Motoristas 2014

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EDIÇÃO ESPECIAL - DIA DO MOTORISTA - JULHO 2014

OS DESAFIOS E A

esperança

Preocupações com segurança, legislação e atenção no trânsito são temas recorrentes na vida de quem optou por trabalhar como motorista, figura essencial no cenário econômico do país. Sustentabilidade e humanização são possibilidades concretas para o futuro da profissão

Procissão marca fé e homenagens a São Cristóvão, padroeiro dos motoristas


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DIA DO MOTORISTA | JULHO, 2014

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Segurança Atenção redobrada Legislação O que muda com a nova Lei do Descanso

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Carga noturna Jornada no transporte de frutas começa mais cedo

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Mercado O poder da recuperação de peças Motoboys Vida agitada em duas rodas

20 22 26 36 32

Herança Profissão de pai para filho Salvando vidas Muito além do volante

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Conectados Tecnologia chega à cabine

Fé e Tradição A missão de guiar São Cristóvão

Vida no campo Paixão, suor e versatilidade Vai dar peixe O bom momento da piscicultura no município

EXPEDIENTE Diretor Gilberto Schmitt (Reg. Prof. 1557 - MTB/SC) Depto. Financeiro Ana Lúcia Schramm Schmitt Indianara Schmitt Gilberto Schmitt Filho Depto. Comercial Maurício Rodrigues

Chefe de Redação Sandro Lauri Galarça (Reg. Prof. 8357 - MTB/RS) Projeto Gráfico e Diagramação Sandro Lauri Galarça Anúncios Maria Luiza Junges Jessé Almeida Fotografias Jean Laurindo Jessé Almeida Ana C. Bernardes Reportagens Ana C. Bernardes, Jean Laurindo, Thiago Moraes Foto de capa Jessé Almeida Impressão Gráfica ZF, Blumenau Circulação Julho 2014

Comemorar e refletir A importância de uma classe trabalhadora talvez possa ser medida por sua responsabilidade na economia de um país. E é inegável que o escoamento da produção brasileira passa, necessariamente, pelas estradas – nem sempre bem conservadas e seguras –, transportada em caminhões de toda a espécie. Este profissional, fundamental para o transporte e para o crescimento da economia, é apenas um dos tantos heróis de nossas rodovias. Eles dividem um protagonismo às avessas com motoristas de ambulâncias, taxistas, motoboys, motoristas de ônibus, vans escolares e de turismo, entre tantos outros de igual importância. Entretanto, neste 25 de julho, em que se comemora o Dia do Motorista e de seu padroeiro, São Cristóvão, render homenagens a um e orar ao outro não é suficiente. É necessário refletir sobre o modelo de crescimento em que a sociedade moderna está baseada, concentrado no modo rodoviário, que superlota as estradas de caminhões e automóveis,

na mesma medida em que torna o trabalho tão inseguro quanto improdutivo. Quem acaba pagando o preço deste desenvolvimento não sustentável são as profissões que se arriscam para entregar as mercadorias em um prazo absurdamente estreito, com uma carga quase sempre excedendo os limites, a um valor irrisório para o bom desempenho das tarefas profissionais. Cabe mais do que uma singela homenagem aos heróis do volante, mas uma reflexão sobre segurança destes profissionais e de seus familiares, assim como a vida de quem divide com eles as principais rodovias do país. Nesta edição, tentamos relembrar por meio de reportagens o cotidiano profissional de quem move a engrenagem da produção, sem esquecer dos colonos e agricultores, cuja data também se celebra nos próximos dias. Muito a discutir e a pensar, mas ainda há esperança para acreditar que é possível fazer mais e melhor.

DIA DO MOTORISTA

Editor-chefe Jean Laurindo (Reg.Prof. 3889 - MTB/SC)

Carta ao leitor

Cel. Aristiliano Ramos, 441 - 1º andar Centro - Gaspar/SC | Fones: (47) 3332-9060 | 3332-4259 | 3332-5768 - redacao@cruzeirodovale.com.br | www. cruzeirodovale.com.br Fundado em 1º de junho de 1990 por Gilberto Schmitt e João Nivaldo Tomazzia

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Atenção a todo i ADAS SEGURANÇA NAS ESTR

Com a escalada da violência e a rotina cada vez mais corrida, caminhoneiros precisam de cuidados redobrados

O transporte rodoviário de cargas no Brasil abriga há décadas um personagem fundamental: o caminhoneiro. Responsável por escoar diversas cargas de norte ao sul do país, os motoristas têm atentado com mais frequência para dicas que conjugam direção defensiva e atenção para o risco de assaltos. “Nesta vida de caminhoneiro temos que aprender a não confiar em ninguém, nem em própria sombra”, dispara o gaúcho Guilherme Panassol, 29 anos. Conduzindo diversos tipos de cargas há seis anos, Guilherme dirige seu caminhão com aquilo que afirma ser essencial para enfrentar as diversas adversidades encontradas nas estradas: a paciência. De acordo com o caminhoneiro de Caxias do Sul, atualmente

a vida nas estradas tem sido intensa e tensa, pois é preciso não só colocar em prática aspectos importantes da direção defensiva, mas também ficar atento à questão da insegurança, como saber o lugar certo para estacionar, fazer as refeições e descansar. “Fui assaltado recentemente e evito levar carga para estados fora da região Sul”, admite. Especialista em gestão de segurança no trânsito e integrante da Polícia Rodoviária Estadual, Emerson Andrade é enfático em suas orientações de segurança ao volante e postura preventiva contra possíveis furtos e roubos. Ele aconselha os caminhoneiros a dirigirem durante o dia, quando há maior visibilidade na pista, além de fatores conside-

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ráveis como risco de cansaço noturno. “Entre o Inverno e o Outono existe ainda o risco de animais irem à beira das estradas em busca de um lugar com temperatura alta. Evidentemente muitos motoristas preferem e precisam guiar seus caminhões à noite, no entanto se puderem evitar ou diminuir a condução neste período, menos riscos de acidentes os profissionais do volante terão”, frisa. O especialista ressalta ainda que os motoristas precisam se posicionar contra jornadas excessivas impostas por empresas de logística. “Esta pressão exagerada gera inclusive o consumo de drogas, o que configura crime em nosso Código Brasileiro de Trânsito”, alerta.


instante

s com proteção e saúde JEAN LAURINDO

Estudo de caso

ASSALTOS E CERTIFICAÇÕES Com relação a assaltos, Andrade salienta que os caminhoneiros precisam seguir determinadas recomendações, como evitar passar informações aos colegas e desconhecidos sobre qual carga está transportando. Para o especialista, é preciso se reeducar. “É necessário adotar este comportamento seguro e em hipótese alguma informar qual roteiro está seguindo”, orienta. Com relação às certificações exigidas durante a viagem para os caminhoneiros e transportadoras, Emerson sublinha que existem entidades credenciadas junto ao Departamento Estadual de Trânsito, Detran, que emitem certificados que vão desde cursos

necessários de direção até permissões de pesagem de carga. “As multas são altas para os caminhoneiros e em especial para as empresas que não cumprem as exigências das certificações. É preciso observar que para transportar certas cargas, como por exemplo combustível, gás natural e fogos de artifícios, é necessário ter certificados com cursos de capacitação”, avisa. Segundo Andrade, o motorista de caminhão e de ônibus precisa se aproximar dos órgãos fiscalizadores, pois são os próprios motoristas que percebem as deficiências e as possíveis irregularidades que acontecem nas estradas pelo Brasil afora.

A profissão que enfrenta inúmeros obstáculos no dia a dia, como as más condições das estradas, a pressão pela entrega da carga em tempo curto e a jornada excessiva de trabalho, foi alvo do Estudo SulAmérica de Saúde. A pesquisa abordou em estudo de saúde compreendendo 10 ramos de atividade econômica, entre eles os motoristas de caminhões e ônibus. Para o ramo de Transportes foram entrevistadas 2.735 pessoas de 30 a 39 anos, de 14 empresas diferentes. O resultado foi preocupante: a atividade concentrou o maior número de índices críticos, somando posições negativas em vários indicadores, entre eles colesterol alto, tabagismo, consumo de álcool, risco de infarto e AVC. As incidências de sobrepeso e obesidade também estão muito presentes na vida dos segurados da carreira de Transportes, com variação entre 49,8% e 63,4%, acima do percentual de 51 pontos estimados pelo Ministério da Saúde. Já os índices de sedentarismo alcançaram elevadas taxas em todas as áreas, entre 54,6% a 69,5%, o que indica que mais de 50% da população pesquisada não pratica exercícios. Por outro lado, a categoria apresentou taxa de estresse moderado ou alto de 29,5%, o segundo nível mais baixos do quesito dentre todas as atividades econômicas.

