Jornal Golaço - O jornal dos Esportes - Ed 15

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Fotos: Ailton Cruz . Páginas 6 e 7 Shirley Alves e uma história de superação. EXTRAORDINÁRIA EXTRAORDINÁRIA Gol LaAço ASSIS | O patrimônio do CRB Ano 2 l número 015 l r$ 2,00 mAceió-AL l mArço/AbriL de 2023 golacoal@gmail.com SEJA UM SÓCIO TORCEDOR DO ASA SEJA UM SÓCIO TORCEDOR DO CRB SEJA UM SÓCIO TORCEDOR DO CSA

Patrimônio do CRB

Negar o passado custa caro. Esquecer a essência é um ato de desumanidade com quem construiu o caminho e escreveu uma história. Para os que se acham criadores da roda e negam aqueles que vieram antes e suaram bastante para deixar o legado que é usufruído atualmente, o tempo é o senhor da razão. E o tempo não falha para aqueles que contrariam o rumo da história, querendo negar o passado. É preciso entender que hoje quem

é presente, o tempo irá transformar em passado e o fará sofrer com certas consequências, como esquecimento, desprezo, repúdio. É preciso cuidado com as extraordinárias ideias de mudanças e transformações. O GOLAÇO é favorável, mas mude continuando o mesmo. Isto é, evolua, mas mantenha a essência. Respeitem a história, o legado, o patrimônio, porque antes de vocês, eles já eram.

(82) 99972-7274

Ailton Cruz CEO Benedito Lima
2 Maceió-aL l Março / abriL de 2023 l golacoal@gmail.com EDITORIAL CNPJ 41.073.148/0001-33 l Rua Dom Santino Coutinho, 219 - Pitanguinha - CEP: 57052-070 - Maceió / Alagoas - E-mail: golacoal@gmail.com - Fone: 82 99972-7274
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OS ARTIGOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES, NÃO REPRESENTANDO,
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Ailton Cruz
Colaboradores: l MarceloAlves l MaurícioManoel l DayvidsonSoares l LucianoMilano l GuilhermeMagalhães
NECESSARIAMENTE,
OPINIÃO DESTE JORNAL.
3 Maceió-aL l Março / abriL de 2023 l golacoal@gmail.com Publicidade

Caindo de paraquedas

GUILHERME MAGALHÃES

Com supervisão da Editoria

UniãodosPalmareséumacidadehistóricapara o povo alagoano. Além do seu significado, a cidade palmarina também é um lar de apaixonadosporfutebol.EumadaspaixõessechamaZumbi Esporte Clube. O sucesso recente do Pantera não é uma coincidência, por mais que pareça um acaso do destino. Seu próprio presidente, Djair Lucena, afirmoutercaídodeparaquedasparacomandaroclube que ele sonha com um futuro brilhante.

OGOLAÇOfoiatéUniãodosPalmares acompanharumpoucoarotinadoclube, duranteojogocontraoCEO.Comapenas 32 anos, Djair se tornou presença carimbada dentro do clube, após anos como torcedor.Porém,chegouomomentoem queprecisousairdotrabalhodeassessor e tomar as rédeas do Alviverde, o qual assumiunoiníciodesteano.

“Em2021agenteacompanhouotime como torcedor, mas não fazia parte da diretoria.Oclubefezumaboacampanha, deixou algumas pendências para serem cumpridas e me deram a responsabilidadeparaassumiressescompromissos”.

No ano que vem, o ZEC completa 70 anos de história. Djair não esconde que o grande objetivo durante seu mandato

é o acesso. Porém, antes disso, a parte estruturalvemganhandoumforteinvestimento, desde o mandato do ex-presidenteLucianoPeixoto.

“A gente vem tentando estruturar, conforme nossas condições. Quando assumimos, não tinha quase nada de material. Hoje já temos uma estrutura consideravelmente grande. Vai deixar umlegadoparaoclube”,contou.

Mas um dos legados já está sendo trabalhado: as categorias de base. No começo deste ano, o Zumbi foi notícia, por conta da linda campanha de superaçãodentrodaCopinha,amelhorentreos alagoanos. E a base vem sendo um dos focos da atual gestão: “As categorias de base são o futuro. A partir do momento

que você forma atletas, isso vai te desafogar financeiramente e acabar com a questãodeequipesdealuguel”.

