PUB
Ano 5 - n.º 69 - novembro 2020
Preço 0,01€
Mensal
Diretor: Miguel Almeida - Dir. Adjunto: Carlos Almeida
Visite-nos em: www.vivadouro.org - E-mail: geral@vivadouro.org PUB
Pandemia coloca municípios da CIM Douro em
alerta vermelho
> Págs. 4 e 5
Entrevista
Penedono
Reportagem
Joana Amaral Dias: "Passamos o tempo a lavar o dinheiro e os negócios sujos de Angola em Portugal"
Cooperativa dos Olivicultores do Vale do Torto ganha prémios internacionais
Ministra da Agricultura define agenda 20-30
> Págs. 12 e 13
> Págs. 20 e 21
> Págs. 28 e 29 PUB
2
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Editorial José Ângelo Pinto Administrador da Vivacidade, SA. Economista e Prof. Adjunto da ESTG.IPP.PT
Caros leitores, Aqui está a segunda vaga do COVID 19, bem mais forte e com maiores impactos que a primeira. O confinamento aos bocados e às parcelas, seja com alguns municípios, que acabam por ser quase todos, seja com horários diversos e desfasados, nunca vai resultar em impactos positivos na luta contra a disseminação do vírus. A razão principal obvia é simples: não se procuram as causas raiz para as estatísticas, não explicando que os ditos 68% das infeções que ocorrem nas habitações das pessoas não aparecem nas casas por obra e graça, mas sim porque um dos elementos da família foi infetado e trouxe o vírus para os familiares. E onde estes elementos são infetados? Nas escolas, nos transportes públicos ou no trabalho. Como é também óbvio que as pessoas têm que continuar a trabalhar e a deslocar-se, utilizando os transportes públicos, principalmente nas grandes cidades, o que há que fazer é aumentar o grau de proteção, quer com maior disponibilidade de desinfetantes quer com maior vigilância e prevenção de casos em que as máscaras não estejam a ser bem utilizadas. Já em relação às escolas a medida óbvia é a total virtualização das aulas para todos os estudantes com mais de 12 anos, idade na qual os meninos já podem perfeitamente ficar em casa sozinhos e, com esta simples medida, impedir-se-iam milhares de contactos e de infeções. Já em relação ao trabalho, as empresas foram capazes de implementar todas as medidas de proteção e salvaguarda com muita assertividade, pelo que as infeções são menos nesta situação. Agora que não é a restauração nem a hotelaria nem as viagens realizadas em família que espalham o virus, e muito menos a interação social com a família durante as tardes e noites de sábados e domingos; aliás, pelo contrário, ao concentrar as necessárias visitas familiares e compras aos sábados de manhã a consequência imediata vai ser maiores aglomerações, mais pessoas juntas e maior expansão do Virus. Continuem protegidos,
PRÓXIMA EDIÇÃO 16 DEZEMBRO
SUMÁRIO: Destaque Páginas 4 e 5 Vila Nova de Foz Côa Páginas 6 e 32 Armamar Página 7 Vila Real Páginas 8, 16 e 18 Carrazeda de Ansiães Página 9
Alerte para o que está bem e denuncie o que está mal. Envie-nos as suas fotos para geral@vivadouro.org POSITIVO O Governo revogou uma exceção prevista no estatuto das denominações de origem e indicação geográfica do Douro que permitia o engarrafamento nas zonas limítrofes da região demarcada ou do entreposto de Vila Nova de Gaia.
Região Páginas 10 e 37 São João da Pesqueira Páginas 11 e 35 Entrevista Páginas 12 e 13 Sernancelhe Página 14 Sabrosa Página 15 Santa Marta de Penaguião Página 17
NEGATIVO A Via Navegável do Douro (VND) recebeu 225.893 passageiros entre janeiro e outubro, uma quebra de 78% face ao mesmo período de 2019, segundo dados da APDL
Penedono Páginas 19 a 21 Reportagem Páginas 28 e 29 Lamego Página 33 Murça Página 34 Nacional Página 36 Opinião Página 38 Lazer Página 39
ANUNCIE AQUI Tel.: 962 258 630 | 910 599 481 carlos.rodrigues@vivadouro.org geral@vivadouro.org
SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER E A NOSSA ASSINATURA MENSAL geral@vivadouro.org
VISITE-NOS NAS NOSSAS REDES SOCIAIS: www.vivadouro.org www.facebook.com/jornalvivadouro www.instagram.com/vivadouro www.twitter.com/vivadouro
Luís Braga da Cruz Engenheiro Civil
"O Douro não é só vinho" Apesar do vinho ser o produto que mais visibilidade confere ao Douro, a região não deve ser só vinho e é bom que tenhamos consciência disso. O desenvolvimento de um território depende, cada vez mais, da forma equilibrada como souber acrescentar valor àquilo que são os seus recursos, não esquecendo que o mais importante deles é a capacidade e a inteligência dos que nele vivem ou o adoptam como referência identitária. Porque é que os vinhos do Douro e do Porto, sendo os grandes produtos de exportação portuguesa nos séculos XVIII e XIX, deixavam tão pouco valor na região de onde provinham? Porque ao exportar em pipa, ficava fora da região toda a componente comercial e logística até à carga marítima. Assim, se consolidou o entreposto de Gaia, enquanto a paisagem vinhateira do Douro só raramente era perturbada. A crise da phylloxera, em 1872, obrigou a repensar a cultura da vinha e a experimentar novas formas de armação do terreno, incluindo a diversificação produtiva para contrariar a excessiva dependência da vitivinicultura. Em 1884, por influência do Conde de Samodães, o governo chegou a autorizar no Douro a cultura de 1.000 ha para produção de tabaco. Cerca de 1500 agricultores pediram autorização para o cultivar e, segundo avaliações feitas à época, uma produção de 700 toneladas de tabaco poderia equivaler
a 10.000 pipas de vinho. Ao longo dos últimos 40 anos, muitos foram os apoios à vitivinicultura do Douro, a começar pelo PDRITM. Esta actividade cresceu com animação económica e fundiária, sem precedentes. Houve resultados positivos e inovação: redução de custos, aumento da dimensão média da propriedade, nova estruturação da vinha, mais mecanização. A selecção de castas melhorou a qualidade dos vinhos. Muitos estudos foram feitos sobre a região e o investimento reduziu o isolamento. Importava modificar uma lógica de desenvolvimento rural com reflexo directo na base económica agrícola local e intensificar as relações na região, com a provisão de bens e serviços que aumentassem a competitividade e a especialização. Só com a diversificação económica se pode aumentar o emprego, estruturar novos mercados a nível regional e valorizar o potencial natural e cultural. Em 1994, os dois domínios mais promissores eram o turismo e o vinho de mesa. O turismo no Vale do Douro reclamava uma actuação diversificada: preservando a paisagem vinhateira, valorizando o património edificado, fazendo o levantamento dos recursos turísticos, capacitando os profissionais, aumentando a capacidade de alojamento local, completando a infraestrutura de navegação fluvial existente, corrigindo a deficiente informação ao visitante. O vinho DOC, engarrafado na região, foi factor de diversificação conjugando bem com o turismo. O Douro adensou-se, mas continua a precisar de espírito empreendedor que traga emprego e quebre o isolamento. A pandemia perturbou esta evolução, mas temos de desenvolver esperança porque já estivemos mais longe de uma nova normalidade.
Registo no ICS/ERC 126635 | Número de Registo Depósito Legal: 391739/15 | Diretor: Augusto Miguel Silva Almeida (TE-241A) miguel.almeida@vivadouro.org Tlm.: 916 430 038 | Diretor Adjunto: Carlos Almeida | Redação: Carlos Almeida carlos.almeida@vivadouro.org Tlm.: 912 002 672 | Departamento comercial: Carlos Rodrigues Tel.: 962 258 630 / 910 599 481 | Paginação: Rita Lopes | Administração e Propriedade do título: Vivacidade, Sociedade de Comunicação Social, S.A. Rua Poeta Adriano Correia de Oliveira, 197 4510-698 Fânzeres | Administrador: José Ângelo da Costa Pinto | Estatuto editorial: www.public.vivadouro.org/vivadouro | NIF: 507632923 | Detentores com mais de 5% do capital social: Lógica & Ética, Lda., Augusto Miguel Silva Almeida e Maria Alzira Rocha | Sede de Redação: Avenida Barão de Forrester, nº45 5130-578 São João da Pesqueira | Sede do Editor: Travessa do Veloso, nº 87 4200-518 Porto | Sede do Impressor: Arcozelo - Vila Nova de Gaia | Colaboradores: André Rubim Rangel, António Costa, António Fontaínhas Fernandes, Beatriz Oliveira, Freire de Sousa, Gilberto Igrejas, Guilhermina Ferreira, José Penelas, Luís Alves, Paulo Costa, Ricardo Magalhães, Sandra Neves e Sílvia Fernandes. | Impressão: Unipress | Tiragem: 10 mil exemplares
PUB
4
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Destaque
Maioria dos concelhos durienses em risco elevado ou superior Depois de na primeira vaga os concelhos durienses terem, de uma forma geral, conseguido conter os números da Covid-19, a segunda vaga tem trazido à região uma nova realidade com um elevado número de infetados. Texto: Carlos Almeida
No final de maio eram 16 os concelhos da região que tinham casos registados de Covid-19, Mesão Frio, São João da Pesqueira e Tarouca mantinham-se sem casos, uma realidade que agora é distinta, havendo casos já registados em todos os 19 concelhos da CIM Douro. Na primeira vaga da pandemia Vila Real e Vila Nova de Foz Côa foram os concelhos mais fustigados, em especial devido a surtos em lares de idosos. A capital distrital registava, no último dia de maio, um total de 154 casos enquanto Foz Côa somava 92. Atualmente, a DGS utiliza a fórmula de cálculo dos infetados, extrapolando os totais para os 100 mil habitantes de forma a classificar os concelhos na escala de risco que indica as restrições que se aplicam a cada nível. Ou seja, o número acumulado de infetados nos últimos 14 dias é calculado de acordo com 100 mil habitantes, mediante o total cada concelho é colocado num nível de risco que vai de moderado a extremamente elevado.
Esta alteração para a classificação por níveis surge depois do Governo ter decidido a adoção de medidas restritivas para os concelhos com mais de 240 casos por 100 mil habitantes quando foi declarado o Estado de Calamidade, o que levou alguns autarcas, um pouco por todo o país, a criticarem esta solução alegando que um concelho com 245 infetados e outro com 1000 infetados (por 100 mil habitantes), não tinham o mesmo nível de risco. Assim, já na revisão do Estado de Emergência foi decidido criar níveis de risco. Críticas dos autarcas Quando foi decretado o Estado de Calamidade, no início de novembro, o Governo apresentou uma lista de 121 município que classificou de “Alto Risco”, fazendo parte dessa lista 10 município da região: Alijó, Mesão Frio, Moimenta da Beira, Murça, Peso da Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, São João da Pesqueira, Tabuaço e Vila Real. A decisão governamental não foi bem aceite por todos os autarcas e Alberto Pereira de Mesão Frio e José Eduardo Ferreira, de Moimenta da Beira acabaram por ser as vozes mais
discordantes assumindo essa posição publicamente. Em declarações à Agência Lusa, Alberto Pereira afirmou-se “bastante aborrecido e triste, porque isto traz implicações para o comércio local”, acrescentando que o seu concelho era “uma ilha” nos oito meses de pandemia. Na altura, quando António Costa apresentou a lista dos 121 municípios referiu que precisamente por ser considerado uma "ilha" entre concelhos com elevada taxa de incidência de casos de infeção pelo novo coronavírus, é que o município foi incluído na lista. O autarca socialista de Mesão Frio disse, na altura, estar preocupado com as consequências da suspensão da feira para o comércio local, que apontou já estar numa "situação muito complicada". "O comércio local definhou durante os meses em que estivemos em confinamento e agora já está outra vez a passar um mau bocado", frisou. Alberto Pereira considerou que "cada caso devia ser analisado individualmente" e não com base no "critério da vizinhança". O critério para a inclusão do muni-
cípio de Moimenta da Beira na lista foi também contestado, José Eduardo Ferreira, autarca local, reagiu com alguma ironia à inclusão do seu concelho afirmando que era “um erro do Governo” talvez “associado ao excesso de trabalho que a pandemia tem exigido”, exigindo que o mesmo fosse corrigido. As contas que o autarca fez eram diferentes das do Governo, desde logo porque não entrava o número de casos surgidos no surto no Lar de Alvite. “Não tem de entrar porque se trata de uma exceção. É o próprio Governo que admite, porque são surtos localizados onde as pessoas estão em confinamento, isoladas e a serem acompanhadas no próprio lar”. Ora, retirando o surto da equação, José Eduardo Ferreira referia apenas um caso positivo verificado nos últimos 14 dias (antes da divulgação da lista), muito longe dos 24 que o concelho podia registar para ainda ficar de fora da tal lista dos 121. O tom crítico tem sido também marca em várias comunicações do autarca penedonense, Carlos Esteves de Carvalho. Não constando da lista dos municípios de “Alto Risco”, Carlos Esteves de
NOVEMBRO 2020
VIVADOURO
5
Destaque Carvalho tem dirigido as suas crítica ao Serviço de Saúde Pública do ACeS Douro Sul que, segundo o mesmo, têm falhado na comunicação com os serviços de Proteção Civil Municipal. No passado dia 10 de novembro, depois de ser conhecido mais um caso em Penedono, o autarca usou a rede social Facebook para dar conta do seu descontentamento face ao que considerou “uma atitude desrespeitadora” para com o município e os penedonenses. “Este meu contacto de hoje surge na necessidade de vos pôr ao corrente de mais uma atitude desrespeitadora convosco, por parte, novamente, dos Serviços de Saúde Pública da ACES Douro Sul. (…) 48 horas após a confirmação de mais um caso no nosso concelho um silêncio incompreensível, eventualmente lesivo e de uma falta de consideração total para com a população do nosso concelho e do seu Serviço Municipal de Proteção Civil. Começo a consciencializar-me que o direito à informação nos está a ser negado. A serenidade, resultante de uma boa informação, está a ser prejudicada favorecendo a confusão, a ansiedade e o olhar de soslaio entre as pessoas”, afirmava o autarca. Na mesma nota Carlos Esteves de Carvalho afirmava que a informação que o município tem transmitido à sua população era feita com base na informação “que, quem de direito nos faz chegar, evidenciando números muito satisfatórios, mas que não nos devem levar a euforias”, garantindo ainda que a autarquia manteve uma “postura séria” face à pandemia com uma “ação diária, interventiva, motivadora e assertiva”. Já no dia seguinte, 11/11, Carlos Esteves de Carvalho voltava a fazer uma comunicação após ter conhecimento de mais um caso no seu concelho, afirmando que “mais uma vez a Proteção Civil Municipal não teve/ tem conhecimento de nada, desconhecendo-se inclusivamente quem está em vigilância ativa no concelho”. No mesmo comunicado o autarca afirmava estar-se a viver um “regabofe” provocado pela falta de informação que provocava diversas conversas pelas ruas da vila, questionando se esta seria “uma nova lei da rolha (…) que nos priva da informação?”. Já no passado dia 19, após comunicação de um caso positivo de um aluno do 4º ano do Centro Escolar, Carlos Esteves de Carvalho voltou a
criticar as autoridade de saúde. De acordo com o autarca a Autoridade de Saúde Pública informou-o que todos os colegas desses alunos iriam fazer o teste de despistagem, informação que o mesmo partilhou com os pais dos alunos que, mais tarde, receberam uma comunicação da escola afirmando que a turma apenas iria cumprir isolamento. “À Autoridade de Saúde Pública que me transmitiu a informação enganosa e que eu não conheço de lado nenhum, quero frisar bem que EU não minto às pessoas. (…) Penedonenses, como sempre e como ontem vos disse, estou realmente ao vosso lado e SÓ ao vosso lado”, podia ler-se no comunicado. Situação atual De acordo com os dados da DGS publicados no Relatório de Situação desta segunda feira, dia 23, um total de 15 municípios da região integram a lista de resto elevado, muito elevado ou extremamente elevado. A situação mais grave vive-se em Freixo de Espada à Cinta, o único concelho da região a integrar a lista de risco extremo com um total de 2335 casos em 100 mil habitantes. Em situação de risco elevado estão
10 concelhos: Tarouca, Lamego, Sabrosa, Alijó, Foz Côa, Torre do Moncorvo, Vila Real, Murça, Armamar e Santa Marta de Penaguião. Já a lista de risco elevado conta com 4 municípios durienses: Mesão Frio, Penedono, Peso da Régua e São João da Pesqueira. O concelho de Sernancelhe é o único na lista de baixo risco com um total de 37 casos em 100 mil habitantes. Medidas por grau de risco As últimas medidas de contenção da pandemia, que estão em vigor desde as 00H00 de dia 24, apresentadas pelo Governo de António Costa são adequadas ao nível de risco de cada concelho, que se somam às estabelecidas para todo o território nacional. Assim, as medidas para os concelhos de Risco Elevado, Muito Elevado e Extremamente Elevado: 1. Proibição de circulação entre concelhos das 23h00 de dia 27 de novembro às 5h00 de dia 2 de dezembro e das 23h00 de dia 4 de dezembro às 5h00 do dia 9 de dezembro (com as exceções previstas na Lei); 2. Suspensão de atividades letivas, tolerância de ponto e apelo à dispensa de trabalhadores do setor privado nos dias 30 de novembro e 7 de
Fonte: DGS no dia 23 de novembro de 2020
dezembro, exceto trabalhadores dos serviços essenciais; 3. Uso obrigatório de máscara nos locais de trabalho; 4. Proibição de circulação na via pública das 23h00 às 5h00 (com as exceções previstas na Lei); 5. Encerramento dos estabelecimentos comerciais até às 22h00 (com as exceções previstas na Lei); 6. Encerramento dos estabelecimentos de restauração até às 22h30; 7. Os Estabelecimentos de restauração e similares para exclusivamente efeitos de entrega no domicílio, diretamente ou através de intermediário, devem encerrar à 01h00; 8. Os Equipamentos culturais devem encerrar até às 22h00; 9. As Instalações desportivas, quando destinadas à prática desportiva federada, devem encerrar até às 22h30. Nos concelhos de risco Muito ou Extremamente Elevado estão ainda em vigor: 1. Proibição de circulação aos sábados, domingos e feriados entre as 13H00 e as 05H00; 2. Nos dias 30/11 e 07/12 os estabelecimentos comerciais encerram às 15H00 ▪
6
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Vila Nova de Foz Côa
Azeite de excelente qualidade mas com ligeira quebra de produção A campanha de azeite 2020 decorre a todo o gás pela região duriense. Em Almendra, freguesia do concelho de Vila Nova de Foz Côa, a empresa CARM é uma das que produz o “ouro líquido”, como muitos lhe chamam.
Marisa Ribeiro é enóloga e responsável pela qualidade dos vinhos e azeites da empresa, a nossa reportagem foi ao seu encontro para perceber como decorre a campanha deste ano, bem como as implicações que a pandemia Covid-19 tem tido no negócio do azeite. De uma forma genérica, como tem corrido a campanha deste ano em termos de qualidade e quantidade? Em termos de quantidade estamos a apontar para uma quebra mais ou menos de 10%. Em termos de qualidade acho que vai ser um bom ano de azeite até porque a azeitona mesmo madura está completamente sã, não são visíveis sinais de qualquer problema. Nós começamos a laborar muito cedo, na primeira quinzena de outubro, e temos azeites muito bons, afigura-se um excelente ano. Está mais ou menos na linha do que
aconteceu com os nossos vinhos onde apesar da quebra de cerca de 20% a qualidade é muito boa. O consumo de azeite está cada vez mais presente na nossa alimentação? Embora o azeite seja usado desde sempre, as pessoas mais velhas não apreciam o azeite como hoje se faz. Normalmente era usado simplesmente para cozinhar, hoje já se vê, por exemplo, o azeite a ser usado como uma entrada, em vez da manteiga. Esta mudança exige que o azeite tenha uma qualidade acima da que havia antigamente, um maior cuidado na sua elaboração. Mas, em Portugal, sabemos consumir azeite? Nota-se que ainda há muito a aprender, em especial quanto ao tipo de azeite que se consome porque este é um produto que não tem uma durabilidade muito grande. Apesar disso considero que estamos no bom caminho e é cada vez mais notório que em Portugal as pessoas se começam a preocupar em comprar bom azeite, em especial aquele que é para ser consumido cru. Isso nota-se muito no número de vendas no mercado nacional. Antes este tipo de azeites, mais ácidos e picantes, eram essencialmente para exportação. É um produto que faz bem a tudo, é muito mais saudável comer uma torrada com um fio de azeite do que com
> Marisa Ribeiro
manteiga, por exemplo, como faz a minha filha, algo que no meu tempo era impensável. É um setor que ainda tem margem de crescimento? Há bastante espaço de crescimento e cada vez há mais empresas a fazer azeite. A CARM foi das primeiras mas hoje em dia quase todos os produtores que têm uma marca de vinho acabam por ter acoplada uma marca de azeite, é uma mais valia. Nós estamos a entrar em mercados novos como a Suíça ou a Alemanha onde não estávamos a vender mas que agora já estamos. São mercados onde há muitos emigrantes portugueses que acabam por procurar muito o azeite português.