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SAÚDE NA ESTRADA Não são somente aspectos de mobilidade e insegurança que afligem os caminhoneiros. O estresse com jornadas excessivas causadas pela pressão de entrega das mercadorias dentro de prazo acarreta uma série de desdobramentos negativos na qualidade de vida do caminhoneiro. Coordenador do Serviço Social do Transporte, Sest, e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte, Senat, de Blumenau, Délcio Soares de Carvalho conta que a entidade tem feito um trabalho especial voltado à integridade física e psicológica dos motoristas de caminhões e de ônibus. Segundo Délcio, fatores como seden-

tarismo e alimentação desregulada ocasionam um descontrole na vida familiar e social do motorista. “Temos casos de os próprios familiares dos motoristas procurarem nosso departamento de saúde para buscar ajuda ao familiar que trabalha diretamente com transporte rodoviário. Temos uma bela infraestrutura, com profissionais da Medicina, Fisioterapia, Odontologia, Psicologia e Nutrição, disponíveis aos caminhoneiros e aos demais familiares. Nossa nutricionista tem sido bastante procurada”, assegura. Prevenidos contra os maus hábitos de uma alimentação desregrada, os caminhoneiros Sérgio Barbosa, 34 anos, e Aldo Ne-

ves, 33, moradores de Dourados, no Mato Grosso do Sul, não abrem mão da comida caseira feita por eles mesmos na cozinha do caminhão. Com as panelas sobre um fogão a gás, a carne de panela, o feijão e o arroz são alguns dos pratos prediletos dos amigos, que neste mês de julho passaram pela primeira vez por Gaspar. “Priorizo uma vida saudável, com paradas onde dá para fazer as refeições caseiras. Não costumo dirigir à noite também e a profissão, embora seja puxada, tem os seus pontos positivos, como sempre conhecer lugares diferentes e poder ter a devida folga na volta para casa”, relata Sérgio. JEAN LAURINDO

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REGULAMENTAÇÃO

As mudanças com a Lei d

Alteração em legislação que regulamenta períodos de parada dos motoristas deve facilitar a aplicaçã

A Lei do Descanso, que limita o tempo em que o motorista pode dirigir sem qualquer intervalo, é vista com bons olhos pelos motoristas de caminhões, porém ainda traz opiniões divergentes entre os caminhoneiros que trafegam pelas estradas Brasil afora. De acordo com a lei, aprovada em julho de 2012, os motoristas devem repousar no mínimo 11 horas de um dia para outro. Em caso de descumprimento, a chamada Lei do Descanso prevê a apreensão do veículo, multa de R$ 127,69 e perda de cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação, CNH. “A intenção é boa, mas para a Lei do Descanso ser cumprida precisa de um bom senso do profissional caminhoneiro e do patrão. É necessário que haja também postos de conveniência adequados para as pausas, em especial quando não há hotéis ou pousadas no trecho da parada”, defende o caminhoneiro Mauri Wernke, 59 anos, que dirige pelas estradas brasileiras há mais de 30 anos. “Este caminhão Scania já andou muito por este país. Ser caminhoneiro é ter espírito de aventureiro”, conta Mauri, morador da cidade de Penha e com experiência em transporte de cargas variadas, desde madeira até vidro temperado.

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Votação No mês de junho, o Senado aprovou mudanças no projeto que flexibiliza a jornada de trabalho dos caminhoneiros e motoristas de passageiros no Brasil. Os senadores restabeleceram a atual legislação ao fixar a jornada máxima da categoria em 10 horas, oito fixas e duas extras. Com a mudança, o projeto segue para nova votação na Câmara. Com a nova versão aprovada pelo Senado, os caminhoneiros vão manter a jornada atualmente prevista pela legislação e têm que ter pelo menos 11 horas de descanso entre uma jornada e outra, e ficam ainda obrigados a fazer paradas depois de cinco horas e meia seguidas na direção. “Acompanhei a lei aprovada em 2012 e as mudanças no mês de junho. O importante é que haja fiscalização, pois conheço motoristas que ainda tomam medicamentos para ficar acordados acima da carga horária estabelecida por lei”, alerta o caminhoneiro Maurício Dickmann, 49 anos, morador do bairro Santa Terezinha e que trabalha com mudanças domésticas em geral.


do Descanso

ão da norma com menos prejuízos aos profissionais FOTOS: JESSÉ ALMEIDA

Maurício Dickmann, 49 anos

Mauri Wernke, 59 anos

Eduardo da Silva Cordeiro, 26 anos

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SOB PRESSÃO

A maior pressão na profissão para Eduardo da Silva Cordeiro é encarar a imprudência de motoristas comuns e caminhoneiros nas estradas, sejam da esfera estadual ou federal. Transportando bebidas na região do Vale do Itajaí, o morador do bairro Santa Terezinha está há três anos na profissão. “A lei do descanso é importante para combater a imprudência nas estradas. A vontade de não ficar muito tempo longe de casa é um fator que pressiona demais nossa profissão, mas temos de zelar pela nossa integridade física e de terceiros também”, ressalta Eduardo, de 26 anos.

A jornada de trabalho de no máximo 10 horas por dia satisfez o experiente caminhoneiro gaúcho Josimar Gonçalves dos Santos. Para Josimar, morador de Lagoa Vermelha, no Rio Grande do Sul, e acostumado a transitar pela região do Vale do Itajaí, os motoristas precisam descansar de fato, pois a falta de repouso pode ter consequências fatais. “A Lei do Descanso e a fiscalização constante podem diminuir o risco de acidentes na rotina dos motoristas e garantir mais saúde aos profissionais, muitas vezes castigados por jornadas excessivas”, confirma.

Josimar Gonçalves dos Santos, morador de Lagoa Vermelha (RS)

Sindicato faz análise positiva Depois de mais de 30 anos de debate em busca de um consenso, motoristas profissionais finalmente convivem com uma lei nacional de regulamentação da profissão. Válidas para categorias como caminhoneiros, condutores de ônibus e taxistas, as mudanças agradaram o Sindicato dos Condutores de Veículos e Trabalhadores nas Empresas de Logística e de Transporte de Carga e Passageiros de Blumenau e Região, Sintroblu. O presidente do sindicato, José

Vilmar Zimmermann, mostra-se satisfeito com a regulamentação e diz que as normas trazem ganhos à categoria. “A Lei do Descanso e também a Lei do Motorista melhorou as condições de trabalho dos caminhoneiros. Agora, o profissional pode adequar, sob responsabilidade da empresa que o contrata, suas paradas aos seus pontos de descanso cadastrados”, exemplifica. José Vilmar Zimmermann destaca que a saúde dos trabalhadores e a segurança no

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trânsito são as principais vantagens. “A Lei do Descanso traz um dos principais benefícios, ao meu modo de ver, que é a saúde e a diminuição de acidentes com os nossos motoristas”, aborda. A fiscalização das novas normas ficará sob responsabilidade das polícias rodoviárias. As empresas também terão que ajudar a monitorar os horários de trabalho dos motoristas, que também terão a missão de cumprir as jornadas determinadas em lei.


O que diz a nova lei *O Senado reduziu de 12 para 10 horas diárias a jornada máxima dos caminhoneiros, prevista no projeto de lei que institui o descanso obrigatório durante a condução dos veículos pelas estradas do país. *Com isso, permanece a atual legislação brasileira, de oito horas por dia, mais duas horas extras. O projeto volta à Câmara, onde foi estabelecida a jornada máxima de até 12 horas. *A cada seis horas no volante, o motorista deverá descansar 30 minutos, mas esse tempo poderá ser fracionado, assim como o de direção, desde que o tempo dirigindo seja limitado ao máximo de 5,5 horas contínuas.

