MARANHA-Y 10 - Revista de História(s) do Maranhão

Page 1

MARANHAY “ÁGUAS REVOLTAS QUE CORREM CONTRA A CORRENTE”

REVISTA DE HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536

NÚMERO 10 – DEZEMBRO – 2023 MIGANVILLE – MARANHA-Y


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor. EXPEDIENTE MARANHA-Y REVISTA DE HISTÓRIAS DO MARANHÃO Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076 98 9 82067923 CHANCELA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IFMA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 16 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019), hoje MARANHAY – Revista Lazeirenta, já voltando ao antigo título de “Revista do Léo”; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


UM PAPO

O Maranhão tem História(s)... a oficial e as memórias pessoais... de famílias... estas nem sempre consideradas na sua construção... Na recente bibliografia, muitas controvérsias: afinal, a fundação é francesa ou portuguesa? Qual a influencia que a França nos deixou? Somos, realmente, a Atenas brasileira, ou apenas brasileira... até o status de ser um Estado, mesmo que colonial, perdemos com a dita – bem ou mal – adesão ao Império brasileiros... Para onde vais, Maranhão?

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Editor


SUMÁRIO EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO O CORREIO EVANGÉLICO: PERIÓDICO EVANGÉLICO PUBLICADO EM SÃO LUÍS, MARANHÃO SINÉSIO BARRETO AS CASAS-FORTE DO MARANHÃO COLONIAL VIRIATO BANDEIRA DUARTE VIRGÍNIA EFTIMIÉ: SÍTIO PYRANHENGA (1978) O FOJO DOS JESUÍTAS A FAMÍLIA LEVY COELHO BARÃO DO MEARIM PRAÇA BENEDITO LEITE, CENTRO, DÉCADA DE 1960 HOSPITAIS DE SÃO LUIS- SÃO LUIS MEMÓRIA. HOSPITAL AQUILES LISBOA. (BONFIM) A FRANÇA EQUINOCIAL O padre José Rufino Soares Valamira RAMSSÉS SILVA VESTÍGIOS DO JAZZ NO MARANHÃO TONNY ARAÚJO JOÃO LISBOA, 62 ANOS DE CRIAÇÃO, 98 DE HISTÓRIA EDMILSON SANCHES SÃO LUIS HISTÓRIA- BAIRROS. VINHAIS VELHO.CHICO VIANA PRAÇA DOM PEDRO II, CENTRO, DÉCADA DE 1950-1960 CELEBRANDO UM ÍCONE DA CULTURA BRASILEIRA O NATAL DE 1728 E A "RAINHA ESTHER DO MARANHÃO" Ramssés Silva


O CORREIO EVANGÉLICO: PERIÓDICO EVANGÉLICO PUBLICADO EM SÃO LUÍS, MARANHÃO. O REDATOR ERA O MISSIONÁRIO FREDERIC W. MINERS

SINÉSIO BARRETO

O Estado do Maranhão detém um lugar privilegiado na história da atividade da Sociedade Bíblica, pois foi no ano de 1932 que a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira publicou o Evangelho de S. Marcos e os Atos dos Apóstolos na linguagem dos índios Guajajaras, uma tribo que vive em vilas espalhadas


ao longo das margens dos rios Pindaré e Grajaú. A tradução foi feita pelos missionários da Unevangelized Fields Mission, sendo que um deles foi morto pelos índios de outra tribo no Estado vizinho do Pará.” (Texto e foto: Bible in the World, Março/Abril de 1952, p. 21-22)

Igreja Presbiteriana no Maranhão. Foto: In South America de Henry F. Williams, 1910, p. 18

Embora os anglicanos ingleses já estivesse presentes no Maranhão desde a abertura dos portos para estrangeiros, os presbiterianos foram os primeiros protestantes a se estabelecer no Estado a partir do proselitismo. Em 3 de julho de 1875 o missionário estadunidense John Smith1 foi para São Luís, como primeira presença presbiteriana do Estado. Todavia, a igreja só foi estabelecida 11 anos depois, devida a forte intolerância religiosa ao Protestantismo na região.[2][3]

John Rockwell Smith – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) John Rockwell Smith, (Lexington, 29 de dezembro de 1846 — Campinas, 9 de abril de 1918), foi um missionário estadunidense e pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, presidindo seu Supremo Concílio entre os anos 1915-1916 (na época Assembleia Geral).[1] 1


O Presbiterianismo ganhou força em Teresina com a chegada de George William Butler, que nasceu na Geórgia (Estados Unidos). George veio para o Brasil em 1883, era médico e missionário, enviado pela Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos (conhecida como Igreja Presbiteriana do Sul). O missionário veio acompanhado de sua esposa a Sra. Rena Humphrey Butler, inicialmente para Recife (Pernambuco) e em 1883 mudou-se para São Luís (Maranhão)2 contribuindo para a plantação de igrejas em diversas cidades de forma que o seu trabalho foi fundamental para o surgimento do Presbiterianismo no Nordeste do Brasil.[4][5][6][7][8]

Butler iniciou a Igreja Presbiteriana em São Luís, no Maranhão, em 1885, tendo organizado a Igreja Presbiteriana de São Luís no ano seguinte. Ficou no Maranhão até 1892.[4][5][6][7] Atuou, também, em Teresina, Piauí. Os primeiros membros da Primeira Igreja Presbiteriana de São Luís foram Sr. Henry Airlie (cônsul inglês)3, e do Sr. Jerônimo Tavares (cônsul português), Sr. Thomas MacDonald (mecânico escocês) e a D. Maria Barbara Belfort Duarte, esposa do Dr. Paulo Duarte (o primeiro governador do Estado do Maranhão) 4. A organização da igreja se deu em 6 de Junho de 1886. Outras cidades atingidas pelo presbiterianismo ainda no final do Século XIX pela pregação de Butler foram: Caxias, Alcântara, Itapecuru e Mearim.[3]

A Vida do Rev. John Rockwell Smith | Agreste Presbiteriano George William Butler (Roswell, 12 de julho de 1854 — Canhotinho, 27 de março de 1919), popularmente conhecido como o Médico Amado,[1][2][3] foi um pastor presbiteriano, missionário e médico, responsável pelo avanço do protestantismo presbiteriano no Nordeste. 2

3

A primeira pessoa convertida e batizada por Butler foi d. Maria Barbara Belfort Duarte. A senhora Maria foi uma crente de eminente piedade. Outro grupo de pessoas foram batizadas: Raymundo Honório e Felix Abreu, mais tarde se tornam presbíteros, Anastácio Silva, João Baptista de Jesus, D. Poliana Jansen Tavares e D. Jesuína Galvão. Estes foram batizados no dia e ano de fundação da igreja. 4


Em 1896, o Rev. W. M. Thompson mudou-se para Caxias, tendo continuado o trabalho de Butler. A igreja organizada em São Luís fazia parte do Presbitério de Pernambuco, que em era constituído por 11 igrejas em 1893. Nesse ano, todo o presbitério tinha 632 membros. Nesse período, a Igreja Presbiteriana do Brasil era formada por 4 presbitérios. O Rev. Belmiro de Araújo foi pastor da igreja de São Luís entre 1893 e 1911, sendo o primeiro pastor presbiteriano brasileiro no Estado. O trabalho de Belmiro foi de grande relevância para o crescimento do Presbiterianismo na capital, diversificando os meios de pregação. O sr. Thompson. C. R. Womeldorf contribuiu no período para a formação teológica dos pastores locais, além de plantar igrejas em São Bento e no Anil. A igreja de São Luís continuou crescendo, e em 1895 a igreja relatou o total de 85 membros, sendo a terceira maior do presbitério (que na época já tinha 729 membros).[3] Cisão Em 1903 parte dos membros da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), iniciaram um movimento contra presença de missionários estrangeiros no país, bem como a permissão dos membros de participarem da Maçonaria. Por não ser acatada como posição da denominação, o grupo se separou e formou a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB). No mesmo ano foi formada a Igreja Presbiteriana Independente de São Luis, com 53 membros. O primeiro pastor da igreja foi o Rev. Vicente Themudo Lessa, em 1916. O Rev. V. Themudo contribuiu ainda para a formação de igrejas federadas a IPIB em São Vicente Férrer, Vianna e Cajapió.[3] Século XX A partir de 1906, a Igreja Presbiteriana do Brasil trabalhou com a divulgação nos jornais da cidade. Nos anos seguinte as igreja continuou crescendo, expandindo-se por todo o Estado e tornando-se uma das maiores denominações protestante no Estado.[3]


AS CASAS-FORTE DO MARANHÃO COLONIAL Existiram, no Maranhão Colonial, ao menos duas "Casas-Forte"; uma em Anajatuba e outra no vale do Rio Iguará. Estas estruturas primitivas, baseadas em antigas fortificações romanas, eram tipo paliçadas de madeira. A função era a proteção das principais estradas e passagens dos rebanhos de gado vaccum rumo ao PI ou ao PA do ataque das tribos indígenas. Fonte: Garret: História da Escravidão na Amazônia Brasileira, de Gairo Garreto A Casa-forte do rio Iguará localizou-se na margem esquerda do rio Iguará, no atual estado brasileiro do Maranhão, nos limites com o estado do Piauí. No contexto da Revolta de Mandu Ladino (1712-1719), esta estrutura defensiva foi erguida em 1712 pelo Mestre-de-Campo Antônio da Cunha Souto Maior. Tinha como função servir como base de operações contra o bando de Mandu Ladino, um indígena Cariri educado por padres jesuítas, que por sete anos assolou a região da foz do rio Parnaíba onde, foragido, veio a falecer por afogamento (SOUZA, 1885:72). Casa-forte do Rio Iguará – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) Bibliografia •

BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p.; GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.; SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

As casas fortes, do ponto de vista da arquitetura militar, podem ser consideradas como exóticas, apesar de terem sido estruturas defensivas muito comuns no Brasil. Seu aspecto estranho começa com o fato de que a imensa maioria delas não ter sido feita pelo governo ou para uso militar: como seu nome indica eram casas, residências, que podiam ser usadas como abrigos contra ameaças, sendo fortificadas para isso. Também é um tipo de construção que pode ser considerado como arcaico para a Idade Moderna (1452-1789): na Europa, a origem dos castelos era, justamente, uma residência onde os nobres podiam se abrigar em caso de ataque. Bluteau (1728) define casa forte justamente dessa forma, como “se chamavam antigamente as torres e castelos”, especificando que a posse de uma dessas construções era uma das características da nobreza, pois os proprietários delas seriam os fidalgos de solar. Nesse sentido, devemos lembrar que os castelos da imaginação popular, com múltiplas muralhas, não eram as únicas estruturas que foram feitas para proteger famílias – na verdade, os castelos eram mais uma proteção para uma pequena comunidade. As casas fortes medievais, residências unifamiliares, foram também comuns, assim como foram uma característica cultural em muitos países, não só da Europa. Casa forte Dicionário Iphan.pdf CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Casa Forte. In: GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia (Orgs.). Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural. 2. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro, Brasília: IPHAN/DAF/Copedoc, 2016. (verbete). ISBN 978-85-7334-299-4



Maranhão Lista de fortificações do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) BALUARTES DE SÃO COSME E SÃO DAMIÃO O Forte de São Luís do Maranhão localizava-se na ponta de terra entre o rio Anil e o rio Bacanga, a noroeste da ilha de São Luís, dominando o principal ancoradouro da ilha, no litoral do estado do Maranhão, no Brasil.

