REVISTA DO LÉO 93 - JANEIRO 2024

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REVISTA DO LÉO REVISTA LAZEIRENTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536

NÚMERO 93 – JANEIRO – 2024 MIGANVILLE – MARANHA-Y “águas revoltas que correm contra a corrente”


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor. EXPEDIENTE REVISTA DO LÉO REVISTA LAZEIRENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076 98 9 8328 2575 CHANCELA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 20 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


UM PAPO

A partir deste número, começamos um novo ano, e um novo sócio atleta: Zeca Tocantins, lá das Barrancas..., vem juntar-se ao Jorge Bento e ao meu Primo, isso, além daquelas figurinhas carimbadas, que constroem a memória daqui de Miganville... Creio que voltaremos às origens, para além da memória dos Esportes, Educação Física, e Lazer do/no Maranha-y..., das águas revoltas que correm contra a corrente. Pensei que na coluna do Jorge, manteria, de ora em diante, apenas aqueles pensamentos referentes à motricidade humana e à educação; sem os comentários sobre a política, e a situação europeia, ou mesmo, a brasileira, sobretudo, a daqui da terrinha... mas acabei entendendo que isso tudo afeta diretamente o Lazer, em seu sentido amplo, assim como a Educação, também no seu sentido amplo. Somos uma geração colocada em um beco sem saídas... Achei interessante, um artigo que li, de que na Dinamarca o cidadão que recebe as benesses do Governo para sua sobrevivência, perde o direito ao voto!!! O motivo? Por depender do Governo é alvo de chantagem politica para permanecer o mesmo Governo, que o beneficia... e se isso fosse aplicado por aqui? Continuaremos a insistir nas notícias de maranhenses que acontecem nas outras plagas, apesar do esforço da SEDEL em apagar o esporte maranhense... Neste mês, tivemos uma grande perda para o esporte maranhense: Raimundo Aprígio Mendes – Mestre Raimundão – faleceu; ícone da Capoeiragem maranhense e ex-professor de Ginástica Olimpica. Em ambas áreas, formou muitos discípulos e contribuiu para o engrandecimento das modalidades. Campeão maranhense, como atleta e técnico. Também tivemos a perda do avô do Rafinha, sogro do Lino. Rafinha vem contribuindo muito para a Educação Física e os Esportes brasileiro; Lino, um icone do esporte maranhense... também com grande contribuição, nos anos que passou em São Luis. Rafinha é maranhense... Estamos em pleno desenvolvimento de evento ancional, de futebol de areia – beach soccer – em que as seleções maranhenses têm se destacado. Na\ próxima edição, os resultados.


SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO

Mestre RAIMUNDÃO JB PRIMO DAS BARRANCAS DO TOCANTINS

João Evangelista Belfort Duarte MESTRE BEBETO E OS 40 ANOS DO BLOCO AKOMABU MANOEL DOS SANTOS NETO O QUE PODE UM CORPO? O CORPO É O CÁRCERE DA ALMA OU É POTÊNCIA EM ATO?) JOÃO BATISTA DO LAGO. A SELEÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE AREIA JÁ CHEGOU A SÃO LUÍS PARA O MARANHÃO CUP.


RAIMUNDO APRÍGIO MENDES São Luis, 06 de setembro de 1956

Mestre RAIMUNDÃO Entrevista com o prof. Raimundo Aprígio Mendes, realizada no dia 31/08/2001 com inicio às 15horas e 5 minutos no Ginásio de Esportes Rubem Goulart situado no bairro do João Paulo.

São Luis, 06 de setembro de 1956 R – Bem, eu vivo na área de educação física, mas na verdade, eu sou formado em Química Industrial, me formei em 1992 na Universidade Federal do Maranhão, mais tenho uma larga experiência não só como atleta, mas também como técnico; fiz vários cursos técnicos na área de Ginástica Olímpica, tanto a nível estadual como também fora de nosso Estado, tenho curso até Internacional de Técnicas de Ginástica Olímpica, realizado no Flamengo em 1996. R – É, eu comecei a minha vida como atleta na década de 1978. Eu treinava capoeira já uns dois anos antes, eu participava, eu fazia parte grupo do Mestre Sapo, do falecido Mestre Sapo, que funcionava no Ginásio Costa Rodrigues; nos trinávamos sempre no período da tardezinha, tipo assim 17:30 e ... ia até 20:30 horas. em 76; aí, o professor Dimas apareceu no final de 1977, à procura de pessoas que tivessem uma boa habilidade para a pratica da Ginástica Olímpica então... Nessa época, tinha 14 anos. Então, ele buscou muitos alunos, muitos alunos de Ginástica Olímpica dessa época vieram da Capoeira, e ele preferiu assim porque os alunos da Capoeira já sabiam fazer alguns saltos que a Ginástica exige, e já tinham uma assim, digamos assim, um bom trabalho de preparação física, principalmente na parte de resistência orgânica e flexibilidade.

L – Você já fazia capoeira nessa época? R – Não! Não tinha noção nenhuma do esporte foi... Eu tinha mais ou menos 11 anos. Já conhecia o Dimas, era meu professor de educação física no CEMA Aí, ele me viu jogando capoeira, me convidou para fazer ginástica olímpica, então eu fiquei nos dois, mas depois eu me interessei mais pela ginástica, até porque teve uma coisa assim, digamos assim, eu aprendi a gostar mais da ginástica olímpica.


Rafael Moreno Castellani Chegou o momento do meu avô descansar. Vá com Deus, vô. Que os nossos guias o acompanhem em sua passagem e que seja muito bem recebido pela espiritualidade! Ficamos muito tristes pela sua partida. Mas aliviados pelo fim do seu sofrimento! Descanse em paz!

Rafael – Rafinha – é sócio-atleta daqui da Revista, filho do Lino e da Sandra.


NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO "As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram".

A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.


Era Uma Vez...JORGE BENTO - YouTube

Do sentido: recomeçar sempre! No princípio, no meio e no fim surge a vacuidade. Tentamos preenchê-la com o quê? A resposta contém o sentido, um caudaloso rio sem fim que corre entre as suposições e a realidade, disse o poeta Fernando. Somos tudo o que supomos e não conseguimos ser. Os fracassos, que assumimos, são o maior e melhor haver; é deles que partimos com a vontade de realizar a obra por fazer. Recomeçar sempre! – eis o sinal indicativo do viver. Vaticínio de Jano Jano relaciona o passado e o futuro, os inícios, as mudanças e os finais; sopesa o que ficou para trás e anuncia o que está para vir. Nesta hora centra a atenção e avaliação no cenário bélico; e formula previsões. Quando alguém usa outrem para travar uma guerra com um terceiro, fica altamente devedor; por mais que lhe pague, nunca pagará o preço justo. Não há dinheiro que consiga pagar uma vida sacrificada - e são centenas de milhar! No dia do trágico acerto de contas ouvir-se-ão muitos gritos de dor e raiva. E não faltarão acusações de traição. Sugestão: move-te! Move o corpo, o espírito, o intelecto e o olhar. Corre, dança, nada, salta e brinca. Passeia no campo, ao longo do mar e dos rios, nos caminhos das florestas e dos montes, nos parques e nas praças das vilas e cidades. Renovarás assim o pensamento e a ideação, a razão e o coração, a vontade e a compreensão, a imaginação e a intuição, a criatividade e a inspiração. Aprenderás a ver melhor ao perto e ao longe, a guardar distância do que não presta e a sonhar o que te enleva. Melhorarás o funcionamento dos músculos e das articulações, o labor das mãos, a fineza dos gestos, o teor das palavras, ações e posições, a relação contigo, com a natureza extrínseca, com o outro e o mundo. Oxigenarás a vida. Falta de remédios adequados Adriano Olivetti (1901-1960), diretor da fábrica de máquinas de escrever portadoras do seu sobrenome, diagnosticou o mal-estar do mundo e prescreveu a receita: “A beleza, junta ao amor, à verdade e à justiça, representa uma autêntica promoção espiritual. Os homens, as ideologias, os Estados, que esquecerem uma só dessas forças criadoras, não poderão indicar a ninguém o caminho da civilização.” A doença persiste e agravar-se-á, enquanto não forem tomados os remédios adequados. Ora, é aqui que reside o nó górdio do problema. Nos almoxarifados e nas prateleiras das farmácias há falta daqueles medicamentos; os laboratórios não os produzem, porquanto não rendem o apetecido lucro. Só as escolas podem suprir a lacuna, se tal tarefa lhes for atribuída com caráter de prioridade e urgência.


Cantar as Janeiras Vamos cantar as janeiras Vamos cantar as janeiras Por esses quintais adentro vamos Às raparigas solteiras Vamos cantar orvalhadas Vamos cantar orvalhadas P or esses quintais adentro vamos Às raparigas casadas Vira o vento e muda a sorte Vira o vento e muda a sorte Por aqueles olivais perdidos Foi-se embora o vento norte Muita neve cai na serra. Muita neve cai na serra Só se lembra dos caminhos velhos Quem tem saudades da terra Quem tem a candeia acesa Quem tem a candeia acesa Rabanadas pão e vinho novo Matava a fome à pobreza Já nos cansa esta lonjura Já nos cansa esta lonjura Só se lembra dos caminhos velhos Quem anda à noite à ventura (Zeca Afonso) Cantar as Janeiras é uma tradição Portuguesa que consiste no cantar de músicas pelas ruas por grupos de pessoas anunciando o nascimento de Jesus, desejando um feliz ano novo. Esses grupos vão de porta em porta, pedindo aos residentes as sobras das Festas Natalícias. Hoje em dia, essas 'sobras' traduzem-se muitas vezes em dinheiro. Ocorrem em Janeiro, começam no dia 1 e estendendo-se até dia 6, Dia de Reis ou Epifania. Muitos grupos prolongam o Cantar de Janeiras durante todo o mês. A tradição é juntar grupos de amigos ou vizinhos com ou sem instrumentos musicais como: pandeireta,


bombo, flauta, viola, etc...). Vão cantar de porta em porta pela vizinhança. Terminada a canção numa casa, espera-se que os donos tragam as janeiras (castanhas, nozes, maçãs, chouriço, morcela, etc. Por comodismo, é hoje costume dar-se chocolates e dinheiro, embora não seja essa a tradição). No fim da caminhada, o grupo reúne-se e divide o resultado, ou então, comem todos juntos aquilo que receberam. As músicas utilizadas, são por norma já conhecidas, embora a letra seja diferente de terra para terra. São músicas simples, habitualmente à volta de quadras simples que louvam o Menino Jesus, Nossa Senhora, São José e os moradores que contribuíram. Tipicamente havia também algumas quadras insultuosas reservadas para os moradores que não davam as janeiras. Nos últimos anos, ficou célebre uma música de Zeca Afonso, intitulada «Natal dos Simples», que começa com a frase 'Vamos Cantar as Janeiras...'