*O atual descanso obrigatório diário, de 11 horas a cada 24 horas, poderá ser fracionado, usufruído no veículo e coincidir com os intervalos de 30 minutos. * A proposta ainda irá voltar para a Câmara dos Deputados, onde poderá ser aprovada como está ou sofrer alterações. Após esse processo, seguirá para sanção presidencial, estando sujeita a vetos. *Pelo projeto aprovado no Senado, não há diferença de regras para o descanso de motoristas de carga e os de transporte rodoviário de passageiros, como de ônibus interestaduais.

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S E VERDURAS TA U R F E D E T R O P S TRAN

Carga da madrugada Uma vez por semana, Edson da Silva embarca logo cedo no caminhão para buscar novo estoque de frutas e verduras em Florianópolis A semana de Edson da Silva, 36 anos, começa sempre mais cedo. Após aproveitar o domingo de folga com a família, ele embarca no caminhão logo à uma hora da manhã nas segundas-feiras com destino a Florianópolis. Na capital, Edson e mais um companheiro de trabalho vão até as Centrais de Abastecimento de Santa Catarina, Ceasa, de onde trazem frutas e verduras que irão abastecer as duas unidades do Supermercado Arno Goedert, em Gaspar. Além de guiar o caminhão, Edson é responsável também por escolher e comprar as frutas e verduras na Ceasa. A rotina se repete às quartas-feiras, quando o funcionário dedica a tarde e o começo da noite para buscar e descarregar as frutas e verduras. Quando não está na estrada, Edson acompanha de perto o atendimento no setor de hortifruti, no bairro Sete de Setembro, busca produtos de outras seções e também transporta mercadorias entre as duas unidades do supermercado. Mesmo com a rotina de múltiplas tarefas, Edson tem a oportunidade de vivenciar a sensação de ser motorista. “Como estou na estrada apenas duas vezes por semana, acaba sendo uma rotina diferente e que me deixa muito satisfeito. Risco sempre existe, mesmo se você estiver de carro com a família, mas não chega a ser cansativo ou estressante. Mas para quem está na estrada todo dia a coisa é um pouco diferente.

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O dia a dia é muito desgastante, os riscos são maiores. Nesse caso eu já não sei se me adaptaria tão facilmente”, admite. O morador da rua Itajaí trabalha há dois anos no supermercado. No entanto, o contato com o ramo de frutas e verduras não é novidade. Durante 16 anos ele trabalhou com o pai, verdureiro há mais de 40 anos na cidade de Indaial. “Vendíamos frutas e verduras para muitos lugares, fazíamos compras em feiras livres de Blumenau, Gaspar e de outras cidades. É uma rotina que eu conheço bem”, orgulha-se.


FOTOS: JEAN LAURINDO

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Trânsito na temporada

Como a venda de frutas e verduras no fornecedor começa logo de madrugada na segunda-feira, o trabalho de Edson começa muito mais cedo até mesmo do que o de outros colegas motoristas. Já a receita para escolher os melhores produtos exige algumas habilidades que Edson conhece bem. “Tem que estar sempre atento, se certificar de tudo que está sendo entregue, saber qual a época de cada espécie, procurar frutas que possam render uma promoção. É preciso escolher bem, procurar sempre os melhores

produtos”, explica. Mesmo contente com os dias em que invade as estradas na condição de motorista, Edson tem suas queixas. Uma delas é a dificuldade com o trânsito, que costuma ficar caótico durante o final do ano. “Tem dias que eu demoro quatro, cinco horas para vir de Itapema a Gaspar, um trecho que leva menos de uma hora em outras épocas do ano. Na verdade, parece que fica pior a cada ano. Mas é uma realidade que já conhecemos, então tentamos nos adaptar para não sentir tanto a diferença em comparação com os meses fora da temporada, quando é tudo bem mais tranquilo”, ressalta.

De motorista para motorista O relógio ainda marca 7h da manhã quando Leonardo Burigo e Genésio Patrício chegam a Gaspar. Às margens do km 39 da BR-470, no bairro Margem Esquerda, a dupla estaciona na cidade pouco mais de meia hora após sair de Brusque, cidade onde os dois moram com a família há quatro anos. Não demora até que os dois abram a parte de trás dos caminhões e comecem a oferecer abacaxi e melancia vindos do produtor aos motoristas que passam pela rodovia com destino a Blumenau ou ao Litoral. Genésio é um dos que conduz os caminhões do ponto de entrega das frutas até Brusque e Gaspar. Semelhante ao que acontece com Edson, o trabalho tem que come-

çar cedo para aproveitar o movimento dos motoristas que passam pela rodovia no início da manhã. O expediente vai até por volta das 17h30, quando os dois organizam os produtos que não foram vendidos, fecham o caminhão e retornam para casa. Novas remessas de abacaxi e melancia chegam toda semana, de Minas Gerais e de Goiás, respectivamente. Responsável por cuidar dos produtos e atender os compradores durante a maior parte do dia, Leonardo explica que a procura dos motoristas nos últimos meses vem satisfazendo a expectativa. “No inverno o movimento é menor mesmo, mas durante a temporada as vendas aumentam bastante”, conta.

Antes de aportar em Santa Catarina, a família de Leonardo já trabalhava com revenda de frutas e verduras na cidade de Garuva, na divisa com o o Paraná. Os preços convidativos, como seis por R$ 10, no caso do abacaxi, ou duas por R$ 15, da melancia, são as principais apostas dos ambulantes para atrair motoristas que estão de passagem pela rodovia. “O trecho que fazemos é pequeno, mas mesmo assim precisamos chegar cedo e passar pelas rodovias todos os dias. É um trabalho prazeroso, mas um pouco perigoso para quem está nas estradas. Isso sem falar nas situações que presenciamos durante todo o dia aqui na BR470”, completa Leonardo. JEAN LAURINDO

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AS PEÇAS AUTOMOTIV

O poder da recuperação Organização e variedade são desafios diários na recuperação de autopeças, trabalho desenvolvido pela Usacar Auto Peças, no bairro Belchior JEAN LAURINDO

Quem passa pelo quilômetro 47 da BR-470, no local onde anteriormente funcionava a antiga Sucata Danceteria, logo percebe o amplo estoque de peças de veículos como capôs, faróis, portas e para-choques de diferentes marcas distribuídas entre as prateleiras. A variedade de peças é um dos pontos que chama a atenção em estabelecimentos do ramo como a Usacar Auto Peças, fundada em 2007 pelos sócios Cristiano Gonçalves e Neves Luciano Schmitz. A empresa vem conquistando espaço no setor de venda de peças de reposição novas e recuperadas para carros, camionetes, vans e caminhões. Um dos diferenciais, no entanto, é a aposta na recuperação de peças sinistradas, adquiridas em parceria com seguradoras. Os convênios permitem que a Usacar adquira peças que sofreram danos parciais e precisaram ser substituídas pelas oficinas e companhias de seguro. Nas mãos caprichosas da equipe da empresa, que conta com cerca de 30 profissionais, os produtos têm suas avarias corrigidas uma a uma. O processo envolve diversas etapas e deixam as peças prontas para reaplicação no automóvel. “Muitas vezes a própria montadora não consegue suprir a deman-

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da de peças de determinado veículo. Outro ponto importante é que a original usada na linha de montagem passa por tratamentos químicos que dão uma proteção extra à lataria. Ou seja, mesmo recuperada, a qualidade da peça fica em vantagem na preferência em comparação com uma peça nova”, explica o gerente Reginaldo Gonçalves. Mas a maior vantagem talvez esteja no preço, já que os itens recuperados chegam a custar entre 30% e 50% do preço de uma nova original. As peças que não podem ser aproveitadas também são recolhidas pela Usacar, que mantém convênio com empresas de reciclagem para dar destino adequado a materiais recicláveis como lataria e plástico. A loja também investe em peças novas, principalmente para suprir a demanda de modelos em que não há disponibilidade de peças originais recuperadas. No entanto, 70% do faturamento ainda é composto pela linha de usadas. “Só trabalhamos com peças da parte externa dos veículos, como lataria, para-choque, retrovisor, faróis e radiadores. Na linha pesada, trabalhamos com cabines, portas e para-choques de caminhões. Resolvemos segmentar e nos aperfeiçoar nessa área, sem entrar na parte de mecânica e de interior”, esclarece Reginaldo.


