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2.1 Breve história

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REFERÊNCIAS

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A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA: BREVE HISTÓRIA

figura 5 figura 5 Caixa de Cosméticos do Mordomo Caixa de Cosméticos do Mordomo Real Kemeni, do Faraó Amenemhat Real Kemeni. (Fonte: Metropolitan IV, por volta de 1805 a.C. (Fonte: Met-Museum of Art, 2017). ropolitan Museum of Art, 2017)

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o registro mais antigo que temos do uso de cosméticos voltados para a derme se dá por volta do ano de 4.000 a.C., no antigo Egito. Nessa época, eram mais comumente usados óleos perfumados e pomadas no dia-a-dia tanto de homens quanto de mulheres, para limpar e suavizar a pele — assim como para mascarar o forte odor corporal. Cremes, unguentos e pós eram comumente utilizados nas rotinas diárias do povo egípcio (EL-KILANY e RAOOF, 2017) Além disso, para a proteção contra o sol, resíduos das tempestades de areia e insetos, eram feitas misturas de óleos e cremes — os antigos egípcios já possuíam o hábito de limpar e nutrir a face, a fim de prevenir rugas e manchas, atribuindo à pele hidratada um alto valor em seus padrões de beleza. Dessa forma, sendo parte importantíssima de seus rituais de higiene, o uso desse tipo de substâncias servia para melhorar a aparência física e a saúde, no geral, de acordo com Green (2001, apud EL-KILANY; RAOOF, 2017, p.2). Já na Grécia Antiga, é possível encontrar diversos escritos sagrados narrando regras para banhos, para higiene corporal e para procedimentos cosméticos vigentes na época. Além disso, os gregos já faziam uso de produtos naturais para o tratamento da pele, como, por exemplo, máscaras de argila — há registros de pelo menos seis tipos de argila utilizadas na época, as quais eram identificadas por selos diferentes, denotando sua respectiva origem. Hoje, esses selos são considerados por estudiosos o primeiro registro histórico de marcas de fábricas de cosméticos (CIC, 2010). Mais adiante na história, os romanos reuniram todo

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figura 6 Casa de banho romana. (Fonte: https://www.romanbaths.co.uk/).

o conhecimento grego a respeito desse assunto e adicionaram seu toque especial: as famosas casas de banho romanas já eram algo presente na Grécia, mas não tinham toda a grandiosidade e importância no convívio social que tiveram em Roma. No vasto império, até mesmo as menores cidades possuíam uma casa de banhos, ainda que fossem pequenas; já nas metrópoles, as casas de banhos eram enormes em infraestrutura, possuindo até salões separados para diferentes modalidades: banho quente ou frio, piscinas, saunas e até salas para atividades físicas ou para outras práticas como a massagem com ervas e óleos. Inclusive, membros da elite romana possuíam, muitas vezes, suas próprias casas de banho dentro de suas abastadas vilas1 (CARTWRIGHT, 2013). Assim, é possível observar que as práticas de higiene pessoal como cuidados com a pele no geral, depilação e banhos aromáticos e de lama eram extremamente comuns para os patrícios2 naquela época e considerados essenciais para a obtenção de uma boa aparência — aspecto de suma importância para o povo romano, extremamente vaidoso. Não é à toa que, durante o período do império, foi desenvolvido o famoso "cold cream": uma emulsão de cera de abelha e borato de sódio com consistência e fórmula bastante semelhantes ao que conhecemos hoje como creme hidratante (SEBRAE/ESPM, 2008). Todavia, ao contrário do Egito, onde o skincare era um hábito comum de todas as classes sociais — o único fator que diferenciava os mais abastados dos mais humildes eram o in-

1 Tipo de moradia tradicional romana, típica da zona rural por ser uma propriedade agrícola.

2 Termo usado para denominar a elite romana.

as casas de banho eram enormes em infraestrutura, possuindo até salões separados para diferentes modalidades.

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3 A Idade Moderna foi um período específico da História do Ocidente que se iniciou no final da Idade Média em 1453 d.C. vólucro e o aplicador (ou seja, a embalagem, sendo elas mais simples para uns e mais refinadas para outros) utilizados para aplicar os mesmos óleos e pomadas que eram padrão para todos (EL-KILANY e RAOOF, 2017) —, na Grécia e na Roma antigas o tratamento da pele em si já era uma coisa bem mais elitizada, muitas vezes envolvendo, inclusive, o uso de trabalho ou mão de obra escrava, muito comum em ambos os períodos. Alguns séculos depois, com a queda do Império Romano e a ascensão do cristianismo com todas as suas proibições às práticas higiênicas e ao culto à beleza, o uso de cosméticos acabou por ser reprimido e, posteriormente, com a Peste Negra, o hábito do banho em si desapareceu completamente (SEBRAE/ESPM, 2008). A Idade Média foi um período particularmente sombrio para a higiene e os cuidados pessoais na Europa, visto que, além de serem considerados blasfêmia ou bruxaria, acreditava-se, igualmente, que a maioria das doenças era transmitida através do contato do ar com os poros dilatados em banhos quentes — ou em qualquer espécie de grande contato do corpo com a água. Dessa forma, os europeus passaram a se limpar de maneira seca, com lencinhos, deixando o uso da água restrito às mãos e ao rosto (JONES, 2010). Desse modo, com o triunfante regresso do conceito de beleza e da preocupação com a estética que vieram conjuntamente ao período do Renascimento, por volta do ano de 1300, houve, também, a ascensão do uso de cosméticos e, especialmente, da fabricação e uso de perfumes — afinal, os péssimos hábitos de higiene pessoal vigentes desde o início da Idade Média somados ao trabalho manual diário, comum à época, conferiram aos europeus um cheiro extremamente desagradável, historicamente registrado por todos os outros povos com os quais tiveram contato (ISAAC, 2016; JONES, 2010). No entanto, ao adentrar a Idade Moderna3, veio à tona certa obsessão com a cor da pele, já presente desde o período greco-romano, porém agora ainda mais intensificada. A branquitude da pele já era considerada um símbolo de nobreza e status, mas, com o passar dos séculos, essa ideia foi se intensificando, o que fez com que a elite buscasse mais e mais produtos para torná-la ainda mais clara (CIC, 2010). Tal fixação era tamanha que as pessoas passaram a aplicar camadas e mais camadas dos tais produtos branqueadores, uma

