Cultcom #2

cultcom +NIRVANA e RENATO RUSSO MÚSICA CLÁSSICA JOVENS ESCRITORAS CANTO CIDADÃO MODA PIN-UP CASA DAS CALDEIRAS

distribuição gratuita

REVISTA LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERITAS/UNG

#2 dezembro 2017

ESPECIAL BANDAS

Os desafios de quem tenta viver da música e um manual com dicas para bandas independentes

FÁBIO PORCHAT

FALA SÉRIO LÁZARO RAMOS SOBRE (QUASE) TUDO Desafiamos o apresentador da Record TV a falar sobre os assuntos mais polêmicos do Brasil e do mundo – sem fazer piada

O QUE AS AGÊNCIAS JWT | RÁI | DPZ | FULLJAZZ WUNDERMAN | ROCKERHEADS | TV1 RAPP | GREY | EUGENIO TÊM EM COMUM? TODAS CONTRATARAM ALUNOS DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA DA UNG. FAÇA PARTE DO CLUBE DE PUBLICITÁRIOS VENCEDORES! FAÇA UNG!

Grupo Ser Educacional

Gente criando o futuro

índice | 3

fala, jornalista!

4

bastidores | expediente

5

música

6

jovens clássicos

espaço cultural

casa das caldeiras teatro nelson rodrigues

8

cultura do bem 10 canto cidadão

olhares 12

cinema fotografia literatura musicoterapia

exposição + musical 16

Nirvana e Renato Russo

literatura 18

jovens escritoras

cinema 20

novas versões

especial bandas 22

cena independente manual de sobrevivência

capa 26

fábio porchat

moda 30

pin-up moderna

galeria 32

ensaios autorais dos alunos de fotografia

Registro icônico de um show do Nirvana é uma das imagens da mostra “Nirvana: Taking Punk to the Masses”, em cartaz na Bienal do Parque do Ibirapuera, em SP

4 | fala, jornalista!

a vez dos anônimos A proposta nesta nova edição da Cultcom é abordar a cultura sob uma perspectiva não-hegemônica, tanto do ponto de vista dos temas quanto dos sujeitos protagonistas desta cena. Afinal, para cobrir o mainstream já existem os grandes meios de comunicação de massa. Enquanto revista experimental, interessa-nos o exercício de refletir sobre o diferente, sobre a produção alternativa, independente, quase sempre à margem dos espaços tradicionais de arte e cultura.

Ler esta edição é conhecer histórias de resistência e força em diversos campos da cultura. No teatro, a história do espaço Nelson Rodrigues, em Guarulhos, que luta para ser conhecido entre a população da cidade, apesar de sua importância para a dramaturgia local. Na música, como as bandas independentes fazem para se manter na ativa, apesar da grana curta e da pouca divulgação. Na literatura, com a história de jovens talentos femininos em busca de um lugar ao sol nas letras guarulhenses e que investiram em uma primeira publicação.

Acreditamos que ao oferecermos esta chance aos nossos focas, cumprimos com louvor a missão acadêmica de contribuir para que nossos alunos desenvolvam uma visão do ofício do jornalista para além da cobertura do factual. Afinal, o jornalismo não pode perder de vista sua característica de também ser uma narrativa dos anônimos, cujas histórias a serem desbravadas representam ouro informativo e uma oportunidade de exercitar um olhar mais sensível para o mundo que nos cerca.

Mas como ninguém é de ferro e nem pretende defenestrar a indústria cultural, dedicamos nossa capa a conhecer o que pensa sobre vários (e polêmicos) temas um jovem talento multifacetado da atualidade. Redator, roteirista, produtor, ator, humorista, dublador – oriundo do teatro e da internet: Fábio Porchat. Desde o ano passado, ele ocupa as noites da Record TV com seu talk show e nos conta sua visão a respeito de temas como corrupção no Brasil, racismo, aborto, questões de identidade de gênero, preconceito e censura às artes.

Boa leitura! c

PROF. MS. FLÁVIA DELGADO

coordenadora dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Fotografia da Univeritas/UNG

dezembro 2017 | cultcom

bastidores | expediente | 5

mantenedora Ser Educacional chanceler Prof. Janguiê Diniz reitor Prof. Dr. Jânio Janguiê Bezerra Diniz vice-reitor Prof. Ms. Elói Marcos de Oliveira Lago pró-reitora de pós-graduação, pesquisa e extensão Prof. Dra. Luciene Cristina Figueiredo direção dos cursos de ciências humanas e sociais Prof. Ms. João José Samarão

ESSA MOÇA TÁ DIFERENTE

A aluna de Publicidade e Propaganda Renata Santos participou do ensaio sobre moda pin-up. Fã do estilo retrô, ela usou pela primeira vez o look criado nos anos 1930 e adorou. A produção ainda contou com reportagem de Simone Cavalcante e fotografia de Junior Lago.

Veja na página 30.

coordenadora dos cursos de jornalismo, publicidade e propaganda e fotografia Prof. Ms. Flávia Daniela Pereira Delgado

cultcom DESAFIO NA ILUSTRAÇÃO

Antes de entrar para o curso de Fotografia, Guilherme Lopes já mostrava seu talento com colagens digitais nas redes sociais. Dessa vez, ele aceitou o desafio de ilustrar os artigos da Olhares com fotografias autorais e muita criatividade no digital. Veja na página 12.

PASSEIO CULTURAL

O repórter Thiago Nort foi conferir de perto a cena cultural presente na Casa das Caldeiras, que fica na Água Branca, zona oeste de São Paulo. Além de conhecer quem ocupa o espaço, ele traz novidades sobre a programação de eventos do local, que é cada vez mais eclética. Veja na página 8.

Cultcom é uma produção acadêmica desenvolvida na disciplina de Projeto Integrado VI pelos alunos do 7º semestre de Jornalismo da Univeritas/UNG, sob a supervisão do Prof. Esp. Alex Francisco.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. Todas as informações e opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores e não refletem a opinião da Univeritas/UNG.

editor Prof. Esp. Alex Francisco chefe de reportagem Lucas Lobo redação Jean Gonçalves, Jéssica Sant’Ana, Jéssica Santos, João Victor Pessim, Juliana Alencar, Kimberly Gois, Larissa Queiroz, Mariane Almeida, Mario Henrique, Mayara Paula, Nataly Simões, Nathalia Barbosa, Rafaella Vensighem, Sara Fabiano, Sérgio Gregório, Simone Cavalcante, Tais Ribeiro, Thais Pereira, Thalita Xavier, Thiago Nort e Wagner Silva revisão Prof. Ms. Lislei Carrilo anúncios Prof. Esp. Fábio Martins diagramação e arte Prof. Esp. Alex Francisco endereço Praça Tereza Cristina, 88, CEP: 07115-280, Centro, Guarulhos - SP site www.ung.br data dezembro de 2017 número 02 tiragem 1.000 exemplares

6 | música

Monik Freitas é musicista há nove anos e faz parte da Orquestra Jovem Municipal de Guarulhos

foto divulgação

Jovens clássicos Gosto pela música clássica alimenta o sonho de jovens que participam do movimento sinfônico da cidade por Thalita Xavier

Não é raro encontrar na playlist de alguns jovens nomes consagrados, como Vivaldi, Bach e Mozart, em meio aos hits do momento. O gosto pelo erudito é também a marca de quem se dedica ao estilo, que é reconhecido por sua composição intelectualmente arquitetada e por emocionar plateias em salas de concertos pelo mundo. Alguns desses amantes dos clássicos estão no Conservatório Municipal, que tem sido o principal meio de acesso dos jovenss guarulhenses ao movimento sinfônico.

A escola oferece cursos de violino, piano, flauta, violoncelo, entre outros, além de projetos como a Orquestra Jovem Municipal de Guarulhos (OJMG), que reúne 75 músicos de 14 a 28 anos.

Kevin Paulo Martelini Camargo, 23 anos, é um deles. Começou na música aos 14 anos quando estudava piano com sua irmã. Fez cursos de regência e eventualmente rege a orquestra. “A

música sinfônica desempenha bem o papel de acrescentar informações e conhecimento. Quando desperta interesse faz com que a gente queira entendê-la e conhecê-la cada vez mais”, conta.

O maestro da OJMG e atual diretor do Conservatório Municipal de Guarulhos, Emiliano Patarra, afirma que o gênero hoje enfrenta o problema da falta de divulgação. “Nas rádios, você vai encontrar uma emissora que toca esse tipo de música. Na TV, são raros os programas dedicados ao gênero. Então as pessoas não têm acesso”, conta.

“Guarulhos tem sido um fenômeno que ajuda a reafirmar que quando as pessoas têm acesso a música elas adquirem o gosto. Os concertos da OJMG estão sempre lotados, têm uma plateia muito animada”, complementa.