Organização e mão de obra Para não se perder em meio às mais de 6 mil itens, segundo levantamento da empresa, a organização é o grande desafio diário. Novos lotes chegam a cada dia e são separados entre os tipos de peças e os modelos dos veículos. Um sistema de códigos de barras já começou a ser implantado e deve facilitar o controle do estoque. A loja ainda oferece entrega gratuita no trecho que vai de Joinville a Florianópolis. O volume e a variedade de peças atraem clientes de diversas regiões. No terreno de 5 mil metros quadrados, todo tomado pelo estoque de peças, há espaço também para um setor somente de radiadores, condensadores e ventoinhas recuperados. “Atualmente estamos também trocando as prateleiras da

área externa por modelos cobertos para nos adequarmos à nova legislação gasparense que busca evitar risco de contaminação de mosquitos em estabelecimentos do nosso ramo”, acrescenta o gerente. Em um mercado onde a mão de obra é sempre escassa, não é difícil imaginar que encontrar profissionais com perfil para a recuperação de peças também não é tarefa fácil em estabelecimentos do ramo da Usacar. “Estamos formando profissionais aqui dentro, atraindo jovens que gostam do ramo e também estamos implantando o programa Menor Aprendiz em busca de pessoas interessadas em atuar neste segmento, porque infelizmente há uma carência muito grande nesta área”, pondera Reginaldo.

Dentro da empresa, o cuidado e a habilidade com que cada funcionário realiza a recuperação das peças mostra o quão valioso é o trabalho realizado. Nas palavras do gerente, os colaboradores são verdadeiros artesãos pela atividade que desenvolvem. Paulo Camilo e Algemiro S. Czerniaski, o popular Chitão, são dois dos exemplos de especialista na recuperação de latarias formados na prática. “É um trabalho que valorizamos muito, porque exige uma preocupação em não alterar os acabamentos que as peças só recebem na linha de montagem. Isso é um diferencial que costuma conquistar o cliente a partir do momento em que ele conhece esse trabalho”, ressalta.

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FOTOS: JESSÉ ALMEIDA

AS VIDA EM DUAS ROD

Profissão PERIGO Seja para entregar refeições, medicamentos, documentos ou mercadorias, motoboys enfrentam as dificuldades do trânsito e estão sempre a postos Uma profissão que recebeu em junho deste ano o carimbo da presidente Dilma Rousseff como “atividade de risco” não poderia ser conceituada de outra forma se não como profissão perigo. Seja para levar uma pizza recém-saída do forno ou uma remessa urgente de mercadorias, lá estão os motoboys a postos para disparar nas ruas das cidades brasileiras. Em Gaspar não é diferente. Correndo contra o tempo e contra a falta de infraestrutura nas estradas, o motoboy Carlos Kamenoff, 24 anos, atua há seis na profissão e conta que a rotina varia muito conforme a demanda do dia. Segundo o gaúcho de Porto Alegre, existem entregas de caráter urgente e não urgente. “Os dias chuvosos são os mais tensos, além das encomendas que precisam ser entregues com horário marcado em outras cidades do Vale do Itajaí. Cruzar a BR-470 é adrenalina pura devido à fama de rodovia da morte”, observa. Segundo Carlos, os condutores de carros, ônibus e caminhões em Gaspar são mais civilizados do que na região de Porto Alegre. “Aqui os motoristas são mais pacientes, menos desrespeitosos no trânsito. Nosso serviço exige sempre uma espécie de sintonia entre prudência e agilidade e muitas vezes os condutores em geral não entendem a responsabilidade que temos com nossos empregadores e clientes”, afirma Vinícius Kamenoff, 22 anos, irmão de Carlos, que também atua como motoboy em Gaspar. Para o motoboy Andrei Schneider, 28 anos, a adrenalina e a tensão do

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dia a dia são recompensadas pela sensação de dever cumprido em cada itinerário percorrido. Trabalhando na mesma empresa que Carlos e Vinícius, Andrei destaca o espírito corporativo que há entre os trabalhadores. “O bom de nossa profissão é que a maioria de nossos colegas de trabalho são parceiros de verdade. Quando temos dúvidas com relação às localizações antes das saídas ou mesmo durante o trajeto, basta telefonarmos uns para os outros que uma solução é apontada, como por exemplo dicas de ponto de referência”, conta Andrei.

Jornada dupla

Trabalhando como entregador de diversos produtos e documentos durante o dia, Rafael Cândido, 31 anos, abraça também o trabalho de tele-entrega noturna em uma pizzaria de Gaspar. Com sua moto, Rafael trabalha como motoboy há uma década e avisa que a profissão é para aqueles que se preparam para aguentar o forte ritmo do cotidiano. “Consegui atingir um nível onde consigo fisicamente suportar dois trabalhos como motoboy, mas para aqueles que iniciam na profissão não é nada fácil, pois a demanda de serviços e a precisão na entrega das encomendas são sempre altíssimas. Tem o fator também de saber lidar e administrar a tensão natural de querer fazer um bom trabalho”, ressalta Rafael.


Aumento no salário já está em vigor Conhecidos como aqueles que conhecem cada canto da cidade como as linhas da palma da mão, tudo para garantir a entrega da encomenda no local e no horário requisitado, os motoboys que transportam pessoas e mercadorias em motocicletas já estão sendo beneficiados pela Lei nº 12.997, que adiciona no contracheque 30% de periculosidade aos motoboys e profissionais que trabalham com motocicletas. De acordo com o anúncio feito em junho no Diário Oficial da União, as modificações já foram transcritas para a Consolidação das Leis do Trabalho, CLT, e os profissionais da área garantiram um aumento salarial satisfatório. “Veio na hora certa, afinal arriscamos nossa própria vida em favor de entregas rápidas e eficientes para diversos segmentos de nossa sociedade. A valorização é necessária e justa. Agora precisamos ganhar um reconhecimento também por parte da sociedade, que ainda desvaloriza muito nosso trabalho”, frisa Carlos Kamenoff.

A lei alcança também outros profissionais que trabalham transportando passageiros e mercadorias em motocicletas, como mototaxista e motofrete ou prestadores de serviço comunitários de rua, como a ronda noturna. “Os clientes que dependem e que eventualmente utilizam o serviço prestado por empresas que possuem motoboy terão de entender o aumento necessário no valor das encomendas feitas devido ao aumento do salário dos profissionais desta área”, pondera o empresário gasparense Edson Luis de Souza, do ramo de entregas rápidas. Com salário-base até pouco tempo em R$ 1.150 e uma carga horária de nove horas por dia, de segunda a sexta, a partir deste mês de julho os motoboys passam a receber R$ 1.500. De acordo com estimativa do Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas de São Paulo, Sindimoto-SP, a categoria abrange cerca de 2 milhões de trabalhadores em todo o país, a maioria entre 21 e 30 anos. De acordo com o Ministério da Saúde, o

número de mortes em acidentes de trânsito com motos no Brasil aumentou 263,5% entre 2001 e 2011. Segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade, SIM, foram 11.268 mortes no país em 2011 e 3.100 em 2001.