Dessacampanha,algumassementes jáderamfrutos.Ocasomaisfamosofoio do atacante João Victor, o Quero-Quero, negociadoemdefinitivocomoFlamengo. MasatéoZumbichegarlá,sofreualguns percalços,segundoDjair.

“NossahistóriadaCopinhaédesuperação. Em off, fomos criticados quando fomos indicados, sofremos esse preconceito por se tratar de um time da 2ª Divisão, por ser do interior. Levamos 18 [jogadores]erecebemoscontatoporseis atletas.ParaoZumbifoiumacompetição muitoproveitosa”,revelou.

Eoolharparaofuturopareceseruma

característicadanovadiretoriaalviverde. Em breve, o Zumbi estará disputando, mais uma vez, a Segundona do Estadual. Fora isso, até o meio de 2024, a cidade de União dos Palmares deve receber uma nova Arena, com capacidade para cinco mil torcedores, que será a nova casa do Zumbi.

Otimistacomoqueestáporvir,Djair deixou o futuro em aberto, mas não escondeuosseusobjetivos.

“Agentesabequeoacessonãoéum sonho só nosso, é um sonho do torcedor. A cidade de União merece estar na 1ª Divisão. O Zumbi é um clube que tem estádio, que tem torcida. Nós temos alguns sonhos dentro do nosso coração, maseupensomaisnoestrutural”.

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DJAIR LUCENA | Abre as portas e revela trabalho de sucesso no Zumbi

Zumbi desde pequeno

Durante a conversa, os torcedores não paravam de apoiar o time na arquibancada, mas um deles chamou a atenção: o pequeno Gabriel, de apenas 7 aninhos, que já é um fanático pelo Pantera Verde e sempre é figura carimbada nos jogos no Orlandão.

Com o placar de 0x0 persistindo, Gabriel estava irritado comaatuaçãodotime.Ogaroto estava um tanto magoado com o presidente Djair Lucena, por contadasaídadeQuero-Quero.

Descontraído, Djair classificou como gratificante ver a identificação da torcida.

“O Gabriel, em todo jogo que ele me vê, me cobra: ‘Por que vendeu o Quero-Quero?’. Isso é bom. A cidade cria identidade com o clube e com os atletas, principalmente com a juventude. Gabriel não perde um jogo do Zumbi”.

Mesmo chateado pelo time do coração não estar vencendo, Gabriel deu uma palavrinha com o GOLAÇO no intervalo, falando sobre seu

jogador preferido, o atacante Quero-Quero. “Jogador favorito era Quero-Quero, agora é o Gabriel. Quero-Quero foi embora”, disse.

Torcedor do Zumbi por ter nascido em União, Gabriel ainda disse que quer ver o time campeão da Copinha e arriscou um placar para o jogo que estava rolando contra o CEO: 4x0 para o Pantera. No fim, o torcedor-mirim chegou pertinho do resultado final: Zumbi 2x0 e Gabriel feliz com o time do coração.

Fotos: Ailton Cruz
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Shirley Alves

Uma história de superação

“Eu poderia estar em uma cadeira de rodas, mas a natação mudou a minha vida completamente”, afirmou Shirley Alves, uma jovem de 23 anos, natural da cidade de Pão de Açúcar, que viu no esporte a oportunidade de mudar sua vida. Ela, que faz parte da equipe de natação da Adefal, já conquistou 36 medalhas.

Antes de brilhar nas piscinas, Shirley teve os primeiros contatos nas águas ainda quando era criança, no Rio São Francisco. Ela morava com os pais no assentamento Conceição e era rotina ir com familiares e amigos para o rio.

“Eu sabia o básico, sabe? Só que eu tinha medo. Como eu moro à beira do rio (São Francisco), em Pão de Açúcar, eu ia muito para o rio. Mas, eu vim aprender mesmo depois que eu cheguei à Adefal. Antes eu não sabia totalmente nada e tinha muito medo de me afogar ou algo do tipo”, contou Shirley.

Quando mais jovem, Shirley sofria com dores no joelho e em uma das idas à Adefal foi apresentada por um fisioterapeuta a Diego Calado, técnico de natação.

