRINCADEIRAS Foram observados na aldeia dos Canela, da aldeia Escalvado diversos brinquedos, brincadeiras e jogos que as crianças praticam em sua vida cotidiana como pular corda; batalha de pião (Cuhtõj Tere); uma espécie de jogo de bola de gude utilizando coquinhos (Crowkâ); bente-altas ou taco (Ihcahyrxà); perna de pau (Pàr Xô Hyre, Texware); estilingue (H?caper Xá), a peteca (Põ-hyhpr?), zumbidor (Ihkjênxà), a cama de gato (H?hkra To Hapac Tu Xá), dobraduras retratando animais, inclusive com movimento, e brinquedos construídos com a polpa de buriti, estes dois últimos com movimento. Foi observado ainda o quebra-cabeça Anel Africano (Ihkã Cahhêc Xá). Trata-se do quebra-cabeça muito difundido em todo o mundo, considerado um clássico pela simplicidade da idéia e engenhosidade da solução. Nos livros de jogos, o quebra-cabeça é mais conhecido pelo nome de Anel Africano. Trata-se de um desafio que deu origem a centenas de outros quebra-cabeças em todos os continentes.(in Projeto Jogos Indígenas do Brasil, disponível em http://www.jogosindigenasdobrasil.art.br/port/campo.asp#canela) JOGOS DOS POVOS INDÍGENAS


1994 – O INDESP promoveu uma reunião de trabalho, em Brasília, sob a coordenação de Jairo R. P. Bamberg para discutir “o que é desporto com identidade cultural?”. Participaram da reunião Silvino Santin; Leila Mirtes Santos de Magalhães Pinto; Lamartine Pereira da Costa; Paulo Vicente Guimarães; Muniz Sodré; Priscila Ribeiro Ferreira; Maria Hilda Baqueiro Paraíso; e Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Dentre as várias ações propostas, constava a de realização de jogos esportivos que contemplassem as tradições indígenas – uma olimpíada indígena; essa proposta foi apresentada por Leopoldo Gil Dulcio Vaz, endossada por Lamartine Pereira da Costa, Muniz Sodré e Hilda Paraíso, e seria levada às lideranças indígenas. 1996 - I Jogos dos Povos Indígenas, realizados na cidade de Goiânia – GO, de 16 a 20 de outubro de 1996, patrocínio do então Ministério Extraordinário do Esporte e do Instituto Nacional de Desenvolvimento do esporte - INDESP, em parceria com a Secretaria de Esportes e Lazer de Goiás e com o apoio da FUNAI e do Comitê Intertribal. Do Maranhão, participaram os Kanela, que levaram três dias para chegar, de ônibus, da aldeia até Goiânia. No entanto, nem as oito mulheres do grupo, que encararam o desfile de abertura com os seios à mostra, davam sinais de cansaço. 1999 - II Jogos dos Povos Indígenas, realizado em Guaíra – PR, de 14 a 20 de outubro, com a participação de mais de 500 índios, de 25 etnias, sendo que do Maranhão, participaram os Kanelas, mais uma vez. A realização do evento foi interrompida em 1997 devido à falta de planejamento e critérios para a escolha da próxima sede dos Jogos. Os estados de Amazonas e Paraná se candidataram, mas, devido à indefinição do governo amazonense, o estado do Paraná foi escolhido para sediar a segunda edição dos Jogos 2000 - III Jogos dos Povos Indígenas, realizados na cidade de Marabá-PA, na Ilha de Tucunaré, com a participação de 34 etnias indígenas, sendo que mais uma vez, os Kanelas se fizeram presentes em competições e demonstrações de práticas como corrida de tora (característica dos povos de língua jê do Brasil Central). 2001 – IV Jogos dos Povos Indígenas, realizados em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, no período de 20 a 27 de outubro, com cerca de 850 índios, de 39 etnias. 2002 - V Jogos dos Povos Indígenas realizados no município de Marapanim, no Pará de 14 a 21 de setembro. No evento, que apesar de pouco conhecido no país é bastante difundido no mundo, serão apresentadas modalidades tipicamente indígenas. A promoção é do Ministério do Esporte e Turismo. 2003 – VI Jogos dos Povos Indígenas, realizados na Praia da Graciosa, em Palmas, no estado do Tocantins, no período de 04 a 11 de outubro, com o patrocínio do Ministério do Esporte e organizado pela Secretaria de Esporte de Tocantins, com a participação da Prefeitura de Palmas e o apoio da Funai. O evento contou com a participação pela primeira vez dos os Awa Guajá, que quase não têm contato com a sociedade brasileira, entendem muito pouco a nossa língua; os Kaapor, com uma arte plumária exuberante e os Kanela Ramkokamekra, todos do Maranhão. 2004 - VII Jogos dos Povos Indígenas, em Porto Seguro (BA) nas proximidades da Reserva da Jaqueira, entre os dias 20 e 27 de novembro com a participação de 60 etnias e 1050 guerreiros e guerreiras - A Gerência de Esporte e Lazer do Maranhão - hoje, Secretaria de Esportes do Maranhão – a partir deste ano pretende realizar os Jogos Indígenas. O objetivo desta competição é movimentar a população indígena do Estado e quem sabe num futuro bem próximo levá-los as disputas dessa competição que a partir de 2004 volta a acontecer nacionalmente. No Maranhão os Jogos Indígenas deverão acontecer em quatro modalidades e em dois municípios Barra do Corda e Grajaú. 2005 - VIII Jogos Indígenas na Aldeia do Manga, no município do Oiapoque, no Amapá. FONTES: CATHARINO, José Martins. TRABALHO ÍNDIO EM TERRAS DA VERA OU SANTA CRUZ E DO BRASIL – tentativa de resgate ergonlógico. Rio de Janeiro : Salamandra, 1995; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In SOUSA E SILVA, José Eduardo Fernandes de (org.). ESPORTE COM IDENTIDADE CULTURAL: COLETÂNEAS. Brasília : INDESP, 1996, p. 106-111; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In Revista “Nova Atenas” de Educação Tecnológica, São Luís, v.4, n. 2, jul/dez 2001, disponível em www.cefetma.br/revista; DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas (relatório de pesquisa provisório). ZEITGSCHIFT MUNCHER Beltrdzur Vulkerkunde, julho, 1989; DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 1, p. 55-57, set. 1989; JUNG, K. & BRUNS, U. Aspectos rituales de las carreras de larga distancia en diferentes culturas y epocas (conclusion). STADIUM, Buenos Aires, v.18, n. 105, p. 26-29, junho 1984; PAULA RIBEIRO, Francisco de. MEMÓRIAS DOS SERTÕES MARANHENSES. São Paulo : Siciliano, 2002; FRANKLIN, Adalberto: CARVALHO, João Renor F. de. FRANCISCO DE PAULA RIBEIRO – desbravador dos sertões de Pastos Bons: a base geográfica e humana do sul do Maranhão. Imperatriz : Ética, 2005; Projeto Jogos Indígenas do Brasil in http://www.jogosindigenasdobrasil.art.br/port/campo.asp#canela.


JOGOS TRADICIONAIS E BRINCADEIRAS INFANTIS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ REINALDO CONCEIÇÃO CRUZ

Definição - Jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigattórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida cotidiana”. (Huizinga, l180, p. 33). Abrange jogos de força e de destreza, jogos de sorte, de adivinhação, exibições de todo gênero. Por definição do Atlas do Esporte no Brasil (Alexandre Marcos de Mello, 2005, p. 35-36), jogos e esportes tradicionais são atividades lúdicas, competitivas e/ou cooperativas, que refletem a identidade cultural de um determinado grupo étnico, distinguindo-se dos esportes de apelo internacional sujeito a padrões organizacionais e regras universais. Já os jogos e brincadeiras tradicionais infantis são atividades passadas de geração a geração, em geral aprendidas pelas crianças mais novas com as de mais idade, durante ato de brincar. Também denominados de jogos populares. PAPAGAIO – papagaio de papel, coruja, arraia. Na descrição do Dicionário Morais: folhas de papel, ou lenço, estendidas sobre uma cruz de canos, e cortados em figura oval, com um rabo na parte fina, que se soltam ao ar, e lá se mantêm, seguras por um cordel ou barbante. Os portugueses trouxeram o papagaio do oriente, Japão, e China, onde é popular. No Brasil chamam de raia ou arraia, em alusão a forma ramboidal do peixe (Câmara cascudo, 1972, p. 669-670). No Maranhão, usam-se as denominações: papagaio, pipa, bode, sura e curica. Papagaio – a tala do meio é maior – longitudinal maior – rabo de algodão amarrado na linha; Pipa – tala transversal é maior, rabo de papel amarrado num fio – a pipa é de uso mais recente; Bode – papagaio grande, com rabo de algodão; Sura – papagaio grande, sem rabo;é “selado”; Curica – papel de jornal ou grosso, com talo, e rabo do próprio papel, geralmente usados pelos garotos menores. O papagaio, ou pipa, em São Luís, é lançado geralmente no período invernoso (chuva) quando o vento é mais ameno. Pipódromo – locais de prática de empinar pipas – Vinhais, Cohab, Areinha e São José de Ribamar. PETECA – Gude: jogo infantil com bolinhas de vidro, que se deve fazer entrar em três buracos, ganhando o jogador que chegar em primeiro lugar, de volta ao primeiro buraco (Câmara Cascudo, 1972, p. 440-441). No Maranhão, recebe o nome de Peteca: bolinha de gude; jogada no período de chuva, porque é mais fácil de fazer a borroca (buraco). Borroca – jogado em número de três buracos, feitos com o calcanhar; jogo deida e volta, para começar a matança. A peteca é jogada do primeiro para o terceiro buraco; não havendo distãncia definida, mas usa-se aproximadamente 2 a 2,5 metros, de um para o outro; quem fica mais próximo da barroca, ou acerta-a, começa o jogo, indo e voltando e, após esse percurso, sem errar os buracos, começa a “matança”, isto é, acertar a peteca dos outros jogadores; dependendo do acerto entre os jogadores, antes do início do jogo, a “paulada” vale um certo número de “petecas”. Triângulo – como o nome diz, usa-se a figura de um triângulo,para definir a área de matança. Os jogadores colocam certo número de petecas no seu interior;é estabelecido duas linhas, a aproximadamente 5 a 2 metros de distância, em lados opostos; os jogadores se posicionam em uma das linhas, jogam suas petecas para acertar a linha contrária, ou o mais próximo, possível desta, para determinar quem inicia o jogo; aqueles que a ultrapassem, ficam por ultimo, na mesma ordem inversa da distância; o primeiro, começa a “espirrar”a bola dos outros - acertar as petecas que estão no interior do triângulo, procurando projetá-las para fora das


linhas, e ao mesmo tempo, que a sua não fique no seu interior – começando o “mata-mata” - pode continuar matando as bolas dos adversários, até errar ou tirar todas; ganha quem conseguir o maior número de petecas. AMARELINHA – de acordo com Câmara cascudo (1972, p. 25-26) também chamada Academia ou cademia. Jogo ginástico infantil, muito antigo e muito espalhado por todo o Brasil. Em outras regiões, da América Latina, denomina-se de La Pelegrina, e é idêntico ao Jogo das Odres, dos romanos e às Ascólias, dos gregos. ELÁSTICO – jogo de destreza; que consiste em ultrapassar um elástico, de aproximadamente 3 a 5 metros, colocado a determinadas alturas, começando pela altura do quadril, seguro por dois competidores; o saltador projeta-se para cima, procurando ultrapassar o elástico, sem tocá-lo; a uma determinada altura, geralmente na altura do peito, pode utilizar-se do pé, apoiando por sobre – parte de cima – o elástico, puxando-o para baixo, ao mesmo tempo que o ultrapassa – pulando para o outro lado. Geralmente é brincado pelas meninas, mas meninos participam. XUXO – jogo de destreza; consiste em “fincar” uma pequena aste de ferro fino no chão, por dois ou mais competidores, que fazem desenhos no chão, geralmente um triângulo, do local onde a aste fincou no chão, em linha reta, até o seguinte arremesso. BETE-OMBRO – jogo em que participam duas duplas, dois atacantes e dois defensores, de uma casa – hoje, utiliza-se garrafa de plástico, antigamente, a casinha era constituída e três paus, em triângulo, apoiados um no outro – delimitada por um círculo, em que o objetivo é derrubar a casa, com uma bola – hoje, de borracha (frescobol), antigamente, de pano -. Os defensores devem rebater a bola, jogando-a longe, o que possibilita trocarem de lado. Cada troca de lado, vale um certo numero de pontos; ganha quem atinge um determinado numero, conforme combinação previa. Quando os atacantes conseguem derrubar a casa do adversário,invertem-se os papéis. Jogado geralmente nas férias escolares. PIÃO – pinhão, brinquedo de madeira, periforme, com uma ponta de ferro, por onde gira pelo impulso do cordão enrolado na outra extremidade e puxado com violência e destreza. Ostrombos dos gregos e o turbo dos romanos, é o mesmo jogo do pião das crianças de hoje. No Brasil, a maioria das condições para o jogo é semelhante à registrada em Portugal (Câmara Cascudo, 1972,p. 712-713). Também denominado de finca.


REMO Leopoldo Gil Dulcio Vaz 1900 - Os "sportsmen" maranhenses tentam implantar mais uma modalidade esportiva - desta vez, voltaram-se para o remo, e a utilização dos rios Anil e Bacanga. É criado o "Clube de Regatas Maranhense", instalado na rua do Sol, 36. MANOEL MOREIRA NINA, foi seu primeiro presidente: "CLUB DE REGATAS MARANHENSE "Director Presidente - Manoel G. Moreira Nina; Vice Director Presidente - Jorge Brown; Director Secretário - José Carneiro Freitas; Director Thesoureiro - Benedicto J. Sena Lima Pereira; Director Gerente - Alexandre C. Moreira Nina; Supplentes: 1º - Manoel A. Barros; 2º - Othon Chateau; 3º José F. Moreira de Souza; 4º - Antônio José Silva; 5º - Almir Pinheiro Neves; Commissão d'Estatutos: Dr. Alcides Pereira; Eduardo de A. Mello; Manoel Azevedo; Arthur Barboza Pinto; João Pedro Cruz Ribeiro". (REGENERAÇÃO, 21 de fevereiro de 1900). Essa iniciativa também foi efêmera. Os primeiros passos foram dados, para colocar as coisas no rumo certo, mas faltaram recursos para aquisição das embarcações apropriadas e também faltou apoio do comércio e das autoridades constituídas. 1908 - A 13 de setembro voltou-se a falar na implantação do remo, chegando a ser organizada uma competição, envolvendo duas equipes que guarneciam os escaleres "Pery" e "Continental". Os irmãos Santos estavam envolvidos envolvidos em uma prática esportiva - Nhozinho - como era mais conhecido JOAQUIM MOREIRA ALVES DOS SANTOS - como timoneiro, e Maneco - Manoel Alves dos Santos como voga; A. Lima (sota-voga); B. Azevedo (sota-proa); e A. Vasconcelos (proa), na "Pery". A largada deu-se onde é a ponto do São Francisco, com chegada na rampa do Palácio, sendo vitoriosa a baleeira "Continental", que tinha no timão, F. Oliveira; como voga, J. M. Sousa; voga, J. Sardinha; sota, Maneco Sardinha; e na proa, Raimundo Vaz. Essas atividades, realizadas no rio Anil, começam a se tornar hábito das manhãs de Domingo e feriados, contando com uma boa afluência de público. 1909 - Nas comemorações do 28 de julho houve outra prova, tomando parte da mesma militares do 24º BC e da Marinha, sendo utilizado barco a dois remos. A elite maranhense fez-se presente tomando parte ativa, pois atuaram como árbitros da competição: os coronéis Albino Noronha e Carlos, os doutores João Alves dos Santos, Antônio Lobo, Domingos Barbosa, Viana Vaz foram os juizes de chagada; na partida, funcionaram Braulino Lago, capitão-tenente Rogério Siqueira, Dr. Armando Delmare, João José de Sousa, Francisco Coelho de Aguiar e o Dr. José Barreto; como juizes de raia estavam o comandante João Bonifácio, Charles Clissot, Agnelo Nilo e Antônio José Tavares; sendo o diretor de regatas, o tenente Haroldo Reis. A saída deu-se na Rampa do Palácio, tomando parte nos diversos páreos os escaleres: o do comércio, tinha como patrão Antônio da Silva Rabelo; a "Fogo", contava com o mestre João Tibúrcio Mendonça; a "Espírito Santo", tinha como mestre Manoel Joaquim Lopes; "Remedinhos", com Hermenegildo A. de Oliveira; "Alfândega", Bernardo de Serra Martins; "Oriental", João Romão Santos; "São José", Raimundo Alves dos Santos; "Flor da Barra", de Carlos Moraes; participaram ainda, a "João Lisboa"; a "Gonçalves Dias", a "São Luís"; "Nero"; "28 de Julho"; "Correio"; e "Bequimão". O trecho entre a Rampa do Palácio e a Praça Gonçalves Dias estava todo tomado por um grande público. A partir daí, quase todos os anos, no dia 28 de julho, essas competições faziam parte das festividades. Mesmo assim, as regatas foram se arrastando em São Luís, com os abnegados, aqui e ali, aproveitando uma comemoração para realizar uma prova no rio Anil. O "Clube de Regatas Maranhense" chegou a ser fundado novamente, muito embora as condições do rio apresentassem as ideais, pois não oferecia segurança. O mar, em determinadas épocas, ficava muito agitado, temendo-se que uma virada ou o desequilíbrio de um tripulante pudesse vir a ser fatal, dada a freqüência dos tubarões ... 1910 a 1915 - no período de 1910 a 1915, o esporte no Maranhão entrou em crise, voltando a ser revivido a partir desse ano, graças ao empenho do cônsul inglês em São Luís, Sr. Charles Clissot. 1916 - Mesmo com esses contratempos, foram promovidas algumas competições, sempre no rio Anil, como a de 1916, que tinha como objetivo implantar, definitivamente, o remo, inclusive com a criação de uma "Liga do Remo". (MARTINS, 1989, p. 217). Os amantes do "esporte do muque", como era conhecido,


adquiriam - no Pará, onde o remo estava plenamente consolidado - duas baleeiras apropriadas, batizadas de "Jacy" e "Alcion". Devidamente equipadas, eram guarnecidas por empregados do comércio, que se apresentavam bem adestrados no seu manejo. No dia 26 de março as duas embarcações fizeram-se ao mar, realizando um "passeio". A "Jacy" - equipe branca - tinha como guarnição J. Nava (timoneiro); Júlio Galas e A. Martins (vogas); A. Santos e Nestor Madureira (sota-vogas); Humberto Jansen e A. Cunha (sota-provas); e S. Silva e J. Travassos (proas); já a "Alcion" - trajes azuis -, contava com Humberto Fonseca (timoneiro); A. Paiva e Avelino Farias (vogas); e A. Rosa e M. Borges, como proas. As competições realizavam-se isoladamente, no rio Anil, e não se sabe porque, a "Liga do Remo" não se estruturou. Nas manhãs de Domingo, as embarcações realizavam passeios, mais como recreação de que como numa disputa, não obstante os esforços do capitão Melo Fernandes, dos vogas Barão Mota, Agostinho e Manoel Tavares, dos sota-proas Acir Marques e Haroldo Ayres, dos proas Joaquim Carvalho e Francisco Viana e do "crock" Maneco Fernandes. Na Escola de Aprendizes de Marinheiros o remo também era praticado, dispondo de uma guarnição que treinava diariamente. Contava com os vogas Cantuária e Fulgêncio Pinto; como sota-vogas, com Almeida e Abreu; na proa, Belo e Matos; sota-proas, Zinho e Oliveira e o patrão era Fritz. 1917 – o ano enchia-se de esperança para os praticantes dos esportes. No Maranhão, dizia-se, dois esportes marcariam presença definitiva para ficar: o remo e o futebol: "Apesar da guerra, das crises financeiras, do alto custo de vida, etc., a mocidade só pensava no futuro, olhos fixos no dia de amanhã, e, por isso, preparava-se fisicamente. Pensar diferente era ir de encontro à lógica dos fatos que se nos apresentavam diariamente, onde se viam rapazes, que eram incapazes de levantar, como dizia o adágio popular, um gato pelo rabo. Era inadmissível e errônea a educação do espírito sem a educação dos músculos, como dizia Müller. De tudo o homem devia saber. Um organismo raquítico nada valia. Era o importante para suportar uma moléstia, comentavam os críticos. Pregava-se o exercício do remo, porque esse esporte era de uma real utilidade. "Esperava-se para breve que, na capital do Maranhão, pudéssemos nos rejubilar da existência de um bom futebol e que o remo se tornasse um esporte definitivo, com prática assídua".. Os esforços foram em vão. Era mais uma modalidade esportiva que fenecia por falta de oxigênio ... 1927 a 1929 - promoveram-se alguns festivais, no rio Anil, sempre com receios de ataques de tubarões, que subiam para desfrutar dos dejetos despejados pelo Matadouro Modelo. Em 28 de julho de 1828, promoveu-se uma regata, em homenagem ao comandante Magalhães de Almeida, tendo a frente os "sportmen" Antônio Lopes da Cunha, sempre envolvido com as coisas do esporte -, Cláudio Serra, Hermínio Belo, Benedito Silva e Gentil Silva. As embarcações não eram apropriadas, usando-se botes de quatro remos para a distância de 500 metros, embarcações de pesca à vela e outras de qualquer espécie, desde que não superiores a dez palmos de boca, embarcações com motores de popa ou internos, lanchas à gasolina, etc. As embarcações tinham os mais variados nomes: "Maranhão", comandada pelo patrão Justo Rodrigues; "Sampaio Corrêa", com Gino Pinheiro, como patrão; o bote "São José", com Horácio dos Santos como patrão. A firma Marcelino Almeida & Cia - proprietária do "Loyde Maranhense"-, colocou os vapores "São Pedro" e "São Paulo" à disposição dos convidados especiais. Para as comissões, foram cedidos os rebocadores "Mero", "Loyd", e "Satélite", gentileza da "Booth Line Co.", do "Loyd Brasileiro" e de "Santos Seabra & Cia". Naturalmente que o homenageado - Magalhães de Almeida - foi o presidente do Júri de Honra, que contou ainda com as presenças de Dr. Pires Sexto, do comandante Martins, do coronel Zenóbio da Costa, Dr., Jaime Tavares, Major Luso Torres, Dr. Basílio Franco de Sá, Dr. Constâncio de Carvalho e João de Mendonça. A "comissão de chegada" era composta por Clóvis Dutra, Agnaldo Machado da Costa, Dr. Horácio Jordão, Dr. Waldemar Brito, e Sr. Edmundo Fernandes; a "comissão de partida e raia", contava com Cláudio Serra, Hermínio Belo, Melo Fernandes e Américo Pinto; o cronista, Gentil Serra e o Diretor técnico da Regata, Arnaldo Moreira. Os dois primeiros páreos homenagearam o coronel Zenóbio da Costa, comandante da Força Pública do Estado, a Associação Maranhense de Esportes Atléticos - AMEA -, NA PESSOA DO DR. Waldemar Brito; o terceiro, foi em homenagem ao aniversariante do dia, o comandante Magalhães de Almeida, então governador do Maranhão; o quarto, foi em homenagem ao Capitão dos Portos, comandante


Moreira Martins, com o quinto, sendo homenageado o Prefeito de São Luís, Dr. Jaime Tavares e, finalmente, no sexto páreo, o homenageado foi o major Luso Torres, comandante do 24º BC. Dado ao êxito da manhã esportiva, cogitou-se na criação do "Clube de Regatas Atenas", que teve como incorporadores e fundadores, os esportistas Sílvio Fonseca, José Simão da Costa, Euclides Silva, Herculano Almeida, Carlos Aragão, Dário Gusmão, Anísio Costa, Murilo Viana, Francisco Lisboa, e José Teixeira Rego. Para começar, iria se adquirir uma iole a quatro remos, medindo 11 metros de comprimento - a primeira no gênero a singrar águas maranhenses -; esperava-se que outras fosse "financiadas"... Chegaram a ser realizados treinamentos no Anil, com sucesso, devido ao comportamento da iole.


