Boletim Informativo N.º 80
Ano VIII
Paróquia São José - Osvaldo Cruz - SP
Agosto 2014
A RAIZ DE TODA MISÉRIA “Duplo crime cometeu o meu povo: abandonou-me a mim, fonte de água viva, e para si preferiu cavar cisternas, cisternas defeituosas que não retêm a água. Jr2,13 Há um provérbio que diz que o dinheiro é a raiz de todos os males. De fato: avareza, corrupção, egoísmo, injustiça, exploração, guerra, ódio, crime, violência, divisão, pobreza e miséria estão todos ligados à realidade econômica. E se formos sinceros veremos que existe uma verdade neste provérbio. O dinheiro em si e por si não é, de modo algum, um mal mas o seu uso indevido é fonte de tantas desavenças sociais, familiares e pessoais. Basta perceber o quanto o Brasil sofre com o mau uso dos recursos econômicos, desvios de dinheiro, sobretudo da saúde e da educação, para contas pessoais, superfaturamento das obras públicas em vista de enriquecimento ilícito dos políticos e, por sua vez, dos empresários... No campo familiar, brigas e confusões por desvio do salário para interesses pessoais em detrimento das obrigações cotidianas da família... No campo pessoal, a tentação da compra fácil que escraviza o indivíduo, levando- o a comprar o desnecessário e compulsivamente, tornando-o presa fácil dos planos mirabolantes de dinheiro fácil, roubando-lhe a dignidade de pessoa, t ra n sfo r m a n d o - o n u m ete r n o endividado dos bancos e agiotas e assim, escravizando-o nas jornadas multiplicadas de trabalho e das horas extras assumidas com intuito de saldar seus compromissos. Situações que chegam às raias do desespero, sendo este um dos fatores que podem levar ao suicídio. O dinheiro em si, o ter, dá ao ser humano uma sensação de poder, de independência pessoal e até mesmo a mentalidade megalomaníaca, onde os sonhos se perdem nas fantasias... A ambição desmedida faz do ser humano um escravo de suas aspirações nem sempre lícitas. O homem, desejoso de ter poder sobre o seu próprio destino, pela procura dos bens que passam, aos poucos, deixa a sua fúria roubar o encanto da fé, a confiança n'Aquele que tudo pode e tudo dá... E nesta dinâmica, a ambição usurpa aquilo que torna o homem um ser livre e criativo, tornando-o preso e obcecado por seus nem sempre lícitos ideais. Na ânsia do poder e com medo do fracasso, o homem se perde. Quantos não tem sido os casos de pessoas influentes no Brasil, que desviando milhões dos cofres públicos, condenam nossas crianças a uma precária educação, ao sofrimento nas longas filas dos postos de saúde; incentivam a violência pelo exemplo e pretexto de impunidade; expõem nossos
educadores a vexames, nossos profissionais da saúde à vergonha da incompetência, nossa polícia a desmoralização social. Tratam os pobres com desprezo e chegam a proclamar que preferem seus animais do que as pessoas. São estes mesmos que, a qualquer instante, erguem a voz em favor da pena de morte para os mesmos infelizes gerados pela sua própria corrupção. Os nossos inescrupulosos políticos corruptos e ladrões, que se apresentam, nas campanhas e no pleito, como pais dos pobres, são os responsáveis por uma geração inteira de desencantados e infelizes, drogados e prostituídos, violentados e violentos... Os maiores ídolos de nossa juventude hoje não são, com certeza, Rubem Alves, Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro, Adélia Prado, homens e mulheres de ideal, de compromisso, de luta e de sonho. Perguntemos nas escolas quem são nossos ídolos e ouviremos, certamente, em um só coro: Neimar, Ronaldinho, Messi. Tudo isto provocado pelo poder econômico conferido a estes reis da bola. Raramente falarão de seus pais como ídolos, de um líder religioso, de um professor, de um médico... Até mesmo a definição profissional dos nossos jovens está determinada pelo aspecto econômico. Quem vai querer ser professor? Quem vai querer ser padre ou pastor? Quem vai querer ser lavrador? Quem se apresenta para ser cozinheiro? Ou padeiro? Pedreiro? Necessitamos deixar de lado tudo aquilo que nos mantém escravos do ídolo do dinheiro e deixar que Deus nos guie a viver o seguimento de Jesus Cristo, o único que pode nos conduzir à verdadeira felicidade. Com certeza não nos conduzirá por um caminho fácil, cômodo, mas sim o único caminho que pode nos levar à realização de nosso supremo ideal “Vida em Cristo”. Ser cristão por inteiro e não pela metade. Aderir ao seu projeto abraçando o Reino da Vida. E recordar que Deus quer nos tirar da miséria do ter, do poder e do prazer; um ter que escraviza o ser humano, um poder que corrompe a sua identidade e um prazer que macula sua alma. Alguém certa vez pronunciou “conheci uma pessoa tão pobre, mas tão pobre que a única coisa que ela possuía era dinheiro...” Infeliz do homem que pensa que tem as coisas, quando na verdade são as coisas que o tem.” Sua vida é toda ditada e determinada pelo que possui e não por Aquele que o criou. Saibamos viver na radicalidade evangélica usando as coisas e amando as pessoas, pois o contrário é caminho para morte e para o fracasso eterno. Miséria é abandonar Deus, água cristalina, fonte da Graça e da Vida e se pôr a cavar poços no deserto árido do pecado.
Pe. Marcos Leite Azevedo, cp