In Memoriam Mário Jorge Lobo Zagallo tinha uma preferência especial pelo número treze. Para muitos este número evoca o azar; para ele era prenúncio de sorte, confirmada por uma série de eventos felizes, acontecidos em dias treze, que contava como quem desfia as contas de um rosário de milagres. Era por isso profundo devoto de Nossa Senhora de Fátima e de Santo António, do qual possuía enorme variedade de imagens. Encontrei-o várias vezes no Brasil e no Porto; e até o levei em romagem por terras transmontanas (Bragança, Alfândega da Fé, Moncorvo e Vila Real), onde foi recebido e honrado como um Titã. Conversamos abertamente e deliciei-me com as suas opiniões e revelações. Tetracampeão mundial de futebol, o único existente, amava a vida e lutou árdua e longamente contra a vinda da morte. Com 92 anos, ouviu o apito final do juiz supremo e despediu-se do terreno de jogo no começo do Dia de Reis, como um deles. Curvo-me perante um lídimo Mestre. À conversa com Zagallo O brasileiro é o português à solta, disse Agostinho da Silva e ao dizê-lo tocou bem no centro da nossa essência. É o português leve e livre dos vernizes da hipocrisia e da mordaça dos complexos, alegre, criativo, versátil, com humor, amante de uma boa conversa e mesa (e do resto que é tão bom!), sem culpas e entraves perante os prazeres da vida. Brasileiro é o que de melhor tem o nosso futebol: a técnica, os dribles no latifúndio de um lenço de nariz, a finta e a simulação que levam o adversário a meter o rabo entre as pernas, o passe curto que entontece os matulões da corpulência, o toque cerzido e a euforia do golo como se do primeiro orgasmo se tratasse. Do Presidente da AR poucos portugueses sabem o nome. Mas muitos sabem o nome de políticos, escritores, artistas, cantores e desportistas do Brasil de ontem e de hoje. Foi com um desses astros que tive o privilégio de conversar recentemente. Zagallo, o decano dos treinadores, com quatro títulos mundiais no seu bornal, recebeu-me numa postura de natural simplicidade, sem quaisquer laivos de vaidade ou afetação. Prestes a concluir 72 anos e com longo caminho andado na senda da glória, o velho Lobo esconde, por debaixo dos cabelos brancos, uma personalidade tímida, modesta e afável, de fino trato e de irrepreensível carácter. A conversa começou lenta para rapidamente alargar a passada e ganhar as asas da confiança e da opinião aberta e franca. E assim se gastou hora e meia de amena cavaqueira, servida numa linguagem fluente, desenvolta, sem peias e alindada por metáforas de encantamento. Como o futebol, o jogo da técnica, da beleza e invenção e da inteligência gestual e sentimental que fala pela sua boca, com o respaldo de uma vida prenhe de um saber de experiência feito. Zagallo lembra-se bem de um jogo no Maracaná contra a Argentina, em que o escrete deu 53 toques seguidos na bola antes de ela acabar em golo. Por isso falou contra o futebol da trancada que não poucos técnicos incentivam e premeiam e que os juízes deixam passar em claro, ignorando as instruções da FIFA. Contra o futebol cada vez mais asfixiado pelo comércio, pelos trambiqueiros e por uma onda de insanidade que leva a pagar milhões a quem só vale tostões. Zagallo olha o futebol brasileiro com um misto de preocupação e paixão. A nível de clubes reina um apagão geral; a excelência não faz mais a distinção. Mas o Brasil continua a ser um canteiro de renovação e multiplicação permanentes de craques. E assim não é difícil produzir seleções de elevado quilate. O problema é só de escolha no meio de tanta qualidade e quantidade e também de harmonizar o conjunto mediante estágios, treinos e competições. Naturalmente isto não garante que o Brasil ganhe sempre. O


futebol é o único jogo desportivo em que os pequenos têm possibilidade de ganhar, porquanto os grandes vêem-se obrigados a assumir a condição de favoritos e esta implica o risco da iniciativa do jogo. Falamos de muitas coisas mais. Das estrelas que é melhor ter do que enfrentar. Das potencialidades que o futebol africano ostenta, faltando-lhe apenas organização e que os atletas tenham um estilo de vida pautado por mais rigor e exigência. Dos progressos dos países árabes e dos limites difíceis de superar que eles têm pela frente. Dos chineses, japoneses e coreanos para quem a baliza teima em ser demasiado pequena; abeiram-se dela facilmente, mas ela parece encolher-se, dificultando a obtenção do golo. Um problema técnico a aguardar solução. Zagallo falou-me ainda da compactação dos atletas em torno da bola como base do sistema de jogo. E revelou-me um esquema tático inovador que requer um alto índice de inteligência dos jogadores, residindo nele porventura uma saída para a melhoria do jogo. Falou-me também com apreço e carinho de A BOLA, de Portugal e das nossas coisas e gentes. Os compromissos académicos obrigaram-me a pôr fim à conversa e a não continuar a saborear a humildade e ternura de um ícone profundamente humano que o povo colocou no altar da adoração. É um dos deuses do futebol e pertence ao número dos que mais justificam o seu lugar no Olimpo. Um dia voltaremos por certo a encontrar-nos. Jorge Bento, In A BOLA, 20.07.2003. Pontífices e peripatéticos Muitas são as dimensões da missão atribuída à educação, à escola e ao professor. Cada época convida a focalizar mais umas do que outras. Nestes dias, em que o mundo está irreconhecível e intransitável, e as pontes do relacionamento são arrasadas a toda a hora, vem-me à lembrança a imagem do professor com o bordão de pontífice, ou seja, de edificador das pontes do diálogo e da convivência entre as diferenças. E também me lembro da Escola Peripatética e da figura de Aristóteles passeando e deambulando sob os portais do Liceu ou sob a copa das árvores, enquanto dava aulas. Sim, nesta hora amarga volto-me para os professores: sejam pontífices e peripatéticos! Pratiquem a arte da compreensão, conciliação e interação do que é estranho e oposto, busquem o sentido de complementaridade e unidade dialética da realidade diversa, e iluminem a sua contingência e mutabilidade com princípios de transcendência. Viajem para o largo, saiam das rotas impingidas e abandonem a fixação nas águas estagnadas e nos preconceitos. Vejam o mundo como campo encantatório da nossa andança, errância e peregrinação, como caminho único e sublimador do destino humano. E não esqueçam que só ensinamos o que somos; a aprendizagem do resto não depende do nosso esforço e labor. DIA INTERNACIONAL DO OBRIGADO Cícero (106-43 a.C.), o eminente jurista romano, proclamou que “nenhum dever é mais importante do que o da gratidão”. Assumo que falto, muitas vezes, a tal obrigação. Desculpo-me com o facto de o pronome ‘Eu’ ser raridade nos meus escritos; só surge quando fura a vigilância. Não se trata de cultivo forçado da humildade; é o reconhecimento objetivo da realidade. Embora seja responsável pelos passos dados, as realizações conseguidas têm, sem favor algum, autoria plural. Nesta figuram as condições de origem e crescimento, de educação e formação, a família e os que, ao longo do trajeto, me afoitaram e ajudaram a ganhar asas para adejar as circunstâncias. Nas margens e no curso do rio existencial há pessoas e entidades ligadas à obra feita. Umas estiveram diariamente próximas; outras acenaram de longe com empatia e solidariedade, apoiando o caminho escolhido e percorrido. Todas ofereceram o afeto de que tanto carecemos nas horas boas e más. Agradecer-lhes constitui, pois, uma necessidade tão imperativa como a de respirar. Bem haja, em todo o tempo e lugar! O QUE É A FILOSOFIA? Há definições arrevesadas; pretendem afastar-nos da prática quotidiana de um exercício deveras simples. Ora, filosofar é apenas meter o nariz da interrogação onde não querem que entremos, mas temos de entrar, se quisermos compreender a realidade e a vida, o papel que estamos a desempenhar, o que somos e como e quem devíamos ser. Dito de outra maneira, é meter a foice da inquietude e reflexão numa seara, que dizem ser alheia e nos pertence por inteiro. Isto requer tempo. Este não é perdido; é ócio criativo que enche os dias de sentido.


Tragédia em cena Os dados são brutais; é inaceitável sacudir os ombros e enterrar a cabeça na areia. 1. A primeira criança portuguesa nascida em 2024 foi registada na Suíça; a segunda na França e a terceira na Alemanha. 2. Os pais da primeira criança nascida em Portugal em 2024 são brasileiros; da segunda são paquistaneses e da terceira são senegaleses. 3. Segundo acaba de revelar o Observatório da Emigração, 30% dos jovens nascidos em Portugal, com idade entre os 15 e 39 anos, vivem no estrangeiro. Isto encerra enorme gravidade e funestas consequências. Uma coisa é a oportunidade de conhecer o mundo e, assim, valorizar a formação e visão universalista; outra é a condenação à obrigação de emigrar para ganhar a vida. A primeira merece aplauso; a segunda denuncia a canalhice e o antipatriotismo de não poucos agentes políticos, económicos e patronais. Muitos jovens partem, com amargura, em busca de salário decente. Aqui são explorados e esfolados com trabalho escravo, inibidor da já pouca vontade de constituir família. Entretanto há gente que vem para cá e ajuda a disfarçar a baixíssima taxa de natalidade. A tragédia espreita-nos: enquanto a situação laboral e social da nossa juventude não for encarada à luz dos superiores interesses do país, estaremos a cavar a sepultura da nação.