Este ano fica marcado pela pandemia Covid-19. É uma situação que vos preocupa olhando para o mercado do azeite? Sim, é preocupante a nível global e não só no azeite mas em todos os produtos. Embora o azeite seja um bem essencial mesmo assim, se a economia decrescer como há sinais, as pessoas vão começar a cortar e isso preocupa-nos este ano ainda mas mais ainda porque não sabemos como será 2021. Nós fizemos uma campanha normal, a pensar que vamos ter aumento de vendas e que tudo vai correr bem mas é sempre um risco que corremos porque também não podemos ter o caso de os clientes pedirem azeite e nós não o termos para fornecer. ▪
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
Concurso de Vídeo para assinalar Direitos das Crianças A Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Armamar está a promover um concurso de vídeo no âmbito do trigésimo primeiro aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança que se celebra a 20 de novembro próximo. “Eu Tenho Direito a…” é o mote para que as crianças e jovens do concelho de Armamar se envolvam através de dinâmicas digitais alusivas ao tema e, individualmente ou em equipa, criem vídeos representativos dos direitos constantes na Convenção. Os trabalhos devem ser enviados até 13 de novembro às 22 horas para o endereço eletrónico cpcj.armamar@ cnpdpcj.pt. São depois divulgados na
página de Facebook da CPCJ de Armamar e haverá prémio para os dois que conseguirem mais gostos, um na categoria individual e outro em equipa. A CPCJ de Armamar, considerando a falta de valorização e de cumprimen-
to adequado dos direitos das crianças, pretende com esta ação, constante do seu plano anual de atividades, sensibilizar as crianças e os seus cuidadores, pais e professores, para a importância do respeito pelos direitos das crianças.
Jornadas Sociais de Armamar online O Proativar CLDS 4G e a Rede Social de Armamar organizam no próximo dia 26 a décima edição das Jornadas Sociais, este ano em registo online. O programa incide de forma especial no impacto que a pandemia Covid-19 tem provocado na sociedade, e concretamente junto dos públicos mais vulneráveis. Será feita uma abordagem multidimen-
sional do impacto da pandemia nas crianças e jovens, nos idosos e nas famílias, perceber de que forma esta afeta a gestão emocional de cada um e que novas estratégias foram criadas para a adaptação a esta nova realidade. Serão ainda debatidos outros temas de interesse, não só para os profissionais da área da ação social, como também da comunidade em geral. ▪
Mensagem do Presidente Caras e caros Armamarenses, O Concelho de Armamar registou, desde a semana passada, um aumento exponencial do número de cidadãos infetados pelo coronavírus. É certo que todos reconhecemos o civismo e o sentido de responsabilidade que todos os Armamarenses têm demonstrado desde março, altura em que a pandemia do COVID-19 veio marcar o nosso dia a dia. A Câmara Municipal tem feito tudo o que está ao seu alcance para manter Armamar afastada de cenários mais dramáticos. Levámos muito a sério, desde a primeira hora, o processo de acompanhamento da situação, tomando as medidas necessárias, sempre em articulação com várias entidades: as autoridades locais e regionais de saúde, as IPSS do Concelho, o Agrupamento de Escolas, as Juntas de Freguesia, os Bombeiros Voluntários e a
GNR. E assim vai continuar! Estávamos todos avisados para o facto de a aproximação do inverno trazer consigo um agravamento da pandemia. É por isso que vos peço que tenham ainda mais cuidado, estejam ainda mais atentos às indicações das autoridades e respeitem escrupulosamente as indicações que forem veiculadas. Quero aqui expressar votos de rápidas melhoras aos meus conterrâneos infetados, certo de que tudo vai correr pelo melhor. A Câmara Municipal está, como sempre esteve, disponível para prestar auxílio a todos os que dele necessitem. Juntos vamos vencer esta batalha inédita nas nossas vidas. Contem comigo porque eu sei que conto convosco! Cordiais cumprimentos, João Paulo Fonseca
7
Armamar
Recorde-se que a Convenção sobre os Direitos da Criança tem por base quatro pilares fundamentais: a não discriminação, o interesse superior da criança, a sobrevivência e desenvolvimento e a opinião da criança. ▪
8
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Vila Real
Regia Douro Park adapta-se à nova realidade com lotação quase esgotada Ultrapassados já os quatro anos de existência, o Regia Douro Park tem neste momento a sua capacidade quase esgotada. A pandemia trouxe novos desafios à gestão do parque que em 2021 quer continuar a crescer. O VivaDouro esteve à conversa com o diretor do parque, Nuno Pinto Augusto. Este ano o Regia Douro Park celebrou 4 anos de existência. Que balanço faz deste tempo? É um balanço positivo. No ano passado atingimos quase a plenitude de ocupação dos espaços com a totalidade das salas disponíveis para arrendamento, e mesmo com os espaço de co-work que têm sido adaptados de forma a que possamos aceitar mais empresas e apoiar mais empresas. Fechamos o ano de 2019 com mais de 80 empresas no Regia Douro Park, cerca de 400 funcionários a trabalharem diariamente. O volume total de todas as empresas ascendeu aos 50 milhões de euros. Além da taxa de ocupação hoje no parque ser bastante elevada, a taxa de mortalidade das empresas que optam por se instalar aqui é muito reduzida. Têm sido muito poucos os projetos que não têm tido sucesso e há projetos que acabam por sair por atingirem uma dimensão que já não é compatível com os espaços que temos disponíveis. Ainda há espaço para crescer? O Regia Douro Park precisa rapidamente de aumentar o seu espaço, estamos atentos aos fundos comunitários. Ainda temos alguns espaços para duplicar a nossa capacidade de incubação e eram projetos que gostávamos de realizar num curto espaço de tempo. Que tipo de empresas solicitam o Regia Douro Park? Temos todo o tipo de empresas. A nível de incubação as áreas de negócio
são imensas e muito diversas, desde as novas tecnologias, engenharia, consultoria, gestão florestal, ambiente, e muitas outras. Que tipo de solicitações são feitas pelas empresas e que o Regia não tem ainda capacidade de resposta? Não temos nenhuma lacuna em especial. Temos uma equipa que se adapta com muita facilidade e que tenta entender as necessidades das empresas. Nesta fase de pandemia estamos um pouco mais limitados na questão do relacionamento. Uma das grandes vantagens deste parque é a intensificação das redes de contactos entre as empresas, organizávamos mensalmente eventos, fazíamos muito trabalho de networking e formação que tem sido muito limitada pela impossibilidade do contacto social. E olhando pelo outro lado, qual é a maior valia do Regia Douro Park? Desde logo a escala, é uma incubadora que tem 80 empresas. Em todo o interior não há nenhuma incubadora que tenha esta dimensão. O interior é muito pobre até no seu tecido empresarial. A grande vantagem do Regia Douro Park em ter conseguido isso é ter conseguido uma massa crítica que lhe permitiu acolher algumas empresas com alguma dimensão e experiência no mercado. Como o próprio nome indica, a vantagem desta incubadora (e de outras do género) é apoiar e dar carinho às empresas, ajudá-las a ultrapassar algumas dificuldades com a nossa experiência, know-how e rede de contactos, não pondo em causa a sua própria existência. Em termos de custos, é muito dispendioso alugar um espaço no Regia Douro Park? Não. Nós temos duas modalidades, temos o arrendamento de um escritório único que o custo rondará os 300 euros mensais com os custos consumíveis incluídos. Depois temos os espaços de co-working em que as empresas ocupam apenas uma secretária, com oportunidade de acederem aos espaços comuns, salas de reuniões e a receção de correio ou enco-
> Nuno Augusto, Diretor do Regia Douro Park
mendas, com um custo que ronda os 50 euros mensais. O ano de 2020 ficará sem dúvida marcado pela pandemia Covid-19. Que impacto teve no trabalho do Regia? No Regia Douro Park o impacto não tem sido grande, tem sido mesmo residual. Nos meses de Março e Abril algumas empresas, até porque deixaram de utilizar o espaço, libertaram as instalações mas entretanto voltaram e entraram novas empresas. No que diz respeito às nossas atividades como motor de desenvolvimento, como uma criação de rede e de momentos de projeção e animação da cidade, aí o impacto é enorme. Nós tivemos que abandonar quase todos os nossos projetos, fizemos uma readaptação da nossa estrutura para apoiar as nossas empresas e mesmo empresas fora do parque. Como é que se contraria isto? Houve uma fase em que estivemos quase todos em teletrabalho, houve uma fase de arrefecimento da nossa atividade. Depois numa segunda fase voltamos ao trabalho e criamos plataformas de apoio ao comércio local e às empresas locais. Agora estamos a iniciar uma terceira fase em que re-
inventamos os momentos que tínhamos em conjunto, passando-os para sistemas completamente digitais. Olhando já para 2021, o que poderá trazer o próximo ano ao Regia Douro Park? Neste momento estamos a projetar com base nos dados que temos, as nossas perspetivas não são tão otimistas como as de algumas pessoas, no entanto estamos a alterar a nossa forma de interação com as empresas para o digital. São dois projetos que estamos a iniciar este mês, a criação de uma newsletter mensal informativa tanto para o Regia Douro Park como para todas as empresas que estão inscritas na nossa plataforma, e as Conversas à quinta feira que vamos tentar, ao fim do dia, reunir todas as empresas online para fazermos uma reaproximação e uma reafirmação da nossa rede interna. Nesta plataforma vamos encaixar também algumas empresas que estão fora do nosso espaço mas que querem pertencer ao nosso meio e conhecer melhor o Regia, dando-se também a conhecer. Além desses dois momentos vamos arrancar também com um conjunto de debates mensais onde iremos discutir temas da atualidade, tudo em formato digital neste momento. ▪
NOVEMBRO 2020
VIVADOURO
9
Carrazeda de Ansiães
Concurso aberto para a atribuição de Bolsas de Estudo, ano letivo 2020/2021 O Município de Carrazeda de Ansiães tem abertas, até ao dia 15 de dezembro, as candidaturas às Bolsas de Estudo para o presente ano letivo. As candidaturas serão apresentadas através do preenchimento de boletim em modelo próprio, disponibilizado no Gabinete de Apoio ao Mu-
nícipe Câmara Municipal e no sítio institucional do Município de Carrazeda de Ansiães. A apresentação das candidaturas poderá ser entregue presencialmente no Gabinete de Atendimento ao Munícipe, ou enviada através de correio, em carta registada, com aviso de receção.
A autarquia informa ainda que para este ano letivo serão colocadas a concurso o seguinte número de bolsas: 5 para o ensino secundário, 3 para o ensino pós secundário (alunos com residência no concelho de Carrazeda de Ansiães), 3 para o ensino pós secundário (alunos não residentes neste
concelho, com frequência dos cursos ministrados em Carrazeda de Ansiães) e ainda 14 para o ensino superior. Para mais informações poderá contactar o Gabinete de Apoio ao Munícipe da Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães através do telefone 278 610 200. ▪
Equipamento de recolha de dejetos de animais de companhia
Município instala infraestrutura de apoio a testes Covid-19
O município de Carrazeda de Ansiães instalou equipamentos de recolha dejetos de animais de companhia nos jardins públicos da vila. A ideia é consciencializar os muní-
O município de Carrazeda de Ansiães instalou uma infraestutura de apoio à Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE) na realização de testes de despistagem à COVID-19. O equipamento entrou em funcionamento na semana passada e visa auxiliar logisticamente o centro de saúde, para que os cuidados prestados aos munícipes continuem a ser feitos de forma segura e com qualidade, além dos testes estão a decorrer a vacinação da gripe sazonal, as consultas e exames. De salientar que os testes à COVID-19 a realizar no contentor instalado pelo município junto ao centro de saúde são da responsabilidade das autoridades de saúde. ▪
cipes para a importância da limpeza dos espaços públicos durante os passeios dos animais de companhia de forma a juntos mantermos o concelho limpo. ▪
Corrida Sempre Mulher virtual de Natal
Plano de Ação de Reabilitação Urbana
O Município de Carrazeda de Ansiães em colaboração com a Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com Cancro da Mama promovem a Corrida Sempre Mulher Virtual de Natal. Se quiser aderir a esta iniciativa pode inscrever-se na Loja Interativa de Turismo, até ao dia 30 de Novembro, para a aquisição dos kits de par-
No âmbito do Plano de Ação de Reabilitação Urbana (PARU) o município de Carrazeda de Ansiães vai requalificar o espaço público, nomeadamente infraestruturas, passeios e vias de circulação na Rua dos Bombeiros Voluntários, Rua da Srª da
ticipação, com o custo unitário de 6 euros. A atividade decorrerá num dia à sua escolha, entre os dias 24 e 30 de Dezembro. Seja solidário, participe nesta iniciativa e ajude a ajudar a Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com Cancro da Mama. ▪
Graça, Rua Adelino Amaro da Costa, Rua de Santa Águeda e Travessa de Santa Águeda. O trânsito estará condicionado nestas ruas e pede-se aos munícipes que circulem com precaução uma vez que o trânsito far-se-á alternadamente. ▪
10
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Região
Pandemia sufoca restauração O impacto da pandemia de coronavírus é sentido um pouco por toda a economia, numa crise diferente da última que se viveu. Mas os efeitos não são iguais em todas áreas de atividade, afetando particularmente a restauração, que poderá ver quedas entre 32% e 54% no Valor Acrescentado Bruto (VAB) do setor em 2020. As estimativas são da consultora PwC, na primeira edição de um estudo sobre a visão setorial dos impactos do Covid-19. A atividade do setor tem sido prejudicada pelas medidas de segurança implementadas e pelo risco inerente da deslocação a espaços fechados. A quebra no VAB do setor poderá variar entre -52% e -32%, de acordo com as projeções da consultora, que sublinha que as restrições impostas “irão condicionar a rentabilidade das empresas por um período que se prevê bastante longo”. Tal como acontece um pouco por todo o país, também na região duriense este impacto é sentido. Na cidade de Peso da Régua, o restaurante Manuel da Aninhas é um dos mais antigos ainda em atividade. Mariana Alves, uma das caras do restaurante, não esconde o descontentamento com as medidas que foram tomadas para o setor. “Desde que as medidas foram implementadas na restauração foi fatal, praticamente de um dia para o outro o negócio baixou para menos de metade, basicamente.
> António Almeida
Para nós, como negócio, esta situação é muito injusta visto que até já há algumas restrições, como por exemplo só podermos servir agregados familiares ou ter apenas 6 pessoas por mesa, etc. Depois olhar para os supermercados e poder estar uma família inteira lá dentro a fazer compras o dia tudo é tremendamente injusto. Neste momento, desde meados de outubro, com as novas medidas, é drástico. Olhamos para a conta da empresa e notase. Os custos fixos mantém-se, não despedimos ninguém, temos que pagar água, luz, gás, etc, portanto é um ano muito mau. Apesar de tudo, eu acho que se calhar na nossa casa não se nota tanto como naqueles restaurantes que têm o seu negócio muito virado para o turismo, nós temos os diários que nos têm ajudado a sobreviver apesar de haver uma quebra porque com as pessoas em teletrabalho e metade dos lugares na sala já é um handicap”. Apesar da situação atual a empresária afirma que o verão serviu para compensar algumas quebras apesar de este ano ter sido notória uma mudança no tipo de turista que servia no restaurante. “O verão foi bom, muito bom. Em agosto e setembro o turismo português veio com muito dinheiro ao contrário do turismo estrangeiro. Foi uma evidência que constatamos, há dois anos faturamos muito mas trabalhamos muito mais, este ano com os portugueses foi diferente, é um cliente que come bem (porque nós gostamos de comer e beber) e foi ótimo, acabando por compensar de alguma fora os meses que tivemos encerrados, não na totalidade obviamente”. Preocupante é a situação atual com as restrições impostas e a possibilidade de ao fim de semana apenas poderem trabalhar em regime de take away ou entrega em casa, algo que Mariana Alves afirma não
se coadunar com o esquema de trabalho que têm montado. “Nós optamos por fechar ao sábado porque nesse dia o nosso serviço é à carta e não faz sentido nesta fase. Somos um restaurante de comida típica e a possibilidade de entrega ao domicílio não faz, para nós, grande sentido mas é uma hipótese que temos ponderado. O município de Matosinhos, por exemplo, criou um sistema próprio de entregas de comida ao domicílio mas essa é uma situação que depende de município para município e aqui, por exemplo, não sei ela seria viável. Da nossa parte é quase impossível porque temos já a equipa muito reduzida e não estamos preparados para essa situação, eu não gosto de comer a comida fria quando chego a casa e isso poderia acontecer com as entregas que fizéssemos. Estamos a ponderar isso mas temos que analisar como fazer porque estar a fazer um mau serviço também não é solução para nós”. Também na cidade de Lamego a restauração tem sofrido com as medidas atualmente em vigor. António Almeida é proprietário do restaurante Sabores d’El Rei que abriu portas a 20 de agosto, já em plena pandemia. “Abri o restaurante em agosto porque já tinha tudo planeado nesse sentido, já tinha adquirido o espaço e tinha já contratualizado com todos os serviços tendo em conta esse plano e decidi avançar para manter o que tinha acertado com toda a gente. Também porque tinha esperança que esta situação fosse melhorar, nunca pensei, por exemplo, que o mês de setembro fosse tão mau. Têm sido tempos bastante difíceis, há cerca de um mês ainda se iam vendo alguns turistas mas daí para cá já tenho tido noites em que não faturo sequer 1 euro”. António Almeida esteve emigrado na Suíça
> Mariana Alves
durante mais de três décadas, regressou a Portugal e investiu as suas poupanças neste negócio, para os quais tinha muitos planos. “Tenho uma filha com 10 anos e queria que ela estudasse cá. Em 31 anos emigrado na Suíça sempre trabalhei na restauração. Cheguei a ter um negócio meu com mais dois sócios mas sempre foi este o meu ramo. Investi aqui também na restauração porque é o negócio que gosto, é aquele em que me sinto bem. Tinha muitas ideias para o negócio como servir pratos mais diferenciados e terminados junto à mesa do cliente mas neste momento não posso coloca-las em prática, com as medidas que existem fica difícil. Estamos a trabalhar com uma carta limitada, muito pequena. Há algum desânimo mesmo sendo muito positivo como normalmente sou. Uma pessoa investe aqui muito dinheiro e depois resta manter a esperança que isto vai mudar e que as pessoas vão regressar aos restaurantes mas não é o caso”. O empresário afirma que está a fazer refeições em sistema de take away mas não tem capacidade para fazer entregas ao domicílio. Apesar de alguma esperança António Almeida receia que a época de Natal esteja perdida. “Estamos a servir refeições para Take-away mas não estou preparado para fazer entregas ao domicílio apesar de ponderar essa hipótese, dependendo do que o futuro nos poderá trazer. Temo que não nos deixem trabalhar agora na época de Natal que é sempre uma boa época de trabalho porque há os jantares de empresa e de grupos de amigos e famílias. Continuo a ter esperança e vou lutar com todas as minhas forças para que este seja um negócio de sucesso”. ▪
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
Adjudicação da obra do campo de futebol de 11 Foi adjudicada a obra de construção do Campo de Futebol de 11 em S. João da Pesqueira. Trata-se de uma infraestrutura inexistente no nosso concelho e por isso há muito desejada, um novo equipamento de apoio à atividade desportiva, recreativa e de lazer. A Infraestrutura, localizada no lugar do Pombal junto à escola e aos equipamentos desportivos, potencia-se, permitindo a sua fruição em ambiente escolar, associativo e por toda a
11
São João da Pesqueira
população, promovendo o desporto e criando melhores condições e hábitos saudáveis, designadamente na população mais jovem. O piso do campo de jogo será em relva sintética, com carga de areia de sílica e granulado, e o prazo de execução desta obra é de 120 dias a contar da assinatura do auto de consignação. Para além do campo de futebol, o espaço exterior possibilitará ainda a coexistência de outras atividades no futuro. ▪
Obra de “requalificação das bateiras’’ - lançamento do concurso público Foi publicado em Diário da República o concurso público destinado a adjudicação da obra de requalificacao do lugar das Bateiras. Este projeto há muito ambicionado e nunca concretizado vai finalmente avançar! Como porta de entrada no Concelho, o projeto tem por objetivo a requalificação das zona das Bateiras, potenciando do ponto de vista turístico um espaço de elevada qualidade paisagística. O terreno será devidamente delimitado e dotado de estruturas que permitam atividades geradoras
de fluxos turísticos e usufruto dos rios e da paisagem, com um ambiente visual agradável, que potencie o bem-estar e conforto humano, para quem aceda ou esteja na área de intervenção ou tenha acesso visual para o mesmo. A obra terá um valor de quase 1 milhão de euros, financiada pelo provere a 85%, e o seu inicio previsto para os primeiros meses de 2021 e terá um prazo de execução de 210 dias. Consulte o Concurso Público da obra de Requalificação do Lugar das Bateiras em www.sjpesqueira.pt ▪
Medida – disponibilização de medicamentos e bens essenciais em todo o concelho O Município de S. João da Pesqueira, atento às dificuldades e restrições que todos atravessamos, com o aumento diário do número de casos de infeção por Covid 19, que tem causado cada vez mais limitações na vida de todos os munícipes, em particular nos casos de idosos (a partir dos 65 anos), pessoas com doenças crónicas graves, problemas de mobilidade, portadores de deficiência e sem meios de transporte próprios que residam sozinhas ou com outras pessoas na mesma situação, decidiu reativar a medida de Distribuição de Medicamentos e Bens Essenciais em Todo o Concelho e criar uma Linha de Apoio Psicológico. Para esta finalidade vão ser disponibilizados técnicos do Município de
apoio a esta medida. Coordenação da Medida: Município de S. João da Pesqueira – Serviço de Ação Social. Público-Alvo: Idosos (65 anos), pessoas com doenças crónicas graves, problemas de mobilidade, deficiência e sem meios de transporte próprios que residam sozinhas ou com outras pessoas na mesma situação. Como requerer? • Os pedidos dos bens são feitos exclusivamente às Juntas de Freguesia em horário afixado pelas mesmas. • Linha telefónica de atendimento para esclarecimentos de dúvidas 254489999 Mais Informações em www.sjpesqueira.pt ▪
12
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Entrevista
Joana Amaral Dias:
que cargo de governação gostaria de ocupar no nosso país? Eu, na política portuguesa como no resto da minha carreira e em toda a minha vida, nunca tenho o objetivo de ocupar um ou outro cargo. Estou disponível para servir o meu país, como sempre estive desde que sou adulta, desde que haja uma oportunidade e que me faça sentido.