Empresário Edson Luis de Souza

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JEAN LAURINDO

ISTA PROFISSÃO: MOTOR

De pai para filho Influenciado pelas experiências do pai caminhoneiro, Luís Felipe escolheu seguir o encanto pela profissão e trilhar o mesmo caminho profissional Distância da família, insegurança, baixa margem de lucro. Essas são dificuldades comuns no relato de motoristas sobre os maiores problemas da rotina de trabalho. No entanto, as vantagens da profissão e a paixão pela vida na estrada na maioria das vezes acabam falando mais alto, influenciando até mesmo as novas gerações. O caminhoneiro Luís Felipe do Nascimento, 32 anos, morador do bairro Poço Grande, sempre viu com muita clareza o que gostaria de fazer da vida. O desejo de cair na estrada foi herança do pai, Luís Nélvio do Nascimento, de 58 anos, 40 deles dedicados ao transporte de cargas pelas rodovias do país. Apaixonado desde pequeno pela rotina do pai, Luís Felipe viajava com a família nas férias por diferentes estados. Ali começou a se interessar pela vida na cabine do caminhão. Já aos 14 anos começou a viajar com o pai e, quando completou 18, estava pronto para começar a guiar e dar início à carreira que mantém há mais de uma década. A estrada mudou muito neste espaço de tempo em que Luís Felipe construiu sua trajetória como caminhoneiro. “Quando comecei o trânsito não era tão complicado, não havia tanta insegurança como hoje e existia mais companheirismo entre os motoristas. Hoje é cada um por

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si e Deus por todos”, compara o caminhoneiro, que veio com a família de Urubici para Gaspar há 19 anos. Em geral, Luís Felipe passa de um a três meses fora de casa transportando cargas entre diferentes estados, principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste. O trabalho é intercalado com períodos de sete a 10 dias em casa. Casado e com uma filha de três anos, Luís Felipe telefona todo dia para casa quando está trabalhando. “É uma forma de diminuir a saudade e também de manter a família informada sobre onde estou, o que está acontecendo. Hoje em dia isso é importante”, ressalta. O pai de Luís Felipe, Luís Nélvio, continua na ativa, mas passa períodos maiores longe da família. Esteve em casa com a família pela última vez em janeiro e se prepara para retornar no início de agosto. “Ele gosta muito desta vida. Às vezes emenda uma carga na outra e acaba ficando fora mais tempo do que o previsto”, explica o filho. Se Luís Felipe foi influenciado pelo pai para se tornar motorista, Luís Nélvio começou na profissão por acaso, quando ainda tinha 18 anos. No entanto, isso não impediu que, além do filho, ele também motivasse três dos sete irmãos homens a seguir a mesma profissão.


Angústia de mãe, dificuldades e vantagens Luís Felipe não se arrepende de ter trilhado os passos do pai e se tornado caminhoneiro. Apesar de acreditar que a profissão é pouco valorizada e que poderia melhorar com medidas como mais pontos de parada nas estradas e mais segurança, ele mantém viva a paixão pela vida que escolheu. “É sempre muito bom chegar em casa depois das viagens. Mas depois de três ou quatro dias em casa, tanto eu quanto meu pai começamos a ter aquela sensação de que está faltando alguma coisa. É o primeiro sinal para voltarmos à estrada”, conta Luís Felipe, sorridente. Estar sempre em um lugar diferente e conhecer pessoas novas são as principais vantagens da profissão apontadas pelo caminhoneiro. Dos estados do Brasil, só não conheceu Amazonas, Roraima e Acre. “Além do Sul, que também é privilegiado, gosto muito do Nordeste, que tem belas paisagens”, opina. Já a mãe de Luís Felipe, Maria Lícia Stupp do Nascimento, 53 anos, sempre gostou da região do Mato Grosso. “Quando viajávamos em família nas férias sempre achei um lugar com muitas riquezas e muito bonito”, conta. Maria, aliás, é quem fica com o coração

duplamente apertado quando o marido e o filho estão fora de casa. O salão de beleza montado junto à casa da família ajuda a distrair, mas não acaba com a angústia que uma esposa e mãe de caminhoneiro sente, sobretudo nos dias atuais. “Meu marido já tinha essa profissão desde que começamos

a namorar, então acabo ficando mais preocupada com o filho. A gente sempre tem aquele instinto de proteção. Desde pequeno já percebíamos que ele iria querer seguir a profissão do pai, mas mesmo assim não tem como não se preocupar quando os dois estão na estrada”, conta Maria. ARQUIVO PESSOAL

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BULÂNCIA MOTORISTA DE AM

Muito além do volante Mais do que transportar pacientes para atendimentos médicos, condutores de veículos de socorro acumulam a responsabilidade de ser um ombro amigo nas horas de necessidade FOTOS: ANA C. BERNARDES

Um apoio nos momentos difíceis e um companheiro nas horas mais tristes. É dessa maneira que Jorge Luis Dellarosa, 55 anos, prefere ser visto durante suas horas de trabalho. Não apenas um motorista de ambulância, mas um ombro amigo de quem necessita de socorro. Há pouco mais de 15 anos, Jorge não imaginava que seu futuro seria dirigir uma ambulância e auxiliar as pessoas em momentos de extrema dificuldade. Mas as reviravoltas da vida o fizeram passar em um concurso público e ser chamado pela Prefeitura de Gaspar pouco tempo depois. “Até então eu trabalhava com vendas, algo totalmente diferente daquilo que passaria a fazer e continuaria fazendo por muitos anos”, explica. A profissão de motorista de ambulância da Secretaria de Saúde de Gaspar passou a preencher os dias do morador do bairro Santa Terezinha. A paixão pelo trabalho fez com que ele começasse, poucos meses após ingressar na profissão, a fazer um curso específico de socorrista. “Como trabalhamos transportando pessoas enfermas é necessário que tenha-

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mos esse curso em casos de emergência, como auxiliar um médico ou enfermeiro que também estão na ambulância com alguma situação”, conta. Ajudar as pessoas em momentos complicados lhe trouxe tanta alegria que também fez o curso para se tornar bombeiro comunitário e hoje faz parte da associação de Gaspar.

Rotina

Trabalhar com pessoas em situações delicadas não é tarefa fácil. Mas nem por isso pode ser visto como um trabalho incapaz de levar alegria para quem o exerce. “É realmente um trabalho diferenciado, já que geralmente atendemos pessoas mais humildes e que na maioria das vezes têm uma carência afetiva muito grande. Sempre deixo claro que não estou ali apenas para transportar os enfermos, mas também para conhecer pessoas novas e fazer amigos. Por isso digo que meu trabalho é muito


prazeroso e recompensador”, ressalta. Jorge trabalha 24 horas por dia e folga 48 horas. Em dias em que está fazendo o plantão, chega a realizar de sete a oito atendimentos. “Temos um trabalho diferente do Samu, por exemplo. Minha função é ir com a ambulância até a casa de um paciente que está na maioria das vezes acamado e levá-lo até o hospital, alguma clínica ou até mesmo transferi-lo para outro hospital”, conta. Geralmente os atendimentos são agendados, como em casos em que o paciente precisa ir até um hospital de outra cidade fazer algum tratamento. Jorge já chegou a levar pacientes de Gaspar a diversas cidades do Estado e até mesmo de estados vizinhos, como Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. “Ser motorista de uma ambulância exige o triplo de atenção, pois você está transportando pessoas que já estão em uma situação complicada. Não vou dizer que é um trabalho simples, mas é gratificante e muito bom”. Hoje, a Secretaria de Saúde conta com três motoristas para a ambulância, incluindo Jorge, e três ambulâncias à disposição da comunidade.

Histórias marcantes Não faltam histórias para Jorge contar sobre seus atendimentos e novos amigos feitos ao longo de tantos anos trabalhando como motorista de ambulância. As mais marcantes, entretanto, são tristes e fazem com que ele se emocione cada vez que as lembra. “Muitas vezes acompanhamos certos pacientes por alguns anos, já que estão em tratamento e precisam se dirigir aos hospitais fora da cidade. É impossível não criarmos um vínculo com a maioria, impossível esquecermos deles quando deixamos de acompanhá-los”, completa. Emocionado, Jorge comenta que um dos casos mais marcantes foi o de uma jovem que tinha câncer. Por cinco anos, ele foi responsável por conduzi-la aos hospitais, levá-la para as sessões de quimioterapia, entre outros atendimentos. Devido a algumas complicações, a jovem faleceu há pouco mais de três meses, deixando um grande vazio em sua rotina de trabalho. “Casos assim infelizmente acontecem, mas também há aqueles em que acompanhamos a evolução do paciente. Aqueles em que vemos que a pessoa se recuperou e é

isso que me motiva ainda mais”, expõe. Os dias estressantes e cheios de empecilhos também fazem parte da sua rotina de trabalho, mas ele garante que não são suficientes para lhe tirar o sorriso do rosto e a paixão pela profissão.