Faz bem para quem ouve e para quem toca, pois, segundo Patarra, ao descobrir que consegue passar seu sendezembro 2017 | cultcom

música | 7

Novos sucessos eruditos Conheça os jovens nomes da música clássica que impressionam pelo talento e pelo repertório com tão pouca idade timento ao público por meio da música, pode ocorrer uma grande mudança na vida daquele jovem e ingressar na carreira torna-se um novo sonho. “Se ele se dedica ao estudo de um instrumento é uma coisa maravilhosa em termos de disciplina, de persistência, de organização pessoal, de conhecimento do seu próprio corpo e de expressão artística.”

Musicista há nove anos, Monik Freitas, 23 anos, é integrante da OJMG e reconhece que a música clássica só tem a acrescentar na formação cultural dos jovens. “Antes esse gênero musical fazia parte apenas da nobreza, mas com o tempo foi se popularizando, saindo dos salões e indo às salas de concerto.

Estudar um instrumento ou ouvir os grandes clássicos não anula o jovem a gostar de outros estilos”, fala.

Além do gosto pelo erudito, a realidade de ser um músico reconhecido fica

Jovem interessado em entrar no ramo precisa se envolver com a arte por meio de eventos cada vez mais próxima dos integrandes da orquestra. “Evoluímos a cada ano.

O trabalho de preparar o jovem para a vida profissional é feito de maneira muito competente pelo maestro Patarra. Com essa evolução podemos oferecer cada vez mais espetáculos de qualidade, e percebemos isso com o calor do público”, comenta o spalla da orquestra Renan Vitoriano, 28 anos.

Há cinco anos no grupo, Vitoriano afirma que é preciso foco e determinação para seguir na música clássica. “É preciso acreditar muito no que se tem a dizer com a música. Pode ser que tempestades venham dificultar o percurso, mas o músico tem que manter o foco, e acreditar mesmo que minimamente no próprio potencial”, comenta.

Para o maestro e professor do conservatório Marcelo Mendonça, além do estudo, o jovem interessado em entrar no ramo precisa se envolver com a arte por meio de eventos. “É procurar nas escolas, nas igrejas, nos espaços públicos. A música é uma das poucas profissões que para você entrar é preciso saber realmente o que quer”, diz. “O jovem não pode perder de vista que, além de muito estudo, essa atividade também tem que ser prazerosa para ele, tem que fazer bem”, complementa Patarra. c Serviço Durante o ano, o Conservatório Municipal de Guarulhos abre inscrições para oficinas e cursos regulares pelo site www.portaleducacao.guarulhos.sp.gov.br.

Il Volo

Formado por Piero, Ignazio e Gianluca, trio pop operático influenciado por Andrea Bocelli

Amira Willighagen

Ficou conhecida por cantar árias de ópera e outros clássicos sem nunca ter estudado canto

Charlotte Church

Cantora galesa que ficou famosa na infância como cantora de música clássica

foto divulgação

O spalla Renan Vitoriano está há cinco anos na orquestra da cidade

Energia renovada Repleta de festas, Casa das Caldeiras abastece a zona oeste de São Paulo com programação eclética

Festas como a “Samba Rock na Veia” agitam a programação da Casa das Caldeiras

A movimentação cultural da capital paulista é tão grande que sempre surgem novos espaços destinados ao entretenimento. Esse locais considerados alternativos sempre servem de palco para os movimentos artísticos da região em que estão inseridos, e também como vitrine na divulgação de novos artistas.

Um dos mais recentes pontos de referência nesse segmento é a Casa das Caldeiras, que fica no bairro da Água Branca (zona oeste de São Paulo).

A propriedade foi um edifício fabril na década de 1920 e ganhou esse nome por, na época, abrigar caldeiras vindas da Europa e que produziam energia para todo o parque industrial do conde Francesco Matarazzo (1854-1937).

As três enormes chaminés e o prédio monumental feito de tijolos foram res-

foto divulgação

por Thiago Nort

foto divulgação/Samba Rock na Veia

8 | espaço cultural

Casa das Caldiras na década de 1920, quando fazia parte do complexo Matarazzo

taurado em 1998 e hoje se tornou um centro cultural com diversos eventos, como festivais de primavera e de jazz, além de expor a cultura urbana e a interação com a comunidade ao apoiar artistas independentes que têm a oportunidade de expor suas artes no local.

“Aqui temos atividades culturais como musicais, shows e teatro. A casa das Caldeiras é um dos únicos locais da cidade que traz a comunidade para apresentar suas artes e habilidades culturais para grupos e visitantes”, fala o visitante Renan de Jesus. “É um espaço que não distingue, não segrega, não discrimina e nem separa a sociedade.

Ela promove eventos culturais para todos os níveis sociais, todas as faixas etárias e todas as pessoas que gostam de arte”, complementa.

Este mês, a casa deve receber a festa Calefação Tropicaos, famosa festa de cultura brasileira que apresentará atrações especiais como discotecagem, karaokê, comidinhas típicas, exposição no túnel das chaminés e bazar com diversos expositores. Em dezembro o espaço ainda recebe mais uma edição da For FunParty para celebrar a cultura urbana com apresentações de break e hip-hop. O Festival Mundo Pensante é outro evento que promete incendiar o local com diversas intervenções artísticas. A programação completa do centro cultural está disponível em www.casadascaldeiras.com.br. c dezembro 2017 | cultcom

espaço cultural | 9

Fachada do Teatro Nelson Rodriges tem faixas colocadas por produtores

Pequeno notável Teatro Nelson Rodrigues segue em atividade, mas programação é desconhecida até por quem mora perto do local por Jéssica Sant’Ana

Quem passeia pelo bairro de Vila Galvão, em Guarulhos, fica encantado com a área de lazer no entorno do Lago dos Patos, mas pouco conhece do Teatro Nelson Rodrigues, espaço cultural em atividade desde 1981. É uma homenagem ao escritor, jornalista e dramaturgo pernambucano, autor de obras como “Vestido de Noiva” (1943), “Toda Nudez Será Castigada” (1965) e a celebrada “A Vida como Ela É...”, publicada entre os anos de 1951 e 1961.

Segundo Maria Luiza Machado, 28 anos, que mora próximo ao teatro, o local é histórico e sempre foi importante para o bairro, mas nos últimos tempos, suas atividades têm sido pouco divulgadas. “Vejo que falta atenção da Secretaria de Cultura para divulgar melhor a programação que acontece ali. Moro ao lado e nunca sei quando ocorre algum espetáculo, show ou evento”, comenta.

Comerciante há mais de 25 anos na região, Antonio Carlos, 62 anos, relembra dos tempos em que o Teatro Nelson Rodrigues atraía o público. “Quando havia peças para as crianças, eles entregavam os panfletos com informações da apresentação e desconto na entrada.

Hoje em dia não aparece nada, faz tempo que ninguém passa por aqui divulgando a programação”, diz.

O teatro, que já foi palco de eventos importantes para a cultura local, como a Mostra de Teatro Estudantil e o Festival de Associação Brasileira de Cinema e

foto Matheus Alves Lima

Animação (ABCA), sempre foi referência para os projetos teatrais da cidade. A professora de teatro Beth Castro conta que já fez apresentações no Nelson Rodrigues e que é preciso cuidar mais da estrutura do local. “Deveria ter uma mesa de luz e som automáticas, com todos os canais funcionando, refletores novos, uma pasta com gelatinas de várias cores. No palco precisava de cortinas e pernas novas.”

Segundo a chefe de divisão administrativo da Secretaria de Educação Cultura Lazer e Esporte de Guarulhos, Audrey Pacaterra, a divulgação das apresentações é de responsabilidade de cada produtor. Com a mudança para a nova gestão, a coordenação está trabalhando para melhorar a divulgação e quantidade de atividades realizadas no teatro. “Quando o evento é gratuito, a Comunicação publica nas páginas da Prefeitura, e quando é pago é divulgado no site do GruCultura como uma agenda cultural. Por enquanto não há agenda física, pois não há verba”.

A agenda do Teatro Nelson Rodrigues esta fechada até 23 de dezembro.

No levantamento feito pela secretaria, de janeiro a setembro deste ano, o espaço cultrual teve um público de 8.906 espectadores, com 95 eventos/atividades. “Apesar da falta de verba destinada ao teatro, há projetos para 2018 com cursos gratuitos de dança, teatro, entre outros”, comenta Audrey. c

10 | cultura do bem

foto divulgação

Voluntárias do projeto Doutores Cidadão fazem a alegria da paciente

Arte que transforma Voluntários contam como a arte, por meio do projeto Canto Cidadão, modifica suas vidas e a dos pacientes por Mayara Paula

Cresce cada vez mais o número de pessoas que doam um pouco de seu tempo em benefício do próximo. Se for por meio da alegria, melhor ainda. Assim o projeto Canto Cidadão tem atuado em programas sociais voltados à cultura, saúde e educação. A ação já fez mais de 3 milhões de atendimentos e conta atualmente com 150 voluntários.