“Defendo o coletivo, mas não a acefalia. Nem, tampouco, a perda de valores”
Texto: André Rubim Rangel Como portuguesa que é, mesmo nascida em Luanda, de que modo vê a relação, empatia e atenção atual de Portugal perante a sua ex-colónia, tanto no antes como no depois – agora – da governação de José Eduardo dos Santos? Durante muitos anos a relação do Estado português com o Estado angolano foi altamente reprovável, porque de facto nós passamos o tempo a lavar o dinheiro e os negócios sujos de Angola em Portugal. Prestou-se esse papel, sobretudo durante a cleptocracia de José Eduardo dos Santos. Agora as coisas mudaram, naturalmente, um pouco com o novo regime. Mas, sem dúvida, que foi lamentável que Portugal, primeiro, tivesse oprimido o povo angolano e, depois, tivesse contribuído para a sua opressão, num segundo momento. O wikipédia apresenta-lhe não somente enquanto ‘psicóloga’, mas também como ‘política’. Ainda se sente uma política ativa, mesmo desfiliada de partidos, ou apenas uma comentadora política? Sou ambas: uma comentadora política e política ativa. Não faço política tradicional, das formas mais convencionais, mas tenho um ativismo político que se tem manifestado já mesmo depois da minha candidatura à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, pelo «Nós, Cidadãos!». Tem-se manifestado em diferentes momentos, como por exemplo com a denúncia da auditoria à Caixa Geral de Depósitos ou a participação em diversos movimentos e ações cívicas. Mais recentemente pela divulgação e pela transparência dos fundos europeus e pela reflorestação do Pinhal de Leiria.
Sente saudades do Bloco, donde terá saído certamente com mágoa, e do Parlamento? Aquele Bloco de quando foi deputada ainda é o mesmo de agora? Parecendo um Bloco incoerente com o que diz e, depois, com o que faz – diferente do que diz – vendo-se as declarações dos últimos anos de Catarina Martins (nas TV e publicadas online), contrapondo aos apoios dados à «geringonça»… Eu não saí do Bloco de Esquerda propriamente com mágoa. Fui eu que saí, que tomei a decisão de não pertencer mais. Entreguei uma carta de desfiliação enquanto militante, mas saí sem mágoa. Porventura, desapontada e dececionada, com alguma desilusão pela razão justamente da segunda parte da pergunta: porque o Bloco mudou o seu código genético desde altura em que se fundou, no princípio do século XXI, até à data. Mudou estruturalmente num trabalho de reengenharia genética no qual não me revejo. O Bloco, por um lado, nunca chegou a atingir o seu objetivo máximo de ser movimento dos movimentos e, portanto ser movimento que dava destaque, corpo, voz, expressão, magnitude a outros movimentos sociais – nunca alcançou-o plenamente –; por outro lado, na verdade foi perdendo um pouco o que tinha conseguindo: o de ser uma voz contestatária e rebelde. Nem falo nas causas fraturantes, pois às vezes acabaram por ser abraçadas com um grande enlevo por José Sócrates e pelos seus argumentos, mas falo sobretudo da parte de provocação aos poderes fácticos, aos banqueiros, às grandes energias, etc.. E isso o Bloco perdeu: parece um pouco desmaiado atrás do balcão, o que é pena. Podemos dizer que não encontrou verdadeiramente na política e nos aparelhos partidários aquilo que realmente desejaria, ao ver as suas
sequentes passagens: no BE, um convite do PS, no «Juntos Podemos» e no «Nós, Cidadãos!», por quem concorreu nas últimas eleições autárquicas? Não encontrei no BE como não encontrei em nenhum outro partido, até agora. De facto “a política é uma porca”, como dizia o Bordalo Pinheiro, e é difícil encontrar um sítio onde se possa fazer política partidária sem ser na ótica do rebanho. Eu defendo o coletivo, bem como opiniões construídas coletivamente também partilhadas, mas não a acefalia. Nem, tampouco, a perda de valores e de princípios. Mas continuo esperançosa e, como referi há pouco, continuo ativa e na luta. No fundo, o que espera ainda da Política nacional? Bom, acho que Portugal tem grandes desafios. Desafios gigantes, diria mesmo «adamastorenses», pela frente, nomeadamente: a modernização do país, que continua atrasada e adiada; os níveis de educação, ainda muito aquém do que seria desejável; a atualização desde a administração pública a outras empresas, com a formação aos próprios empresários e gestores; o combate às desigualdades sociais e o combate à corrupção. Portanto, Portugal tem tarefas enormes em agenda. Mas, no fundo, o que lhe falta e à política nacional, é um plano macro, de desígnio nacional. E não fazer apenas a gestão de “mercearia”, a uma semana ou a um ano, mas conseguir encontrar os grandes desafios para a nação, pelos quais lutar e construir. Assim, numa lógica de curto-prazo, nunca nos conseguiremos organizar sem olhar para o futuro. E acho que isto é um dos nossos calcanhares de Aquiles. O que pode a política beneficiar, ainda, de si e
Há 11 anos fez uma afirmação pública, de certa forma acalorada: “não existe democracia em Portugal”. Continua a reiterar essa ideia e o que a leva exatamente a tal, ou não? A democracia em Portugal é ainda muito magra e muito imatura. Basta pensar que, há pouco tempo, o António Costa chegou a fazer uma lei – não foi só uma afirmação destemperada, foi uma lei! – a tentar impor a aplicação móvel «CovidStayAway» duma forma absolutamente totalitária. O primeiro-ministro chegou a dizer, então, que não era autoritário se as pessoas colaborassem. Ora bem, se esta frase fosse proferida pelo líder Trump ou Bolsonaro ou da República Popular da China seria automaticamente acusada, no mínimo e na melhor das hipóteses, de tirania. Este é só um exemplo, poderia dar mil. Portanto, Portugal é ainda uma democracia, de facto, muito pouco robusta e muito pouco experiente. A corrupção é obviamente, como mencionava antes, um dos sintomas efervescentes, justamente da sua debilidade e da sua vulnerabilidade. Enfim, o que há a fazer sobre isso não é meter em retaguarda, antes pelo contrário: é apostar ainda mais forte nas instituições democráticas. Quanto ao comentário político regular que tem, num canal televisivo polémico dos nossos Media, qual aquele que alguma vez mais lhe custou e não gostou de comentar? Bem como o oposto: qual foi? E porquê, para ambos? Eu, por norma, já trabalhei em todos os canais televisivos portugueses; por norma, visto essa camisola. Trabalho na CMTV, estou lá desde o primeiro dia, da sua fundação e da sua inauguração. Nunca tive qualquer problema em debater em qualquer canal, nem com qualquer comentador desse debate. Eu penso que os verdadeiros democratas são aqueles que vão a jogo. Não são aqueles que impõem essas regras de só debater em certas circunstâncias, em determinados contextos e com certas pessoas. Portanto, considero-me uma democrata e vou nesse jogo. Nunca me custou realizar nenhum debate. Há comentários não políticos que gosto menos de fazer com algumas pessoas menos bem formadas, por exemplo no mundo da bola. Mas isso são outros carnavais. Peço-lhe que trace aqui um perfil psicológico da nossa Sociedade e que o analise cronologicamente: como era há 10 e 5 anos vs. como é agora e como será daqui a 5 / 10 anos… Penso que aquilo que me pede está para além de uma tese de pós-doutoramento. Tenho muitas dificuldades em responder, embora me considere – ainda assim – uma pessoa com alguma capacidade de síntese. Aquilo que lhe posso dizer é que, de facto, com a entrada na CEE, em 1986, Portugal mudou radicalmente o seu perfil. E houve um avanço qualitativo, deixando de ser
NOVEMBRO 2020
VIVADOURO
13
Entrevista apenas mudanças quantitativas. Houve esse salto. Quem viu e viveu nos anos 80, e tem aí memórias desses tempos, reconhecerá perfeitamente que as mudanças são muitas. Basta olhar para o ensino superior e para a sua massificação. Antes disso, este tipo de ensino era efetivamente para os filhos dos doutores, era restrito e absolutamente elitista. Praticamente entrava na faculdade, salvo raras e honrosas exceções, quem tinha já pais licenciados. A tal massificação do ensino superior, nos anos 90, abriu porta a uma sociedade mais justa, a um verdadeiro elevador social. Eu penso que, se tivesse de eleger uma das marcas d’água da transformação da nossa sociedade, seria essa! Definitivamente. E claro que a corrente tecnológica, que percorreu todo o mundo, acelerou muito destes processos. O futuro, vejo-o um pouco mais sombrio. Sobretudo porque, depois de termos sido castigados com a crise da troika, parece que estamos a ser fustigados com esta crise económica gravíssima e social, que – para mim – vem com a péssima gestão da covid-19 na Europa. E Portugal não é exceção! Portanto, temo bem que os próximos 10 anos sejam apenas de recobro, de recuperação, e não de expansão! Em termos da alma e motivação das pessoas – que a psicologia, na qual é licenciada, estuda –, tão afetada nestas vagas pandémicas, que “vacina” poderá curar eficazmente a saúde mental e a paz interior delas e que não está à venda? De facto, é verdade! Mesmo que vacina fosse achada amanhã, as marcas e as cicatrizes sujas e psicológicas deixadas por estas experiências globais de engenharia social – que de repente vão contra tudo aquilo que é mais essencial na natureza humana da sua sociabilidade – vão ser profundas! Para muito tempo depois, mesmo que a vacina seja agora encontrada em novembro de 2020, penso que essas marcas vão perdurar bastante. O ser humano, ele é Homo Sapiens Sapiens justamente por causa da sua sociabilidade. É porque nós somos animais gregários, de grupo; é porque a nossa gravidez, a gravidez do ser humano, é longa; é porque a relação de dependência do bebé humano com os seus pais é longuíssima, ao contrário da dos mamíferos superiores ou mesmo da de outros primatas superiores. Deste modo, é por causa da sua sociabilidade que o ser humano é ser humano. Assim, roubaram-nos, fomos castrados. Privados daquilo que é, de facto, o centro e nervo da nossa alma . Isso terá consequências que estão ainda por estudar, mas que serão muito graves e muito irreversíveis. Como professora assistente que é no Ensino Superior, quais as suas principais preocupações naquilo que transmite e recebe – no processo ensino-aprendizagem – dos seus alunos? Aquilo que eu procuro sempre com os meus alunos é ensiná-los a pensar. É, sobretudo, a desafiar aquilo que lhes é transmitido, terem uma opinião própria – divergente da minha –, a questionarem aquilo que eu afirmo, a desafiarem as suas fontes e a procurar serem sempre melhores do que aquilo que lhes é apresentado à sua frente. Portanto, é a única coisa que sempre me interessou no Ensino. Por isso, gosto muito mais de aprender do que dar aulas.
Sei que tem um cuidado especial com a sua alimentação e com o seu corpo. E no Douro há uma boa tradição culinária, com pratos típicos. Aprecia-os? Gastronomicamente falando, sempre tive dois fraquinhos pelo Norte e pelo Alentejo. Talvez por serem dois dos sítios do país onde se coma melhor, na minha opinião. E é onde as pessoas são mais calorosas, de maneira diferente entre si. Mas aquilo que encontro no Douro, e no Norte em geral, é uma grande abertura, uma grande generosidade, uma grande disponibilidade para o encontro e para a espontaneidade. Eu senti mais isso quando vim de Coimbra para Lisboa: custou-me muito adaptar à frieza, ao distanciamento social dos ‘alfacinhas’ – para usar uma expressão agora em voga. Ainda me custa, por isso sinto-me mais em casa quando estou no Norte. Quando se fala no Douro, o que lhe diz particularmente? E se tivesse de o escrever, como descrevê-lo-ia? É quase inevitável pensar em vinho quando se pensa no Douro. Pensar na produção vinícola da região, que deve ter histórias fantásticas do povo português, do seu esforço e das suas pequenas epopeias. Porque, quando se fala dessas grandes aventuras, pensa-se sempre naquela coisa macro dos Descobrimentos. Mas, na verdade, o povo português sempre teve muitas lutas e muitas batalhas para vencer e teve o Douro para oferecer o néctar, com muita gente que teve de penar por isso. Certamente que escreveria sobre o Baco, as bacantes do Douro e todo o esforço que foi necessário para chegar até ao prazer. Percorrendo agora a sua obra publicada na meia-dúzia de livros da sua autoria, a temática geral encaixa-se nestas áreas que têm preenchido a sua vida: a psicologia e a política. Donde lhe vem e se baseia esse gosto/interesse pela loucura humana e sua investigação? (cf.,
por ex., «Psicopatas Portugueses» e «Maníacos de qualidade») Penso que não há nada mais fascinante do que o cérebro humano, a mente humana, e os seus mistérios. Porque, na verdade, há ainda muita coisa que a Ciência desconhece sobre o Universo e sobre o Homo Sapiens Sapiens. Muitas dessas perguntas, dessas incógnitas, estão ainda naquilo que é a alma, o espírito, o pensamento – chamem aquilo que quiserem – daí o meu fascínio e a minha atração por essa temática. Em «Sonhos Públicos» aborda temas como o amor, a morte, a violência, o consumismo, o poder dos Media, entre outros. Desde que publicou esse livro algo mudou / melhorou no cerne dessas temáticas e na forma como é vivida pelos Portugueses? Esse livro publiquei-o em 2018. Por isso é ainda muito recente. Não teve tempo, certamente, de tecido social para uma transformação. Penso que para a maior parte dos temas abordados, através do cinema – o cinema é um pretexto para abordar essas temáticas que apontou e poder processar, metabolizar e refletir sobre eles –, ainda é cedo para gerar mudança. Enfim, não são só portugueses, esses temas com invariáveis e dessas grandes linhas que eu discuto em assuntos públicos: são globais. Mas penso que sejam marcas deste século XXI. Qual é, neste momento, o(s) seu(s) maior(es) sonho(s) público? Nenhum sonho público. Mas uma coisa pela qual tenho lutado, para e pela sociedade portuguesa – e que vou continuar nessa batalha –, é por uma maior transparência! Não há nenhuma justificação – já que o dinheiro é público, dos contribuintes que somos e que pagamos impostos, neste século XXI e com o nível tecnológico acessível e disponível – para não haver um portal onde possamos, rapidamente e com uma linguagem simples, saber justamente quanto
se arrecadou de impostos em cada ano. Bem como qual a sua distribuição para cada uma das áreas (Saúde, Educação, etc.) e suas ramificações presentes. Pois, efetivamente, isso é que faz parte da governanção moderna e que será uma exigência básica, cidadã e cívica, nestes tempos quotidianos. Esta é uma das minhas batalhas, sem dúvida, e que ainda vai estar na arena pública durante muito tempo, infelizmente. Na breve apresentação curricular dos seus livros consta também que é ‘ativista’. Que género de ativismo pratica? E gostaria de exercê-lo mais ainda e que as pessoas a vissem/olhassem mais como tal? Como já referi, tenho estado em causas – micro e macro causas – que vou tomando como pertinentes, necessárias e justas. Associo-me a elas, luto por elas, e faço ouvir a minha voz, que vai tendo alguma expressão mediática. E, portanto, tento aproveitá-la para aquilo que eu considero que é, de facto, equilibrado e necessário para o nosso país. Ao terminar esta entrevista, o que gostaria de manifestar com relevância aos nossos leitores, que não tenha ainda sido referido e que os ajude a enfrentar estes tempos complicados? Aos nossos leitores gostaria deixar uma última palavra. Uma palavra de esperança, nestes tempos muito difíceis, em que muitas famílias perderam os seus empregos, as suas casas ou que estão com dificuldades em honrar os seus compromissos financeiros, em que os seus filhos tiveram de mudar de escola e que deixaram de fazer uma série de coisas que lhe dava gozo e prazer – que também é uma dimensão muito importante da vida. Portanto, esta é uma mensagem de esperança em que havemos todos de conseguir. Não, não é que vá ficar tudo bem, pois há coisas que vão ficar muito mal, muito difíceis, ásperas, complicadas de superar, mas é assim: isto é a vida e temos de seguir em frente! ▪
14
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Sernancelhe
Sernancelhe vendeu 15 toneladas de castanha Martaínha online A edição deste ano da Festa da Castanha foi realizada em formato digital devido às restrições impostas pela pandemia Covid-19. Num formato inovador a autarquia apostou na venda da castanha online através da plataforma Dott.pt, uma aposta que se revelou ganhadora.
Numa altura em que as grandes concentrações de pessoas não são permitidas, a Festa da Castanha, evento que reúne normalmente cerca de 50 mil participantes, foi uma das que teve que se adaptar à nova realidade. Para Armando Mateus, vereador da autarquia com quem o VivaDouro esteve à conversa, este é um formato de sucesso, na promoção do território e na economia local, que deve ser mantido e melhorado no futuro. De uma forma geral, que balanço faz a autarquia desta edição especial da Festa da Castanha? O balanço é extremamente positivo. Os objetivos que tínhamos perspetivado foram largamente ultrapassados. Obviamente que num formato completamente novo, a venda online de castanha através de uma plataforma que tem conhecimento nesta área e com dimensão nacional, a Dott.pt que inclui ainda o apoio dos CTT. Este formato de feira digital foi-nos apresentado, já experimentado com outros produtos regionais, como por exemplo a cereja, queijos ou vinho, contudo todos ainda numa fase de experiência. Mais do que a venda do produto em si vimos neste formato digital a oportunidade de continuar a divulgar a nossa castanha Martaínha, que é aquela que produzimos aqui na nossa DOP, os Soutos da Lapa, mantendo ainda a marca Terra da Castanha bastante ativa, estes eram os principais objetivos. Obviamente que escoar a castanha dos nossos produtores, que em média são cerca de 30 na Feira da Castanha, foi para nós uma preocupação até porque havia um risco de quebra do seu valor pela existência de oferta em excesso. A imagem visual desta iniciativa foi também muito elogiada, foi uma das vossas preocupações? Procuramos logo de início que esta campanha apostasse numa vertente visual muito atrativa, daí desenvolvermos uma embalagem com algum cuidado gráfico que no seu conteúdo levasse também alguma comunicação do município sublinhando a marca Terra da Castanha, no fundo procuramos
que a caixa levasse também uma experiência ao comprador. Esta iniciativa foi acompanhada de uma forte campanha de comunicação com a colocação de outdoors, participação em programas televisivos e rádio e inserções nos meios de comunicação locais. O primeiro grande impacto acabou mesmo por ser a participação no programa “Praça da Alegria”, da RTP. Após ir para o ar a Dott contactou-nos a informar que a plataforma, que ainda só tinha o produto em pré-reserva, contava já com 1 tonelada de castanha encomendada. Isto deixou-nos logo a antever uma excelente campanha. Obviamente que os CTT e a Dott vêm na nossa campanha uma oportunidade para eles também se alavancarem, trabalhando-a nos meios deles, e de uma forma bastante intensa. Reuniram-se diversas condições para que esta fosse uma iniciativa de sucesso, que totalizou no final das três semanas as 15 toneladas de castanha vendidas. Qual foi o feedback que receberam do público? O feedback foi muito positivo, as pessoas viram neste formato a hipótese de partilharem um momento único em que a Covid acabou até por ser um pouco esquecido. E dos produtores? Os produtores ficaram também bastante satisfeitos até porque conseguimos manter um preço elevado de compra ao produtor. É importante dizer aqui que a autarquia teve a função de promover uma plataforma e fazer a divulgação mas depois, toda a logística comercial é da responsabilidade da Associação Sementes da Terra que teve um compromisso com todos os produtores em que o preço pelo qual a castanha fosse vendida ele revertia na totalidade ao produtor. O objetivo sempre foi ajudar diretamente o produtor, permitindo assim colmatar as dificuldades de um ano de média produção e onde o preço da castanha ao produtor baixou muito. França e Itália estão a retomar as suas produções depois de resolvido o problema com a vespa da galha do castanheiro, que nós agora estamos a vivenciar, aumentando a presença de produto no mercado que leva ao decréscimo do preço. No próximo ano, e de acordo com as informações que vamos tendo, por esta altura a pandemia estará já controlada. Nessa perspetiva, este formato é para se manter? Este formato surge para dar resposta a uma necessidade e inicialmente pensou-se que seria uma situação pontual mas, esta pandemia também nos trouxe uma nova realidade, pautada pelo sucesso, que é a venda online através das diversas plataformas digitais. A Dott foi convidada para um programa onde se evidenciavam cinco casos de sucesso em contexto de pandemia e dentro da Dott foi escolhida a Festa da Castanha de Sernance-
lhe como um caso de sucesso dentro de outro caso de sucesso. Obviamente que com isto nós nunca mais poderemos descartar a venda online, não nos podemos desligar deste cliente que aqui encontramos. É um cliente que recebeu em casa uma embalagem não só com um produto mas com uma experiência também, através de uma brochura que apresentava o nosso concelho, locais a visitar, onde comer ou dormir, etc. Algo que desperta nas pessoas a vontade de visitar Sernancelhe no futuro. Nas redes sociais as reações foram muitas e referiam sempre não só o produto como a forma em que o receberam, prometendo uma visita em breve. Estas plataformas digitais permitem-nos, através dos nossos produtos endógenos, chegar a outros públicos e trazê-los ao nosso território para que o conheçam melhor. Com esta solução não foi possível chegar aos muitos emigrantes que estão espalhados pelo mundo, já está pensada uma forma de chegar até eles no futuro? Esta plataforma só trabalha para Portugal continental e ilhas. Recebemos centenas de mensagens de emigrantes saudosos por este ano não poderem estar presentes na Festa da Castanha e por não poderem estar a consumir a castanha da sua região. Esta é uma situação que pretendemos solucionar até à próxima edição. Conseguimos colmatar esta falha com a ajuda de alguns dos nossos grandes produtores que acabaram por fazer essa ponte, expedindo diretamente para os emigrantes. Temos também algumas empresas locais de trans-
porte de pessoas e produtos locais, nomeadamente para a França e Suíça, que colaboraram nesta operação. Sentimos que não conseguimos resolver todos os casos solicitados, resolveram-se alguns mas no próximo ano queremos alargar esta plataforma para o estrangeiro. Podemos então assumir que no próximo ano a Festa da Castanha terá uma vertente presencial e outra online? Será isso mesmo. Iremos trabalhar, como sempre trabalhamos, as edições presenciais mas nunca mais nos vamos desvincular da plataforma digital porque é outro potencial mercado que entendemos que devemos apostar. Houve muita gente envolvida em toda esta dinâmica, a autarquia tem algum agradecimento especial que queira fazer? Este projeto só foi possível com a entrega, a participação e o empenho de todos aqueles que foram solicitados. Obviamente que recorremos, como sempre, à nossa logística, aos nossos funcionários e técnicos. Mobilizamos toda a nossa secção de cultura para esta iniciativa porque foi necessário envolver muita gente. Houve também a participação de diversas associações locais, da escola profissional e claro, de destacar a Associação Sementes da Terra que, juntamente com os seus associados, deram uma alavanca muito importante a este projeto. Como não podia deixar de ser fica também o nosso agradecimento especial aos nossos produtores e algumas empresas agroalimentares que colaboraram connosco. ▪
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
15
Sabrosa
Município comemorou 184.º aniversário O município de Sabrosa comemorou no dia 6 de novembro, o seu centésimo octogésimo quarto aniversário. Num ano atípico, marcado pelo atual estado de pandemia em que vivemos, recorrente da existência da COVID-19, e agravado pela inclusão do concelho de Sabrosa no lote dos concelhos de alto risco de transmissão para esta doença, o município viu-se, infelizmente, impossibilitado de comemorar esta data convenientemente, como todo o executivo municipal desejaria, e como a data merecia ser assinalada. No entanto, de forma a marcar publicamente esta data, o muni-
cípio evocou todos os quantos, individual ou coletivamente, contribuíram e contribuem para a construção da história deste território. Concelho desde 6 de novembro 1836, o território sabrosense e as suas gentes têm sido sempre fonte de inspiração constante para escritores, historiadores e outros apaixonados pelo Douro, sendo possível encontrar aqui uma das melhores paisagens de Portugal, que é património mundial da UNESCO, um magnífico cenário e um solo ideal para a qualidade das uvas, das quais são feitos os melhores vinhos do mundo.