Velhice das cobras venenosas Antes da existência do Estado, criação relativamente recente na história da Humanidade, os frágeis viviam sujeitos à selvajaria predatória dos fortes. Ora isso não acabou de todo. A injustiça, a rapina e a violência são camaleões proteiformes; mudam de forma e, assim, camufladas, atravessam os tempos e enganam os distraídos. Serve isto para afirmar que as intenções de vários partidos, visando destruir o SNS e os demais pilares do Estado Social, para em cima da destruição instituir negócios chorudos, têm mofo e são velhas de séculos, velhacas e ladinas. Novo é tão-somente o verniz das palavras com que as formulam e tentam impingir. Ah, as cobras também trocam a camisa da pele, mas não a língua viperina, nem o veneno! Defesa do Iluminismo Os ideais do Iluminismo, embora formulados numa dada circunstância, são intemporais e universais; nunca foram tão relevantes como nesta era. O comunalismo ou apologia do bem comum e desinteressado, a par do universalismo, perfaz a sua virtude cardinal, hoje gravemente ameaçada e debilitada. É, pois, urgente defendê-la e reavivá-la agora. Os que não entendem isto existem em estado selvagem. E este não é o da densa floresta; é o da mais cega maldade. Avaliação serena Ao longo da vida, em geral, e da carreira académica, em particular, assisti à derrota de várias causas. Reconheço isto com a serena convicção de que o mundo e a universidade estariam hoje melhor se aquelas tivessem triunfado. Mais, avalio a história e o presente e, por detrás dos festejados direitos conquistados, vejo muitas batalhas perdidas e dores sublimadas. E também percebo claramente que a maioria dos beneficiários do progresso jamais tomou posição, subscreveu uma reivindicação ou deu um passo em favor da vinda dele; ao invés e não raras vezes, ata-se aos varais do carro de bois que vai na contramão, serve como gado submisso as forças que atrasam a marcha do bem comum, deprecia e crucifica quem luta por ele. É esta a ordem natural das coisas humanas. Trumpização em alta A Trumpização vive uma hora de euforia, cá dentro e por toda a América e Europa. Tem motivos para isso, porquanto está a colher frutos abundantes da atempada sementeira neoliberal em importantes setores, nomeadamente na cultura, na escola e universidade. Assim, contempla embebecida a extensão dos seus tentáculos em todos os ramos da atividade. Organiza festas nas igrejas e sinédrios da cidade, tocando e dançando a valsa da boçalidade. Os bailarinos são pequeninos; e, à semelhança do chefe, têm cara de duas letras, esgares e linguagem a condizer. O novo messias Já por aí andavam bastantes. Chegou mais um. Os canais de televisão transmitiram, em direto, a chegada do salvador; e repetiram ad nauseam a aterragem da criatura vinda do céu. Os jornais concederam honras de primeira página ao faustoso acontecimento, com a imagem do taumaturgo e partes da sua mensagem em letras gordas. O país parou e os assuntos do mundo e da Pólis perderam gravidade. Bendito o poder salvífico da bola! E não é a do universo Para os xenófobos Circulam por aí imagens, textos e vídeos prenhes de racismo. Invocam a defesa da nossa cultura e identidade, o que em si constitui boa causa; mas esta é usada para expelir o veneno da xenofobia. Uma das últimas imagens mostra um casal de jovens passeando um carrinho-de-mão com dois cachorros dentro; ao lado uma mulher, vestida de negro, de cabeça coberta e rosto meio-tapado, passeia outro carrinho com dois bebés. Vamos pôr os pontos nos is. Os jovens revelam pouca vontade para contrair matrimónio e contrariar a ínfima taxa de natalidade. Consigo compreendê-los; os que têm emprego auferem salários de miséria. Pois bem, os xenófobos, que conheço, votam em partidos avessos a remunerações decentes e a combater a pobreza, fazem tábua rasa do facto de os imigrantes executarem tarefas rejeitadas pelos portugueses, depreciadas e, por vezes, com laivos de esclavagismo. E também olvidam que os imigrantes pagam impostos e descontam para as caixas de pensões e previdência. Sem eles, estaríamos na lama.


Acresce que os imigrantes não são fonte de insegurança e criminalidade. Quantos crimes de sangue lhes foram até hoje imputados? Os de corrupção e pilhagem da nação são praticados adrede por figurões merecedores do apreço dos xenófobos. Por que querem estes, afinal, expulsar os imigrantes? Quererão esterilizá-los ou, no mínimo, limitar o número dos seus filhos? Exalam podridão! Para a Seleção de Andebol Os humanos praticam a única coisa que não é consentida aos Deuses: arriscar-se ao azar, ao fracasso, ao insucesso, à dúvida, à tensão, à desilusão e à derrota. Os Deuses somente sabem e podem ganhar; não conhecem o suor, a dificuldade e contrariedade. Nós nascemos predestinados a assumir o risco de perder, a cumprir o destino de ganhar algumas vezes, de falhar muitas outras e de ter que aprender a suportar a derrota, porém sem perder a face, a determinação e o gosto de insistir, treinar e competir, de intentar e ousar, de melhorar e progredir. Chama-se a isto viver e vencer, crescer e florir. Saúdo os dirigentes e agradeço aos atletas e técnicos pela alegria de mais uma bela prestação. Experiência A idade ensina. Porém não automaticamente, nem a toda a gente. Somente ensina a quem está aberto às circunstâncias, ao questionamento dos seus atos e manifesta prontidão para os modificar. É assim que surge a experiência; de outro jeito, em vez dela, consolida-se a repetição da ingenuidade, da irreflexão e tontice. Ou seja, os anos não trazem sempre sabedoria; por vezes, muitas vezes, acumulam a estupidez. Isto vale em todos os ofícios. Teoria e prática Teoria e prática são dois modos da atividade ou práxis humana, cada uma com dignidade e autonomia própria. Não são subalternas uma da outra. Aristóteles e Fernando Pessoa disseram que não há nada mais prático do que uma boa teoria, logicamente fundamentada e formulada. A etimologia grega da palavra ‘teoria’ é elucidativa: theion (divino ou superior) + orao (ver). Logo, o teórico está investido na função de conceber e propor, para si e os outros, ‘coisas’ superiores. Se não for assim, é um mau executante do ofício ou prática de teorizar. Precisamos de boas teorias para sair da visão e compreensão rasteiras dos fenómenos, da realidade e ação. Sem elas, enredamo-nos num acionismo similar ao rabo cortado da lagartixa, que no agir se esvai. Também necessitamos de boas práticas, para alcançar os fins que lhes estão imanentes, e para desafiar e incitar a teoria a transcender-se. Não se estabeleçam, pois, antagonismos entre ambas, mas, antes, complementaridades. Uma é portadora de acréscimo imaginativo e a outra de atos, desafios e tentativas, para fazermos, o melhor possível, o caminho que nos cumpre andar. A primeira aponta metas, a segunda cria e dá os passos para lá chegar. Uma pratica a arte de idealizar, a outra a de transformar e melhorar. Não existem, portanto, para se hostilizar, mas para se namorar. Enfim, a teoria imagina a fonte; a prática tira a água com que nos vamos dessedentar.



COLUNA DO PRIMO

Por Prof. Ozinil Martins de Souza

Escola Superior de Cerveja e Malte e Faculdade Épica Brusque, Santa Catarina, Brasil Profissional de experiências diferentes e com vivência profunda nas áreas de Gestão de Pessoas e Educação. Movido a desafios e resultados tenho trabalhado em empresas que me ofereceram as condições para que a motivação me levasse a superar limites. Durante período de 7 anos trabalhei como consultor de empresas onde adquiri vivência em ramos diferentes de negócio, do comércio ao industrial. Em 2003 comecei a trabalhar como professor universitário vindo a exercer cargos de gestão como diretor de faculdade, próreitor de ensino presencial e reitor do Grupo Uniasselvi. Atualmente o desafio está no cargo que ocupo como Secretário de Educação de Indaial. Também executei trabalho em Cuba, onde atuei na implantação da área de Gestão de Pessoas na fábrica Brascuba Cigarrillos, subsidiária da Souza Cruz.


Considero a invenção do calendário um ato genial. Já imaginaram a não existência do calendário? A monotonia trazida pela incapacidade de recriar-se seria insuportável. Encare a mudança de ano como uma oportunidade de recriar-se. Isso só vale partindo de cada um. Promessas são como bolhas de sabão. Desfazem-se rapidamente. Então vamos lá: Descubra-se! Identifique suas potencialidades, as coisas em que você é bom; Estabeleça um ou dois grandes objetivos e internalize-os; Descubra áreas de oportunidades na Economia Nova, Economia Compartilhada, Economia Criativa. Esqueça a Velha Economia e, por último Acredite em você! Ninguém fará por você o que só você pode fazer. Acreditar em você e nas suas capacidades desenvolvidas o levarão ao sucesso e, importante, isso não significa ficar rico, mas ser feliz. Piegas? Talvez, mas pense nisso. Feliz 2017!!!

A cidadania se revela nos pequenos atos! Em um conceito mais amplo, cidadania quer dizer a qualidade de ser cidadão, e consequentemente sujeito a direitos e deveres Sim, o cidadão tem direitos assegurados pela constituição e pelas leis comuns, mas também, tem deveres que devem ser praticados. Os direitos são claramente reivindicados, enquanto os deveres são, às vezes, colocados no modo esquecimento. Uma nação se constrói a partir de espaço físico (Brasil tem mais de 8 mil km² de área), língua e costumes comuns e, apesar do gigantismo do país e de suas diferenças regionais, existe um amálgama comum construído por Duque de Caxias (bom estudar um pouco de História do Brasil) e povo. Talvez no povo, sua miscigenação do qual tanto se orgulha, seja um grande problema. A miscigenação aqui praticada originou um povo indisciplinado e acomodado. Entendeu que “em se plantando tudo dá”, mas se esquece de semear e acredita que clamando aos céus deterá as enchentes, acalmará os ventos e proverá sua existência sem grandes esforços. Nelson Rodrigues, que reputo como grande conhecedor da alma do brasileiro, consagrou este modo de viver no seu famoso “Complexo de Vira-Lata.” Quando vemos imagens do Japão, arrasado por duas bombas atômicas (Hiroxima e Nagasaqui) e, observamos o povo esperando o sinal abrir para que possam atravessar a rua, na faixa de segurança e, isto acontece mesmo que não exista carro trafegando, por certo, a grande maioria diria que os japoneses são uns retardados. Em “Terra Brasilis” o sinal existe para ser furado e a faixa de segurança para ser evitada; vale para carros e pedestres! Esperar para que? Atravessar bailando entre os carros é sinônimo de coragem e intrepidez. Machismo, praticado por homens e mulheres. Moro em uma cidade que é vendida como excelência entre cidades brasileiras. O bairro de classe média, média alta, deveria ser um exemplo no tocante à coleta de lixo. O que vou escrever repete-se pela cidade toda. Há dias alternados para a coleta de lixo, orgânico e reciclado, bem como eco pontos de coleta de vidro e isopor. Como pratico caminhada todos os dias e gosto de observar o comportamento dos chamados humanos, observo a deposição do lixo na frente das casas e condomínios; não se respeitam os dias definidos para a coleta e não se separa o lixo corretamente, despejando-se de qualquer maneira o lixo e transferindo o problema para os garis e recicladores. E os passeios com os pets? Sempre agradável levar os bichinhos para passear, pois eles precisam exercitarse e gastar energia. Os animais, porém, não regulam suas atividades orgânicas e realizam suas necessidades durante o passeio independente do lugar. O tutor, que exerce a cidadania corretamente, prontamente, puxa seu coletor plástico e recolhe os dejetos do animalzinho deixando a calçada limpa, mas sempre tem um desavisado, que faz de conta que nada houve e, segue sua caminhada deixando sua educação pelo caminho. Sem esquecer-se de citar os motoristas que deixam público suas preferências musicais, a qualquer hora, e forçam outras pessoas a compactuar com seu mau gosto. Pior é o uso do telefone em locais públicos, como


ônibus, lojas comerciais, lanchonetes, onde os usuários conversam em voz alta sobre seus problemas pessoais, transformando seus eventuais ouvintes em psicólogos temporários. São apenas alguns exemplos de como somos mal-educados para viver em comunidades e quanto falta para nos tornarmos uma nação. Que o ano de 2024 seja repleto de desafios e realizações aos leitores da coluna. Feliz Ano Novo!