LIVRO-ÁLBUM

MESTRES CAPOEIRA DO MARANHÃO


ANSELMO BARNABÉ RODRIGUES 1948-1982 MESTRE Estilo

SAPO Angola/Regional ANSELMO BARNABÉ RODRIGUES DADOS (Salvador?) 21 de Abril de 1948 PESSOAIS morreu no domingo, 30 de maio, de 1982, em São Luis Pelé, de Salvador (Natalício Neves da Silva, nascido em 1934) Canjiquinha (Washington Bruno da Silva) Zulú, de Brasília (Antonio Batista Pinto Zulu) Mestre

HISTÓRIA DE VIDA

No dia 21 de Abril de 1948, nasceu Anselmo Barnabé Rodrigues, o Mestre Sapo, que em 1966 passou por São Luis, junto ao quarteto Aberrê (M.Canjiquinha, Vitor Careca, Brasília, Sapo), em uma viagem que mudou a história da capoeira do Maranhão. Em 1967 mestre Sapo retorna a São Luis para trabalhar na construção civil, e posteriormente na secretaria de agricultura. Em 1972, começou a dar aulas de capoeira, no ginásio Costa Rodrigues, e depois em diversos pontos da cidade. Mestre Sapo formou uma geração de capoeiristas, como Mestre Euzamor e Mestre Patinho, que preservam a linhagem de Mestre Aberrê e Cajiquinha. Mestre Sapo morreu no domingo, 30 de maio, de 1982, em São Luis, vítima de atropelamento. http://nzambiangola.blogspot.com.br/p/nossos-mestres.html

Em 1965, um quarteto baiano denominado Aberrê fez uma demonstração de Capoeira no Palácio dos Leões – sede do governo estadual. Desse grupo participavam Anselmo Barnabé Rodrigues – Mestre Sapo -, o lendário Mestre Canjiquinha, Vítor Careca, e Brasília. Após essa apresentação, receberam convite para permanecer no Estado, para ensinar essa arte marcial brasileira.


Em 1966, Mestre Sapo – incentivado por Alberto Tavares, aceita o convite e passa a fazer parte do Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação – DEFER -, onde trabalha até sua morte, em 1982. In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes

“Era um dos ‘capitães da areia’ das histórias que Jorge Amado contou sobre os meninos que vivem nas praias de Salvador, deslocando um bico ou uma carteira, aqui e ali. Vicem é muito otimismo; sobrevivem à margem da sociedade dando e pedindo esmola, como cantou outro baiano, Moraes Moreira. “Daí até chegar à capoeira pra turista foi fácil, que a Capoeira era parte de seu dia-a-dia. Já tinha até arranjado um lugar de destaque junto a Mestre Canjiquinha, que fazia apresentações em bares e boates da Bahia de Todos os Santos. Com Canjiquinha apareceu na maioria dos filmes feitos sobre a Bahia pela Atlântica e se orgulhava de ter filmado com Anselmo Duarte. “Convidado, Canjiquinha fez uma excursão pelo Nordeste, e, no Maranhão, o garoto Sapo foi convidado para ficar. Era bom de luta e a política local precisava de guarda-costas. Foi a primeira investida da máquina, desta vez a política. Com a facilidade de manejar armas pela nova profissão Mestre Sapo teria aí uma de suas paixões: sempre tinha um trintaeoito ou uma bereta pra ‘botar no prego’ e recuperar quando aparecesse algum, pois a convivência com políticos não tinha deixado nada que o ajudasse no leite das crianças, a não ser o estudo, com que ele deu um rabo-de-arraias nas poucas letras trazidas de Salvador. Estudou muito. Até o cursinho, e se foi sem ter conseguido superar o vestibular que a Universidade teima em manter na área médica, pra Educação Física. Mas era professor de Educação Física: Professor Anselmo. Anselmo ??? Que nada! Mestre Sapo. Era a segunda investida da máquina: a administrativa. A modernização da pobreza também tenta tirar a originalidade das pessoas. Como Sapo não seria aceito; só como Anselmo. Essa parada contra a máquina ele ganhou: nunca deixou de ser Mestre Sapo. “Crescendo em Capoeira e fama ele agora sai nos livros: a ramificação da Capoeira no Maranhão, contada por Waldeloir Rego em ‘Capoeira Angola’ é Mestre Sapo. Ah! E como juiz nacional da nova ‘Ginástica Brasileira’ a sua capoeira que ele brigou tanto pra não virar ginástica olímpica. “Ia se aperfeiçoar e o sonho de fazer Educação Física ia ficando cada vez mais sonho. Mas tinha orgulho de sua forma física: ‘Fique calmo!’, ‘Olha o bíceps!’. “Ele gostava de domingo. Um dia malemolente pra se tomar cana e brigar. Brigar com os companheiros de briga. E foi num domingo, domingo de cachaça e briga, que ele recebeu a terceira e definitiva investida da máquina: o automóvel, que mostrava a ‘mais vaia’ de sua capacidade de competição contra os músculos do Homem. Os músculos bem treinados de Mestre Sapo nada puderam contra a máquina forte e estúpida, medida em cavalos. Mais de cincoenta. Uma máquina movida por um companheiro de profissão, um amigo, pra combinar com o domingo, com a briga e a cachaça. Jamais seria um desconhecido dirigindo a máquina da norte. Sapo era amigo de todo mundo”. in PEREIRA, Laércio Elias. Tributo ao mestre Sapo. São Luís, DESPORTO E LAZER, n. VII, ano II, maio/junho e julho de 1982, p. 17



Mestre ROBERVAL SEREJO

Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro – quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira: “Segundo ‘Seu’ Gouveia [José Anunciação Gouveia] esse pequeno grupo [de capoeira, liderado por Roberval Serejo], não tinha um local nem horário fixo para seus treinamentos, sendo que, por volta de 1968, criou-se a primeira academia de capoeira em São Luís, denominada Bantú, quando passou a contar com vários alunos, como Babalú, Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascavel, Alô, Jessé Lobão, Patinho e Didi”. (MARTINS, 2005, p. 31)8.

DJALMA BANDEIRA

Em São Luís, a capoeira começou realmente a dar as caras na década de 1960, aparecendo vários praticantes que ficaram conhecidos. Nessa época começou a circular pela cidade o nome de Roberval Serejo, que estava de volta a São Luís, pois estava servindo a Marinha no Rio de Janeiro, e lá aprendeu capoeira com o mestre baiano Arthur Emídio. Com o tempo, Serejo foi reunindo amigos e admiradores e formou um pequeno grupo de capoeira, que fazia seus treinamentos nos quintais de suas casas e na rua mesmo. O grupo foi crescendo e, em 1968, criou-se a primeira academia de capoeira de São Luís, chamada Bantu. Esse grupo contava com Roberval Serejo, o Capitão Gouveia (sargento da polícia militar), Babalu, Bezerra, Ubirajara, Jessé Lobão, 8

MARTINS, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS. Monografia apresentada ao Curso de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciado em Educação Física. São Luís, UFMA/DEF, 2005. Orientador: Prof. Drdo. Tarcísio José Melo Ferreira.


Patinho, dentre outros. A primeira sede do grupo foi o Sítio Veneza, onde hoje funciona a Guarda Municipal, no bairro da Alemanha. Depois se mudou para a casa de Babalu, na Rua da Cotovia, próximo a Igreja de São Pantaleão. Roberval Serejo era escafandrista e morreu em 1971, quando trabalhava mergulhando, durante as obras do Porto do Itaqui. Com a sua morte, muitos de seus alunos deixaram de treinar, mas outros continuaram e o que mais se destacou e continuou a dar aulas foi o Sargento Gouveia. BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011


Mestre DINIZ

FIRMINO DINIZ 1929 – 2014 Mestre Firmino Diniz – nascido em 1929 –, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios Zé Baianinho e Mané. Mestre Diniz se referia, ainda a outros Capoeiras da época de sua infância, como “Caranguejo”, apelido vindo de seu trabalho de vendedor dessa iguaria, que costuma tocar berimbau na “venda” de propriedade de sua mãe, localizada no bairro do Tirirical. Viu, algumas vezes, brigas desse capoeirista com policiais. (SOUZA, 20029, citado por MARTINS, 2005, p. 30)10. Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com “Catumbi”, um capoeira alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores dessa manifestação na cidade de São Luís. Quando do “Renascimento” da capoeira em São Luís, com a chegada de ROBERVAL SEREJO no início dos anos 60 e a criação do Grupo “Bantus“, do qual participavam, além de Mestre Roberval Serejo, graduado por Arthur Emídio; Mestre Diniz (aluno de Catumbi, de Alagoas), Mestre Jessé Lobão (aluno de Djalma Bandeira), de Babalú; Gouveia [José Anunciação Gouveia]; Ubirajara; Elmo Cascavel; Alô; Patinho [Antonio José da Conceição Ramos]; e Didi [Diógenes Ferreira Magalhães de Almeida]. http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/notas+sobre+a+capoeira+em+sao+luis+do+maranhao issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_leopoldo_g SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A capoeira em São Luís: dinâmica e expansão no século XX dos anos 60 aos dias atuais. 72 f. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002. MARTINS, Nelson Brito. Uma análise das contribuições de Mestre Sapo para a capoeira em São Luís. 58 f. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, 2005.

Firmino Diniz, conhecido também como Mestre Diniz ou Velho Diniz. Também serviu a Marinha no Rio de Janeiro e seu mestre foi o alagoano Catumbi. Alguns capoeiras que treinavam com Serejo e posteriormente com Gouveia passaram a freqüentar as rodas realizadas pelo Mestre Diniz. Com isso, o mestre deu grande impulso para a popularização da capoeira, conseguindo instrumentos e organizando as rodas. Sobre isso, Roberto Augusto A. Pereira diz que: No código de Posturas de Turiaçu foi proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio de 1884 – em que constava no artigo 42 a proibição da prática denominada jogo de capoeira ou carioca, com multa aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão. 9

SOUSA, Augusto Cássio Viana de Soares. A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS: DINÂMICA E EXPANSÃO NO SÉCULO XX DOS ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2002 10 BRITO, Nelson Brito. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DE MESTRE SAPO PARA A CAPOEIRA EM SÃO LUÍS, monografia de graduação em Educação Física orientado pelo Prof° Drdo. Tarciso José Melo Ferreira, 2005


(...) quando o Mestre Diniz chegou por aqui, as rodas eram feitas por poucas pessoas, sem uniforme, ao som de palmas, ou de no máximo, um pandeiro para marcar o compasso do jogo. Quem tinha instrumento nesse tempo? Atabaque era coisa rara, berimbau era mais difícil ainda de encontrar. (PEREIRA, 2009, p. 12) BOÁS, Marcio Aragão. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. São Luís 2011 PEREIRA, Roberto Augusto A. Roda de Rua: memórias da capoeira do Maranhão da década de 70 do século XX. São Luís: EDUFMA, 2009. PEREIRA, Roberto Augusto A. O Mestre Sapo, A passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (Des)Construção do “Mito” da “reaparição” da capoeira no Maranhão dos anos 60. In: Recorde: Revista de História do Esporte. Vol. 3, n. 1. Rio de Janeiro, 2010.


Mestre PATINHO

ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS 1953-2017

Mestre DADOS PESSOAIS

PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS São Luis do Maranhão – 14 de setembro de 1953 FILIAÇÃO: Djalma Estafanio Ramos e Alaíde Mendonça Silva Ramos mestrepato@uol.com.br Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues)

Mestre

GRUPO/NUCLEO Escola Centro Cultural Mestre Patinho Do Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira de São Luís do Maranhão MESTRE PATINHO ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS "Antonio, de Santo Antonio, José, de São José, Conceição, de Nossa Senhora da Conceição, Ramos, de Domingo de Ramos..." RESUMO DE VIDA: Foram os movimentos da capoeira, a ginga que o encantou aos nove anos. Vendo como um rapaz jogava, passou a imitá-lo. O Mestre Sapo foi quem o ensinou e o graduou. Observando, que seu conhecimento muito restrito, foi estudar a capoeira na Bahia, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Trabalhou no Ginásio Costa Rodrigues, na Academia Senzala. A capoeira o influenciou a ser um ginasta (olímpica); e um dançarino pelas escolas Pró-dança, Lítero e Gladys Brenha. Hoje divulga capoeira no Laborarte e em sua escola Centro Cultural Mestre Patinho.


Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira Tinha medo dos meus amigos, pois apanhava cascudo, rasteira, todos da mesma idade simplesmente porque tinha o corpo raquítico, tudo isso os nove anos de idade. Por coincidência bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão onde nasci. Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60, Babalú, um apaixonado pela capoeira, outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participou Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando. Daí por volta de 62 e 63 esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos. Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul-americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram menor de idade. Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão. Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d Água com o Mestre Sapo, coincidentemente estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas. Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê. Quando eu conheci Sapo, eu me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença (sic), fundamentada. Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distâncias e três ritmos. O termo capoeira vem do chapéu que os mercadores usavam para vender seus produtos, com abas longas, botavam sues produtos dentro do chapéu, e com berimbau na mão vinham a chamar a atenção. Eu quero deixar uma ressalva na entrevista. A capoeira por ser um jogo de guerra, o golpe estratégico era o disfarce. O Capitão-Do-Mato, quando ia prender o negro que fugia das senzalas, e via o negro "gingar", dizia: "Preto ta disfarçando de angola", quando investia pegava um pontapé ou uma rasteira. O risco que tem pela perca (sic) dos fundamentos pelo grau de dificuldade de execução ou falta de conhecimento. Temos que ter forma de viver e formas e meios de sobreviver. A capoeira saiu dos quilombos e hoje está nos shoppings. Digo, querem transformar a capoeira em jogo de competição que é um risco. A capoeira tem golpes perigosos que pode até matar. A facilidade que você aplica um golpe mortal é muito grande. No século XIX, em Tutóia, Caxias, Pindaré e Codó não se vê a capoeira com influência bahiana, só se vê na forma capoeiragem, no folclore, como o Boi da Ilha, por exemplo. O caboclo de pena, pela sua malicia, seu gingado e vadiagem em estilo defensivo da capoeira. O miolo do boi, que é a pessoa que fica debaixo do boi, pela forma de artimanha utilizando na coreografia de luta. No tambor de crioula, não só pelos


componentes, mas pela primeira colocação antropóloga (sic) afinado a fogo, tocado a muque, e dançado a coice, que vem provar a chamada pernada. Casei-me, aumentando o meu ensino voltado para academias, me separei indo ministrar no Bom Menino, voltando para a dança, também para o Lítero e depois para o [Colégio] Gladys Brenha e percebi que não tinha nada a ver com academias e fundei a primeira escola de capoeira do Maranhão, que foi a escola de capoeira do Laborarte. O último trabalho que realizei aberto ao público foi "Quem nunca viu, venha ver" e outros que me deram prêmios, como a gravação de um CD. Hoje tenho minha forma de ensinar, buscando sempre a forma indígena que tem na capoeira, pois estudei com os índios samangó - só o berimbau dos instrumentos participa e tem uma só batida de marcação iúlna (sic) - a batida do berimbau é mudada e tem uma formação de entrada dos instrumentos. O Mestre chama, colocando ritmo e ordenando a entrada de cada instrumento - agogô, atabaque, berimbau contrabaixo, berimbau viola, berimbau violinha, reco-reco e pandeiro; entra também as palmas. Santa Maria - uma batida que diferencia das outras duas é que tem duas batidas de marcação, sempre acompanha com as palmas. Marvana - com três palmas Caudaria - com dois toques e três batidas Samba de roda - neste ele explica que não precisa tocar bem, pois cabe a cada um o seu interesse pelo aperfeiçoamento. Angola - é mais compassada e cheia de ginga. Cabe ressaltar que a "iúna" é destinada a recepção de pessoas na roda e momentos fúnebres. Ladainha - é uma louvação a Deus e as formas de vida e espírito que queiram citar. O mestre não participa da roda, ele coordena, ensina, dando ritmo e puxando as músicas. Mestre Pato ou Patinho ANTÔNIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS - MESTRE PATINHO 11 Nasceu em 1953, tendo como seu grande Mestre o Sapo - Anselmo Barnabé Rodrigues. Patinho, além da capoeira, praticou ginástica olímpica, sendo aluno de Dimas, e judô. Aos nove anos, franzino, procurava uma atividade que lhe desse força nos braços e pernas. Ao observar um vizinho fazendo exercícios de capoeira, apaixona-se pela atividade e passa a observar seus movimentos e a imitá-los, aprendendo sozinho os vários golpes e movimentos. Depois de algum tempo, passa a ter aulas com ele. Mais tarde, teve outro mestre - um escafandrista chamado Roberval Serejo, com quem treinou por dois anos. Foi quando assistiu à demonstração dos baianos, no Palácio dos Leões... No ano seguinte, quando Sapo se estabeleceu no Maranhão, Patinho estava entre seus primeiros alunos...

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In RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14 de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes.


