DRIBLANDO BONDES E A HISTÓRIA MHARIO LINCOLN Nesta história, Mhario Lincoln envolve os velhos bondes de São Luís e ex-amores (facetubes.com.br)
Todas as vezes que chego ao Maranhão e tento renegociar meus novos costumes aprendidos (e apreendidos) lá pelo sul, saio perdendo. E perco com muita felicidade. Exemplo: "caboco de sorte o senhor, seu Mhario, escapulir dessa doidiça, rodeando pelos becos", me disse a funcionária de minha irmã, há anos com ela. Que beleza de autenticidade. Nada mais original para meus ouvidos. Outra coisa é voltar a dormir numa 'rede de vara', (nas palavras de meu avô Sírio), isso, quando a gente coloca um cabo de vassoura para abrir a cabeceira da rede, em dias de muito calor. E mais outra: usar 'japonesa' (sandálias havaianas), tomar banho no chuveiro de água fria, sem se preocupar com termostato, e ter no café da manhã uma porção generosa de bolo de macaxeira, beiju e cuscuz "IDEAL", (de milho), fumegante. Isso quando 'tô' preguiçoso para ir até a Padaria 'Santa Maria' - de japonesa, camisa regatas no ombro e calção de pano (com aquela listinha branca do lado), para buscar as bolachinhas de trigo salgado ou o delicioso 'pão baiano', com manteiga de lata, escorrendo pelo papel do mesmo nome, em razão da temperatura, lá pelos 35°, quando está (meio) quente. Na verdade, eu vivo cada minuto nesta Ilha de São Luís pulando entre um paralelepípedo e outro, atento aos limos da pedra e fotografando restos de fita colorida, deixadas pelo chapéu de algum vaqueiro catuabento, ao longo do caminho pela Praia Grande, sedento por uma juçara fresquinha, um punhado de camarão seco e muita farinha dágua de quebrar o dente. Tudo misturado e em temperatura ambiente. Isso,quando gazeio uma outra atividade: andar na praia. Andar pela beira do mar, chutando as ondinhas que vêm molhar seus pés cansados de botinas. Muitas vezes nem me faz bem avançar mais na água, com medo de pisar num 'chama-maré', nem correr na areia, para não atrapalhar o sossego do bando de maçarico da perna fina, no afã de almoçarem os moluscos que sobram das cascas quebradas dos sarnambis. Tenho caminhado até o forte de "Santo Antonio", de onde vislumbro as ilhas 'Duas Irmãs', sentado em um dos canhões dessa antiga fortaleza, na Ponta D'áreia. De lá o obra de Deus. Um dos poentes mais bonitos que já fitei. Aliás, nestes dias atuais, foi lá que encontrei meu parceiro e amigo Wellington Reis, na mesma frequência de paz, em que estava. Que assim seja, sempre, amigo! E quando estou só, em minha pseuda-solidão, começo a rememorar antanhos e lembrar da 'croa' (areia que aflora na baixa da maré, onde, no time de futebol formado no 'aponta', eu sempre era escolhido para o gol). Lembrei das alvarengas do Sr. 'Chocolate' (quantas vezes atravessei da Beira-Mar para a Ponta D'áreia, até a quebrada do forte). Lembrei também dos domingos ensolarados, onde encontrava as alunas do Rosa Castro, sem aquelas fardas de 'bombeiro', com bermudinhas, saiotes e bustiers, pedalando bicicletas com cestinhas no guidão. Foi exatamente nesse cenário que conheci Dolores, morena de olhos verdes - na época até pensei que morreria por ela. E também sem ela. Aliás, quem me apresentou Dolores foi 'Mocinha', meu amigo. Ele era funcionário graduado da VASP e havia prometido para Dolores levá-la para ser aeromoça, aos 18 anos.