A pesquisa científica é o caminho a ser trilhado! O foco na Educação se faz cada vez mais necessário Osíris Silva é um nome a ser reverenciado no mundo empresarial brasileiro. Em sua vida profissional foi Coronel da Aeronáutica e na sua incursão pelo mundo empresarial foi cofundador e presidente da Embraer, presidente da Petrobrás, da Varig e, por duas vezes, exerceu cargo de ministro de Estado. A Embraer, sob sua gestão, ocupou um espaço de relevância no mercado mundial na área da aviação com a inovação e a tecnologia sustentando um crescimento que hoje a transforma em um dos maiores “players” na área da aviação comercial e militar. Em entrevista dada ao programa Roda Viva em 2018, em uma de suas respostas, explicou que sempre tentara entender o fato de o Brasil não ter nenhum prêmio Nobel em sua história e, emendou que em uma viagem à Suécia teve um encontro com três membros do comitê avaliador do prêmio e fez-lhes esta pergunta. A resposta foi surpreendente; de forma acanhada, um dos avaliadores respondeu que sempre que um brasileiro era indicado a maior resistência ao nome partia do próprio Brasil. A desconstrução do indicado era patrocinada por figuras brasileiras. Segundo Osíris o brasileiro adora destruir seus heróis! Se como se vê, no exemplo da Embraer, que a pesquisa e a inovação (causa e efeito) são fundamentais para criar empresas competitivas e transformar o país em exportador e não importador de tecnologia, por que a pesquisa aplicada não é marcante no país? Segundo o prof. Odir Dellagostin, presidente da Fundação do Amparo à Pesquisa do RS, o Brasil é o 13º país no ranking mundial de pesquisa científica (dado de 2021). Mas, qual o benefício trazido para o país em função do resultado prático destas pesquisas? A resposta mostra que quase nenhum benefício resulta deste trabalho. O fato é que nossas Universidades públicas não permitem, com raras exceções, a entrada de investimentos privados como apoio às pesquisas universitárias e, bom ressaltar, que a maioria das pesquisas são feitas na área de humanas, sem nenhuma conotação técnica e de aplicabilidade na indústria ou outras áreas. O desenvolvimento acelerado do agronegócio deve-se às pesquisas feitas pela Embrapa; o resultado é visível; este é outro bom exemplo. É óbvio que quando se exporta produtos com valor agregado, o país ganha em reservas financeiras. Em 2016 a revista Veja trouxe um comparativo em que, para se comprar um telefone celular da Apple, o Brasil teria que exportar 8 toneladas de minério de ferro. Este fato escancara porque somos um país comprador de tecnologia em quase todas as áreas de negócio. Durante meus 15 anos de vivência com a Educação superior sempre me chamou a atenção os títulos exóticos dados aos Trabalhos de Conclusão de Curso, as dissertações de Mestrado e as teses de Doutorado. Se pretendiam demonstrar erudição não sei, mas que indicavam claramente que não teriam nenhuma utilidade prática, é verdade. Se o país não pretende continuar dependendo do agronegócio é bom voltar seus olhos para a Educação; talvez começando a olhar com mais cuidado para a Educação básica. Seria um bom começo!



dAS BARRANCAS DO TOCANTINS By

ZECA


Zeca Tocantins - José Bonifácio Cezar Ribeiro 14/5/1958 - Xambioá, TO Cantor. Compositor, Poeta. Aos cinco anos de idade mudou-se com a família para a cidade de Imperatriz, no Maranhão, onde cursou o primário e o ginásio. Abandonou o antigo segundo grau no último ano. Autodidata, dedicou-se aos estudos das expressões culturais e literárias da região tocantina. Militou no jornalismo, mas abraçou como profissão a de cantor e compositor. Tem se destacado como o mais autêntico e original poeta de sua região. Participa ativamente dos movimentos culturais de Imperatriz e regiões anexas. Em 1977, ingressou no movimento teatral de Imperatriz, inicialmente como ator e depois como autor e diretor de peças. Montou vários espetáculos teatrais e escreveu as peças “Imperatriz por um triz”, “Mistérios do bico”, “Amigo tem que ser amigo” e “Colhedor de sonhos”. É membro fundador da Associação Artística de Imperatriz, do Grupo Teatral Darc e do Grêmio Recreativo Voluntários do Samba. Foi presidente do Sindicato dos Músicos da Região Tocantina. Participou de inúmeros festivais de música, sendo vencedor de alguns deles. Gravou o disco “Cio do homem”, com dez composições de sua autoria. Escreveu e publicou os livros de poesia “Calumbi”, “Moinho” e “Gotas de Sol”. Publicou ainda “Dez contos de Pulinário”, de contos. É membro fundador da Academia Imperatrizense de Letras.


MACACO NÃO OLHA PRO RABO Minha mãe era filósofa, ela não nasceu na Grécia, isso é invenção de literato, era sertaneja mesmo, dona de um repertório enorme de anexins, estes ditados populares. Filha de São Raimundo das Mangabeiras, sendo o meu avô cearense, destes que não gastou gasolina pra chegar no Maranhão. Veio a pé, também não gastou um par de chinelo, pois sua sandália era feita de couro de boi, garantia ida e volta sem quebrar o cabresto. Analfabeta escolar, sua leitura era feita no livro da vida, lia o orvalho que escorria das folhas, as cores da aurora, o crepúsculo, até o cacarejar das galinhas. Era farta, o que acabou me transformando num menino egoísta, pois éramos muito pobres e ela insistia em dá o pouco que a gente tinha. Riso fácil, acolhia até pessoas estranhas que não tinham onde dormir, se faltava rede, abria uma esteira no canto da sala para o sono do abrigado. De manhã inventava um café arrancando um pé de mandioca, catando um ovo no quintal, depois todo mundo ia cuidar da vida. Meu pai era pescador, passava de semanas no rio, a criação da molecada foi por conta dela, que lavava roupas para ajudar nas despesas. Nunca vi ela reclamar da vida, parecia contente com suas crias e os amigos que conquistara. Hoje diante dessa arenga política, onde o bom senso deixou de existir, pois todo mundo é dono de sua verdade. Onde a amizade e o respeito já não tem o valor de antigamente, fosse eu lhe inquirir sobre essa realidade, tenho certeza de sua resposta: - Meu filho, isso é o sujo falando do mal lavado!... Eu não vou reclamar da minha vida é semana, é o mês, o ano inteiro me criei sem saber o que é dinheiro não tem mel, nem remanso, é correnteza. Nunca soube na vida o que é moleza entra ano e sai ano, é tudo igual eu transformo tristeza em carnaval é na luta que mostro minha grandeza. Z T. VIAGEM AO CENTRO DE MIM Esse meu enorme desejo de conhecimento tornou-me um ser inquieto e muitas vezes inseguro, cada descoberta revela novos horizontes e o desafio da paisagem. Ir longe é identificar o valor de tudo que nos cerca, voar é abraçar a mulher amada e deixar nossos corações dá cambalhotas de alegria. De quantos sentidos somos constituídos? Quantos deles mantêm-se adormecidos por não serem acionados. Quis a adrenalina dos saltos quando tudo estava apenas a um toque. É que os olhos cegam de tanto ver acabam esquecendo de transmitir à memória o prazer das redescobertas e o amor descansa no hábito, engolido pelo cotidiano. O conhecimento torna simples as coisas, é tudo tão claro, que assusta a escuridão que habita em nós. É por isso que o guardiã da sabedoria mora na simplicidade, lugar onde as pessoas aprendem usufruir das amizades e receber as manhãs agradecidas. Z T. DEIXAI OS PÁSSAROS CANTAREM Quando criança ia na cozinha, catava um punhado de sal e outro de pimenta do reino e pisava bem pisadinha. Enrolava num papel, colocava no bolso e me dirigia a quinta de ouro, da familia Moreira. Com a baladeira pendurada no pescoço, pedras no mocó, me transformava num ser de alta periculosidade. Na quinta, as mangueiras frondosas exibiam seus frutos, escolhia o mais próximo de amadurecer, apontava a arma e acertava o talo da manga escolhida. Depois era sentar em uma das raízes e comer cada fatia triscando no sal, vida de rei, petisco dos mais saborosos. Apesar dessa minha habilidade, nunca me senti à vontade para matar passarinho. Tinha uma gaiola e quase sempre um guriatã, pássaro de minha estimação. Cantava muito, se vinha chuva cantava mais ainda. Um dia resolvi soltá-lo, fiquei feliz com seu vôo.