Atualmente é uma das principais portas de entrada na magnífica Região Demarcada do Douro, não apenas pela beleza que brota, mas também pelas condições e acessibilidades que soube reclamar e construir, sendo hoje um território de oportunidades e um excelente lugar de conforto para a sua população. Lembrando o passado e a história, o município encara o futuro com esperança e com a expectativa de ser possível, no próximo ano, retomarmos a uma normalidade há muito ansiada por todos, que permita também a comemoração do seu 185.º aniversário condignamente. ▪
Município distribuiu kits de proteção individual a toda a população do concelho Com o objetivo de manter todas as famílias do concelho de Sabrosa protegidas face à situação atual de pandemia, o município de Sabrosa distribuiu kits de proteção individual a toda a população residente no concelho, através de contacto porta a porta. Esta medida contou com um elevado número de voluntários, trabalhadores da autarquia, para efetuar a distribuição, conseguindo-se, desta forma, distribuir todos os kits num curto espaço de tempo, por todas
as freguesias do concelho. Esta iniciativa contou também com o apoio das juntas de freguesia, ao nível da distribuição. Nesta sequência, foram também entregues máscaras de proteção individual personalizadas a todos os alunos do Centro Escolar Fernão de Magalhães – Sabrosa, sendo que os alunos foram também sensibilizados para o uso da máscara e a sua correta utilização. ▪
Mural “A mudar a história das crianças do douro" inaugurado em Sabrosa Street artist Tiago Godmess, juntamente com cerca de 150 crianças do Agrupamento de Escolas de Sabrosa, produziram um mural comemorativo dos 10 anos da associação Bagos d’Ouro, que vem dar mais cor à vila. Este mural comemorativo foi pensado para que a data se celebrasse em Sabrosa, um dos concelhos fundadores desta associação. Na criação do mural participaram crianças do 2º ao 7º ano de escolaridade que foram acompanhadas pelo pintor em diversos workshops sobre a arte urbana, respeitando todas as normas da DGS. Na inauguração do mural estiveram presentes a Coordenadora Geral, Coordena-
dora de Terreno e um representante da direção da Associação Bagos d´Ouro, Dr. António Filipe, assim como a equipa técnica de terreno. Fizeram também parte do evento crianças contempladas por esta associação assim como o diretor do Agrupamento de Escolas de Sabrosa. O presidente da Câmara Municipal de Sabrosa também marcou presença e fez questão de ressalvar a importância desta associação para o município, referindo que a mesma “torna os sonhos das crianças e jovens realidade”, marcando presença e despoletando nelas aquilo que de melhor têm, sendo este um dos principais objetivos para todos os munícipes. Este é um mural que além de destacar a
importância da escola e da educação, destaca também o nosso território, sendo no geral estes os valores que determinam a missão da associação Bagos d´Ouro, que
deixa uma marca na vida das crianças que acompanha. Fica assim cheia de cor a história da associação Bagos d´Ouro em Sabrosa. ▪
16
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Vila Real
Ministro desafia UTAD a criar curso de medicina O desafio foi lançado durante o discurso de Manuel Heitor, numa sessão na reitoria da UTAD, que marcou a apresentação do novo “Lab de Computação Avançada”, um centro de competência de visualização de computação avançada, integrado numa rede nacional da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). No decorrer do discurso de lançamento do novo Lab o ministro afirmou que este vai permitir à UTAD “o desenvolvimento da Computação Avançada em Portugal através do reforço da produção científica nacional no domínio das competências digitais avançadas, inteligência artificial e big data, em várias áreas do conhecimento como a economia, saúde, clima, energia, mobilidade e no estudo dos processos sociais e a adoção de normas e melhores práticas para criar interoperabilidade”. Manuel Heitor, que tinha já visitado as instalações do hospital Veterinário da universidade realçou ainda a capacidade da UTAD em desenvolver novas competências na área da virologia a fim de combater as “doenças zoonóticas” com “centros como a UTAD que tem competências relevantes e importantes a nível internacional na genética animal podem vir a dar origem a novos centros de investigação e de ensino da medicina, também na área de virologia”. O Ministro acabou por lançar o desafio à UTAD para criar um curso de medicina a partir das estruturas já criadas, um campus mais verde, mais digital, e com maior capacidade cientifica e técnica na área de veterinária e genética animal, para evoluir na área da medicina sobretudo em áreas ligadas à virologia. Para o reitor da instituição, António Fontainhas Fernandes, este desafio é uma oportunidade para a UTAD que “entra agora numa nova era, mais sustentável e com muito para dar à Ciência e ao País”. A criação deste Centro de Competência em Computação Avançada insere-se no âmbito do projeto europeu EuroCC,
> Manuel Heitor, António Cunha, Fontaínhas Fernandes e Rui Santos
da Iniciativa Nacional Competências Digitais, INCoDe.2030, e nas três grandes áreas de intervenção do Advanced Computing Portugal 2030: criação de infraestruturas de supercomputação no país, criação e retenção de profissionais qualificados com fortes competências informáticas avançadas e a implementação de info-estruturas de políticas públicas que permitam a criação de serviços e software de elevado valor. Durante a sessão foi também lançado o Projeto RCTS 100 que permitirá o reforço e aumento das infraestruturas de conectividade da rede da UTAD para 10Gbps e da infraestrutura de rede wifi, totalmente suportada em normas de última geração wi-fi6. “Estas duas iniciativas marcam o arranque da transformação do campus da UTAD num campus digital com acesso rápido e fácil à rede wi-fi e a tecnologias de informação e visualização, sendo que é nosso objetivo aumentar a largura de banda para 100Gbps até maio de 2021”, explicou Fontainhas Fernandes, Reitor da UTAD, em declarações à imprensa no final da sessão. Antes da sessão o ministro Manuel Heitor inaugurou ainda o primeiro quilómetro da ciclovia do campus, cuja construção está em curso e que, de acordo com o reitor, “ligará a universidade à cidade em 10 minutos, a pé”. Antes de chegar à UTAD o ministro e o reitor visitaram ainda a Escola de Hotelaria e Turismo do Douro-Lamego
para verificar in loco as condições em que irá ser implantado o futuro Centro Enogastronómico do Douro, um projeto a desenvolver num futuro próximo, nos dois edifícios externos pertencentes à escola e que resulta de uma parceria com a UTAD. Ainda durante a visita, em declarações à comunicação social, o ministro garantia a intenção de manter o ensino superior presencial, justificando essa opção com a baixa incidência do vírus no meio universitário. “A ideia é manter o ensino presencial em Portugal e na Europa e manter algo que é particularmente crítico, que é a interação entre os estudantes, entre os estudantes e os professores e os investigadores. Os inquéritos epidemiológicos em Por-
tugal são claríssimos, cerca de 70% dos contactos dão-se em ambiente familiar e eventos sociais, sobretudo ao fim de semana”, frisou, acrescentando que “não se dão dentro das salas de aula, dos laboratórios de investigação e, por isso, a orientação em Portugal e na Europa é para o ensino se manter sempre que possível presencial”. Questionado sobre o balanço da pandemia nas instituições de ensino superior o ministro referiu que “em termos da população são verdadeiramente não significativos. Os casos e os surtos que apareceram sobretudo nas universidades do Porto, Coimbra e depois em Aveiro quando quantificados em termos da população local, são números particularmente não significativos”, concluiu. ▪
> Manuel Heitor, Ministro da Ciência e Ensino Superior
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
17
Santa Marta de Penaguião
Bombeiros e filhos de bombeiros recebem bolsas de estudo para o ensino superior Bolsas de estudo do valor de quinhentos euros vão ser novamente atribuídas em Santa Marta de Penaguião. Num investimento na educação que perfaz um total de 155.500 € (cento e cinquenta e cinco mil e quinhentos euros) desde o ano 2014, a Câmara
Municipal de Santa Marta de Penaguião vai novamente proceder à concessão de bolsas de estudo a alunos do ensino superior, bombeiros e descendentes de filhos de bombeiros que pretendam continuar a sua formação académica no ano letivo 2020/21.
Este ano, irão ser contemplados 69 estudantes que verão assim os seus encargos normais com a sua frequência do ensino superior atenuados. De realçar que este investimento anual na educação e no apoio escolar num valor total de 34.500 € vem
reforçar mais uma vez a prioridade desta autarquia em procurar contribuir para o acesso ao ensino superior aos jovens penaguienses que, não obstante a sua situação económica, desejem continuar a sua formação académica. ▪
Caminhe em Santa Marta Foi criada a Rede de trilhos Municipais que liga o Douro e o Marão com um total de 78 kms de trilhos pedestres disponíveis O Município de Santa Marta de Penaguião procedeu, através de uma candidatura, à criação de uma Rede de trilhos Municipais (sete Trilhos de pequena rota) no concelho. Cerca de 72.000 € (setenta e dois mil euros) vão ser investidos neste projeto de trilhos cujo objetivo é de preservar, conservar a valorização dos elementos patrimoniais locais (como capelas, miradouros, santuários), paisagísticos (como os vinhedos, olivais de bordadura e bosques mediterrâneos espontâneos) e ambientais, (com destaque para o cultivo da vi-
nha, da castanha e da azeitona) e a valorização do conhecimento dos usos e costumes tradicionais endógenos, inseridos na área de abrangência territorial dos Trilhos referidos. Pretende-se ainda que esta Rede de Trilhos seja um produto turístico capaz de “captar segmentos e nichos de mercado através do apelo a experiências e motivações específicas” e “conquistar visitantes dos destinos concorrentes através do apelo à singularidade da região, a sua proximidade e segurança”. O Município penaguiense acredita que estes quilómetros serão uma excelente oportunidade para passar bons momentos de lazer entre amigos e em família em perfeita harmonia com o Marão e o Douro. ▪
Santa Marta de Penaguião aposta no conhecimento Investimento de cerca de 270.000,00 € na educação O Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar – PIICIE – arranca no concelho penaguiense. Promovido no âmbito do programa operacional NORTE 2020 e pela Comunidade Intermunicipal do Douro, CIM Douro, o projeto vem alavancar o direito, de cada aluno, a uma educação inclusiva que responda às suas potencialidades, expectativas e necessidades, introduzindo, em articulação com o PIICIE, um projeto -“A caminho do Sucesso Escolar em Santa Marta”. Para a consequente concretização dos objetivos preconizados no PIICIE
foi criada uma equipa multidisciplinar de oito pessoas que prestará o devido apoio ao aluno, em todas as escolas e respetivos ciclos (desde o pré-escolar ao 3º ciclo) do Agrupamento de Escolas de Santa Marta de Penaguião, no sentido de acompanhar o seu percurso escolar, orientar e mapear o seu plano de estudos, num formato personalizado. Trabalhando o aluno nas suas várias dimensões: pessoal, social, educativa, cognitiva e familiar, haverá também uma sala devidamente dotada e equipada das ferramentas necessárias para complementar as atividades realizadas por esta equipa multidisciplinar com os alunos. ▪
18
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Vila Real
Autarquia apoia comerciantes com verbas do programa de Natal A autarquia de Vila Real decidiu alocar parte das verbas destinadas ao programa de Natal para apoio ao comércio local e restauração. Entre os apoios estão um concurso de montras, a aquisição de embalagens para take away ou a inscrição na plataforma do CTT para o comércio local.
Num ano fortemente marcado pela pandemia Covid-19 têm sido os pequenos comerciantes e os empresários do ramo da restauração que mais se têm queixado da falta de negócio. Com vista a minimizar os prejuízos causados pela pandemia a autarquia de Vila Real decidiu implementar um conjunto de apoios. “Temos que ter a noção que estamos no meio de uma pandemia, uma crise provocada por um problema de saúde pública imenso que alterou o paradigma da forma como olhamos para o comércio e inclusivamente a forma como contactamos uns com os outros e socializamos. Isto obrigatoriamente provocou danos imensos no comércio e claro que os mais pequenos são os mais frágeis e os mais sensíveis a estes problemas. O município, por outro lado, tem um orçamento limitado, isto é, nós estamos a falar numa grande pandemia. Se a autarquia pudesse apoiar com mil euros cada uma das empresas de Vila real estamos a falar em gastar mais de 3 milhões de euros. É preciso ter a noção que uma pequena ajuda que se pudesse dar a uma empresa, e que não iria provocar nenhuma alteração nessa mesma empresa, poderia provocar um défice muito grande no município”, explica o vereador Nuno Pinto Augusto. Desta forma o município vilarealense decidiu implementar um conjunto de seis medidas que irão apoiar os comerciantes, bem como os munícipes. Uma das medidas é a criação de um concurso de montras. De acordo com Nuno Augusto esta medida “irá abranger um conjunto de mais de 250 empresas locais que, de uma forma bastante fácil, se po-
dem inscrever. Nesta medida, estas empresas só por fazerem uma montra com motivos alusivos ao Natal receberão do município um apoio de 100 euros, um investimento que ultrapassará os 25 mil euros. Neste concurso serão ainda premiadas as 3 montras mais bonitas que terão prémios de 200, 300 e 500 euros para o 3º, 2º e 1º classificados, respetivamente”. Ainda no apoio ao comércio local a autarquia vai lançar uma campanha de sensibilização para que as pessoas façam as suas compras nestes espaços, em especial na época natalícia que agora se avizinha. “Em vez de gastarem esses montantes nas grandes superfícies ou no shopping apelamos a que o gastem no comércio tradicional para que também eles, depois deste ano tão difícil, tenham um Natal mais digno, é um esforço que devemos todos fazer. Pode ser mais difícil porque em vez de ir apenas a um local teremos que ir a 2 ou 3 e procurar mais, mas todos o devemos fazer. As pessoas, os empresários não querem esmolas, querem é trabalhar. O que realmente precisam é que as pessoas vão lá e comprem. Esta também pode ser uma oportunidade para que este comércio mais tradicional se reinvente”. No pacote de medidas de apoio ao comércio local está ainda o protocolo do município com os CTT no apoio à criação de lojas 'online' que irá facilitar a venda e a aquisição dos produtos. “Ainda pensamos criar uma plataforma para o nosso comércio mas isso levantava diversas questões como os custos da sua implementação ou a logística que depois seria necessária ao seu bom funcionamento. Com esta plataforma dos CTT, a Solução CTT Comércio Local, os comerciantes podem lá ter os seus produtos que a pessoa, tranquilamente em casa, ou em qualquer outro lugar, pode adquirir. Basicamente a pessoa entra na plataforma, escolhe os seus produtos e coloca a encomenda, o comerciante recebe a encomenda e confirma ao cliente se, por exemplo, tem alguns daqueles produtos em falta. Depois a entrega pode fazer-se de duas forma, ou a pessoa para no local a levantar a sua encomenda ou os CTT terão uma equipa a trabalhar que faz chegar a encomenda a essa pessoa no
> Nuno Augusto, Verador do Município de Vila Real
prazo máximo de duas horas, num raio de 10 quilómetros, em distâncias superiores o prazo de entrega é de 24 horas. O custo para o comerciante é uma margem de 5% mais IVA para os CTT, no caso do comprador, se desejar a entrega dos produtos então terá um acréscimo de 6 euros ao total da compra. Esta plataforma só estará mesmo disponível para o comércio local. Consideramos que esta será uma solução bastante interessante para grande parte do comércio tradicional, principalmente aquelas empresas de cá que têm produtos diferenciadores em relação a outras zonas do país, como por exemplo as Cristas de Galo, os covilhetes, a carne maronesa, os nossos vinhos e azeites e tantos outros. Para o município o investimento nesta plataforma também não é muito elevado e permite-nos perdurar esta medida no tempo. Para a implementação desta medida vai haver também um apoio do Regia Douro Park que terá três equipas no terreno a poiar os comerciantes com a adesão à plataforma. Tudo isto não implica nenhum custo para o comerciante visto que o próprio município fará a aquisição dos espaços”. Para o apoio à restauração a Câmara Municipal de Vila Real está “a adquirir mais de 60 mil embalagens de take away, com o objetivo de entregar a cada um cerca de mil embalagens. É mais uma pequena ajuda mas que também tem impacto no nosso orçamento e que o terá nos restaurantes visto que cada embalagem
tem um custo entre 30 a 40 cêntimos”. Ainda neste setor a autarquia vai manter “a isenção na cobrança de taxas de ocupação de espaço, dando assim a possibilidade de todos os estabelecimentos de restauração e bebidas continuarem a utilizar um espaço superior ao que estava inicialmente previsto para as esplanadas”. Já no próximo orçamento e como apoio às famílias, Nuno Augusto afirma que “está a ser estudada mais uma redução no IMI e a manutenção de algumas isenções e apoios fiscais ao investimento”. A somar a estes apoios a autarquia transmontana está também a fazer dois grandes investimentos, um na ampliação da atual zona industrial e outro na criação de uma nova zona industrial na freguesia de Andrães. “Até ao final deste mandato, vamos avançar com dois investimentos, que pecam efetivamente por tardios mas houve dificuldades burocráticas que nos atrasaram. Um é o alargamento da zona industrial com um conjunto de 18 novos lotes, com um investimento do orçamento do município de cerca de um milhão e meio de euros, o outro, arrancou agora no dia 19 que é a aquisição dos terrenos para a nova zona industrial a instalar em Andrães, que irá nesta primeira fase ter um investimento de cerca de 8 milhões de euros para criar perto de 100 lotes ocupando cerca de 30 hectares. Isto significa que para os próximos 10 anos teremos resolvido um dos grandes défices de Vila Real que é a falta de terreno industrial”. ▪
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
19
Penedono
XI Mercado Magriço – 2020 Digital
Mensagem de Cristina Ferreira, Vice - Presidente
O Mercado Magriço é uma iniciativa que tem na sua génese o apoio constante ao tecido empresarial, comercial e cultural do concelho de Penedono, neste espaço, que é de todos, congregam-se todas as atividades que, de forma mais ou menos intensa, alavancam a economia concelhia. São tempos difíceis estes que se vivem, de incerteza e muita insegurança relativamente ao futuro, no entanto e, ante todo o pragmatismo que a situação nos impõe, não devemos desistir, existe um passado que muitos nos enaltece assente na persistência e resistência das gentes de Penedono. É este pressuposto que nos estimula e motiva a continuar na senda que há muito nos propusemos, continuar firmes ao lado dos nossos empresários, comerciantes e coletividades, como tal não poderíamos deixar de realizar a XI edição do Mercado Magriço, uma edição que teve de se reinventar, e surgiu em formato digital, de Penedono para o mundo. Neste novo formato, em que o acesso
ao Mercado Magriço estava à distância de um clique deu-se primazia à divulgação de todo o tecido empresarial, comercial e cultural deste concelho, na constante certeza de que o mesmo se transformaria numa plataforma digital onde seria possível, não só a promoção do que melhor se faz em Penedono mas, e também estabelecer laços de permuta comercial tão necessários ao desenvolver da nossa economia. Uma iniciativa de sucesso, marcada pela adesão massiva de todos os agentes económicos e culturais deste concelho, que uma vez mais disseram presente e se associaram a um evento que é deles e existe somente por eles. Se nas edições físicas anteriores do Mercado Magriço, o número de participantes rondava uma centena, nesta edição foram cerca de trezentos, aqueles que tornaram possível a XI edição do Mercado Magriço – 2020. Assim, e finda esta edição do Mercado Magriço cumpre-me agradecer o empenho, a tenacidade, a persistência e acima de tudo o acreditar dos promo-
tores concelhios, são eles que, nas mais diversas vertentes, impulsionam a economia e sustentabilidade concelhia, e são tantos felizmente. Uma palavra de agradecimento à Cooperativa Agrícola de Penela da Beira pelo trabalho desenvolvido na promoção e comercialização do fruto da castanha, trabalho esse que permite exportar cerca de 99% de toda a castanha entregue nas suas instalações. Um agradecimento especial à Cooperativa de Olivicultores do Vale do Torto – Souto, uma instituição que chama a si a transformação de azeite concelhio e não só, uma instituição que tem desenvolvido um trabalho meritório reconhecido pela conquista, por parte dos seus azeites, da Medalha de Prata no Concurso Internacional “Olive Japan” no Japão. Por outro lado, não quero deixar de agradecer o imenso trabalho desenvolvido pelas nossas IPSS,s, uma ação que pode parecer discreta mas, de suma importância para o bem-estar social concelhio, um trabalho árduo que cumpre aqui reconhecer.