A inspiração é o médico norte-americano Hunter Doherty Patch Adams, conhecido por usar a arte no tratamento de pacientes – também retratado no filme “Patch Adams - O Amor é Contagioso” (1998). Assim, o Canto Cidadão criou o projeto hospitalar Doutores Cidadãos, e diferentemente da maioria dos projetos com palhaços em hospitais, o público-alvo dessa ação são adultos e idosos. “Não fazemos show de palhaço. A ideia é se aproximar das pessoas por meio dessa figura tão alegre”, conta Felipe Mello, 40 anos, diretor-fundador do projeto. “Fazemos uma visita animada. Nós buscamos, pela figura do palhaço, promover um encontro alegre que, muitas vezes não é nem pela risada, é pela atenção que a gente presta aos pacientes”, complementa.

Mello foi surpreendido com um e-mail de agradecimento de um ex-paciente que decidiu iniciar um trabalho semelhante no norte do país. “Precisa-

mos acreditar que dentro das sementes moram árvores. Eu joguei uma semente e ela virou uma árvore que está gerando outros frutos, outras sementes”, fala.

A farmacêutica Olivia Pinheiro, 31 anos, é doutora cidadã há cerca de dois anos e afirma que não é necessário ser uma pessoa engraçada para exercer a função. “Eu recarrego minhas energias quando vejo que consigo fazer a diferença na vida de uma pessoa, entregando o que tenho de melhor, que é o meu tempo, o meu sorriso, a minha escuta”, destaca a voluntária emocionada. “Encontrei nesse trabalho a minha realização. Eu me encontrei e tenho muito orgulho de ser palhaça.”

A ideia do Doutores Cidadãos é se aproximar das pessoas por meio da figura alegre do palhaço Longe dos números, cálculos e juros, o bancário Diego Rios, 27 anos, acredita que faz diferença na vida dos pacientes que visita. “Às vezes, o paciente não teve um dia bom e, quando entramos no quarto, um sorriso que ele nos dá já melhorou o dia dele. Isso serve tanto para o paciente, como para o acompanhante e os demais profissionais que ali trabalham”, comenta. dezembro 2017 | cultcom

cultura do bem | 11 fotos divulgação / arquivo pessoal

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Outros projetos O Canto Cidadão promove o projeto Arte em Todo Canto, que realiza peças teatrais para crianças de 5 a 11 anos em escolas públicas e ONGs. A cada apresentação, o administrador de empresas Diego Amaral, 32 anos, e seus colegas de grupo recebem cerca de 90 crianças e usam a arte como uma poderosa ferramenta para a efetivação da cidadania.

“Acho que qualquer trabalho voluntário te dá sopro de vida. Há centenas de outras coisas muito mais importantes do que unicamente questões financeiras e de desenvolvimento profissional”, comenta. “É marcante o agradecimento das crianças ao final da peça, o abraço, o sorriso. Isso ultrapassa qualquer maneira de se comunicar pelas palavras. A arte é um meio para realizar bons encontros”, complementa.

Já ação CantoRia, também desenvolvida pelo Canto Cidadão, faz apresentações musicais dentro de hospitais e utiliza a voz com o intuito de tornar o ambiente hospitalar, muitas vezes pesado e triste, mais agradável. Segundo a massoterapeuta Solange Silva, 46 anos, além de contribuir para a cidadania, o trabalho voluntário que exercem por meio da arte ajuda a diminuir a timidez e a melhorar a qualidade de vida. “Às vezes você olha de longe vê o paciente lá no leito, acha que ele está dormindo ou não está prestando atenção. De repente, ele balbucia, mesmo que com muita dificuldade, alguma música que você está cantando”, comenta Solange.

“Isso é emocionante demais. Nesse trabalho quem ganha mais é o voluntário”, complementa. c

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1. Apresentação teatral do projeto Arte em Todo Canto 2. Equipe de voluntários que soltam a voz nas atividadfes do CantoRia 3. O bancário Diego Rios que se veste de palhaço para alegrar adultos e idosos

Faça parte!

Conheça projetos e doe um pouco do seu tempo para fazer o bem Canto Cidadão www.cantocidadao.org.br Hamburgada do Bem www.hamburgadadobem.com.br Doutores da Alegria www.doutoresdaalegria.org.br Viva e Deixe Viver www.vivaedeixeviver.org.br Movimento AProximAção www.aproximacao.com Palhaços da Alegria de Pirapozinho www.facebook.com/ palhacosdaalegriapirapozinho

12 | olhares | cinema

Olhar cinematográfico Mergulhe nas sensações que as cores de um filme lhe traz – há de se ficar imerso para sempre por Rafaella Vensighem

M

Você já assistiu “O Grande Hotel Budapeste”?

ais um final de semana típico.

O cenário: sala de estar. Em cima do sofá, o travesseiro e uma coberta, cortinas fechadas para não refletir luz alguma na tela da TV e um silêncio aconchegante.

O filme: “O Grande Hotel Budapeste” (2014). Há algo convidativo em seu enredo, algo que jamais havia reparado antes. As cores. Desde as primeiras cenas, um sentimento de empatia tomou-me por completo. Já era tarde demais, eu estava inteiramente encantada pela obra cinematográfica recém iniciada. Quanto mais a história se encaminhava, mais eu me envolvia com as cores presentes em cada frame e as sensações que encarregavam a mim e ao meu entendimento do enredo. Ah se esse episódio não tivesse me ocorrido, talvez não mais me seria prazeroso o ato de assistir filmes! A partir disso, pude

compreender quão dificultoso, porém fascinante, pode ser a construção visual de um bom filme.

A psicologia das cores há tempos é aplicada no universo cinematográfico, mas passa despercebida por boa parte de seus expectadores. Um dos percursores desta técnica foi George Méliès (18611938), considerado o “pai dos efeitos especiais”. No princípio, ele pintava à mão frame a frame apenas por estética.

Atualmente, as paletas de cores têm grandes significados para a narrativa dos filmes e exige grande esforço e atenção de parte dos diretores de cinema e fotografia. Essa estratégia visual consiste em criar conexões que direcionam a atenção, percepção e sentimentos do público através das cores apresentadas em cada cena, podendo nos afetar o estado emocional e físico do espectador.

Após essa descoberta, percebi quantas vezes fui influenciada, sem perceber, pelas paletas presentes nas obras que me propus a assistir, e falo sobre algumas

delas neste artigo..

Em “Moonrise Kingdom” (2012), Wes Anderson usa e abusa de tons alaranjados para salientar o calor, a felicidade, sociabilidade e a juventude do casal de adolescentes que se apaixona e decide fugir. Ah, a paixão...

Paletas azuis nos propõem à melancolia, isolação, passividade, frio.

Não foi à toa que o mexicano Emmanuel Lubezki ganhou o Oscar de melhor fotografia com “O Regresso” (2015). O longa foi inteiramente filmado com luz natural e carrega as sensações citadas.

Nada é exposto por acaso, fragmentos de imagens carregam em si grandes mensagens “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001) usa de tons verdes para salientar a imaturidade da jovem que lida com seus relacionamentos e a vida adulta de uma forma singular e divertida. Rosa remete a inocência, doçura, empatia, feminilidade e beleza.

Vermelho sempre foi correlacionado ao amor e paixão, mas também à violência, perigo, poder e raiva. “Ela” (2013) mescla muito bem as duas cores de maneira tocante e sensível, capaz de emocionar até os mais fortes.

Cada elemento enquadrado é resultado de um grande estudo entre o diretor e sua equipe de arte e fotografia.

Nada é exposto por acaso, pequenos fragmentos de imagens carregam em si grandes mensagens. O cinema é como um presente grego: não revela suas peculiaridades tão facilmente. É preciso sentir o que ele nos proporciona. c dezembro 2017 | cultcom

fotografia | olhares | 13

Dedicado à fotografia Instituto Moreira Salles, em São Paulo, destaca-se pelo privilegiado acervo fotográfico por Nataly Simões

Ao público é também apresentado um recorte da nova produção brasileira em fotografia Clássicos do cinema e da televisão também ganharam espaço com a videoinstalação “The Clock”, assinada pelo artista visual Christian Marclay.

O trabalho tem duração de 24 horas

Uma dica? Visite o IMS no domingo cultural da Paulista.

A

o subir a escada rolante, deparome com uma parede acolhedora e repleta de livros, é ali que se encontra a primeira biblioteca brasileira dedicada a publicações sobre fotografia e com acesso livre ao público, localizada no Instituto Moreira Salles (av. Paulista, 2.424, em São Paulo).

O prédio estreito, todo espelhado, com fachada translúcida e piso de pedras portuguesas do saguão elevado traz um acervo com mais de 2 milhões de imagens. No entanto, também foi criado para abrigar uma ampla oferta de atividades culturais, além da fotografia.

Entre elas, a mostra “Três Ensaios Visuais”, que reúne imagens históricas de São Paulo, feitas sobre a ótica de grandes nomes da fotografia, como Thomas Farkaz (1924-2011) e Henri Ballot (1921-1997), de 1860 a 1960.

O foco das imagens são personagens, construções, demolições e letreiros de diversas regiões da cidade, que nos permite ter dimensão das mudanças dos bairros, que cresceram rapidamente e tornaram-se a grande metrópole sufocante dos dias atuais.

e é composto por cenas como as de obras como “Pulp Fiction” (1994) e “Taxi Driver” (1976). Em todos os momentos que a hora é mencionada por um personagem ou que surge na tela, também faz referência com a hora do local, o que permite ao espectador uma experiência reflexiva sobre as nossas preocupações diárias com o tempo.

