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4.3 Cultura zero waste

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REFERÊNCIAS

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SUSTENTABILIDADE: CULTURA ZERO WASTE

figura 20 Embalagens zero waste: alimentos comprados à granel -- sem plástico. (Fonte: Unsplash, 2019).

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um dos movimentos mais recentes que eclodiu dentro do espectro da sustentabilidade é o zero waste (em uma tradução literal: desperdício zero), a qual consiste em uma mudança radical na maneira como consumimos, a fim de reduzir o impacto ambiental tanto do indivíduo quanto de uma empresa, por exemplo, até se tornar extremamente pequeno, ou quase nulo. O movimento, que vem crescendo, principalmente, na Europa e em alguns estados na América do Norte, prega a reestruturação do nosso atual sistema de consumo de maneira que seja mais semelhante à economia circular. De acordo com Hannon e Zaman (2018, p. 90, tradução nossa):

A “economia circular” foi descrita como sendo: “regenerativa por intenção e design [...] elimina o uso de químicos tóxicos [...] visa o fim do desperdício através do design superior de materiais, produtos, sistemas e, com isso, modelos de negócio. Os defensores da economia circular observam que: “a natureza opera de acordo com um sistema de nutrientes e metabolismo no qual não existem resíduos”.

SUSTENTABILIDADE: CULTURA ZERO WASTE

12 Casa Zero Desperdício: O Guia Final de Como Simplifi car a sua Vida Reduzindo seu Desperdício (tradução livre). Mas como iniciar essa mudança? A humanidade deturpou de tal forma seus hábitos de consumo que fi ca difícil pensar por onde começar, o que deve ser transformado, como reverter esse padrão vigente há tanto tempo? Bem, de acordo com Bea Johnson (2013), em seu livro “Zero Waste Home: The Ultimate Guide to Simplifying Your Life by Reducing Your Waste12”, existem cinco passos básicos que se deve seguir para dar o primeiro passo rumo a esse estilo de vida: os 5 Rs (do inglês refuse, reduce, reuse, recycle e rot), conforme disposto no esquema abaixo. Claro que traduzindo para o português não teríamos exatamente 5 Rs, mas os conceitos mais próximos: recusar, reduzir, reutilizar, reciclar e, por último, decompor. Primeiramente, recusar e reduzir — estes dois primeiros patamares tratam diretamente da quantidade (e, querendo ou não, da qualidade e durabilidade) das coisas que consumimos. Plásticos de uso único como embalagens de comida e de cosméticos são as primeiras coisas para as quais devemos tentar encontrar um substituto: por que não comprar sementes a granel e os vegetais em uma feira? e se esco-

1R REFUSE 23R R REDUCE REUSEREDUCE REUSE 4 R RECYCLE RECYCLE5 R ROT

Fonte: Zero Waste Home: The Ultimate Guide to Simplifying Your Life by Reducing Your Waste, por Bea Johnson, 2013. Adaptação do gráfi co pela autora.

lhermos sabonete em barra, ao invés do líquido? O famoso plástico filme, que usamos para embalar restos de comida, pode ser facilmente trocado por papel-cera. Outros itens, como roupas, podem ser comprados de segunda mão, em brechós. O importante é escolher consumir apenas aquilo que é realmente necessário e da melhor maneira possível, fazendo escolhas inteligentes (JOHNSON, 2013). Já os próximos passos, reutilizar e reciclar, são dois termos comumente confundidos. O primeiro, consiste em dar uma nova vida a todos os produtos que acabaram passando pelos crivos anteriores, mas ainda assim não eram 100% a melhor escolha — reutilizá-los significa encontrar um novo propósito a esses itens, sem que tenham que passar por um processo de remodelação, ou seja, são usados no mesmo formato em que foram fabricados. Um bom exemplo é quando uma garrafa PET se transforma em um belo vaso de plantas, uma vez que não há um reprocessamento do material, apenas a mudança de seu propósito original, prolongando sua vida útil. Reciclar, por outro lado, envolve o descarte do produto e a transformação dos resíduos sólidos (recicláveis, óbvio) em matéria prima novamente, de maneira que outros produtos podem ser fabricados a partir de outros que foram reciclados. Uma prática que vem se tornando, ao poucos, cada vez mais comum em grandes empresas, como a Converse, por exemplo, é o ato de reciclar os próprios resíduos e confeccionar, a partir deles, um produto novo (JOHNSON, 2013).

figura 21 Tênis Converse Renew, feito com pelo menos 85% de material reciclado. (Fonte: Converse, 2020).

SUSTENTABILIDADE: CULTURA ZERO WASTE

figura 22 Escovas de dentes feitas de bambu em um recipiente que já foi uma garrafa de vinho. (Fonte: Pexels, 2020).

é possível transformar o consumo, de pouco em pouco, rumo à economia circular.

Por último, temos o termo decompor, que trata, basicamente, da forma como descartamos o nosso lixo orgânico. Johnson sugere o uso da composteira (uma estrutura planejada em camadas, que faz o uso de terra e minhocas para transformar os restos de comida em húmus, o qual pode ser utilizado, posteriormente, para adubar as plantas) a fim de aproveitar ao máximo nossos resíduos de maneira inteligente. A prática vem se tornando popular no Brasil, de alguns anos para cá, principalmente, com o incentivo de blogueiras e influencers veganos e com a disseminação da consciência ambiental. O movimento zero waste pode até ter falhas de cunho social e receber algumas críticas por conta delas, mas, em sua essência, ele visa um resultado a longo prazo e com muitos outros ganhos além da redução da pegada de carbono13, como: o estímulo à criatividade, o fortalecimento do senso de comunidade e até uma mudança no que concebemos hoje como princí-

13 A Pegada de Carbono é o cálculo da emissão total de gases de efeito estufa (GEEs) associados às atividades humanas no mundo.

pios fundamentais de trabalho (HANNON; ZAMAN, 2018). Assim, vemos que é possível transformar o consumo, de pouquinho em pouquinho, rumo a uma economia circular — mesmo que seja, inicialmente, com coisas pequenas, cada passo é importante —, e o design é um grande aliado da expansão dessa ideologia, visto que é o responsável por aprimorar produtos e embalagens de maneira que sejam cada vez mais funcionais e menos prejudiciais ao meio ambiente, de maneira inteligente e sempre inovadora.

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