E por fim, mas não menos importante um agradecimento sentido a todos os comerciantes e empresários que operam no concelho de Penedono, a todos os agricultores que trabalham a terra, a todos criadores de gado que ante uma economia difícil não desistem e mantêm a sua atividade, a todas as coletividades que mantêm vivo o desporto e a cultura concelhia. Não querendo descriminar ninguém, um agradecimento geral e particular a todos quantos tornaram possível o Mercado Magriço – 2020 Digital mas, que acima de tudo continuam a acreditar no seu concelho, são eles o motor da nossa economia, da nossa cultura e é por eles que Penedono se continua a afirmar no país e no mundo. Um obrigado sincero a todos, e para o ano se Deus quiser teremos o Mercado Magriço nos seus moldes habituais desta feita complementado pelo digital. Mercado Magriço – Promover o Empreendedorismo, Valorizando Iniciativas Locais, é este o mote que nos move. “Vamos ficar todos bem”
20
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Penedono
Qualidade do azeite do Vale do To Criada há sete anos, a Cooperativa dos Olivicultores do Vale do Torto representa hoje cerca de 120 sócios, produzindo cerca de 100 mil litros de azeite anualmente. Em 2019 a cooperativa viu o seu azeite premiado internacionalmente com duas medalhas de prata, uma na Grécia e outra no Japão. Texto e fotos: Carlos Almeida
Manuel Abílio é o presidente desta cooperativa que por estes dias vive horas atarefadas, marcadas pelo ritmo das máquinas que transformam a azeitona em azeite. O barulho é intenso e no ar o aroma deste “ouro líquido” como muitos lhe chamam faz despertar o nosso olfato. À medida que percorremos o caminho da azeitona, depois de chegar às instalações desta cooperativa, Manuel Abílio garante-nos que esta é “de muito boa qualidade” apesar de não estar “a fundir tanto como seria de esperar mas ainda é cedo”, afirma e, quanto à quantidade “vai haver mais azeitona”, garante. “Nunca tivemos azeite com mais de meio grau de acidez, é sempre extra virgem. É de qualidade muito boa e cerca de 90% da produção vai para França. Por incrível que pareça, a colheita do ano passado teve vendas muito boas, em plena pandemia. Se tivéssemos mais 50 mil litros tínhamos vendido. Aqui as pessoas gostam de azeite mais maduro mas aqui produzimos pouco desse azeite porque para exportação não tem interesse, contanos. Para Manuel Abílio o segredo da qualidade do azeite que produz é simples, uma zona de excelente qualidade para esta cultura e um processo de transformação rápido. “Temos uma zona com características muito boas para o azeite e também pela forma como o produzimos aqui, não deixamos que a azeitona fique a curtir, no máximo a azeitona aqui é transformada 24 horas depois de che-
gar às nossas instalações. Este azeite não tem comparação possível com o azeite, por exemplo, que se produz no Alentejo por dois motivos, desde logo porque esta zona é muito boa, com bons solos e uma boa exposição solar, depois há a questão do compasso que no caso das nossas oliveiras é de 6x6 o que faz com que a oliveira seja toda banhada de sol. No Alentejo, nos olivais intensivos, a maior parte da oliveira não vê o sol porque estão todas muito próximas umas das outras. Nós aqui colocamos cerca de 270 árvores por hectare e não vale a pena mais até porque hoje em dia já se usa muita maquinaria, por exemplo nós usamos toldos com vibrador que precisam de
espaço para manobrar”. A entrada das máquinas neste setor deixa Manuel Abílio com um misto de satisfação e insatisfação. Se por um lado ela é positiva para colmatar a falta de mão de obra que se regista, por outro faltam incentivos adequados para que mais olivicultores possam fazer uma aposta forte na mecanização dos seus olivais. “A vantagem maior desta mecanização é que a azeitona vem com maior qualidade porque não entra em contacto com a terra. Outra mais valia é a quantidade de azeitona que é apanhada diariamente, de forma manual seis homens são capazes de apanhar 2 ou 3 toneladas num dia, com o trator,
um só homem para manobrar apanha cerca de 8 toneladas, uma diferença significativa. Quer queiramos quer não temos que reduzir a mão de obra porque o preço do azeite não tem aumentado e uma forma de conseguirmos aumentar a nossa margem é precisamente reduzir no pessoal. O meu pai já faleceu há 20 anos e na altura vendia o litro do azeite a 4 euros, atualmente nós estamos a vender a 3 euros e meio, sensivelmente. Para ganharmos dinheiro temos que aumentar a produção e reduzir a mão de obra. A maior parte dos agricultores daqui são pessoas que vivem com a sua reforma porque não ganham dinhei-
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
21
Penedono
Torto vale prémios internacionais
ro com o azeite, só vão mantendo os olivais porque não gostam de os ver abandonados. A tendência é que a maior parte dos olivais acabe por morrer porque os nossos governos não olham nada para a nossa zona, tratam-nos igual aos olivicultores do Alentejo. Por exemplo, eu tenho 20 hectares e quero comprar um trator, a base para definirem a cavalagem do trator que preciso eles comparam com os terrenos do Alentejo, só que lá os terrenos são planos, aqui são inclinados, se comprarmos um trator pequeno ele muitas vezes nem anda porque não tem força e depois acaba também por haver muitos acidentes como se verifica todos os
anos nestas zonas. Os tratores não são adequados à zona. Não pedimos dois pesos e duas medidas mas deviam ser estabelecidas linhas diferentes para diferentes zonas de acordo com as características de cada uma”. O consumidor também tem vindo a alterar a sua postura procurando azeites de maior qualidade, o problema afirma Manuel, “é que não tem dinheiro para pagar essa qualidade. As pessoas começam a procurar azeites de boa qualidade, é uma mudança que leva tempo mas cada vez mais se nota essa preocupação”. Com a escassez de apoio por parte dos diferente programas ligados à agricultura em geral e à olivicultura mais concretamente, Manuel Abílio garante que o apoio da autarquia penedonense tem sido essencial, em especial para a construção do lagar, uma obra que rondou o investimento de 1 milhão de euros. “O que nos tem valido é a Câmara Municipal, esta obra foi construída com um forte apoio da autarquia. Apesar de termos tido financiamento do PRODER os financiamentos são muito baixos e a autarquia teve aqui um papel muito importante. Esta obra custou cerca de 1 milhão de euros, houve um financiamento de 250 mil euros, o restante foi o município que nos financiou a fundo perdido. Se fossemos pedir dinheiro nunca mais iriamos conseguir pagar isto. A nossa câmara tem-nos ajudado muito e não é só deste mandato, já no mandato anterior assim foi e acredito que no futuro assim continuará a ser. Este produto é uma mais valia para Penedono e a câmara acredita nisso, se não acreditasse também não fazia o investimento que fez. É uma zona muitíssimo boa para o azeite”. No início dos anos 1900, a freguesia do Souto tinha quase mil habitantes, hoje são pouco mais de 300. “As nossas aldeias têm cada vez menos gente, os incentivos são muito poucos ou quase nenhuns”, afirma Manuel. Um dos reflexos da diminuição da população é a forma como os olivicultores gerem a sua produção, se antes vinham à cooperativa para fazer o seu azeite que depois levavam de volta para casa para o venderem diretamen-
te, hoje já não é assim, entregam a azeitona e é a cooperativa que, depois de todo o processo de transformação o comercializa. “Antigamente as pessoas levavam o azeite para casa e vendiam-no com muita facilidade, hoje já não é assim, temos cada vez menos gente aqui à volta e as grandes superfícies comerciais não nos ajudam nesse aspeto, mesmo nós, como cooperativa, não nos compensa vender para as grandes superfícies, pagam ao preço que querem e quando querem e os agricultores não podem viver assim. Por isso é que os olivicultores optam cada vez mais por deixarem aqui o azeite, recebem o dinheiro todo da colheita e não andam preocupados a vender 5 litros aqui e outros 5 ali”. No final do processo de transformação da azeitona em azeite sobram ainda
produtos que podem ser utilizados em diferentes fins, desde logo aquecimento, contudo, mesmo aí Manuel Abílio afirma que o setor já viveu dias melhores. Toda a azeitona é aproveitada. Depois de extrairmos o azeite fica uma massa da qual vamos retirar o caroço que serve para aquecimento aqui da água e ainda vendemos algum para as caldeiras de aquecimento doméstico. Antes ainda vendíamos mais para este tipo de uso mas o Governo criou uma série de taxas que fizeram este negócio diminuir. Nos primeiros anos que laboramos aqui as empresas levavam a massa, pagavam o transporte e ainda nos davam dois euros por tonelada, no ano passado não nos deram nada e ainda tivemos que pagar o transporte daqui para Mirandela, só aí tivemos um custo de 15 mil euros. ▪
> Manuel Abilio, Presidente da Cooperativa dos Olivicultores do Vale do Torto
22
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
XV JORNADAS COOPERATIVAS SÃO JOÃO DA PESQUEIRA SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO DO INTERIOR - DOURO
ORGANIZAÇÃO:
APOIO:
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
23
XV JORNADAS COOPERATIVAS SÃO JOÃO DA PESQUEIRA
O Douro é essencialmente fruto da ação do homem Nuno Gonçalves Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo
A região do Douro tem uma identidade própria, e se é classificada como Património da Humanidade, pela Unesco, deve-se às mulheres e aos homens que, durante anos e anos, com suor e lágrimas e, de sol a sol, constituíram toda esta paisagem característica que agora queremos preservar. Não nos podemos esquecer que o Douro é essencialmente fruto da ação do homem e, portanto, o que devemos preservar é a sua paisagem, mas uma paisagem evolutiva que tem que salvaguardar sempre a ação do homem. A identidade do douro são os durienses, os homens e as mulheres que fazem
parte desta comunidade. Torna-se extremamente importante a fixação da população, o que só é possível com a existência de uma política identificada com o douro, que não seja uma política somente diferenciadora em termos fiscais, mas também em termos territoriais. O Douro não é só o coração do douro em si, existe o Douro Norte, o Douro Sul e o Douro Superior. O desencravamento do Douro passa muito pelas vias de comunicação, e não é admissível que quando estamos a investir na ferrovia se esqueça a Linha do Douro. É importante que a ferrovia do douro seja uma realidade e que vá para além de Barca D’Alva, que vá até Salamanca e que permita que os portos secos de Salamanca cheguem ao mar da
forma mais rápida. A ligação do Pocinho a Vila Franca das Naves é outra forma de desencravar este interior e isso faria com que tivéssemos uma ligação à linha da Beira Alta e daí a toda a Europa. Os investimentos de coesão têm sido utilizados em áreas onde menos é necessário, tendo em conta só a maior população que aí reside. É urgente que as políticas sejam orientadas para esta comunidade, para a comunidade do douro e para este interior, sob pena desta nau naufragar por estar inclinada somente para um lado. Gostaria que Torre de Moncorvo não fosse visto como um concelho de baixa densidade, mas sim como um município de alta intensidade, onde a resiliência das pessoas fosse efetivamente reconhecida, onde um projeto transfronteiriço em termos fiscais do IVA do IRS e também das condições dos trabalhadores entre as fronteiras fosse verdadeiramente eficaz e
onde pudesse existir um verdadeiro cartão de saúde europeu, onde fosse possível ir ao Hospital Universitário de Zamora ou de Salamanca sem ter necessidade de ir a um hospital central do Porto ou de Lisboa. Não nos podemos esquecer que nós estamos tão próximos de Salamanca como do Porto ou de Lisboa. Era importante que fossem criadas medidas de juventude e para a juventude transfronteiriças e com essa capacidade criar mais emprego e mais empresas. Gostaria também que estes concelhos, ditos do Douro Património da Humanidade, não fossem vistos como um zoo dos municípios só para as pessoas estarem a olhar para eles, estando muitas vezes sujeitos a pareceres completamente desfasados da realidade em que vivemos, sendo às vezes dados com a mesma capacidade de técnicos que existem nos municípios e que melhor conhecem a realidade.
O que o Douro teve, o que tem e o que terá J. A. Gonçalves Guimarães Historiador
Desde sempre me interessei pelo Douro, o vale do rio e as regiões adjacentes. Não só por motivos familiares ou afetivos – a minha família materna é de Lamego, a paterna do Porto, e eu nasci e vivo em Vila Nova de Gaia – mas, talvez mais importante, por outros
fascínios relacionados com a História, a Arqueologia e o Património. Nalguns casos por locais muito concretos, ligado que estive a projectos em Vila Nova de Foz Côa (estação arqueológica da Quinta da Ervamoira e respetivo Museu de Sítio), Régua (levantamento arqueológico), S. João da Pesqueira (monografias de S. Salvador do Mundo e da aldeia dos Pereiros) e Vila Nova de Gaia (Centro Histórico, arqueologia do Castelo de Gaia e do Castelo de Crestuma); dei aulas numa universidade onde os Patrimónios de todo o Douro
eram recorrentes; fui secretário dos 1.º e 2.º Congressos Internacionais sobre o Rio Douro (1986 e 1996, organizados pelo Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia) que reuniram dezenas de investigadores de todas as áreas do saber; desde 1987 que publico estudos sobre a região e desde 1988 trabalhos sobre as suas produções exportadas pela barra. O vale do Douro e territórios adjacentes tiveram desde longa data vários ecossistemas, que foram sendo destruídos pela monocultura vinícola, regulada e incrementada a partir de meados do século XVIII através de ações históricas conhecidas. As matas, os carvalhais, os soutos, coexistiam com os sumagrais, as frutei-
ras, as searas, as hortas e a vinha, esta aqui realmente antiga e excelente, mas só a partir do consulado pombalino conquistadora quase exclusiva da paisagem. Mas em muitos casos, como no Douro Superior, só a partir da segunda metade do século XIX. E noutros só no século XX, portanto realidade recente, como é o caso da vinha no vale do Côa. É pois um engano vender a totalidade da paisagem actual como sendo muito antiga ou, vá lá, toda ela pós-pombalina. Já para não falarmos no seu recente redesenho graças à utilização de potentes máquinas, que em muitos casos esquecem o necessário equilíbrio geomorfológico, aspeto esse que já tem origina-
24
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
XV JORNADAS COOPERATIVAS SÃO JOÃO DA PESQUEIRA do desastrosos deslizamentos de terras arrastadas pelas enxurradas para os vales, acontecimentos esses com registos históricos desde o cultivo intenso da vinha. As classificações dos diferentes Douro como Património Mundial também não são uniformizadoras, pois vieram consagrar realidades muito diferentes: uma delas“viva e evolutiva” (Douro Vinhateiro); outra “em busca do tempo perdi-
do” (o vale do Côa); outra como “cidade museu” (o Centro Histórico do Porto, que curiosamente nasceu manco, sem a indispensável complementaridade do Centro Histórico de Gaia). Uma certa unidade geográfica e interdependente regista não um só, mas vários “Douros”, que importa saber ler nessa mesma diversidade. Anotando algumas inverdades correntes, mesmo correndo o
risco de ser demasiado sumário, aponto as seguintes: - A “fossilização” geomorfológica, social e cultural do Douro numa paisagem artificial e de “postal ilustrado” está a encobrir uma história rica e multifacetada que vem sendo substituída pela mitificação ou mistificação do seu passado. - Perante uma biodiversidade efetiva e, em alguns locais, ainda
surpreendente, o Douro começa a ser invadido por infestantes vegetais e animais (nas albufeiras, por exemplo), bem assim como por exotismos vários na arquitetura, na gastronomia e em outros setores. A região sempre viveu da atração de povos e costumes diferentes e isso é uma das suas riquezas: mas trata-se agora de uma questão de equilíbrio, de bom senso e de bom gosto.
TELETRABALHO Um instrumento que (como poucos) pode ser utilizado ao serviço da valorização do interior Acácio Pita Negrão PLEN – Sociedade de Advogados, RL Membro da Associação dos Amigos de Pereiros
O teletrabalho surgiu como uma resposta às necessidades da globalização e dos mercados modernos, em que as empresas devem ser mais flexíveis para reagir a mudanças repentinas na procura, para se adaptarem a novas tecnologias e para se manterem competitivas. Nos últimos anos, no entanto, o regime de teletrabalho deixou de representar apenas uma resposta a essas necessidades dos empregadores. Tornou-se também numa resposta às necessidades dos trabalhadores. O aumento da importância da mulher no mercado de trabalho, o aumento da qualificação dos trabalhadores no setor de serviços (cujo desempenho não precisa de ser acompanhado tão de perto pelo empregador) e outros motivos associados ao estilo de vida moderno (com toda sua diversidade), têm contribuído para a crescente necessidade de flexibilidade do trabalhador. Em 2020, o teletrabalho ganhou, de um momento para o
outro, um papel de grande relevo nas relações laborais. Com efeito, aquando do confinamento observado na primeira vaga da pandemia do COVID-19, constatou-se que o teletrabalho era uma das ferramentas mais eficazes para a conciliação das preocupações sanitárias com as preocupações económicas. Verificou-se nessa ocasião, que grande parte dos trabalhadores, apesar de se encontrar em confinamento, continuava a poder exercer, através do teletrabalho, com normalidade as funções profissionais a que se encontrava obrigada. Foram inúmeros os exemplos de trabalhadores que, juntamente com as suas famílias, estando, por força do confinamento, obrigados a prestar as suas funções em regime de teletrabalho, se deslocaram para as aldeias de que são originários ou nas quais têm raízes e aí permaneceram até ao termo do confinamento. Por estranho que pareça, só nessa ocasião se constatou que o progresso tecnológico tinha tor-
nado muito fácil a prestação do trabalho por esta via. Uma tal constatação deve ser aproveitada e aprofundada, nomeadamente, pelos governos e pelas empresas, para o combate à desertificação do interior do país. As vantagens do teletrabalho para o empregador e para o trabalhador nem sempre são convergentes, o que pode gerar certas tensões, sendo que o papel do legislador é precisamente o de tentar encontrar o equilíbrio entre os diversos interesses em jogo. O Código do Trabalho de 2003 consistiu na primeira experiência legislativa eficaz de trabalho à distância em Portugal. Anteriormente, não existiam regras específicas aplicáveis a este tipo de contratos. O Código do Trabalho de 2009, atualmente em vigor, não alterou significativamente o regime previsto pelo Código de 2003. O teletrabalho é, nos termos do diploma de 2009, caracterizado pelos seguintes dois elementos principais: i) O trabalho não é normalmente prestado nas instalações do empregador, o que significa que é principalmente (mas não necessariamente exclusivamente) prestado fora de tais instala-
ções; ii) O trabalho envolve o uso de tecnologias de informação e comunicação. O Código do Trabalho refere-se apenas ao teletrabalho subordinado, ou seja, ao trabalho prestado sob a subordinação legal do empregador. Não regula outros tipos de trabalho à distância, nomeadamente o trabalho à distância prestado ao abrigo de um contrato de prestação de serviços ou em circunstâncias de dependência económica para e sob a direção de outra pessoa. Em geral, os trabalhadores em regime de teletrabalho têm os mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres dos outros trabalhadores. O regime de teletrabalho resultante do Código do Trabalho está em consonância com os regimes que, a este respeito, existem em grande parte dos países europeus e, por isso, não existem motivos para que o regime de teletrabalho, com a expansão que conheceu nos últimos meses, não seja utilizado como uma das principais ferramentas de combate à desertificação do interior. Com este regime e com a evolução tecnológica verificada, já não há desculpas para a não valorização do interior!