Jorge Luis Dellarosa, motorista de ambulância em Gaspar

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Socorro a qua Há cerca de três anos, as noites de Jorge Luiz de Oliveira Pereira, 33 anos, não são mais as mesmas. O horário que, até então, servia para descansar após um longo dia de trabalho passou a ser marcado pelo atendimento à população e, muitas vezes, pelo salvamento de vidas. O morador do bairro Gasparinho é um dos motoristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, Samu, de Gaspar. Juntamente com uma equipe preparada, Jorge é responsável por atender a comuni-

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dade tanto em casos clínicos como em acidentes. “Não é um trabalho simples. Temos que estar sempre preparados para o pior e aptos para atender a todos da melhor forma possível”, afirma o motorista. Para exercer a profissão, teve que fazer um curso específico de veículos de emergência, que precisam ser conduzidos com mais cuidado e atenção. Além disso, Jorge possui um curso necessário para trabalhar com o Samu e também chegou a fazer o curso de bombeiro comu-


alquer hora nitário, mas não finalizou. “Quando sou chamado para atender uma ocorrência saio com um técnico de enfermagem, que está apto a realizar todos os procedimentos necessários para o bem-estar do paciente. Mas, além de dirigir, também preciso preparar o local e auxiliar no atendimento”, explica. A rotina de trabalho do motorista do Samu é de 12 horas diárias, um dia sim e um dia não. Jorge trabalha das 19h às 7h atendendo a qualquer tipo de chamado neste período. Em

dias mais movimentados, chega a se deslocar até 12 vezes. Segundo ele, a maioria dos casos que necessita do atendimento do Samu em Gaspar são clínicos, como paradas cardiorespiratória, pneumonia e hipertensão. “Mas também somos chamados para acidentes de trânsito, afogamentos, entre outras ocorrências. Esses são os casos mais chocantes e marcantes”. Entre todos os que já atendeu, Jorge se recorda facilmente de um acidente registrado na rodovia BR-470 há poucos meses. No local, ele atendeu a uma das vítimas, mas não pôde salvar os outros envolvidos. “Amo minha profissão, mas se tivesse que destacar a maior dificuldade com certeza seria essa, não poder salvar uma pessoa”, aponta. Antes de trabalhar no Samu, ele também exerceu a função de motorista da ambulância da Secretaria de Saúde de Gaspar. Há tantos anos na profissão, Jorge acredita ter encontrado aquilo que fará por toda a vida. “Amo meu trabalho e o que faço. É uma das coisas mais gratificantes na minha vida”, ressalta. Jorge Luiz de Oliveira Pereira, 33 anos, é um dos motorista responsáveis pelo atendimento de emergência do Samu de Gaspar

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TECNOLOGIA

Reforços para a cabine Equipamentos como central multimídia, GPS, TV e câmera de ré aumentam ar de conforto e entretenimento a veículos, motoristas e passageiros do ramo de turismo O tempo em que a solidão da cabine era a principal companhia dos motoristas nas estradas já não corresponde totalmente à realidade atual destes profissionais. As novidades na área da tecnologia buscam trazer cada vez mais opções de conforto e segurança para quem passa a vida nas estradas. Equipamentos que também ajudam a oferecer entretenimento e diminuir o isolamento dentro dos veículos. Central multimídia, TV, GPS, sensores de estacionamento e de ré. As opções cada vez mais variadas facilitam a vida para quem deseja investir em opções que tragam um pouco mais de conforto. Por estratégia de negócio ou cobrança dos passageiros, o ramo de turismo e transporte é um dos que mais aposta neste tipo de soluções. Quando adquiriu o micro-ônibus mais recente da frota da empresa, Daniel Luís Schramm, sócio da ACD Transportes, de Gaspar, fez questão

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de apostar em equipamentos extras para equipar o veículo. O veículo de 32 lugares ganhou DVD, TV digital, sistema de som, GPS e refrigerador, itens também adotados em outros veículos da empresa gasparense, que realiza transporte universitário, de funcionários e viagens turísticas em geral. A novidade ajudou, por exemplo, os estudantes que quiseram acompanhar jogos da última Copa do Mundo enquanto seguiam para a universidade. “A concorrência nesse ramo é muito grande, então o que a gente pode agregar como diferencial, nós adotamos”, destaca. Há 12 anos no ramo, a empresa gasparense conta atualmente com oito funcionários e cinco veículos, entre vans e micro-ônibus. “O turismo também é um ramo que requer isso. Em viagens um pouco mais longas os passageiros realmente buscam esse tipo diferencial”, destaca.


DIVULGAÇÃO

VARIEDADE DE OPÇÕES Após comprar o 12º veículo da empresa Tematur Transportes, de São Bento do Sul, em uma concessionária de Gaspar, o empresário Mateus Moreira, 62 anos, já aproveitou para solicitar a instalação de um kit multimídia, com sistema de som e monitores para passageiros. “Como fazemos transporte de universitários para faculdades, os passageiros pedem esse tipo de coisa. É um complemento ao serviço. Se você não fizer isso, não se diferenciar, acaba perdendo espaço”, explica. Moreira, que foi motorista durante muitos anos até se tornar empresário, em 1996, afirma que as opções de tecnologia favorecem tanto os passageiros como os profissionais que trabalham ao volante. “Comparando com o tempo em que eu era caminhoneiro, hoje existe uma infinidade de opções para quem quer apostar em tecnologia nos veículos. Basta escolher e estar disposto a investir um pouco”, ressalta. Quem trabalha direta ou indiretamente com esses serviços confirma que a procura por mais conforto e tecnologia vem aumentando entre caminhoneiros e motoristas. Paulo Oliveira, da Podium Som Automotivo, revela que os serviços mais requisitados são instalações de câmera de ré, DVD, multimídia e GPS. “Na parte de segurança também existe uma preocupação crescente dos motoristas e das empresas que possuem frota, que também costumam buscar soluções como bloqueadores e rastreadores”, acrescenta. ESPECIAL DIA DO MOTORISTA | CRUZEIRO DO VALE | JULHO | 2014 | 27


na palma da mão Não é só na cabine que novidades buscam facilitar a vida de motoristas que cruzam as estradas do país. A tecnologia embarcada, que traz benefícios ao próprio rendimento dos veículos, com economia e comodidade na troca de marchas, por exemplo, ganham espaço entre os lançamentos das linhas de caminhões e conduzem o mercado de veículos de grande porte para um novo momento. Com elementos de computação que aumentam a segurança e a conectividade, os sistemas embarcados ainda exigem um certo conhecimento dos motoristas para manusear as ferramentas, mas carregam a promessa de modernização cada vez maior para o segmento. Além disso, a chamada tecnologia móvel, reconhecida pelos modernos smartphones que se popularizam cada vez mais, também já traz aplicativos que podem ser úteis no dia a dia para motoristas. Confira a seguir alguns exemplos:

SocialFuel Permite comparar os preços dos combustíveis nos postos mais próximos. Registra histórico de abastecimento e guarda notas sobre troca de óleo. A atualização dos preços é feita de forma colaborativa. Também gratuito e disponível para Android.

uCar O aplicativo permite o controle de gastos com o veículo, seja com limpeza, manutenção ou abastecimento. Com interface simples e

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vários idiomas, o app comporta mais de um veículo cadastrado, como carro, moto, caminhão e trailer. É possível descobrir média de consumo de combustível por quilômetro rodado e postos mais próximos. Gratuito e disponível para Android.

SOS Motors O aplicativo ajuda a encontrar lojas de autopeças, oficinas mecânicas, lojas de pneus e outros serviços necessários para a manutenção do veículo. É possível fazer busca por proximidade ou ainda listar os estabelecimentos por categoria. Gratuito e disponível para iPhone e Android.

SontraCargo Na ferramenta, que é gratuita tanto para caminhoneiros quanto para transportadoras, os caminhoneiros se cadastram e podem pesquisar as cargas disponíveis por cidade, na rota ou mais próximas. Pelo celular ou pelo computador, podem ver a origem e o destino, o tipo de carga, a carroceria, se há necessidade de rastreador para aquela operação e o valor a ser pago, pela carga total ou por tonelada, entre outros detalhes. As informações são postadas pelas transportadoras cadastradas.

Waze Já famoso entre usuários de smartphones, o Waze é um aplicativo de navegação que permite localizar endereços e verificar o fluxo de veículos em determinado trecho da viagem. Alertas de acidentes também podem ser vistos por meio do aplicativo.