CASA-FORTE DO RIO IGUARÁ A Casa-forte do rio Iguará localizou-se na margem esquerda do rio Iguará, no atual estado brasileiro do Maranhão, nos limites com o estado do Piauí. No contexto da Revolta de Mandu Ladino (1712-1719), esta estrutura defensiva foi erguida em 1712 pelo Mestre-de-Campo Antônio da Cunha Souto Maior. Tinha como função servir como base de operações contra o bando de Mandu Ladino, um indígena Cariri educado por padres jesuítas, que por sete anos assolou a região da foz do rio Parnaíba onde, foragido, veio a falecer por afogamento (SOUZA, 1885:72). Casa-forte do Rio Iguará – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p.; GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.; SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

FORTE DA VERA CRUZ DO ITAPECURU


O Forte da Vera Cruz do Itapecuru, também conhecido como Forte do Calvário, localizava-se na margem esquerda da foz do rio Itapecuru, antiga Calvário do Itapecuru, hoje município de Rosário, no litoral do estado brasileiro do Maranhão. História MARQUES (1970) refere uma disputa política como pano de fundo para a fundação deste forte, apoiado em BERREDO ("Anais Históricos"), que refere a chegada de Bento Maciel Parente à cidade de Belém do Pará, e "ardendo nos desejos de ocupar o governo da Capitania, intentou lograr as suas esperanças pelos meios ilícitos das alterações do sossego público; mas o Capitãomor Pedro Teixeira, que era tão valoroso como acautelado, desenganou de sorte as suas pretensões, que se recolheu logo ao Maranhão, onde fundou um forte no rio Itapicuru". Completa a informação referindo que o forte foi erguido em 1620, para defesa contra os ataques indígenas, que embaraçavam o cultivo da cana-de-açúcar (op. cit., p. 284). No contexto da segunda das Invasões holandesas do Brasil (1630-1654), este forte foi ocupado quando da conquista neerlandesa de São Luís (25 de novembro de 1641). As versões para o fato são diferentes: A historiografia brasileira reporta que, naquele momento, os conquistadores neerlandeses fintaram os cinco proprietários de engenhos na ribeira do Itapicuru em cinco mil arrobas de açúcar, e que, com o produto destas, reedificaram e alargaram este forte, então desguarnecido e em ruínas (MARQUES, 1970:284). A historiografia neerlandesa reporta que: "(...) Na terra firme existiam alguns [engenhos] em Itapecuru. Os moradores deste lugar, prometendo fidelidade à Companhia [das Índias Ocidentais] e passando-lhe à jurisdição, abriram o seu forte ao capitão Schadde." (BARLÉU, 1974:233) A mesma fonte refere que esta ocupação não foi pacífica: "Tinha-se informado [em Pernambuco] com certeza que o Maranhão sacudira o nosso jugo; que portugueses e brasileiros, mancomunados para tamanho crime, tinham trucidado com abominável ousadia, os soldados holandeses, que nada esperavam e, ocupando o forte do Calvário às margens do Itapecuru, sitiavam a cidade de São Luís, onde praticavam todas as violências da guerra; que os sitiados necessitavam de socorro imediato, porque, vencida a cidade, periclitaria a província. Os governadores de Pernambuco, (...) logo mandaram para lá, com trezentos soldados e duzentos índios conscritos no Ceará, o tenente-coronel Hinderson, para que, subjugados os cabeças da rebelião, restabelecesse ele a ordem e fizesse voltar o amor da obediência. Atacando o inimigo com essa força, expulsou-o da sua trincheira, mas quando investiu o reduto maior, foi coagido, após acesa refrega, a bater em retirada, indo acampar ali perto. Os inimigos, por terem morrido os primeiros dos seus, sairam da ilha durante a noite inteira, e assentaram os arraiais no continente, à beira do rio, no lugar onde as gargantas dos montes fechavam as entradas. O exército deles compunha-se de setecentos homens, entre portugueses e mestiços, e mais três mil índios." (BARLÉU, 1974:250-251) Quando da contra-ofensiva portuguesa de 1644 na capitania de Pernambuco, Antônio Muniz Barreiros, reforçado por tropas de Antônio Teixeira de Melo, atacou o Forte de São Luís do Maranhão (Fevereiro de 1644), mas foi rechaçado, vindo a perecer. Teixeira de Melo recuou e tomou o Forte do Calvário (1 de Outubro de 1644), que se encontrava guarnecido por um destacamento de setenta homens, artilhado com oito peças. Após a conquista, essa artilharia foi retirada para tomar parte na reconquista de São Luís (GARRIDO, 1940:38-39). Teixeira de Melo prosseguiu fazendo uma campanha de emboscadas, até que, fortalecido, marchou sobre São Luís, conquistando-a, e expulsando os neerlandeses. Durante o governo de Francisco de Sá de Menezes, o Forte da Vera Cruz, ou Forte do Calvário, foi reedificado em 1682, à custa de João de Souza Soleima, com a intenção de levantar uma Casa-forte para defesa dos ataques indígenas, sob a invocação do Santo Cristo da Serra de Semide (Forte do Santo Cristo), da qual não restam vestígios (MARQUES, 1970:284). O Ofício de 21 de Janeiro de 1777, do Governador Joaquim de Melo e Póvoas ao Sr. Martinho de Melo e Castro, informou que este forte estava artilhado com seis peças (MARQUES, 1970:284). O Relatório de 21 de Março de 1797 sobre as fortalezas de São Luís, pelo Ajudante de Ordens Luís Antônio Sarmento da Maia para o Governador da Capitania, D. Fernando Antônio de Noronha (1792-1798), informou: "Este forte, que defende a ribeira do Itapicuru deve ser reedificado e guarnecido de artilharia, por ser um lugar forte e único, onde os defensores desta cidade se podem fazer fortes no caso de ser esta tomada." (MARQUES, 1970:284). O mesmo autor cita o Roteiro da viagem que fez às fronteiras da Capitania do Maranhão e de Goiás no ano de 1815, do Capitão Francisco de Paula Ribeiro, que afirma que ainda então se divisavam "os fragmentos de um pequeno fortim, que há poucos anos acabou de se arruinar, tendo sido grande prudência o haver-se conservado, coisa que custava bem pouco, como chave dos sertões da Capitania por aquele lado, pois que no caso de futuras precisões o auxílio da referida Capitania não permitiria passar por ali contra a vontade de qualquer pequena guarnição, que ali tivesse o mais pequeno barco de pescadores." (op. cit., p. 284-285) Foi avaliada em 20:000$000 réis perante o Juízo Municipal do termo do Rosário (16 de Abril de 1836). No contexto da Balaiada (1838-1841), o 1º Tenente de Engenheiros João Vito Vieira da Silva, encarregado pela Presidência da Província da fortificação da Vila do Rosário, uma légua acima, no curso do rio, procedeu à reconstrução do Forte da Vera Cruz em 1840. Reconstruiu o portão principal, que não tinha coxia, ergueu uma dependência para Oficial inferior, o Corpo da Guarda, Casa do Comandante e Armazém da Pólvora, calçou a praça superior, ergueu duas paredes para conter o aterro desta praça, e duas plataformas para artilharia, tendo gasto apenas 2:728$980 réis, pelo que recebeu elogio do Marquês de Caxias, então Presidente e Comandante das Armas da Província (MARQUES, 1970:285). Estava relacionada entre os Próprios Nacionais, assim descrita nos livros da Tesouraria Geral: "Forte da Vera Cruz de pedra e cal, situado na margem esquerda do [rio] Itapicuru, distrito da vila do Rosário, tem 80 braças de frente, norte a sul, além dos vãos compreendidos em duas circunferências de 180 palmos cada uma, ocupadas


por dois baluartes, que guardam duas praças de armas, e 23 [braças] de fundo, leste a oeste, cuja muralha tem sete palmos de grossura e o parapeito três. Uma das praças de armas tem 80 palmos de comprimento sobre 69 de largo, entre dois baluartes semi-circulares de 188 palmos de circunferência cada um, e a outra 80 palmos de comprido sobre 58 de largo entre outros dois baluartes semicirculares de de 44 palmos de circunferência cada um, com dois armazéns de 33 palmos de comprido sobre 21 de largo cada um entre as ditas praças de armas, com uma casa de 78 palmos de comprido sobre 32 de largo por trás da segunda praça de armas, dividida em três quartos, dos quais um serve de Capela, outro de Prisão, e outro com mirante para aquartelamento com outra pequena praça de 22 palmos." (apud MARQUES, 1970:285) De acordo com BARRETTO (1958) as suas ruínas se encontravam, à época (1958), "afogadas na mata" (op. cit., p. 16). As ruínas do forte, de propriedade do Município de Rosário, encontram-se tombadas pelo Decreto Estadual nº 11.588 de 12 de Outubro de 1990, publicado em Diário Oficial em 24 do mesmo mês (inscrição nº 47 no Livro de Tombo Estadual, fl. 10, em 29 de Novembro de 1990). Projetava-se, à época, a sua restauração e requalificação como espaço museológico municipal, o que não ocorreu, permanecendo as ruínas em condições precárias, encobertas pela mata, acedidas por estrada carroçal. Em 2009 foram iniciados entendimentos entre a Prefeitura Municipal de Rosário e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) visando o tombamento das ruínas como patrimônio nacional. Para esse fim, foram iniciadas visitas preliminares de avaliação por técnicos daquele instituto. A municipalidade pretende a recuperação e requalificação do sítio do forte com finalidades turísticas. Bibliografia BARLÉU, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1974. 418 p. il. BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico Geográfico da Província do Maranhão (3ª ed.). Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 683 p. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

FORTE DE SANTA MARIA DE GUAXENDUBA O Forte de Santa Maria de Guaxenduba localizou-se a nordeste da ilha de São Luís, na baía de São José, à margem direita da foz do rio Munim, na vila velha do Icatu, no litoral do estado do Maranhão, no Brasil. História No contexto da Dinastia Filipina (1580-1640), com o aumento da presença francesa na costa do Maranhão, a resposta espanhola foi o envio de uma expedição composta por quatro navios de guerra e cento e cinquenta soldados reforçados por indígenas flecheiros, em Novembro de 1614, sob o comando do Capitão-mor Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618). As forças portuguesas acamparam em Guaxenduba, diante da posição francesa no Forte de São José de Itapari, onde ergueram uma defesa com traça do Engenheiro-mor do Estado do Brasil, Francisco de Frias da Mesquita, "que depois de haver acabado com grande louvor a Fortaleza da Lajem do Recife, se ofereceu para acompanhar Jerônimo de Albuquerque." (MARQUES, 1970:280) Os religiosos franciscanos que acompanhavam a expedição "lançaram sortes para a escolha do nome da fortaleza, e saiu o nascimento de Nossa Senhora, e assim se chamou Forte de Santa Maria." (op. cit., p. 280) Também conhecido como Forte da Natividade ou Forte de Guaxenduba, constituía-se de uma fortificação de campanha assim descrita: "Era um sexágono [hexágono], onde se assentavam três peças de artilharia em uma esplanada, que para isso fizeram com seus cestões, enquanto os baluartes e cortinas da obra se formavam de grossas vigas, assentadas sobre grades, e cruzadas de peralto de fortes travessas. Foi construída de modo que com os soldados se vigiava e descortinava tudo." (op. cit., p. 280-281) O forte português, ainda em construção, foi atacado pelas forças de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, à frente de sete patachos e quarenta e seis canoas de indígenas flecheiros, montando um efetivo de duzentos franceses e cerca de dois mil indigenas. Apesar da desvantagem numérica, as tropas de Jerônimo de Albuquerque e do Sargento-mor Diogo de Campos Moreno resistiram e repeliram com sucesso este efetivo, a 19 de Novembro de 1614 (SOUZA, 1885:71). Em carta desta data, dirigida a Jerônimo de Albuquerque, La Ravardière designa-o como Forte de São Simão (MARQUES, 1970:281). A 27 de Novembro foi assinado um armistício de um ano entre as partes, para que as duas Coroas - espanhola e francesa -, encontrassem uma saída diplomática. Para isso, o navio francês "Regent" retornou à Europa com emissários portugueses e franceses a bordo, embora não se conheçam os resultados desse esforço diplomático. Este forte encontra-se cartografado por João Teixeira Albernaz, o velho ("Capitania do Maranhão", c. 1615. Mapoteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro). Ao redor desta fortificação desenvolveu-se uma pequena povoação, o arraial de Santa Maria de Guaxenduba. Elevada a vila com o nome de Vila d'Águas Boas, posteriormente foi transferida para as margens do rio Munim, onde no final do século XIX se erguia a Vila (hoje cidade) do Icatu. A antiga povoação era, então, designada como Vila velha do Icatu (MARQUES, 1885:141-157). Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História


Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico Geográfico da Província do Maranhão (3ª ed.). Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 683 p. MARQUES, César Augusto. Guaxenduba. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 141-157. MARQUES, César Augusto. História da Missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circumvizinhanças pelo padre Cláudio d'Abbeville. Maranhão: Typ. do Frias. 1874. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

FORTE DE SANTO ANTÔNIO DA BARRA DE SÃO LUÍS, FORTE DO SARDINHA O Forte de Santo Antônio da Barra localiza-se na ponta de João Dias, atual Ponta d'Areia, a sudoeste do Forte de São Marcos, dominando a barra do canal de acesso ao porto de São Luís, no litoral do estado do Maranhão, no Brasil. Forte de Santo Antônio da Barra de São Luís – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) A estrutura primitiva desta fortificação é atribuída aos franceses, durante os combates de 1614 (SOUZA, 1885:70), sendo lícito presumir que, de campanha, tenha sido erguida em faxina e terra. A seu respeito CERQUEIRA E SILVA (1833), deixou registrado: "Na manhã seguinte [1 de Novembro de 1615] desembarcou Alexandre de Moura na ilha de S. Francisco, pouco mais d'um tiro de canhão distante da fortaleza de S. Luiz, levantando ali uma fortificação de pau-a-pique, a que se deu o nome do forte da [sic] Sardinha, guarnecendo-o Bento Maciel Parente com a equipagem do seu navio, e passou a sitiar por mar os Franceses, que desanimando contra a expectativa de Ravardière, fizeram com que este se rendesse, passando à ilha assinou logo um termo da entrega da colônia e evacuação da fortaleza, passando à Europa em três navios, que aprontou Alexandre de Moura, mais de quatrocentos franceses, ficando porém outros, que por estarem casados com Índias não quiseram acompanhá-los, e seguindo Ravardière para Pernambuco com Alexandre de Moura, a 9 de Janeiro de 1616." (op. cit., p. 184-185)