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
25
XV JORNADAS COOPERATIVAS SÃO JOÃO DA PESQUEIRA
Jornadas Cooperativas do Douro - Uma iniciativa virtuosa Eduardo Graça Presidente da direção da CASES
No presente mês de novembro vai realizar-se um evento no Douro designado por “Jornadas Cooperativas do Douro” este ano sob o lema "Sustentabilidade e desenvolvimento do interior – Douro" que se constitui, certamente, sem prejuízo das designações, como a mais antiga realização promotora do debate acerca do cooperativismo em continuidade que tem lugar no nosso país. Quando o Senhor Alberto Júlio da Silva Fernandes me solicitou colaboração, enquanto presidente da direção da CASES, para a sua
concretização estaria longe de supor que a minha palavra lhe fosse dirigida publicamente para lhe agradecer a clarividência e persistência que tem demonstrado na promoção de tal evento. As minhas palavras, puxando para a ribalta o Senhor Alberto Júlio da Silva Fernandes, são bem ponderadas na justa medida em que as obras que marcam e deixam as suas marcas têm sempre autoria, mas quantas vezes os protagonistas que lhes dão vida são subalternizados e esquecidos quanto mais discreta é a sua maneira de ser e de agir. Hajam jornadas, conferências e debates acerca dos temas sempre presentes na vida dos cidadãos e das comunidades, mesmo no meio de uma multidão de urgên-
cias suscitadas pela calamidade pandémica com seu cortejo de consequências funestas. Neste contexto, para ser breve e conciso, assinalo a preocupação com as assimetrias regionais no nosso país, que será certamente tema central nas Jornadas Cooperativas do Douro, sublinhando a evolução da população nestes territórios. Em 2015 a população residente em Portugal Continental era de 9.854.525 habitantes, sendo que apenas 20,2% residiam em municípios do interior. Em 2017, a população total residente em Portugal Continental sofreu um ligeiro decréscimo face a 2015, na ordem dos 0,6% (9.792.797 habitantes), observando-se também um ligeiro decréscimo da concentração de população nos municípios do interior – 19,8%. Verifica-se assim que o total de população residente nos municípios do interior reduziu entre
2015 e 2017 (na ordem dos 2,6%), o que se refletiu num maior número de municípios com menos de 15.000 habitantes, sendo muito provável que a evolução mais recente confirme esta tendência. Pelo contrário as entidades da economia social, diáspora em que se integram as cooperativas de que destaco as dos ramos agrícola e de crédito, mantêm uma forte presença nos municípios do interior desempenhando um papel relevante na dinamização da economia e na criação de emprego nesses territórios. Como contributo para o debate que emergirá desta edição das Jornadas deixo-vos o mais recente estudo elaborado no âmbito das atividades da CASES, de autoria de Eduardo Pedroso, intitulado “Cooperativas em Municípios do Interior ” que pode ser acedido em http://www.revista-es.info/ pedroso_7.html
Um território de casta! Maria do Céu Quintas Presidente da Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta
Haverá seguramente no Mundo Global poucos territórios que se orgulhem de ter os pergaminhos da Região Demarcada do Douro. Desde logo, a circunstância de ser a Região Vitivinícola mais antiga do Mundo, feito absolutamente visionário de Marquês de Pombal que, com 274 anos de distância,
deu corpo ao que é hoje um destino turístico inigualável. O vinho continua, de facto, a dar pujança e notoriedade a uma região, mas a verdade é que a sua singularidade não se confina ao que brota dos vinhedos, ou o que o empreendedorismo faz, sentido lato, para que o Douro desbrave caminhos além do rio e para lá de caminhos globais sem fim. O Douro tem consigo uma dimensão cultural que lhe é dada pela literatura, escrita por nomes como Aquilino Ribeiro (Sernancelhe), Miguel Torga (Sabrosa) ou Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta), este último, desculpar-me-ão evidenciá-lo, indis-
sociável da terra que cheira a Douro, do que o Homem fez por ela, e por que não dizê-lo, de algum romantismo com que ilustrava o seu apego à ruralidade. Foi num desse momentos de inspiração perene que escreveu: “ Uma manhã, Júpiter apareceume em Barca de Alva e disse-me, pondo a mão familiarmente no meu ombro: - “Queres fazer um poema homérico? Vês esta terra selvagem? Rasga-a, ergue-a de socalcos, planta-a de vinha. Darte-ei o sol para casar com ela!” Ingénuo e deslumbrado, lanceime ao trabalho. Um dia, anos mais tarde, Júpiter voltou: - “Belas cepas, Abílio!” – “Cem mil, senhor Júpiter…” – “Cem mil versos de ouro. Fizeste o teu melhor livro”. Hoje, em pleno séc. XXI, o Douro, herdeiro dessas histórias, e de
um acervo polivalente, tornou-se uma marca, um destino, e sem exagero, dentro do que lhe é próprio, um potentado. Não obstante esta riqueza, o território constrói-se diariamente, inovando, recriando-se, ir à procura do que é genuíno e exclusivo para cimentar a diferenciação do que é comum, e consequentemente cativar a procura. Claro está que não basta ter as ferramentas endógenas. Torna-se imperioso, no âmbito do que é a política administrativa do Governo (conceito abstracto) descentralizar e desconcentrar em harmonia com os ganhos do território, desde logo com a mais-valia que faz uma Nação: as pessoas. A este propósito, arrisco a ironia e questiono: seria possível, com a mentali-
26
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
XV JORNADAS COOPERATIVAS SÃO JOÃO DA PESQUEIRA dade centralista vigente, elaborar o que Marquês de Pombal edificou (e como sabemos, o Primeiro-Ministro de D. José não era descrente do centralismo…). Talvez por isso, tenhamos que relembrar, de novo, a carta que Guerra Junqueiro escreveu ao en-
tão Ministro das Obras Públicas: “ Sr. Ministro das Obras Públicas: Há cerca de dois anos, pedi a V.Exª um subsídio para reparações urgentes na Igreja de Freixo de Espada à Cinta, que é um dos monumentos mais notáveis, mais perfeitos e menos conhecidos da
arte gótica em Portugal. Tenha a bondade de me retorquir ao seguinte: O Ministério das Obras Públicas é por ventura uma propriedade sua, uma coisa que discricionariamente lhe pertença, com o direito de fazer dela o que muito bem lhe
passar pela cachimónia? Herdou-o do senhor seu pai? Saiu-lhe nalguma rifa? É claro que não. (…). Se fosse um favor, dispensava-o. Como é um direito reclamo-o.” Reclamemos, pois, em uníssimo, porque o Douro é Portugal!
A sonhar com um douro sempre melhor Emídio Gomes Prof. Catedrático, vice-reitor da UTAD
Vivemos hoje num país diferente, para melhor, do que aquele que conheci durante a minha infância e juventude. Onde o acesso à saúde, à educação e habitação condigna, entre outros, eram privilégio de uma parte minoritária da população. É por isso razoável e justo que a análise prospetiva tenha em conta o enorme avanço civilizacional que
o Portugal democrático representa. O que não nos deve impedir de perceber o que correu menos bem e desejar, ou sonhar, a sua correção. Porque não é aceitável a perda inexorável de população de todo o interior, fruto de políticas sucessivas que pouco ou nada fizeram para o evitar. Não se entende como continuamos a ter concelhos com centros de saúde que encerram às 20h e não garantem sequer um acesso decente ao hospital mais próximo, ou que deixaram mesmo de ter estação de correios e, ou, balcão da caixa geral de depósitos. Imagino a coesão territorial como um desígnio coletivo, não apenas
um conjunto vazio a preencher os limites de um espaço desenhado para eleitor ver. Quando, por exemplo, analisamos a importância no desenvolvimento económico e social de instituições como a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Duro e do Instituto Politécnico de Bragança, ela vai muito para além do impacto direto que resulta da presença de alunos nacionais ou estrangeiros, sendo em muitos casos uma das últimas âncoras de fixação de populações e atividade global desses locais e sua envolvente. O desenvolvimento do interior é por isso um tema recorrente, sendo habitualmente muito elevada a diferença entre as expectativas criadas e a sua concretização efetiva. O governo atual, em 2016, criou mesmo uma unidade de missão para o efeito, que produziu um documento com 163
medidas específicas, das quais não mais se ouviu falar. Quando vemos territórios como o Douro Sul a não terem um cêntimo inscrito no plano de investimentos públicos em infraestruturas, ficamos bem cientes da forma como os responsáveis políticos tratam o problema. Assistir à degradação continuada da N222, com situações de risco diário que podem a qualquer momento deitar por terra anos de trabalho na promoção turística do território duriense, dá que pensar. Não é aceitável o estado atual da linha do Douro, sobretudo a partir de Marco de Canavezes, sendo que se devia ponderar seriamente a possibilidade de uma nova alternativa de ligação europeia por este canal. Será por um Douro melhor que todos os que amam esta região continuarão a lutar.
“Camiñante (…) se hace camiño al andar” (Antonio Machado) Manuel Cabral
São bem profundas as minha raízes minhotas e durienses, mas o destino fez-me nascer urbano. Não obstante, a vida proporcionou-me uma intensa
vivência rural. Por isso, conheço bem as particularidades do interior, quer do interior territorial, quer do interior mental – este tão bem descrito por Sophia quando disse “porque nasci no Porto sei o nome das flores e das árvores e não escapo a um certo bairrismo. Mas escapei ao provincianismo da capital”.
No exercício de várias funções que me foram confiadas, tive a oportunidade de privar com responsáveis por muitas instituições e organizações. Privilegiei sempre o diálogo e a concertação de interesses e de vontades, com vista a procurar alcançar os fins em causa mais depressa e de forma sustentada.
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
27
XV JORNADAS COOPERATIVAS SÃO JOÃO DA PESQUEIRA Talvez este seja o caminho mais pedregoso, mas a experiência mostra que é mesmo esse o caminho que se deve tomar. Por ele, as dificuldades aferem-se a montante, tornando assim a estrada mais facilmente transitável. Vem isto a propósito da necessidade de diálogo e de concertação entre os vários actores, públicos e privados, num determinado território. É importante conseguir juntar os decisores do território (cidadãos,
empresas, associações, núcleos de investigação, estado) numa lógica de think tank, política certamente, mas apartidária e independente, designadamente dos interesses económicos. Deve ser promovida a divulgação e a partilha de informação e de conhecimento. O território, as pessoas, quem aqui vive e intervém económica, social e culturalmente, não pode ficar refém de uma ou outra entidade ou vontade, pública ou privada, que não parti-
lhe a informação. E não podemos esquecer que a diferença é normalmente criativa, sendo importante na procura das soluções mais adequadas. A concertação da comunidade à volta de linhas estratégicas de desenvolvimento é determinante para, no dia a dia, saber separar o essencial do acessório e tomar as decisões mais acertadas em prol do bem comum. As dificuldades do presente podem
ser a semente da concertação em torno de um futuro comum, com benefício para todos. Mas sem ilusões: o longo prazo não se ganha com a soma de curtos prazos; o objectivo eleitoral tem sempre vista curta. A táctica é, tantas vezes, inimiga da estratégia. O futuro só se ganha com o longo prazo. Como disse António Machado, “se hace camiño al andar”. Mas temos de saber onde pomos os pés. E de saber o nome das flores e das árvores.
NEUTRALIDADE CARBÓNICA (NC), uma estratégia para a Descarbonização João Costa Reis Consultor Energético
A descarbonização da nossa Sociedade, deverá ser um desígnio para os próximos anos, nas distintas áreas dos transportes, serviços, indústria e habitação, de forma a que as alterações climáticas com origem em emissões excessivas de CO2, não sejam irreversíveis e ainda tenhamos tempo e oportunidade, de em equilíbrio, partilhar o nosso único planeta com as atuais e futuras gerações. A descarbonização que urge, poderá ter distintos caminhos e estratégias, identificando-se as melhores opções existentes, que potenciem ao máximo o nosso atual nível de conforto, através de investimentos aceitáveis e alcançando-se os objetivos propostos. Para implementar a NC, é necessário identificar o ponto de partida, o ponto de chegada e o tempo previsto para implementar a mesma. Deste modo e especificamente para grandes clientes Industriais, dever-se-á realizar um Diagnós-
tico para a NC, identificando-se a realidade atual do cliente ou do seu Grupo de empresas, no que diz respeito às emissões de CO2, tendo por base o ano zero deste estudo. O cliente final deverá identificar também, qual a sua ambição para a evolução da NC, definindose um período de tempo para esta intervenção. Com a realização deste Diagnóstico, será possível identificar a realidade de equipamentos existentes, os distintos consumos de energia do cliente (eletricidade, gás natural, gasóleo e outros), assim como as especificidades técnicas da sua instalação. Através da interação com o cliente, será possível identificar um road-map, para as distintas intervenções técnicas a implementar, que permitam a definição clara de uma estratégia para a NC. Ao capacitar as empresas com energia endógena e autonomia energética, conseguimos cumprir com a questão da diminuição do CO2, mas também com a redução de custos fixos de energia (diretos e indiretos) e uma redução substancial, de perdas no transporte de energia, que ajudam e favorecem o País como um todo. É expectável que a curto e médio
prazo, a emissão de CO2, passe a ser um novo custo para muitas empresas e para as que já o contabilizam, o mesmo possa ser agravado, pelo que uma intervenção na NC atempada, poderá permitir uma poupança líquida considerável. Uma das áreas técnicas, com maior desenvolvimento neste momento, será a do Fotovoltaico, aliado à nova Legislação publicada das CER – Comunidades de Energia Renovável. Neste momento é possível a implementação de UPAC´s – Unidades Produtoras de Auto Consumo, produção de energia elétrica de forma endógena, para mais do que um ponto de consumo (CPE), permitindo uma gestão muito mais eficiente da produção total em causa, conseguindo-se uma maior autonomia energética, diminuindo a venda de energia em excesso à rede. As CER poderão ser aplicadas nos seguintes tipos de clientes: a) Edifícios coletivos / Condomínios Criação de instalações fotovoltaicas comuns, de produção de energia elétrica, com o objetivo de fornecimento às áreas comuns e se possível e também, a frações individuais. É importante que exista consumo de energia durante o dia e onde as coberturas tenham capacidade estrutural para a receção dos módulos em causa, assim como a ine-
xistência de sombreamentos. b) Grupos de moradias – cidade ou aldeia, com proximidade física A existência de distintas moradias, próximas umas das outras e abastecidas em baixa tensão, poderá também ser uma oportunidade para as CER, sendo necessário o consumo de energia durante o dia e um local centralizado ou não, para a instalação da UPAC. c) Unidades fabris, inseridas em Zonas Industriais A maioria dos Concelhos em Portugal, possuem distintas Zonas Industriais, onde estão inseridas unidades fabris e de serviços. A existência de uma CER, localizada dentro da zona industrial, poderá ter por objetivo a produção de energia para os clientes da zona industrial, a um preço mais vantajoso e com o benefício de ser renovável, evitando futuros custos de CO2. Outras áreas técnicas, que vão ter um desenvolvimento muito rápido, serão as baterias para acumulação de energia produzida e a instalação de unidades eólicas, de baixa e média potência. Estas duas áreas, ligadas ao fotovoltaico, irão capacitar os consumidores finais, com uma maior autonomia energética e diminuição considerável de emissões de CO2.
28
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Reportagem
Agricultura da próxima década já Entre os principais compromissos da União Europeia para a agricultura na próxima década estão o desenvolvimento sustentável, com base na preservação e recuperação do capital natural, com o intuito de aumentar a absorção de CO2, e a promoção da economia com base no respeito de princípios favoráveis à biodiversidade. Texto e fotos: Carlos Almeida
Em Portugal, na apresentação “Terra Futura – Agenda da Inovação para a Agricultura 20-30”, realizada no passado mês de setembro pela Ministra da Agricultura, salientou-se a importância do crescimento da agricultura através da inovação, o papel do cidadão por via da consciencialização com a alimentação, a proteção do planeta e a conservação dos recursos naturais, bem como o papel do Estado na promoção e apoio à agricultura. Questionada pelo nosso jornal a Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, afirma que esta agenda “pretende contribuir para colocar a Agricultura no centro das nossas preocupações coletivas”. “Agenda de Inovação para a Agricultura 2030, a Terra Futura, pretende contribuir para colocar a Agricultura no centro das nossas preocupações coletivas, seja nas decisões governativas, seja da sociedade em geral. É uma Agenda que coloca o cidadão no centro, onde a alimentação é crucial para a sua sobrevivência, mas também para a sua saúde e bem-estar, e as suas escolhas contribuem para o nosso presente e futuro coletivo. Uma das mudanças que queremos imprimir é esta centralidade na alimentação, e que vai desde a satisfação de uma necessidade básica até ao usufruir de experiências únicas,
pelos produtos, pelo modo e ambiente em que os consumimos”. A mesma visão positiva desta agenda é afirmada por Carla Alves, Diretora Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), que sublinha o percurso que a agricultura nacional tem feito desde a entrada na União Europeia. Há 35 anos, aquando da entrada de Portugal na União Europeia, a agricultura portuguesa era uma agricultura com grandes debilidades e desequilíbrios no sistema de produção e distribuição, com um tecido produtivo na maioria dos casos tecnologicamente atrasado, muito virado para a resposta ao mercado interno, extremamente deficitário. Não posso concordar com os que afirmam que a agricultura foi dos setores produtivos mais prejudicados com a entrada na EU, pelo contrário, a aplicação de fundos comunitários destinados ao setor agrícola, ao longo dos diversos Quadros Comunitários de apoio (QCA), permitiram a modernização da agricultura portuguesa, aproximando-a dos países mais competitivos. Atualmente, no Ministério da Agricultura estamos a preparar um novo quadro financeiro de apoio, que está assente num Plano Estratégico para a PAC (PEPAC), que será apresentado em breve. Para além dos compromissos europeus em matéria ambiental e alimentar, o Governo elegeu 4 grandes desafios: a demografia, as desigualdades, as alterações climáticas e a digitalização. A criação da Agenda de Inovação tem como propósito fazer crescer a agricultura, tornando-a mais inovadora, eficiente e sustentável e que consiga responder aos vários desafios do setor agroalimentar”. Para a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), esta agenda assenta na inovação do setor, algo que “é uma preocupação da CAP já de longa data”, afirma Lima Abreu, vice-presidente. “De acordo com o conhecimento que temos sobre esta proposta estratégica, o foco principal do documento relaciona-se com a inovação. Essa é uma preocupação da CAP já de longa data, uma vez que ao longo das últimas décadas os sucessivos governos foram negligenciando as estruturas regionais dedicadas à investigação na agricultura e ao apoio técnico dos agricultores
> Carla Alves, Diretora Regional da Agricultura e Pescas do Norte
> Maria do Céu Antunes, Ministra da Agricultura
nas suas várias vertentes. Qualquer documento estratégico de médio ou longo prazo sobre o setor não poderia de forma alguma esquecer esta vertente. A própria CAP lançou recentemente o documento Ambição Agro 2020-30, no qual se apresenta uma séria de propostas relacionadas com a inovação, que terão desenvolvimento ao longo dos próximos meses. Dentro da temática da investigação e da inovação, aspetos como as alterações climáticas, o acesso aos recursos hídricos, o equilíbrio territorial e a promoção comercial externa, estão sem dúvida entre os mais urgentes, tendo em conta os gravíssimos problemas que afetam os agricultores e que infelizmente, pela sua intensidade, se tornaram já do conhecimento geral” Firmino Cordeiro é Diretor Geral da Associação de Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), de acordo com este dirigente, esta “é uma Agenda também pensada para os Jovens Agricultores”. “A iniciativa da Agenda de Inovação é sem dúvida uma excelente ideia, coloca a Senhora Ministra da Agricultura num patamar elevado e claramente com uma visão de futuro, com temas estruturais importantes também eles motivo de preocupação deste ministério, além da inovação, da tecnologia e do digital. É pertinente estar nesse rol de preocupações a necessidade de instalar mais Jovens Agricultores nomeadamente nos Territórios de Baixa Densidade, o combate à desertificação e ao abandono de muitas regiões rurais do país e as alterações climatéricas. Importa agora que o Governo possa através do Ministério da Agricultura colocar os meios financeiros necessários por forma a que estas metas possam ser atingidas. Aliás como sabemos a Agenda em si não tem meios, é um manifesto de propósitos para a década, os meios são os disponibilizados pelo Orçamento de Estado e os provenientes dos programas associados à União Europeia, exemplo do PDR2020 em vigor, e posteriormente o novo programa a surgir das negociações em curso entre os diferentes países”. Na apresentação pública desta agenda foram também elencados os grandes desafios com os quais a agricultura se depara atualmente, como as alterações climáticas, a escassez de recursos naturais, a alteração dos padrões de consumo, o envelhecimento da população e o despovoamento nas zonas rurais, preocupações que são muito evidenciadas pelos mais jovens, uma ca-
mada da sociedade que a ministra vê integrar a agricultura de forma cada vez mais homogénea. “Os mais novos já estão a construir uma nova agricultura, um novo mundo, e estão a construí-lo valorizando a tradição, a natureza. Há movimentos muitos interessantes dos jovens produtores e de empreendedores ligados com a agricultura. Temos jovens agricultores que estão a trabalhar com os pais, ou a sucedê-los, na gestão da atividade agrícola, havendo aqui uma ligação muito forte e importante entre todo o conhecimento empírico e técnico dos mais experientes, com as novas ideias, novos conhecimentos, novas abordagens trazidas pelos mais jovens. Temos outro tipo de jovens agricultores, com formação de outras áreas, muito vezes ao nível do ensino superior, que aproveitam terras de familiares, e procuram uma via alternativa de obter rendimento. Estes jovens são, de uma forma geral, focados nas procuras urbanas mais diferenciadas e necessitam de um maior apoio na formação e aprendizagem. A sua forma de pensar já está formatada para os novos tempos, novas abordagens e novos padrões de consumo. Temos também um grupo muito interessante de jovens empreendedores, prestadores de serviços à agricultura, geralmente na área das tecnologias associadas á digitalização da agricultura. Existem vários exemplos de startups, associadas à agricultura e pecuária de precisão”. Para o dirigente da AJAP a integração dos mais jovens na agricultura é importante não só para garantir a sustentabilidade do setor como para contribuir para a alteração de mentalidades e preocupações. “Os Jovens Agricultores têm vários papéis a desempenhar, por um lado são o garante do rejuvenescimento da atividade económica mais envelhecida em Portugal e seguramente na Europa. Ou seja, são garante da manutenção da produtividade agroalimentar dos nossos cidadãos, seus filhos e netos, obviamente que em Portugal não consumimos apenas produtos produzidos no nosso país, realidade que também se verifica na Europa, contudo cada país tem de fazer o seu melhor para assegurar a melhor taxa possível de autossuficiência alimentar. Recorrer à importação maciça de muitos produtos contribui para a pegada ecológica, polui em demasia e muitas vezes temos
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
29
Reportagem
tem "Agenda"
> Firmino Cordeiro - Diretor Geral da AJAP
dúvidas da qualidade desses produtos ou pelo menos temos dificuldade em saber de que forma foram produzidos. Estas questões referidas são muito particulares para os jovens, mas também o deveriam ser para os grandes responsáveis políticos à escala Mundial, alterações climáticas, poluição e preservação dos recursos naturais e paisagísticos através de práticas agronómicas mais sustentáveis, assente nos princípios da economia circular, e na utilização equilibrada dos recursos nomeadamente a água e o solo”. Para Carla Alves a região duriense pode ser muito beneficiada com esta agenda visto estar muito virada para os mais jovens apostando muito na tecnologia e numa Rede de Inovação. A DRAPN congratula-se ainda com a escolha de uma propriedade da região como polo de apoio à inovação. “Temos de olhar para o Douro como um território de enormes potencialidades, que possui excelentes condições, não apenas para a produção de vinho de elevadíssima qualidade, mas para toda a cadeia envolvida, desde a produção, transformação, comercialização, distribuição, até aos setores como o turismo, o enoturismo, a gastronomia ou o artesanato. É importante que os jovens se fixem nas zonas rurais, com profissões que complementam as necessidades atuais e para tal as medidas da Agenda, visam estimular a criação de emprego nestas regiões do interior, tornando-as muito atrativas e geradoras de oportunidades. Uma das iniciativas da Agenda de Inovação é a criação de uma Rede de Inovação que visa reforçar a capacidade de investigação e inovação, formação e transferência de conhecimentos em vários setores de atividade. Relativamente à região do Douro, estamos muito entusiasmados com a escolha da Quinta de Santa Bárbara, no concelho de São João da Pesqueira, como polo de apoio à inovação. Acreditamos que partir deste local e através de sinergias com outras entidades e organizações, vamos desenvolver estudos e promover a modernização e competitividade do setor agrícola na região”. Questionada sobre o impacto destas medidas na agricultura duriense, a ministra afirma que as mesmas trarão mais riqueza à região baseando a sua argumentação nos quatro pilares desta agenda.