Ao público é também apresentado um recorte da nova produção brasileira em fotografia, cinema e vídeo, a partir da mostra “Corpo a Corpo”, que utiliza o retrato humano como um elemento de representação social e política.

Cada obra me trouxe um misto de sensações diferentes e únicas. “A Máscara, o Gesto, o Papel” (2017), por exemplo, traz fotografias de políticos

no Congresso Nacional. Não é revelado se os gestos capturados pelas lentes da artista Sofia Borges são honestos ou não, é algo que depende da interpretação de quem observa o palco de tragédia e de pantomima que tornou-se Brasília.

No último andar do prédio está a série “Os Americanos”, de Robert Frank, um dos nomes mais importantes da história da fotografia. Encontram-se também as imagens do projeto “Câmera Aberta”, do fotografo alemão Michael Wesely, que a convite da curadoria do IMS Paulista, instalou seis câmeras nas fachadas dos edifícios vizinhos. O movimento do sol ao longo do dia é um dos detalhes capturados de ângulos diferentes sob o mais novo endereço cultural dedicado à fotografia em São Paulo. c

ilustrações Guilherme Lopes (aluno do curso de Fotografia da Univeritas/UNG. Siga no Instagram: @_guimagem_)

14 | olhares | literatura

Entre palavras e sinapses Um papo sobre as outras dimensões de Haruki Murakami, escritor que conversa com gatos

ma pergunta comum em entrevistas com escritores é “qual o segredo para se tornar um escritor?”. A resposta costuma ser a mesma “leia e escreva”.

Essa é uma promessa e tanto para um jovem escritor que ainda não sabe se está pronto para publicação ou mesmo mostrar seu rascunho para a professora do colégio, aquela que julgou ser capaz de compreender seus pensamentos.

Tenho fascínio por essa época na jornada de um escritor, o descobrimento do próprio estilo, a formação das palavras e a construção dos próprios clichês.

Haruki Murakami descobriu a vocação em abril de 1978, aos 29 anos.

Ele estava sentado assistindo uma partida de beisebol e tomando cerveja quando um jogador rebateu. O ecoar do som do bastão contra a bola, os barulhos ao redor dele, tudo contribuiu para uma sensação do “eu consigo, chegou a hora”. Esse insight o fez voltar para casa, acomodar-se na cozinha e escrever “Hear the Wind Sing” (1979).

Sim, essa história é séria. E até ali Murakami não havia escrito nada.

Apesar de ter nascido em Quioto, no Japão, o autor se mudou para diferentes cidades durante a juventude. A situação mudou quando ele precisou passar um ano a mais em Kobe, também no Japão, após não ter conseguido passar no vestibular para o curso de Direito. Um ano depois, ingressou na universidade de Waseda, em Tóquio, onde estudou teatro e conheceu sua parceira, Yoko.

Talvez uma boa forma de descrever a escrita de Murakami esteja em uma

Vá à biblioteca e procure por obras de Murakami.

U

por Lucas Lobo

outra paixão do autor, a música. Após se formar ele e sua parceira abriram um bar de jazz, uma das grandes paixões dele. É uma questão de sentir. Murakami por si só escreve sem explicar. Não se diz porque um personagem sente ou pensa algo, ele simplesmente pensa ou se sente assim. Dentro do texto dele vive um som, uma melodia, a improvisação e o ritmo que lembra uma session de jazz.

Essa é sensação de ler Murakami: como se a realidade entrasse em conflito com o imaginário Quando leio um livro de Murakami sempre tenho a mesma sensação. É como se eu reencontrasse um amigo da faculdade que não vejo há anos. Eu busco ele no aeroporto, vamos para o apartamento e começamos a conversar sobre como foram os últimos anos.

E aí eu me lembro. Tudo fica claro.

É a forma como ele conversa comigo, o jeito intimo e sem esforço de pôr suas palavras em meio a frase, a construção de um ritmo que encadeia toda uma brincadeira prazerosa com a mente enquanto apenas devoro toda e cada palavra que ele fala enquanto alinha os acontecimentos que passou. E tudo isso é tão humano, tão real.

Você sabe só porque sabe, porque sente e não sabe por em palavras e tem medo de o fazer.

Essa é sensação de ler Murakami.

Como se a realidade entrasse em conflito com o imaginário ativo do escritor. Leia “Norwegian Wood” (1987), nada tão longe da realidade quanto gatos falantes e universos paralelos em meados dos anos 1980. É a história de um jovem de 20 anos que acabou de entrar na faculdade e precisa lidar com o suicídio de seu melhor amigo. E tudo segue da mesma forma. Sem nada demais, nada grande, apenas aconteceu. c dezembro 2017 | cultcom

musicoterapia | olhares | 15

Ajuda que vem da música O poder dos sons no tratamento do pequeno Enzo, que tem paralisia cerebral

A

por Mariane Almeida

música é uma das artes mais emocionantes que existe. São incontáveis as situações em que a melodia acompanhada de belas composições já ajudou quem precisava relaxar após um dia sufocante de trabalho. Digo isso porque a música instiga nossas percepções e que resulta em inúmeras sensações.

A musicoterapia é um método terapêutico que é usado desde o início da história humana, é colocar a música em um âmbito clínico, educacional e social para auxiliar ou prevenir pessoas sobre problemas de saúde mental. É preciso que a técnica seja aplicada por um profissional formado em musicoterapia que, por meio da música, resgata objetivos terapêuticos relevantes,

como relacionamento, comunicação, aprendizado, mobilização, expressão e organização, entre outros. Foi o que percebi quando assisti a uma sessão de musicoterapia de Enzo, quatro anos, que tem paralisia cerebral. Um garotinho não enxerga e tem dificuldades na fala. Eu sabia, quando o vi entrando na sala de terapia com ajuda da musicoterapeuta, que a música iria ajudá-lo de alguma forma, só não entendia como. Ele chegou quietinho, sentou no tapete colorido da sala, em que havia seis instrumentos espalhados – talvez por ordem estratégica. A musicoterapeuta tirou o tênis dele e os acessórios que o ajudava a andar.

A principal atividade que foi aplicada ali era a de fazer com que a criança encontrasse o instrumento através do som. Muitas vezes a musicoterapeuta

Coloque um som bom para tocar e experimente os benefícios da música.

mexia com algum instrumento – principalmente no violão, com o qual Enzo passou boa tarde da sessão – e instigava o desejo dele de tocar no que estava ouvindo, e ao procurar de onde vinha aquele som, ele ia atrás para encontrá-lo. Cada encontro era um progresso.

O ritmo também foi explorado, de modo a estimular a memória, os movimentos e a atenção da criança.

Observadora que sou, notei como a interação com os sons dos instrumentos deixava Enzo cada vez mais animado.

Qualquer instrumento que pegava ele batucava, mesmo que fosse um xilofone.

Ele estava muito animado. Mexia nos instrumentos tomado de pura diversão.

Era como se ele estivesse em seu próprio mundo, aquele que a música ajudou a construir No final da sessão, conversei com a mãe que me contou que o filho tem vários instrumentos em casa e está aprendendo a tocar flauta. A musicoterapeuta disse que depois de começar o tratamento, em pouco tempo, Enzo está mais solto e já sabe dizer quando quer alguma coisa.

Finalmente fui capaz de entender como a música poderia ajudá-lo, pois, por intermédio da psicologia e da pedagogia, este tipo de terapia ajuda na articulação, restaurando o funcionamento físico, cognitivo, emocional e social da criança. Na hora de ir embora, Enzo pegou na mão da mãe, que lhe disse para dar tchau. Ele acenou e mandou beijo. Era como se ele estivesse em seu próprio mundo, aquele que a música ajudou a construir. c

16 | exposição + musical

É rock que eles querem Com exposições e musical em SP, Nirvana e Legião Urbana agitam fãs que foram influenciados a curtir o estilo musical

fotos Divulgação

por Tais Ribeiro

Ao lado, fitas cassetes com gravações originais da banda Nirvana; no topo, momento de um show com Kurt Boubain (1967-1994)

Quem viveu nos anos de 1980 e 1990 apreciou diversas bandas de rock que já não existem, mas que deixaram seu legado no mundo da música. Alguns desses ícones do gênero são homenageados em exposições pela capital paulista, o que se tornou uma oportunidade para os fãs celebrarem seus ídolos e também mostrarem eles às novas gerações.

A mostra “Nirvana: Taking Punk to the Masses”, em cartaz na Bienal do Parque do Ibirapuera, na Vila Mariana, leva ao público à história da banda que projetou a cena grunge americana. São

mais de 200 peças entre instrumentos, fotos, vídeos, depoimentos, álbuns, objetos pessoais e cartazes do grupo liderado por Kurt Cobain (1967-1994).