"Plano do Reducto de S. Antonio da Barra da Cidade do Maranhão..." (post. 1750) MARQUES (1970) ratifica esse entendimento ao referir que se tratava de estrutura de pau-a-pique erguida pelo Capitão-mor da capitania de Pernambuco, Alexandre de Moura, quando desembarcou em 1 de Novembro de 1615, e onde, no dia seguinte, os franceses teriam assinado a capitulação (op. cit., p. 282). O mesmo autor conclui ser o "Sardinha", nome pelo qual este forte ficou conhecido (Forte do Sardinha), um dirigente das suas obras, citando um trecho de uma carta escrita pela Câmara Municipal de São Luís ao Sargento-mor Antônio de Barros Pereira, onde se refere: "(...) Sobre os índios que Vmcê. aponta se faça toda a diligência por se conduzirem à ponta de João Dias [para o trabalho na construção do forte], porque conforme a informação do Sardinha, os que haviam trabalhavam na pedra e haviam ido com Vmcê. (...)" (carta de 12 de Fevereiro de 1689. apud: op. cit., p. 282). Por ela se percebe ainda que as obras estavam paradas carecendo de mão-de-obra, embora, aparentemente os problemas fossem mais sérios. Dias mais tarde, a Câmara informou ao Governador: "As obras da fortaleza da ponta de João Dias, com as novas ordens de V. Sa., as largou por mão o Sargento-mor Antônio de Barros Pereira, não sabemos se foi ordem de V. Sa. ou moto-próprio, contudo ficamos de acordo em ir mandando carregar para ela pedra para que esteja ao pé da obra, e seguiremos no mais que V. Sa. ordenar." (18 de Fevereiro de 1689. apud op. cit., p. 283). Por Carta Régia de 8 de Outubro de 1691, consta que o Governador do Maranhão dera princípio a esta fortaleza, com muitas dificuldades devido à falta de engenheiro, pedreiros, índios de serviço, materiais e cal do Reino (op. cit., p. 283). O seu risco foi do Capitão Pedro de Azevedo Carneiro ("Planta do forte, que desenhei, e se fica fazendo na Ponta de João Dias, barra da cidade do Maranhão", 1692. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa) (IRIA, 1966:46). A Carta Régia de 17 de Fevereiro de 1693 participou ao Governador a remessa, de Portugal, de quatro pedreiros de alvenaria e cantaria para a continuação das obras da fortaleza, vencendo cada um o jornal de 500 réis (MARQUES, 1970:283). No início do século XVIII, a propósito de consulta em 12 de Maio de 1715 sobre o Forte de Santo Antônio da Barra, a Coroa informou ao Governador e Capitão General Cristóvão da Costa Freire que, "como não era possível remediar a Fortaleza da barra de São Luís, situada na ponta de João Dias, conforme o exame feito pelo Capitão-mor da praça, Provedor da Fazenda e


Sargento-mor de Engenheiros Custódio Pereira, e que só fazendo-se de novo e de cantaria vinda do reino poderia durar assim mesmo com dificuldade por causa da grande correnteza que ali faziam as águas, fosse tirando da dita fortaleza todas as armas e munições para se não perderem." (Carta Régia de 30 de Julho de 1716. apud: MARQUES, 1970:281). Chegou-se a projetar uma nova fortaleza para a barra de São Luís, da qual existem duas plantas sob o mesmo título ("Planta da fortaleza que se há de fazer na barra de São Luís do Maranhão", 1718. AHU, Lisboa) (IRIA, 1966:46), que entretanto não saiu do papel. De acordo com o "Plano do Reducto de S. António da Barra da Cidade do Maranhão" (post. 1750. Biblioteca Nacional, Lisboa), ao centro, sobre o terrapleno, distribuíam-se as dependências de serviço em dois edifícios de alvenaria, de um pavimento. O Governador Gonçalo Pereira Lobato e Souza informou à Corte que "esta fortaleza se achava em grande parte abatida, porque sendo construída em terreno arenoso e alagadiço e sem firmeza, tendo por alicerces uns paus, que apodrecendo com o tempo lhe ocasionaram o abaterem-se-lhe os muros da parte do mar e barra, formou-se destas mesmas ruínas um recife." (27 de Fevereiro de 1755. apud: MARQUES, 1970:283). O Governador Joaquim de Melo e Póvoas informou à Corte "que intentou fazer esta fortaleza em 1762, e chegou a dar princípio desmontando as muitas ruínas que ali haviam". Não continuou a obra por ver que as cortinas por duas vezes vieram abaixo (MARQUES, 1970:283) (Ofício de 21 de Janeiro de 1777, do Governador Joaquim de Mello Póvoas ao Sr. Martinho de Mello e Castro, dando conta da castelaria?). O Relatório de 21 de março de 1797 sobre as fortalezas de São Luís, pelo Ajudante de Ordens Luís Antônio Sarmento da Maia para o Governador da Capitania, D. Fernando Antônio de Noronha (1792-1798), informa: "O reduto de Santo Antônio, fortificação passageira, mandada fazer por V. Exa., é o mais vantajoso posto por todas as razões, porque além de estar tão próximo à barra para a poder defender com muita vantagem, tem também a de não poderem os inimigos atacá-lo com grande frente por terra, e seria sem dúvida a máxima defesa desta cidade, se o dito reduto, em lugar de fortificação de campanha ou passageira, passasse a ser construído de pedra e cal, com o mesmo risco, que já teve, o qual era um paralelogramo romboidal, oferecendo um dos seus maiores lados para a entrada da barra e um ângulo obtuso para dentro do canal. O atual reduto tinha cinco canhões de calibre 18, dois de calibre 12, dois de calibre 9, tudo artilharia de ferro e em muito mau estado." (MARQUES, 1970:283). Em 14 de Julho de 1824, o Tenente de Artilharia Manuel Joaquim Gomes liderou uma revolta contra o governo do Presidente da Província, Miguel Inácio dos Santos Freire Bruce (1824-1825), formando uma "Junta Temporária", que se instalou na fortificação. No dia 17, por ordem da Presidência da Província os fogos cruzados do Forte de São Luís do Maranhão e do Forte de São Marcos, após causar o incêndio da Casa da Pólvora, sufocaram a rebelião, afugentando os revoltosos (MARQUES, 1970:234). Desarmado à época do Período Regencial (1831-1840) (GARRIDO, 1940:37), foi avaliado em 20:291$660 réis (22 de Janeiro de 1840). Na década de 1870, o forte, em alvenaria de pedra e cal, apresentava planta no formato circular com 23 braças de diâmetro, muralha com 29 palmos de altura, acima do alicerce, 14 de grossura e 9 de parapeito, sendo o terrapleno calçado de pedra e a plataforma de lajes de Portugal. Sobre o terrapleno erguiam-se duas edificações, Casa do Comandante / Quartel da Tropa, e Casa da Palamenta / Paiol da Pólvora. Estava artilhada com sete peças de ferro de calibre 32, treze de 12 e uma de 9 de calibre de bala, todas montadas (MARQUES, 1970:284). O Aviso Ministerial de 24 de Agosto de 1871 dispensou o seu comando, ordenando que fosse vigiado pelo funcionário encarregado do Laboratório Pirotécnico do Exército que ali funcionava (SOUZA, 1885:70). Atualmente O Forte de Santo Antônio da Barra atualmente encontra-se tombado pelo IPHAN desde 6 de agosto de 1975, tendo sido restaurado pelo instituto entre 1984 e 1991.[1] Durante esse processo, o IPHAN chegou a assinar um convênio com a Secretaria Estadual de Cultura para implantar no local o Museu Militar de São Luís, porém, o forte foi cedido para o Grupamento de Bombeiros Marítimo (GBMar), que ao longo dos anos fez várias intervenções que acabaram descaracterizando a estrutura, sem a autorização do instituto. Em 2012, a Justiça Federal ordenou que o Governo do Estado do Maranhão apresentasse um projeto para a recuperação da estrutura após acatar à uma ação civil pública.[2] Somente anos depois, em 30 de março de 2016, a Secretaria Estadual de Infraestrutura anunciou um projeto de restauração da fortaleza e também de urbanização do entorno do local. O projeto, orçado em R$ 2,7 milhões, prevê a também a transformação do local num museu sobre as embarcações tradicionais do Maranhão, bem como a criação de áreas de exposição, livraria, cafeteria e auditório, e um memorial sobre a história do local.[3] A obra foi entregue em 8 de setembro de 2017, como parte das comemorações dos 405 anos de São Luís, contando com o Museu de Embarcações tradicionais maranhenses, um memorial sobre a história do Forte e o Museu da Imagem e Som, sendo aberto para exposições. Em suas proximidades, também se localizam o Memorial Bandeira Tribuzi e o Espigão Costeiro da Ponta d'Areia.[4]


• Fortificações no Maranhão Referências 1. ↑ «Forte Santo Antônio vai ter estrutura restaurada». Imirante.com. 30 de outubro de 2013. Consultado em 6 de junho de 2016 2. ↑ Matos, Daniel (21 de novembro de 2012). «Justiça Federal manda Estado restaurar Fortaleza de Santo Antônio, na Ponta d'Areia». O Estado do Maranhão. Consultado em 6 de junho de 2012 3. ↑ «Forte Santo Antônio será restaurado e vai abrigar museu sobre embarcações». Governo do Estado do Maranhão. 30 de março de 2016. Consultado em 6 de junho de 2016 4. ↑ «São Luís 405 anos: Com shows, Governo entrega revitalização do Forte de Santo Antonio». Governo do Estado do Maranhão. 8 de setembro de 2017. Consultado em 6 de outubro de 2017 5. ↑ Ir para:a b c d «Forte Santo Antônio». Consultado em 3 de janeiro de 2019 6. ↑ «Revista Rangedor» (PDF) Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. CERQUEIRA E SILVA, Ignácio Accioli de. Corografia Paraense ou Descripção Física, Histórica e Política da Província do Gram-Pará. Bahia: Typografia do Diário, 1833. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. IRIA, Alberto. IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros - Inventário geral da Cartografia Brasileira existente no Arquivo Histórico Ultramarino (Elementos para a publicação da Brasilae Monumenta Cartographica). Separata da Studia. Lisboa: nº 17, abr/1966. 116 p. MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico Geográfico da Província do Maranhão (3ª ed.). Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 683 p. MARQUES, César Augusto. História da Missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circumvizinhanças pelo padre Cláudio d'Abbeville. Maranhão: Typ. do Frias. 1874. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