“Todas elas são importantes para a região do Douro, e certamente terão um forte contributo para a criação de mais riqueza nesse património extraordinário, construído pelo Homem, num ambiente maravilhoso, mas agreste, com as suas escarpas, os solos delgados de xistos, o calor e a secura no verão. Alguns exemplos, e passando pelos quatro pilares. O vinho, bebido com moderação, faz parte da nossa dieta mediterrânica, e o seu consumo valoriza aquele território (iniciativa Alimentação sustentável). É um território onde as alterações climáticas terão um forte impacte, as nossas castas são um património precioso que temos de conservar e valorizar, a vinha tem tido uma evolução extraordinário, que tem de prosseguir, na redução do uso e riscos dos produtos fitofarmacêuticos, na implementação de práticas protetoras do solo, da proteção de conservação (iniciativa adaptação às alterações climáticas e territórios sustentáveis). No pilar cadeia de valor podemos referir os desenvolvimentos, com a viticultura de precisão, a utilização da ciência dos dados e da inteligência artificial, ao longo de toda a cadeia (iniciativa Agricultura 4.0). No pilar Estado, um dos polos da Rede de Inovação será a Quinta de Santa Bárbara, em São João da Pesqueira. Estes são apenas exemplos, de linhas de ação. O que posso garantir é que todas as 15 iniciativas da Terra Futura terão um forte impacto na vitivinicultura duriense, contribuirão para a criação de mais valor e para a consequente instalação de jovens produtores”. Para a CAP a região poderá beneficiar com esta agenda, contudo a confederação alerta para as especificidades do Douro. "A região do Douro tem com certeza algumas especificidades, tal como todas as outras zonas do país, mas no fundamental partilha dos problemas de todas as outras regiões. Para nós é fundamental que a inovação não se foque apenas nos aspetos relacionados com a massificação, mas que tenha em conta o valor da qualidade, da diversidade, dos modos de produção específicos, os quais, muitas vezes por serem tradicionais, conferem uma mais valia muito importante para competir nos mercados internacionais. Ou seja, é importante perceber que a inovação deve incidir sobre todos os setores, modos de
produção e dimensões de negócio. Por vezes, uma inovação simples, aplicável a um conjunto amplo de pequenos negócios, acaba por ter tanto impacto económico como uma inovação complexa aplicável apenas a um negócio, ainda que de maior dimensão. Esperamos, portanto, que o Douro participe ativamente neste processo e tire o devido proveito das intenções entretanto anunciadas”. Consciente dos problemas que as alterações climáticas estão a trazer à agricultura e a repetição de fenómenos extremos de intempéries que causam avultados prejuízos na agricultura duriense, Carla Alves vê nesta agenda uma série de oportunidades para o setor se modernizar e minimizar as perdas ano após ano. “As alterações climáticas que se têm vindo a verificar na região com frequentes fenómenos extremos, com destaque para o granizo, tornados, chuvas intensas e incêndios, têm não só prejudicado a produção bem como a destruição de plantações, infraestruturas e sistemas produtivos com consequências no rendimento de toda a fileira do setor agrícola, designadamente na viabilidade das explorações. Neste contexto, consideramos necessária uma visão global integrada que envolva um sistema de proteção de risco que maximize a proteção do rendimento das explorações, entre as quais se podem enquadrar a instalação de equipamentos anti granizo e outros, complementados com os seguros de colheitas, já apoiados pelo Ministério da Agricultura. Já no próximo aviso PDR2020 para os Jovens Agricultores nos territórios de Baixa Densidade, vai ser possível apoiar investimentos como: equipamento de proteção contra incêndio; equipamento de rega - micro aspersão; estrutura anti granizo estrutura anti geada ou torre anti geada, pois já se encontram previstos no critério de Gestão de Risco. A Agenda para a Inovação que pretende promover uma agricultura mais sustentável, também tem como desafios responder às alterações climáticas, à preocupação com a conservação dos solos, ao uso eficiente da água e da energia, para os quais será necessário desenvolver novas soluções e implementar tecnologias inovadoras. Acreditamos que a Rede de Inovação, em especial o polo da QSB poderá dar um contributo para o conhecimento, para a melhoria dos ser-
> Lima Abreu - vice-presidente da CAP
viços prestados aos agricultores e consequentemente para o aumento da produtividade agrícola e a fixação de jovens com espirito empreendedor”. No entender de Firmino Cordeiro as medidas apresentadas nesta agenda podem ser essenciais para o rejuvenescimento da agricultura duriense, em especial na viticultura, setor que no seu entender “necessita de maior afirmação”. “O Douro vive um momento particular, como é particular a cultura principal praticada ao longo da sua vasta área territorial. Por um lado, sofre um problema delicado de envelhecimento da sua população, dificuldade em atrair e fixar às diferentes atividades, novos empresários e jovens empresários, ou seja, necessita de vários níveis de intervenção e investimento, inclusive junto das camadas mais jovens através de incentivos que promovam o seu regresso e a sua fixação a estes territórios. Necessita de maior afirmação dos seus vinhos, nomeadamente pelo aumento da sua promoção e procura constante de novos mercados para exportação e falo da generalidade dos vinhos, Porto, Mesa e os Docs Tintos e Brancos. Tal como necessita de aliar à promoção dos vinhos a sua paisagem e o seu potencial turístico, assim deve ser promovido o aumento da oferta que hoje disponibiliza quer na linha do turismo rural e enoturismo, bem como da oferta a nível da capacidade hoteleira. A enorme heterogeneidade das diferentes tipologias de proprietários de vinhas desde os pequenos produtores com pouco mais de um hectare, até aos proprietários que podem possuir mais de cem hectares, alguns denominados produtores engarrafadores, confere a necessidade da valorização e reforço da dignidade da casa de todos os produtores independentemente da sua dimensão, falo da Casa do Douro, como organismo a quem devem ser atribuídas funções de representatividade e promoção de todo o património da região. A grande maioria dos problemas enumerados encaixam nas preocupações da Agenda apresentada pela Ministra da Agricultura, sendo que importa atendendo às particularidades enunciadas que exista uma forte articulação com as medidas que o Ministério da Coesão Territorial pode também ele aportar a estes territórios”. ▪
30
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Mariana Baptista Responsável Técnica do Programa Nacional de Microcrédito
António Curto
Economista, ex-Coordenador do Programa Nacional de Microcrédito
Será que conhecemos as nossas empresas? PME. “Pequenas e Médias Empresas”. Expressão que ouvimos e lemos com frequência nas notícias, nas assembleias parlamentares, na agenda política. Associamos normalmente esta expressão à economia, quando a mesma apresenta sinais de prosperidade e crescimento, mas também quando existem impactos fortes negativos, externos ou internos, como a recente crise pandémica, que infelizmente todos enfrentamos. Alguns de nós lutam contra a doença e a propagação da mesma, outros, para além dessa luta, travam ainda outra – preservar os rendimentos das suas famílias e evitar o encerramento das suas atividades profissionais e empresariais. A verdade é que, após a necessidade de confinamento, não tardámos em compreender a gravidade das consequências dessa paragem na vida social e na economia. E essas consequências afetaram e continuam a afetar naturalmente com maior incidência as atividades económicas que dependem da normalidade do nosso dia-a-dia: cafés, restaurantes, turismo, serviços, eventos, etc. Estas atividades têm características e necessidades específicas, pela sua estrutura, dimensão, forma de gestão, tesouraria e rácios de capital, e estão bastante expostas às flutuações do rendimento das famílias e do poder de compra. Isto significa que, para as conseguirmos apoiar é necessário conhecê-las e compreendê-las, para que os apoios e incentivos criados correspondam às necessidades das mesmas. Mas será que conhecemos as nossas empresas? De acordo com o INE, em 2018 existiam 1.278.164 empresas não financeiras em Portugal (98,7% do total das empresas portuguesas), com uma dimensão média de 3,18 pessoas ao serviço. Destas, o conhecido mundo das “PME” é constituído por 1.276.965 empresas, ou seja, 99,9% das empresas portu-
guesas não financeiras são pequenas e médias empresas. Isto significa que as grandes empresas portuguesas representam apenas 0,1% do tecido empresarial em Portugal. Dentro das PME, e apesar de não referidas na terminologia, encontramos ainda outra realidade: 96,2% são microempresas. Na verdade, apenas 3,8% das PME são “pequenas e médias empresas” (3,3% são pequenas e 0,5% são médias). Isto significa que nove em cada dez PME são microempresas, sendo a esmagadora maioria do nosso tecido empresarial constituído por empresas que não têm mais de 10 trabalhadores e que não excedem os 350.000€ de total de balanço e os 700.000€ de volume de negócios líquido. Em 2018, estas empresas tinham uma dimensão média de 1,47 pessoas, empregando 44,6% do pessoal ao serviço – 4 em cada 10 pessoas trabalhavam em microempresas – tendendo, por isso, a criar mais postos de trabalho do que as grandes empresas e sendo responsáveis por 22,5% do VAB nacional do total das empresas portuguesas não financeiras. Na sua intervenção de abertura na Money Conference na passada sexta-feira, o Governador do Banco de Portugal referiu o contributo e o esforço das empresas portuguesas na construção do país após a crise do início da década e até ao final de 2019 - destacando a desalavancagem financeira, o investimento e o aumento do emprego e da eficiência - e sublinhando, em particular, o papel e a dinâmica das PME. A este propósito afirmou que “chegámos ao início de 2020 com uma dinâmica empresarial única em Portugal (…) explicada pelo que aconteceu nas PME. O investimento das PME aumentou 131% e a produtividade 23%. A redução do peso da dívida no ativo atingiu 65pp e o índice de solvabilidade progrediu 18pp. Todos estes indicadores acima da média nacional.” Assinalou ainda que “o aumento da produtividade foi maior nos sectores mais atingidos pela crise pandémica: 50% no Alojamento e Restauração; 52% no Imobiliário; 32% na Indústria Transformadora e 26% no Comércio.” É inequívoca a importância e o contributo destas empresas para o tecido económico e social, mas sabemos que a crise pandémica veio colocar um travão a esta dinâmica, acentuando as assimetrias e as desigualdades, sendo fundamental encontrar soluções viáveis, adequadas e céleres para as apoiar. Apoiar as microempresas é apoiar diretamente a economia, as empresas e as famílias e garantir o desenvolvimento económico e social do país.
PUB
32
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Unidade de Saúde Pública do ACES Douro I Ana Luísa Santos Emília Sarmento Helena Pereira Enfermeiras Especialistas em Enfermagem Comunitária Unidade de Saúde Pública do ACeS Douro I
“Preserve a sua saúde…Use os antibióticos adequadamente” Muitas vezes ouvimos dizer que que “fui ao médico...e não me prescreveu nada...estou tão doente...e nem um antibiótico...”, a verdade é que o uso indiscriminado de antibióticos, quer na doença humana, quer na doença animal ou mesmo na área agropecuária, são fatores que favoreceram o aumento previsível da resistência bacteriana. Este é um problema global e não apenas nacional. As decisões de prescrever antibióticos são muitas vezes baseadas em diagnósticos clínicos, não confirmadas por diagnóstico laboratorial. Continuam também a existir locais onde se fornecem antibióticos sem receita médica. Na agricultura, muitas vezes não são respeitados os intervalos de segurança entre a aplicação dos fitofármacos e o consumo dos alimentos. Todos esses fatores, contribuem para a resistência aos antibióticos que acontece em todo o mundo, implicando agentes microbianos que são ameaças à saúde de todos. Tal, reduz as possibilidades de tratamento das doenças, com consequências graves no aumento de morbilidade, mortalidade e de custos sociais e de saúde associados. Especialistas estimam que a resistência aos antibióticos será responsável, em 2050, pela morte de dez milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Atualmente com a possibilidade de utilização de antibióticos mais “modernos” e “abrangentes”, de segunda e terceira linha, a mortalidade em doentes com infeções causadas por bactérias multirresistentes tem aumentado, tal como os custos de tratamento. Para além disso, enquanto a resistência antibiótica, tem crescido mundialmente, o desenvolvimento de novos antibióticos não acompanhou esse crescimento. As bactérias multirresistentes circulam na população humana e animal através do contacto pessoa a pessoa, nos alimentos, na água e no ambiente, sendo a sua transmissão favorecida e influenciada pela maior facilidade das pessoas se deslocarem, entre cidades e entre países bem como pela grande concentração no mesmo espaço, de pessoas e animais. Qualquer uso de antibióticos, embora adequado, contribui para o desenvolvimento de resistência, mas o uso desnecessário e exagerado agrava esta possibilidade de resistência. O uso excessivo e desapropriado de antibióticos é facilitado em muitos casos pela sua disponibilização sem receita médica. O objetivo é o de reduzir a necessidade da utilização de antibióticos, promover a sua utilização responsável, incentivar o desenvolvimento e a utilização apropriada de novos medicamentos, conservando o mais possível os antibióticos disponíveis e deste modo parar o aumento das taxas de resistência aos antibióticos, assegurando assim a possibilidade de tratar as infeções de forma eficaz e segura. Assim: • Utilize antibióticos apenas quando prescrito por um médico. • Tome o número adequado de doses por dia e nos horários adequados. • Complete o ciclo de antibióticos, conforme prescrito, mesmo que se sinta melhor, para garantir que todas as bactérias sejam eliminadas. • Não partilhe seus antibióticos com outras pessoas. • Não se esqueça de nenhuma dose, nem tome duas doses de uma só vez para compensar uma dose esquecida. • Armazene os antibióticos conforme as orientações. • Não guarde antibióticos para utilização futura. • Os antibióticos não são adequados nas gripes e constipações, pois estas são causadas por vírus e o antibiótico só combate bactérias. Tome conta da sua saúde e da saúde dos outros!!
Vila Nova de Foz Côa
Município adere à plataforma ODSlocal O Município de Vila Nova de Foz Côa, aderiu à plataforma ODSlocal - Plataforma Municipal dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, projeto pioneiro para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a nível local. A sessão de apresentação pública da Plataforma ODSlocal teve a participação de António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas; Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa; António Costa, Primeiro-Ministro de Portugal; e outros intervenientes de relevo do panorama nacional na operacionalização desta plataforma. A assinatura da Carta de Compromisso Municipal à ODSlocal por
Gustavo de Sousa Duarte, Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, ocorreu numa cerimónia por videoconferência, contando com a presença simultânea online dos diversos agentes que se comprometem na mobilização de meios humanos e outros recursos indispensáveis para a efetiva concretização dos objetivos da Agenda 2030 definidos pela Organização das Nações Unidas. A Plataforma ODSlocal visa monitorizar a evolução dos Municípios em relação às várias metas dos ODS através de indicadores de progresso construídos a partir de informação de bases de dados nacionais e dos próprios Municípios. Pretende, ainda, mapear as práticas inovadoras e sustentáveis que tanto as autarquias como a sociedade civil e as empresas estão a implementar, e medir o seu impacto. ▪
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
33
Lamego
Antigo matadouro dá lugar ao futuro Centro Cívico de Lamego O Município de Lamego vai transformar o antigo matadouro municipal num moderno Centro Cívico que estará disponível para toda a comunidade com um conjunto de novas funcionalidades.
dezembro e terá a preocupação de articular o futuro Centro Cívico com a envolvente urbana e paisagística, ligando-o aos restantes pontos estruturais da cidade através da articulação com a rede de transportes públicos. Estará ainda ligado ao novo Parque Urbano,
a maior zona verde pública da cidade, que a Câmara Municipal de Lamego começará em breve a construir. Adjudicada à firma "Manuel Pereira da Cruz & Filhos", pelo valor de 824 mil euros, mais IVA, esta obra é concretizada no âmbito do Plano Estra-
tégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU), cofinanciado em 85% pelo FEDER. Dado o interesse arquitetónico e urbanístico do imóvel, esta requalificação integra o Plano de Ação de Regeneração Urbana (PARU) da cidade de Lamego. ▪
Com características arquitetónicas da primeira metade do século XX, o edifício encontra-se num estado de total abandono e ruína, servindo nas últimas décadas para depósito de diversos materiais e de veículos abandonados recolhidos na via pública. No futuro, o imóvel estará dotado das condições necessárias para acolher um novo espaço de encontro e de exposições que funcionará como alavanca de dinamização estratégica da zona envolvente. O projeto de reabilitação do antigo matadouro municipal incidirá no corpo central do edifício e em duas alas laterais de menor porte, para além de um logradouro. O início desta intervenção está previsto para o próximo mês de Jornal VivaDouro 25/11/2020 Edital nº 2
PUB
CARTÓRIO NOTARIAL DE CARLOS ARÊS EM TORRES NOVAS A cargo do Notário Carlos Manuel Godinho Gonçalves Arês ---Certifico para efeitos de publicação que, por escritura de JUSTIFICAÇÃO lavrada no dia nove de Novembro do ano de dois mil e vinte, exarada de folhas sessenta e três a folhas sessenta e cinco, do Livro de Notas para Escrituras Diversas número CATORZE - C, deste Cartório Notarial, a senhora ERMELINDA MACHADO FELISBERTO, casada sob o regime da comunhão de adquiridos com António da Graça das Neves Felisberto, natura da freguesia de Arcos, do concelho de Tabuaço, residente na Ladeira da Enfermaria Militar, lote 3, rés-do-chão esquerdo – Babalhau, em Torres Novas, declarou que com exclusão de outrem, é dona e legítima possuidora dos seguintes prédios: ---------------------UM) Rústico denominado “Adopaio” sito na freguesia de Arcos, do concelho de Tabuaço, composto de pastagem, oliveiras e pinhal, com a área de catorze mil e dez metros quadrados, que confronta de Norte e de Poente com Artur Alves, de Sul com Idália de Jesus Fernandes e de Nascente com Manuel Rios, omisso na Conservatória do Registo Predial de Tabuaço, inscrito na respectiva matriz rústica sob o artigo 223. ------------DOIS) Rústico denominado “Adopaio”, sito na freguesia de Arcos, do concelho de Tabuaço, composto de cultura com pés de videira em cordão, com a área de mil e vinte metros quadrados, que confronta de Norte e de Poente com Manuel Gomes Rios e de Sul e de Nascente com Henrique Mourão, omisso na Conservatória do Registo Predial de Tabuaço, inscrito na respectiva matriz rústica sob o artigo 225. ----------------------------------------TRÊS) Rústico denominado “Carreira da Aldeia”, sito na freguesia de Arcos, do concelho de Tabuaço, composto de pastagem, com a área de quatro mil e quinhentos metros quadrados, que confronta de Norte com José da Costa e Silva, de Sul com José Cravo, de Nascente com Maria Conceição Rodrigues e de Poente com Natividade Cardoso Silva, omisso na Conservatória do Registo Predial de Tabuaço, inscrito na respectiva matriz rústica sob o artigo 1042. ---------------------------------------------------------QUATRO) Rústico denominado “Peso”, sito na freguesia de Arcos, do concelho de Tabuaço, composto de pastagem, com a área de três mil e seiscentos metros quadrados, que confronta de Norte com Manuel Gomes Rios, de Sul e Poente com Américo Santos Fonseca e de Nascente com Manuel Joaquim Esperança, omisso na Conservatória do Registo Predial de Tabuaço, inscrito na respectiva matriz rústica sob o artigo 1350. -----------------------------------------------------------------------------------Que os prédios acima identificados vieram à sua posse ainda no estado de solteira, maior, por doação verbal efectuada no ano de mil novecentos e setenta por seus pais, GENTIL MACHADO e mulher, MARIA RITA MACHADO, casados sob o regime da comunhão geral de bens, residentes na Rua do Passadiço Nogueira, em Arcos, Tabuaço sem, contudo, terem chegado a celebrar a respectiva escritura pública, tendo a ora justificante passado a exercer continuamente a posse sobre os referidos prédios, desde a referida data à vista de toda a gente, limpando os matos e as árvores, apanhando a azeitona, tratando da vinha, vindimando, utilizando-os como pasto para o gado, sempre na convicção de exercer direito próprio, ignorando lesar direito alheio, sendo reconhecida como sua dona por toda a gente, pacificamente, porque sem violência, contínua e publicamente, de forma correspondente ao exercício do direito de propriedade, sem a menor oposição de quem quer que seja, verificando-se assim todos os requisitos legais para que se possa declarar que adquiriu os referidos imóveis por usucapião, título este que, por natureza, não é susceptível de ser comprovado pelos meios normais. -------------------------------------------------------------------------------Estas declarações foram confirmadas pelo marido da justificante. ----------Está conforme o original e certifico que na parte omitida nada há em contrário ou além do que nesta se narra ou transcreve. ---Torres Novas, 09 de Novembro de 2020. ---Conta n.º: 40. O Notário, _______________________________ (Carlos Arês)
34
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Murça
Município assinalou Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual O Município de Murça, em parceria com a Delegação Local da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e com a Associação Bagos D’Ouro, aproveitaram a data, 18 de novembro, que assinala o Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual, para promoverem uma iniciativa de sensibilização da comunidade para este problema que interfere com os direitos da criança.
