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2.2 Nos dias de hoje

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SUSTENTABILIDADE

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A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA: NOS DIAS DE HOJE

atualmente, a produção de cosméticos funciona de maneira bem mais complexa e regrada, devido aos avanços tecnológicos tanto na área de saúde quanto nas práticas de produção da indústria: o que antigamente não passava por vistorias ou fiscalizações que comprovassem a eficácia ou ineficácia dos produtos, legitimando o modo como eram manipulados, hoje em dia possui uma conotação científica muito maior, sendo obrigatoriamente submetido a pesquisas extensas, testes e inúmeras regras de manuseio e preservação, a fim de garantir que certos ingredientes não sejam prejudiciais à saúde — ou ainda, que realmente funcionem de acordo com sua promessa de venda (CIC, 2010). Como visto anteriormente, o uso de substâncias como chumbo e arsênio era muito comum na produção de cosméticos em vários momentos históricos diferentes. Hoje, sabemos se tratarem de substâncias tóxicas, no entanto, com a demora na descoberta de tal fato, por conta da precariedade da tecnologia e do conhecimento no geral, diversas civilizações acabaram se intoxicando através da pele, de modo prejudicial à saúde de todos que utilizavam tais substâncias — levando-os inclusive ao desenvolvimento de doenças até então desconhecidas, mas que hoje sabemos o nome, como, por exemplo, o câncer. Além disso, com a ascensão da industrialização e com o desenvolvimento da área médica, se tornou cada vez mais possível realizar testes em determinados produtos antes mesmo que fossem consumidos pelas pessoas.

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figura 10 Produção de cosméticos em laboratórios especializados. (Fonte: Pexels, 2020).

4 Data referente a 27 de outubro de 2021.

Por volta de 1920, a indústria cosmetológica passou a realizar testes em cobaias (de acordo com pesquisa realizada pela revista Mundo Estranho, em 2010, os mais usados animais como porquinhos-da-índia, camundongos coelhos e macacos, podendo também envolver cães e porcos), para garantir que seus produtos fossem eficazes e seguros — estas cobaias, no entanto, passavam (e ainda passam) por experimentos extensos e, na maioria esmagadora das vezes, extremamente dolorosos e debilitantes, de modo que eram sacrificados ao fim do estudo. Hoje4, graças aos apelos de diversas ONGs e grupos que defendem os animais, o número de marcas que realizam

A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA: NOS DIAS DE HOJE

testes em animais vem cada vez mais decaindo e a preocupação com modos de produção mais sustentáveis e éticos, crescendo. No entanto, de acordo com a PETA, em um estudo de dados recolhido em 2019, nos Estados Unidos, estima-se que pelo menos um milhão de animais ainda estão sendo mantidos em estado de cativeiro nos laboratórios de testes do país (tanto de cosméticos, quanto de outras áreas da indústria farmacêutica). Por esse motivo, muitas marcas novas e conscientes correm atrás de selos, conferidos por órgãos de fiscalização especializados, de maneira a proporcionar ao consumidor uma garantia de que aquele produto é cruelty free, ou seja, não realiza testes em animais — visto que essa é uma preocupação cada vez mais latente dos compradores. Sendo assim, vem se tornando cada vez mais imperativo desenvolver leis e formas de certificação rigorosas, que assegurem a integridade dos produtos, com órgãos reguladores oficializados para fiscalizar, de tempos em tempos, a linha de produção de cada um dos itens produzidos pelas empresas, a fim de proteger o consumidor de uma compra que não condiz com seus valores morais. Isso vem acontecendo não somente na área de cosméticos, como também nas indústrias alimentícia e farmacêutica, no geral — cada vez mais, é cobrada certa transparência por parte das marcas, mostrando sempre a composição dos produtos, a salubridade de suas linhas de produção e as condições de trabalho vigentes. Consequentemente, em diversos países foram definidas normas internas para regulamentar a produção de

figura 11 Cachorro dentro de uma jaula. (Fonte: Unsplash, 2017).

figura 12 Selo de certifi cação do produto vegano. (Fonte: Sociedade Vegana Brasileira, 2013). cosméticos — nos Estados Unidos, por exemplo, há um departamento inteiro dedicado somente à fi scalização e administração de produtos das áreas alimentícia e farmacológica: a FDA é responsável pela vistoria dos cosméticos, de acordo com a lei, após sua ida para as prateleiras. No Brasil, no entanto, a nossa legislação possui uma base relativamente precária: em 1976, entrou em vigência uma lei5 que estabelece a vigilância sanitária obrigatória a todos os itens de uso farmacêutico, desde remédios e insumos até os cosméticos — no entanto, o decreto faz referência apenas à qualidade dos produtos e à salubridade das linhas de produção. Quanto à vigilância de produtos orgânicos, naturais e veganos (cujas defi nições veremos mais adiante), não há uma regulamentação nacional ofi cial, deixando o trabalho de fi scalização nas mãos de agências certifi cadoras, como a SVB6, a Ecocert, a Natrue, entre outras (CAIADO, 2020). Assim sendo, podemos perceber como o Brasil, um país com uma vasta variedade em sua fauna e fl ora — e, por isso, possuinte de um enorme potencial de produção de itens tanto orgânicos quanto naturais —, ainda está engatinhando com relação às leis, ao investimento e ao incentivo referentes à produção de cosméticos de maneira mais ética e menos prejudicial ao meio ambiente. De certa forma, esse tipo de consciência ainda é tão recente que pouco foi feito para nos adaptarmos à nova forma de manufatura e consumo, a qual vem cada vez mais se mostrando fundamental para a saúde do planeta e a garantia de um futuro.

5 Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, regulamentada pelo Decreto nº 79.094, de 5 de janeiro de 1977.

6 A SVB, ou Sociedade Vegetariana Brasileira, é a única agência certifi cadora nacional — o que mostra como o Brasil está atrasado com relação a esse tópico.

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