A apresentadora da Mix FM, Karina Andrade, 32 anos, conta que foi influenciada pelo primo a curtir o som do Nirvana. “Ele é um pouco mais velho que eu, então quando começou a ouvir música para valer, quis me mostrar tudo: discos, CDs, fita cassete. Foi uma lavagem cerebral, literalmente, pois ele me trancou no quarto dizendo que eu precisava escutar aquele som para o dezembro 2017 | cultcom

exposição + musical | 17

Renato conseguia ser muito profundo e tocar o coração da grande maioria das pessoas O vocalista da Legião Urbana, morto em 1996, é tema da exposição que leva seu nome em cartaz no Museu da Imagem e do Som (MIS), no Jardim Europa. A exposição traz objetos pessoais, peças de vestuário, fotografias, discos, livros, manuscritos, instrumentos musicais, documentos escolares, desenhos, cartas de fãs, além de prêmios, fanzines e folhetos, que ajudam a contar a história de um dos grandes nomes da música brasileira. “As músicas dele fazem parte da trilha sonora da minha vida”, comenta a corretora de imóveis, Paloma Loss, 27 anos.

O musical Em cartaz no Teatro Frei Caneca, a Consolação, “Renato Russo - o Musical” também tem sido um ponto de encontro entre os fãs da Legião Urbana. O ator Bruce Gomlevsky, que interpreta o cantor e compositor no espetáculo é um fã declarado do grupo. “Cresci ouvindo Renato Russo e Legião Urbana, assim

como todas aquelas bandas que surgiram nos anos 1980, como Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Ultraje a Rigor e Plebe Rude. Sou da geração que com dez anos de idade já ouvia música boa”, lembra.

A criação do musical surgiu como forma de homenagem ao ídolo. “Sempre considerei o Renato o maior porta voz da nossa geração. Cresci ouvindo, li sua biografia e, como sou ator, achei que a melhor forma de homenageá-lo foi criar um musical sobre a vida dele”, conta Gomlevsky.

De “Aborto Elétrico” a “Trovador Solitário”, 22 canções, além das poesias escritas pelo cantor, ganham vida no palco com execução da banda Arte Profana. “Renato conseguia ser muito profundo, ter uma excelência artística, uma qualidade cheia de referências e, ao mesmo tempo, tocar o coração da grande maioria das pessoas. É meio The Beatles, coisa que passa de pai para filho”, diz Gomlevsky. c

Ambiente da exposição sobre Renato Russo no MIS; abaixo, cena do musical em homenagem ao cantor e compositor interpretado por Bruce Gomlevsky

foto Ricardo Brajtermann

meu própiro bem”, lembra.

O coordenador de marketing, Victor Pasta, 29 anos, é fã da banda brasiliense Legião Urbana desde os 12 anos por influência do irmão. “Era ele quem comprava os CDs, e como nós dormíamos no mesmo quarto, às vezes, ele colocava e ficava escutando. Depois passei a colocar os CDs durante o dia para ouvir.

Lembro que o primeiro disco do Legião que marcou foi o ‘Mais do Mesmo’, de 1998”, conta. “Renato Russo teve muita importância para minha vida.

Embora não entendesse plenamente o contexto, as letras, eu estava na minha fase de começar a entender a sociedade e as pessoas”, complementa.

18 | literatura

A escritora Carol Dantas teve a ideia do 1º livro ao contar história para fazer o irmão mais novo dormir

Escritoras guarulhenses encaram o desafio de publicar um livro e falam de suas inspirações para seguir na literatura por Thais Pereira

foto acervo pessoal

Minhas primeiras histórias Jovens que desde a infância pegaram gosto pela leitura estão cada vez mais se arriscando na escrita literária. Além de assíduos leitores, eles estão escrevendo suas próprias narrativas e as divulgando, seja pela internet, pela participação em concursos e editais ou, até mesmo, pagando pela própria publicação.

A guarulhense Carol Dantas adquiriu o gosto pela leitura ainda criança, mas foi aos 16 anos que passou a levar a escrita a sério. Ela começou a publicar textos no Facebook e durante a pressão do vestibular passou a se dedicar mais a escrita. “Foi quando decidi que queria publicar um livro. Pesquisei na internet uma editora que combinasse com seu perfil, e consegui publicar alguns dos meus contos em antologias”, lembra a jovem que se inspira no escritor britânico Arthur Conan Doyle (1859-1930), autor de Sherlock Holmes.

Veio então o lançamento do primeiro livro, “Coma” (Editora Illuminare, 2017). A ideia do romance surgiu a partir do filme “A Origem” (2010) de Christopher Nolan. “É um dos meus filmes favortios. Como sempre contei histórias para o meu irmão mais novo dormir, naquele ambiente escuro icavan imaginando como seria o consciente de uma pessoa em coma. Foi assim que nasceu a ideia do livro”, lembra.

“Quando recebo um elogio pelo livro me sinto feliz por influenciar positivamente o leitor e despertar nele o gosto pela leitura”, complementa.

Com o primeiro livro, Carol foi finalista do Prêmio Guarulhos de Literatura 2017. O concurso foi idealizado pelo escritor Auriel Filho, que pesquisou o cenário literário da cidade e identificou 120 escritores de diversos bairros e que escrevem gêneros literários que vão do dezembro 2017 | cultcom

literatura | 19

Escrever um livro é 90% transpiração e trabalho, e 10% é talento para desenvolver um história Autor de cinco livros, Filho começou a se relacionar com a escrita por meio da poesia, quando compunha letras para a banda punk h2S04 durante a adolescência. Depois, passou a escrever contos e, durante a faculdade de psicologia, se entregou aos romances.

Após um curso de Letras e Literatura teve a ideia de publicar um livro. “A publicação proporciona a oportunidade de conhecer pessoas que nunca se pensou que poderia conhecer”, conta. “O mais importante é saber que escritor é uma profissão, e que escrever um livro é 90% transpiração e trabalho, e 10% é talento para desenvolver uma história”.

Criar uma narrativa que prenda o leitor da primeira até a última página é um dos desafios da jovem escritora Lisa Hallowey, que já participou de 11 antologias, aguarda a publicação de seus contos em outras três e também escreve para a revista Litere-se.

Foi na escola que Lisa teve incentivo para trilhar como escritora. “Comecei a gostar de escrever quando um professor pensou em produzir um livro junto com a classe. A escrita passou a ser o meu hobbie, uma válvula de esca-

pe”, lembra ela que, incentivada, passou a enviar seus contos para editoras.

Lisa também se arrisca em poemas, mas, por influência do autor norte-americano Stephen King, encontrou no terror e no suspense uma maneira de se expressar. “Gosto de mexer com a mente humana, e deixar as pessoas perplexas. Meu conto ‘Três Horas da Manhã’ é baseado no suicídio de uma tia minha ao 13 anos de idade, dentro do banheiro na casa em que eu moro. Esse drama ela, que eu ouço desde pequena, me influenciou a gostar desse mundo sombrio”, conta. “Sou fascinada pela morte. Acho mais fácil escrever sobre a morte, do que sobre qualquer outra coisa”, complementa. c foto Thais Pereira

romance ao livro acadêmico.

O que mais chamou a atenção de Filho foi o interesse de escritores jovens que se inscreveram para a 1ª edição do prêmio. “Os jovens estão cada vez mais se destacando na literatura e participando de feiras literárias. Um prêmio literário em Guarulhos é um ato de resistência em prol da cultura e da literatura, já que não há ação do poder público nesse sentido, e que o contexto literário na cidade só é bom pela ação dos próprios escritores”, comenta o escritor.

A escritora guarulhense Lisa Hallowey já participou de 11 antologioas e aguarda a publicação de seus contos em outras três coletâneas

O ator Jaden Smith, no filme “Karate Kid” (2010)

Já vimos esse filme

Novas versões de franquias clássicas do cinema levam os fãs ao delírio e conquistam novas gerações por Sérgio Gregório

Tem sido comum o lançamento de filmes que remetem a outras produções já consagradas. Isso despertou um misto de nostalgia e preocupação nos amantes da sétima arte.

Para o crítico de cinema do site AdoroCinema, Rodrigo Torres, esse fenômeno é fruto de uma indústria que opta pela facilidade de distribuir um produto que já tem seus clientes fiéis.

“Hollywood é uma indústria. Como tal, o que a movimenta é o dinheiro.

Por mais que haja artistas envolvidos, o capital é, muitas vezes, até mais importante que o valor artístico. Digamos que, assim como o espectador acha mais seguro investir seu dinheiro em uma grande produção com um formato que lhe é aprazível, para a indústria, é mais seguro investir em marcas fortes.

Basta vermos as maiores arrecadações em bilheteria ano a ano”, afirma.

Mas, não existiria investimento se não existisse um público consumidor.

E mesmo que muitas pessoas fiquem apreensivas quando uma nova versão de um clássico é anunciada, não existe receio que seja maior que a curiosidade, ou mesmo a ansiedade. No geral,

quem realmente lota as salas de cinema é o público médio, aquele que gosta e conhece um filme ou franquia e que vai gastar tempo e dinheiro para “rever” aquelas histórias.