O meu quintal é muito frequentado pelos pássaros, motivo de minha alegria, adoro vê-los em festa. Mas são muito perseguidos e eu não sei como protegê-los, logo cedo dezenas de gaiolas são penduradas no arame da cerca. Então, fatalmente eles são atraídos aos alçapões pelo canto de seus companheiros, soube que essa covardia virou meio de vida para muitos daqui. Os sabiás tiveram três filhotes, um o gato matou, dois prendi na gaiola pra soltá-los quando puderem voar. Soltando eles serão presas fáceis, os pais vem corajosamente dá comida aos filhotes na gaiola, temo que os caçadores de passarinho os prendam. Não tenho muito tempo para vigiá-los, também não sei qual é a decisão correta, mas mantenho a de soltá-los e que eles ganhem os céus. Quem sabe um dia ninguém precise quebrar a cabeça com esse tipo de decisão, já exista uma lei que proíba o uso de gaiolas e pássaros presos. Z T. A BARCA DO LABORARTE Meus afazeres culturais me levaram por vários lugares, construíram histórias e fizeram amigos. Minha primeira visita a São Luís teve como ponto de apoio o Laborarte, laboratório de artes como o nome diz. De lá tem mestre Patinho, Jarrão, dona Teté, Rosa Reis, Nelson Brito, esse último nos tornamos grandes amigos, eu dirigia a associação artística de Imperatriz, ele a Fetema, Federação do Teatro do Maranhão. Naquele tempo existia um evento anual chamado Mostra de Teatro, que reunia todos os grupos de teatro do estado. Por vários anos o sítio do Pirapora serviu de base para estes encontros. Era uma semana de intensa atividades artísticas, incluindo, além das apresentações, debates e cursos específicos para os atores. Por aqui também andamos sediando esse evento, intercalando com a capital. Sempre que chegava a São Luís, me dirigia a casa de Nelson Brito, normalmente era cedo. Eu dava um grito na porta, ele acordava e ia passar o café, fritava o ovo, colocava dentro do pão. Enquanto isso ele me colocava a par das atividades de lá, eu fazia o mesmo. Nelson era um dos poucos artistas da capital que podia atravessar a ponte e se sentir a vontade em qualquer cidade do Maranhão. Sua vida pela cultura, seu desejo de fortalecer aqueles movimentos que começavam a dar seus primeiros passos. Sou muito grato pelo seu precioso apoio quando precisei. Certo dia chego a casa de Nelson e me deparo com a maior animação, a galera toda fantasiada, ele mandou logo prepararem a minha fantasia. Pedi desculpas, me senti fora de forma pra todo aquele pique. Ele não se deu por vencido e me escalou pra ir com o motorista no carro da frente que dava proteção a barca. Isso mesmo, aquela rapaziada criativa tinha criado uma barca em cima de um caminhão. Orquestra de sopro, percussão, cantores entoando marchinhas dos antigos carnavais, e lá se vai a barca como um dos grandes atrativos do carnaval de São Luís. Buzinas de carros, xingamentos, e a barca glamorosa em meio aquele trânsito difícil. Ancoramos em uma praça onde descemos para almoçar, tinha uma caixa de isopor sopor cheia de refeições. Nelson na sua alegria me falou que eu não sabia o que estava perdendo, tive que explicar minha situação, no carro que vinha estava com a bexiga pra estourar devido as cervejas que havia tomado. Ele pareceu decepcionado, e me disse: - Zequinha, caralho!... Tá pensando o quê?... Lá na barca todo mundo só faz se abaixar quando quer mijar. Ainda não tinha chegado aquele nível, e olha que boa parte daquela galera era marido e mulher. Z T. CARGAS D'ÁGUA Duas frondosas mangueiras ornamentam o espaço que chamamos de praça no terreiro da casa de minha vizinha, ali, instalamos a churrasqueira onde são assados os peixes retirados da rede malha quatro, armada há quinze passos dali. Apesar das dificuldades financeiras a aquisição da cachaça acontece sem muitas dificuldades. O rio permanece cheio, apenas o torrão belavistense garante algumas casas fora d'água, muitas estão submersas, afogadas nas águas que invadiram os baixões. Tento garantir a resistência, mas até o guerreiro Moara, que pertence a minha aldeia, pegou o caminho da rodoviária e foi parar em Palmas, aguardando o rio baixar. É a força da natureza se manifestando na cheia do rio, na força das chuvas, nada se pode fazer. Por isso nossa pracinha está sempre movimentada, as falas virando cargas d'água pra combinar com a enchente. Minha mãe, quando queria designar alguém que não tinha nada para fazer dizia: "fulano tá enfiando peido em cordão sem nó na ponta". Pronto, era isso que estávamos a fazer o dia inteiro.


Mas até quem não tem o que fazer precisa de folga, hoje é sábado e a pracinha está deserta, a galera está de folga. Amanhã começa tudo de novo, piabas assando na churrasqueira e a garrafa passando de mão em mão, e a fofoca revelando os escondidos da comunidade. Enquanto o rio não baixar veremos todos os dias estas cenas, até chegar o sábado que é nosso dia de folga. Z T. CANOA TOCADA A REMO Meu pai improvisava uma cama na proa da canoa e me deitava, fazia-lhe companhia naquelas pescarias solitárias. Deslizava lentamente observando a sombra da vegetação aquática, conhecia a espécie de peixe pelo bulir das águas. O rádio, companheiro inseparável lhe mantinha informado dos acontecimentos da cidade grande. Ninguém teria coragem de contestar o que o rádio dissera, era palavra de rei, de quebra tinha umas músicas saudosas que iam mexer com a alma da gente. Estas cenas se alteravam constantemente, pois ele tinha profissionais que lhe fazia companhia. Era assim, afastava-se de casa por semanas nas suas aventuras. Quando mais jovem adicionou a essa profissão a de garimpeiro, na sua melhor fase chegou a ter trinta e seis homens a seu serviço e dois escafandros, aparelho utilizado em mergulho para retirada do cascalho. O produto da pescaria servia para alimentar seus homens. Sempre que surgia um novo garimpo, aparecia também um cabaré nas proximidades. As farras se estendiam pela noite e as vezes transformadas em arruaças, nessas ocasiões ele era chamado para retirar seus homens, valentes e perigosos. A vida naquele local não tinha muito valor, muitos deles eram fugitivos e o garimpo seus esconderijos. Cametá, como era conhecido meu pai, por ser filho dessa cidade paraense, recolhia as armas e os homens e retornavam ao garimpo, atrás dele dezenas de bêbados cantando músicas cheias de saudades. Nunca bebeu, isso mesmo, meu pai nunca bebeu, talvez seja o paraense, pescador, garimpeiro, que nunca bebeu cachaça, nem pra remédio, hábito muito comum naquela época. Quando menino viu seu pai, meu avô caído no chão dos bares e prometeu nunca botar uma cachaça na boca, morreu com oitenta anos e a promessa garantida. Viveu com dezenas de mulheres, solteiro, ia no cabaré e contratava por uma ou duas semanas aquela que lhe interessava. Ganhava de presente a refeição pronta e a roupa lavada. Acertado o combinado se considerava o homem mais honesto do mundo com as mulheres. Tempo das vacas gordas ia a Belém comprar roupas de qualidade, brocar os dentes para obturar com ouro. Como a grande maioria dos garimpeiros ficaram as histórias, a canoa, o remo e as redes de pescar já não tinham tanta serventia, o rio Tocantins tão farto outrora, tornara seus frutos raros e a profissão de pescador descabida. Z T. MÚSICA no RÁDIO Qualquer pessoa que se der ao trabalho de ouvir rádio, vai descobrir imediatamente que as músicas são as mesmas em todas as emissoras, até a maneira do locutor se comunicar é parecida. Não é exatamente um cartel, mas é um pensamento que norteia os proprietários das emissoras: "rodar o que o povo gosta", e tudo vira a mesma coisa. O ouvinte diferenciado não encontra opção a não ser desligar o aparelho. A Universidade Federal tem uma emissora que a burocracia impede seu funcionamento, até agora não conseguiu coloca-la no ar, o que seria de grande valia pra comunidade e principalmente para o curso de Comunicação e Jornalismo. Enquanto essa importante instituição não consegue colocar no ar seu rádio, as Concessões são distribuídas aos políticos. Aliás, mas de noventa por cento da Comunicação está nas mãos dos políticos, talvez isso explica a péssima qualidade de serviço. Como produtor cultural do Imperatriz Festival - Palco das Canções do Brasil, recebi de todo país 64 álbuns musicais, todos de excelente qualidade, o que nos faz acreditar que o Brasil continua produzindo uma boa música. Quando essa música ganhar espaço nas emissoras o rádio certamente voltará a me fazer companhia. Z T. EU E NENÉM BRAGANÇA Nos encontramos no ginásio Bernardo Sayão, ali na Dorgival Pinheiro de Sousa, onde hoje funciona o Centro de Ensino Estado de Goiás. Ele, paraense da cidade de Bragança, mas sem nenhum vínculo com a


cidade de nascimento. Eu, goiano da cidade de Xambioá, também sem vínculo com a cidade de nascimento. Na verdade nossos pais se aventuraram pelos garimpos e se deslocavam constantemente. Eu fazia teatro e ele tocava violão, nossas vozes unidas produzia um timbre agradável e muito original. Fundamos o grupo Trempe de Barro com o propósito de criarmos a nossa própria música. Creio que essa decisão tenha causado prejuízo a meu parceiro que cantava como ninguém as músicas de Fagner, Alceu Valença, Ze Ramalho, artistas de grandes sucessos naquele tempo. A formação inicial de nosso grupo era eu, ele e Dudu, grande compositor, mas também caminhoneiro. Na sua ausência, tinha José de Iramar, Hudson Frota e Conrado saxofonista e diretor da fanfarra da Escola Amaral Raposo, orgulho de todos daquela instituição. Nosso primeiro festival foi em 80, onde arrebatamos os dois primeiros lugares com as músicas Logojofando e Peneira. Daí por diante viramos caçadores de festivais, chegamos participar de quatro no mesmo mês. Fazíamos shows em Imperatriz para uma plateia ansiosa por novidades e éramos muito queridos pela turma do projeto Rondon, estudantes universitários que vinham do sul do país. Acabou-se o grupo, mas continuamos na estrada, juntos ou separados, rodamos esse Brasil por mais de trinta anos com nossa música. Carentes de espaço para a música autoral, criamos o FMI - Festival de Música de Imperatriz, que já dura onze anos e atrai compositores de todas as regiões. Sabemos das polêmicas existentes em torno dos festivais, mas sem eles não teríamos percorrido esse continente chamado Brasil. Com ou sem a minha presença, com ou sem a minha música, o grande Neném Bragança trouxe a nossa cidade setenta e seis troféus. O apresentador teve a obrigação de destacar o nome de Imperatriz, onde fincamos nossas raízes e esperamos florescer os nossos sonhos. Z T.

POR UM PASSO O artista independente é ironicamente o mais necessitado, precisa de tudo. Ah se os amigos soubessem o desastre que é suas ausências, deixariam qualquer atividade para ocuparem uma cadeira na hora de seus shows. Ainda que não fosse pela beleza do espetáculo, que não fosse pelo gosto à música, fosse só para dizer; estou aqui. Garanto que muita coisa mudaria, os gestores teriam mais compromissos com estes, os meios de comunicação abririam espaço para suas produções. Mas não é assim, e talvez nunca seja. A verdade é que existe na vida um degrau onde tentamos firmar o pé e não conseguimos. A gente sabe que é fundamental, aquela plataforma muda toda a história, equipe de profissionais competentes convergem todos seus esforços a um só propósito, seu sucesso. A divulgação ganha corpo produzindo fãs clubes, os shows arrebatam multidões e seu nome ganha fama de pop star. Mas este degrau é muito escorregadio e poucos se firmam, e o artista independente pra sobreviver tem que enfrentar milhares de desafios, seu nome não corresponde um cachê que possa pagar uma banda, sem estes seu trabalho não atinge qualidade que mereça destaque. Vira o rei do improvisso, sempre trocando de músicos e enfrentando apresentações mal resolvidas. O tempo escasso de ensaio, o desinteresse dos músicos por se tratar apenas de uma apresentação. Tudo joga contra, mas ele mantém o entusiasmo. Os estúdios continuam subindo de preço e os discos já não se vende, é preciso ousar, continuar investindo na gravação, acreditar que um dia uma música aconteça e tudo pode mudar. Vira um jogo onde a sorte não parece muito interessada em participar. É preciso muita raça pra continuar insistindo, acreditar que uma hora o pé há de firmar, mas os escorregões vai deixando aquele local cada vez mais liso e as forças enfraquecendo. Muitos desistem, outros nem chegam perto, outros conseguem, são etapas sucessivas que nos desafiam. O artista independente tão exposto aos contratempos nem precisa de tanto, só queria ver seus amigos engrandecendo seus shows com suas presenças e o rádio tocando sua música, se não fosse muito. Z T.


