
5 minute read
5.1 Design e sustentabilidade
DESIGN: DESIGN E SUSTENTABILIDADE
a maior e mais importante função do design é atuar como um meio de entendimento e resolução de problemas — sejam eles simples, como adequar a altura dos móveis para que as pessoas que os utilizam não tenham dores nas costas, ou complexos, como, por exemplo, “como acabar com a fome no mundo?”. Atualmente, nossos problemas mais preocupantes e que precisam ser revistos com urgência consistem na nossa relação com o meio ambiente e no nosso convívio como comunidade; problemas estes que vêm se mostrando cada vez mais iminentes. Como visto anteriormente, o desenvolvimento sustentável se fundamenta, basicamente, em um modelo de desenvolvimento que possa atender a todas as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a existência ou o sustento de possíveis gerações futuras — e é nossa missão, se quisermos garantir um bom futuro para as próximas gerações, aprimorar o nosso modo de vida atual de modo que possamos nos encaixar nos padrões de sustentabilidade (FUNK, 2010). Seja a partir de um redesign ambiental, que visa a melhora da eficiência do consumo de matérias primas e da reutilização das mesmas, posteriormente; a partir da concepção de novos produtos e serviços, sejam eles considerados sustentáveis apenas em parte ou completamente, bem como a adoção de tecnologias que facilitem esse processo; ou, por fim, e em um âmbito bem mais estrutural, a proposição atividades em âmbito social e cultural, que possam vir a transformar os hábitos atuais, tanto de consumo quanto de convivência (MANZINI, 2002, apud FUNK, 2007, p. 9).
Advertisement
figura 24 Embalagens de cosméticos feitas de sabonete. (Fonte: Dezeen, 2019).

figura 25 Embalagens de cosméticos feitas de sabonete. (Fonte: Dezeen, 2019).
DESIGN: DESIGN E SUSTENTABILIDADE
Dessa forma, o ecodesign consiste, essencialmente, na criação de produtos e serviços que sejam mais respeitosos com o meio ambiente, de maneira a minimizar o impacto ambiental o máximo possível — isso não somente na fase de elaboração dos mesmos, como também nas fases de uso e na gestão de resíduos, contemplando todo o ciclo de vida de tudo aquilo que for criado, visto que nenhum objeto morre; ele sobrevive, nem que seja como lixo (FUNK, 2007; CARDOSO, 2016). Dito isso, a partir do momento em que a questão da sustentabilidade entrou em voga, como vimos nos capítulos anteriores, a cobrança para desenvolver produtos e processos cada vez mais de acordo com os parâmetros ecológicos passou a ter um peso ainda maior nos ombros das empresas — o que fez com que passassem a buscar soluções criativas para tais problemas e adequar suas linhas de produtos às novas normas, ou ainda, a desenvolver novos tipos de produtos a fim de conquistar esse novo lado do mercado (FUNK, 2007). Um exemplo é a Natura (2020)14, que foi uma das marcas pioneiras na área de sustentabilidade no Brasil, que desenvolveu toda uma linha de cosméticos veganos e com embalagens feitas a partir de plástico reaproveitado. A linha Natura Ekos é apenas um dos exemplos de como uma empresa pode se tornar mais verde, de pouco em pouco, mesmo tendo começado de maneira diferente — é possível transformar sua essência e seus valores para se adaptar a novas realidades. Além disso, as propostas da marca e a sua relação com a sustentabilidade e o meio ambiente vêm se tornando
14 A Natura foi criada em 1969, mas só passou a adotar uma atitude verdadeiramente mais sustentável a partir do início dos anos 2000, tornandose pioneira no Brasil.

figura 26 Linha Natura Ekos, de andiroba. (Fonte: Natura, 2019).

a natura foi uma das pioneiras, no Brasil, no quesito sustentabilidade.
cada vez mais uma vantagem competitiva, visto que tal transparência e preocupação geram um valor agregado ao produto — valor este que é reconhecido e bem visto pelos clientes (FUNK, 2010). Com o aumento gradativo nas certificações e legislações que favorecem o meio ambiente, as marcas buscam cada vez mais desenvolver o tipo de produto que se encaixa nesses parâmetros, porém não é suficiente apenas se adequar às regras, é necessário que a filosofia da empresa converse com essas novas diretrizes — até porque, de acordo com Funk (2010), “a responsabilidade da empresa não termina quando o produto é entregue ao consumidor”. É preciso bem mais do que apenas desenvolver uma linha “mais verde”.
DESIGN: DESIGN E SUSTENTABILIDADE


figura 28 Tecido de cera da marca Zum. (Fonte: Zum Tecido de Cera, 2021).
figura 27 Campanha das calcinhas absorventes da marca Pantys. (Fonte: Pantys, 2018).
Atualmente, em contraposição ao caso da Natura (que se tornou sustentável ao longo dos anos), o número de empresas que já nascem com um propósito mais voltado para a sustentabilidade é cada vez maior — a própria personalidade da marca possui esse conceito de eco-friendly como um de seus pilares, intrínseco à sua essência. A Pantys, por exemplo, é uma marca que foi criada a partir da união de uma necessidade fisiológica feminina com o desejo de reduzir o impacto ambiental gerado por ela: a quantidade de absorventes descartáveis usados por uma única mulher em sua vida é absurdamente numerosa e gera um volume imenso de lixo do pior tipo (aquele que não pode ser reciclado e, ainda por cima, demora séculos para se decompor); pensando nisso, as meninas da Pantys desenvolveram uma calcinha absorvente reutilizável, feita a partir de tecidos biodegradáveis, que segura bem todos os tipos de fluxo e, de quebra, dão maior segurança com relação a vazamentos e proporcionam uma sensação de conforto que a maioria das mulheres não sente usando absorventes descartáveis. Além da Pantys, existem diversas outras marcas que nasceram a partir dessa vontade de resolver um problema (que, teoricamente, já tinha sido resolvido) de uma maneira ainda mais sustentável e eficiente. A Zum Tecido de Cera, um outro exemplo, veio para resolver, de maneira mais ecológica, o problema de armazenamento de sobras de comida — o que, a princípio, já tinha sido resolvido com a invenção do famoso “plástico filme” (só que, pera aí, o próprio nome
já deixa implícito o tanto de resíduo que isso gera!), agora é feito de maneira bem menos agressiva para o meio ambiente, através do uso de um pedaço de tecido 100% algodão envolto em cera de abelha. É dessa maneira que podemos observar com bastante clareza o nível de importância de um design consciente, que esteja sempre ligado a causas em prol do meio ambiente, a fim de solucionar todos esse problemas que na nossa cabeça já foram resolvidos e todos aqueles que ainda não foram, de maneira ainda mais eficiente e que ajude, também, o planeta.