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ROGÉRIO ROCHA

TheotonioFonseca é um bom nome das letras do Maranhão, com formação sólida e com alguma caminhada já realizada. Seu poema se apresenta com uma tónica corpulenta, dentro de uma poética de alto fôlego. Dialoga com a tradição, com o clássico, com a mitologia universal e bíblica, trazendo, por vezes, matizes de uma linguagem com sabor das raízes do chão natalício e, desse modo, nuances que tomam por empréstimo as cores das nossas aves. Um conjunto de referências, de variado repertório, conflui nas camadas theotônicas do rio literário do bardo itapecuruense. É prazeroso sentir, no seio deste novo livro, As bodas de Sapequara, uma evocação de elementos ancestres. Chamou-me a atenção, também, uma seção inteira de poemas que refletem sobre o processo misterioso de nascimento do texto poético, mas que vai além da simples metalinguagem no seu enredamento, assim notamos uma poesia com fome de infinito e que executa recitais para todas as plateias. Carvalho Junior, Professor/poeta.

THEOTONIO FONSECA : A poesia que percorre o Caminho de Pedras Miúda

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Samira Fonseca

THEOTONIO FONSECA : A poesia que percorre o Caminho de Pedras Miúda (recantodasletras.com.br)

O primeiro livro de Theotonio Fonseca é sem sombra de dúvidas aquele que mais exalta a cidade de ItapecuruMirim no gênero da poesia, isso é incontestável desde o título da obra “Poemas Itapecuruenses e outros poemas”, uma obra prima de um intelectual apaixonado por sua terra natal. Em “Poemas Itapecuruenses e outros poemas” fica claro que Theotonio Fonseca é um eterno devoto da cidade e canta suas belezas, seus vultos históricos, os pontos marcantes da terra de João Francisco Lisboa, com uma arrebatadora paixão. Com fina escrita ele tece os versos que apontam para a cidade e sua vivência de poeta diante de sua musa inspiradora, e isso conduz o leitor a parar e refletir sobre esse torrão chamado Itapecuru. Na obra poética, o escritor impõe seu talento máximo, mostrando todo um arcabouço cultural sobre a história da literatura, tanto que se observa a influência de várias literaturas, como por exemplo, a greco-romana e opta por uma escrita que valoriza o vernáculo português, o que acaba por transcender a beleza de seus versos. Sua óptica literária percebe tudo ao seu redor e consegue extrair até do sofrimento uma beleza que só a poesia

nos mostra, isso ocorre sempre que ele demonstra nos seus versos o pungir da vida; ao relata fragmentos da vida dos vultos históricos do município ou os cataclismas que assolam a cidade, como no poema “Cântico do Rio Morto”: Novamente o rio, com sereias virgens agora decrépitas E nereidas meninas com cicatrizes incuráveis. Dos espíritos errantes, a estas margens inabitáveis! O pós-enchente de 2009 evoca a profecia anunciada No semblante do rio a face de um caminho de boiada.

Theotonio vem sempre acompanhado de personagens universais como: Orpheu, Ulisses, Telemaco, Plutão, Caronte, Cronos, Posseidon, que são personagens da Literatura Latina e também de figuras bíblicas, como Abraão, a virgem Maria e até Jesus Cristo; irmanados em uma só obra poética, configurando assim uma espécie de guardiões da escrita Theotoniana. É na personagem principal, a cidade de Itapecuru-Mirim, que a obra se concentra, a urbe é personificada em uma mulher bela e sedutora, a impressão que se tem é que tal formosa mulher é representada por uma índia Tapuia, que simboliza os primeiros habitantes destas plagas. Como se atesta no poema “A Musa Itapecuruense”:

Mística tapuia, a graciosa musa itapecuruense [...] E a musa tapuia de penetrante olhar ardente Tomando as luzes estelares, tecia em caracol! A musa como flor de beleza intraduzível Jardins suspensos da Babilônia.

