Jornal Brasil Atual - Catanduva 11

Page 5

Catanduva

5

Um canto de criação

Política: uma herança de família ofereceram dinheiro para arcar com os gastos da campanha. “Fiquei horrorizado. Não tinha trabalhado para receber tanto dinheiro” – afirma. Netinho

O baterista já foi convidado a candidatar-se a vereador de Itariri. Curioso, ele participou de uma reunião do partido durante a qual lhe

pediu para conversar com a esposa e nunca mais pensou em candidatura. “Gostaria de ser político, mas sou bobo e ia ser passado para trás.”

Netinho possui em casa uma sala agregada, com sofás confortáveis e estantes repletas de discos, CDs, fotos, livros, bibelôs e suvenires de sua carreira. O livro Netinho – minha história ao lado das baquetas foi escrito nessa sala, durante as madrugadas, com a ajuda de Samadhi, a filha que mora na Austrália. “Por causa do fuso horário, a gente trabalhava junto, ela de dia e eu à noite, via Skipe, em tempo real” – diz. O baterista fez sucesso,

ganhou fama e dinheiro, mas nunca mexeu com finanças. Quem cuida das contas e administra a grana é a esposa Sandra. Até hoje ele não possui conta em banco. Tudo o que adquiriu foi gasto em viagens, pelo mundo afora. “Lotei vários passaportes.” O filho Sandro herdou o espírito aventureiro do pai e se lançou numa viagem à Turquia, para comprar pratos de bateria – segundo Netinho, “os melhores do mundo”.

A mídia descobriu o romance de Netinho e Rita Pavone e a notícia foi capa dos jornais do mundo. “Eu não era muito chegado nela; ela não era tão bonita e eu tinha outras namoradas” – diz. Netinho então se envolveu com outra cantora italiana, Mary di Pietro. Foto-

divulgação

lauany rosa

Uma paixão. E a fofoca mundial

grafados juntos, de novo o baterista foi notícia mundial. O contrato com Rita Pavone foi rasgado e ele quase foi expulso do The Clevers. “Eu era moleque, não fazia por mal, mas para aproveitar as maravilhas do mundo” – conta Netinho, em meio a risos.

O que vem pela frente Netinho prepara o CD duplo Os Incríveis, dividido em Velhos Tempos, com os sucessos da banda original, e Novos Tempos, com músicas inéditas. Ele também

pensa num show pela passagem dos 50 anos da banda, reunindo artistas que fizeram parte de sua carreira num sítio em Cotia. Enquanto isso, ele finaliza

o livro Revisando Culpas, em que promete revelar as fases mais badaladas, os segredos pessoais, os amores e as brigas dos amigos da Jovem Guarda.

Aos 87 anos, dona Mariazinha guarda na memória a história da família, que se confunde com a do município. A enfermeira aposentada, que está trocando Itariri por Santos, lembra que seu pai, o português José Ferreira Franco, o seu Franco, era chefe de obras da Estrada de Ferro Sorocabana, no início do século 20. Com a expansão da linha de ferro SantosJuquiá e a construção da estação ferroviária em Itariri, o patriarca ficou na região com a família. Foi ele quem construiu a ponte férrea do Rio do Azeite. Depois, comprou terras, construiu as primeiras casas do povoado e

enio lourenço

As lembranças de dona Mariazinha, a mãe de Netinho

acabou prefeito. “Meu pai foi administrador da vila de Itariri e enfrentou dificuldades para, em 1938, virar Distrito de Paz – subordinado a Itanhaém até 1948. Ele teve problemas com grileiros nos processos das terras devolutas, mas ganhou todos no tribunal de Santos.” Seu irmão João também foi

prefeito duas vezes. Para ajudá-lo numa campanha, dona Mariazinha elegeu-se vereadora. A cidade se desenvolveu na infraestrutura com a gestão dos irmãos. “Na época, só havia água de poço. Meu pai pensara em colocar água encanada, mas foi João quem fez a grande reforma no saneamen-

to da cidade.” Ela se recorda também da praça do coreto: “João dizia que toda cidade tinha uma pracinha para as pessoas se encontrarem e questionava por que Itariri não tinha. Então construiu uma”. Das lembranças da infância de Netinho, dona Mariazinha resume que ele era “um menino normal, com saúde e levado. Jogava bola e se divertia no rio, saltando da ponte férrea construída pelo avô”. Ela conta que, aos 11 anos, o menino pegava o caminhão com o qual a família transportava banana para São Paulo e vinha com a irmã do sítio paterno a Itariri. “Ele dirigia para estudar teoria musical e

deixava o caminhão antes da delegacia de polícia. Eu só sossegava quando via o farol apontando de volta.” Depois, quando montaram um conjunto musical na cidade, o convidaram a participar. “Ele tinha uns 13 anos. Um grupo de senhores, liderados pelo maestro espanhol com quem ele tomava aulas de música, veio à minha casa pedir para que o deixasse tocar com eles. Tanto insistiram, que fui obrigada a deixar” – diz entre gargalhadas. “Tudo o que aconteceu em sua vida foi um processo contínuo, sem pular etapas.” E o dom? “Ah, a pessoa nasce com isso.”


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.