ENTREVISTA COM MESTRE PATINHO. BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf Nome completo: Eu nasci, mestre Patinho nasceu Antonio José da Conceição Ramos Profissão: Eu sou formado em Educação Física licenciatura, tenho especialidade em ginástica olímpica masculina e feminina, né? Exerci minha vida quase inteira como arte-educador na área do corpo, né? E tenho, fiz quinze anos na ginástica olímpica como atleta, depois como técnico da seleção maranhense, fiz dez anos de judô, oito anos de balé clássico, oito anos estudando a educação física mesmo, né? E quatro anos de jiu jitsu, dois anos de boxe, nove anos de caratê, cinqüenta anos de capoeira que eu vou fazer ano que vem, né? Dançarino popular também, danças populares, sonoplasta, sou ator, né? E vim de uma aborrecência muito difícil, então pra ti entender mais essa questão tem que ter o portifólio... Nome da escola de capoeira: Bem eu fundei a primeira escola de capoeira do mundo, né? Que a capoeira tava na academia e eu sempre me senti, insaciei com essa questão da academia porque eu já sentia ser restrito só a questão do corpo, né? então eu fui, fundei a primeira escola do mundo da capoeiragem, inclusive é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, né? Que o primeiro é o GECAP, é dirigido pelo mestre Moraes que é da Bahia, mas o GECAP foi fundado no Rio de Janeiro, e hoje em dia em Salvador, aonde o coordenador e diretor é o mestre Moraes, que é uma pessoa muita querida e desenvolto também nessa questão da musicalidade, né? e dos fundamentos da capoeiragem, e a escola de capoeira angola que eu criei no LABORARTE, que é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, mais antigos. E a primeira como escola, porque escola? Porque agente não só trabalha a questão do corpo, agente trabalha a história, a geografia, essa questão da musicalidade, né? a pesquisa e tal, e no intuito de formar pessoas com capacidade pra trabalhar com a capoeira como a educação escolar E a escola funciona aqui? Não a escola funciona no Laborarte, nós temos nove pontos, pra você entender melhor nós temos aqui a nossa árvore genealógica, seria legal que eu te respondas as perguntas mas que você também tirasse fotos, olha aqui está a minha trajetória, a raiz vem ser onde eu comecei, quem foram meus netos e tal... e aqui nos temos aqui a Escola de Capoeira do Laborarte e hoje eu estou aqui no Centro Cultural Mestre Patinho, então quem são as pessoas que estudam no centro cultural, quem está dando aula, quem são os alunos formados, que aqui é sobre a minha trajetória, né? É a árvore genealógica dos nossos trabalhos, hoje aqui nós somos sabe quantas escolas no Maranhão? somos nove escolas no Maranhão regidas pela escola do Laborarte... Aqui é Bamba? Aqui é Bamba, é o Mandingueiros, né? Aí você vai ver aqui Mandingueiros do Amanhã quem é, Escola do Laborarte quem é? Nelsinho, e todos eles vão passando, Escola Criação quem é o cara? Mestre Serginho, né? Aí aqui, Centro Matroá? Marco Aurélio e contra-mestre Júnior, então assim tu vai vendo aonde agente tá aqui no Maranhão, e lá fora uma mestra Elma que trabalha em Brasília, Florianópolis e Rio Grande do Sul, né? e também a galera nossa que está dando aula lá fora como o Bruno Barata que está no Rio de Janeiro, que está trabalhando com a capoeira, aí tem uma galera da gente que tá trabalhando aí, e agente que mora em São Luís, que vai nos Estados Unidos e volta, em Portugal e volta, mas não fazemos questão de estarmos lá, porque o importante é que agente estude a capoeira no Brasil pra entender o que é jogar capoeira, pra depois ir lá fora fazer uma oficina porque vai ser difícil pra ver o que vai ser mal empregado lá fora. Qual é o público atendido? Bem na minha versão, até porque eu tenho uma sacação de que a capoeira é uma arte cultural desportiva hoje que tá no mundo aí, né? então em cento e cinqüenta países, então é muito né? e a capoeira era a única essência de corporal e educacional que a comunidade tinha acesso sem ônus e hoje é muito caro pra se fazer capoeira, e meu trabalho é o trabalho com a questão da educação inclusiva, né? não só como a questão do mongolóide, especial, como nós temos lá o Bamba você vê, tem os meninos, eu aqui infelizmente ainda não tenho condição de atender essa demanda, mas assim há muitos anos que a galera vai pra rua aí fazer besteira, se distanciam da leitura escolar, então eu acho muito importante meu trabalho é muito voltado pra isso, pela questão do social, agora eu tenho que me sustentar, eu tenho alguns padrinhos, esses padrinhos são meus companheiros de estudo, são aquelas pessoas que pagam cinqüenta reais


que é barato, né? Meu trabalho é um dos trabalhos mais baratos que existem nesse país porque se você vai no Rio, São Paulo é cento e cinqüenta é duzentos reais uma mensalidade de capoeira, e aqui quem pode pagar paga cinqüenta reais, e quem já passou da aborrecência e não tem condições de pagar, eu faço a permuta, chega mais cedo e dá uma varrida na sala, tem uma hora que eu chamo a atenção dos alunos para afinar os instrumentos, porque as pessoas acham que os instrumentos da capoeira não tem afinação, está entendendo, então essa coisa toda que a gente faz questão de ser diferente mesmo, de respeitar as diferenças, pra poder entender melhor a diversidade. Como é que feita a divisão dos trabalhos no ensino da capoeira? É muito interessante a tua pergunta, até porque eu não vejo essa questão da musicalidade dentro da sala de aula na hora do ensinamento, eu vejo mais as pessoas fazendo seqüência e tal, eu não me importo muito com essa questão de seqüência, apesar de respeitar muito a luta regional baiana que Bimba criou, que não é a capoeira regional, a capoeira que se chama a capoeira regional é a capoeira pós-moderna, então eu respeito muito essa questão, mas aqui eu tenho uma forma metodológica que eu acho que é a única parte que eu tenho a contribuir pra a capoeira, até porque eu nunca ousei criar nenhum fundamento, inventar nada no mundo da capoeira, a não ser o que me da direito de fazer uma construção de uma ladainha que é minha, um corrido meu, uma chula, uma quadra, tá entendendo? minha, que eu faço questão de que as pessoas percebam que agente não tem que ficar no tin tin tin don don don da capoeiragem antiga, a musicalidade da capoeira é muito imensa como o jogar da capoeira é muito imenso, como diversos números, você a formata e consegue registrar infinitas numeralidades, em questão de quantidade, a capoeira através de seus fundamentos ela consegue fazer a leitura de inúmeras necessidades, que cabe entender pra que significa cada um dos fundamentos, a família que cada um tem, a forma como se relaciona, que quando isso bem inserido, que é aquela inteligência sacou, leu, inseriu, aí vira sabedoria, aí fica o jeito e a hora a seu mercê, de acordo com a necessidade de cada um. Assim eu acho muito legal que agente tenha essa consciência do social com a capoeira que ela é muito importante. Em relação à musica, tens em média o tempo destinado à musicalidade durante a semana? Eu tenho, por exemplo, assim, dentro da minha aula eu tenho um processo, na segunda, terça e quinta que eu costumo dar aula, nos demais horários eu vou no Laborarte, eu vou no Maré de Chão, no Matroá, eu vou no Brinquedo de Angola, entendeu? então eu faço assim, na segunda-feira eu dou um exercício ligado aos fundamentos da capoeira, só fundamentos, até de certa forma vim descartando a educação física corporal, usando o próprio recurso da capoeira, chamado despertar o que tá dormindo, porque tem muita coisa dentro da gente que está adormecido, que agente não sabe que tem, nem sabe da função que precisa pra acordar e ser mais feliz, ser mais saudável, e no segundo dia na terça-feira treinar pra jogar, na quinta-feira jogar pra treinar. Então, sempre que eu estou no treinar pra jogar, sem instrumento nenhum, o corpo como instrumento e o cântico: “oh nêga! que vende aí? que vende aí?”, gingando, jogando de três, no médio plano, no rasteiro plano, no jogo de dentro, no jogo de fora, cantando inclusive pra facilitar o momento que ele for, porque é o seguinte, no meu ritual de jogo, saiu do jogo foi pro instrumento, não tá com o instrumento na orquestração, não tá tocando instrumento, tá ao redor da roda, tá fazendo o coro, porque isso te mantém aquecido, te mantém, facilita quando você for tocar cantando, porque é um terror quando a agente se desgarra, a pessoa que toca muito bem o instrumento, mas já viu aquela pessoa que não sabe tocar o instrumento sem estar com a partitura na frente? né? mas na capoeira não tem partitura, mas tem a simbologia que eu fiz que um tempo eu vou te mostrar como foi que eu fiz, que é pra exatamente contribuir nessa questão, eu posso te mostrar no toque que eu tenho aqui, que é uma coisa que ainda não está registrado mas agente já estuda isso aqui, já pratica isso aqui, né? Dentro do meu grupo, e eu vejo assim muito pouco novos tocadores, tem poucos instrumentos, as pessoas não lida mais com essa questão e o cd e a fita cassete evitou que muita gente desenvolvesse essa questão porque ficou bebendo do cassete e na aula só o instrumental, eu aqui por exemplo não joga ninguém, não joga capoeira aqui se não tiver tocando, se não estiver fazendo o canto, que é pra exatamente manter o equilíbrio do instrumental, o corpo e o canto. Em relação ao auxiliares nos seus trabalhos, você tem? Ah, eu tenho, tenho vários, todos são os auxiliares, só de citar uns auxiliares, porque há um revezamento do instrumental, por exemplo, assim tem alunos meus que estão restritos ao gunga, quando não sou eu é um aluno que tá bem desenvolvido, que está estudando pra se tornar professor, aí ele vem pra cá pra aprender regência, que hoje não é separado do mestre de capoeira, o mestre de capoeira ele também é um mestre de regência, ele tem que saber da musicalidade, ele tem que saber do ritual, ele tem que saber como se formata esse item de suma importância, pra que o jogo continue sendo o jogo. Como é que você vê essa relação entre a energia com a capoeira e com a música? Bem, é peculiar do jogo da capoeira essa unção divina, na verdade isso é uma unção é uma massagem através do solfejo, do seu próprio solfejo, suas nuances, por exemplo, você canta uma ladainha “Riachão tava cantando olha ai meu Deus”, você fala de Riachão você vê ele que é o guerreiro, né? “Riachão tava cantando olha ai meu Deus, na ilha de Upaon Açu, quando apareceu um negro, quando apareceu um negro olha ai meu Deus da espécie de urubu, vestia calça de couro, camisa couro cru, tinha um olho encarnado, ai ai ai outro bastante amarelo, tinha o beço


virado, olha ai meu Deus, igual a sola de um chinelo, veio convidar Riachão olha ai meu Deus para vir cantar martelo, para vir cantar martelo com negro desconhecido, ele pode ser escravo olha ai meu Deus e tá por aqui fingido, ê viva meu Deus!”, aí isso é uma louvação, aí isso tem que ter unção, essa unção é uma energia dessa que você tá falando, essa energia ela tem que contagiar o círculo da roda, pra poder enaltecer os jogos e até proteger pra que agente, jogador, os jogadores não se machuquem, né? que tenham o instinto deles consciente, e eu vejo muito o capoeira hoje mais moderno aí, com o espírito incosciente fazendo coisas sem saber, que um calcanhar do malá, é afundamento do malá, uma rasteira sem ser ritmada, vai machucar um, vai bater num, vai fazer um acidente. A forma que você elabora a forma de passar os toques e as diferenças entre eles... Bem, isso é muito na prática, primeiro que eu não comercializo o berimbau, o berimbau é uma pesquisa do aluno, o berimbau pra mim não é um elemento de comercialização, e sim de estudo, então como você tem sue livro de inglês, você tem seu livro de português, seu livro pra ajudar na tua escola, na capoeira você tem que ter seu instrumental, então seu berimbau, eu digo olha o berimbau é feito do arco de biriba e tal, que nos vamos ao mato numa certa data buscar, inclusive fazer o remanejo dessa essência, pra poder agente uma horas dessas se surpreender, já tem um arco de berimbau feito de fibra de vidro e uma cabeça feita de recipiente de manteiga, tu tá entendendo? Então é fazer o próprio aluno fazer o instrumento dele, começa a tocar, e mostrar pra ele como é que corta a caixa acústica do jeito que é, o tamanho da abertura da boca que vai fazer a acústica sonora na barriga, enfim... tocar com a pedra que é uma pedra de seixo, então uma pesquisa pra ele não ter esse instrumento como um acessório de decoração, que eu acho horrível, um acessório de decoração que você coloca ele na parede, deixa cheio de traça, não é tocado, não é prestigiado, então ele fazendo esse instrumento, ele vai ter zelo com ele, ele vai andar com ele, vai tocar com ele, vai aprender com ele, eu tenho instrumento aqui cara que tem trinta anos comigo, que me acompanha, eu to com cinqüenta anos que estudo capoeira, infelizmente alguns instrumentos eles caem e quebram, eu to com minha viola aqui a trinta anos toda arrebentadinha mas ela vai viajar comigo, sabe ela tem um som especial, eu queria ter assim um tempo contigo pra poder mostrar isso na prática, colocar a galera pra sentar, tocar, cantar, tá entendendo? e no dia da sua apresentação agente combinar, agente pode levar uma bateria só pra fazer o canto, não é pra ter jogo, um painel pra você mostrar a importância de se ter, ceder alguns instrumentos pra você possa expor, tá entendendo, eu acho interessante. Quanto ao aspecto simbólico, o que é ensinado acerca de cada instrumento e de movimentos essências na capoeira? Oh, a simbologia ela não existia, eu fiz a forma de como registrar não só o andamento como também o toque, né? através de símbolos como eu te falei, que é uma coisa inédita que faz parte do meu trabalho, que inclusive ainda não está registrado, que eu só utilizo com meus alunos, ou então quando eu tenho uma pessoa muito interessada em aprender, tá entendendo? pra que ele não esqueça eu ensino a registrar, mas é muito prático, é muito da leitura prática, eu digo assim olha esse instrumento é grave, esse aqui é médio, esse aqui é um agudo, o médio toca assim, o grave toca assim, é uma coisa muito prática, como nós falamos. Quando eu falei relacionado ao aspecto simbólico é assim mais ou menos sobre o significado de cada instrumento, relacionado a tradição, a história... Ah sim, sim... isso aí é o seguinte, primeiro na questão do berimbau eu costumo falar assim, o berimbau é um instrumento que descende dos arcos musicais, onde antigamente a caixa acústica não era uma cabaça, não era uma coitela, coitela que eu falo é uma cuia, que a ressonância de uma cuia não é um berimbau é uma marimba, a marimba aí está a grande diferença, mas todos dois descendem dos arcos musicais, como o violino, a rabeca, a viola, todos nasceram dali, então como era o arco musical primeiro? O arco musical primeiro era um buraco no chão, uma verga de fibras retilíneas de tronco, porque não pode ser de galho,você não pode fazer um arco de um berimbau de galho, porque um galho anelar não dá brando, esse brando é a envergadura que dá, então um arco anelar vai quebrar, então tem que ser com troco, que as linhas são retilíneas que assim ele retoma esse brando, então não tinha na época arame, esse arame que hoje é retirado dos pneus dos carros usados, esse pneu de automóvel, antigamente essa corda era feita da tripa de macaco, ou tripa de porco seca bem trabalhada pra fazer a ressonância... Eu já ouvi falar não sei onde que tem gente que já usa corda de piano... É, mas isso aí não tem sentido, porque a corda de piano ela emite um harmônico que não tem controle (ããããã), fica no harmônico que ninguém sabe porque, agora que ele não vai mais mudar essa corda por resto da vida, isso não vai porque a corda de piano não desgasta, mas no ato você vai ver que ele dá a nota, meus berimbau eles todo tem a afinação e a nota certinha, eu converso com meus instrumentos, né? eu sei onde ele tem um grave, onde ele tem um agudo, isso requer muita comunhão com instrumento, muita prática, muita prática. Agora indo pro canto, como é que é feito o trabalho com canto aqui nas tuas aulas e com as letras das músicas? Geralmente, eu sugiro que cada um faça o seu repertório, e nenhum tem o mesmo repertório, mas eu, por exemplo, eu canto em algumas línguas para despertar, ensinar a liturgia popular, por exemplo , eu vou no dito do Leo Bahia que era o principal musicista do meu tempo, que aborda um tema em ioruba que era cantando pelos escravos que


remavam nas embarcações negreiras que é assim... (tema em iorubá) que eu canto isso pra poder ensinar eles a ter memorização, aprenderem nunca, e também você ter um momento de você ter uma atenção de unção divina, ele fala assim os negros que tavam no açoite, por conta do açoite e não tinham força pra remar, quando as embarcações não tinham motor, era à vela, né? e a vela, dava a calmaria, não tinha vento, na calmaria eles baixavam a vela e iam no remo, então eles cantavam assim (canção ioruba), então através do ritmo eles remavam ao mesmo tempo, e diminuíam a força de todos, somavam pra tirar o esforço daqueles que estavam sequelados, e eu botei assim na minha aula um repertório que é pra poder eles se desinibirem, perderem a vergonha de cantar, porque isso tudo acontece na roda, a roda tem esses fundamentos que tem suma importância pra vida, não é só pra jogar capoeira, capoeira não só é essa questão de jogo, os cânticos são também uma denuncia, você pode denunciar cantando na roda de capoeira, pode desafiar, pode falar de uma pessoa, como também pode fazer seu corpo fechar pra não apanhar. Como se dá a relação entre a música e o jogo na roda? Bem o jogador tem que ter seu corpo musical, porque ele tá jogando e tem que está ouvindo e muitas das vezes até respondendo o coro, também pra não perder a cadência do ritmo, e não ser um risco nem pra ele nem pra quem tá jogando com ele. Isso é uma questão do próprio fundamento que exige que o jogador tenha essa interatividade no campo, porque eu posso está no campo e incentivando o outro a fazer o mal pro outro, faz isso com ele, e o cara não estar ouvindo, então ele tem que estar ligado, tem que ter o instinto dele bem trabalhado, na verdade é a proteção bem trabalhada no deredor, entender o círculo da roda tem que está ligado em tudo o que acontece pra não vacilar, como é na vida né? Pra você qual o significado da roda e qual é o significado das palmas? Bem as palmas ela é uma grande indutora de novos adeptos, não só na resposta do coro como também no ritmo da energia da roda, ela é um instrumento musical, inclusive eu falei antes, ela foi o primeiro depois do corpo na capoeira... Você até falou sobre a utilização de material escrito para aprendizado dos toques... Pois bem, existe vários, agora, eu tenho um dos, a maioria são ligados ao pentagrama, e nem todo mundo se interessa em fazer, então eu busquei uma outra forma que vai de encontro a essa questão do pentagrama, essa questão do academicismo, inclusive eu não uso esses termos acadêmicos dentro da capoeiragem que eu pratico, exatamente para facilitar o que agente acha que é impossível, sem perceber que é impossível porque agente nunca tentou, que é difícil, porque agente confunde com edifício que é bem alto, porque não existe padre nosso sem seu vigário, nem ave maria sem beata, nem capoeira sem mestre patinho Nas suas aulas há algum momento específico destinado ao ensino dos fundamentos da capoeira e como isso é realizado? Bem isso é através da prática dentro da sala de aula, o nome desse dia é jogar pra treinar, é o tempo, não é uma roda aberta, eu paro a roda, eu induzo as pessoas a revezarem o canto, o instrumental, o jogo, não é um ensaio, é uma vivência, que é uma aula. Você faz alguma divisão por faixa etária? Não, nem por nível. Você observa o comportamento dos alunos perante a música. Como é que eles se comportam perante a música? Alguns ficam dispersos, intimidados com o coro, né? aí eu vou e dou um incentivo, pra que ele cante e explico porque ele tem que tá interagindo no coro, eu digo: ó você vai jogar as pessoas cantaram e responderam o coro pra você, agora os outros vão jogar e você não vai tocar, cantar e responder o coro pros seus colegas? Eles cantaram pra você, então é uma recíproca, é uma permuta... então, incentivando e dando a importância, até porque o cara que não canta, ele vai entrar sem ritmo, ele vai ficar com dificuldade ele vai levar rasteira, que a tomada de centro é um dos principais objetivos do jogo. Quais os reais motivos que as pessoas procuram a capoeira? A maioria vem porque levou uma surra na rua, “eu quero dar porrada no sacana que me bateu”, aí eu mudo essa história né? porque eu não ensino ninguém a brigar, a capoeira no seu próprio fundamento faz com que você não apanhe mais, eu mesmo levei muita porrada sabe? mas com um detalhe eu nunca apanhei, levei porrada, mas não apanhei, apesar de ter o corpo franzino mas você com os fundamentos bem formatados você não apanha, mas também não bate, mas também não apanha. A última é uma coisa bem subjetiva assim... Pra você o que significa a figura do mestre na capoeira?


O mestre é uma figura que tem que ter na sua consciência com a lida, com a arte que ele pratica no caso a capoeira, a capoeiragem, é estar pronto a aprender, aprender sempre, nada mais, porque não se sabe, né? então continuar a aprender é um dos principais objetivos do mestre de consciência.


Conversando com Antônio José da Conceição Ramos, Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 200612

No dia 26 de fevereiro de 2006 estivemos - Loreta e eu - na casa de Mestre Patinho, em plena Madre Deus. Entrevista marcada para as 09:00 horas de la mañana, de um domingo de carnaval! Chegamos e Patinho, também: estava chegando da folia. Para quem conhece São Luis do Maranhão, a Madre-Deus (Bairro) e Carnaval de São Luis, sabe o que isso significa. Realmente um grande "sacrifício" do Mestre. Loreta, minha filha, está se formando em Economia, pela UFMA; como já anunciado, sua monografia de graduação versará sobre Economia e Capoeira: a capoeira como formadora de renda; seu impacto na economia ludovicense (Anexo III). Seu orientador, Felipe de Holanda, ainda não se decidiu se é Capoeira ou se é Economista, ou viceversa... É aluno de Patinho... Da mui proveitosa entrevista com Mestre Patinho (foto 1), capturamos o seguinte: - Capoeira é um jogo corporal, é um diálogo - a rasteira é um choque, é preciso um corpo rítmico para ser bem dada; -

Capoeira é fundamento, três alturas, três distancias, três ritmos...

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Capoeiragem: jogo estratégico para a guerra - é um jogo de xadrez;

- Quando conheci a Capoeira (anos 60), não era profissão, não havia possibilidade de viver da capoeira; aprendi a capoeira do Rio de Janeiro, com Jessé Lobão, aluno de Djalma Bandeira (foto 2), e com Sapo, meu Mestre... - Bimba não criou um estilo, ele criou um método: para se afirmar na "chamada de Angola" para disfarçar o jogo estratégico - passa-dois, balão cinturado - malícia, jogo de malícia, jogo de transformação, jogo de cintura: oitiva, rústica... - Hoje, a Capoeira é uma mesmice, se transformou em uma ginástica coreografada - vi um aulão, com mais de 500 alunos, todos repetindo o movimento... Lembra àquelas aulas de calistenia, aquelas apresentações de ginástica, de antigamente? As aulas de educação física do Exército? Isso não é Capoeira ... - A Angola... É autodefesa, busca do diálogo corporal, é transformação, jogo de dentro, você encontra a sua altura, o seu jogo, sua dimensão; é diferente da capoeira do pós-modernismo; capoeira é matemática; é história; é geografia... Tem que estar em contato, é comunhão, todo dia... - No jogo estratégico, não pode baixar a guarda; deve-se respeitar o oponente; mesmo que o adversário não saiba jogar, o bom Capoeirista joga mesmo com quem não sabe, e o faz jogar, gingar... -

Maçonaria x Capoeira - 0 a 9, infinita forma.

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Não existe uma capoeira, Angola, Regional, cada jogador tem a "sua Capoeira”...

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A Capoeira é uma arte-cultura esportiva que mais representa este País...

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O Capoeira não procura emprego - procura trabalho, realiza um trabalho...

- Não consigo sobreviver da Capoeira, sou um artista de rua, sou um mestre, hoje me aceito como mestre, pois estudo os ritmos maranhenses - são 37... - o boi, o teatro, a ginástica, a educação física, a lateralidade, a psicomotricidade, a música; para ser mestre da capoeira, tem que ser um Doutor... -

Diálogo da Trilogia: § § §

Angola - gunga São Bento Pequeno - viola São Bento Grande - violinha

São células na mesma cadência que preenchem o espaço melódico - pulsação; A roda tem regência... O Traíra (Mestre), no local de Angola, fazia Santa Maria; quando chega em São Bento grande, fazia cavalaria ... -

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A teoria não vale nada, se não inserida na prática...