PROCISSÃO

A nobre missão de guiar São Cristóvão Desde 1983 um motorista da cidade assume a responsabilidade de conduzir a imagem do santo protetor na tradicional carreata que percorre as ruas de Gaspar ARQUIVO/CV

Quem nunca acordou cedo na manhã de um domingo de julho com o som das buzinas de diversos carros e caminhões? A cena é tradicional em Gaspar e acontece desde o início da década de 1980, quando foi realizada pela primeira vez a Procissão de São Cristóvão. Desde 1984, quando o morador Henrique Isensee conduziu sua caminhonete pelas ruas de Gaspar até chegar à capela São Cristóvão, no bairro Gaspar Grande, levando a imagem do padroeiro do bairro, a procissão vem reunindo cada vez mais motoristas da região. O motivo de tamanha concentração de veículos é um só: receber a benção do santo protetor dos motoristas. Embora o evento seja emocionante para todos que participam, o gosto é ainda mais especial para aqueles que têm o privilégio de levar a imagem de São Cristóvão e puxar a fila de veículos sentido à capela. Hilário Fantoni, 78 anos, foi o responsável por conduzir o santo em uma das primeiras edições da procissão, em 1986. Apesar de já terem se passado mais de duas décadas, o morador do bairro Bela Vista ainda se lembra bem desse momento marcante em sua vida. “Grande parte da minha família morava no Gaspar Grande e como eu tinha uma caminhonete na época, os organizadores da festa de São Cristóvão me chamaram para carregar a imagem do padroeiro. Foi um dia muito especial para a família”, relembra Herlindo. Diferente das atuais edições, as primeiras

procissões reuniam apenas moradores da cidade, na maioria homens que trabalhavam como motoristas, e em quantidade bem menor. “Lembro que não havia muitos veículos no ano em que conduzi a imagem do santo. Participei de outras edições do evento e vi como cresceu e como aumentou o número de participantes”, destaca. Nos primeiros anos da procissão, quem conduzia a fila de motoristas eram pessoas da comunidade que se candidatavam a participar e eram escolhidas em sorteio realizado pelo Conselho Paroquial Comunitário, CPC, da capela. Entretanto, conforme o evento passou a crescer, o número de pessoas interessadas em participar também aumentou, o que fez com que os organizadores da festa tivessem que encontrar outras alternativas. “Percebemos que muitas empresas começaram a ficar interessadas em carregar o santo. Por isso, atualmente, a imagem do nosso padroeiro é levada pelas empresas da cidade que demonstram interesse. Fazemos uma conversa e entramos em um acordo com elas”, explica o atual tesoureiro do CPC da capela, Pedro Afonso de Almeida, o Pedrinho. Esse ano, quem vai manter viva essa tradição é a empresa Ceramfix, localizada no bairro Macuco. “Sempre ouvimos dos participantes que a emoção de carregar o santo é sem igual e acredito que cada pessoa que tem a chance de fazer isso é muito privilegiada”, afirma Pedrinho. ESPECIAL DIA DO MOTORISTA | CRUZEIRO DO VALE | JULHO | 2014 | 29


TRADIÇÃO MANTIDA Em 1983, aconteceu a primeira edição da Festa de São Cristóvão. Assim que começou a ser organizada, surgiu também a ideia de promover uma procissão com os diversos motoristas que existiam no bairro. “Não foi algo muito planejado. Sabia-se que o bairro Gaspar Grande contava com muitas pessoas que trabalhavam como motoristas e que seria bonito que eles se reunissem para carregar a imagem do padroeiro que tínhamos escolhido para o bairro. Foi assim que a procissão começou e, desde então, acontece todos os anos”, explica o tesoureiro do CPC. Da primeira caminhonete, que levava a imagem de São Cristóvão de forma tímida, a carreata se transformou em uma procissão que reúne centenas de motoristas de vários tipos de veículos, sendo que a cada edição da festa o número de participantes aumenta. No ano seguinte a Henrique Isen-

see, pioneiro da procissão, foi a vez de Luiz Isensee levar a imagem do santo, em 1985. Hilário Fantoni conduziu a imagem em 1986 e Cláudio da Silva em 1987. Logo em seguida, Arno Schmitt, em 1988, Augustinho Oliveira, em 1989, João Spengler, em 1990, e Jaime Zabel, em 1991, deram continuidade à tradicional procissão. Cide Oliveira, em 1992 e em 1994, Lauro Nunes, em 1993, Rubens Mendes, em 1995, João de Oliveira, em 1996, Valmor Keller, em 1997, Francisco Schneider, em 1998, e Júlio César Isensee, em 1999, também foram escolhidos para carregar a imagem do padroeiro em seus veículos. Completam a lista ainda José Zancanella, em 2000, Leopoldo Schminelli, em 2001, Valdemiro Mannrick, em 2002, Raul Isensee, em 2003, Valmir Keller, em 2004, Hélio Hostins, em 2005, Osvaldo Krauss, em 2006, Edevaldo e Ademir da Rocha, em ARQUIVO/CV

2007, Felix Beiler, em 2008, Hilário Mann, em 2009, Terraplenagem Caibi, em 2010, Jaime Schneider, em 2011, Britagem Barracão, em 2012, e Terraplanagem Schramm, em 2013. Para a procissão desse ano, que marcará o último dia da festa de São Cristóvão, são esperados mais de 500 veículos, entre carros e caminhões. A procissão terá início no Ginásio João dos Santos, bairro Poço Grande, e seguirá até a capela, no Gaspar Grande. O percurso de cerca de 10 quilômetros terá início às 7h15 e terminará poucas horas depois com a benção dada pelo Frei Germano Guesser em cada veículo participante. “Desde 2008 não recebemos menos de 400 veículos para participação do passeio. Tenho certeza que neste ano esse número vai aumentar e teremos novamente um evento muito bonito”. ARQUIVO/CPC SÃO CRISTÓVÃO

Em 2012, Britagem Barracão conduziu a imagem do santo padroeiro

Henrique Isensee foi o primeiro motorista a guiar o santo, em 1984

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ARQUIVO/CPC SÃO CRISTÓVÃO

ARQUIVO/CPC SÃO CRISTÓVÃO

No ano 2009, a tarefa ficou a cargo de Hilário Mann

Em 2000, José Zancanela teve a responsabilidade de conduzir o padroeiro


ARQUIVO/CPC SÃO CRISTÓVÃO

Programação A 31ª edição da Festa de São Cristóvão inicia na sexta-feira, dia 25, e segue até o domingo, dia 27 de julho. Durante os três dias do tradicional evento, são esperadas milhares de pessoas na capela do bairro Gaspar Grande, que poderão se divertir com a extensa programação preparada pelos organizadores. O primeiro dia de festejos inicia às 19h30, com a celebração do segundo dia do Tríduo. Logo em seguida, os participantes seguirão para o salão da capela, onde haverá completo serviço de bar e cozinha, roda da fortuna e sacola surpresa. Para finalizar o dia, acontece, a partir das 23h, a apresentação da Banda Água Vyva. No sábado, 26, a celebração do terceiro dia do Tríduo inicia às 19h e, novamente, a comunidade poderá participar dos festejos, que contará também com o tradicional churrasco. Nesse dia, haverá a apresentação da Banda 2010 do Paraná a partir das 22h. O último dia de festa começa cedo, às 7h15, com a procissão dos motoristas. O salão da capela estará à disposição dos participantes com um almoço e roda da fortuna. Para finalizar mais uma edição do evento, acontece, a partir das 16h, uma tarde dançante com a Banda 2010.