“O fisioterapeuta começou a me observar e perguntou se eu queria conhecer uma pessoa que poderia me ajudar. Eu disse que sim. Então, ele me apresentou o Diego Calado, que é o treina-

dor de natação da Adefal. Ele me perguntou se eu toparia fazer natação e eu disse que iria conversar com meus pais. Conversei com meus pais e aceitei participar da natação”, relembrou.

Após aceitar o convite, Shirley passou um ano e meio treinando para só depois decidir participar da primeira competição. Em 2016, quando tinha17anosdeidade,ajovem participou de uma competição em Penedo-AL e depois disputou as Paraolimpíadas Escolares, em São Paulo.

“Eu nadei os 50 e os 100 metros livres e ganhei, aqui em Alagoas. Fora de Alagoas, minha primeira competição foi em São Paulo, nas Paraolimpíadas Escolares. Eu nadei os 50 e 100 metros livres e fiquei em primeiro lugar. Foi muito bom, uma experiência maravilhosa, eu fiquei muito nervosa, mas deu tudo certo”, contou.

Shirley não esconde que sua vida é uma superação. Ela conta que supera cada desafio que vem pela frente, sem baixar a cabeça, e nunca deixa detergratidãocomaspessoas que a ajudam ou ajudaram.

“Só tenho a agradecer a Deus, primeiramente, e a todos que me ajudam: o Diego Calado, que é meu técnico, a Adefal, que me acolhe e é meu porto seguro, a minha segunda casa... Agradeço também à Aline e ao Jesualdo, aqui da Adefal, por tudo que eles me ajudam quando mais preciso”, disse.

Fotos: Ailton Cruz
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A nadadora destacou a mudança que o esporte fez na sua vida e na sua história

“Anatação mudou a minha vida, mudou a minha história. É muito emocionante, eu não sei como explicar. Agora estou me sentido representada, estou sendo muito valorizada. Eu sofria muito preconceito antes de entrar na natação, muita gente ria de mim, por meu jeito

de ser, e agora não. Hoje têm pessoas que se inspiram em mim através da minha trajetória, do meu dia a dia e do meu esforço”, destacou.

Shirley ainda revelou outras dificuldades sofridas por conta de preconceito: “Eu sofria muito quando eu vinha para a escola, eu via os olhares das pessoas com preconceito comigo, rindo

de mim. Tinha uma menina que ia para a parte de trás do carro que me levava para a escola só para mexer comigo, rir das minhaspernas,rirdomeujeito... E agora não tenho mais isso. A natação mudou a minha vida completamente. Se não fosse a natação, eu tenho certeza que hoje eu estaria em uma cadeira de rodas”.

Da piscina para o mar

Após brilhar nas piscinas, Shirley decidiu ir para um novo desafio na natação. Convidada por companheiros de equipe, ela iniciou também os treinamentos no mar.

“A minha equipe já treinava no mar e eles me chamaram várias vezes, só que eu tinha medo. Quando eu vi a Julia, que é da minha equipe também, indo e tendo acompanhamento em tudo, me deu vontade de ir e eu gostei”, disse Shirley.

No dia 18 de dezembro do ano passado, Shirley disputou a sua primeira competição em mar aberto. Ela ficou em primeiro lugar no geral do Troféu Renaldo Malta, fazendo um percurso de 1.500 metros.

“Foi uma experiência muito boa, gostei muito. Eu estou me espelhando cada vez mais em uma pessoa da minha equipe, que me ajuda muito quando eu preciso, o Luiz André Cavalcante, que chamam ele de Sucuri do Nordeste”, falou a paratleta.

Shirley voltou a competir no mar no dia 5 de fevereiro deste ano, quando foi campeã no geral e na categoria PCD (Pessoas com Deficiência) do Troféu Kayan

Porto, na Travessia da Barra de São Miguel, em um percurso de 1.200 metros. A competição foi a primeira etapa do Campeonato Alagoano de Águas Abertas de 2023.

A jovem de 23 anos já tem seus sonhos e projetos definidos na natação.

“Quero chegar em nível nacional, participar das Paraolimpíadas,terumamelhoradevidamais ainda... A minha categoria é muito difícil, a minha classe é a S10, que é muito pesada. A pessoa tem que ter bastante força e resistência para chegar em um nível que possa pegar um índice, para ir disputar o Brasileiro (de Natação). E meu objetivo é este. A natação é um sonho que no começo eu achava impossível de acontecer, é uma paixão”, destacou Shirley. Na busca por seus sonhos, Shirley sempre contou com o apoio de seus pais, Valdo e Maria Gorete.