AVENTURA EMPRESARIAL Tenho vários amigos com vocação empresarial, seus investimentos nem sempre bem sucedidos testemunham seus esforços. O mercado é exigente e costuma castigar iniciantes, é preciso muito jogo de cintura para manter-se vivo num espaço disputado por grandes grupos e por empresários experientes e sem escrúpulos. A história é sempre a mesma: a pessoa trabalha anos em uma determinada empresa, depois rescinde o contrato, pega o dinheiro e investe em um negócio que ele acredita. Tinha um amigo em Goiânia com essa vocação, investiu todo seu dinheiro no comércio de frutas e verduras. Alugou uma casa, julgando ser ponto estratégico e colocou seu produto à venda. Dava gosto ver o ambiente, tudo fresquinho. As pessoas transitavam pela porta mais não entravam e as verduras foram humildemente encolhendo. A maioria com uma semana era preciso jogar fora. As verduras foram as primeiras, depois as frutas. Sua vida de empresário não chegou aos trinta dias, ainda não completara um mês e ele já ocupava uma vaga na fila dos desempregados. Quando vi meu amigo Fernando, parceiro de birita e filho de minha grande amiga Zeneide, falando em montar um grande empreendimento, cujo nome pomposo chamava-se Recanto da Lagoa. Fiquei apreensivo, no passado vi o Recanto da Floresta naufragando, outro bar de sua propriedade. Usei de todos os meus conhecimentos capitais e tentei lhe aconselhar. Quando vi ele bebendo e jogando sinuca, no ambiente de trabalho, alertei: - cuidado o barzinho pode quebrar. Os sintomas de quebradeira eram visíveis: bebia enquanto atendia os fregueses, jogava sinuca apostado, nunca sabia quanto o freguês estava devendo. Tentei ainda ajudar mas a situação já estava de fato em estado terminal. O Recanto da Lagoa estava indo de ladeira abaixo e nada impediria aquele desastre, vivia seus momentos finais. Hoje Tancredo passou lá em casa com uma excelente notícia: Fernando resolveu entrar na crença e liberou as últimas cervejas pra tomarmos. Rejubilei, poderia está nascendo aí um novo pastor, um rapaz com aquele coração certamente seria um grande seguidor de Cristo. Tomamos as últimas cervejas e ainda falamos mal do dono do barzinho. Desculpe aí Fernando, foi mal. Z T. CARTA AO POETA THIAGO DE MELLO. Quando nasci você já era um grande poeta, minha sede de poesia me levou a tua fonte, onde pus as mãos em conchas e bebi tua poesia. Em pequenos goles, embora tua água fosse abundante. Tinha cheiro de flores silvestres, tinha gosto de fruto maduro, tinha a cor da paisagem amazônica. Fui com tanta sede que descobri que tua vida era um poema, tua luta era de todos nós seres humanos que almejam viver e crescer onde nascemos. Fazendo das árvores, dos pássaros, dos igarapés, seres de sua própria família. Thiago foi um grito dado na Amazônia que ecoou pelo mundo. Teus rastros deixaram marcas que nem a eternidade apagará. Num congresso do MST em Brasília tivemos a oportunidade de nos conhecer. O poeta Charles Trocate era o responsável por esse encontro, que acabou não acontecendo, tenho certeza que por minha causa. A gente pensa que não morre nunca. Hoje a notícia que esse grande ser humano partiu, levando consigo a falação das araras e o silêncio dos igarapés. Eu e o rio Tocantins esquecemos as cheias, as correntezas, pra te abraçar no silêncio desse remanso. Z T. DE CABEÇA PRA BAIXO Ao contrário do que muita gente pensa, a Educação pode e é controlada pelo poder, muitas vezes ela é o próprio braço direito do poder. O que não se pode controlar é a cultura, por isso são parcos os investimentos. Cultura é a capacidade de sair do eu e chegar até o nós, é o coletivo, ser cidade ao invés de ser a casa. De entender a importância de nossa missão aqui na terra, de celebrar nossa existência valorizando aqueles que estão do nosso lado, de abrir a porta para abraçar invés de construir muros.


Pluralizar a vida, aprender ser outros, olhar por vários ângulos, se encontrar em outras atividades, saber que somos partes dessa cocha de retalhos, feito de pedaços de outros, que também são feitos de nossos pedaços... A vida segue, a gente é que escolhe se quer fazer parte da procissão. Z T.

GERAÇÃO DE OURO?!... Tem um vídeo que circula nas redes sociais e que já me enviaram tantas vezes, dizendo que "fomos a geração de ouro" daquela década. Não consigo concordar por entender que somos o elo dessa nova geração, somos os pais, alguns até avós da nova geração que estamos a condenar. Podemos ter errado na criação deles, queríamos ser amigos ao invés de pais. Acontece que acabamos deixando esse espaço vazio e também não conseguimos ser o amigo que tanto desejamos. Havia em nós o desejo de ser diferentes, nossos filhos teriam a liberdade que não tivemos, comeria o que de melhor fosse servido a mesa, vestiria a melhor roupa. Ou seja, eles teriam tudo o que não tivemos, e mais, não precisavam trabalhar. As próprias leis impedem menores nos trabalhos, algo tão comum no nosso tempo. Eles teriam toda liberdade do mundo... Não queríamos ser pai, nem mãe, queríamos ser amigos, e deixarmos esse espaço tão importante vazio. Foi aí que a locomotiva começou a desprender-se do eixo, a rolar de ladeira abaixo, a falta de disciplina, o desrespeito, a falta de compreensão. Lembro ter flagrado minha mãe por trás da porta chorando depois de ter me dado umas lapadas. Essa disciplina era função das mães, poucas vezes nossos pais nos batiam, só quando viam que a mãe estava perdendo sua autoridade. Os meninos de hoje crescem sem conhecer regras, podem chegar qualquer hora, sair com quem quiser... bênção é uma coisa carreta, do tempo de nossos pais. Diálogo não existe, os poucos nos colocava a altura deles, nunca como pai e filho. De onde era possível a autoridade do pai guiá-los por um melhor caminho. Nossas raízes são ancestrais, entre eles havia pessoas dotadas de sabedoria, que construíram regras de civilidade, para que pudéssemos avançar no convívio social. enquanto sociedade. Elas não devem ser quebradas, são centenárias, milenares, e muito tem contribuído com a convivência humana. Nós queríamos ser diferente e quebramos muito destas regras. Foi assim que a geração de ouro perdeu a oportunidade de ter criado uma geração de pedras preciosas. Z T.



O QUE HÁ PARA LER





Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Belfort Duarte

Informações pessoais

Nome completo

João Evangelista Belfort Duarte

Data de nascimento 27 de novembro de 1883

Local de nascimento São Luís, Maranhão, Brasil

Nacionalidade

brasileiro

Data da morte

27 de novembro de 1918 (35 anos)

Local da morte

Campo Belo, Rio de Janeiro, Brasil

Informações profissionais

Posição

zagueiro

Clubes profissionais Anos

Clubes

1902–1907

Mackenzie College

1908–1915

America-RJ

Jogos e gol(o)s


João Evangelista Belfort Duarte, mais conhecido por, Belfort Duarte, (São Luís, 27 de novembro de 1883 — Campo Belo, 27 de novembro de 1918) foi um futebolista brasileiro e um dos fundadores da Associação Atlética Mackenzie College, primeiro clube de futebol formado por brasileiros, já que as grandes equipes na época eram de ingleses, como o São Paulo Athletic Club.[1][2]

America Football Club Mudando-se para o Rio de Janeiro em dezembro de 1907, por diversos motivos foi atuar no America Football Club, a convite de Gabriel de Carvalho, depois também presidente do clube, pelo qual acabou se tornando, além de jogador (jogou como médio, depois defensor), capitão (1911), técnico, diretor-geral do futebol e tesoureiro. Disciplinador e exigente, proibia atletas beberrões e fumantes, sendo que em 1908 trocou a camisa, então rubro-negra (de 1906 a 1908), pela atual vermelha. Foi Belfort quem abriu as portas do America aos atleta negros. Tinha tanto amor por seu time que passou a viajar pelo Brasil, a fim de divulgar o clube rubro e fundar novos "Americas", onde fosse possível. Belfort Duarte ajudou o America a ser campeão carioca pela primeira vez, em 1913, sendo o capitão do time até sua última partida, no dia 11 de julho de 1915, contra o Flamengo. Entusiasta do esporte, ainda fez muita coisa pelo futebol, tendo sido ele quem promoveu a primeira visita de um time estrangeiro ao país, e também quem traduziu as regras de futebol do inglês para o português.[3]

Prêmio Belfort Duarte Ver artigo principal: Prêmio Belfort Duarte Belfort Duarte pregava respeito total aos adversários, e até denunciou um pênalti cometido por ele mesmo e que o árbitro não havia visto. Tamanha era a sua lealdade e honradez, que inspirou a criação de um prêmio com o seu nome, que foi instituído pelo Código Brasileiro de Futebol em 1945 e oferecido a partir de 1946. O prêmio previa a entrega de uma medalha de prata para o jogador profissional, ou de ouro, para o amador, que passasse dez anos sem ser expulso, tendo jogado pelo menos 200 partidas nacionais ou internacionais. O atleta recebia também um diploma e passava ser reconhecido por seus relevantes serviços prestados ao futebol. Telê Santana, Didi e Vavá foram alguns dos que conquistaram a honraria. Ver artigo principal: Ganhadores do prêmio Belfort Duarte

Reedição Oficialmente o prêmio havia sido extinto em 1981. Em 2008, uma iniciativa da Rede Globo, por meio do programa Globo Esporte, reinseriu a premiação, com algumas modificações, sendo conquistado na edição daquele ano pelo meio-campista Ricardinho, do Vitória.[4] Agora os prêmios eram entregues apenas aos jogadores da Série A do Campeonato Brasileiro e seguia as seguintes regras: • • • •

A cada falta cometida o jogador perderia meio ponto; A cada cartão amarelo perde dois pontos; Cartão vermelho elimina o atleta da disputa. Os pontos são divididos pelo número de partidas jogadas.

