MARANHAY - Revista Lazeirenta 61 - MAIO 2021

Page 87

MHARIO LINCOLN/ROSSINI CORRÊA Com Rossini Corrêa, aplaudido maranhense e com o jornalista Mhario Lincoln (facetubes.com.br) MHARIO LINCOLN (01) – Entre seus principais trabalhos na literatura brasileira, ressoam em dó maior, os seguintes livros: Canto Urbano da Silva (1984), Almanaque dos Ventos (1991), Baladas do Polidor de Estrelas (1991), Dois Poemas Dramáticos para Vozes e Violinos (Thesaurus, 2001). Então, quais as principais diferenças do olhar poético, no que concerne à evolução da linguagem? ROSSINI CORRÊA - Amigo Mhario Lincoln, antes de mais nada, permite que eu comece esta nossa interlocução agradecendo a distinção do convite. Acompanho com grande apreço o trabalho que tu desenvolves em favor das Letras e das Artes. Quanto a mim, no tocante, em particular, à poesia, pude publicar, neste ano de 2021, o livro Poemário do Cristo Vencedor e outros Cânticos dos Cânticos, que foi antecedido por Romeu e Julieta no Brasil e por Sonetário do Quixote Vencedor, perfazendo um conjunto de dez obras poéticas. De mim para mim, o que vislumbro, em retrospectiva, quanto ao olhar poético, não se dissocia, sem nenhuma dúvida, da busca de um domínio artesanal do verbo, no intuito da construção de um canal mais fluido e comunicativo, com o qual possa eu traduzir, de tentativa em tentativa, uma percepção intima maturada pela dor e pela alegria, da vida do mundo envolvente. Neste sentido, tenho consciência cada vez maior de que um poeta nunca está pronto, que ele se edifica a cada dia, no confronto com o fado, para retirar da dor da vida as fagulhas do amor, as centelhas da esperança e as iluminações da beleza. MHARIO LINCOLN (02) – Especificamente, gostaria de saber qual a opinião sobre dois poetas, dentre os maiores, do Maranhão, sendo um, maranhense de coração e poesia: José Chagas e Nauro Machado. ROSSINI CORRÊA: Mhario, não tenho dúvida de que são duas figuras exemplares enquanto atitude diante do fazer literário. Ambos estão com presentes na história nacional de suas respectivas gerações, no tocante aos que construíram obras poéticas, como resultado de uma dedicação existencial à literatura. Para José Chagas e Nauro Machado a palavra poética passou a ser a definição de si mesmos, posto que lapidaram o verbo, disciplinaram o canto e exprimiram, cada um à sua maneira, os universos de que decorreram. Encontro em José Chagas uma intertextualidade formal com a poética popular, o verbo de João Cabral de Melo Neto e o cancioneiro ibérico, em quaisquer de suas vertentes, a portuguesa e a espanhola, levando-o a embates temáticos com propósitos esgotantes, como se fosse inspirado em uma lavadeira que torce a roupa até quase secar, para colocá-la, em seguida, para quarar. Constato em Nauro Machado, ao contrário do que comumente acontece, a conquista crescente de uma depuração do verbo, cercando-o de leveza, quanto mais avançou no seu tempo biológico, para chegar ao fim do ciclo absolutamente vigoroso, ao realizar, em sua ontopoética, sondagens cada vez mais profundas sobre o ser, a angústia, o tudo e o nada, o tempo, a vida e a morte.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.