“Eles me apoiam desde o começo. Sempre eu era acompanhadaporminhamãeoumeupai. Depois, quando fiquei de maior, comeceiaandarsozinha.Maseles super me apoiam em qualquer decisão que eu tomar”.

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Futebol é paixão. E poucos nomundodabolapodem exercê-la, desde a possibilidade de representar o clube com o qual se identifica, como jogador, técnico e presidente da agremiação.

PERNAMBUCANO

| José Nascimento de Lima está há 60 anos radicado em Arapiraca

E, naquela fase, para manter o time em atividade, professor Zezinho Nascimento batia de porta em porta de empresas, torcedores e amigos para pedir alimento, e chegou até a frequentar feira livre na cidade para conseguir verdura, por exemplo; ele também se servia das doações para comprar material esportivo.

Parte da história é contada pelo advogado e conselheiro do clube Paulo de Tarso, em blog que ele mantinha na internet.

“Para quem não sabe, o

conhecido na cidade. Ele foi jogador de futebol do ASA durante aproximadamente dez anos e, como funcionário do clube, entre as décadas de 1960 e 1970, chegou a assumir alguMaceió

mas vezes a função de treinador. E foi, na década de 1990, presidente executivo em uma das piores fases do clube, quando o ASA ficou praticamente órfão de diretores. -aL l Março

/ abriL de

Zezinho Nascimento: de jogador a presidente, o homem que salvou o ASA de fechar as portas

2023

professor Zezinho Nascimento chegou de Caruaru para a Arapiraca na década de 1960, para ser atleta do nosso ASA. De Arapiraca não mais saiu. Formou-se em Educação Física e passou a cuidar das categorias de base do ASA. Professor Zezinho fez um trabalho hercúleo na presidência executiva enãodeixouosonhomorrer. Por dois anos foi presidente (1994 e 1995), montando equipes com jogadores locais e com o apoio dos torcedores. Revelou jogadores como Nem (que depois jogou na Portuguesa-SP)

e negociou craques como Laelson, então com 17 anos (hoje técnico de futebol Laelson Lima), com o futebol português por alguns pares de chuteira. Assim, com o apoio da torcida que se cotizava para comprar uniformes e alimentos para os atletas, o nosso professor Zezinho salvou o ASA. Presidente Zezinho Nascimento, então com mais de 50 anos, chegou a se autoinscrever como atleta na federação para que o ASA pudesse ter o número mínimo de jogadores para iniciar o campeonato”, descreve texto de

De Tarso, que faz parte da história do professor Zezinho no ASA, acrescentando que o clube possui vários heróis, mas que talvez Zezinho Nascimento seja o maior deles.

O Golaço conversou com Zezinho Nascimento que, modesto, afasta qualquer possibilidade de ser considerado herói. Para ele, qualquer outro alvinegro no lugar dele teria feito o mesmo. Quando ele assumiu o clube nas circunstâncias já descritas, o presidente era o então deputado estadual Demuriez Leão.

Dentro desse universo mais restrito do futebol, o Golaço traz a história do pernambucano do Recife, mas há 60 anos radicado em Arapiraca, José Nascimento de Lima, 85, o professor Zezinho, como é

Nascimento:

“Assumi porque o deputado estava cansado, sem tempo para seguir no comando do clube. Não vejo que fiz algo de mais porque o ASA é o clube que amo, que torço e tudo que tenho na minha vida devo a ele e a Arapiraca. Portanto, fiz o que qualquer outro torcedor do ASA faria. No ASA, fui tudo: de técnico a presidente, por puro amor ao clube e ao futebol, ao esporte”, resume Nascimento, que também se formou em Educação Física em Arapiraca e exerceu tal função no Gigante. Quando atuou como jogador pelo ASA, porém, Zezinho Nascimento tinha a profissão paralela de sapateiro.

“O futebol daquela época não era profissional, não vivíamos da bola como é hoje em dia. Depois, quando fui presidente, as folhas salariais, da mesma forma, não eram as que o ASA paga hoje em dia, tudo era diferente”, diz o ex-presidente alvinegro.