Surge aí na primeira obra de Theotonio a evocação do misticismo, que terá presença mais forte na obra “O Batucajé das Iaras”, segundo livro do poeta. O rio que banha e da vida a esta mulher também é cantado pelo poeta, e os cânticos são uma espécie de lamentações devido ao estado de degradação do rio. São cinco poemas que abordam a temática: “Ultima Visio”; “Lamento do poeta Itapecuruense”; “Cântico do Rio Morto”; último Cântico do Rio Morto”; O Rio Itapecuruense e a Cidade ─ Mulher”, como que alertando por meio da poesia que o rio agoniza e aos poucos vai fenecendo sem que o poder público e as pessoas que saciam sua sede se preocupem com o problema. Outros personagens também surgem em meio aos versos, como Mariana Luz, exímia poetisa; Negro Cosme, o mártir da Balaiada; Gomes de Sousa, o matemático que está tendo sua produção questionada e re-visitada por pesquisadores e a padroeira da cidade, Nossa Senhora das Dores, que aparece na segunda parte do livro, abrindo caminho para os versos sacrossantos que o poeta compôs. E o primeiro poema da segunda parte, intitulado “Cântico a Nossa Senhora das Dores”, diz na segunda estrofe:

Percorri sendas tão escuras Blasfemei contra vós mãe castíssima. Todavia, eis aqui minha existência E o que de vida me resta a divina providência Consagro ao vosso sacratíssimo coração.

Os versos de Theotonio Fonseca possuem rimas ricas, nelas é muito difícil se encontrar palavras da mesma classe gramatical, o que faz com que o leitor não atente para a métrica que apesar de não haver, sua falta é

minimizada pela riqueza vocabular, isto ocorre devido a forte presença do Modernismo inclusive nas temáticas atuais que ele aborda; o que sem sombra de dúvidas o torna um dos maiores poetas que já existiu em Itapecuru, tendo uma rica produção poética que carrega em suas linhas características da literatura latina, do Barroco, do Ultrarromantismo, do Simbolismo, do Parnasianismo e do já citado, Modernismo. O poeta Theotonio Fonseca surgiu na década de 90 com poesias publicadas no Jornal de Itapecuru. Detentor de prêmios literários das escolas da cidade, em sua na adolescência se destacava no meio intelectual da cidade, como um amante da literatura. Contemporâneo dos professores José Raimundo, João Silveira e Mauro Rego, tendo sido este último que prefaciou a obra poética. Ainda nessa mesma época, Theotonio e outros jovens como os poetas, Alison Rillkt, André Silveira, Raimundo Soares e do cronista Rener Bandeira de Melo, eram nomes que se manifestavam na produção literária e durante muito tempo seguraram a bandeira da literatura na terra de Mariana Luz servindo de exemplo para muitos estudantes. Crer-se que cantar Itapecuru-Mirim não é fácil, principalmente na poesia, e Theotonio conseguiu interpretar as belezas os problemas desta cidade, os sonhos e as decepções desse povo aguerrido, de maneira impar. Destarte, as futuras gerações hão de ter um verso que exalte o Caminho de Pedras Miúdas, na ponta da língua, bem como os ludovicences tem a Ilha Magnética.

Samira Diorama da Fonseca - Formada em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão, é pós-graduada em Metodologias Inovadoras Aplicadas à Educação: Ensino de Língua Portuguesa e em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano-IESF. É professor substituta de Literatura Brasileira, do Centro de Estudos Superiores de Itapecuru-Mirim- Campus da UEMA. Romancista, teatróloga, cronista e contista, Samira possui três livros publicados: O Mistério da Casa da Cultura (2013); Cristal: uma história de sincretismo e encantaria (2017) ambos romances; Maria Passa na Frente (2016), peça de teatro. A escritora também possui textos publicados no Blog da Jucey Santana e escreve regularmente para o Jornal de Itapecuru. Samira Fonseca prefaciou o livro, Memórias do Capa Preta, do escritor e imortal da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, Júnior Lopes e escreveu a orelha do livro Coletânea de Crônicas Itapecuruense, organizado pelo professor, pesquisador e imortal da AICLA, Thiago Oliveira. Recentemente foi eleita para a Academia Vargem-grandense de Letras e Artes.

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