figura 7 Mulher aristocrata lavando os pés. (Fonte: Passando a limpo: o banho da Roma antiga até hoje, 2008).

figura 8 Mulheres se banhando. (Fonte: Getty Images, 2002).

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em cima da outra, formando quase uma máscara por cima do rosto — o que dificultava a respiração cutânea. Isso, unido ao fato de que muitos desses produtos eram compostos de ingredientes que hoje sabemos serem extremamente prejudiciais (como o arsênio, por exemplo) e ao desaparecimento do hábito do banho, que persistia ainda nessa época, trouxe à população aristocrática severos problemas de pele. Além disso, tais produtos eram mais difíceis de remover e, muitas vezes, não saíam na base da água — fazendo com que as pessoas apelassem para substâncias ácidas para facilitar a remoção, como vinho e vinagre (THE WEBSTER, 2021). Mais tarde na história, apesar de passar, novamente, por um bom período de restrição durante o século XVIII, devido a mais uma fase de perseguição às bruxas, o uso de cosméticos realmente começou a tomar força e reconhecimento na Idade Contemporânea. Com a ascensão dos ideais iluministas e de um modo de pensar mais questionador, as pessoas começaram a ver os cosméticos pelo que realmente eram: uma ferramenta para manter a pele não apenas bonita, como também saudável. Dessa forma, donas de casa começaram a produzi-los de maneira caseira e com ingredientes naturais que encontravam à sua disposição, no dia-a-dia, como leite, água de rosas, creme de pepino, entre outros, desenvolvendo receitas exclusivas (SEBRAE/ESPM, 2008). No final do século XIX, com a eclosão do movimento feminista, as mulheres saíam cada vez mais de casa para trabalhar e com isso, pouco a pouco, foram adquirindo uma

figura 9 Jean Harlow em sua penteadeira, 1935. (Fonte: Getty Images, 1935).

maior independência financeira, não tendo mais tempo para a produção caseira dos cosméticos, mas, por outro lado, passando a ter recursos financeiros para consumi-los. Em contrapartida, com o despertar do capitalismo e com a acelerada evolução das indústrias e de seu maquinário, a produção passou a ser ainda maior e mais mecanizada, de modo que os produtos passaram a ser fabricados de maneira mais rápida e em maiores quantidades — muitas vezes, contudo, sem se preocupar com o bem estar da mão de obra que operava esses equipamentos, com a qualidade dos ingredientes utilizados na produção ou ainda com o impacto que isso poderia gerar na pele dos consumidores e no meio ambiente. Com a evolução da tecnologia, das técnicas de produção e dos estudos, não apenas das fórmulas e dos impactos de cada ingrediente, como, também, do funcionamento da pele e do corpo humano no geral (e, inclusive, com a recente preocupação do homem em relação à sustentabilidade), a indústria cosmetológica foi crescendo e se adaptando cada vez mais, rumo a um estilo de produção cada vez mais ético, responsável, altamente eficaz e estritamente regulamentado (CIC, 2010). Além disso, como efeito colateral da globalização ocorrida do meio para o final do século XX, houve o contato e, consequentemente, a troca de conhecimentos e hábitos entre pessoas de culturas distintas — dentre eles, o uso de determinados ingredientes, concepções de beleza ou, ainda, práticas específicas de higiene pessoal — formando, aos poucos, a indústria e os hábitos de cuidado com a pele como conhecemos hoje. Presentemente, o skincare é considerado importante não apenas por questões estéticas, mas também por sabermos ser essencial para a boa saúde da pele — principalmente, para evitar doenças como o câncer de pele ou circunstâncias naturais como o envelhecimento precoce. No entanto, o que antes era feito de modo superficial e, muitas vezes, prejudicial, hoje já passa por diversos estudos e testes, de maneira que a rotina de cuidados com a pele se desenvolveu de tal forma que pode ter diversos passos e envolver vários produtos diferentes com propósitos distintos, como hidratação, limpeza, proteção, entre outros (INFANTE; DE MELO; CAMPOS, 2018). .

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