Também ainda à reportagem do Golaço, Zezinho lembra que sem o apoio do poder público municipal, empresários e torcedores o resgate do ASA não teria ocorrido.

“Sim, foi uma união de forças. E cada padaria, cada verdureiro, cada empresário do ramo de remédios e farmácia, a prefeitura, o Coringa, um dos mais antigos patrocinadores do clube, e a torcida foram fundamentais para que eu pudesse seguir com o ASA dentro de campo. Não fiz nada sozinho e, por isso, não me considero um herói”, reafirma Nascimento, que passou a paixão pelo ASA para o neto, o empresário do segmento de Comunicação, Cláudio Gouveia.

BASE

Lidar com categorias de base também sempre foi uma de suas paixões. Segundo o blog do conselheiro Paulo de Tarso, é de iniciativa de Zezinho Nascimento a criação do Arapiraca. No clube amador, surgiram outras revelações que jogaram no ASA, como os volantes Rodrigo Santos e Jota, entre outros; o Arapiraca chegou a ser campeão alagoano sub-15 na década de 2000.

“Perguntado em 2006 pelas emissoras de rádio de Maceió se o Arapiraca, campeão alagoano sub-15, tinha interesse em jogar na Primeira Divisão profissional, Zezinho respondeu que foi projetado pelo ASA, tudo que tem devia ao clube, gosta do Gigante e nunca faria um time para enfrentar o ASA. O Arapiraca é o ASA”, conta De Tarso, acrescentando que a declaração de Zezinho Nascimento deixou os locutores e radialistas da capital surpresos.

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respeitarTem que

MARCELO ALVES

Repórter

“Sim, sou eu mesmo, o Assis do CRB”, disse prontamente o massagista regatiano com certo ar de alegria, ao atender à reportagem de o GOLAÇO para uma entrevista sobre atrajetóriadele.Mas,logoemseguida,ao saber do que se tratava a ligação, “escuta-se” um silêncio, que foi cortado por um agradecimento com a voz embargada: “Obrigado. Obrigado, por lembrar de mim para uma entrevista. Desculpa pela emoção. Peço desculpa pelo choro. É que ... (outro silêncio)”.

>> patrimônio do CrB

PATRIMÔNIO DO CRB | Assis está no mesmo patamar dos ídolos do Galo >> Contraste improvisado

O tempo de Assis no CRB é o mesmo da era de Cristo: 33 anos. E, por falar em Jesus, sem fazer aqui qualquer comparação, mas o massagista sacrificou-se pelo Galo e, consequentemente, pela nação regatiana. Como se diz no adágio popular, Assis, que atualmente tem 63 anos de idade, comeu o pão que o diabo amassou, quando começou a trabalhar e morar no antigo Estádio Severiano Gomes Filho, na Pajuçara. “Na época em que cheguei ao CRB, as condições eram precárias. Faltavam várias coisas, desde alimentação até salário”, disse. Assis revelou que, certa vez, recebeu a ligação da mãe dele, Maria de Lourdes, de Campina Grande-PB, para pedir dinheiro para ajudar na compra de comida. Ele contou que, na época, estava com vários meses de salário atrasado e estava comendo bolacha com água, pela manhã, à tarde e à noite, e não soube como explicar que estava sem dinheiro. “De repente, o orelhão, que era o telefone da época, tocou lá no antigo estádio da Pajuçara. Quando atendi, era a minha mãe, que me pedia ajuda para comprar comida. Ali eu fiquei sem saber o que dizer para a minha mãe, porque saí de Campina Grande com a promessa de ganhar dinheiro com o futebol”, contou.

Após a ligação, Assis revelou ter ficado bastante triste. “Me bateu uma tristeza tão grande que cheguei a ficar com depressão, porque tinha largado tudo em Campina Grande para vir para o CRB e, chegando aqui, enfrentei tanta dificuldade que, pelo amor de Deus, deu vontade de desistir. Mas havia um sonho que eu não podia abandonar. E eu acreditava que aquele clube com aquela torcida tinha muito a crescer e eu também”.