São corresponsáveis por este artigo: Loreta Brito Vaz - UFMA, Acadêmica de Economia, Capoeira Angola; Felipe de Holanda - UFMA, Professor de Economia, Capoeira Angola (Orientador)


- A grande dificuldade é a música, a musicalidade da capoeira; muitos me criticam por ensinar música, teoria musical, para se cantar as ladainhas, as chamadas... Mas é preciso, é necessário entender os toques, saber quando e como entrar, os tons, a harmonia; assim como o texto, saber o que esta cantando, não apenas repetir um som... É necessário entender a letra, o que canta, é preciso ter conhecimento... -

Capoeira, hoje, é arte de negro, esporte de branco...

Capoeiristicamente, Leopoldo Vaz, São Luis - Carnaval Maranhense de 2006 Professor de Educação Física Mestre em Ciência da Informação


O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS “A capoeira me trouxe o artista que sou. Eu vou além da capoeira, mas sem me descartar dela, ela é o carro-chefe. Assim que eu sou feliz". Mestre Patinho. FÁBIO ALLEX (Publicada no Jornal Pequeno em 11 de fevereiro de 2012) http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html

“[...] Ê, volta do mundo, camará. Ê, o mundo dá volta, camará [...]”. Estes versos constantes em rodas de capoeira parafraseados pelo cantor e compositor Gilberto Gil para criar a música “Parabolicamará”, do disco homônimo, de 1991, nada mais é do que uma ilustração da certeza sobre o mundo possibilitar voltas, em idas e vindas, onde nessa perspectiva há também a possibilidade de conquistas para quem um dia precisou conviver com o acre gosto de desventuras. Para Gil, o neologismo, uma aglutinação das palavras parabólica – da antena onipresente até em redutos carentes do Brasil – e camará – maneira como os adeptos do jogo lúdico afro-brasileiro adotaram para chamar seus parceiros, contempla ainda o mundo globalizado que o tropicalista vislumbrara há mais de 20 anos. “Tudo muda o tempo todo. E só quem sabe entender a mudança pode conquistar a vitória, ou melhor, vitórias, sempre parciais”, disse o então ministro da cultura, em 2006, no Rio de Janeiro, durante o iSummit, evento voltado para tratar de direitos autorais sobre criações artísticas e intelectuais. E é nessa atmosfera, nessa filosofia de superação, de mudança que se encaixa e bebe um dos personagens vivos mais emblemáticos da cultura maranhense e brasileira, onde “o novo no velho sem molestar as raízes” se faz facilmente presente: Antônio José da Conceição Ramos, o Mestre Patinho. O ‘capoeira’, como gosta de ser chamado (por achar o termo capoeirista pejorativo), é um desses homens que escolhe (ou é escolhido por) uma causa para abraçar, defender e que se confunde com a própria história e com a própria causa. É daqueles homens que se perpetuam a partir do contexto ao qual se propôs a erigir e desbravar, perpassando por um passado que não poderá se calar diante de contribuições atemporais.


Patinho autografando 1º CD de Capoeira do Maranhão

Patinho na casa onde nasceu e vive até hoje

O pato rouco, outra alcunha do Mestre recebida após a retirada das amígdalas e ter feito quatro raspagens nas pregas vocais, nasceu em São Luís, na casa onde mora até hoje, na Rua São Pantaleão, casa 513, Centro, em 14 de setembro de 1953. É lá, próximo à igreja concluída em 1817, de mesmo nome da sua rua e de seu berço esplêndido, que surge para o mundo o 15º filho de Djalma Stefânio Ramos e Alaíde Mendonça Silva Ramos. É por lá, em 1962, os primeiros passos para a vida e para a capoeira, do menino que veio raquítico, com deficiência respiratória e febre reumática. Apenas nove anos de idade foram suficientes para conhecer e deslumbrar-se com a manifestação artística que se tornaria sua missão e sua trajetória. “Fugi de casa num sábado, de manhã. Vi dois galos brigando, próximo à Rua da Palha [divisa com a São Pantaleão]. Eu nunca tinha visto aquilo, cara”, conta entusiasmado. “Em seguida, do outro lado, olhei Jessé [Lobão, capoeirista maranhense que havia sido treinado por Djalma Bandeira, no Rio de Janeiro, e, ao retornar para o Maranhão, passou a promover brigas entre galos], fazendo meia lua (golpe tradicional da capoeira), batendo em uma lata pendurada em um arame preso [em duas extremidades]. De imediato tirei a atenção dos galos que estavam brigando e, numa atitude divina, imitei esse momento. E foi justamente por meio de Jessé Lobão, que Patinho descobriu, encantou-se e pôde agregar os primeiros valores oriundos da capoeira. MESTRE SAPO Em 1965, Mestre Patinho, já totalmente inserido e embriagado pela fonte da capoeira, conhece Anselmo Barnabé Rodrigues, o Mestre Sapo, discípulo do baiano Washington Bruno da Silva, o Mestre Canjiquinha (19251994), em oportunidade de demonstração realizada no Palácio dos Leões. Por conseguinte, Sapo, de acordo com relatos populares, fixa residência em São Luís, possivelmente a convite de integrantes da gestão do então governador do Estado José Sarney. O intuito seria promover a capoeira, o que o colocaria no posto de referência mais efusiva e responsável pela reaparição do jogo-arte durante a década de 1970, no Maranhão, além de ter sido também o mais proeminente incentivador e professor de Patinho. Sapo, que participava do Quarteto Aberrê (nome em homenagem ao mestre de Canjiquinha), juntamente com Vitor Careca e Brasília, além do próprio Mestre Canjiquinha, líder do grupo baiano, de fato, depois de estabelecido em São Luís, a partir de 1966, segundo o artigo O Mestre Sapo, a passagem do Quarteto Aberrê por São Luís e a (des)construção do ‘mito’ da ‘reaparição’ da capoeira no Maranhão dos anos 60 (2010), do professor de História


Roberto Augusto Pereira, passa a ministrar aulas de capoeira somente após cinco anos, no Ginásio Costa Rodrigues, já no governo Pedro Neiva de Santana.

ORIGEM DA CAPOEIRA NO MARANHÃO Considerada patrimônio imaterial da cultura brasileira desde 2008, por decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a manifestação artística, e luta de outrora, oriunda das senzalas, dos guetos, sob a tutela de escravos negros a fim de protestar contra mazelas sociais, tem indícios de ter aparecido no Maranhão na década de 1870, na região da Baixada. Todavia, há também registros que narram sua aparição entre 1830 e 1840, reaparecendo, já na capital maranhense, aproximadamente, 100 anos mais tarde.

Árvore genealógica de Patinho A partir daí esquiva-se para ressurgir no início da década de 1960, representada pela Academia Bantu, pioneira em capoeira no estado. À frente do projeto estava o aluno do Mestre Artur Emídio (1930-2011), o Mestre Roberval Serejo (1936-1971), um marinheiro que serviu a Marinha de Guerra do Rio de Janeiro e foi morto quando trabalhava na construção do Porto do Itaqui. Há vários relatos, portanto, inclusive de Mestre Patinho, que afirmam que Mestre Roberval Serejo foi antecessor de Sapo. Também de acordo com o artigo do professor Augusto Pereira (2010), é possível destacar, ainda, como antecessor de Mestre Sapo, Firmino Diniz, aluno de mestre Catumbi, no Rio de Janeiro. Posteriormente, tornar-se-ia um dos expoentes mais expressivos e fomentadores da capoeira em rodas de rua realizadas em praças da capital. Além do Mestre Roberval Serejo, participavam da Bantu, Mestre Diniz, Mestre Jessé Lobão, Babalú, José Anunciação Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascável, Alô, Mestre Patinho. Com a missão de dar continuidade ao legado e ao conhecimento buscado e adquirido com esforço, sempre “na barganha do aprender”, por meio de vários mestres como João Pequeno (1917-2011), João Grande, Curió, Jaime de Margrante, Artur Emídio, sobretudo após a morte de Mestre Sapo (em decorrência de atropelamento no trânsito do Bairro da Cohab, em 1982), Mestre Patinho delineia sua sina na capoeiragem, desde que fora aluno e colaborador de Sapo, no Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação; da Secretaria de Educação do Estado. “Pra eu ter o armazenamento mais aproximado do que é o jogo [da capoeira] foi necessário ir buscar a brasilidade em muitos mestres”, garante.

"A CAPOEIRA É UMA SÓ" Sobre essa brasilidade, dentre tantos mestres respaldados na arte, pesquisada a fundo e com exclusividade durante cerca de cinco décadas, Patinho torna-se credenciado, não apenas por especialistas célebres da manifestação afro-descendente que o antecederam, mas também pelo empirismo e pela incansável disciplina que lhe revigoram a


cada dia, trafegando por infindáveis amálgamas imbuídas na capoeira e na coletividade a qual ela proporciona. “A minha preocupação não é em ser sistemático, mas exigente. A minha exigência é prática, lúdica e vem de uma perseverança muito grande. Eu lido com a capoeira em primeiro plano e a maioria das pessoas que lidam: mestres, contramestres, professores, trainees têm outra função, porque a capoeira para elas é para um espaço de tempo quando estão livres, e não vão à capoeira quando ela precisa. Somos diferentes, mas precisamos entender as diversidades”, enfatiza. Envolto em ‘jogadas’, como meia lua, chapéu de couro, chapa, meia lua de compasso, aú, benção, rabo de arraia e dois pandeiros, um agogô, um reco-reco, três berimbaus (de três tons) e um atabaque, as práticas e conceitos aprendidos e adotados por esse lendário gigante da arte e da vida, de 1,60 m, são vastos e estão disponíveis por considerar que “reter conhecimento é crime”. Patinho, portanto, ensina que a capoeira não é uma dança tampouco luta, e sim um jogo por que contém fundamentos, “como os números de zero a nove que formatam uma quantidade infinita de números”, todos com alguma função. “Não é dança, é estratégia de jogos para a guerra”. Fala ainda sobre a função dos fundamentos, caracterizados pela ‘família’ que possuem, resultando em “mistura por excelência”, “diálogo corporal”, “xadrez do corpo”, além de seus andamentos: lento, intermediário, acelerado. Das alturas: rasteira, intermediária e alta. Das distâncias: dentro, fora, à distância. “Para jogar capoeira é necessário ter uma gama enorme de saberes”, afirma.

1.

Aula realizada no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho

2. Aula no Laborarte

Para quem, de alguma forma, já teve contato sobre o jogo corporal, deve ter tido notícia quanto aos estilos da capoeira: regional e angola. Todavia, Patinho afirma com convicção que a capoeira, o seu ritual do dia a dia, é uma só. “No estilo regional, só há uma altura, em cima; na de angola, em baixo e lento. E não é isso. A capoeira que eu conheço tem fundamentos: tem três alturas, três andamentos e três distâncias, para que se venha a perceber a diversidade e a importância de se dominar de forma bem lenta, bem equilibrada, de forma ambidestra. A Psicomotricidade fica de cabeça pra baixo, onde tórax vira cervical, mão vira pé, pé vira mão, perna vira braço. E não é aleatório. O que aprendi em 50 anos, posso ensinar em cinco. Hoje eu consigo colocar leigo na leitura da capoeira e em três meses dentro da roda”.

POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS O multifacetado poeta das expressões corporais, sempre com uma visão além do seu tempo, não se contentou apenas em adquirir seus conhecimentos técnicos, práticos, artísticos e filosóficos por meio da capoeira, por mais rica que ela possa ser. Patinho mergulhou fundo em outras áreas afins com o objetivo de multiplicar possibilidades e agregar valores que possam se complementar. Concluiu curso de dança primitiva, moderna e contemporânea, balé clássico, dança folclórica, expressão corporal, fez cursos de atualização em educação física, além de ser percussionista e ter


lançado, em 2008, o primeiro CD de capoeira do estado, intitulado de ‘Capoeira do Maranhão – Mestre Patinho’, com sete faixas de sua autoria e mais seis de grupos da Escola de Capoeira Angola do Laborarte.

O Mestre contemplando a árvore genealógica das escolas de capoeira

O reconhecimento que já ultrapassou fronteiras, como a participação com seu grupo no Festival Internacional de Expressões Ibéricas (FITEI), na cidade de Porto, em Portugal, em 1990, foi ainda mais ratificado com o ‘Prêmio Viva Meu Mestre’, em 2011, uma política de reconhecimento e valorização de mestres com o objetivo de reconhecer e fortalecer a tradição cultural da capoeira e homenagear mestres com igual idade ou superior a 55 anos. “A minha praia é preservá-la, torná-la mais fácil e que todos percebam a importância que ela tem nas nossas vidas. E perceber que não se muda ninguém. Cada um tem que perceber e se permitir a aceitar os discernimentos. Uma roda de fundamento em harmonia, não só encanta como eleva, como massageia, espiritualiza, autoafirma a personalidade. É muito triste as pessoas julgarem o que nunca tiveram ideia do que é”, filosofa o homenageado. Assim, a capoeira, a clássica expressão popular, o jogo, o balé rústico, que tanto Patinho cultiva e compartilha, faz da sua própria existência um acervo cultural percebido em cada palavra, gesto, na plasticidade e comunhão dos movimentos. Arte, artista, trajetória e presente se confundem. Eis que a força do berimbau faz ecoar de São Luís ao mundo afora, o canto, o equilíbrio e o mais singelo amor pelos dias, pelos camaradas, pela capoeira. Eis o Mestre que proclama: “Ser mestre é estar pronto para aprender, não esconder conhecimento e torná-lo em uma leitura ao alcance de todos”.


ARTIGOS, CRÔNICAS, DISCUSSÕES, OPINIÕES Nesta sessão, publicadas as novidades: os novos artigos, a partir deste outubro de 2017, data da fundação da Revista do Léo. Os artigos do Editor, de colaboradores, com espaço aberto aos pesquisadores que desejem fazer uso deste espaço. Não restrito aos esportes, educação física e lazer, mas também à História/Memória do Maranhão.


A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DO “ESPORTE” E OS SEUS VARIOS MODELOS ANTONIO MUSSINO antonio.mussino@gmail.com Dipartimento di Scienze Statistiche - Sapienza, Università di Roma Os estudos sobre esporte z z

No fim dos anos setenta e no princípio dos anos oitenta, em muitos países europeus encontramos os primeiros estudos sobre o comportamento da população face ao esporte (procura). Os estudos investigavam sobre: y os praticantes e as características de prática esportiva; y o perfil social dos desportistas; y as razões da pratica e da não pratica; y as modalidades praticadas e pretendidas; y os potenciais praticantes e a procura não satisfeita; y e assim de seguida.

As políticas esportivas z

z

O surgimento deste tipo de estudos ficou a dever-se á necessidade de avaliação das necessidades de oferta esportiva por forma a rentabilizarem-se os recursos e racionalizarem-se as escolhas em matéria de política esportiva. European Sport for All Charter

Um perfil historico – 1


Mesmo em Brazil os estudos principiavam na aquela altura: y y y y y y

Diagnostico da Educação fisica e desportos no Brasil (Da Costa, 1971) Inventario da infraestrutura desportiva brasileira (IBGE, 2000) Atlas do Esporte do Brasil (Da Costa, 2005) Perfil dos municipios brasileiros (IBGE, 2006) Pesquisa do esporte (IBGE, 2006) Dossier Esporte (IPSOS MARPLAN, 2006)

O modelo europeu z

Este interesse a nível da UE parte da defesa do tradicional modelo de esporte europeu, que se baseia sobre três pilares institucionais:

z

1) Muitas áreas de atividades competitivas ou não, gerenciadas e/ou regulamentadas por instituições especializadas de natureza pública ou semi pública, como Federações esportivas e Comitês olímpicos. 2) Um papel importante das redes de associações sem fins lucrativos, baseadas sobre o trabalho voluntario. 3) O sustento público para prática através de contribuições estatais diretas ou indiretas.

z z

O modelo norte americano O modelo europeu se contrapõe a aquele norte americano, fundado sobre uma rígida separação entre profissionalismo comercial e redes espontâneas de voluntariado não sustentadas pela intervenção pública Some “political” remarks z The EU has not involved itself with sport movement to any great degree. z

The world of sport has always been seen as an autonomous field in which the EU should not exert its direct influence.

z

Only the economic aspects have been subject to the rules of the EU Treaty (e.g. the Bosman ruling).

A natureza do desporto z Porque, nessa altura, nos precisamos destas diferentes informações? z

Porque o desporte mudou a sua natureza!

O desporto pós - moderno z Esporte moderno, baseado em organizações, seleções, competições, filiações, medidas, pontuações e outros. z Esporte pós - moderno y esporte business, cujo modelo são aqueles do mercado, e aos quais precisaram se curvar as imutaveis regras desportivas. y milhões de atividades, individuais e coletivas, cada uma das quais tem como referimento diferentes modelos, que se combinam com a procura de uma nova relação com o próprio corpo e com o ambiente: é o esporte para todos.


A “piramide” do esporte moderno

A “piramide do esporte pós-moderno

Heinemann and Puig’s analysis on the transformation of sport development models in advanced societies, that identifies four ideal models of contemporary sports:  The first model (the competitive one) is the modern version of traditional sports, consisting in rules, organizations, shared values and targets to be reached;  The second model (the expressive) is undoubtedly in contrast with the first one; It is the model of freedom, diversification and innovation: sports open a door to get out of everyday life;  The third model (the instrumental one) has the body as a constant reference, displayed within and outside gyms: forms often remains the only means to seek one’s identity;


finally, the fourth model (the spectacular one) has very old origins but today it is indissolubly linked to the market. The sports dimension keeps on having strict and severe rules and spectacular sports are legitimated by the possibilities of remuneration and the development opportunities it offers cities or countries, as well as by its capacity of reinvigorating subdued national pride No activity can be definitely included in one of the above-mentioned models, since this depends on the participation pattern which, in fact, has an individual nature. New challenges z This complexity represents a new challenge for statisticians, when they try to measure and to compare levels and typologies of participation in old and new sports activities. Monitoring Participation in Sports z Some basic principles were established by UNESCO in the ‘80 (Framework for Cultural Statistics - FCS) and improvements have been worked out within the European Union (Leadership Group for Cultural Statistics - LEG) z

The LEG group for Cultural Statistics decided not to deal with sport in the first steps, but appreciated a co-ordinated action in sport.

What is the “Compass” action in sport? z It seeks the Coordinated Monitoring of Participation in Sports. z It makes accessible shared statistical criteria and comparable data z It was promoted in 1996 by the Italian Olympic Committee, by UK Sport and Sport England and several key-contacts, who were managing surveys in European countries. The project’s goals z The main goal of the project was to examine existing systems for the collection and analysis of sports participation data in European countries. z COMPASS aimed to promote harmonisation of these statistics by persuading countries to adopt some aspects of a common methodology in the collection of survey data. z So greater comparability of data from different countries would become possible. z

And note that this does not mean that we intend to construct a European sports system, by standardizing activities, behaviors, approaches and attitudes vis-à-vis sports.

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In fact, the process of understanding of this phenomenon aims at characterizing each country with its own peculiar features, through the definition of a common reference scheme, in order to come to know and protect them Moreover, within this common reference scheme, it will be possible to interpret and better understand the existing differences as well as the possible future trends.

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A experiência do COMPASS z COMPASS strategy started with the debate in the Sports Statistics Committee of the International Statistical Institute (ISI).


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In three Meetings (Florence 1993, Beijing 1995 and Istanbul 1997) experts from various countries agreed to work to improve the quality of national sports statistics and to develop a suitable methodology to enhance international comparisons. The Sports Research Officers Network (SRONET) of the Council of Europe proposed to investigate the availability of sports participation survey data in Europe, and to attempt to make cross-national comparisons where appropriate (1995). The COMPASS group was recognised as a working group of International Association for Sports Information (IASI ). The first COMPASS report was published in 1999 and provided comparative data on sports participation for seven European countries (Finland, Ireland, Italy, the Netherlands, Spain, Sweden and the United Kingdom). Since third Meeting in Rome (2002) reports were proposed on COMPASS web site and concerned more countries. The main results were presented in ISI in Sidney (2005). COMPASS stopped its activities as we had no budget for going on in organising the connection among the pilot countries. The web site was closed. Some experts from COMPASS funded a new initiative: a group called METERS (Meeting for European Sport Participation and Sport Culture Research). METERS has the objective to improve: z the understanding of sports participation differences, z the quality of sports participation data and z the possibility of exchange knowledge.

The project COMPASS was different from the studies referred to in the previous presentation, in that the objectives of the project were broader than simply to make cross-national comparisons of sports participation in various countries In addition, COMPASS aimed to promote harmonisation of sports participation statistics by persuading countries to adopt some aspects of a common methodology in the collection of surveys data z

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“....as instituições que realizam pesquisas são chamadas para organizar e adotar orientações que se apresentam harmônicas entre os países envolvidos, a fim de melhorar a qualidade e a comparabilidade dos dados, permitindo, assim, um melhor planejamento estratégico e uma construção de uma politica melhor para esporte.”(pag.74) So, within the framework of the COMPASS project, z the sports systems, z the methodologies utilised in surveys on participation in sports and z the results obtained in various european countries were compared. Since, according to a well-known sociological theory, culture stems from comparison, COMPASS can be considered as a very important step towards the creation of a European sport culture. A crucial point is that

The data we are concerned with, in COMPASS, are those collected in national sports participation surveys, which use questionnaires to collect information on a range of specified sporting activities, over a specified period of time. Other strategy to collect data


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The possibility to conduct primary researches in many countries with the same questionnaire and the same statistical strategy is too difficult to be accepted in each country and, maybe, too expensive. Rodgers’ experience in 1977-78 shows the evidence of such assertion. Recently, in Europe, was performed a common Eurobarometer survey in the 27 countries of the European Union. Eurobarometers surveys are an useful tool to measure raw trends of participation, with neither the possibility to discriminate its levels, nor to individuate its determinants and help to analyse its key drivers. In each European countries the sample of interviewed people is between 500 and 1.000 units, so too small to estimate levels of participation in particular subgroups of population

In each country there are official administrative data (e.g. membership figures of sports organisation) that are useful to explain the trends. These data have significant limitations: y not all members of sports club are active sport participants; y they include double counts; y they are related to sport participation mainly in a competitive context.