FORTE DE SÃO FRANCISCO DO MARANHÃO O Forte de São Francisco localizou-se na ponta de São Francisco, dominando o ancoradouro de São Luís, no litoral do estado do Maranhão, no Brasil. História Quando da chegada da expedição de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, em Julho de 1612 ao estabelecimento da França Equinocial, na ilha de São Luís, na costa do Maranhão, frades capuchinhos iniciaram a construção de um convento ("Saint Françoise"), próximo ao "Fort Saint Luis", onde hoje se ergue o Palácio dos Leões no centro histórico de São Luís. Essa igreja (ou convento) de São Francisco encontra-se cartografada por João Teixeira Albernaz, o velho ("Capitania do Maranhão", c. 1615. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro). A partir de Outubro de 1615 as forças portuguesas entrincheiraram-se no Convento de São Francisco, transformado em quartel (Quartel de São Francisco), e cercaram o "Fort Saint Luis", que capitulou a 2 de Novembro de 1615, encerrando-se o domínio francês no Maranhão. A estrutura de campanha no Convento de São Francisco foi reformada a partir de 1616 pelo Engenheiromor do Brasil, Francisco de Frias da Mesquita, que acompanhava as forças portuguesas na ocasião. No século XVII, a propósito de consulta em 12 de maio de 1715 sobre o Forte de Santo Antônio da Barra de São Luís, a Coroa informou ao Governador e Capitão General Cristóvão da Costa Freire que, "como não era possível remediar a Fortaleza da barra


de São Luís, situada na ponta de João Dias, conforme o exame feito pelo Capitão-mor da praça, Provedor da Fazenda e Sargentomor de Engenheiros Custódio Pereira, e que só fazendo-se de novo e de cantaria vinda do reino poderia durar assim mesmo com dificuldade por causa da grande correnteza que ali faziam as águas, fosse tirando da dita fortaleza todas as armas e munições para se não perderem." (Carta Régia de 30 de Julho de 1716. apud: MARQUES, 1970:281) À vista dessa impossibilidade, reconhecida também pelo Cosmógrafo-mor Manuel Pimenta, a quem se mandou ouvir, determinou Sua Majestade, por Resolução de 22 de Julho de 1716, depois do Parecer do Conselho Ultramarino, que fosse edificada uma fortaleza na ponta de São Francisco, para o que remeteu 2.000 cruzados, por conta dos 8.000 cruzados em que foi orçada a despesa, sendo esta quantia inicial empregada em gêneros que, no Estado do Maranhão, poderiam ter mais valor. Dessa forma, o Capitão General Bernardo Pereira de Berredo, na ponta de São Francisco, em companhia do Bispo D. José Delgarte, do Capitão-mor da cidade de São Luís, Francisco Manoel Nóbrega e Vasconcelos, do Provedor da Fazenda Real, Jacinto de Moraes Rego, e do Tenente General de Artilharia e Sargento-mor de Engenheiros, Custódio Pereira, lançou a pedra fundamental da nova fortaleza, onde se inscreveu: "Por ordem do sereníssimo D. João V, rei de Portugal, mandou fazer esta fortaleza Bernardo Pereira de Berredo, do seu Conselho, Governador e Capitão General neste Estado do Maranhão, e lhe lançou esta primeira pedra aos 28 de agosto de 1720." (MARQUES, 1970:282) O Governador Joaquim de Melo e Póvoas informou ao Marquês de Pombal (1750-1777) que nesta fortaleza existiam vinte e uma peças montadas, porém incapazes de servir, muitas por terra e todas necessitando de reparos; que ia mandar buscar madeira e carpinteiros "para logo se montarem todas as peças desta fortaleza por ser a mesma importante para a defesa da cidade" e que cuidava de fazer-lhe uma sapata porque o tempo a ia deitando abaixo, e um parapeito de terra socada, pondo-a assim em estado de se defender de toda a invasão ou ataque (Ofício de 15 de Abril de 1762. apud: MARQUES, 1970:282). Mais tarde, o mesmo governador, pelo Ofício de 21 de Janeiro de 1777 ao Sr. Martinho de Melo e Castro, deu conta de que este forte estava artilhado com duas peças de 20, duas de 18, doze de 12, quatro de 10, e uma de calibre 6 de bala, algumas dessas arruinadas. O "Relatório sobre as fortalezas de São Luís", pelo Ajudante de Ordens Luís Antônio Sarmento da Maia para o Governador da Capitania, D. Fernando Antônio de Noronha (1792-1798), registra que a praça não tinha artilharia alguma capaz de fazer fogo (21 de Março de 1797) (MARQUES, 1970:282). SOUZA (1885) complementa que, à época (1885), ainda eram visíveis os alicerces e parte das muralhas deste forte (op. cit., p. 71). Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico Geográfico da Província do Maranhão (3ª ed.). Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 683 p. MARQUES, César Augusto. História da Missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circumvizinhanças pelo padre Cláudio d'Abbeville. Maranhão: Typ. do Frias. 1874. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

FORTE DE SÃO JOSÉ DE ITAPARI, FORTE DE SÃO JOSÉ DO RIBAMAR O Forte de São José de Itapari localizou-se em posição dominante numa colina em Itapari (ou Itaparé, "pano de pedra" na língua tupi), na praia de Panaquatira na baía de São José, a leste na ilha de São Luís, atual região de São José de Ribamar, no litoral do estado do Maranhão, no Brasil. Sua construção foi criada para fazer frente aos portugueses que se agrupavam no Forte de Santa Maria de Guaxenduba para resgatar Ilha de São Luís dos invasores franceses. O Forte de Itapari constituiu-se em uma estrutura de campanha, erguida a partir de 1613 sob a invocação de São José, por Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, conforme o próprio descreve no "Sumário" do que fez nestas terras do Brasil, escrito no "Fort Saint Louis", datado de 29 de Dezembro de 1614 (MARQUES, 1970:285). Teria sido artilhado com duas peças (BARRETTO, 1958:77). Em fins de 1614, repelido o assalto francês ao Forte de Santa Maria de Guaxenduba, as forças de Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618) contra-atacaram, cercando o Forte de Itapary (GARRIDO, 1940:38). Diogo de Campos Moreno denominao de "Itampari", localizando-o a leste-oeste do Forte de Santa Maria, e afirma que os portugueses entraram neste forte em 3 de Dezembro de 1614 (MARQUES, 1970:285). Outros autores entendem que La Ravardière negociou com Jerônimo de Albuquerque Maranhão evacuar São Luís num prazo de cinco meses, entregando como penhor de sua fé o Forte de Itapary (31 de Julho de 1615). Ao retornar para a capitania de Pernambuco, o Capitão-mor Alexandre de Moura deixou uma guarnição de cinquenta homens sob o comando do Capitão Antônio de Albuquerque nesta praça (MARQUES, 1970:285). Outros autores referem que Bento Maciel Parente comandou esta fortificação, tendo-lhe procedido reparos sob a orientação do Engenheiro-mor do Brasil Francisco de Frias da Mesquita. Este local encontra-se cartografado por João Teixeira Albernaz, o velho ("Capitania do Maranhão", c. 1615. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro), vizinho a um "porto dos franceses com dois fortes" e um "Forte de Caur". MARQUES (1970) acredita que na localidade de São José do Ribamar tenha existido outrora uma fortificação, possívelmente o Forte de São José de Itapari (op. cit., p. 285), com o que é-se inclinado a concordar, à vista do mapa citado de Albernaz, e da ausência de informações posteriores sobre a estrutura, certamente já desaparecida à época das Invasões holandesas do Brasil, na primeira metade do século XVII. O mesmo autor refere que em 1850 ainda existiam, ao lado direito da Igreja, algumas peças de artilharia para ali levadas em 1839, no contexto da Balaiada (1838-1841), para defesa da povoação. Essa artilharia foi depois deslocada para ornato do cruzeiro levantado defronte à ermida de São José (op. cit., p. 239).


Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico Geográfico da Província do Maranhão (3ª ed.). Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 683 p. MARQUES, César Augusto. Guaxenduba. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 141-157. MARQUES, César Augusto. História da Missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circumvizinhanças pelo padre Cláudio d'Abbeville. Maranhão: Typ. do Frias. 1874. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

FORTE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO

O Forte de São Luís do Maranhão localizava-se na ponta de terra entre o rio Anil e o rio Bacanga, a noroeste da ilha de São Luís, dominando o principal ancoradouro da ilha, no litoral do estado do Maranhão, no Brasil. Antecedentes: o "Fort Saint Louis" A primitiva estrutura defensiva neste local foi iniciada a partir de 8 de setembro de 1612 pela expedição colonizadora francesa de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, que estabeleceu a chamada França Equinocial. O forte foi denominado de "Fort Saint Louis" em homenagem a Luís XIII de França (1610-1643), estendendo-se a denominação à povoação e a toda a ilha (SOUZA, 1885:69). De faxina e terra (BARRETTO, 1958:77), apresentava planta com dois baluartes semicirculares ligados por uma cortina de cento e cinquenta metros de extensão (SOUZA, 1885:69). A sua artilharia foi descrita por Claude d'Abbeville, contemporâneo da sua fundação: "(...) Com o auxílio dos franceses [os indígenas] montaram no dito Forte [de São Luís], embora muito alto, vinte canhões grandes, para a sua defesa." ("História dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão. Paris, 1614.) Após a capitulação francesa do Forte de São José de Itapari (julho de 1615), as forças portuguesas, sob o comando do Capitãomor Jerônimo de Albuquerque Maranhão, concentraram-se no Convento de São Francisco (Quartel de São Francisco). Em fins de outubro de 1615 receberam o reforço de uma armada de nove navios, comandada pelo Capitão-mor da Capitania de Pernambuco, Alexandre de Moura. Este último desembarcou a 1 de novembro e o encontro dos chefes portugueses com La Ravardière se deu no dia seguinte. A 3 de novembro completou-se a rendição francesa, com a entrega do "Fort Saint Louis". O Forte de São Filipe

"Maranhão na América do Sul ao oeste do Brasil" (Johannes Vingboons, 1665).


Sob o comando do Capitão Henrique Afonso, o forte foi rebatizado como Forte de São Filipe em homenagem a Filipe III de Espanha (1598-1621) (GARRIDO, 1940:36), então soberano de Portugal sob a Dinastia Filipina. A estrutura encontra-se cartografado por João Teixeira Albernaz, o velho ("Capitania do Maranhão", c. 1615. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro), porém com a forma de um polígono quadrangular com baluartes pentagonais nos vértices, em estilo Vauban. O forte foi reconstruído em 1627 no governo do Capitão-general Antônio Coelho de Carvalho, o Sardo (MARQUES, 1970:281), em pedra e cal, com risco do Engenheiro-mor e dirigente das obras de fortificação do Brasil, Francisco de Frias da Mesquita (16031634) (GARRIDO, 1940:36). No contexto da segunda invasão holandesa, quando do assalto e saque de São Luís pelo Almirante Jan Corneliszoon Lichthardt, à frente de uma esquadra de quatorze embarcações, e dois mil soldados (25 de novembro de 1641), o forte encontrava-se sob o comando de Bento Maciel Parente, quase octogenário, guarnecido por apenas sessenta homens. Parente capitulou (contra a opinião de seu imediato, o Capitão Francisco Coelho de Carvalho, mais tarde governador da Capitania), sendo conduzido como prisioneiro para Recife, e de lá para o Forte dos Reis Magos em Natal, onde veio a morrer após um mês no calabouço (SOUZA, 1885:69). A versão neerlandesa dessa conquista difere: "Comandavam a expedição [o Almirante Jan] Lichthardt e [o Coronel Johann von] Koin, (...) afamados por um longo exercício da milícia. Partindo do porto de Pernambuco a 30 de outubro de 1641 com oito naus grandes e seis pequenas (...) navegaram eles (...) e, passando ante a fortaleza inimiga, que atirava ferozmente contra eles, lançaram ferro mesmo diante da cidade de São Luís. Koin, saltando na ilha e desembarcando as tropas ligeiramente, aproximou-se do forte para investí-lo. Vieram-lhe ao encontro dois emissários do governador da fortaleza, um civil e o outro eclesiástico, que perguntaram a Koin se ele tinha intenção de pactuar. Anuiu Koin, julgando humano não tentar pelas armas o que se poderia conseguir pela brandura. Concedendo a todos garantia de vida e de bens, penetrou no forte, desarmou os soldados da guarnição, encontrados em número de 330, e, com equitativas condições militares, fê-lo da sua jurisdição. (...) Acharam-se lá 45 peças grossas, bastante pólvora e também vinho para as necessidades do vencedor. (...) Ficaram seiscentos holandeses para acabarem as fortificações e defenderem os naturais contra os ataques do inimigo." (BARLÉU, 1974:232-233) O domínio neerlandês no Maranhão, foi contestado desde 1643: "Tinha-se informado [em Pernambuco] com certeza que o Maranhão sacudira o nosso jugo; que portugueses e brasileiros, mancomunados para tamanho crime, tinham trucidado com abominável ousadia, os soldados holandeses, que nada esperavam e, ocupando o forte do Calvário às margens do Itapecuru, sitiavam a cidade de São Luís, onde praticavam todas as violências da guerra; que os sitiados necessitavam de socorro imediato, porque, vencida a cidade, periclitaria a província. Os governadores de Pernambuco, (...) logo mandaram para lá, com trezentos soldados e duzentos índios conscritos no Ceará, o tenente-coronel Hinderson, para que, subjugados os cabeças da rebelião, restabelecesse ele a ordem e fizesse voltar o amor da obediência. Atacando o inimigo com essa força, expulsou-o da sua trincheira, mas quando investiu o reduto maior, foi coagido, após acesa refrega, a bater em retirada, indo acampar ali perto. Os inimigos, por terem morrido os primeiros dos seus, sairam da ilha durante a noite inteira, e assentaram os arraiais no continente, à beira do rio, no lugar onde as gargantas dos montes fechavam as entradas. O exército deles compunha-se de setecentos homens, entre portugueses e mestiços, e mais três mil índios." (BARLÉU, 1974:250-251) Quando da contra-ofensiva portuguesa de 1644 em Pernambuco, Antônio Muniz Barreiros, reforçado por tropas de Antônio Teixeira de Melo, atacou o Forte de São Luís (fevereiro de 1644), mas foi rechaçado, perecendo. Teixeira de Melo recuou e tomou o Forte do Calvário na foz do rio Itapicuru (1 de outubro de 1644), mantendo uma campanha de emboscadas, até que, fortalecido, marchou sobre São Luís, que conquistou, expulsando os holandeses e destruindo as fortificações (SOUZA, 1885:69). Os séculos XVIII e XIX Pode ter sido designado no século XVIII como Fortaleza de São Miguel: "Para se erigir nesta cidade a Fortaleza de São Miguel foi preciso mudar as oficinas deste quartel dos governadores, em cuja ocasião se lhe deu uma reforma pelo que está mais decente" (Ofício do Governador Joaquim de Melo e Póvoas, 19 de outubro de 1755. apud: MARQUES, 1970:281). O mesmo Governador posteriormente descreveu a estrutura "(...) que esta cortina fica na ponta em que está fundada esta cidade, com os dois baluartes de São Cosme, e São Damião e tem mais duas cortinas que se fizeram para vencer a altura da dita terra, em que pode laborar muita artilharia", e computa a sua artilharia como uma peça de calibre 16, três de 12, três de 10, uma de 8, seis de 6, duas de 5, uma de 4, uma de 3, e quatro de 2 (Ofício do Governador Joaquim de Mello e Póvoas ao Sr. Martinho de Melo e Castro, 21 de janeiro de 1777. apud: MARQUES, 1970:281). A estrutura, em alvenaria de pedra lavrada e cal, tinha 97 braças de frente (sentido norte-sul) e 7 de fundos (sentido leste-oeste). O acesso era feito pelo portão, no lado oeste. Em seu terrapleno erguia-se a edificação do Quartel da Tropa. Em cada uma das extremidades, dois baluartes semi-circulares com 157 palmos de diâmetro e 6 braças de comprimento, unidos por uma cortina de 700 palmos de extensão por 19 palmos de altura, sobre alicerce de 6 palmos de grossura (Baluartes de São Cosme e São Damião). Esta muralha não possuía parapeito, jogando a artilharia à barbeta. Em 1777, o Baluarte de São Damião estava artilhado com seis peças de 12, uma de 10 e duas de 6. Ao de encerrar o século XVII o Governador Diogo de Souza Coutinho informava a D. Rodrigo de Souza Coutinho, no reino, que estava reedificado "o baluarte ou bateria de São Cosme e São Damião, que caiu nessa invernada" (Ofício de 1 de outubro de 1800) (MARQUES, 1970:281).