O massagista regatiano disse que tratava a contusãodosjogadorescomcontratastefeitocom uma quantidade de água fervida no fogão e outra quantidade fria. “Eu improvisava o contraste. E, por incrível que pareça, o atleta conseguia se recuperar em menos de 48 horas, mais rápido do que com os métodos sofisticados que há por aí”. Rezai por nós!

Sempre de joelhos aos pés da imagem de Jesus Crucificado e das santas Virgem dos Pobres, Nossa Senhora Aparecida e da Sagrada Família, o massagista depositou a esperança dele e do clube de mudarem de patamar no futebol. E foi

assim, como era no princípio até os dias de hoje, sempre na base da reza e do trabalho. De oração em oração, o Regatas conquistou glórias.

Para se ter ideia de quanto Assis rezou pelo clube, basta lembrar das promessas pagas por ele. “Eu rezo tanto pelo CRB que só conquistei graças. Para se ter ideia, basta lembrar das promessas que paguei, como da vez que saí correndo do Estádio Rei Pelé, no Trapiche, até o Santuário Virgem dos Pobres, em Mangabeiras, na ocasião em que o CRB escapou do rebaixamento. Uma outra vez, eu percorri todo o campo do Trapichão de joelhos”.

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Fotos: Ailton Cruz

O vestiário é tido como local sagrado para os jogadores e a comissão técnica, mas Assis resolveu abrir o jogo e contar qual é o ritual dele nesse local do estádio.

“Eu sempre chego antes no vestiário para deixar tudo preparado para os jogadores e, em seguida, eu

procuro um cantinho do vestiário, preparo o oratório com as imagens da Sagrada Família, da Virgem dos Pobres e de Nossa Senhora Aparecida junto às velas. Lá eu acendo a vela, me ajoelho e rezo, pedindo a intercessão pelo CRB, para que possamos conquistar a vitória”. Ele disse que faz isso em todos os

jogos. “Quando termina. Eu faço o mesmo ritual. Espero todos os jogadores saírem para agradecer e desmontar o oratório”.

Atualmente, Assis não viaja mais com o CRB para jogos fora do Estado, por decisão da direção, mas, mesmo assim, pede para que as imagens sejam levadas.

>> choro e sIlêncIo

No término da entrevista, a reportagem questionou o motivo de ele ter feito silêncio e chorado, no início do telefonema. “Não é nada não. É um momento que estou vivendo e vou superar. Eu nunca pensei em passar por esse momento. Nunca pensei, mas vou superar. Sei que não mereço o que está acontecendo. Só tenho a dizer isso. Mas acredite, vou superar. Muito obrigado por lembrar de mim (mais outro silêncio)”.

Areportagemaindatentou, mais uma vez, entender o que ele estava passando, questionando-o, mas o massagista regatiano voltou a chorar e dizer apenas que iria superar, porque não era merecedor do que estava vivenciando no CRB. “Nunca passei por isso, mas vou superar. Isso dói muito. Isso machuca bastante. Mas vou superar. Eu tenho uma história no CRB”.

Mesmo patamar dos ídolos

Assis está no mesmo patamar dos jogadores que se tornaram ídolos do clube. Em todos os jogos do CRB no Rei Pelé, ele é ovacionado pela torcida junto aos nomes dos atletas. Isso já se tornou um ritual da torcida regatiana. Esque-

cer-se de cantar o nome de Assisseriaumsacrilégio. Além disso,umadasorganizadasdo CRB fez uma música somente para ele. “É, é, é, o Assis é da CV”, cantou o massagista.

Ele lembrou que em uma partidadoCRBcontraoVasco, em São Januário, no Rio de Janeiro-RJ, o técnico Marcelo Cabo o comparou ao massa-

gista Pai Santana, do time cruzmaltino. “Marcelo Cabo me chamou lá em São Januário e me apresentou aos funcionários e aos jogadores dabasedoVasco,dizendoque eu tinha a mesma importância no CRB assim como o Pai Santana é no Vasco. Ele disse ainda que somente eu e o Pai Santana erámos ovacionados

pela torcida no Brasil”. Outro fato que narrou para a reportagem, sobre ser considerado um ídolo no CRB, foi quando o clube completou 100 anos de vida e o então presidente-executivo do Galo, Marcos Barbosa, o escolheu para percorrer o Trapichão com a camisa alusiva ao aniversário do clube.

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