O jogador, para concorrer ao prêmio, deveria ter disputado pelo menos metade das partidas até aquele momento.[5]

Morte Belfort Duarte foi assassinado em Campo Belo, distrito de Resende, no pequeno sítio onde se instalara, em 27 de novembro de 1918, dia em que completou 35 anos de idade.[3] O motivo teria sido uma disputa de terras.[1] Segundo o testemunho de sua filha, D. Mary, ele estava vestido com a camisa rubra do América.

Estádio Belfort Duarte


Belfort Duarte foi o primeiro nome do estádio do Coritiba Foot Ball Club, de 1932 a 1977, quando passou a se chamar Estádio Major Antônio Couto Pereira.

Ver também •

Charles Miller

Referências 1. ↑ Ir para:a b «Álbum do Futebol. Belfort Duarte». Consultado em 24 de julho de 2008. Arquivado do original em 14 de maio de 2009 2. ↑ «BELFORT DUARTE... Ex-zagueiro do América-RJ». Terceiro Tempo. Consultado em 28 de janeiro de 2021 3. ↑ Ir para:a b «Belfort Duarte, lorde com ou sem a bola». Globo Esporte. Consultado em 28 de janeiro de 2021 4. ↑ «Jogador do Vitória confirma boa conduta em campo e vence Prêmio Belfort Duarte». Globo Esporte. Consultado em 28 de janeiro de 2021 5. ↑ «Para estimular o jogo leal, 'Globo Esporte' recria o Prêmio Belfort Duarte». Globo Esporte. Consultado em 28 de janeiro de 2021

Ligações externas •

«Classificação do Belfort Duarte no Brasileirão 2008» [Esconder]

America Football Club •

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MESTRE BEBETO E OS 40 ANOS DO BLOCO AKOMABU

MANOEL DOS SANTOS NETO

Cedo demais para esquecer: Um jovem músico maranhense, chamado José Roberto Santos Pereira, o Mestre Bebeto, foi a grande estrela do Bloco Akomabu no Carnaval de 1987. Neste ano, aconteceu uma inovação: pela primeira vez, o ritual de bênção do bloco foi realizado em frente à tradicional Casa das Minas, na Rua de São Pantaleão. Foi a época em que, mais diretamente, os fluidos positivos dos voduns e orixás passaram a atingir todos os integrantes do bloco. O estandarte que o Akomabu levou às ruas foi concebido pelo brilhante artista plástico Guilherme Mendes Ferreira que hoje, aos 80 anos de idade, vive injustamente como um anônimo morador de São Luís. O estandarte foi concebido em louvor a Mãe Dudu, a então chefe da também tradicional Casa de Nagô, na Rua das Crioulas. Em novembro de 1986, Mãe Dudu completara 100 anos de idade. Foi logo nos primeiros dias de janeiro de 1987 que o ritmista José Roberto Santos Pereira, o Mestre Bebeto, assumiu o comando da bateria do Bloco Akomabu, em substituição a Iguarajara Costa Santos, o precoce Mestre Guará, que ainda era adolescente. Mestre Bebeto deu início aos ensaios do bloco com o auxílio de Robson Pinto e do próprio Iguarajara, que permanecera firme e forte na bateria. E foi assim que, indicado pela então diretoria do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN), Mestre Bebeto, muito jovem ainda (ele tinha apenas 24 anos de idade), assumiu um dos maiores desafios de sua vida. Com todo vigor de sua juventude e com um imenso entusiasmo, Mestre Bebeto assumiu a regência da bateria do Akomabu com 22 atabaques, 18 agogôs, 10 cabaças e três ganzás. Foi com esse arsenal de guerra que o bloco saiu às ruas naquele memorável Carnaval de 1987. Importante lembrar: Bebeto foi integrante da banda musical da antiga Escola Técnica Federal do Maranhão (ETFM), hoje Instituto Federal de Educação (Cefet), que funciona na Avenida Getúlio Vargas, no Monte Castelo. Mestre Bebeto, que fizera o Curso de Eletromecânica na Escola Técnica Federal, foi durante cinco anos mestre da bateria do bloco organizado Unidos do Retiro de Natal (Retirão) e, durante estes cinco anos, o bloco segurou nota dez, no item bateria, sagrando-se campeão do Carnaval maranhense, no ano de 1980, na categoria dos blocos organizados. Mestre Bebeto, que sabia tocar tambor de mina, mas gostava mesmo só de apreciar, também toca tremetreme, atabaque, agogô, cabaça, pandeiro, tarol e outros instrumentos.


Portanto, vale lembrar, sua carreira musical começou na antiga Escola Técnica Federal onde, durante três anos, fora aluno do saudoso maestro João Carlos Nazareth, pai da cantora Alcione que, na época, não era consagrada e nem tão famosa como nos dias de hoje. Com o Mestre João Carlos Nazareth, Bebeto adquiriu a técnica instrumental. E também recebeu, ao sair da ETFM, grande incentivo de ‘Seu’ Raimundo Nonato Rodrigues de Araújo, saudoso dirigente do Grupo Musical “Nonato e Seu Conjunto”. Deste grupo, Bebeto participou como percussionista, tocando nos réveillons e carnavais do Clube Recreativo Jaguarema, que funcionava no bairro do Anil. Também ex-participante do grupo ASA do Maranhão, no qual trabalhava com percussão, Bebeto fez parte ainda do Mocoroca, grupo de samba do Centro de Cultura Negra (CCN), fundado por Nilson Pastor, Maisena, Moisés, Benízio Santos Rodrigues e outros. Com o afastamento temporário de Iguarajara, o Guará, da bateria Bebeto desde dezembro de 1986 estava na direção da bateria fazendo os ensaios iniciais do bloco. Em janeiro de 1987, em função de problemas surgidos com Guará, Mestre Bebeto acabou ficando mesmo na regência da bateria do Akomabu. Pois bem: 2024 vai ser um ano repleto de celebrações. Acho que as novas gerações que estão chegando ao Movimento Negro precisam saber do talento de pessoas super valorosas que fazem parte da história destes 40 anos do Bloco Akomabu. E foi assim, com o coração cheio de saudades, que resolvi escrever esta singela crônica para render minhas homenagens a estes ilustres personagens do Movimento Negro do Maranhão: Viva Mestre Bebeto! Viva Mestre Iguarajara! Viva Mestre Sabará! Viva Mestre Eliezer! Viva Mundinha Araújo, nossa eterna matriarca do CCN e do Akomabu!



O QUE PODE UM CORPO? O CORPO É O CÁRCERE DA ALMA OU É POTÊNCIA EM ATO?) JOÃO BATISTA DO LAGO.

JB do Lago em arte de MHL/IA Texto do poeta e jornalista, imortal da APB, João Batista do Lago: "O que Pode um Corpo?" "Reputo o João Batista como um dos pensadores modernos mais expressivos do agora", Olinto Simões João Batista do Lago O que sei sobre o corpo? Do que o corpo é capaz? Como pode o corpo ajudar no processo de evolução do ser humano? No modo de e-xistir? O que pode um corpo masculino? E um corpo feminino, o que pode? Todas essas questões são literalmente imbricadas às nossas e-xistencialidades, seja no campo fisiológico, seja no campo social, seja no campo econômico, seja no campo político. Isto posto, pode-se afirmar que um Corpo é um Logos de subjetividade[2] imanente do corpo de si. O corpo pode se dá de duas formas: individual (por exemplo: o ser humano), ou coletivo (por exemplo: a sociedade ludovicense). No primeiro caso temos o corpo real, no segundo caso temos o corpo metafórico. Desde a Grécia Antiga a problemática do corpo sempre se apresentou como um dos mais significativos problemas filosóficos. Já em Heráclito de Éfeso (Século V a.C) encontramos este debate posto. Seguidamente vemos Platão e Aristóteles também se debruçarem sobre a problemática do corpo. Da mesma maneira os neoplatônicos, os sofistas, os místicos, os gnósticos, os teólogos, os cristãos, enfim... E não para por aí! Filósofos como Espinosa, Nietzsche, Kierkegaard, Foucault, Deleuze e Guattari, entre tantos outros, fizeram do corpo uma problemática para suas pesquisas, seus estudos, seus escritos. Ou seja, a problemática do corpo não sai da onda! Está em pleno ato de surfar... Vale destacar, ainda, que a Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, a Psicanálise e a Esquizoanálise, também, se referem à problemática do corpo. Ora, diante deste panorama (primário e superficial), vale resgatar e discutir – aqui e agora – essa problemática. Evidentemente que não se esgotará toda a questão, posto que, aos meus olhos, para além da complexidade inerente, a problemática do corpo é inesgotável. Quanto mais se avança nas pesquisas e estudos de diversas matizes, verificamos que sempre existe uma nova perspectiva de debate sobre a potência do corpo: seja do ponto de vista do corpo humano; seja do ponto de vista do corpo sóciocoletivo. O corpo é um complexo de forças que se relacionam infinitamente em sua singularidade ou em sua pluralidade. HISTORICIDADE