“Todo filme exige esforço de tempo e esforço intelectual do espectador, e este último esforço é menor para filmes sequências, refilmagens e reboots, pois já estamos acostumados à ambientação, personagens, enredo e outros pontos-chave da obra cinematográfica. E é sempre bom voltar a um lugar agradável”, explica o crítico de cinema do site Cineplayers, Alexandre Koball.

De geração em geração Retomar antigas obras no cinema pode ser uma maneira bastante eficaz de apresentar clássicos da geração passada para a atual. Isso aconteceu com os irmãos Carlos Eduardo, 39 anos, e Fernando Lopes, 20 anos, duas gerações distintas que, de certa forma, estão unidas por uma mesma paixão: “Karatê Kid”, clássico de 1984 que ganhou uma versão em 2010 com Jaden Smith e Jackie Chan no elenco.

A nova versão, além de apresentar dezembro 2017 | cultcom

foto divulgação

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o espírito e a nostalgia do clássico dos anos 1980, mantém a história original, mas repaginada e atualizada para a atual geração, que pode consagrar o filme como um novo clássico ou despertar para as diferenças entre as obras.

“Achei muito melhor em relação aos filmes anteriores, mas o meu irmão disse que fugiu um pouco do padrão já estabelecido pelo clássico”, diz Lopes.

Assistir filmes é uma espécie de ritual ou legado na família de Ísis Santos, 21 anos. Ela e o pai Denilson Cidreira, 50 anos, divertem-se entre os filmes clássicos e atuais, destacando a trilogia “De Volta para o Futuro”, que, no caso deles, foi passada de pai para filha.

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Todo filme exige esforço intelectual e de tempo do espectador; é bom voltar a um lugar agradável

2. Isis Santos e o pai, Denilson Cidreira têm nos filmes um ritual de diversão 1

fotos acervo pessoal

Apesar de serem fãs fiéis da saga original do jovem Marty McFly pelo futuro, eles sonham com a possibilidade de um dia assistir a uma refilmagem do longa de Robert Zemeckis. “Seria um desafio e tanto, porque nenhuma outra trilogia foi tão bem filmada e sincronizada quanto essa. O diretor que segurar esse B.O. na mão, tem que ter muita coragem”, comenta Ísis. É bom já ficar atento no que vem por aí. O cinema norte-americano já prepara “O Rei Leão”, baseado na animação de 1994, “Jumanji: Bem-Vindo à Selva”, uma sequência de “Jumanji” (1995), “Predador”, que será dirigido por Shane Blake e deve fazer mais referência ao primeiro filme da franquia, e “O Retorno de Mary Poppins”, clássico de 1978 que ganhará nova versão com a atriz Emilly Blunt. c

1. Os irmãos Fernado Lopes (à esq.) e Carlos Eduardo são fãs de “Karatê Kid”

foto divulgação / Statues On Fire

22 | especial bandas

Viver de rock Como músicos e bandas independentes fazem para sobreviver da música no cenário atual por Wagner Silva

As décadas de 1980 e 1990, sem dúvida, não deixaram nada a desejar para o rock n’ roll nacional em comparação aos movimentos new age, punk, hard rock e glam que aconteciam simultaneamente nos Estados Unidos e na Europa. Foi nesse período que surgiram Os Paralamas do Sucesso Titãs, Ultraje a Rigor, RPM e Legião Urbana. Até mesmo o underground brasileiro teve espaço nessa época, considerada uma das mais difíceis para os artistas nacionais, que estavam “importando” ritmos.

Nos anos 2000, o rock pareceu minguar em todos os cantos do planeta.

Com o aparecimento de boy bands e artistas pop patrocinados por grandes selos com o intuito de vender discos e tentar conter a convergência dos formatos pelas grandes gravadoras, o ritmo atemporal pareceu ter dado um tempo.

Bandas como Metallica, nascida na década de 1980, bateram de frente com a primeira tentativa de streaming, ainda sem o formato atual de compra de direitos autorais para veiculação, conhecido como Napster. Mas teria sido a internet e a ganância das gravadoras as culpadas pela atual apatia do rock?

O guitarrista e líder da banda Moptop, Gabriel Marques, parafraseou a própria composição para postar um desabafo na página oficial da banda: “O rock acabou”. Profissional da área de TI, o músico que chegou a abrir shows

de Franz Ferdinand e Oasis, declarou nas redes sociais que “ficou adulto e as contas começaram a chegar” para justificar o fim da banda. O baterista Mario Mamede mantém uma página no Facebook e aproveita para fazer uma postagem ou outra para matar a saudade dos fãs, que não se cansam de pedir a reunião da banda indie carioca de 2003.

Adepta do hardcore, a guitarrista e vocalista da banda feminina Gaminne, Noely, conta que as frustrações pelo caminho fizeram com que pensasse em parar de vez. “O rock não me deu nenhum retorno (financeiro). Apesar de termos resenhas em site gringo de música, nunca passou disso”, conta.

Após apresentação em uma casa de shows em São Paulo, Noely e suas companheiras de banda tiveram os instrumentos roubados nas imediações do espaço. “Tinha acabado o show e estávamos indo embora, como sempre nos locomovemos de transporte público e não tínhamos grana para táxi, fomos para a estação do metrô mais próxima.

Nesse trajeto, nos assaltaram”, declara ela, que acredita não haver condições para os músicos se manterem devido ao monopólio criado pelos grandes selos.

Após passar por bandas como Senescência, Injury, The Equilibrium, Rüjii e Mau Olhado, Herbert Andrade, 34 anos, encontrou no trabalho como técnico de mecatrônica o vilão para dezembro 2017 | cultcom

1. Show da banda hardcore Gaminne, formada apenas por mulheres 2. A Banca Cólera prestes a comemorar 40 anos 3. Fesitval Começo do Fim do Mundo realizado no Sesc Pompéia, em 1982 1

desistir da música. “Eu não tinha mais tempo para dedicar às bandas. Tocava bateria, contrabaixo, guitarra e fazia os vocais em muitas das bandas que participava, e isso me exigia muito. Como viajava muito a trabalho, os projetos ficaram em segundo plano e as bandas foram ‘morrendo’ aos poucos”, afirma ele, que se mudou para o Japão com a família em busca de uma vida melhor.

Andrade guarda com carinho lembranças de bandas que era fã e acabou dividindo palco. Mas o caminho também teve percalços. Entre ser expulso da banda pela namorada de um integrante que discordava da postura dos demais, prejuízos financeiros e os perrengues, afirma que “com bons contatos e patrocínio, é possível viver de qualquer tipo de música no Brasil.”

Underground Se nem tudo são flores, para algumas bandas a situação não é tão ruim assim. Apesar dos percalços, algumas bandas sobrevivem no underground com bastante esforço e dedicação. Os paulistas do Nitrominds, por exemplo, estão na estrada há 23 anos. A banda de Santo André não está mais ativa como antes, mas faz shows esporádicos e sempre lança material novo. Com influências do hardcore americano, o grupo sobreviveu quase 20 anos de sua música, com direito a lançamento de DVD ao vivo para comemorar o aniversário de 18 anos e documentário contando sua história. O Nitrominds contabiliza 13 turnês internacionais e nove álbuns lançados nesse período. Em 2012, os integrantes André Alves e Lalo Tonus começaram uma nova empreitada, a

banda Statues on Fire, que está na ativa desde 2014. Assim, os músicos se revezam entre as apresentações de ambas.

Prestes a completar 40 anos de estrada, a banda de punk rock paulistana Cólera talvez seja o melhor exemplo de que é possível viver de rock n’ roll no Brasil. Formada em 1979 sob influência dos primeiros punks dos EUA e Inglaterra, fazem parte de um seleto grupo do “underground não tão underground assim”. Presença certa em festivais e apresentações em casas de shows pelo mundo, o Cólera sempre dividiu palco com outras bandas contemporâneas de certa notoriedade. Caso de Ratos de Porão, Olho Seco e Inocentes, que participaram de movimentos como o festival Começo do Fim do Mundo, apresentação organizada pelas bandas e realizada no Sesc Pompeia, zona oeste de São Paulo, em 1982. c 3

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fotos divulgação / arquivo pessoal

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foto divulgação

O baterista e professor de música Fernando Pollon, da escola de música Tritônica

Nada de apertar stop Profissionais da música dão dicas de como manter uma banda independente, conquistar fãs e alcançar o tão desejado sucesso por João Victor Pessim

Ouvir uma canção pode nos causar os mais diferentes efeitos. A música tem o poder de nos deixar eufóricos, melancólicos e até mesmo com saudade de alguém. A mesma letra pode ter um significado diferente para cada um que a escuta. Por isso é tão fácil se apaixonar por uma canção e quase impossível imaginar um mundo sem ela.

Porém, nem tudo é uma doce melodia pra quem faz da música o seu ofício. Muitos artistas, por mais que tenham o dom de nos conectar com esses sentimentos através de letras e notas, encontram grandes dificuldades para viver dessa profissão.

Fernando Pollon é músico há 20 anos. Filho de bateristas, começou a tocar ainda na infância. Formou-se em música e estudou em instituições importantes de São Paulo, como a Souza Lima e a Escola de Música e Tecnologia (EM&T). Fez turnês com bandas pela Argentina e para o Sul do Brasil.