COMPASS key aspects  the conceptual and operational definition of sport, to be adopted as a common reference;  the application of the model (quantity, quality and organization) to the various surveys;  the statistical and methodological problems that arise;  the identification of a “minimum package” of national tables, which are necessary for the comparative data processing z

Data relating to participation in sports cannot be comparable if we do not establish a common understanding of such notion.

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A common definition shall provide the basis for international comparisons and it shall necessarily have a pragmatic nature

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A walk in a wood, a game of chess, a five-a-side match, an Olympic final of long jump and the climbing of Mount Everest with no limits, no rules nor antagonists are today considered as sports.

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An they are, since in the last years, sports have undergone a diversification process with stems from the demand for participation, from the broadening of the supply market, from social policies aiming at improving the quality of life.


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For instance, we will keep on defining as swimming, both the Olympic discipline, with its rules, records and clubs, and the relaxing and invigorating swim in a swimming pool or in the sea on holidays. Some activities, created without any rules in the street or in the beach, shall eventually be formalised by being organised and rendered official. Some others, which have always been internationally recognised, shall lose legal members and acquire a spontaneous participation, without rules and regulations. As we could see, in the various European surveys, the notion of sports is often linked to the broader concept of physical-motor activity and, therefore, of exercise aiming at improving physical fitness and mental well being. It is essentially “movement” that includes or excludes any activity from the definition (which in this case is instrumental to the survey’s goals) of participation in sports. However, the range of activities included in surveys varies remarkably according to the countries being considered

Rodgers’ definition (1977) z The evolution of sports models makes it impossible to stick to the traditional characterization of a sport activity. z In 1977, Rodgers considered such problems and identified four essential elements for the definition of a sport activity: y it has to imply a physical activity; y it has to be practiced for recreational purposes; y it should envisage the agonistic and competitive aspects; y it should have an institutional-like organizational structure. The definition of sports which COMPASS adopted is the one proposed by the European Sports Charter of the Council of Europe, which is the reference point for most countries, and that is truly broader Sport” means all forms of physical activity which, through casual or organised participation, aim at expressing or improving physical fitness and mental well-being, forming social relationships or obtaining results in competition at all levels. Quantitative level

Qualitative level

Organisation level

1a - no sports activity

2a - no sports activity

3a - no sports activity

1b – occasional sports2b – no competitive sports3b – no membership activity activity 1c – regular seasonal 2c – occasional 3c – non competitive sports activity participation inmembership competitive activities 1d - regular yearly sports2d – participation in local 3d – membership and activity competitions participation in official competitions 1e - intense sports activity 2e – participation in élite3e – membership and competitions participation in élite competitions


Levels of participation

Quantity Frequency

Quality Competition

Organization Membership

in a year 1 Competitive, organised, intensive >=120 times

Yes

Yes

2- Intensive

Yes

Not

Not

Yes

Not

Not

Yes

Yes

Yes

Not

Not

Yes

>=120 times

3- Regular, competitive and/or>=60 & <=120 organised

4- Regular, recreational

>=60 & <120

Not

Not

5- Irregular

>=12 & <60

--

--

6- Occasional

>=1 & <12

--

--

7- Non participation

Never

No

No


NA(S) ACADEMIA(S) – LITERATURA LUDOVICENSE/ MARANHENSE ESTA SESSÃO É DESTINADA AOS ARTIGOS SOBRE LITERATURA LUDOVICENSE/MARANHENSE, E O REGISTRO DE SUA MEMÓRIA


O CURSO DE DIREITO DE SOUSÂNDRADE – O DA UNIVERSIDADE NOVA ATENAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ INSTITUO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Este mês de abril comemora-se a 28, a instituição do ensino jurídico no Maranhão, com a fundação da Faculdade de Direito do Maranhão – iniciativa de Domingos Perdigão e de Fran Paxeco -, como também é o inicio do ensino superior no Maranhão... Mas seguindo a velha citação de que São Luís já teve, houve uma iniciativa anterior, feita por Joaquim de Sousa Andrade, o Sousândrade... São Luís do Maranhão, à época, localizada em uma ilha geográfica, tornara-se uma ilha cultural. Era tão mais fácil ir à Europa do que ao Rio de Janeiro. Antes da Abolição da escravatura (1888), a elite era constituída por ricos fazendeiros; essas poderosas famílias maranhense podiam manter suas ligações culturais com Portugal, mandando os filhos estudarem em Coimbra, o que contribuiu para a formação de uma elite cultural, um tipo de "intelligenzia" regional, composta de poetas, novelistas, dramaturgos, oradores, teoristas, historiadores, publicistas e políticos a quem São Luís, seguindo a linha tradicional e romântica do século XIX, obcecada por comparações com o Velho Mundo deve o epíteto de "Atenas brasileira". É nesse ambiente que Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade) nasceu a 9 de julho de 1832, no município de Alcântara. Bacharel em Engenharia (1856) foi o primeiro brasileiro a obter esse título na Sorbonne, numa época em que era comum estudar Direito ou Medicina em Coimbra. Autor “de ‘O Guesa errante’, é considerado por Augusto e Haroldo de Campos um moderno, cinqüenta anos antes da "Semana de 22", tendo passado pela literatura do século XIX como um "terremoto clandestino". Sousândrade gostava de ensinar e estava sempre disposto a informar e instruir. Professor de Grego do "Liceu Maranhense", seu último grande projeto foi a fundação de uma universidade no Maranhão. Em 1890, quando elabora a primeira constituição republicana do Maranhão, insere em seu artigo 89 dispositivo sobre a criação de uma Universidade, que se chamaria "Atlântida". Vetado tal artigo, pretendeu levantar recursos, por meio de subscrição popular para levar adiante sua idéia, chegando a alugar o Palácio das Lágrimas para sua sede. Joaquim de Sousa Andrade – Sousândrade - e Augusto O. Viveiro de Castro encaminharam, em 02 de julho de 1894, uma representação ao Senado requerendo a criação de um fundo universitário com os recursos provenientes do Canal do Arapapahy13. Referem-se à inclusão já no primeiro projeto de Constituição do Estado (de 3 de dezembro de 1890): [...] Se para a Faculdade de Direito, a qual achará entre nós distintos professores de bom caráter, pouco dispenderá a Universidade, além do edifício e do contrato de um professor para a nova cadeira de Direito Índico, o qual pediremos ao Chile, país único na América que tem a ciência da educação dos Naturais [...]

13

O Canal de Arapaí visava diminuir a distancia e os riscos de se chegarem mercadorias à Ilha de São Luís, e foi concebido na gestão do Governador e capitão General João de Abreu Castelo Branco, que governou o Maranhão entre os anos de 1737 e 1747. O governador pediu a contribuição dos moradores e arrecadou “655$000 em dinheiro de pano de algodão, 280 alqueires de farinha e 60 negros escravos; com esse capital, iniciaram-se as obras. Decorridos 117 anos de seu planejamento e 116 anos do inicio das obras, foi abandonado, pelas mesmas razões que determinaram seu inicio: econômicas. Em 1865 havia um fundo de 560.000$000 improdutivos – capital – já há 17 anos. NOGUEIRA, Raimundo Cardoso; SARAIVA, José Cloves Verde. CANAL DE ARAPAPAÍ. São Luís, 2012.


Ainda neste ano de 1894, publica em "O Federalista", 18, 14 de julho, p. 2, artigo intitulado "Universidade de Atlântida"; a 25 aparece outro artigo ("O Federalista", 25, p. 2); a 26, um aviso ("O Federalista", p. 2) intitulado "Atlântida", sobre uma revista mensal da universidade, aviso este repetido nas edições de 30/07; 31/07; 01/08 e 06/08. [...] “Logo que o patriótico congresso estadual, que por isso terá a benção da posteridade, haver decretado o Tesouro do Arapapahy aos primeiros fundos universitários, a comissão dará princípios aos reparos do antigo convento dos carmelitas, que já foi pedido em concessão ao governo da União para lá solenizar-se a fundação da Universidade em 15 de novembro e que é também a data da inauguração do 1o. presidente eleito da República. Paço da Intendência, salão do juiz, 26 de junho de 1894.”. (O FEDERALISTA, 26 de junho de 1894, p. 3).

Entre julho e agosto de 1894, Sousândrade publica sob o título “Atlântida” anúncio da revista mensal da Universidade de Atlântida. Em formato da Humboldt Library de New York, continha 24 páginas, 3 colunas e o primeiro número apareceu em 13 de novembro de 1894. Aceitava subscrição (assinatura), sendo publicados 8 números por ano. A sede provisória estava localizada em sua Quinta da Vitória. Informava, ainda, que o “Senado Bahiano confirmara a causa da Universidade; aguardamos a sabedoria de nosso congresso”. (O FEDERALISTA, 30/07 e 01/ a 06/08/1894, p. 3). Por essa mesma época, são publicados os Regulamentos da instrução Pública do Maranhão (O FEDERALISTA, 02, 03 de agosto de 1894) e o da Escola Normal (O FEDERALISTA, 06/08/1894). Em 21 de fevereiro de 1895, publica um aviso intitulado "Nova Atenas", anunciando a nova universidade ("O Federalista", p. 2): São pela imprensa convidados os membros do Directorio da Universidade a se reunirem no Paço Municipal ao meio dia, em 24, comemoração da Constituição da República. Os 12 eleitos à Inauguração de 25 de Dezembro p.p. são o cidadão Sousândrade, o Governador do Estado, o Presidente do Congresso, o Presidente do Superior Tribunal de Justiça, o Bispo Diocesano, o Inspetor da Instrução Pública, o Senador Federal (o último eleito), o Cônsul do Chile, o Cônsul dos Estados Unidos, o Presidente da Associação Comercial, o Juiz seccional, o Diretor (Vigilante) da Escola Normal. O que não poder comparecer delegará seus poderes por escrito ou pelo telefone à horas dadas esprimindo a sua idéia e o seu voto. (O FEDERALISTA, 21-22/02/1895, p. 3).

É de se supor que da reunião de 24 de fevereiro, os membros do diretório da Universidade tenham deliberado sobre os cursos que seriam oferecidos e sobre o exame de admissão à Faculdade de Direito, conforme anúncio publicado em agosto: De acordo com os regulamentos em vigor até 1896, serão exigidos os seguintes exames para admissão à matrícula: Nas faculdades de direito (art. 430 do decreto n. 1232F, de 2 de janeiro de 1891, cit.): português, Frances, inglês, ou alemão (à vontade do candidato); latim; matemática elementar; geografia, especialmente do Brasil; história universal, especialmente do Brasil; física e química geral, estudo concreto; história natural, estudo concreto: (Do Diário Oficial de 18 de março de 1893, no. 74). O Directório”. (O FEDERALISTA, 03, 05, 06, 07, 09, 10/08/1895).

Em março, 4, outro aviso, intitulado "Nova Atenas", reproduzido nas edições de 05 e 06 de "O Federalista". A 18 desse mesmo mês recebe telegrama do Presidente Prudente de Moraes agradecendo-lhe a escolha para a presidência honorária da universidade. Em Abril volta a aparecer aviso ("Universidade", O Federalista, p. 2); em maio, 11, outro aviso intitulado "Universidade Nova Atenas"; em 31 de julho publica aviso sobre o


currículo da "Universidade Nova Atenas". Consta que chegou a dar aulas, em sua Quinta da Vitória, transformada em sede de seu estabelecimento de ensino superior. Registra-se que as aulas foram iniciadas, na Quinta da Vitória, ministradas pelo próprio Sousândrade... Não se sabe até quando, e perdemos a oportunidade de termos um curso de Direito desde 1896... A 28 de abril de 1918, então, se dá a fundação da Faculdade de Direito do Maranhão, agora liderada por Domingos Perdigão e Fran Paxeco, depois de não ter logrado êxito no século XIX 14.

14

BORRALHO, José Henrique de Paula. INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO MARANHÃO (IGHM): PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E HISTÓRIA COMO PRINCÍPIOS DE PERPETUAÇÃO DA IMAGEM DE UM MARANHÃO GRANDIOSO. IN PATRIMONIO E MEMORIA, UNESP – FCLAs – CEDAP, v.7, n.1, p. 19-37, jun. 2011,


O LEGADO DE FRAN PAXECO15 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física; Mestre em Ciência da Informação Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - Cadeira 40 Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21

O que nos motiva estar reunidos, nesta noite, neste templo da modernidade – o ‘shopping-center’ – e neste local - espaço dedicado à cultura literária maranhense, o espaço AMEI -, são as comemorações, neste ano de 2018, do Centenário de Fundação da Faculdade de Direito do Maranhão. Domingos Perdigão e Fran Paxeco se constituem os dois nomes responsáveis por esse fato... O Presidente da Academia Ludovicense de Letras pediu-me para festejar a memória do mais maranhense dos portugueses, Fran Paxeco, o patrono da cadeira que ocupo neste sodalício 16. 15

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ELOGIO AO PATRONO. Discurso de posse na cadeira 21, da Academia Ludovicense de Letras, em 30 de janeiro de 2013. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. FRAN PAXECO E A FUNDAÇÃO DA FACULDADE DE DIREITO DO MARANHÃO. In REVISTA DO LÉO, São Luis, NÚMERO ESPECIAL: A FACULDADE DE DIREITO DO/NO MARANHÃO NO SEU CENTENÁRIO: 1918/2018; SÃO LUIS – MARANHÃO – MARÇO DE 2018. Disponível em https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ MACHADO, Maria Rosa Pacheco. FRAN PAXECO (1874-1952). Folder sobre a biografia de Fran Paxeco, escrito para a exposição sobre a vida e obra de Fran Paxeco, Galeria Municipal 11, 20/12/2014 a 08/03/2015. Setubal, Portugal, 2014 CUNHA BENTO, António. FRAN PAXECO – CONTRIBUTOS A UMA BIOGRAFIA. Palestra, apresentada em power-poit, Setúbal, 20.12.2014, para a exposição sobre a vida e obra de Fran Paxeco, Galeria Municipal 11, 20/12/2014 a 08/03/2015. Setubal, Portugal,. Enviada ao autor em 28 de abril de 2018, em correspondencia eletronica. ITAPARY FILHO, Joaquim Salles de Oliveira. BREVES NOTAS SOBRE FRAN PAXECO. Palestra realizada na data da abertura do II Feira do Livro de São Luís, Em 10 de outubro de 2008. 16 Inicialmente Manuel Francisco Pacheco. O nome foi alterado oficialmente para Manuel Fran Paxeco. Cf. o Diário do Governo n.º 268, de 25 de Novembro de 1905. In CARVALHO, Marcos Antônio de. BEBENDO AÇAI, COMENDO BACALHAU: PERFIL E PRÁTICAS DA SOCIABILIDADE LUSA EM BELÉM DO PARÁ ENTRE FINAIS DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX. Tese de doutoramento em História apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto como requisito para obtenção do título de Doutor em História. Orientação: Profa. Doutora Maria da Conceição Coelho de Meireles Pereira. 2011. http://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/63200/2/TESEDOUTMARCOSCARVALHO000161479.pdf


O nome Manuel Francisco Pacheco foi alterado oficialmente para Manuel Fran Paxeco (Cf. o Diário do Governo n.º 268, de 25 de Novembro de 1905).

Quero ressaltar que, naquele momento em que chegou ao Brasil, em seu exílio voluntário, permanecendo por mais de 30 anos, dos quais mais de 20 no Maranhão, intercalados os períodos de residências, vivíamos um momento de glorificação de uma tradição inventada, de uma herança francesa! Período de construção da identidade maranhense – da maranhensidade –, e vem esse português a nos lembrar da nossa verdadeira herança: advinda de Portugal! Contraditória essa (re)construção da Atenas brasileira, de uma raça formada por brancos – europeus de Portugal! -, índios, e negros, que nos singulariza perante o restante da Nação. Vem se juntar, Fran Paxeco, àquele grupo de jovens sonhadores, posto que poetas, escritores, jornalistas, que se autodenominavam “Novos Atenienses”. Para todos os lugares, movimentos e intervenções que olharmos, surge esse setubalense como figura central: desde o ressuscitar de uma literatura herdeira daquele Grupo Maranhense, ao seu envolvimento com o ensino das camadas populares até o superior, de uma preocupação com a infância, com as relações comerciais entre o Brasil e Portugal. A instituição dos cursos superiores no Maranhão, em especial daquela pioneira Faculdade de Direito do Maranhão, que nos traz aqui, nesta noite, em que a ALL se integra às festividades do Centenário, honrando a memória desse maranhense que por um descuido geográfico, nasceu em Portugal. Mário Meireles (1981; 1995), em “O Ensino Superior no Maranhão” 17, afirma que as primeiras tentativas de instalação de cursos superiores no Maranhão surgiram pouco a pouco, a partir da adesão formal à República (18/11/1889), através de unidades isoladas, todas elas, de princípio, particulares, depois de desfazer-se o sonho, prematuro, do poeta Sousândrade. Na área cultural, surgiu em 1908 um movimento literário liderado pelos intelectuais: Antonio Lobo, Fran Paxeco e Domingos de Castro Perdigão que, na tentativa de manter a tradição de "Atenas do Brasil" para o Maranhão, criou a Academia Maranhense de Letras e, posteriormente, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (1926). Desta elite intelectual partiu a iniciativa de criação e implantação das primeiras instituições de ensino superior no Maranhão (BUZAR, 1982) 18: Nesse sentido, Domingos de Castro Perdigão, integrante do movimento literário e diretor da Biblioteca Pública do Estado, tendo conhecimento da criação e funcionamento de escolas de nível superior em vários Estados brasileiros, não se conformava com o fato de São Luís, em sendo a Atenas Brasileira, não possuir uma instituição de ensino superior.

17 18

MEIRELES, Mário. O ensino superior do Maranhão; esboço histórico. In DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS. São Luis: ALUMAR, 1995, p.. 45-94 BUZAR, Solange Silva. OS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FED ERAL DO MARANHÃO. Tese submetida como requisito parcial para obtenção do de Mestre em Educação. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS grau INSTITUTO DE " ESTUDOS AVANÇADOS EM EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO DE SISTEMAS EDUCACIONAIS Rio de Janeiro 1982. Disponível em https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/9338/000049166.pd


A primeira escola superior isolada foi, de fato, a Faculdade de Direito do Maranhão, que desde 1908 trabalhava nesse sentido Domingos de Castro Perdigão: [...] com só, de inicio, o incentivo do então deputado federal, e depois Senador, José Euzébio Carvalho de Oliveira; e as dissensões e intransigências da estreita e intolerante política partidária estadual, que talvez tenha concorrido a que não conseguisse o apoio, que pleiteou e não obteve, do Governador Herculano Nina Parga (1814/18) e do Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Lourenço Valente de Figueiredo (1913/18), não o descoroçoaram de todo, até que conquistou um forte e decisivo aliado na pessoa do Cônsul de Portugal no Maranhão, o escritor Fran Paxeco. (MEIRELES, 1981) 19.

Joaquim Vieira da Luz (1957) 20, em seu monumental “Fran Paxeco e outras figuras maranhenses”, ao traçar a biografia de Domingos de Castro Perdigão também se refere ao fato de ele acalentar por muito tempo a idéia de criar uma Faculdade de Direito no Maranhão; transcreve a História da Faculdade, relatada pelo próprio biografado: Encontrava assim o desanimo por todos os lados. A esperança de melhores dias conservou no meu espírito essa idéia fixa, que só se tornou realizável com o regresso, em 1917, do ilustre cônsul de Portugal, Sr. Manoel Fran Paxeco. Ao despedir-se, um ano antes, perguntara-me em que parava o projeto da faculdade. Espírito iluminado e laborioso, decidido sempre a servir as causas úteis, trouxe a energia necessária para por em marcha este ideal. Não o procurei. Conhecedor do meu plano, interessou-se pelo mesmo e ali, na Biblioteca Pública, se assentaram, num dia, as bases da nova instituição. (VIEIRA DA LUZ, 1957, p.. 42-43)

Ambos – Domingos Perdigão e Fran Paxeco - estão naquele grupo, capitaneado por Antonio Lopes da Cunha, que fundou o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão: Em 1925, tomei a iniciativa de reunir alguns homens de boa vontade na livraria de Wilson Soares, expondo-lhes a minha ideia de se comemorar o centenário do nascimento de D. Pedro II com a inauguração, nesta capital, de um Instituto de História e Geografia. Os que prestaram apoio à ideia foram: Justo Jansen, Ribeiro do Amaral, José Domingues, Barros e Vasconcelos, Domingos Perdigão, José Pedro Ribeiro, José Abranches de Moura, Arias Cruz, Wilson Soares e José Ferreira Gomes. Mais tarde incorporou-se a esse grupo João Braulino de Carvalho. Ausentes de S. Luís apoiaram calorosamente a ideia Raimundo Lopes, Fran Pacheco, Carlota Carvalho e Antonio Dias, que também foram considerados sócios fundadores do Instituto. (p. 110)21.

