Boletim Informativo N.º 81
Ano VIII
Paróquia São José - Osvaldo Cruz - SP
Setembro de 2014
EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós que somos salvos, é o poder de Deus” I Coríntios 1:18 Uma paroquiana, dirigindo-se a mim, falou: “Padre eu não gosto da imagem de Jesus Crucificado exposta na Igreja, é um símbolo muito triste, doloroso, que me deixa muito deprimida.” O que poderia eu lhe dizer sem ferir seus sentimentos? Que direito tenho de contrariar um sentimento pessoal? Refleti por alguns instantes e senti que deveria ter muita calma para não perder aquela grande oportunidade de evangelizar com docilidade. Sentimentos determinam comportamentos e não se muda um comportamento com facilidade, muito menos com imposição da razão. Urge optar pela acolhida da realidade pessoal do indivíduo e apresentar, co m ca r i n h o, u m a ve rs ã o diferenciada, sem pretensão de defender Deus que não precisa de advogado. De fato, há muitas pessoas que têm certas reservas com a imagem do Salvador martirizado. Parece ser mais tranquilo, menos “forte” contemplar uma imagem que ressalta a beleza, a harmonia e a glória, do que a tosca e cruenta imagem da cruz. Muitos odeiam a Cruz de Cristo porque ela desconcerta os planos daqueles que não entenderam o projeto do Reino. Este exige renúncia, entrega e até o martírio. A Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo é o símbolo máximo de uma vida assumida até as últimas consequências. Cristo assumiu nossa humanidade em tudo: nasceu na pobreza, viveu na vida modesta de Nazaré, conviveu na humildade com seu povo, assumiu a vida dos infelizes, cegos, famintos, leprosos e, por fim, foi perseguido, caluniado, maltratado, violentado, morto e crucificado no calvário como um malfeitor. Assim também a nossa vida, em resposta ao grande apelo do Senhor Jesus Cristo, só pode realizar-se plenamente quando tivermos a maturidade cristã e a firme disposição de entregar nossa existência por amor aos nossos semelhantes. Somente com a graça divina poderemos renunciar a nós mesmos e assumir a causa do próximo, sem nada esperar em troca. Esta graça benfazeja nos oportuniza vislumbrar o que realmente significa seguir Jesus Cristo – Caminho, Verdade e Vida. Carregar a Cruz de Cristo não significa nos conformar com as desgraças deste mundo, aceitar as injustiças ou nos calar, covardemente, frente a tantos erros e mentiras que
corrompem o homem, matam sua dignidade e roubam sua identidade. As cruzes, os sofrimentos devem ser combatidos... Devemos nos imbuir da força divina para lutarmos contra a doença, violência, miséria e a opressão. Precisamos nos unir para vencermos a desigualdade social, os preconceitos, a injustiça, a corrupção, a mentira e a morte. Jesus é o libertador! Ele tinha compaixão dos sofredores e não legitimou o sofrimento de forma alguma. Tomar a cruz é postura de fé, é escolha verdadeira de estar com Cristo, de ser por Cristo e viver em Cristo. A Cruz exalta o Amor de Deus, um amor sem limite, que vai até a entrega livre e total da própria vida. Portanto, ser cristão, no seguimento de Jesus Cristo, é doar a própria vida como alimento para aqueles que perecem de fome, como água para os que têm sede de justiça, como remédio, para um mundo doente, como energia para um povo desencantado e sem esperança. Como se pode ver a Cruz não é a exaltação da dor ou dos males que atingem a humanidade mas é a exaltação do Amor, um amor tão gratuito e tão profundo que postula uma grande verdade: “A causa de Cristo vale mais que a própria vida!” Quantas pessoas estão a nossa volta e que ainda não descobriram o segredo da felicidade. Buscam a felicidade e só encontram decepção... E isto porque desconhecem que Amor sem compromisso, não é propriamente amor, desconhecem que a liberdade é um valor de primeira grandeza e que a felicidade consiste em ser capaz de renunciar a si mesmo pela causa do Bem, da Justiça do Amor e da Paz. O crucifixo não é o símbolo de um homem fracassado, frustrado ou revoltado... É, sem dúvida, o sinal sagrado de um Deus Amor que se faz presente, a todo instante, no altar do sacrifício como entrega plena, livre e total. É o sinal vivo do Amor de Deus que se revela na Dor de um Deus apaixonado que tem misericórdia e compaixão do mundo inteiro. Concluindo posso afirmar que depois de uma boa catequese, iniciada em casa na família e associada ao exemplo dos pais, poderá garantir a verdadeira compreensão do significado do Amor e da dimensão redentora da Dor. Com a ternura e o ensinamento de um pai, de uma mãe, de um catequista, de um padre que testemunha o amor, ninguém mais olhará para a cruz como símbolo alheio aos seus sentimentos ou desagradável aos olhos, senão como expressão de Deus na Exaltação do Amor. Pe. Marcos Leite Azevedo, cp