Hoje, além de ser professor e dono da Escola de Música Tritônica, em Guarulhos, Pollon toca em duas bandas, Spallah e Storm Tales. A primeira existe desde 2009 e trabalha com músicas autorais entre o hardcore e heavy

metal. Já a segunda é uma banda cover composta por integrantes da escola de música. “Como é uma banda de cover, a gente se adéqua ao local que vamos tocar. Se formos em um motoclube, vamos puxar músicas com a identidade dos motociclistas”, comenta.

Versatilidade, esse é um dos principais pontos citados por quem integra bandas e faz dela uma de suas fontes de renda. Victor Jacomin é baterista há 10 anos e já passou por bandas de diversos estilos. Hoje, ele faz parte das bandas, Namoral e Junckie Jack. O curioso é que ambas são compostas pelos mesmos integrantes. Do vocalista ao baterista, é exatamente a mesma formação.

Porém, cada uma delas trabalha com um estilo musical diferente. “A Namoral tem um repertório bem eclético.

Na playlist estão presentes até os axés antigos. Essa formação, geralmente, se apresenta em formaturas e no Carnaval.

A Junckie Jack, por sua vez, segue pelo rock clássico dos anos 1980”, conta.

Sabendo da dificuldade que as bandas têm pra se manter em atividade, a Cultcom consultou especialistas e montou um manual com dicas para o sucesso de uma banda. Confira! c dezembro 2017 | cultcom

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fotos divulgação

1. A banda Junckie Jack aposta em um repertório com clássicos dos anos 1980 2. Nos shows, a Namoral inclui até axé music em sua setlist

Manual de sobrvivência para bandas independentes A banda como um produto É preciso enxergar a banda como produto a ser vendido, criar uma identidade e alcançar cada vez mais gente para divulgar e lotar os shows.

Capital inicial Não, não é a famosa banda brasiliense comandada por Dinho Ouro Preto. Neste caso, estamos falando especificamente de grana. A princípio, se o projeto ainda não houver patrocinadores ou parceiros, é importante ter dinheiro para tirá-lo do papel e poder gravar um CD, por exemplo. Além, é claro, das despesas com equipamento, deslocamento para os shows e outros gastos que aparecerão com o tempo.

Planejamento Aonde a banda quer chegar? Qual o público alvo? Em quais lugares a banda quer tocar? Essas perguntas respondidas podem ser um bom caminho para consolidação da banda. A fidelidade do público é algo muito importante. Quanto maior for o número de pessoas que a banda consegue atrair para suas apresentações, mais oportunidades e palcos a banda terá para tocar.

Redes sociais É uma das principais ferramentas para o músico hoje em dia. Por meio delas, as bandas conseguem divulgar seu trabalho e atrair público. Esse tra-

balho pode ser desenvolvido juntamente com uma empresa de marketing para, assim, alcançar resultados mais expressivos e fortalecer a marca da banda.

Qualidade de som Com a ampla divulgação nas redes sociais e o pouco espaço para bandas, o público torna-se mais exigente com seu leque de opções. Por isso, a qualidade do som e dos equipamentos que o fazem, serão um diferencial na hora de atrair fãs.

Adequação ao local do show Importante saber onde está tocando e para quem está tocando. Pode ser que a banda que toque um rock mais pesado seja contratada para tocar em uma festa de casamento. Mesmo não sendo o ambiente ideal para os amantes do rock, a banda não pode ficar recusando shows, pois precisa do cachê para sobreviver.

Nesse caso, o melhor a se fazer é adequar o repertório da apresentação.

Empatia com o público Além do som de qualidade, a banda tem outras formas de atrair público, e uma delas, com certeza, é o tratamento com os fãs durante as apresentações.

Não conta apenas subir ao palco e apresentar uma boa música, o público quer participar do espetáculo, e uma boa interação com a plateia, agrada, fideliza e proporciona uma experiência única.

Patrocínio Em qualquer atividade que for ser desenvolvida, o patrocínio é um meio de renda importante. Para conseguir um patrocinador que esteja disposto a exibir sua marca em conjunto com a banda, é necessário que os pontos citados anteriormente, sejam bem trabalhados.

Somente com uma boa imagem, um número de fãs considerável, bom repertório e consolidação da marca, a banda conseguirá angariar esses patrocínios.

Merchandising Nem só de música vivem as bandas. É importante ter uma linha de produtos para oferecer aos fãs. Bonés, camisetas, chaveiros, adesivos, e diversos outros produtos que podem ser comercializados são uma grande fonte de renda, além de fortalecer a marca da banda.

Venda de ingressos Em festivais de bandas independentes, ocorre uma distribuição de ingressos os conjuntos que vão se apresentar.

Cada grupo fica incumbido de vender um determinado número de entradas. A cota de ingressos depende do palco e da atração que virá posteriormente. Se for um palco com mais destaque e abrindo o show de uma banda maior, o número de ingressos a serem vendidos será mais altos. É importante a banda conseguir vender todas as entradas para que não tenham que tirar do próprio bolso.

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fotos Edu Moraes

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FÁBIO PORCHAT FALA SÉRIO (ATÉ A SEGUNDA PÁGINA) por Nathalia Barbosa e Sara Fabiano

Aos 34 anos, o ator, roteirista, produtor e diretor Fábio Porchat leva sua irreverência para as noites da Record TV e mostra que também tem personalidade forte quando fala de assuntos polêmicos, como aborto, censura, homofobia, racismo e corrupção.

E revela quais são seus planos para 2018, na carreira e família.

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“O racismo não vai acabar. Eu não vou ver o fim do racismo, do machismo, da homofobia” O apresentador durante a gravação do “Programa do Porchat” (Record TV)

...corrupção “O grande problema do Brasil é a impunidade, em todos os sentidos, não só pra o cara que rouba você na rua com uma faca e leva seu relógio, mas também para o cara lá em cima, que desvia R$ 450 milhões da Saúde. Todos esses caras precisam saber que eles vão ser punidos de alguma forma. O crime não compensa, mas atá agora, no nosso país, compensou, e muito”. ...a situação do Brasil “O ser humano tem uma necessidade, ainda mais hoje em dia, de tudo ser muito rápido, então, o brasileiro fala muito assim “ah, nada vai dar certo!”, “ah, que merda, acabou, o Brasil tá falido!”. Nós somos um país muito recente, né? Temos 128 anos de democracia, ou seja, vivemos em um país muito novinho. A gente sempre pensa em uma coisa em curto prazo, porque a nossa vida é muito a curto prazo. A gente pensa “ah, em 20 anos não vai acontecer nada”, mas a gente tem que pensar a longo prazo. Tenho certeza quem em 1800 se você perguntasse para um escravo “e aí, como tá a vida?”, ele ia te responder “tá uma merda, nunca vai mudar, vai continuar isso o tempo todo!”. Daí, passou um pouco mais de tempo e a coisa mudou. Se quando a Princesa Isabel assinou a lei áurea você perguntasse para um cara, ele iria dizer “não adianta em nada assinar essa merda, continuamos fodidos”. Agora, a fala é “melhorou um pouco mais a vida, mas ainda é uma merda.”. ...racismo A gente continua lutando contra o racismo, contra o cara que diz que “isso

é coisa de preto’, contra a piada racista. É uma luta a longo prazo. A gente tem a sensação que a nossa vida é longa, mas a nossa vida é muito curtinha, então não vai mudar nada na nossa vida.

O racismo não vai acabar, eu não vou ver o fim do racismo, eu não vou ver o fim do machismo, eu não vou ver o fim da homofobia, mas em 250 anos já vai melhorar bastante. Acho que hoje, em 2017, é muito melhor do que em 1990, quando eu estava na escola, e tenho certeza que em 2050 vai ser melhor do que agora, porque tudo é a longo prazo”. ...futuro do Brasil “Acho que o futuro será muito positivo. Eu vejo um ótimo futuro para o Brasil. Vejo um país com muitas possibilidades. Acho que o Brasil está nesse momento de mudança, de se descobrir.

Tudo esta mudando pra melhor, e eu vejo uma geração de crianças que entende muito mais sobre machismo, homofobia e racismo do que essa geração mais antiga, que pensa diferente”. ...LGBT+ “Muita gente fala assim “estranho, trans. Eu não entendo nada disso”. Precisa entender, e precisa respeitar! E tenha calma, vai entender com calma. Aí dizem “mas ela é mulher, casada com outra mulher, e aí agora ela tem um filho?” É! Pensa que pra ela é muito mais difícil do que pra você, você só tem que entender, ela tem que viver isso. Então, calma! É confuso? É confuso mesmo, mas ninguém tem que aprender em 10 minutos, assim como também não tem que julgar: “ah, não entendo essas maluquices”. Tudo bem. Não entende? Então passa a aprender. Se você é

fotos Sergio Chahestian / Record TV

dezembro 2017 | cultcom

fotos Edu Moraes / Record TV

contra o casamento gay, então não case com um. É isso, entende? ...censura na arte “As pessoas tendem a dizer “não pode!”, “não deve!”, “não pode permitir!”. Isso é o que eu acho perigoso, porque o governo não tem que se meter na nossa vida, o governo não pode entrar num lugar e dizer que você não pode ver uma coisa. Eu vejo o que eu quiser! É meu filho, eu levo onde eu quiser. A tal exposição que a criança tocou no homem, que era zero erótica, não tinha nada, tinha um monte de adultos assistindo, só tinha uma criança, que era filha da mulher que estava com ela, e nenhum dos adultos ali ficou impressionado, ficou nervoso. Na verdade, a culpa de tudo isso é da pessoa que filmou uma criança e divulgou. O crime é esse! Você não pode filmar uma criança e divulgar a imagem, esse é maior criminoso. Tem tantas outras coisas... Na semana seguinte passou uma família descendo a favela e um corpo morto, com as crianças pulando envolta dele.