O forte foi reparado no Governo de Bernardo da Silveira Pinto, conforme uma inscrição epigráfica em latim no pano da muralha que sustenta os fundos do atual Palácio do Governo, que reza: "Esta obra se fez no feliz governo de Bernardo da Silveira Pinto. MDCCCXX." (MARQUES, 1970:281). Estava artilhado, em 26 de março de 1829, com dez peças de calibre 32, três de 18, oito de 12, e sete de 9, avaliado em 40:804$000 réis (MARQUES, 1970:281). Foi considerado fortificação de 2ª Classe em 1850, quando estava artilhado com vinte e oito peças de diferentes calibres, à barbeta (SOUZA, 1889:70). Duas décadas mais tarde encontrava-se artilhado com quatorze peças de calibre 30, dez peças de calibre 23, três de calibre 18, nove de calibre 12, e doze de calibre 9 (MARQUES, 1970:281). SOUZA (1889) complementa que, novamente em ruínas em 1879, o governo imperial mandou recolher a sua artilharia para que se pudessem executar as obras que impediriam o seu total desmoronamento (op. cit., p. 69). Foi novamente reparada em 1889, no montante de 3:787$520 réis (GARRIDO, 1940:37). O século XX GARRIDO (1940) refere que a estrutura se encontrava em ruínas quando da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em 1915 (op. cit., p. 36). BARRETTO (1958) reporta que, à sua época (1958), se encontrava em ruínas e abandonada (op. cit., p. 77). Foi absorvida, posteriormente, pelo "Palácio dos Leões", sede do Executivo estadual. Os "Baluartes de São Cosme e de São Damião" eram recordados por dois canhões que ornavam um monumento piramidal em homenagem à coroação do imperador D. Pedro II (1840-1889). Bibliografia BARLÉU, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1974. 418 p. il. BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico Geográfico da Província do Maranhão (3ª ed.). Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 683 p. MARQUES, César Augusto. História da Missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circumvizinhanças pelo padre Cláudio d'Abbeville. Maranhão: Typ. do Frias. 1874. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140. VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil (4a. ed.). Edições Melhoramentos.

FORTE DE SÃO MARCOS O Forte de São Marcos localiza-se na ponta de São Marcos, na baía do mesmo nome, dominando o canal de acesso ao porto de São Luís, no litoral do estado do Maranhão, no Brasil. MARQUES (1885) atribui-lhe as coordenadas geográficas de latitude 2º 28' 22" S e longitude 46º 31' O, levantada a 123 palmos acima do nível do mar (op. cit., p. 282). História Este forte foi erguido a partir de 1694 (BARRETTO, 1958:80), inicialmente como uma simples vigia, artilhada com um canhão, que de acordo com o Padre José de Morais (1759), outrora "pelo repetido dos tiros dava notícia à cidade do número de vasos que pretendiam cometer a sua barra." (MARQUES, 1940:283). O "Relatório sobre as fortalezas de São Luís", pelo Ajudante de Ordens Luís Antônio Sarmento da Maia para o Governador da Capitania, D. Fernando Antônio de Noronha (1792-1798), informa "(...) que a vigia de São Marcos, onde S. Exa. mandou proximamente também construir um forte, reduto de fortificação, é muito conveniente, porque daquele lugar se descobre quase toda a baía de São Marcos, e por causa de sua grande altura vê-se os navios em mais de 16 léguas de distância. (...)" (21 de Março de 1797). Estava artilhado, à época, com três peças de calibre 18 e duas de 12, todas em mau estado (MARQUES, 1970:283). O forte desabou, de acordo com informação prestada pelo Governador D. Diogo de Souza à Corte: "(...) que era de grande utilidade estabelecer solidamente uma boa bateria na restinga de São Marcos em lugar da que há dias passados se abateu com a invernada na barreira, um pouco mais acima." (Carta de 26 de Abril de 1799. apud: MARQUES, 1970:283). O Aviso nr. 45, de 6 de Março de 1805, concedeu a patente de governador do forte a José Gonçalves da Silva, o Barateiro (MARQUES, 1970:283). Em Julho de 1824 a sua artilharia bombardeou o Forte de Santo Antônio da Barra de São Luís, cuja guarnição se amotinara (GARRIDO, 1940:38), colocando-a em fuga. Em seu interior, a partir de 1831, passou a operar um farol. Foi avaliada em 13:228$000 réis (23 de Janeiro de 1840) (MARQUES, 1970:283). Na década de 1870 erguia-se em alvenaria de pedra e cal, sobre terreno pouco consistente, ocupando uma área de terreno aproximadamente circular com cerca de 500 palmos, delimitada por uma estreita muralha de seis pés. No seu terrapleno erguiase uma edificação com as dependências de Casa do Comando, Quartel da Tropa e Casa da Palamenta. Destacado do forte, seis braças para o Sul, erguia-se o Paiol de Pólvora, em edifício com teto abobadado. Estava guarnecido por um destacamento de sete praças, um Segundo-Sargento e um Cabo-de-Esquadra. Dois presos da Justiça eram ocupados na faxina do forte. Estava artilhado com uma peça de 36, nove de 32, e três de calibre 9 de bala. Nas imediações próximo ao mar, pelo lado Norte, uma antiga fonte fornecia a água potável consumida pela guarnição (MARQUES, 1970:283). Sofreu reparos em 1874 (GARRIDO, 1940:38). Pelos Avisos Ministeriais de 13 de Março e de 31 de Julho de 1880 a estrutura, em mau estado de conservação, foi transferida para o Ministério da Agricultura, para servir de posto da Repartição dos Telégrafos Elétricos. Além do farol, e do telégrafo (semáforo, cf. GARRIDO, 1940:38) para anunciar a entrada de navios na barra, era utilizado, à época, também como Quartel (SOUZA, 1885:70). Em 1913 teria sido adaptado para servir de Quartel à 2ª Bateria Independente (GARRIDO, 1940:38). O conjunto arquitetônico e paisagístico da cidade de São Luís, no Maranhão, encontra-se tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1974. Atualmente, apesar do farol ainda em funcionamento, a estrutura do forte encontra-se em ruínas, sem conservação.


Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico Geográfico da Província do Maranhão (3ª ed.). Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. 683 p. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

FORTE DE SÃO SEBASTIÃO DE ALCÂNTARA O Forte de São Sebastião de Alcântara localiza-se na baía de São Marcos, no continente, na cidade de Alcântara, litoral do estado do Maranhão, no Brasil. Antecedentes A ocupação de Alcântara remonta a um primitivo aldeamento dos Tapuias, conquistado pelos Tupinambás e denominado "Tapuitapera" ("casa dos Tapuias") à época da chegada dos colonizadores franceses de Jacques Riffault. Estabelecidas relações amistosas entre os dois povos (Claude d'Abbeville, "Historie de la mission des pères capucins en l'isle de Maragnan et terres circonvoisines" (1614), esta aldeia teria fornecido de trezentos a quatrocentos trabalhadores para a fortificação do nascente núcleo colonial na ilha Grande, depois ilha de São Luís, após a chegada de Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière (1612). Com o apoio destes indígenas, mais tarde importantes aliados contra os portugueses, de São Luís partiram expedições francesas em direção aos rios Amazonas e Tocantins. A capitania de Cumã No contexto da Dinastia Filipina (1580-1640), após a conquista de São Luís do Maranhão em Novembro de 1615, Matias de Albuquerque (c. 1590-1647) foi nomeado capitão dos aldeamentos de Tapuytapera, assim como Martim Soares Moreno o foi para o de Cumã, ficando ambos subordinados ao governo da nova Capitania do Maranhão. Sede da Capitania de Cumã (1621), que compreendia 50 léguas de costa no litoral do Maranhão, tinha como donatário Antônio Coelho de Carvalho, irmão de Francisco de Albuquerque Coelho de Carvalho, Governador do Maranhão (1625-1636). O advento da agro-manufatura de açúcar que tomou impulso a partir de 1645, bem como a exploração de sal, trouxeram o progresso à região. O arraial de Tapuytapera foi elevado a Vila de Santo Antônio de Alcântara (1648), sendo instalada a Câmara Municipal com quatro vereadores, um procurador, um escrivão e dois almotacés. A partir de 1651 aí foram erguidos um convento dos frades Mercedários e outro dos Carmelitas. Em 1716 os Jesuítas fundaram um colégio. Transformada em paróquia sob a invocação de São Matias, foi elevada a freguesia em 1722. Embora inicialmente pacifica, a relação dos portugueses com os indígenas evoluiu para a escravização destes últimos, o que conduziu à Revolta do índio Amaro. A Carta-régia de 1754 extinguiu a doação da Capitania de Alcântara e incorporou-a aos domínios da Coroa. Os imperativos da produção e a proibição de manter os indígenas como escravos, determinou a importação da mão-de-obra africana para Alcântara. A reforma Pombalina Com a finalidade de resolver as questões de oferta de capitais e de mão-de-obra, foi constituída a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, integralizada em 1755, que recebeu da Coroa o monopólio da navegação, do comércio externo e do tráfico de escravos africanos, e que foi responsável por uma fase de prosperidade que marcou a região no fim do período colonial. A Independência Após a proclamação da Independência do Brasil (1822), Alcântara foi elevada à categoria de cidade em 1836. A sua proximidade com a capital da Província, São Luís, atraiu a aristocracia rural do Maranhão, que ali fez construir os seus sobrados. Durante a década de 1850, Alcântara possuía oitenta e uma fazendas agrícolas, vinte e dois engenhos de açúcar, vinte e quatro fazendas de gado e mais de uma centena de salinas, o que lhe assegurava uma posição de destaque na economia provincial como produtora e exportadora de sal, açúcar, cachaça, couro e carne, algodão, arroz, farinha de mandioca, milho e peixe seco. No contexto da Guerra Civil dos Estados Unidos da América (1861-1865), com o aumento da demanda pelo algodão maranhense por parte das indústrias inglesas, Alcântara alcançou o mais alto grau de desenvolvimento econômico e social. Dos quinze municípios que ocupam a baixada maranhense, exceto Santa Helena e Anajatuba, todos faziam parte do distrito de Alcântara, exportando através de seu porto. Entre 1865 e 1870 inicia-se a decadência de Alcântara. Dentre as causas mais importantes destacam-se o final do conflito civil norte-americano, tendo aquele país retomado a produção algodoeira, o esgotamento dos solos para a lavoura canavieira, a ascensão da lavoura canavieira na região Sudeste e, a partir de 1888, a Abolição. O forte setecentista Apesar de remontar a um presídio estabelecido em 1697, uma obra de defesa fixa para a proteção daquele porto e cidade só foi erguida pelo governador da Capitania, Joaquim de Melo e Póvoas, sob a invocação de São Sebastião (Forte de São Sebastião) (SOUZA, 1885:71), inaugurado em 17 de Julho de 1763. Em precárias condições de conservação, em 1797 foi reconstruído pelo Governador D. Diogo de Souza, e rebatizado como Forte do Apóstolo São Matias, sendo artilhado com nove peças (SOUZA, 1885:71). Nela esteve detido o Governador da Capitania do Piauí, Capitão Carlos César Burlamaqui (1805-1810), de 1810 a 1811 (COSTA, 1974:224). Também conhecido como Forte de Alcântara, foi desarmado em 1880 (BARRETTO, 1958:80). Da estrutura da fortificação sobrevive apenas um trecho da muralha de pedra circundando o terreno, que abriga um campo de futebol, e antigos canhões dispersos. No tricentenário da elevação da povoação à categoria de vila, pelo Decreto nr. 26.077-A (22 de Dezembro de 1948) Alcântara passou a ser considerada como Cidade Monumento, tendo sido tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.