Na Revista “HISTÓRIA E GEOGRAFIA - Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão”, anno I - 1926 – num. 1, julho a setembro, encontramos a primeira diretoria, assim formada: Dr. Justo Jansen Ferreira – presidente; Dr. José Domingues da Silva – vice-presidente; Dr. Antonio Lopes da Cunha – secretário-geral; Wilson da Silva Soares – tesoureiro; Ainda foram criadas as seguintes Comissões: de Geografia – José Domingues, Abranches de Moura, Justo Jansen; de História: Ribeiro do Amaral, B. Vasconcelos, Ferreira Gomes; de Bibliografia: Domingos Perdigão, Arias Cruz, José Pedro. Não foram preenchidas 13 vagas de sócio e de 13 de correspondentes. Como se observa, foram criadas 30 cadeiras de sócios efetivos e 30 de correspondentes. Após a nominação de cada sócio efetivo, há uma pequena biografia de cada um com sua produção científico-literária. Dos sócios correspondentes, a indicação do estado onde residem e indicação daqueles que são maranhenses. 22 Mas, já em 1918, mesmo ano de fundação de nossa Faculdade de Direito, e través de uma reportagem, onde se indagava onde ficava o Instituto de História e Geografia, dada a chegada de uma correspondência a ele

19

MEIRELES, Mário. O ENSINO SUPERIOR NO MARANHÃO. São Luis: UFMA, 1981 (Comemorativa do 15º aniversário de fundação da Universidade Federal do Maranhão). 20 VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXECO E AS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal; Edições dois Mundos, 1957. 21 LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973. 22 (in HISTÓRIA E GEOGRAFIA- REVISTA TRIMESTRAL DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAPHIA DO MARANHÃO, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, p. 55 a 59; Ver. Geo. E Hist., ano 2, n. 1, novembro de 1948, p. 148)


destinado, ficamos sabendo da fundação – a segunda!!! De um Instituto dessa natureza no Maranhão. E Fran Paxeco estava à frente da iniciativa, junto com Domingos Perdigão e outros.23, 24

Chamo atenção para a data de publicação: 21 de dezembro de 1920. Vamos ao outro texto, publicado no dia seguinte – 21 de dezembro de 1920 – no mesmo A PACOTILHA25:

O Sr. Simões da Silva – conforma noticia A PACOTILHA edição de 4 de abril de 1917, fora designado pelo IHGB a percorrer diversos estados para preparar o congresso americanista, providenciando a organização de comissões locais:

23

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. QUANTOS ANOS, MESMO, DO IHGM? REVISTA IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 81 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39__dezembro_2011

24

in Jornal PACOTILHA, edição de 21 de dezembro de 1920.

25

in Jornal PACOTILHA, edição de 21 de dezembro de 1920)


O Congresso Internacional de Americanistas realizou-se pela primeira vez em Nancy, França, de 18 de junho a 18 de julho de 1875. Iniciativa da Sociedade Americana da França, que o convocou em 25 de agosto de 1874. Desde então, tem sido celebrado.26 No Brasil, o primeiro aconteceu em 1922 – Rio de Janeiro; depois, em São Paulo, no ano de 1954; este ano, será na Espanha, em Salamanca... Reuniones del Congreso Internacional de Americanistas Congreso

Lugar

Año

Congreso

Lugar

Año

I

Nancy, Francia

1875

XXXI

São Paulo, Brasil

1954

II

Luxemburgo

1877

XXXII

Copenhague, Dinamarca

1956

III

Bruselas, Bélgica

1879

XXXIII

San José, Costa Rica

1958

IV

Madrid, España

1881

XXXIV

Viena, Austria

1960

V

Copenhague, Dinamarca

1883

XXXV

Ciudad de México, México

1962

VI

Turín, Italia

1886

XXXVI

Barcelona-Sevilla, España

1964

VII

Berlín, Alemania

1888

XXXVII

Mar del Plata, Argentina

1966

VIII

París, Francia

1890

XXXVIII

Stuttgart-Múnich, Alemania

1968

IX

Huelva, España

1892

XXXIX

Lima, Perú

1970

X

Estocolmo, Suecia

1894

XL

Roma-Génova, Italia

1972

XI

Ciudad de México, México

1895

XLI

Ciudad de México, México

1974

XII

París, Francia

1900

XLII

París, Francia

1976

XIII

Nueva York, Estados Unidos

1902

XLIII

Vancouver, Canadá

1979

XIV

Stuttgart, Alemania

1904

XLIV

Manchester, Inglaterra

1982

XV

Quebec, Canadá

1906

XLV

Bogotá, Colombia

1985

XVI

Viena, Austria

1908

XLVI

Ámsterdam, Países Bajos

1988

1910

XLVII

Nueva Orléans, Estados Unidos

1991

Estocolmo-Upsala, Suecia

1994

Buenos

Aires, Argentina

XVII Ciudad de México, México XVIII

Londres, Inglaterra

1912

XLVIII

XIX

Washington D.C., Estados Unidos

1915

IL

Quito, Ecuador

1997

XX

Río de Janeiro, Brasil

1922

L

Varsovia, Polonia

2000

1924

LI

Santiago de Chile, Chile

2003

La

Haya, Países

Bajos

XXI Gotemburgo, Suecia

26

XXII

Roma, Italia

1926

LII

Sevilla, España

2006

XXIII

Nueva York, Estados Unidos

1928

LIII

Ciudad de México

2009

XXIV

Hamburgo, Alemania

1930

LIV

Viena, Austria

2012

https://es.wikipedia.org/wiki/Congreso_Internacional_de_Americanistas


XXV

La Plata, Argentina

1932

LV

San Salvador, El Salvador

XXVI

Sevilla, España

1935

LVI

Salamanca, España

Ciudad

de

7

2015 2018

México, México

XXVII

1939 Lima, Perú

XXVIII

París, Francia

1947

XXIX

Nueva York, Estados Unidos

1949

XXX

Cambridge, Inglaterra

1952

Fonte: https://es.wikipedia.org/wiki/Congreso_Internacional_de_Americanistas A ideia de fundar-se um Instituto Histórico parte de Fran Paxeco, em reunião da Academia Maranhense de Letras, conforme consta de nota publicada em 12 de agosto de 1918, em O Jornal:

Também em “A Pacotilha”, edição de 13 de agosto daquele ano de 1918 refere-e a pronunciamentos na Academia Maranhense de Letras sobre a necessidade de ter-se instalado um Instituto Histórico:

Em 1919, o Instituto indicou seus representantes para o Congresso de Geografia:


O Jornal, 23 de agosto de 1919 Em “O Diário de São Luis”, edição de 23 de dezembro de 1920, há o seguinte comentário: [...] Fran Paxeco, secretário geral do Instituto Histórico aqui fundado pelo dr. Simões da Silva [...]:

Em 1921, o Instituto estava em pleno funcionamento, com o Sr. Viana Vaz na sua Presidência, conforme consta de nota de 6 de julho de 1921, em “O Jornal”:

A posse da nova diretoria, com o Dr. Viana Vaz à frente, se dera em 25 de janeiro de 1921, conforme noticia o “Diário de São Luiz”:

Logo a seguir, reuniram-se os seus americanista (O Diário, 21 de

membros para tratar da conferencia fevereiro de 1921):


E em 1925, novamente o IHGM é fundado:

Nos jornais da época, como no caso do Jornal do Povo, edição de 17 de dezembro de 1926 há uma referencia às descobertas de galerias subterrâneas, encontradas nas escavações que se faziam nos terrenos da Prefeitura. Encontradas várias galerias, que apontavam a várias direções, e algumas ossadas e objetos feitos de osso. Pede-se a manifestação do Instituto Histórico... 1926, Antonio Lopes já havia fundado um novo IHGM... O Instituto fundado pelo Dr. Simões em 1918 ainda funcionava em 1921; quatro anos após, ocorre uma nova fundação, do Instituto de História e Geografia... o que aconteceu? A FACULDADE DE DIREITO Em A Pacotilha (07/05/1918) são apresentados os 18 (dezoito) professores efetivos da Faculdade de Direito “indigitados pela associação incorporadora e pela comissão organizadora” segundo a ordem pedagógica: ANTONIO LOPES DA CUNHA GODOFREDO MENDES VIANA RAUL DA CUNHA MACHADO CARLOS HUMBERTO REIS RAIMUNDO LEÔNCIO RODRIGUES JOÃO VIEIRA DE SOUZA, FILHO CLODOMIR CARDOSO CARLOS AUGUSTO DE ARAUJO COSTA LUÍS CARVALHO MANOEL JANSEN FERREIRA HENRIQUE JOSÉ COUTO ALFREDO DE ASSIS CASTRO ARTUR BEZERRA DE MENESES ARÃO ARARUAMA DO REGO BRITO ALCIDES JANSEN SERRA LIMA PEREIRA JOSÉ DE ALMEIDA NUNES JOÃO DE LEMOS VIANA ANTONIO BONA

Substitutos: JOÃO DA COSTA GOMES RAUL SOARES PEREIRA ANTONIO JOSÉ PEREIRA, JUNIOR FABIANO VIEIRA DA SILVA


INACIO XAVIER DE CARVALHO JOAQUIM PINTO FRANCO DE SÁ RAIMUNDO ALEXANDRE VINHAIS TARQUINIO LOPES, FILHO.

Ao se cotejarem os nomes de ambas instituições, verifica-se que são comuns, seja em que fase forem comparados: na fundação de 1918 ou na de 1925... Verifica-se que em todos estes acontecimentos, um nome, um homem, temos que ressaltar, pela sua participação, incentivo, iniciativa e execução: o de FRAN PAXECO, meu patrono nesta Academia de Letras... Manuel Fran Paxeco - nascido Manuel Francisco Pacheco -, mais conhecido como Fran Paxeco27 nasceu em Setúbal, no antigo Terreiro de São Caetano, freguesia de São Julião, a 09 de Março de 1874; faleceu em Lisboa a 17 de Setembro de 1952; foi um jornalista, escritor, diplomata e professsor português; cônsul de Portugal no Maranhão, no Pará, em Cardiff e em Liverpool. Chegou a São Luís do Maranhão em 02 de Maio de 1900, sendo autor de diversas obras sobre temas de interesse para a região 28. No dia de seu aniversário, 09 de março, comemorado naquele ano de 1922 – e ainda no Maranhão -, Mata Roma assim se manifestou, destacando as qualidades de coração que caracterizavam a personalidade de Fran Paxeco: "Um nove de março do século passado, decorria placidamente... E lá nas regiões sidéreas, no mais alto e delicioso éden, o criador, do seu trono mirífico, abençoava as criaturas. E todos os anjos e todas as virtudes e, todos os gênios, em coro harmonioso e divino, entoavam hinos ao Onisciente. E achavam-se ali o Amor, a Amizade, a Fé, a Esperança, a Caridade, a Moral, a Modéstia, o Trabalho, a Justiça todos os sublimes seres espirituais. E, à hora, destinada às preces cotidianas, soa a maviosa sineta, e todos se ajoelham em volta do Senhor, rendendo-lhe graças, queimando-lhe incenso. E o Senhor, lançando um olhar em redor, nota a ausência da Bondade. E pergunta por ela. E todos, que a tinham visto, havia pouco, se entreolham, admirados. E, reciprocamente, interrogam-se. E, à ordem do Senhor, saiu uma formosa legião de anjos a percorrer os mundos, em busca da tresmalhada. E foram e andaram muito. E desceram à terra. E correram países, passearam cidades, visitaram aldeias. E, quando na Europa, rumando para o sudoeste, foram dar com a fugitiva na bela Setúbal, no coração de um recém-nascido. E, ao intimá-la a famosa legião, ela disse: O meu solar é aqui... E os anjos voltaram sozinhos ao Senhor, e a Bondade continuou a viver no coração de Fran Paxeco. 29

Vejamos alguns aspectos de sua vida contada por sua neta Rosa Machado, 30: Aos dezasseis dias do mez de Março de mil oitocentos setenta e quatro; ás quatro horas da tarde n’esta Parochial Egreja de Nossa Senhora da Annunciada, Concelho de Setubal, Patriarchado de Lisboa baptizei solemnemente a Manuel, primeiro do nome, que nasceu a nove d’este mesmo mez e anno, ás cinco cinco horas da manhã, n’esta freguesia, filho legítimo de José Anastácio Pacheco, carpinteiro de carros e Carolina Augusta, naturaes d’esta cidade e recebidos na freguesia de São Julião e moradores no rocio de São Caetano, neto paterno de Manuel Maria da Saúde Pacheco e Maria Rita, materno de Joaquim Gomes e Maria Rita; foi padrinho Francisco José Pereira, casado, proprietário, morador na Ponte de São Sebastião e madrinha Theresa de Jesus, solteira, moradora no Largo das Almas. E para constar se lavrou em duplicado este termo, que assigno. Era ut supra. O Parocho Encom.do Francisco Machado Araújo[?]31

27

http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Fran_Paxeco VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXECO E OUTRAS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1957. 29 CUNHA BENTO, 2014, obra citada. 30 MACHADO, Maria Rosa Pacheco.FRAN PAXECO (1874-1952). Folder sobre a biografia de Fran Paxeco, escrito para a exposição sobre a vida e obra de Fran Paxeco, Galeria Municipal 11, 20/12/2014 a 08/03/2015. Setubal, Portugal, 2014 31 CUNHA BENTO, António. Fran Paxeco – contributos a uma biografia. Palestra, apresentada em power-poit, Setúbal, 20.12.2014. 28


Filho de José Anastácio Pacheco e de Carolina Amélia Pacheco, ficou sem pai aos 10 anos.

No primeiro dia do mes de setembro do anno de mil oitocentos e oitenta ás seis horas da manhã na casa numero doze, loja, da rua de São Caetano d’esta freguesia de Nossa Senhora da Anunciada da cidade e concelho de Setubal, patriarchado de Lisboa, falleceu tendo recebido todos os sacramenttos da Egreja – José Anastácio Pacheco – de idade de trinta e tres annos, de profissão carpinteiro de carros, natural de Setubal, casado com Carolina Amélia, recebidos na freguesia de São Julião d’esta cidade e parochianos d’esta supradita freguesia da Annunciada, filho legitimo de Manuel Maria Pacheco e de Maria Rita Pacheco, também naturaes de Setubal, e recebidos também aqui n’esta freguesia. Não fez testamento, deichou dois filhos menores, e foi sepultado no cemiterio publico d’esta cidade. E para constar lavrei em duplicado este termo que assigno. Era ut supra. O Parocho encomendado Alberto Carlos Cotrim de Miranda.

Para António Bento, deve haver lapso na idade, dado que, segundo o assento de casamento, em 20 de Abril de 1873, teria então 31 anos. 32 Fez os estudos primários em escola pública, e concluidos, passou a estudar em colégio jesuita, e ingressando na Casa Pia de Lisboa, destinada aos órfãos de pai, para prosseguir o ensino secundário: ► Frequenta a escola (instrução primária) no antigo Convento de São Francisco. Referindo-se a esta escola, anos mais tarde em “O Rato”, de 12Jul1891, deixará um testemunho pouco abonatório da sua passagem por aquela escola:

►O ensino secundário terá lugar na Casa Pia (Lisboa), entre Novembro de 1883 e Outubro 1888. Começava assim a aventura intelectual de uma das mais instigantes personalidades da cultura lusobrasileira. Com pouco mais de vinte anos, Francisco Pacheco já exercia atividades regulares na imprensa de sua cidade natal e havia cumprido o serviço militar obrigatório, passando aos quadros da reserva do exército. (ITAPARY FILHO, 2008) 33

Voltou para Setubal aos 14 anos, começando a trabalhar num conservatório, onde conheceu o diretor da “Gazeta Satubense” e aí inicia a sua carreira de jornalista. 32 33

CUNHA BENTO, António. Fran Paxeco – contributos a uma biografia. Palestra, apresentada em power-poit, Setúbal, 20.12.2014. ITAPARY FILHO, Joaquim Salles de Oliveira. BREVES NOTAS SOBRE FRAN PAXECO. Palestra realizada na data da abertura do II Feira do Livro de São Luís, Em 10


► Inicia a sua actividade profissional de “escrevente” na Conservatória da Comarca de Setúbal. ►Estreia-se como jornalista na “Gazeta Setubalense”: Segundo ele, “a Gazeta Setubalense foi, no período áureo, uma escola de jornalistas e de artes gráficas. Uma grande parte dessedentou-se nessa fonte.” Aos 16 anos, funda “O Elmano”, em 6 de março de 1890, de que só saiu esse número, mas ressurgiu em 7 de março de 1893, e prolongou-se por bastantes anos: “Num impulso juvenil, empreendemos a impressão do Elmano. Nasceu e morreu a 6 de Março de 1890. Foram tantas as picardias que, antes de vir para a rua, já resolvêramos morfinizá-lo.”

Assentou praça como voluntário em 12 de maio de 1890, passando à reserva em 17 de março de 1894. Ainda nas fileiras, publicou dois artigos festejando a republica, saidos em “A Liberdade Popular”, semanário de Cantanhede, que durou de 14 de junho a 4 de de outubro de 1891. Esses artigos valeu-se-lhe uma ação criminal 34. •

34 35

Em 12 de Maio de 1890, alista-se como voluntário no Regimento de Caçadores 1. Para o efeito é submetido a “exame de admissão” 35

Ação essa que vem a provocar sua fuga de Portugal, vindo a ter no Brasil, para escapar à prisão CUNHA BENTO, 2014, obra citada.


Antònio Bento acredita que a carreira militar não terá sido uma fase brilhante da sua vida, apesar da rápida progressão. Ao fim de cinco meses era promovido a 1º Cabo e, passados mais quatro meses, era 2º Sargento. A sua ideologia republicana aliada ao pendor “revolucionário”, não lhe facilitaram a vida. A folha de matrícula é reveladora do seu inconformismo: foi punido com detenções - “por ser visto trajando à paisana”, “por faltar à formatura”, “por se ter dirigido a um camarada em termos inconvenientes” – e, por fim, a prisão por “insubordinação e por ofensa, por meio de escripto a superior”. Pena é que não se consiga localizar o processo que deu origem à sentença. 36 36

CUNHA BENTO, 2014, obra citada.


Promovido a 1º Cabo 24 de Outubro de 1890. ● Promovido a 2º Sargento em 16 de Fevereiro de 1891. ● Punido com 10 de detenção. ● Em 10 de Novembro de 1891 colocado na Companhia de Correcção nº 1. ● Recolheu ao Regimento de Infantaria nº 2 em 4 de Fevereiro de 1892. ● Preso para Conselho de Guerra em 30 de Janeiro de 1892. ● Solto em 6 de Dezembro de 1892, por efeito da sentença. ● Passou ao Regimento de Infantaria nº 2, em 14 de Dezembro de 1892. ● Passou à Reserva em 17 de Março de 1894. Foi domiciliar-se na freguesia de S. José, de Lisboa, 2º Bairro. ● Baixa em 12 de Maio de 1902. ● Reserva Territorial em 1919. Apesar disso, segundo deixou registado no opúsculo “Pelo ministério dos estrangeiros”, Pará, 1926, não faltaram os convites de oficiais seus superiores, graças, certamente, ao valor demonstrado37: “… O tenente-coronel Rio de Carvalho (do RI 2)… quis convencê-lo a permanecer nas fileiras, garantindo-lhe que obteria do ministro da guerra, o general Pimentel Pinto, a dispensa das suas faltas. Recusou a finêza. O Capitão de fragata Nuno de Freitas Queriol… insistiu para levá-lo como ajudante de ordens, para o Distrito do Congo, de que estava nomeado Governador. Fá-lo-ia promover a 1º Sargento e a Alferes. Também não aceitou esses obséquios, apesar de paupérrimo. E porquê? ... Porque desejava consagrar-se, de corpo e alma, livre das gargalheiras duma disciplina anacrónica, embora necessária, às ideias republicanas.” 38

Ainda durante o Serviço Militar acentua a sua vertente de crítico de assuntos locais e de actualidade política, como acérrimo defensor dos ideais republicanos. São exemplos dessa atividade a colaboração em “O Rato”, na secção “A Sério – Traços sobre Setúbal”, sob o pseudónimo Flamino Nás, e na “Liberdade Popular”, de Cantanhede, onde lhe “querelaram dois artigos entusiásticos”, de que não se conseguiu, ainda, consultar nenhum exemplar, conforme informa António Bento 39. A propósito de “O Rato”, disse: “No intervalo, sustentámos, com Henrique de Santana, hoje professor da Escola Normal do Porto, O Rato,que pertendia ser humorístico.”. “Sumiu-se” a 20 de Agosto de 189140. A 1º de abril de 1894 assume um dos postos na redação politica de “A Vanguarda”41, o mais independente e inflamado jornal da época, dirigido por Narcisio Rebelo Alves Correia42.

37

CUNHA BENTO, 2014, obra citada. CUNHA BENTO, 2014, obra citada. 39 CUNHA BENTO, 2014, obra citada. 40 CUNHA BENTO, 2014, obra citada. 41 A vanguarda / dir. Alves Corrêa. - A. 1, nº 1 (9 mar. 1891) - a. 21, nº 7627 (22 out. 1911). - Lisboa : Ellydio Analide da Costa, 1891-1911. - 52 cm. Biblioteca Nacional Digital – Portugal, disponível em http://purl.pt/14330 42 ANTÓNIO NARCISO REBELO DA SILVA ALVES CORREIA - Nasceu em Vila Real em 25 de Maio de 1860. Inicialmente desempenhou a profissão de farmacêutico, mas porque mostrou aptidões para a escrita, começa a colaborar nos jornais. Adopta então a profissão de jornalista e colaborou em inúmeras publicações periódicas, especialmente ligadas ao Partido Republicano. Destaca-se a sua colaboração na Folha do Povo, no Trinta, no Século, Os Debates, A Vanguarda e, finalmente, O País. Neste último jornal, foi o fundador em 1895 e dirigiu-o até à sua morte, provocada pela tuberculose, em 5 de Janeiro de 1900.Segundo o professor Oliveira Marques, foi iniciado na Maçonaria em 1882, na Loja Cavaleiros de Nemesis, em Lisboa, adoptando o nome simbólico de João Huss. [A. H. Oliveira Marques, Dicionário da Maçonaria Portuguesa, vol. I, Editorial Delta, Lisboa, 1986, col. 413.]Foi um jornalistas republicanos mais em destaque no seu tempo, envolvendo-se em várias polémicas, chegou a ser agredido e preso. 38


A 1-Abril-1894, mal despira a farda, assume um dos postos na redacção política da “Vanguarda”, incendiariamente dirigida por Alves Corrêa…. Discute nesse jornal, entre outras questões, o esbulho de Quionga43, que o Tratado de Versalhes nos restituiu. Era também redactor político dos hebdomadários “A Montanha”, de Trancoso, e “O Cezimbrense”, que representou, no congresso partidário de 1895.” Como nos diz em “Pelo ministério dos estrangeiros”. 44

43

Em 1886, a Alemanha e Portugal tinham acordado no rio Rovuma como a fronteira oficial entre a então África Oriental Alemã (atual Tanzânia) e a colônia portuguesa de Moçambique. Em 1892, contudo, os alemães afirmaram que os portugueses não tinham nenhum direito na parte norte do cabo Delgado, a aproximadamente 32 quilômetros ao sul da foz do Rovuma. Em virtude disso, em 1894 a marinha alemã tomou Quionga, e as forças desse país ocuparam seu interior, forjando o que viria a ser chamado «triângulo Kionga» (uma área de cerca de 395 quilômetros quadrados). Na Primeira Guerra Mundial, esse território foi reanexado pelos portugueses, e nos termos do Tratado de Versalhes tornou-se a única aquisição territorial de Portugal nessa guerra. https://pt.wikipedia.org/wiki/Quionga .


