Boletim informativo 77 maio 2014 novo

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Boletim Informativo N.º 77

Ano VIII

Paróquia São José - Osvaldo Cruz - SP

Maio 2014

A DEPRESSÃO É FALTA DE FÉ? O progresso cientifico traz ao nosso tempo o conhecimento e a compreensão de realidades até então misteriosas e obscuras. Muitas enfermidades e fragilidades que, por milênios, eram tratadas como possessão, atribuídas a uma força demoníaca, puderam com o advento da psicologia e o progresso da psiquiatria encontrar respostas plausíveis no cotidiano da humanidade. Comportamentos desajustados eram entendidos como ação de um poder diabólico que dividia a alma e o corpo da pessoa, tornando-a passível de intervenção religiosa. Muitas vezes um estado de humor, incompreendido em um ser reconhecidamente bom, era atribuído a um mal feito, mal olhado, “quebranto”, feitiçaria ou praga. Por outras vezes se buscava solução de problemas comportamentais, que feriam as regras sociais, através de bênçãos e até mesmo do exorcismo. Nesta perspectiva uma das enfermidades, a “depressão”, tão presente no mundo atual, era vista como um mal da alma... E assim se afirmava, em primeira mão, ser falta de Deus. Ainda hoje se costuma atribuir à depressão a falta de fé, distanciamento de Deus. Sendo assim a pessoa depressiva logo será convidada a ir para a Igreja, a participar dos cultos, das missas e, por vezes, fanáticos irão até mesmo prescrever que o depressivo deixe de vez o uso dos medicamentos receitados. É claro que os extremistas são sempre nocivos à sociedade. Devemos evitar os extremos sempre: “Confiar só no psíquico e ignorar a dimensão espiritual ou confiar só na força espiritual e descartar a medicina como fruto da graça de Deus”. De fato há algumas afirmações tendenciosas, como por exemplo: “Crente não precisa tomar remédio”. No que tange à depressão sabemos que ela pode se manifestar de diversas maneiras, em vários estágios e em inúmeras circunstâncias em toda e qualquer pessoa. Conhecendo a Palavra de Deus veremos que depressão, embora assim não seja denominada, está presente em Jó, servo sofredor, em Moisés, o libertador, em Davi, o rei mais justo de Israel, em Elias, o grande profeta, em Paulo, o apóstolo dos gentios e nos discípulos de Emaús. Caracterizada até mesmo no forte desejo de morte,

como podem os ver em Êxodo 11,15. Moisés que clama a Deus que o mate. É preciso que a evangelização atual considere que o sofrimento oriundo da depressão se apresenta como uma dor sem nome, cujas razões externas e internas, independem da vontade própria da pessoa. O que se pede é que haja compreensão da realidade do depressivo que envolve, sem distinção, até mesmo os personagens bíblicos mais fiéis. No Getsêmani Jesus suou sangue. Como evangelizadores neste tempo atual saibamos proclamar a resposta para a realidade da depressão através de um Salmo: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam." Salmo 23,4. A resposta ao mal da depressão só pode vir de Deus que não abandona filho seu, em momento algum. A comunidade deve estar preparada para superar os preconceitos e criar oportunidades para atingir sobretudo aqueles que estão vivendo na sombra da morte, numa mistura de sentimentos que a faz sofrer sem perceber resposta satisfatória. A depressão é um mal muito atual. Os conselheiros bíblicos não estão aptos a aconselhar ordinariamente pessoas com depressão, devendo esse trabalho ser feito sempre por profissionais psicoterapeutas e muito menos estão autorizados a suspender medicamentos em nome da fé, sob pena de colocar em risco a vida do depressivo e a sua integridade física e moral. Uma das grandes possibilidades pastorais que podemos assumir é preparar agentes e conselheiros bíblicos para expressarem o carinho e a acolhida dos depressivos encorajando-os a reconhecer as sombras de um passado obscuro de sua depressão e a tomar, com coragem, as melhores posições de reação humana frente a este mal que assola e assombra a todos no novo milênio. Por um mundo melhor, com harmonia, saúde e paz: tomar consciência é o primeiro passo para a superação do quadro depressivo que pode acarretar inúmeras atitudes, vícios, medos, fobias, agressões e até violência contra si próprio. Pe. Marcos Leite Azevedo, cp


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