A abertura de uma discussão pública sobre este tema, alertando e consciencializando os intervenientes, permite que sejam denunciadas situações que de outra forma não o seriam, facilitando o desempenho das instituições e serviços sociais locais para que possam
atuar de forma a resolver casos atuais e prevenir eventuais situações futuras. A organização da iniciativa, preparou algum material informativo que foi divulgado pelos canais de comunicação da Autarquia, e ainda nesse dia, difundiu um pequeno vídeo,
elaborado por jovens do Concelho de Murça, que aborda sobretudo a questão do cyberbulling e da exploração sexual de crianças e jovens através das redes sociais, apelando à denúncia destes atos e à sua prevenção através de uma maior educação sobre o assunto. ▪
A violência e exploração sexual sobre menores, é um dos problemas sociais mais importantes da atualidade, em que os pais, educadores e decisores políticos tem um papel fundamental na proteção e defesa dos menores.
Passes de transportes escolares gratuitos para alunos de Murça A Câmara Municipal de Murça decidiu tornar gratuito o Passe para transporte escolar aos alunos do 1º, 2º e 3º Ciclos, ensino secundário e alunos do ensino profissional que, neste último caso, não tenham subsídio de transporte. Esta medida entrou em vigor a partir do dia 1 do mês de novembro. O Passe escolar passa a ser de re-
novação anual, e requer simplesmente uma vinheta que pode ser levantada no Balcão Único do Município. Esta medida surge no âmbito da elaboração do Plano de Transporte Escolar, cuja competência é do Município, que organiza, regula, financia e controla o funcionamento dos transportes escolares para todos os anos de escolaridade e todos os estabelecimentos de ensino. Tendo em conta que os alunos e agregados familiares já enfrentam uma elevada despesa com o ensino, por exemplo, na compra
de manuais, materiais de ensino e aulas complementares, a autarquia murcense considera que esta medida é mais uma forma de libertar parte do orçamento familiar, aliviando-o e permitindo que esse valor seja investido noutras necessidades das crianças e jovens. A aposta nessa melhoria das condições educativas é uma opção estratégica do executivo liderado por Mário Artur Lopes, que durante este mandato já implementou várias medidas nesse sentido, como as obras de requalificação do edifício do centro escolar (no-
meadamente, ao nível do aquecimento, acústica, acessibilidade e áreas pedagógicas), a oferta dos cadernos de fichas, o projeto de remodelação da escola sede do agrupamento, o reforço e capacitação do serviço de alojamento e refeição na residência de estudantes de Murça, a aquisição de novas viaturas para o transporte escolar, assim como o envolvimento próximo com a Escola Profissional de Murça, estabelecimento importante no Concelho e na região, procurando sinergias e ferramentas que valorizem o ensino profissional. ▪
NOVEMBRO 2020
VIVADOURO
35
COVID-19 #FIQUEEMCASA Caros munícipes,
Manuel Cordeiro Presidente da Câmara de São João da Pesqueira
Dirijo-me pessoalmente a todos para vos fazer um pedido, aliás, porventura será o mais importante pedido que vos faço enquanto Presidente da Câmara Municipal. Como sabem, atendendo ao número de casos surgidos recentemente, o nosso concelho integra a lista dos concelhos de risco. Peço, por isso, a todos um esforço maior ainda de contenção e proteção nos próximos tempos. Serão dias e semanas muitíssimo sérios.
Não temos de parar totalmente, nem tal seria possível ou avisado para a nossa economia. Façamos a nossa vida, o nosso trabalho, consumamos no comércio local, com bom senso e sempre com o uso da máscara, mas evitemos mesmo pelo menos os contactos com os mais idosos. Felizmente não registamos nenhum óbito até à data, mas o risco é muitíssimo grande. Protejam os vossos familiares, amigos, pais, avós... Mais importante do que integrar
ou não a lista de concelhos de risco, é proteger a vida de quem mais amamos. Somos uma família preocupada uns com os outros, e pela família somos capazes de todos os sacrifícios. Vamos ultrapassar esta crise juntos. Vamos VIVER, sim podemos viver, mas da forma que este tempo nos exige. Um forte abraço, Manuel Cordeiro
36
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Nacional
Agência Portuguesa do Ambiente aprova venda de seis barragens da EDP A francesa Engie tem assim luz verde para comprar as barragens de Miranda, Bemposta, Picote, duas no BaixoSabor e Foz-Tua. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA), presidida por Nuno Lacasta, deu ‘luz verde’ à venda de seis barragens da EDP no rio Douro à empresa francesa Engie. “Impostas medidas complementares, a Agência Portuguesa do Ambiente aprovou a transmissão de títulos de utilização de recursos hídricos dos aproveitamentos hidroelétricos de Miranda, Bemposta, Picote, Baixo-Sabor e FozTua”, segundo comunicado divulgado esta sexta-feira pelo ministério do Ambiente e da Ação Climática (MAAC). “Com parecer favorável da Agência Portuguesa do Ambiente à transmissão destes Títulos de Utilização de Recursos Hídricos, a EDP pode, assim, proceder à venda das infraestruturas à ENGIE”, de acordo com o MAAC. A compra foi fechada por um valor de 2,2 mil milhões de euros, tendo sido anunciado em dezembro de 2019. Segundo a tutela de João Pedro Matos Fernandes, a Engie vai registar em Por-
tugal as “empresas relacionadas com a propriedade e operação das barragens”. A Engie “declarou, ainda, que valorizará a empregabilidade, contratando e aumentando o número de fornecedores locais. Por outro lado, a empresa assegurou também que a entidade responsável pela operação e manutenção dos aproveitamentos hidroelétricos, com cerca de 60 trabalhadores (aos quais prevê juntar mais 22, correspondentes a novos postos de trabalho), ficará sediada em Miranda do Douro”. A tutela também garante que a “transmissão dos Títulos de Utilização de Recursos Hídricos destes empreendimentos resultará, em termos fiscais, em potenciais receitas para os municípios”. Assim, os municípios têm a “faculdade de lançar uma derrama anual até ao limite máximo de 1,5% do lucro tributável em função dos gastos com a massa salarial de cada estabelecimento estável ou representação local, incluindo o local da sede ou de direção efetiva. Adicionalmente, têm ainda direito a parte da receita do IVA liquidado na respetiva circunscrição territorial relativa a determinadas atividades que aí se desenvolvem, de acordo com os critérios de distribuição legalmente definidos”. Segundo o comunicado da MAAC, a decisão da APA inclui a obrigação de se elaborarem várias adendas aos contra-
tos de concessão: 1. Respeitantes a procedimentos operacionais entre o concedente e o concessionário; 2. A explicitação do estado de execução e de responsabilidades associado às medidas ambientais mais relevantes, no âmbito das Declarações de Impacte Ambiental; 3. Quando aplicável, é regulado o regime de bombagem entre diferentes concessões, garantindo a justa distribuição de água entre os titulares e as obrigações de serviço público pertinentes, nomeadamente o regime de caudais
ao abrigo da Convenção de Albufeira, outras utilizações existentes, os caudais de cariz ambiental e demais obrigações contratuais e legais; 4. Tendo sido constatado que o potencial adquirente do título possui as habilitações, capacidade técnica e financeira exigidas ao titular originário, serão prestadas garantias financeiras, bem como seguros de responsabilidade ambiental, pelo novo titular; 5. É determinado um período de transição de 24 meses, durante o qual a EDP deve dar apoio técnico à gestão das concessões objeto da transmissão. ▪
Governo lança em 2021 aviso de 50M€ para reconversão da vinha A ministra da Agricultura avançou no passado dia 10, na Assembleia da República, que, no próximo ano, vai ser lançado um aviso de 50 milhões de euros no âmbito do regime de apoio à reestruturação e reconversão da vinha (Vitis). “Estamos já a preparar um aviso, que vai sair no próximo ano, para 50 milhões de euros e para podermos dar sequência ao tra-
balho fantástico de renovação das nossas vinhas”, anunciou Maria do Céu Antunes, em resposta aos deputados, numa audição parlamentar conjunta com as comissões de Orçamento e Finanças e Agricultura e Mar. Este regime tem 73 milhões de euros previstos no Orçamento do Estado. Conforme apontou a líder do Ministério da Agricultura, apesar do contexto pandémico, o vinho é dos produtos que mais tem contribuído para equilibrar a balança comercial portuguesa. A governante ressalvou que toda a vinha, incluindo nas regiões autónomas, pode abrir avisos, notando que foi opção do Governo Regional da Madeira não o fazer este ano, uma vez que está “a rever os cálculos
do valor de apoio”. As exportações de vinhos portugueses cresceram em agosto 8,3% em valor e 8,2% em volume face a igual mês de 2019, adiantou, em 16 de outubro, o Ministério da Agricultura, em comunicado, citando dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Na mesma nota, a tutela referiu que “no acumulado do ano (de janeiro a agosto), regista-se um crescimento de 2,3% em valor e 3,4% em volume, em relação ao período homólogo”. No que diz respeito aos principais mercados, em agosto, existiu uma “recuperação nas vendas para França e Brasil, com variações de +22,4% em valor e +16,8% em volume, no primeiro caso, e +67,2% em valor
e +41,2% em volume, no caso do Brasil”, de acordo com o documento. Analisando o acumulado do ano, registou-se “o crescimento das vendas para os EUA (+9,7% em valor e +16,9% em volume), Reino Unido (+11,2% em valor e +21,7% em volume) e Brasil (+14,3% em valor e +16% em volume), com variações em volume superiores a dois dígitos” em termos homólogos, segundo a mesma nota. Apesar destes dados positivos, “o mercado francês (-5,1% em valor e -5,3% em volume) e o alemão (-0,3% em valor e -17,6% em volume) continuam a apresentar quebras” face aos primeiros oito meses do ano passado. ▪
NOVEMBRO 2020 VIVADOURO
37 PUB
Região
Douro brilha no Best of Wine Tourism Anualmente são atribuídos os prémios Besto of Wine Tourism (BWT), uma iniciativa promovida pela Rede Internacional de Capitais de Grandes Vinhedos (Great Wine Capitals Global Network) para distinguir os melhores em várias categorias. Em Portugal participam as regiões Douro/Porto e dos Vinhos Verdes. O objetivo desta rede é promover o enoturismo destas áreas, encorajando o desenvolvimento económico, académico e cultural na sua comunidade, através de intercâmbios e projetos conjuntos. Entre os fatores de apreciação estão a excelência das instalações e serviços nas diversas categorias, a inovação e originalidade da oferta, e o impacto no desenvolvimento do enoturismo e da região onde se inserem. Este ano, em Portugal o Douro foi
a região que mais brilhou arrecadando cinco dos seis prémios em disputa. O Porto conseguiu uma distinção, ex aequo com o Douro, e a região dos Vinhos Verdes uma distinção também. Após esta fase nacional, segue-se a final para apurar o vencedor global de cada uma das categorias. Saiba quem foram os premiados em Portugal: Alojamento: Monverde Wine Experience Hotel (Vinhos Verdes) | Arquitetura e Paisagem: Quinta do Crasto (Douro) | Arte e Cultura: Casa de Mateus (Douro) | Experiências Inovadoras em Enoturismo: Quinta da Pacheca (Douro) | Restaurantes vínicos: Casa dos Ecos, by Pedro Lemos (Douro) e Restaurante Barão Fladgate (Porto) | Serviços de enoturismo: Quinta do Vallado (Douro) ▪
PUB
38
VIVADOURO
NOVEMBRO 2020
Opinião António Fontaínhas Fernandes Reitor da UTAD
Numa altura em que se discutem as oportunidades do maior volume financeiro para recuperar o país da crise pandémica a que assistimos, importa delinear projetos estruturantes que se traduzam em mais desenvolvimento e coesão do território. Vejamos o caso do Douro! Trata-se de uma região que, a exemplo de outras localizadas no interior, tem
Gilberto Igrejas Presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I. P. (IVDP)
Assistimos no passado dia 11 de novembro à Mostra Pública da Hackathon Douro e Porto que constituiu o corolário de uma atividade intensa e dedicada que iniciámos há cerca de um ano. O termo Hackathon pode para alguns ainda ser estranho: O conceito de hackathon, um anglicismo, deriva da fusão de hack com marathon. Traduzido para português, hack representa a criação de soluções através de um processo experimental e criativo, e marathon (em português, maratona) relaciona-se com a ideia de um grande esforço num curto espaço de tempo. Desde o início, vimos esta oportunidade
Domingos Nascimento Presidente da Agência Social do Douro
Neste tempo escuro, de breu carregado, deve mobilizar-nos a necessidade de se evitar deixar o país , mas particularmente para nós, a região, caírem no precipício. Sozinhos pouco faremos. Juntos, tanto quanto a robustez da estratégia que consigamos construir. Na nossa região, neste Grande Douro, as âncoras mais relevantes, que são a Agricul-
Que Futuro para as regiões: o caso do Douro vindo a perder população e possui um modelo económico desajustado. Basta ver o estudo estratégico para o setor dos vinhos do Porto e Douro encomendado pelo IVDP à UTAD em 2017, o qual sugere um conjunto de medidas vitais para a competitividade e sustentabilidade da região. Indubitavelmente, o Douro é hoje uma região que deu um salto em termos de desenvolvimento, traduzido nas sábias palavras do duriense António Barreto: “As coisas, são hoje diferentes do que eram há vinte anos, e do que foram durante séculos; talvez o Douro, tenha evoluído mais em vinte anos, do que nos últimos duzentos”. Importa lembrar o impacto que o PDRITM
(Plano de Desenvolvimento Rural Integrado de Trás-os-Montes e do Douro), lançado na década de oitenta por Valente de Oliveira, teve na reconversão dos vinhedos e na fileira vitivinícola. Mais tarde, a dinâmica de internacionalização dos vinhos do Douro, a candidatura a Património Mundial e a nova geração de empresários formados na UTAD, que tem apostado na qualidade e diferenciação dos vinhos. Também, as alterações registadas no Douro nas últimas décadas, não podem ser desligadas da globalização da sociedade e da economia. Implicações desta globalização, são a crescente e multifacetada dinâmica do turismo, com destaque para o turismo fluvial e a internacionalização
dos vinhos DOC Douro. Dito isto, a exemplo do mencionado PDRITM, importa preparar um novo plano integrado que considere um conjunto de projetos estruturantes, que mobilize as instituições e as pessoas em torno de novas dinâmicas para o Douro, enquadradas num sistema de inovação regional. Desta forma, será possível aumentar o valor acrescentado dos produtos regionais e valorizar os recursos endógenos, considerando a paisagem um ativo único, valores que devem estar sempre presentes na estratégia coletiva de aumento da competitividade e de melhoria social da região.
jeto calcorreou a Região, visitou todos os Municípios, falou com todas as Associações representativas do setor, com empresas, ouviu todos, sintetizou aspirações. A equipa de projeto realizou questionários, promoveu grupos de discussão, realizou entrevistas individuais, para que, sintetizando uma enorme variedade de aspirações, se conseguisse selecionar 10 desafios a atribuir a outras tantas equipas que se incumbissem de obter 10 soluções através de um processo experimental e criativo, desafios que percorrem toda a cadeia de valor da produção de vinho. Todo este trabalho consubstancia um dos nossos principais objetivos iniciais: termos uma atividade estruturada que permitisse descentralizar o pensamento na identificação dos desafios mais prementes do sector vitivinícola da RDD; que traduzisse um esforço claro para criar as condições para a trans-
ferência de conhecimento para a RDD, em particular para os principais stakeholders do setor vitivinícola. Não se esgotou nesta Hackathon o tratamento de todo este levantamento de necessidades objetivas sentidas pelos nossos parceiros da Região neste projeto. O relatório estratégico produzido, que constitui um repositório de enorme valor de todos os desafios que a Região deseja ver resolvidos, será o suporte de um trabalho de continuidade. Cabe-nos a nós, instituições, autarquias, associações, agentes económicos, encontrar um caminho comum para que a inovação constitua um projeto integrador na RDD, capaz de atrair massa crítica altamente qualificada para uma região cada vez mais carente de rejuvenescimento.
gelado. Este é um tempo a escurecer, de negritude, a cada dia que passa. Já somos das regiões mais deprimidas. Recuaremos anos e anos no nível de desenvolvimento. Esta será a cor dos dias seguintes se nada fizermos e estivermos só à espera do “milagre bélico” da Europa, ou se não formos capazes de perceber que, desta vez literalmente, o mundo mudou!! Proponho: • um diagnóstico rápido e simples que identifique o estado das organizações que sustentam o emprego na região, (empresas e
instituições). • um processo acelerado de discussão pública de soluções integradas e territorialmente agregadas. Deixemo-nos de medidas, eventualmente boas, mas pouco eficazes se tomadas à escala Municipal. • A mobilização da Universidade e dos Politécnicos da região, trazendo a ciência para a rua. O dia seguinte pode ser de primavera, certamente lentificada, mas com o ciclo da vida reganhado. A cor do dia seguinte pode ser verde!! De esperança!
Hackathon Douro e Porto como um instrumento inovador na forma e na abordagem. Um evento especialmente útil para gerar inovação, para promover o recrutamento e captação de talento, para contribuir para a construção de comunidade; pelas soluções tecnológicas a que conduzirá, permitisse futuramente um aumento da rentabilidade do investimento em transformação digital. Na nossa rica e longa história da Região Demarcada do Douro (RDD), a Hackathon surge, assim, como uma iniciativa mobilizadora, imbuída do espírito de integração, com um desiderato estratégico, que conduzirá a progresso palpável, que virá a estimular o trabalho em conjunto de várias organizações que coabitam esta mesma região, mas que nem sempre se unem em torno de desafios que lhes são comuns. Durante cerca de um ano, a equipa de pro-
Que cor terá o dia seguinte? tura e o Turismo, e as atividades a elas associadas, embora com impactos diferentes, amanhecerão muito fragilizadas, em alguns casos, já sem vida! As outras atividades satélites dessas âncoras, sufocarão se entretanto nada de consistente se fizer. Os rendimentos disponíveis nas famílias vão cair a pique. A tesouraria das empresas está já a secar como as folhas das videiras. A sustentabilidade das Instituições, já há muito periclitante, está irremediavelmente comprometida. Nua ficará a fragilidade maior dos nossos territórios, a desertificação humana. Nu re-
B OA S FE ST AS
NOVEMBRO 2020
VIVADOURO
39
Lazer Piadas de bolso:
RECEITA CULINÁRIA VIVADOURO
A professora pergunta ao menino Joãozinho o que quer ser quando for grande. O menino responde: - Quero ser o Pai Natal! Espantada pergunta a professora: - O Pai Natal?! Então mas porquê? Explica o Joãozinho: - Ora! Ao menos assim só trabalhava uma vez por ano…
Bolo de Natal Ingredientes 3 ovos M 60 g manteiga 250 g açúcar 3 c. sopa mel de cana 1 limão 0,4 dl brandy 0,5 dl vinho do Porto qb canela moída qb noz moscada moída 150 g fruta cristalizada 300 g farinha de trigo 0,5 dl leite meio gordo 1 c. chá fermento em pó 1 c. café sal 1 c. sobremesa açúcar em pó “Em nome da Câmara Municipal de Tabuaço desejo um Natal Feliz e
HORÓSCOPO
Preparação um ano de 2018 pleno de realizações pessoais e profissionais” 1. Preaqueça o forno a 160ºC. 2. Parta os ovos e coloque as gemas O Presidente da Câmara Maria Helena numa tigela, reservando as claras. Junte às gemas a manteiga e o açúcar e bata Socióloga, taróloga e apresentadora até obter uma massa esbranquiçada (CarloseAndré Teles Paulo de Carvalho) 210 929 000 fofa. mariahelena@mariahelena.pt 3. Junte o mel, a raspa do limão, o brandy, o Vinho do Porto, a canela e a noz-moscada. 4. Pique as frutas cristalizadas em cubos, envolva-as com 1 c.sopa de farinha e Amor: adicione-as ao preparado. 5. Adicione o leite e a restante farinha, Esforce-se por basear a sua relação em atitudes de diálogo e compreensão. previamente envolvida com o fermento. Saúde: Acrescente, sem bater, as claras previamente batidas em castelo com o sal, enO desequilíbrio em que se encontra pode estar associado ao cansaço e à falta volva bem e deite o preparado na forma, de exercício. untada com a manteiga e polvilhada com a farinha. Leve ao forno entre 75 a 90 Dinheiro: minutos. Desenvolva alguns dos seus projetos, pois esta é a melhor altura para os co6. Desenforme e polvilhe com o açúcar em pó. locar em prática.
SOLUÇÕES:
PUB
PUB