Promove em igual data, com seu querido condiscipulo Alfredo Serrano, o jubileu do soberbo lirico João de Deus45. Em Agosto e Setembro de 1894, publica em “O Século” dois artigos intitulados “A Cidade de Setúbal” e outro “Bocage (Elmano Sadino)”

Por esta altura, Fran Paxeco envolve-se na primeira polémica da sua vida, com Francisco Paulino de Oliveira46. Diz-nos ele em “Setúbal e as suas celebridades”, Setúbal, 1930: “«O Mez – chronica da vida setubalense» irrompe em Novembro-1894. Estamparam-se mais dois folículos em Dezembro-1894 e Janeiro-1895. Num deles chasqueou dum nosso artiguinho, inserto no Elmano. Ocupávamo-nos do excesso de largos irregulares em Setúbal. 47

45

João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de Messines, 8 de Março de 1830 — Lisboa, 11 de Janeiro de 1896), mais conhecido por João de Deus, foi um eminente poeta lírico e pedagogo, considerado à época o primeiro do seu tempo, e o proponente de um método de ensino da leitura, assente numa Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objecto das mais variadas homenagens. Foi considerado o poeta do amor e encontra-se sepultado no Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Deus_de_Nogueira_Ramos Lisboa. 46 Escritor e poeta português, nasceu em 1864, em Setúbal, e morreu em1914, em São Paulo, no Brasil, país onde se exilou após a revolta de 31 dejaneiro de 189 1 (tentativa de implantar a República em Portugal). Paulino de Oliveira, quando ainda morava em Setúbal, foi jornalista em publicações republicanas. Já no Brasil, dedicou-se à poesia e literaturainfantojuvenil, neste último caso em parceria com a mulher, a escritoraAna de Castro Osório. Nos seus primeiros anos de escritor usou o pseudónimo A núplio de Oliveira. Ainda no Brasil, Paulino de Oliveira foi cônsul de Portugal em São Paulo,entre 1911 e 1914. https://www.infopedia.pt/$paulino-de-oliveira 47

CUNHA BENTO, 2014, obra citada.


Em janeiro de 1895, “A Vanguarda” publica artigo: “O comando da 1ª Divisão militar”, no qual se reverberam o rei D. Carlos48 e o general de brigada Antonio Abranches de Queirós, comandante das guardas municipais. Pretendiam torná-lo substituto do general Moreira, no cargo de comandante daquela divisão. Esse artigo originou um grande alarido, foi considerado injurioso e o governo mandou processar Fran Paxeco (ALDEIA, 2006, BENTO, 2014) 49. 50

48

Influenciado por ideias de renovação política e cultural que se alastravam em toda a Europa, difundindo-se em Portugal principalmente a partir de Coimbra, adepto de correntes de pensamento contrárias à monarquia decrépita, segundo Itapary Filho, 2008. 49 ALDEIA, João. Setubal na Rede. Disponível em http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=7659, acessado em 16 de janeiro de 2014 50 CUNHA BENTO, 2014, obra citada.


Volta a referir-se ao fato. Em 16 do mês citado, o suposto ofendido procura Alves Corrêa51, na redação, e tenta agredi-lo.. No dia imediato, um irmão daquele ataca o diretor da Vanguarda, em pleno Teatro de S. Carlos…

As perseguições prosseguiram… Alves Corrêa desafia para um duelo o mais velho dos irmãos do imaginário ofendido.. Serviram de padrinhos os Drs. Magalhães de Lima e José Benevides. Mas o desafiado negou-se ao encontro. Alves Corrêa amedronta-se e pede a Fran Paxeco que se demita de “A Vanguarda”. 52

51 52

http://arepublicano.blogspot.com.br/2010/10/vanguarda-dia-2-de-outubro-de-1910.html CUNHA BENTO, 2014, obra citada.


Segundo Bento (2014) 53, de seguida “A Montanha” publica uma áspera narrativa do escândalo, em resultado do que lhe é instaurado um processo judicial. Diz ele referindo-se ao caso: “A querela baseou-se em preadivinhadas injúrias à loura pessoa de sua majestade fidelíssima. O chinfrim promanou de hipotéticos agravos ao rubicundo comandante das augustas guardas municipais. Tudo reles e mesquinho, como vedes. O jornal acusado dá pelo nome de Montanha e penetra nas mercearias dos beirões penhascos de Trancoso; o indivíduo peado pelas justiças pseudodenominava-se em Brissos Calvão. O monarca chama-se Carlos Simão de Bragança, afora o restante; o general é conhecido por António Abranches Queiroz…”

53

CUNHA BENTO, 2014, obra citada.


Ouvida a opinião de amigos advogados, foram unânimes: por se encontrar sujeito ao foro militar, incorria numa pena de um mínimo de cinco anos de prisão. O conselho foi: “Arranje a mala e safe-se!”. O processo, até agora, encontrado no Arquivo Histórico Militar resume-se a um conjunto de documentação relacionada com o aludido processo judicial. Trata-se de pedido do Tribunal de Trancoso às autoridades militares para envio de documentos autógrafos de Fran Paxeco, no sentido de ser identificada a letra do autor do escrito que deu origem ao processo. Presume-se, contudo, que os documentos enviados não terão sido aceites pelo Tribunal. Razão pela qual o processo, possivelmente, não terá tido continuidade54

Sujeito ao foro militar, no caráter de reservista, decide exilar-se dois meses mais tarde. Parte do terreiro do Paço a 28 de março de 1895, via Algarve, donde se transporta a Málaga, e dai ao Rio de Janeiro, onde chega em 8 de maio.

Em “ O Sangue Latino”, Lisboa, 1897 55, faz-nos um relato pormenorizado da sua partida, em 28 de Março de 1895, para o exílio no Brasil: “Roupas enlaçadas, livros cintados. Na tampa do baú – Viegas Guimarães. As quatro e meia aproximam-se. Largam as amarras. Um amigo soluça e nós rimo-nos. A família ignora-nos o paradeiro, mal supõe as tenções do nosso animo… 54 55

CUNHA BENTO, 2014, obra citada. CUNHA BENTO, 2014, obra citada.


Despedindo-se de dois companheiros que seguem para Setúbal: “Osculos para a nossa bôa mãe, caros conterraneos!” Do Algarve passa a Espanha, dá um salto a Ceuta, embarca em Málaga, no navio Provence, chegando ao Rio de Janeiro a 1 de Maio seguinte. Em 8 do mesmo mês está empregado na “Casa Souto Maior”.

Começa a trabalhar na Casa Souto Maior e secretaria o Centro Republicano Portugues. Funda o periodico “A Republica Portuguesa”, tendo por isso perdido o lugar no escritório.

Tomou parte dos atos comemorativos do centenário da morte de Basílio Gama56, prefaciando o seu poema “Uruguai”57 e foi um dos promotores da “Nova Revista”. Nos principios de dezembro de 1895, parte para Belém do Pará, onde chega a 17. A 1º de Janeiro de 1896, associa-se na fundação da “Folha do Norte”.

56

José Basílio da Gama foi um poeta luso-brasileiro que escrevia sob o pseudónimo Termindo Sipílio. Célebre por seu poema épico O Uraguai, de 1769, e investido como patrono da cadeira 4 da Academia Brasileira de Letras. Wikipédia 57 O Uraguai é um poema épico escrito por Basílio da Gama em 1769, conta de forma romanceada a história da disputa entre jesuítas, índios (liderados por Sepé Tiaraju) e europeus (espanhóis e portugueses) nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul. O poema épico trata da expedição mista de portugueses e espanhóis contra as missões jesuíticas para executar as cláusulas do Tratado de Madrid, em 1756. Tinha também o intuito de descrever o conflito entre ordenamento racional da Europa e o primitivismo do índio. Esse poema é também um marco na literatura brasileira representando uma quebra com o modelo clássico do poema épico. O Uraguai é composto por apenas cinco cantos (ao invés dos dez cantos de Os Lusíadas) e apresenta 1377 versos brancos (sem rima) e nenhuma estrofação. Outra característica que diferencia O Uraguai dos outros poemas épicos é o fato de narrar um episódio histórico muito recente. https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Uraguai


Neste jornal publica um conjunto de artigos sobre a descoberta do Brasil que gera viva polémica, ainda que consiga fazer prevalecer a sua versão. É também neste periódico que, a partir de 9 de Março de 1896, publica um conjunto de seis artigos sobre Bocage58. Trata-se de uma versão revista e melhorada do artigo que publicou inicialmente em “O Século”, de 16 de Setembro de 1894. Ai colabora na “Folha do Norte”, de onde sai em maio de 1896, e em junho organiza o catálogo da biblioteca do Gremio Litarário Portugues. Prefacia o libreto do “Guarani”, quando uma companhia ali apresentou essa opera, em 03 de dezembro de 1896. Dá aulas até 1897, que deixa para se tornar sócio solidário da papelaria Silva. Organiza homenagens a Mousinho de Albuquerque59, pelas vitórias contra os vátuas. Encontramos uma primeira referencia a Fran Paxeco – já assinalado assim seu nome – no jornal “O Pará”, edição de 18 de dezembro de 1897, como um dos responsáveis pela “A Revista”:

Pertencia também, já a essa época, à “Mina Litterária”, grupo de jovens literatos conforme se depreende de noticia veiculada nesse mesmo jornal a 27/12/1897, em que se anunciava, além da ordem do dia, o lançamento de “A Revista”:

No ano seguinte, 1898, prosseguiam as reuniões literárias da Mina – e dos mineiros, como eram chamados seus membros (O Pará, 11/01/1898). Segundo o “O Pará”, de 19 de março de 1898, haveria a recepção aos novos associados; Fran Paxeco não se fez presente, justificando a ausência por achar-se adoentado.

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Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage (Setúbal, 15 de setembro de 1765 – Lisboa, Mercês, 21 de dezembro de 1805) foi um poeta [1] nacional português e, possivelmente, o maior representante do arcadismolusitano. Embora ícone deste movimento literário, é uma figura inserida num [2] período de transição do estilo clássico para o estilo romântico que terá forte presença na literatura portuguesa do século XIX. Era primo em segundo grau do zoólogo José Vicente Barbosa du Bocage. https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Maria_Barbosa_du_Bocage 59 Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque foi um oficial de cavalaria português que ganhou grande fama em Portugal por ter protagonizado a captura do imperador nguni Gungunhana em Chaimite e pela condução ... Wikipédia


Membro da comunidade lusitana em Belém fazia parte da Comissão do Centenário Indiano, em comemoração aos 400 anos da descoberta do Caminho para as Índias.

Em março de 1898 (O Pará, 08/03) saia o segundo numero de A Revista, com a colaboração de Fran Paxeco, escrevendo sobre Teófilo Braga:

Na edição seguinte, aparece nota sobre seu aniversário e anunciado o lançamento de seu primeiro livro – Sangue Latino, no Pará


Em “O Pará” edição de 19 de março de 1898, Fran Paxeco propõe a mudança de nome de “Mina Literária” para “Centro Litterário Paraense”. “Sangue Latino” é dedicaco a Teófilo Braga (12842-1924)60, e relata esta aventura e faz apreciações politicas, históricas e literárias sobre Portugal e Espanha, não se coibindo de criticar alguns talentos da nova geração literária e artística,

E em 1898 principia a colaborar na “Provincia do Pará” e publica “O Álbum Amazônico”. Em meados de Dezembro o jornal “O Pará” noticia: É um facto innegável que o meio litterário augmenta progressivamente no Pará… Os livros são raros por que raro é também por enquanto o público que lê… ainda assim a publicação augmenta… Os srs. Alfredo Silva & Cª que se têm arvorado em paladinos da profusão da ideia tiveram a louvável lembrança de tentar a publicação de um revista… Junte-se à garantia de bom exito, [nomes dos colaboradores], os de Fran Paxeco e Alfredo Silva, directores litterario e thecnico da «Revista» e cada um de per si julgará se é ou não justificado o enthusiasmo que a publicação está despertando.”

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Joaquim Teófilo Fernandes Braga (Ponta Delgada, 24 de Fevereiro de 1843 — Lisboa, 28 de Janeiro de 1924) foi um poeta, sociólogo, político e ensaísta literário português. Estreia-se na literatura em 1859 com Folhas Verdes. Bacharel, Licenciado e Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra, fixa-se em Lisboa em 1872, onde lecciona literatura no Curso Superior de [1] Letras (actual Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Da sua carreira literária contam-se obras de história literária, etnografia (com especial destaque para as suas recolhas de contos e canções tradicionais), poesia, ficção e filosofia, tendo sido ele o introdutor do Positivismoem Portugal. Depois de ter presidido ao Governo Provisório da República Portuguesa, a sua carreira política terminou após exercer fugazmente o cargo de Presidente da República, em substituição de Manuel de Arriaga, entre 29 de Maio e 5 de Outubro de 1915. https://pt.wikipedia.org/wiki/Te%C3%B3filo_Braga


A revista tinha uma longa lista de colaboradores, citam-se, por exemplo, entre os portugueses: Teófilo Braga, Gomes Leal, Teixeira Bastos, Cândido de Figueiredo, Guerra Junqueiro, Magalhães de Lima, Manuel Maria Portela, “e outros”.

Ao que parece, terá sido nesta revista que Fran Paxeco assinou os primeiros artigos com o seu “novo nome”. “Declaro que, desde o anno de 1897, residindo nessa data no Estado do Pará, República dos Estados Unidos do Brasil, mudei o nome de Manuel Francisco Pacheco, para o de Manuel Fran Paxeco, que de então para cá tenho adoptado em todos os actos publicos. O motivo desta alteração consistiu em existirem na cidade de Belém do Pará quatro pessoas com o nome Francisco Pacheco, exercendo uma delas a profissão de comerciante. E sendo praxe ali, quando appareciam negociantes com nomes eguaes, mudar o seu aquelle que surgia depois do já conhecido, tive que realizar essa transformação, ao entrar no commercio paraense. S. Luiz do Maranhão, 12 de outubro de 1905”


Elabora o manifesto das associações portuguesas do referido estado (30 de julho de 1897), sobre o Centenário Indiano. É leito secretário geral dos festejos, pela colonia portuguesa de Belém. Manteve-se o nosso ilustre conterrâneo na Direcção Literária da “Revista” desde o nº 1 (Janeiro/1898) até ao nº 7 (Julho/1898), altura em que é anunciada a sua substituição “visto retirar-se para a Europa o nosso confrade Fran Paxeco”. 61

Em 1898, volta a Portugal e em 1899 já está no Brasil, a subir o Amazonas rimo a Manaus., onde é diretor do “Diário de Notícias” e secretário-geral da Associação de Imprensa Amazonense (1900). Em 1899, em Manaus, é atacado pelo empaludismo. De volta a Belém do Pará escreve “A Questão do Acre”.

A revista manteve-se durante mais três meses, tendo cessado em Outubro seguinte, no nº 10. Vai ao Rio de janriro onde colabora no “O País” e em 2 de maio de 1900 chega a São Luis do Maranhão.(MACHADO, 2014) 62. Do período em que esteve no Pará e no Amazonas, antes de vir para o Maranhão, remeto-os ao meu discurso de posse nesta casa de Maria Firmina dos Reis, assim como nos primeiros anos de suas estadias em São Luis... Da chegada de Fran Paxeco ao Maranhão, Humberto de Campos faz referencia em sua obra “Memórias Inacabadas”63: “Fran Paxeco, escritor português, discípulo e devoto de Teófilo Braga, chegara ao Maranhão, procedente de Manaus, onde o seu temperamento combativo lhe havia criado grandes e aborrecidas incompatibilidades. Idólatra do seu mestre saíra a defendê-lo de Sílvio Romero, que o acusara de gravíssima desonestidade literária. [...] Aportando ao Maranhão, Fran Paxeco viveu aí como na sua terra. São Luís era, aliás, por esse tempo, uma cidade portuguesa, e em que dominava, ainda, o reinol. O diretor de uma das folhas mais vibrantes da cidade era o português Manuel de Bittencourt. À frente do diário que defendia o Governo estadual, estava o português Carvalho Branco, a que o Partido oficial, reconhecido pelos serviços relevantíssimos que ele lhe prestara nos trabalhos de alistamento eleitoral, havia dado, numa recompensa expressiva, o privilégio para fabricar caixões de defunto. O comércio era, quase todo, português. De modo que, estabelecendo-se na capital maranhense, Fran Paxeco se sentia tão à vontade como se tivesse desembarcado no Porto ou em Lisboa. As vantagens que ele trazia, com a sua vivacidade e com o seu entusiasmo, justificavam, aliás, a cordialidade do acolhimento. Habituado a olhar o português como gente de casa, a mocidade maranhense, que saía do Liceu, e se iniciava nos cursos 61

CUNHA BENTO, 2014, obra citada. MACHADO, Maria Rosa Pacheco.FRAN PAXECO (1874-1952). Folder sobre a biografia de Fran Paxeco, escrito para a exposição sobre a vida e obra de Fran Paxeco, Galeria Municipal 11, 20/12/2014 a 08/03/2015. Setubal, Portugal, 2014 63 CAMPOS, Humberto de. MEMÓRIAS E MEMNÓRIAS INACABADAS. São Luis: Instituto Geia, 2009 SAMUEL, Rogel. Fran Paxeco segundo Humberto de Campos. In ENTRE-TEXTOS, publicado em 20/11/2011, disponível em http://www.45graus.com.br/fran-paxeco-segundo-humberto-de-campos,entre-textos,86963.html 62


superiores fora do Estado, saudou Fran Paxeco à chegada, e proclamou-o um dos seus guias e mestres. E o hóspede se identificou de tal maneira com ela, que olvidou a sua condição de estrangeiro, e passou a participar da atividade social da terra generosa com uma solicitude bárbara, mas que era, em tudo, de uma sinceridade intensa e profunda. Miúdo e barbado, era, todo ele, nervos e cérebro. Mais tarde, tirou as barbas. Mas conservou inalteráveis o temperamento, o espírito e o coração, até o dia em que Portugal o removeu para Cardiff, como vice-cônsul, isto é, em um posto equivalente ao que o Brasil dera, ali, anos antes, a Aluísio Azevedo”.

Vindo do Rio de Janeiro, desembarca em São Luís, capital do Estado do Maranhão, em 2 de Maio de 1900. ● Em 28 de Julho seguinte, conjuntamente com outros escritores maranhenses, dá início a um movimento de renovação literária com o nome de “Oficina dos Novos”, tendo como Patrono o Poeta Gonçalves Dias. ● Na sequência do livro “Uma esperteza – Os Cantos e os Contos populares do Brasil e o Sr. Teófilo Braga. Protesto”, de Sílvio Romero, Fran Paxeco contestou “de modo algo sacudido os doestos de um dos chefes da intelectualidade brasileira”, assumindo a defesa de Teófilo Braga. Publica, então, “O Sr. Sílvio Romero e a literatura portuguesa”, S. Luís, 1900. A crítica foi-lhe bastante favorável e o próprio Sílvio Romero ao reeditar o seu livro “eliminou quase tudo quanto lhe profligara”. ● Em 1901 apareceu a Revista do Norte, que contou desde o início com o trabalho de Fran Paxeco. Publica o primeiro artigo com o título “O Porvir Brasileiro” , com os subtítulos: as finanças, a economia, o ensino e a política. Joaquim Vieira da Luz diz a propósito: “Fran Paxeco não abordava os assuntos pela rama, analisáva-os sob todos os ângulos, penetrando-os a fundo.” ● Em 14 Agosto promoveu uma conferência em que abordou o assunto da ligação do caminhode-ferro entre São Luís e Caxias que viria a constituir o ponto de partida para a concretização daquele importante meio de desenvolvimento. Terminou aqui a primeira passagem de Fran Paxeco por São Luís do Maranhão. Primeiro ocupante da Cadeira 14 do IHGM, patroneada por Antonio Bernardino Pereira do Lago, o seu amor pelo Maranhão levou-o a recusar transferências para postos da carreira diplomática muito mais prestigiosos que o consulado de São Luís do Maranhão; de Novembro de 1913 a Fevereiro de 1914 está no Rio chamado pelo primeiro Embaixador de Portugal no Brasil, Bernardino Machado para o secretariar; em 1916 publica "Angola e os Alemães" e segue para Lisboa onde chega a 27 de Maio para ocupar entre outros cargos o de secretário particular do Presidente da República, Bernardino Machado, mas continuando como cônsul de Portugal no Maranhão (tinha sido promovido a cônsul de 2ª classe em 4 de Julho de 1914); A 18 de Agosto de 1919, em reunião de professores da Faculdade de Direito do Maranhão, propõe a realização do Primeiro Congresso Pedagógico do Maranhão, o que veio a realizar-se no ano seguinte. Em 8, 28 e 31 de Janeiro de 1920, houve sessões preparatórias. A sessão inaugural teve lugar a 22 de Fevereiro. Em São Luis, no mês de agosto de 1922 recebe Sacadura Cabral, festejando a travessia aérea do Atlântico Sul; em 1923 o encontramos em Belém do Pará como cônsul, lugar que deixa em Junho de 1925, quando volta para Lisboa; em 1927 vai para Cardiff, desempenhar idênticas funções diplomáticas. Escreve "Portugal não é Ibérico". Faz parte da "South Wales Branch" da Ibero American Society, contribuindo para que o nome fosse mudado para "Hispanic and Portuguese Society". Com o cônsul do Brasil consegue abrir e manter no Technical College uma cadeira de língua portuguesa; No ano de 1933 está de volta a Lisboa, ocupando a Direcção Geral dos Serviços Centrais do Ministério dos Estrangeiros. A 24 de Novembro já está em Liverpool a cumprir mais uma missão diplomática onde se mantém até 1935, quando regressa a Portugal, de onde nunca mais saíu. É perseguido pelo Estado Novo, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros nunca mais lhe atribuíu nenhuma missão diplomática (graças ao Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Teixeira de Sampayo, monárquico convicto), o que muito o fez sofrer. 1939, um AVC com graves sequelas: fica sem fala, sem poder escrever e paralítico, as suas grandes formas de comunicação como grande orador e escritor que era.