Investindo no turismo cultural e ecológico como forma de sobrevivência econômica, a cidade era candidata a Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140

FORTIFICAÇÕES DE NAZARÉ As Fortificações de Nazaré localizaram-se na ilha de Trindade, atual ilha de São Luís, no litoral do estado do Maranhão, no Brasil. Com a implantação do sistema de Capitanias hereditárias (1534), pela Coroa Portuguesa no Brasil, a costa do atual estado do Maranhão ficou dividida em dois lotes, o primeiro da altura do rio Gurupi à baía de Cumã, doado a João de Barros e a Aires da Cunha, e o segundo, da baía de Cumã até à foz do rio Paraíba, doada a Fernando Álvares de Andrade. Os três donatários, associados, organizaram uma frota de dez navios, transportando novecentos colonos e cem cavalos, para colonizar a região (1535). Na altura da ilha de Trindade (atual São Luís), Aires da Cunha pereceu num naufrágio. Os demais colonos fundaram, na própria ilha, uma colônia com o nome de Nazaré, em Março de 1536. Para a sua defesa, foram erguidas três fortificações: uma à entrada da barra de Nazaré, outra na confluência dos rios Mearim e Pindaré, e uma terceira no curso do rio Pindaré, até onde era possível a navegação. O núcleo de povoamento foi abandonado, face à hostilidade dos Tupinambás, em meados de 1538 (ESCOBAR, s.d.:67). Uma segunda expedição, com três naus e duas caravelas, comandada por Luís de Melo, naufragou nos baixios da barra, ao tentar atingir este núcleo (1554). Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

FORTIM DA BAÍA DE CUMÃ O Fortim da baía de Cumã localizou-se em posição dominante na baía de Cumã, atual município de Guimarães, no litoral do estado brasileiro do Maranhão. História A baía de Cumã, após a baía de São Marcos, seguindo a costa do Maranhão para o norte, abrigava um importante aglomerado de aldéias Tupinambás. No contexto da Dinastia Filipina (1580-1640), após a conquista de São Luís no Maranhão em Novembro de 1615, o Capitãomor Martim Soares Moreno foi nomeado capitão dos aldeamentos de Cumã, como Matias de Albuquerque (c. 1590-1648) o foi para os de Tapuytapera, ficando ambos sujeitos ao governo da nova Capitania do Maranhão. Nesse cenário, por determinação do Capitão-mor da Conquista do Maranhão, Alexandre de Moura, o Capitão-mor da Capitania do Rio Grande do Norte, Francisco Caldeira de Castelo Branco, partiu de São Luís, para a conquista da boca do rio Amazonas (25 de Dezembro de 1615), com o título de "Descobridor e Primeiro Conquistador do Rio das Amazonas". Com três embarcações - o patacho Santa Maria da Candelária, o caravelão Santa Maria das Graças e a lancha grande Assunção , e cerca de duzentos homens, entre Dezembro de 1615 e Janeiro de 1616 fez escala na baía de Cumã, erguendo um fortim (BARRETTO, 1958:33-35, 79). Certamente uma simples estacada de faxina e terra, com alguma artilharia e pequena guarnição, destinava-se a servir como base de apoio e proteção daquele ancoradouro, bem como da autoridade portuguesa no seio daqueles tradicionais aliados dos franceses. O levante dos Tupinambá (1617-1621) iniciou-se nesta aldeia, onde todos os europeus foram mortos. Sob o comando do chefe Guaimiaba ("cabelo de velha", em língua tupi), morto em combate, atacaram o Forte do Castelo de Belém (1619). Foram derrotados pela Coroa Portuguesa, quando vítimas de uma epidemia de varíola. Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

FORTIM DA BARRA DE TUTOIA O Fortim da barra de Tutóia foi projetado para a barra da enseada de Tutoia, atual município de Tutóia, no litoral do estado brasileiro do Maranhão. No contexto da conquista do Maranhão, quando forças portuguesas se dirigiam para aquela costa em fins de 1614, foram projetadas obras de fortificação para a barra da enseada de Tutóia (BARRETTO, 1958:79). Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.


FORTIM DA ILHA DE PERIÁ O Fortim da ilha de Periá localizou-se na chamada ilha de Periá, na foz do rio Periá, atual município de Primeira Cruz, no litoral do estado brasileiro do Maranhão. BARRETTO (1958) refere que, no contexto da conquista do Maranhão, quando forças portuguesas se dirigiam para aquela costa em fins de 1614, foram projetadas obras de fortificação para a ilha de Periá (op. cit., p. 79). O mesmo autor informa que, com a evacuação e destruição do Fortim de Nossa Senhora do Rosário, a 12 de Outubro de 1614, abandonada a costa do Ceará, o seu comandante, Manoel de Souza D'Eça, retirou-se com a sua guarnição para a ilha de Periá, na costa do Maranhão (op. cit., p. 88). Existe planta colorida de uma estrutura no Periá, ao final do século XVII ("Planta da casa forte do Priá", c. 1688. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa) (IRIA, 1966:46). O capítulo referente ao "Roteiro da Costa do Brasil: da costa do Ceará até ao Maranhão", refere: "(...) Nesta ilha do Pereá houve antigamente uma casa forte." (PIMENTEL, 1762:295). SOUZA (1885) refere que existiam vestígios de seus muros, à época (1885), no local (op. cit., p. 36). Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940. IRIA, Alberto. IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros - Inventário geral da Cartografia Brasileira existente no Arquivo Histórico Ultramarino (Elementos para a publicação da Brasilae Monumenta Cartographica). Separata da Studia. Lisboa: nº 17, abr/1966. 116 p. PIMENTEL, Manuel (1650-1719). Arte de Navegar (...) e Roteiro das viagens e costas marítimas (...). Lisboa: Officina de Miguel Manescal da Costa, 1762. 606p. il.. SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

REDUTO DA BARRA DO CAJU O Reduto da Barra do Caju localizou-se na barra do Caju, na ilha do Caju, no delta do rio Parnaíba, no litoral do atual estado brasileiro do Maranhão. No contexto da Guerra da independência do Brasil (1822-1823), em 1823, este Reduto foi erguido pelo Governador das Armas da Província do Piauí, o Major João José da Cunha Fidié (1821-1823). Para o seu comando foi designado o Capitão-tenente Francisco de Salema Freire Garção, comandante do brigue de guerra da Marinha portuguesa, "Infante D. Miguel" (COSTA, 1974:346, 348). Um historiador maranhense assim o refere: "(...) Fidié (...) tratava de visitar os pontos que careciam de defesa, passar revista aos destacamentos, reconhecer a posição ocupada pelo inimigo e, de acordo com o comandante do brigue [de guerra da Marinha portuguesa, Infante D. Miguel], fazer levantar um reduto barra do Caju, de que foi este [comandante] encarregado." "Vendo-se sem munições suficientes, requisitou-as do Governo do Maranhão que imediatamente lhe remeteu (...). Para o Reduto [da barra do Caju] foram quatro peças de artilharia de calibre 9, 400 tiros de bala e metralha, 40 armas novas e seis praças de artilharia e um inferior." (VIEIRA DA SILVA. apud: COSTA, 1974:275). A ilha do Caju é atualmente um paraíso ecológico, com regras rigorosas para a visitação de turistas. Bibliografia BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p.COSTA, F. A. Pereira da. Cronologia Histórica do Estado do Piauí (2 vol.). Rio de Janeiro: Artenova, 1974. 597 p. GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140. •

Lista de fortificações do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)



VIRGÍNIA EFTIMIÉ: SÍTIO PYRANHENGA (1978) Belo exemplar de casa de sítio da arquitetura civil luso-brasileira, o Sítio Pyranhenga destacou-se por um século e meio na produção da cal de sarnambi, uma das principais matérias primas da construção civil durante a Colônia e o Império, utilizada na capital maranhense para argamassar todo o tipo de edificações: casas térreas, sobrados, capelas e igrejas, fortificações militares... A partir de 1978, quando já estava bastante degradado, o sítio passou a pertencer à Virgínia Eftimié e seu marido, o químico Jean Eftimié, que vieram para São Luís trabalhar na ICESA - Indústria de Cêra S.A., instalada no Caratatiua. A artista plástica romena, com formação na tradicional Escola de Belas Artes de Paris, acabou introduzindo uma nova linguagem artística na reforma do Sítio Pyranhenga. Uma intervenção marcante atribuída a Virgínia é o mosaico nas varandas da casa grande, na qual ela introduziu louças de porcelana e cacos de vidro, muitas das quais recebidas de seus amigos, quando a visitavam, sendo um local chamado de ‘’Parede dos Amigos de Virgínia’’. Virginia Eftimié manteve o uso residencial do Sítio Pyranhenga, realizando obras de conservação, restauro e paisagismo, em um trabalho que também deixou suas marcas e memórias. O Sitio Pyranhenga é a expressão das práticas sociais e culturais de diferentes épocas. Continua belo e original, contando sua história através dos edifícios, espaços e detalhes arquitetônicos. Em 1991, o sítio passa à propriedade do Centro Educacional e Promocional do Maranhão - CEPROMAR. O bem se encontra em processo de tombamento estadual, e conta com dossiê patrimonial produzido como Trabalho de Conclusão de Curso de Arquitetura da UNDB, de Hugo Calheiros @hugocalheirosau encaminhado através de ofício ao DPHAP-MA, no ano de 2018.







PRAÇA BENEDITO LEITE, CENTRO, DÉCADA DE 1960 Fotografia tirado em São Luís, na Praça Benedito Leite, o menino na foto é o Jean Pierre Mésidor(@jean.pierre.mesidor). Jean Pierre Mésidor é filho da ludovicense Helena Ribeiro da Silva com o haitiano Jean Marie Mésidor, a sua mãe era jornalista, e o seu pai era diplomata, foi o primeiro secretário da embaixada do Haiti no Brasil. Jean Pierre nasceu no Rio de Janeiro, viveu a infância e adolescência no Haiti, na época da foto, ele vivia com seus pais no Haiti e estava visitando a terra da sua mãe Helena Ribeiro. Jean Pierre Mésidor é um grande amigo da nossa página, ele está no processo árduo de revelar fotos de sua família e nos compartilhou algumas fotos da família materna no Maranhão. Nós da página São Luís Memória sempre ficamos felizes com essas contribuições. : Álbum Familiar de Jean Pierre Mésidor(@jean.pierre.mesidor) Pesquisa e Texto: São Luís Memória(@slzmemoria)


HOSPITAIS DE SÃO LUIS- SÃO LUIS MEMÓRIA. HOSPITAL AQUILES LISBOA. (BONFIM) A Ponta do Bonfim se localiza na área Itaqui Bacanga, especificamente no bairro da Vila Nova, o bairro nasceu por influência do Hospital Colônia do Bonfim, onde era alojado as pessoas portadores de hanseníase. O Hospital Colônia do Bonfim fazia parte do projeto de política sanitária varguista que foi muito influenciado pelo médico maranhense Aquiles Lisboa, essa política tinha como solução na época: isolar os portadores de hanseníase do convívio social dos "sadios" em hospitais colônias localizados em áreas distantes do centro das cidades, esses hospitais dariam tratamento médico e assistência social aos internos. O Hospital Colônia começou a ser construído em 1932, foi finalizado em 1937, a chegada para o Hospital só podia ser feita via embarcação. A Hanseníase que era chamado de "Lepra", é uma doença que hoje tem cura, mas antes era estigmatizante, as pessoas portadoras que viviam no Hospital Colônia sofreram muito com o abuso de políticas sanitaristas extremas, lidaram com o isolamento/esquecimento dos familiares e preconceitos. Mas nem tudo era só coisa ruim, havia prazeres e alegrias que os internos compartilhavam entre si, havia laços afetivos entre eles e tinha os eventos sociais. No fim da década de 1960 até 1980, o sistema de Hospital Colônia no Bonfim foi dando o fim, mas foi anos depois do mundo já ter descoberto outros tipos de tratamentos bem mais dignos do que a internação em Hospital Colônia. Hoje em dia, na área do antigo Hospital Colônia funciona o Hospital Aquiles Lisboa, referência em tratamento de hanseníase, na área também tem residências de remanescentes e descendentes dos antigos internos e lá tem um memorial sobre a Colônia do Bonfim.