Isso não faz o MBL, o Alexandre Frota, protestarem. Não foram lá por que?

Isso é muito pior. Isso sim atinge muito mais a população”. ...aborto “As pessoas dizem “não pode abortar”. Mas você só aborta se você quiser, não vai ter pessoas na rua abortando as crianças dos outros. Se você quiser, aí você aborta, é um caso de saúde pública. O aborto é um negócio dificílimo para a mulher, para a família, é uma decisão super dura. As pessoas têm essa sensação que se autorizou é porque agora é obrigatório. E não é”.

Carreira e projetos Fábio Porchat é viciado em trabalho e sempre está envolvido em diversos projetos ao mesmo tempo. Mesmo com uma rotina agitada, que envolve TV, cinema, internet e teatro, o apresentador conseguiu encontrar um momento para cuidar da vida pessoal: se casou em novembro. “Tenho que aproveitar esse momento, e usar o máximo que dá, porque daqui a pouco vai ter filho, e é a hora em que eu vou ter que parar um pouco. Quando outro ser humano vem e toma conta da sua vida, é preciso repensar as prioridades”, comenta.

Em 2018, Porchat continua firme e forte na produtora Porta dos Fundos.

Está em seus planos continuar gravando os esquetes que divertem o público na internet, além da 4ª temporada do “Porta a Fora”, seu programa de viagens que virou um portal e deverá oferecer ferramentas para pesquisas de passeios pelo Brasil e o mundo. “E o Porta dos Fundos quer internacionalizar, ganhar o mercado estrangeiro. Também teremos uma série no próximo ano”, adianta.

Na agenda de janeiro de 2018, Porchat será um palestrante motivacional no filme “Mude Sua Vida, Pergunte-me Como”, que terá ainda no elenco Dani Calabresa, com direção de Marcelo Antunes. “2018 já está cheio: Então tem filme, tem TV, tem internet. Só teatro que eu parei”, conta o apresentador, que fez sucesso com a peça “Meu Passado Me Condena”, onde contracenava com Miá Melo, em São Paulo. “Foram 10 anos fazendo teatro todo fim de semana. Então, no ano que vem, vou ter um ano pra assistir o jogo do Vasco no domingo, sentar no sofá de cueca e com uma cerveja na mão”, complementa. c

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A estilista Jordana Donni posa com o modelito criado por sua marca, a Manifesto Pin-up

Linda, leve e pin-up Com a moda retrô em alta, estilo dos anos 1930 volta repaginado, ganha as ruas e reforça a sensualidade feminina por Simone Cavalcante produção Simone Cavalcante e Thiago Nort fotos Junior Lago modelos Jordana Donni e Renata Santos

Qual é a mulher que não gosta de se sentir sexy, charmosa e elegante, tudo ao mesmo tempo? A moda retrô traz essa possibilidade com muita graça e simpatia por meio do estipo pin-up, que ganha cada vez mais adeptas.

O termo pin-up surgiu na década de 1930 para designar as imagens de mulheres com forte atrativo sensual e que eram ilustradas em larga escala dentro da cultura pop. Eram usadas em revistas, cartazes, cartões postais e calendários na Segunda Guerra Mundial.

Os soldados deixavam os calendários pendurados, por isso, o termo pin-up (pendurar, em inglês).

Na moda, o estilo tem como lema o “sexy sem ser vulgar”, e é importan-

te destacar que, na época de seu surgimento, as mulheres posavam em meio a uma onda moralista, em que mostrar as pernas ou ser fotografada nua era uma ofensa para a sociedade. Entre as celebridades que ganharam destaque como pin-ups nesse período estão Greta Garbo (1905-1990), Rita Hayworth (19181987) e Sophia Loren (1934-1993).

Hoje, além de lojas físicas, existem várias lojas virtuais que fazem o maior sucesso com as mulheres. Os looks podem ser compostos por saias com suspensórios, saias godê, roupas com estampas xadrez, poá, cerejinha, quadriculado, bicolor, meias calça 7/8, bandanas, tiaras lenço e blusas com babados tropical ou ciganinhas. Vestidos dezembro 2017 | cultcom

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florais e frente única também têm tudo a ver com o estilo da pin-up. Esse estilo de roupas também é usado para valorizar as curvas das modelos plus size. A dica é caprichar na maquiagem e cabelo, abusar da composição e ficar mais charmosa, elegante e feminina.

Pin-up na vida real, a estilista Jordana Donni, 35 anos, é adepta ao estilo desde os 5 anos de idade, quando a mãe confeccionava os modelitos. “Minha mãe sempre me vestia como uma bonequinha. E esse estilo pode ser adaptado para todas as idades”, ressalta.

Jordana iniciou sua grife de roupas feminina em 2012, a Manifesto Pin-up. A marca feminina de roupas colecionáveis atua no segmento do re-desing retrô e desenvolve peças de vestuário multifuncionais. “O objetivo é criar uma releitura de peças clássicas femininas, porém, mantendo os traços vintage de originalidade histórica”, diz.

Garimpar em brechós exige atenção, pois nem todas as peças estarão em boas condições A modelo e estudante de Publicidade e Propaganda da Univeritas/UNG, Renata Santos, 23, usa o estilo retrô.

“Me interessei por moda, aos 18 anos, vendo as maquiagens e as roupas de décadas passadas, e fiquei apaixonada”, conta ela que, para o editorial de moda da Cultcom, posou pela primeira vez vestida de pin-up e passeou pelas ruas de São Paulo. “Eu adorei! Pretendo fazer mais ensaios como esse, pois me senti bem andando pela cidade com esse estilo”, complementa. c AGRADECIMENTOS Manifesto Pin-up instagram.com/manifestopinup Casa das Rosas instagram.com/casadasrosas

A estudande Renata Santos ficou apaixonada pelo estilo pin-up

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Sensibilidade no olhar Alunos de Fotografia produzem ensaios fotográficos autorais com temas que levam o público a refletir por Kimberly Gois

Na última etapa da graduação, as reflexões sobre a prática fotográfica e a modernidade ajudaram os alunos do 4º semestre do curso de Fotografia da Univeritas/UNG na produção de imagens para seus ensaios autorais.

O coletivo da estudante Amanda Araujo, decidiu abordar o conceito de beleza após encontrar um grupo de pessoas com vitiligo nas redes sociais.

“Após divulgarmos as fotografias do nosso ensaio, fomos reconhecidos por organizações internacionais como a Vitiligo NL, da Holanda, e a VR Foundation, dos Estados Unidos”, conta.

Os transtorno mentais e o Surrealismo foram temas do ensaio do grupo liderado por Danielle Moura. As imagens mostram depressão, síndrome do pânico, esquizofrenia e anorexia, e os modelos fotografados sofrem ou já sofreram dos distúrbios abordados. “Para eles, aceitar o projeto foi uma forma de retratar o distúrbio e fazer uma terapia.

Eles puderam falar por meio da arte aquilo que incomoda e que muitas pessoas acreditam ser uma frescura”.

Já o coletivo da estudante Letícia Moreira apostou na representatividade negra e na moda afro em um ensaio feito pelas ruas de São Paulo. “Queríamos falar sobre os negros e os espaço que

conquistaram na sociedade. Fizemos questão de mostrar aos modelos que podem conquistar o espaço que quiserem”, lembra a estudante.

O grupo do estudante Bruno Rosa procurou retratar o universo do cinema mudo ao abordar o ator e diretor Charles Chaplin (1889-1977). Eles se aprofundaram na filmografia do artista para capturar a essência do icônico Carlitos.

“Decidimos trazer trazer cenas clássicas dos filmes para o mundo moderno.

Para isso contamos com a ajuda de alguns atores que interpretaram esses personagens e trouxeram representações muito detalhistas”, lembra Rosa.

Mostramos aos modelos que eles podem conquistar o espaço que quiserem na sociedade Os indígenas e sua relação com a modernidade foi o tema do ensaio do coletivo liderado por Maciel Menezes.

A experiência em uma aldeia levou ao registro do cotidiano das tribos Guarani e Itaguaçú. “Fizemos a vivência e descobrimos que a tribo sofre por não fazer o plantio, que está em suas raízes, e que a única renda renda, hoje, vem pelo turismo local”, conta. c dezembro 2017 | cultcom

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