A Biblioteca do Grémio Literário Português em Belém do Pará e a Praça do Comércio em São Luís do Maranhão têm o seu nome. O seu nome se encontra presente nas toponímias de Setúbal, de São Luís do Maranhão e de São Paulo. Foi fundador da Academia Maranhense de Letras, da Faculdade de Direito, da Universidade Popular, do Centro Republicano Português, do Instituto de Assistência à Infância, do Casino Maranhense, da Associação Cívica Maranhense, da Câmara Portuguesa do Comércio, da Oficina dos Novos, da Legião dos Atenienses, participou do revigoramento e reorganização da Associação Comercial do Maranhão, entre outros organismos, todas as iniciativas relevantes. Profere palestras literárias, cortejos e homenagens cívico-culturais, luta por modernos meios de transporte, pelo incentivo à agropecuária, pela criação de um parque industrial, pela melhoria dos serviços de saúde, pela urbanização da cidade. E tudo isso de par com atividades no magistério público e particular, com diuturna atuação na imprensa, com viagens e trabalhos na Amazônia, com a publicação de livros, com idas ao Rio de Janeiro e a Portugal.64

Na imprensa maranhense deixou uma colaboração tão diversificada e ao mesmo tempo copiosa, que ainda hoje aguarda e reclama a seleção temática da qual resultarão seguidos volumes de interesse para o estudo da vida maranhense. Tais volumes viriam somar-se às obras maranhenses desse autor de vasta bibliografia que compreende assuntos tão variados quanto foram os campos de interesse de seus estudos: Algumas obras: O Uruguai, prefácio a este poema de Basílio da Gama. Rio de Janeiro, Livraria Clássica de Alves & Comp, 1895. O Guarani, proêmio ao libreto da ópera de Carlos Gomes. Belém-Pará, 1896. O Centenário Indiano, manifesto das associações portuguesas do Pará. Belém-Pará, 1897. O Sangue Latino. Lisboa, 1897. O Album Amazônico. Genova, 1898. Os escritores portuguezes: Teófilo Braga. Manaus, Tipografia do Diário de Noticias, 1899. Jubileu de João de Deus - folheto. Manaus, 1899. Os Escândalos do Amazonas. Manaus, 1900. A Questão do Acre, manifesto dos chefes acreanos. Belém-Pará, 1900. O Sr. Sílvio Romero e a literatura portugueza. São Luís do Maranhão, A. P. Ramos d'Almeida, 1900. Mensagem do Centro Caixeiral do Dr. Teófilo Braga. São Luís, 1900. Juiz sem Juízo, comédia de A. Bisson, versão com Antônio Lôbo. O Porvir Brasileiro (série de longos artigos em vários números d'A Revista do Norte). São Luís, 1901. O Maranhão e os Seus Recursos. São Luís do Maranhão, 1902. O Sonho de Tiradentes, peça num ato. São Luís do Maranhão, 1903. O Comércio maranhense, relatório da Associação Comercial do Maranhão. São Luís do Maranhão, 1903. Os interesses maranhenses. São Luís do Maranhão, A Revista do Norte, 1904, XXVIII. O Departamento do Juruá. Cruzeiro do Sul, 1906. A literatura portugueza na Idade Média: conferência. São Luís do Maranhão, Universidade Popular do Maranhão, 1909. O Maranhão: subsídios históricos e corográficos. São Luís do Maranhão, 1912. Portugal e a Renascença. São Luís do Maranhão, 1912. Os Braganças e a restauração. São Luís do Maranhão, Tipografia da Pacotilha, 1912. O Maranhão. São Luís do Maranhão, 1913. As normas ortográficas, na Revista da Academia Maranhense. São Luís do Maranhão, 1913. 64

http://www.academiamaranhense.org.br/academicos/fundadores/05.php


A Língua portuguesa, por Filipe Franco de Sá, organização e posfácio. São Luís do Maranhão, 1915. Angola e os alemães. Maranhão, 1916. O trabalho maranhense. São Luís do Maranhão, Imprensa Oficial, 1916. A escola de Coimbra e a dissolução do romantismo. Lisboa, Ventura Abrantes, 1917. A visão dos tempos. Coimbra, 1917. Teófilo no Brasil. Lisboa, Ventura Abrantes, 1917. Visão dos tempos - epopeia da humanidade: conferência realizada em 21 de Fevereiro de 1917. Lisboa, Academia das Ciências de Portugal, 1917. Separata dos Trabalhos da Academia das Ciências de Portugal A cortiça em Portugal (resumo de informações do ministério dos estrangeiros). Lisboa, 1917. As normas ortográficas, in Revista da Academia Maranhense. São Luís do Maranhão, 1918. João Lisboa: livro comemorativo da inauguração da sua estátua contendo estudos críticos de vários autores (org. da Academia Maranhense). São Luís de Maranhão, Imprensa Oficial, 1918. Portugal e o equilíbrio europeu, conferência, na Pacotilha. São Luís do Maranhão, 1918 (I-XII). Portugal e o Maranhão, folheto. São Luís do Maranhão, 1919. O Pará e a colónia portuguesa, folheto. Belém do Pará, 1920. Geografia do Maranhão. São Luís do Maranhão, 1923. Trabalhos do congresso pedagógico do Maranhão. São Luís do Maranhão, 1923. Cartas de Teófilo Braga (com um definitivo trecho autobiográfico do mestre e duas "confissões" de Camilo) (prefácio e compilação). Lisboa, Tip. da Emp. Diário de Noticias, 1924. O Portugal primitivo, folheto. Belém do Pará, Tip. Grafarina, 1925. Sobre Teófilo Braga, genealogia, folheto. Belém do Pará, 1925. O século português (1415-1520), conferência longa, proferida na capital do Pará e publicada no País, do Rio de Janeiro. 1926. Setúbal e as suas celebridades. Lisboa, Sociedade Nacional de Tipografia, 1930/1931. Portugal não é ibérico (antelóquio de Teófilo Braga). Lisboa, Tipografia Tôrres, 1932. O poema do Amadis de Gaula, conferência lida em 10-11-1932, na Universidade de Cardiff. Coimbra, Coimbra Editora, 1934 (separata da Biblos). The intellectual relations between Portugal and Great Britain. Lisboa, Império, 1937.

Casou com Isabel Eugénia de Almeida Fernandes, natural de São Luís do Maranhão, de quem teve uma filha, Elza Paxeco, primeira senhora doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

FRAN PAXECO E SUA ESPOSA ISABEL Fonte: VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXECO E OUTRAS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1957.

Associações científicas de que foi membro     

Sociedade de Geografia de Lisboa; Sócio correspondente, admitido em 1 de Fevereiro de 1897. Academia Maranhense de Letras, de que foi sócio fundador; Academia Alagoana de Letras; (sócio correspondente); Academia Piauiense de Letras; (sócio correspondente); Société Académique d'Histoire Internationale; Medalha de Ouro. Paris, 27 de Junho de 1912.


 Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano; Sócio correspondente, eleito em 24 de Novembro              

de 1913. Academia de Ciências de Portugal; (sócio correspondente) eleito em 13 de Janeiro de 1915. Associação de Imprensa do Amazonas; Associação de Imprensa do Pará; Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (São Paulo); Grémio Literário e Comercial Português, hoje, Grêmio Literário e Recreativo Português, Belém do Pará; Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; Instituto Histórico e Geográfico do Pará; Sócio Honorário,eleito em 12 de Maio de 1920. Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Sócio correspondente, investido em 20 de Novembro de 1925. Liga Portuguesa de Repatriação; Belém do Pará: Sócio Benemérito, eleito em 26 de Junho de 1925. Sociedade Portuguesa Beneficente; Belém do Pará: Sócio Benfeitor, eleito em 26 de Março de 1925. Associação Dramática Recreativa e Beneficente; Belém do Pará: Sócio Beneficente, eleito em 5 de Julho de 1927. Instituto Histórico de Pernambuco; Instituto Histórico do Piauí; Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro.

Temos um diploma de mérito concedido a Fran Paxeco “pela propaganda literária que tem feito a favor da Educação Física”.

De suas idas e vindas, ao Rio de Janeiro, a Portugal, a Belém, ao Amazonas, sempre retornando a São Luis: - 1901, o encontramos como colaborador DNA “Revista do Norte” e na “Pacotilha”; - 1902, convidado para sub-secretário da Associação Comercial do Maranhão; - 1903, organizou um Congresso Literário Luso-Brasileiro...


- 1904, durante uma grande assembléia a 14 de agosto, é o responsável pelas discussões mais séries sobre a construção do Caminho de Ferro São Luis-Caxias – também é responsável pela sua construção... Em maio de 1904, vai para Manaus e de lá, para bom Alto Juruá, ai dirigindo o gabinete do Prefeito, dirigindo a Imprensa oficial e imprimia o semanário “O Cruzeuro do Sul”, e em 1906, “O departamento de Juruá” - 1905, está de volta a São Luis, para visitar a noiva e os amigos, retornando ao amazonas em outubro; 1907, maio, vai para o Rio de Janeiro, em tratamento de saúde, passando pelo porto de São Luis;retornando em agosto para descansar e se recuperar, pois estava em profunda melancolia, dado os acontecimentos ocorridos no amazonas, que redundaram em sua prisão. 1908, vai para Portugal, em desembro, mas retornando a São Luis, já a 25 de abril de 1909. Aqui, dá aulas, faz conferencias na Universiade Popular Maranhense. Continua a escrever na “Pacotilha”. A 8 de setembro de 1910, casa com a sua amada, Isabel. - 1911, funda, com vários maranhenses, o Centro Republicano Portugues, o casino Maranhense, e o Instituto de Assistência à Infancia. A 23 de agosto, é nomeado Cônsul mde Portugal no Maranhão por Teófilo Braga. - 1913, novembro, até fevereiro de 1914, está no Rio de Janeiro; vai secretariar o 1º Embaixador de Portugal no Brasil, Bernardino Machado. - 1916, segue para Lisboa, indo ser secretário particular do Presidente da Republica, Bernardino Machado, mas continua como Cônsul de Portugal no Maranhão, promovido a Cônsul de 2ª Classe, em 14 de julho de 1914...; lá exerce várias funções e freqüenta as academias de ciencias ; - 1917, setembro, está de volta à São Luis, onde permanece até 1923... - 1918, foi o inspirador da faculdade de Direito do Maranhão, e como vimos, do Instituto de História e geografia 2.0; da Escola de Farmácia e ede odontologia; do Instituto Ateniense; da Camara Portuguesa do Comércio. - 1919, da Legião dos Atenienses; - 1920, do Congresso Pedagógico. Nesse ano vai a Belém resolver a “Questão dos Poveiros”, com êxito... - 1921, do Centro Acadêmico - 1922, da Liga Portuguesa de Repartições; da Escola de Belas Artes; - 1923, recebe o titulo de cidadão honorário de São Luis. Nesse ano vai para Belém, no mesmo posto de Cônsul de Portugal. Senhores, Senhoras, Confrades Já tomei demais o tempo, e está se tornando cansativo... Reconheço... Agradeço a oportunidade, nobre Presidente, encerro aqui. Obrigado!!!


O ÚLTIMO CORTEJO DA RAINHA

RAMSSÉS DE SOUSA SILVA O ano era 1869. O cortejo fúnebre desce vagarosamente o Caminho Grande até chegar ao campo santo da Irmandade do Senhor dos Passos. Lugar hoje frequentado pelos amantes do futebol, o estádio Nhozinho Santos era, durante o séc. XIX, um grande cemitério. Ali estavam os restos mortais de membros das famílias pioneiras e mais importantes do Maranhão. E, para lá, estava indo agora o corpo sem vida da mulher mais importante da Província até então e uma das mais influentes do Império Brasileiro; a lendária Ana Joaquina Jansen Pereira ou, simplesmente, Donana. A Rainha do Maranhão havia cumprido sua missão e sua sentença. Seus entes, enlutados. Seus casarões jaziam agora silenciosos pela falta da matriarca. Os azulejos da residência de veraneio no Tamancão não mais refletiriam a imagem da velha senhora chegando embarcada para o descanso merecido dos finais de semana. O Maranhão se despedia da polêmica mulher que, desde tempos muito remotos, aprendera a se virar sozinha. Descendente de ilustres famílias lusitanas, italianas e holandesas, contraditoriamente, Donana nascera em 1798 em São Luís, num ambiente de poucos recursos, marcado pela falência de seus ancestrais comerciantes. Percebeu que seu único trunfo, a partir dali, seria o seu sobrenome. A sorte havia de lhe sorrir, Casou-se mais de uma vez, foi viúva, mãe solteira. Jovem ainda, teve que administrar as fortunas que herdara. Provocou furor na conservadora e preconceituosa sociedade ludovicense da época. Amadureceu. E, em meio a um ambiente predominantemente masculino, tornou-se rija e respeitada. Era uma das figuras mais representativas do Partido Liberal (Bem-te-vis). Financiou as tropas brasileiras na Guerra do Paraguai com inúmeras provisões. Em meio a pressões e boicotes de seus adversários, nunca esmoreceu ou se deu por vencida. Era um gigante empresarial. Capaz de tudo para manter a sua hegemonia no ramo de abastecimento de água na capital. Mas, com certeza, Ana Jansen também chorava. Se via, muitas vezes, solitária. Conduzir os negócios, criar os filhos, defender-se de levianas acusações...não era fácil. Mas era de carne e osso. Vez ou outra, na discrição de seus aposentos, devia transbordar fragilidade, vacilação. Era humana, afinal. A imagem de solidez era processo vital para a existência do mito. O que ela mais queria era o título de Baronesa atribuído pelo Imperador. Título esse que jamais foi-lhe concedido. Era o tão aguardado reconhecimento pelos seus serviços prestados. Voltando ao cemitério dos Passos, após os últimos dizeres fúnebres serem proferidos, enfim, sepultam o corpo de Ana Jansen. O tão desejado título nobiliárquico cunhado na lápide de mármore já não mais importava. Partia para a morada eterna aquela que nunca foi Baronesa mas que, certamente, já havia sido Rainha.


VERGONHA E RENÚNCIA - (ONDE ESTÁ A VERDADEIRA PROSTITUIÇÃO?) Há exatamente 51 anos, no dia 9 de maio de 1967, um prefeito imperatrizense renunciava ao cargo. Eurípedes Bernardino Bezerra, o Euripão, coronel da Polícia Militar, que assumira em 04 de fevereiro de 1967, entregou o cargo, depois de ter tentado mudar a Farra Velha (zona de meretrício) da rua Sousa Lima, no centro de Imperatriz, para o lugar chamado Cacau, nas proximidades do Departamento Nacional de Estradas e Rodagens - DNER). Ao saberem disso, os vereadores foram contra. E deu no que deu. No lugar de Euripão, tomou posse no cargo de prefeito o vice, Raimundo Sousa e Silva, que governou até 31 de janeiro de 1970. A história poderia terminar aí, mas um depoimento do próprio Euripão, em 2001, ao professor e pesquisador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, revela que a prostituição verdadeira e vergonhosa não era aquela das mulheres de difícil vida da tradicional "escolinha" da Farra Velha. A prostituição -- dessa de caras cínicas, caras lavadas e almas sujas -- estava no Poder Legislativo. Vereadores souberam que foram destinados 42 milhões de cruzeiros novos para Imperatriz (o cruzeiro novo era a moeda que acabara de ser instituída no Brasil, em 13 de fevereiro de 1967). Aqueles milhões, claro, eram para o prefeito fazer as melhorias necessárias na Imperatriz daqueles tempos. Conta o prefeito Eurípedes Bernardino Bezerra em entrevista ao professor Leopoldo Gil: "[...] eles [os vereadores] vieram em cima de mim, tipo urubu atrás da carniça. Aí eu disse: ' -- Esse dinheiro não é nosso, não pode ser.' [...]" Contabiliza e conta Euripão que, "no total", dos 42 milhões, os vereadores "queriam 24 milhões para eles". E qual foi a reação do prefeito: "Eu fiquei tão enojado com aquilo... Vocês sabem de uma coisa?" "Cansado" -continua Euripão --, "peguei a máquina de escrever"... e eis um pouco do que o prefeito escreveu em sua carta de renúncia: "Senhores vereadores, minha presença aqui [em Imperatriz; Euripão tinha vindo de São Luís] representou um cachorro fiel, encarregado de uma carniça gorda. Os urubus famintos não permitiram que eu zelasse até o fim [...]" E, após mencionar os "instintos podres e imundos" dos vereadores", "cumprimento do dever" etc., assinou a carta e, encerra ele: " -- Adeus!...Vim embora." Será se hoje ainda existe "prostituição", "urubus atrás de carniça" e outros "instintos podres e imundos" nas excelsas casas legislativas local, municipais, estaduais e federais, no Brasil? Será? Um resumo da biografia do ex-prefeito Euripão, que consta da "Enciclopédia de Imperatriz", que escrevi, lançada em março de 2003: EURÍPEDES BERNARDINO BEZERRA. Coronel da Polícia Militar do Maranhão e político. Prefeito de Imperatriz, renunciou pouco tempo depois da posse. Governou no período de 4 de fevereiro a 9 de maio de 1967. Nasceu em 17 de dezembro de 1915, no povoado Curador, antigo distrito de Barra do Corda (MA) e hoje Presidente Dutra (MA). Sucedeu ao interventor federal “Doutorzinho”*. Chegou a Imperatriz como delegado de polícia, em 9 de julho de 1962, nomeado pelo governador Newton Belo. Candidatou-se a prefeito de Imperatriz, em 1966, a convite de José Sarney, governador do Maranhão, e Henrique de La Rocque. O concorrente era Manoel Ribeiro*, que venceu a eleição mas morreu antes de assumir. Eurípedes recebeu 1.254 votos e perdeu o pleito para Manoel Ribeiro por uma diferença de 12 votos. Recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e, depois, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A dois dias do


julgamento, Manoel Ribeiro morreu e o TRE decidiu diplomar Eurípedes, o segundo colocado, em 4 de fevereiro de 1967, quando tomou posse. Na sua administração, deu início à abertura do bairro Nova Imperatriz e construiu o primeiro meio-fio da avenida Getúlio Vargas, até o Entroncamento. Retornou a São Luís e assumiu, no governo José Sarney, o cargo de assistente militar de fronteiras. Foi nomeado auditor fiscal do Estado em 14 de dezembro de 1969. Passou a coronel da reserva não-remunerada. esanches@jupiter.com.br Foto: Uma rara foto de Eurípedes Bernardino Bezerra.


CAFETEIRA – O VERDADEIRO CAMPEÃO DOS JEBS Nascido a 27 de junho de 1924 em João Pessoa, capital da Paraíba, EPITÁCIO CAFETEIRA AFONSO PEREIRA, faleceu hoje (13 de maio de 2018) em Brasília/DF, onde fixara residência após cumprir mandato de Senador da República Federativa do Brasil, pelo Estado do Maranhão, no período de 2007 a 2015. Casado com Maria Isabel Cafeteira, Epitácio Cafeteira foi Prefeito de São Luís, Deputado Federal pelo Maranhão, Governador do Estado do Maranhão, e Senador, também pelo Maranhão. Completaria 94 anos no próximo mês de junho. Paraibano, homem corajoso por excelência, foi Epitácio Cafeteira quem, como Governador, assumiu uma grande revitalização do Centro Histórico de São Luís, algo que nenhum governante nascido nestas terras teve coragem para enfrentar. Ele “prometeu e fez”! Entre tantos fatos envolvendo Epitácio Cafeteira, testemunhamos (e destacamos) dois que nos chamaram bastante atenção, haja vista, comprobatórios da coragem do paraibano que acabou se tornando maranhense de coração: 1 – Enfrentar uma reforma do Centro Histórico, independentemente do apoio do IPHAN, foi, sem nenhuma dúvida uma demonstração de coragem de Cafeteira e amor pelo Maranhão e pela Ilha de Upaon-Açu. Foi algo marcante. 2 – O fato a seguir aconteceu durante uma competição esportiva. Com o aval de Epitácio Cafeteira, o Estado do Maranhão aceitou promover uma das muitas edições dos JEBs (Jogos Escolares Brasileiros), realizando o encontro e a salutar convivência de milhares de estudantes de quase todos os estados brasileiros. Foi uma das maiores e melhores realizações do gênero, por todos esses anos. O jogo era da modalidade Handebol, com o Ginásio Castelinho superlotado. No primeiro jogo, final da categoria feminina, jogaram Rio de Janeiro contra Sergipe – um dos mais emocionantes jogos que este escrita já presenciou durante 75 anos de vida e atuações nas coberturas esportivas. O segundo jogo, também final, envolvia a excelente seleção maranhense masculina de Handebol, contra a não menos excelente seleção de Alagoas. No último tempo do jogo decisivo, o Maranhão estava sendo batido pelos alagoanos por uma diferença de 3 (três) pontos. O goleiro maranhense “Quibe” sofria com uma desvantagem mais que natural e provavelmente passageira. O sol que entrava pela fresta da cobertura do ginásio lhe atrapalhava a visão. Intempestivamente, o então Governador Epitácio Cafeteira desceu da tribuna de honra para “exigir” que a Arbitragem parasse o jogo, e esperasse que o sol parasse de atrapalhar o goleiro maranhense. Os jogadores e dirigentes alagoanos ficaram indignados com a situação, haja vista que a paralisação “esfriou” todo o time alagoano. No reinício do jogo, a meninada maranhense comandada pelo técnico Viché retomou o comando da partida, mudou o placar e sagrou-se campeã. Muitos disseram que foi Cafeteira quem verdadeiramente se tornou campeão brasileiro de Handebol. (JOR)


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