Partindo de uma perspectiva histórica da Grécia pode-se inferir que fora Platão (428/7 a.C – 348/7 a.C) o primeiro pensador a discutir, racionalmente, a problemática do Corpo, ao criar para este, um corpo transcendente: a Alma. Para ele (Platão), esta (Alma) seria superior ao corpo humano, enquanto este (corpo humano) nada mais seria que uma prisão para aquela (Alma). Racionalmente, neste estágio, Platão propõe e instaura filosoficamente essa tipologia de dualismo que vai repassar por toda a sua obra literária (na qual ele promove um verdaeiro desprezo pelo corpo físico). No caso desse dualismo corpo-alma, por exemplo, essa dicussão se dá, fundamentalmente, nos diálogos Fédon, Fedro, O Banquete, e, sobretudo, em sua maior obra: A República. Por seu turno, Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C) - que fora o mais destacado discípulo de Platão – discorda literalmente do ateniense. Mesmo considerando o corpo como sendo um instrumento da alma, Aristóteles, assevera que o dualismo proposto por Platão não existe. O estagirita concebe corpo-alma como natureza única, ou seja: o corpo é matéria em ato de potência e, portanto, não tem substancialidade ou forma; isto quer dizer que não existe um corpo sem uma alma, nem uma alma sem o seu corpo. Em outras palavras: para Aristóteles não existe vida após a morte, ou seja: a morte do corpo é a morte da alma. Potanto, findado o corpo finda-se a potência em ato. Isto está claro em sua obra Sobre a Alma. Inclino-me a imaginar que este pensamento aristotélico esteja mais próximo da minha realidade, consequentemente, da contemporaneidade. O QUE É O CORPO? Para falar sobre a problemática do corpo é quase impossível não iniciar por Platão (mesmo que se admita que já antes dele a problemática do corpo esava posta, contudo foi Platão que instituiu e metodizou a temática), para quem, o corpo era uma dimensão inferior e limitado. Segundo ele, o corpo, nada mais seria que o cárcere da alma. Esta tese, inclusive, vai abastecer o imaginário teológico – e teleológico - de todo o cristianismo. Platão (e consequentemente o seu Sócrates, em Fédon) era um desprezador do corpo. Penso que essa condição seja, talvez, um dos piores enunciados de todo o platonismo. "Aos que desprezam o corpo quero dizer-lhes a minha opinião. Não devem mudar de preceito, nem de doutrina, mas, simplesmente, desfazerem-se do corpo, o que lhes tornará mudos", diz Friedrich Nietzsche em Assim falava Zaratustra, no discurso Dos que desprezam o corpo (Ed. Vozes, 7ª ed. P. 51). Nesse mesmíssimo discurso, o filósofo alemão também infere: "Há mais razão em teu corpo que em tua melhor sabedoria. (...)". Vê-se, desde logo, que o Corpo em Platão é niilista; enquanto o Corpo em Nietzsche é vitalista (pura potência). E é exatamente isto que me interessa de fato: o Corpo como potência plena. Sou inclinado a pensar que nada existe além do corpo. Para eu não há uma Alma que vive, mas um Corpo que existe plenamente. Sob a perspectiva de Gilles Deleuze, que foi beber na fonte de Baruch Espinoza, pouquíssimo ou quase nada sabemos sobre o corpo: "(...) o fato é que ninguém determinou, até agora, o que pode o corpo, isto é, a experiência a ninguém ensinou, até agora, o que o corpo – exclusivamente pelas leis da natureza enquanto considerada apenas corporalmente, sem que seja determinado pela mente – pode e o que não pode fazer (...)" - (Espinoza - Ética III – Prop. 2). Deleuze, por sua vez, além de admitir o paralelismo psicofísico, coloca-o como um caso especial de outro paralelismo, o paralelismo epistemológico, o qual identifica uma ideia com um modo individualizado do pensamento e este, de sua parte, seria modo correspondente a um corpo. De qualquer forma, para Deleuze, o paralelismo entre corpo e mente caracteriza a dupla expressão simultânea própria do Deus spinozano: o paralelismo expressaria a imanência divina. Em sua obra "Nietzsche e a filosofia" (n-1 edições 2018), Gilles Deleuze nos propõe a seguinte questão: O que é o corpo? (grifo nosso) Nós não o definimos dizendo que é um campo de forças, um meio nutridor disputado por uma pluralidade de forças, Com efeito, não há "meio", não há campo de forças ou de batalha. Não há quatidade de realidade; toda realidade já é quantidade de força. Nada mais do que quantidade de força "em relação de tensão" umas com as outras. Toda força está em relação com outras, quer para obedecer, quer para comandar. O que define um corpo é a relação entre forças dominantes e forças dominadas.Toda relação de forças constitui um corpo químico, biológico, social, político. Duas forças


quaisquer, sendo desiguais, constituem um corpo desde que entrem em relação; por isso o corpo é sempre o fruto do acaso, no sentido nietzscheano, e aparece como a coisa mais "surpreendente", muito mais surpeendente, na verdade, do que a consciência e o espírito. Mas o acaso, relação da força com a força, é também a essência da força; Não se perguntará então como nasce um corpo vivo, uma vez que todo corpo é vivo como produto "arbitrário" das forças que o compõem. O corpo é fenômeno multiplo, sendo composto por uma pluralidade de forças irredutíveis, sua unidade é a de um fenômeno múltiplo, "unidade de dominação". Em um corpo, as forças superiores ou dominantes são ditas ativas, as forças inferiores ou dominadas são ditas reativas. Ativo e reativo são precisamente as qualidades originais que expressãm a relação da força com a força. As forças que entram em relação não têm uma quantidade sem que, ao mesmo tempo, cada uma tenha a qualidade que corresponde à sua diferença de quantidade como tal. Chamar-se-áde hierarquia a diferença das forças qualificadas conforme sua quantidade:forças ativas e reativas. Isto posto pode-se dizer que o texto acima, por si, é autoexplicativo. Contudo resta-me salientar que o que soçobra do pensamento deleuziano – baseado em Espinoza e Nietzsche - é a ideia de que o corpo é um complexo singular e plural ao mesmo tempo, ou seja, é a pluralidade do singular infinito ou a infinitude na pluralidade do corpo. Sou, de fato, inclinado a pensar que o ser humano pouco e quase nada conhece sobre o seu corpo singular (físico), e muito menos sobre o seu corpo plural (social, econômico, político, etc). Neste sentido considero que Deleuze – associado à Félix Guattari -, em sua principal obra: O AntiÉdipo, bem como em Mil Platôs, infere o debate da problemática do corpo sob os olhares da filosofia e da psicanálise. Deleuze e Guattari vão resgatar a originalidade de Antonin Artaud, que desenvolvera o conceito de corpo sem órgãos. Vale dizer, desde sempre, que não se trata de um conceito de fácil entendimento. Artaud propõe o fim do julgamento de Deus (corpo transcendente), isto é, um corpo ausente da minha geografia corporífica e materialística. Diz Antonin Artaud: "Assim como o mundo tem uma geografia, também o homem interior tem sua geografia e esta é uma coisa material". Vejo aqui uma conexão, ou mesmo um diálogo, com Nietzsche, para quem "o desejo de atribuir a si mesmo toda a responsabilidade de seus próprios atos, desobrigando a Deus, o mundo, os antepassados, o acaso, a sociedade, (...) é apenas o desejo de ser causa sui e de levantar-se a si mesmo pelos cabelos" (Além do Bem e do Mal – Primeira parte §21, p.30, Ed Vozes). Aos meus olhos, Espinoza, Nietzsche, Deleuze e Guattari, e Antonin Artaud, surfam na mesma onda: é necessário e fundamental de-organizar o corpo, ou seja, eliminar todos os órgãos do ser humano, para que, assim, possa re-nascer o novo ser humano que habita o corpo. Somente um corpo totalmente de-organizado, isto é: um corpo sem órgãos, será capaz de construir, de fato, sua liberdade plena, posto que, perderá seus automatismos, determinismos, etc. E essa liberdade em ato se dará porque a realidade internalizada em uma mente cheia de maquinarias transformadoras possibilitará que este novo ser humano – este corpo sem órgãos - torne-se o verdadeiro corpo de si em ato... Em potência pura... Em vontade de potência. De certa maneira eu os coloco (Espinoza, Nietzsche, Deleuze, Guattari e Artaud) no mesmo altar dessa igreja revolucionária que pretende explodir o princípio, a moral, os fundamentos de um mundo moderno capturado pelo capitalismo desestruturante de todos os corpos.


O Jornal (MA) - 1916 a 1923 - DocReader Web (bn.br)


A BRINCADEIRA DE PAPAGAIOS EM SÃO LUÍS (1986) Hoje em dia, infelizmente, já bastante descaracterizada em nossa capital, essa brincadeira teve seu auge em décadas passadas. Tempos em que o ato de empinar papagaios era muito mais do que uma diversão; as famílias se envolviam na atividade, havia o lúdico, o estímulo aos jovens de fabricar artesanalmente suas próprias pipas, papagaios, curicas, bodões, suras, casquetas, rabadas de algodão, cerol, etc. "Na mão", "auvai", "no freio", "bimbarra", "matou e cortou", "só uma bisca", "papista", "escorar na corda", "sacalão", "distorcer", "pai nosso", "guinar", "tá penso", "compasso", "espinha de peixe", "largou, largou" eram expressões máximas da nossa originalidade. Tempo bom, que não volta mais. Hoje é só pipinha mequetrefe feita em escala e linha chilena. Tubo virou carretel, rabada virou rabiola e lancear virou cruzar. Volta, papagaio maranhense! Créditos: "Papagaios de Guerra" (1986) de Jorge Martins Rodrigues (cineasta maranhense radicado em Brasília)


A SELEÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE AREIA JÁ CHEGOU A SÃO LUÍS PARA O MARANHÃO CUP. . Nesse período, de 12 a 14 de janeiro, a capital se tornará o cenário da primeira edição do Maranhão International Cup, que contará com a participação das seleções principais do Brasil, Emirados Árabes, Marrocos e Estados Unidos. . Os jogos acontecerão na Arena Domingos Leal, localizada na Lagoa da Jansen, e servirão como preparação para a Copa do Mundo de Beach Soccer da Fifa em 2024.



SÃO LUÍS - Com três jogos e três vitórias, a Seleção Brasileira encerrou sua preparação para Copa do Mundo de Beach Soccer Fifa 2024, que ocorre entre os dias 15 e 25 de fevereiro, em Dubai, com o título do Maranhão Cup International, torneio que foi realizado neste fim de semana na arena Domingo Leal, em São Luís. Na sua última partida, o Brasil bateu a seleção dos Emirados Árabes, por 2 a 1, na manhã deste domingo (14). Os gols da vitória brasileira foram marcados por Rodrigo (2) e Edson Hulk. Abbas fez o gols dos EAU. SÃO PAULO - O Sampaio Corrêa teve que adiar o sonho do bicampeonato do torneio masculino do Circuito Brasil de Beach Soccer. Em final realizada na tarde deste domingo (21), na Arena do Parque Praia do Sol, em São Paulo, o Tricolor travou um duelo emocionante diante do Flamengo, chegou a liderar o placar, mas sofreu a virada da equipe carioca nos minutos finais, perdeu por 5 a 4 e teve que se contentar com o vice-campeonato brasileiro. Mostrando personalidade, o Sampaio Corrêa teve um excelente início na final contra o Flamengo e abriu o placar com Gerlan, que aproveitou cobrança de escanteio e soltou o chute forte para o fundo do gol. O Rubro-Negro, entretanto, reagiu rápido e conseguiu a virada ainda no primeiro tempo, com gols de Lucão e Alejandro. Na segunda etapa, o Sampaio Corrêa manteve o seu estilo de jogo e virou o jogo, contando com gols de Edson Hulk, de pênalti, e de Datinha, que conseguiu uma roubada de bola, puxou o contragolpe e chutou com categoria. O Flamengo empatou novamente com Rodrigo, em tiro livre direto, mas Edson Hulk, com uma pancada, recolocou o Sampaio em vantagem.




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