A FRANÇA EQUINOCIAL França Brasil (bn.br)

Em 1947, o antropólogo francês Pierre Verger testemunhava a presença de São Luís numa Casa dos Nagôs do Maranhão onde se praticava o culto dos orixás nagô-iorubás: “Ali fui testemunha, no dia 25 de agosto, dia de São Luís, rei de França, quando aquele augusto soberano voltou para a terra, seiscentos e setenta e dois anos após sua morte, para reencarnar-se no corpo de uma filha de santo da casa. A evocação de Saint Louis, rei medieval cujo culto se difundiu no século XVII, na França, aparece ainda mais expressa no nome atribuído à cidade de São Luís do Maranhão. A sobrevivência da representação do rei de França no ritual da Casa dos Nagôs ganha sentido, assim, se relembrada a história da colônia francesa fundada em 1612, a França Equinocial. A inegável cordialidade das relações franco-tupi, desde o século XVI, a familiaridade dos franceses com o litoral norte do Brasil e o caráter abertamente missionário da empresa colonial francesa não foram suficientes para assegurar longa vida à França Equinocial. A efêmera colônia implantara-se na região com o apoio da rainha regente da França, Maria de Medici, que nomeara os Senhores de La Ravardière e de Razilly “lugartenentes do Rei de França na ilha de Maranhão” e escolhera missionários Capuchinhos para exercer o apostolado junto aos índios tupinambá. Dessa experiência colonial resultou um corpus textual impresso composto de cartas apologéticas enviadas do Brasil pelos missionários Capuchinhos e, sobretudo, dois importantes relatos. O primeiro, publicado em 1614, é a L'Histoire de la Mission des Pères Capucins en l'Isle de Maragnan et terres circonvoisines où est traicté des singularitez admirables & des mœurs merveilleuses des Indiens habitants de ce païs.., que contém a descrição completa da viagem de seu autor, o Padre Claude d'Abbeville, ao Maranhão, até o seu retorno à França acompanhado do Senhor de Razilly e de seis embaixadores tupinambá. A publicação deste livro, em edição luxuosa, assim como as cerimônias solenes e a impressão de gravuras que representam os índios serviram, sem dúvida, ao propósito de encorajar novos comanditários e preparar uma possível emigração à colônia equinocial. A situação não seria exatamente a mesma, um ano mais tarde : em 1615, Yves d'Evreux, Superior da missão capuchinha do Maranhão, fez publicar um segundo relato, Suite de l'Histoire des choses mémorables advenues en Maragnan, és années 1613 & 1614..., que o público jamais conheceu, pois os exemplares foram destruídos nas oficinas do impressor, François Huby. Um exemplar mutilado sobreviveu, salvo por François de Razilly “através de sutis expedientes”, como conta na carta que fez cuidadosamente imprimir e encadernar junto ao livro que dedicou ao rei Luís XIII, em 1617. Consciente dos interesses políticos que ameaçavam prejudicar a empresa colonial do Maranhão, Razilly revela na carta as circunstâncias que contribuíram para que a “facção espanhola”, que apoiava o projeto de casamento do jovem Luís XIII com a infanta Ana d'Áustria, exercesse forte pressão para que os franceses deixassem o Maranhão. E foi por essas razões que a coroa francesa cessou de apoiar a colônia maranhense, desmantelada em novembro de 1615 pelas forças portuguesas. Na França, a dimensão tanto política quanto religiosa do projeto de colonização do Maranhão havia encontrado a sua expressão mais forte no momento da recepção dos embaixadores tupinambá em Paris, entre 1613 e 1614. Sempre acompanhados pelo Padre Claude e pelo Senhor de Razilly, os índios foram conduzidos ao Louvre para prestarem homenagem ao rei de França e "colocar suas pessoas e suas terras sob o seu cetro”, reconhecendo-o como “seu rei e soberano monarca” (Histoire de la mission, p. 340v°-341). O Mercure François do ano de 1613 – publicação que fazia circular os faits divers e o noticiário político –, dedica algumas páginas à presença dos “Toupinambous Maragnans” em Paris : dirigindo-se ao público cristão francês e, em particular, a eventuais benfeitores e investidores, apresenta a região como “a chave do Brasil”. Assim como nos relatos missionários, este elogio à colonização francesa é indissociável da apologia da docilidade e da vontade de conversão e, não menos, de afrancesamento dos Tupinambá. Nesse sentido, outras imagens vêm corroborar as representações da conversão dos índios na França: duas gravuras, impressas alguns meses antes da publicação do relato de Claude d'Abbeville, exibem os Tupinambá em espetáculo exótico e edificante, integrados à ordem monárquica e católica das cerimônias solenes. A primeira delas é uma gravura em cobre, divulgada provavelmente entre abril e junho de 1613, em que 6 selvagens estão representados, 3 de frente e 3 de costas. Parecem estar dançando, carregando maracás nas


mãos. Dois deles levam nas cabeças plumagens que lhes caem pelas costas e o resto da indumentária é francesa (a gola pregueada, o gibão, as calças bufantes, as meias, os sapatos de laço e a cruz no pescoço). A segunda gravura, realizada também em 1613, e vendida em “Paris, por Michel de Malebourse, na rua Monorgueil”, representa a cena do batismo solene dos três Tupinambá, na Igreja dos Capuchinhos. Desta vez, 3 índios catecúmenos estão de joelhos diante do rei, em presença dos Capuchinhos, da regente e dos representantes da corte. Três estrofes versificadas seguidas de um texto, logo abaixo da imagem, evocam a ordem monárquica e católica na qual se insere a presença dos "estrangeiros" na corte francesa, a fim de "instruir-se na religião" e prestar homenagem ao rei. O livro de Claude d'Abbeville foi publicado no início do ano de 1614, nesse contexto de euforia geral, posto que, primeiro, havia de se tirar vantagem da presença dos Tupinambá em Paris ; segundo, era urgente a partida de uma segunda companhia para o Maranhão, consideradas as necessidades materiais e humanas da França Equinocial naquele momento. Desde a publicação, mais de meio século antes, em 1551, do livreto que assinalava a participação de cerca de 50 selvagens na festa brasileira organizada no momento da Entrada Real de Henri II em Rouen, toda uma série de documentos atesta a presença de “brasileiros”, na França. Foi também em Rouen, em 1562, que Montaigne encontrou os três índios que haviam sido apresentados ao rei Charles IX, e "entretivera-se longamente com eles", aos quais "mostraram nossos modos, nossa pompa, a forma de uma bela cidade" (Essais, Livre I, chapitre XXI). Ou ainda em Bordeaux, em 1566, onde outro cortejo com índios do Brasil foi organizado em homenagem a Charles IX. A propaganda monárquica que encerra as cerimônias parisienses de 1614 alinhava-se com os princípios apostólicos modernos. Por um lado, as missões seriam como um tempo forte, em plena progressão, do sentimento divino que todo homem carrega virtualmente em si. Por outro lado, a devoção coletiva era considerada fenômeno político importante, numa perspectiva mais ampla de constituição de uma comunidade católica universal, que reunisse, nesse caso, desde “a ilha” dos Tupinambá ao reino de França. Mas tão importante quanto a eficácia da propaganda da obra missionária capuchinha francesa, é a imagem do índio bom - mais precisamente convertível - que esteve amplamente divulgada após os eventos de Paris. No bojo do processo mais geral de ocidentalização, em relatos e imagens, os índios aparecem descontextualizados, abstraídos das situações mais particulares do que se pode chamar « costume indígena ». É nesses termos que escreve Claude d'Abbeville: “estávamos ansiosos por mostrar aos franceses o fruto de nossa missão e os primeiros enxertos de nossa nova colônia” (Histoire de la mission, p. 334). Como “enxertos” da nova França Equinocial, os Tupinambá são representados fora de toda “realidade selvagem” e exibidos em espetáculo de conversão à religião e à civilização dos franceses. Em meio à produção dessas representações e à atuação política dos defensores da colônia maranhense, não se sabia, é claro, que o Maranhão jamais seria francês. Nem se suspeitava, tampouco, que São Luís, rei de França, sobreviveria nessas terras equinociais, através dos séculos, em corpos mestiços.




O padre José Rufino Soares Valamira RAMSSÉS SILVA O padre José Rufino Soares Valamira, quando pároco de Valença-PI cita, em jornal local, parte de sua Genealogia. Um ramo de sua família, os Soares Godinho, do qual faço parte pelo lado da minha avó materna Aurora Soares da Rocha, veio de Leiria (Portugal) e se estabeleceu em Mamanguape-PB. Na mesma Paraíba, entroncaram-se com os Fernandes Pimenta. O português José da Luz Soares Godinho e D. Maria da Conceição citados no início do texto são seus trisavós. Seu bisavós, o alferes José Soares Godinho e D. Balbina Pereira Nunes (Nunes Pereira) são pais do famoso padre Brás Pereira Soares, nascido em Mamanguape-PB. Este, migra para Pelo Signal-CE (atual Independência-CE), sendo o primeiro vigário de Marvão (atual Castelo do Piauí-PI). O padre Valamira nasceu na Fazenda Graciosa, às margens do Riacho Éden. Segundo o historiador tamborilense José Araújo, isso ocorreu em 1818, sendo seus pais o Capitão Manoel Pereira Soares e D. Maria Soares de Mello. Era reputado talento de primeira ordem. Foi vigário de Marvão, Valença e Amarante, onde faleceu em 1894. Fotos: - matéria do Diário do Piauhy (1870) - Fazenda Graciosa (Independência-CE) - Em sentido horário: eu, minha mãe Maria Fátima de Souza (1953) GedMatch JT7090675, minha avó Aurora Soares da Rocha (1918-2003) e minha bisavó Isabel Soares da Rocha (séc. XIX-1957). Fontes: - Diccionário Bio-bibliográfico Cearense-Barão de Studart. - Diário do Piauhy (1870)


VESTÍGIOS DO JAZZ NO MARANHÃO TONNY ARAÚJO

Prossegue a busca pelos vestígios do jazz no Maranhão. Essas são imagens das bandas "Turuna Jazz" (influência, talvez, do conjunto pernambucano Turunas da Mauricéia), diretamente do município de Carolina, e de um conjunto ainda desconhecido, que segundo a legenda era "um dos jazz" que tocavam nas festas de carnaval de Cururupu, lá pelos anos 40. A banda “Turuna Jazz” atuava sob a direção dos chamados irmãos Maxixe; estou pesquisando ainda de quem se tratavam. Outros conjuntos em Carolina que, supostamente aderiram à formação típica de "jazz-band" e que adotaram a alcunha de "jazz", foram: a Banda “Maranhão Jazz” dirigida por Alfredo Maranhão e composta por Carlito Maranhão, Cristóvão Lopes, Manoel Mineiro, João Pinheiro; Banda “Magnífico Jazz” sob a direção de Cristóvão Lopes e José Moreno e, por fim, banda “Americano Jazz”, também dirigida por Cristóvão Lopes e José Moreno. Estas últimas informações eu colhi por meio do Museu Histórico de Carolina. Destaque também para a Jazz Orchestra de Alcindo Billio e a Orquestra Jazz Guarani do maestro João Carlos Dias Nazareth (o pai da Alcione), ambas aqui de São Luís. Resta saber o que cada membro tocava, como e quando começaram, quanto tempo se mantiveram ligados a esse formato, o repertório, as partituras, os locais em que tocavam etc. A nível de informação: falar em "jazz-band" no Brasil significa se reportar automaticamente ao início do século XX, época de mudanças urbanas e tecnológicas (invenção da gravação elétrica, expansão da radiofonia comercial no Brasil, desenvolvimento do cinema sonoro etc.), entre outros fatores que impactaram o gosto de determinado público consumidor. Devido a isso, a partir dos anos 20, a formação dos antigos conjuntos regionais (percussão, flautas, cavaquinhos e violões) se modificou, passando a adotar a configuração utilizada pelas bandas estrangeiras de jazz tradicional (Dixieland e New Orleans style): bateria, banjo, piano e violino (na seção rítmica); trompete, pistão, clarinete, trombone e sax (na seção solista). Esse padrão se tornou a coqueluche do momento, tendo dois importantes marcos: uma série de apresentações de Harry Kosarin e sua jazz-band na cidade do Rio de Janeiro, entre 1919-1920; a forte influência dos Oito Batutas (uma das primeiras jazz-bands brasileiras), após a viagem para Paris, quando Pixinguinha e sua trupe tiveram contato com o jazz tocado por lá, em 1922. Vejo como complexo e rico este fenômeno, porque as bandas brasileiras não adotaram restritamente a linguagem jazzística norte-americana, misturando-a ao repertório típico de cada região. Quero saber qual a contribuição do Maranhão neste cenário, qual a importância dessas bandas para a formação de nossa música popular. Enfim, tem muito chão pela frente. Por agora, agradeço ao amigo Reylton Rosa pela indicação desta importante fonte: a Revista Athenas. Sob o slogan: "do Maranhão para o Brasil" diz-se que foi o periódico de maior circulação no Estado. Foi publicada durante a interventoria de Paulo Ramos e vinculada ao jornal O Imparcial. Quanto ao corpo redacional, a revista contou com nomes como o professor e escritor Nascimento Moraes (autor do romance "Vencidos e Degenerados", 1915), o padre e agitador revolucionário Astolfo Serra (autor de "Guia histórico e sentimental de São Luís do Maranhão", 1965; "A Balaiada", 1966, entre outros), também com Erasmo Dias e outros mais.



JOÃO LISBOA, 62 ANOS DE CRIAÇÃO, 98 DE HISTÓRIA EDMILSON SANCHES

Neste 15 de dezembro de 2023 o município de João Lisboa (MA) completa 62 anos de existência oficial. No dia 15 de dezembro de 1961 o governador maranhense Newton Belo sancionava a Lei 2.167, que criou o município. Mas o município tem início em 1925, quando o Sr. Joaquim Alves da Silva ali chegou, desbravou matas e fixou residência. Assim, daqui a dois anos, em 2025, João Lisboa completará o primeiro centenário do início de sua história. Primeiramente, o Sr. Joaquim morou próximo a um riacho. Depois, foi para uma região central e construiu sua casa debaixo de uma gameleira, árvore do gênero "ficus" (como a figueira), cuja madeira é utilizada para fazer utensílios domésticos, a exemplo da gamela, uma vasilha que serve para nela serem colocados ou guardados líquidos ou sólidos. Do nome da árvore gameleira veio a primeira denominação do lugar -- Gameleira, que, em 1961, teve como distrito um povoado também com nome de planta, uma palmeira: Buritirana, desmembrado de João Lisboa, após se tornar município por Lei de 1994. Na época do Sr. Joaquim, as terras de João Lisboa faziam parte do município de Imperatriz, até o desmembramento no dia de hoje, em 1961. O nome João Lisboa é uma homenagem a um intelectual maranhense de grande valor e referência para o estado e para o País: João Francisco Lisboa, que nasceu em Pirapemas, em 22 de março de 1812, e aos 51 anos, faleceu em Lisboa (Portugal), em 26 de abril de 1863. Além de escritor, historiador e jornalista, João Lisboa foi político (eleito e reeleito para a Assembleia Provincial) e advogado provisionado (sem diploma). Seus merecimentos levaram a Academia Brasileira de Letras (ABL) a conferir a João Lisboa o patronato da cadeira 18 daquela Instituição nacional. A Cadeira 18, fundada pelo escritor, educador e jornalista paraense José Veríssimo, atualmente é ocupada pelo professor, pedagogo, escritor, filósofo e historiador carioca Arnaldo Niskier, que foi presidente da ABL (1998/1999). O grande intelectual João Lisboa foi chamado de "o Tímon maranhense", uma referência ao filósofo grego Tímon, dos séculos 3 e 4 antes de Cristo, que ficou célebre por seus poemas satíricos. O município de João Lisboa tem 23.677 habitantes (2021) e área de 1.137 km2. Foi o segundo a ser desmembrado de Imperatriz. O município imperatrizense já teve 15.375 km2 de área e hoje tem apenas 1.369 km2, menos de 10% da área total que um dia foi sua. Considerada a população de 24.709 habitantes, de 2022 (o último Censo Demográfico do IBGE), João Lisboa estava na classificação número 65 (antes era 85), entre os 217 municípios do Maranhão, e nº 1371 (antes, 1610), entre os 5.570 municípios do Brasil. Em 2021, mais recente dado, a economia joão-lisboense (PIB) totalizava R$ 270 milhões 664 mil (antes eram R$ 233 milhões 873 mil). PIB é a sigla de Produto Interno Bruto, que é a soma de toda a produção de bens e serviços no município, dados levantados pelo IBGE (até o fim de 2023 deve ser informado o PIB de 2022; há um intervalo de quase três anos entre o ano-base e o ano de divulgação dos novos números). Pelos números de sua economia, João Lisboa sobrevive majoritariamente, em primeiro lugar, da Administração Pública (federal, estadual, municipal), que participa, nos R$ 270,6 milhões, com R$ 109,5 milhões. Em segundo lugar, vem o setor terciário, os Serviços (que incluem o segmento comércio), que entra com R$ 77,2 milhões. Em terceiro lugar, o setor primário, a Agropecuária), que contribui com R$ 44,4 milhões.


Por sua vez, o setor secundário, a Indústria, ocupa a quarta e última posição, participando com apenas R$ 24,7 milhões. (Os impostos completam o total do PIB, com R$ 14,7 milhões). Com forte influência de Imperatriz, seu município-pai ou terra-mãe, João Lisboa terá de, um dia, fazer uma conferência de busca de seu futuro ("Future Search Conference"), para determinar que tipo de desenvolvimento almeja e em que velocidade o deseja. Deve ser feito um pacto de cooperação entre a Sociedade, a iniciativa privada e os Poderes Públicos. Sexagenário, o município tem idade suficiente para aprender com seus erros, ausência de planejamento estratégico, pouca ou nenhuma participação comunitária no debate sobre construção do orçamento público e aplicação dos recursos. Na palavra "desenvolvimento" há a palavra "envolvimento". Ou seja: o desenvolvimento da cidade se faz com o envolvimento dos cidadãos. De todo modo, ao município e à sua comunidade, parabéns. Fotos: Igreja Matriz e Assembleia de Deus, em João Lisboa (MA). O jornalista e escritor maranhense João Lisboa, que dá nome ao município, e alguns de seus livros.

EDMILSON SANCHES


SÃO LUIS HISTÓRIA- BAIRROS. VINHAIS VELHO.CHICO VIANA HISTÓRIA Inicialmente, o local era habitado pelos índios tupinambás, onde existia a aldeia de Eussaup ("lugar onde se comem caranguejos"), até ser conquistado pelos franceses em 1612, no processo de formação da França Equinocial.[1] A aldeia também ficou conhecida como Miganville, em razão de nela residir o francês David Migan, que se tornou uma liderança entre os indígenas e servia de tradutor para a administração francesa.[1] Em 1615, os portugueses tomaram o controle de São Luís, tendo sido instalada a primeira missão jesuíta do Maranhão, passando a se chamar Uçaguaba e, posteriormente, Aldeia da Doutrina.[1] Com a expulsão dos padres jesuítas pela Coroa Portuguesa, seus bens foram confiscados e a Aldeia da Doutrina tornou-se a Vila de Vinhais, contando com Câmara e juiz. Sua origem seria a vila portuguesa de Vinhais, localizada no distrito de Bragança.[1] Em 1835, a Vila do Vinhais foi incorporada ao município de São Luís. [1] Passou a se chamar Vinhais Velho com o surgimento do Conjunto Habitacional Vinhais (1979) e do Recanto do Vinhais. O Vinhais Velho abriga uma comunidade de 3 mil moradores, muitos deles pessoas humildes e descendentes das antigas populações coloniais e pré-coloniais. O bairro tem ainda a Igreja de São João Batista, o Cemitério do Vinhais Velho (construído em 1690), e o Porto do Vinhais Velho, feito com pedras e utilizado pelos pescadores, catadores de caranguejos marisqueiros da região para atracar canoas, que já foram o principal meio de transporte no igarapé do Vinhais, afluente do rio Anil. O estilo de vida rural da comunidade seria bastante afetado pela construção da Via Expressa.[2]


PRAÇA DOM PEDRO II, CENTRO, DÉCADA DE 1950-1960

Essa fotografia mostra aspectos da Praça Dom Pedro II, destacando os sobrados, a arborização, jardinagem e a famosa "Fonte Luminosa" onde fica a nossa Mãe D'Água, obra do escultor maranhense Newton Sá. A escultura Mãe D'Água é datado de 1940, é a principal obra de Newton Sá, ganhou o prêmio medalha de prata no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Infelizmente, Newton Sá morre precocemente em 1940, dez anos após a sua morte, com a ajuda do irmão Edson Sá, a obra Mãe D´Água foi transferida São Luis do Maranhão, acabou ornamentando a Praça Dom Pedro II, o famoso logradouro que estava passando por uma grande reforma. Além da colocação da Mãe D'Água em um espelho d'água, foi acrescentado a iluminação no monumento que era ativada quando a cidade escurecia. : Cartão Postal Pesquisa e Texto: São Luís Memória(@slzmemoria)


CELEBRANDO UM ÍCONE DA CULTURA BRASILEIRA

Hoje, celebramos vida e legado de Augusto Aranha, um ícone da cultura popular maranhense que deixou sua marca na história das celebrações religiosas mais importantes de São Luís. Augusto Aranha Medeiros, eternamente considerado fiel guardião da Irmandade Bom Jesus dos Navegantes, é uma figura incontornável da cultura popular maranhense. Nascido em 14 de junho de 1907, "Seu Augusto", como era conhecido, deixou um legado significativo de preservação cultural de inúmeras celebrações e costumes do catolicismo popular das comunidades de São Luís. Sua ampla atuação abrangeu desde a preservação de imagens de santos em capelas até condução de procissões, organização de festejos, decoração de altares, presépios e demais costumes ligados ao Ciclo Natalino, Carnaval e São João do Maranhão. Augusto Aranha foi dos grandes nomes que estiveram à frente da administração da Capela de Bom Jesus, principalmente no período de 1960 a 1990. Sua importância na manutenção de costumes religiosos no largo Santo Antônio, como a festa de Nossa Senhora dos Remédios e São Benedito por exemplo, torna sua trajetória uma das essenciais na consolidação da cultura popular maranhense. Suas contribuições tiveram impacto não apenas o cenário religioso e artístico das tradições populares, mas também para a construção da identidade cultural das comunidades da cidade de São Luís.


O NATAL DE 1728 E A "RAINHA ESTHER DO MARANHÃO"

Ramssés Silva

Noite de 25 de Dezembro de 1728. A Igreja de Nossa Senhora do Carmo encontra-se lotada para a missa de Natal. Entre os "fiéis", encontra-se uma jovem chamada Izabel Gomes, acompanhada de sua família. Todos sentados, atentos à celebração quando, de repente, um deles expõe um boneco de massa de pão representando Jesus Cristo, que passa de mão em mão entre cada integrante da família, que começam a devorar e despedaçar o boneco na frente de todos, sem a menor cerimônia. A igreja toda olha aquele espetáculo incrédula e horrorizada. A missa pára. O que está acontecendo? Estranho, não? Não! Foi um ato orquestrado com horas de antecedência. Izabel Gomes e sua família estavam, há meses, sendo investigados pelo Tribunal do Santo Ofício, cujo Censor no Maranhão despachava no Colégio de Nossa Senhora da Luz, na Igreja da Sé. Havia denúncias da prática de judaísmo por parte de sua família. Izabel era conhecida pelo Censor, inclusive, como "Rainha Ester". Havia na Madredeus uma capela, já extinta, erigida à Nossa Senhora da Boa Hora. A família de Izabel Gomes, mantenedora do local, pretendia transformá-la em sinagoga. Havia badaladas de sinos em horários "esdrúxulos" aos católicos, fazendo referências aos momentos de orações do povo de Israel. Quando recebiam visitas de cristãos, a família de Rainha Ester oferecia água pútrida, acumulada em bilhas com excremento de animais. Não faziam a menor cerimônia em esconder sua profissão de fé e sua insatisfação com a perigosa e mortal perseguição. No fatídico Natal de 1728, encomendaram previamente a um artesão a confecção do boneco de massa para levar à missa noturna, frequentada àquela época, certamente, por boa parte da população da primitiva São Luís. Os reflexos deste ato foram os mais severos possíveis. Toda a família teve que, diante do Censor, explicar os atos considerados eréticos pela Inquisição Portuguesa. Muitas audiências. Perigo de todos arderem na fogueira em Lisboa nos Autos de Fé. Quer saber o desfecho? Leia o artigo da professora Marize Helena Campos , da UFMA, que também descobriu toda esta curiosa e verídica história. Texto: Ramssés Silva Fonte: https://cuadernosjudaicos.uchile.cl/.../view/60590/64050 Foto: Benedito Lemos Júnior



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.