Com o passar dos anos, a Festa de São Cristóvão deixou de ser apenas a celebração de um padroeiro ou a lembrança do Dia do Motorista. Popularidade ganhou dimensão e importância na comunidade, que todos os anos aguarda o fim do mês de julho para acompanhar a procissão, missas, celebrações e muita animação. Em Gaspar, tradição ganhou ainda mais força com a passagem do tempo

ARQUIVO/CPC SÃO CRISTÓVÃO

ARQUIVO/CPC SÃO CRISTÓVÃO

Procissão de 1986 teve imagem do santo conduzida por Hilário Fantoni

Em 1996, procissão percorreu a cidade liderada por João de Oliveira ESPECIAL DIA DO MOTORISTA | CRUZEIRO DO VALE | JULHO | 2014 | 31


PISCICULTURA

Os lagos estão para peixe Cultivo de peixes de água doce como tilápia, carpa e, mais recentemente, jundiá, aumentam resultados e põem piscicultura como terceira principal atividade da agricultura gasparense A mesma data que é motivo de orgulho para os motoristas também é celebrada como o Dia do Colono. Alusão à chegada dos primeiros imigrantes alemães em solo brasileiro, o dia 25 de julho é uma ocasião para resgatar o reconhecimento e a valorização do trabalho do homem do campo, antecipando também as comemorações do Dia do Agricultor, comemorado no dia 28 do mesmo mês. Em Gaspar, o cultivo do arroz, com produção anual de 650 mil sacas, e a pecuária, com 12 mil cabeças de gado, são as duas principais atividades do setor de agricultura. Na terceira posição, porém, ao lado da criação de gado leiteiro, aparece um segmento que vem aumentando o destaque nos últimos anos: a piscicultura. Focada nas espécies de água doce, principalmente a tilápia e a carpa, a atividade já responde por uma produção de 500 toneladas ao ano, com expectativa de chegar até 600 ou 700 toneladas até o final de 2016.

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O secretário de Agricultura, Alfonso Hostert, avalia que o setor passou de uma atuação discreta para um momento de destaque em função de uma série de fatores. Os principais, segundo ele, são a existência de uma associação atuante, a Associação dos Aquicultores de Gaspar, Aquipar, e projetos como os desenvolvidos pelo Instituto Federal de Santa Catarina, IFSC, que visam a profissionalização e a melhoria dos processos de cultivo dos piscicultores gasparenses. “Esse setor foi abraçado e está experimentando resultados positivos. Temos um protocolo de intenções com o Banco do Brasil para atingir metas e buscar o financiamento de mais serviços voltados à piscicultura”, afirma. Atualmente a cidade já conta com dois abatedouros de peixes, que ajudam a aumentar o ritmo da produção e colocam o município com perspectivas animadoras neste segmento.


JUNDIÁ, O PEIXE DA VEZ O jundiá, peixe de pequeno porte nativo da região e com cultivo em alta nos últimos anos, foi tema de outro projeto ligado ao cultivo de peixe na região. Na terceira semana de julho, a cidade recebeu um dia de campo para apresentar os resultados do projeto desenvolvido pela Epagri, com recursos do programa SC Rural. O projeto ofereceu espécies de jundiá e ração para produtores interessados no cultivo. Em troca, todas as orientações dos técnicos do projeto tiveram que ser seguidas pelos produtores. O trabalho foi feito com quatro produtores, um de Gaspar e outros três das cidades de Blumenau, Luís Alves e Garuva. “Como o jundiá é um peixe da nossa região, a ideia da Epagri é implantar e trabalhar forte no cultivo desta espécie. Por enquanto temos apenas um produtor que está começando a trabalhar com jundiá, ainda em fase de pesquisa, já que ele exige essa adaptação por se tratar um peixe normalmente encontrado em açudes. Nosso objetivo é de que essa espécie represente um mercado a mais para a piscicultura local”, ressaltai Alfonso. O pesquisador e doutor em Piscicultura Hilton Amaral Júnior, que liderou o projeto, afirma que o trabalho ajudou a despertar mais a atenção dos produtores a essa espécie. “Nossa intenção foi solidificar o cultivo do jundiá, uma espécie nativa que tinha a comercialização praticamente zerada há cinco ou seis anos, mas que hoje, depois de vários projetos desenvolvidos, já registra mais de 1,5 mil toneladas ao ano. Conseguimos atingir os objetivos e orientar no total mais de 400 pessoas”, conclui.

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Visão do produtor A maioria da produção de peixes de água doce do município é comercializada diretamente para o consumidor final, principalmente por meio de pesque-pagues – estima-se que apenas 20% seja destinado a consumo fora da cidade. Um exemplo de produtor que aposta no cultivo e também na venda para o público frequentador de estabelecimentos do ramo é o Pesque-Pague Fernandão, na localidade Águas Negras, bairro Figueira. Há 20 anos trabalhando no setor, o proprietário José Fernando Sabel (foto abaixo, à direita), 58 anos, conta hoje com 12 lagoas e cerca de 80 mil peixes na engorda – 90% deles sendo tilápias e os outros 10% formado por carpas. Nos finais de semana o espaço fica repleto de visitantes, que aproveitam o tempo

para pescar, comprar e consumir os peixes cultivados nas lagoas. Mas essa não é a única forma de comercialização de peixes do estabelecimento. Há cerca de dois meses, o Fernandão inaugurou uma unidade para beneficiamento de peixe. As embalagens de um quilo de filé de tilápia preparadas no espaço são vendidas a restaurantes e, uma vez por semana, ao consumidor final na Casa do Agricultor, no bairro Sete de Setembro. “Faz tempo que as pessoas vinham pedindo um espaço semanal para comprar peixe. A demanda por peixe vivo diminuiu bastante, porque muita gente mora em apartamento e não tem mais como limpar o peixe, e isso favoreceu muito as vendas do filé já limpo e pronto para o preparo. A resposta até agora têm sido muito positiva e já estamos penDIVULGAÇÃO

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sando em ampliar as vendas para as sextas-feiras, no Sete de Setembro e também no Bela Vista”, comemora Fernandão. A estratégia, entretanto, vai além de novos pontos de venda para o consumidor final. No próximo ano, a expectativa é de que o filé de tilápia seja implantado na merenda das escolas e creches do município, o que pode fazer com que o produtor seja o primeiro agricultor familiar a fornecer alimentos para escolas da cidade. “Esse tipo de iniciativa é importante porque pode ajudar a fortalecer nas pessoas o hábito de comer peixe, que realmente proporciona uma alimentação mais saudável”, defende o produtor, que já adquiriu um carro adaptado para fazer o transporte dos pacotes de filé entre a própria unidade e o local de venda. JEAN LAURINDO


Projetos aprimoram trabalho dos produtores “Não basta dar o peixe, é preciso ensinar a pescar”. O ditado é seguido à risca no ramo da piscicultura. No embalo do aumento no cultivo de peixes de água doce no município, o setor de pesquisa científica também atraiu olhares para a piscicultura, com projetos que contribuem para a melhoria da produção no setor. Um desses exemplos está no campus de Gaspar do Instituto Federal de Santa Catarina, IFSC, que desde o começo do ano desenvolve o projeto “Desenvolvimento da Piscicultura em Gaspar”. O trabalho consiste em 10 atividades

como capacitações, assistência técnica, eventos técnico-científicos e ainda o desenvolvimento de um software para ajudar produtores a gerenciar a própria propriedade, com informações como ganhos e quantidade de peixes. “No início do projeto nos reunimos com a associação e a Secretaria de Agricultura, que pontuaram o que existia de necessidade dentro do setor deles. A ferramenta de gestão na área da informática foi apontada como uma das demandas dos produtores”, explica a professora Graciane Regina Pereira, coordenadora do projeto.

A partir de agosto, o projeto dará início às capacitações mensais com piscicultores da cidade para nortear o projeto de piscicultura continental. O projeto será desenvolvido até o final de 2015 e conta com parcerias com instituições como o IFSC de Itajaí, a UFSC e a Epagri. “Os piscicultores terão um curso de 160 horas com capacitação e visitas em campo para aprimorar o conhecimento nesta área. Será algo importante para estimular a produção de espécies como tilápia e jundiá”, afirma o secretário de Agricultura, Alfonso Hostert.

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VIDA NO CAMPO

Paixão, suor e versatilidade Envolvido com a agricultura desde a infância, Célio Benevenutti mantém a receita da satisfação com o trabalho rural apostando na diversificação da plantação

Uma paixão que passou de pai para filho é o que hoje leva o sustento e a alegria de viver a Célio Benevenutti. Morador do bairro Alto Gasparinho desde que nasceu, Célio encontrou na vida no campo uma grande paixão. Não tinha mais de 10 anos quando escolheu o que seria pelo resto da vida: agricultor. Desde a infância, vivida por entre a imensidão dos campos de plantação de frutas e grãos da família, até hoje, com 58 anos, ele ainda passa a maior parte de seus dias cuidando e colhendo dos alimentos plantados em suas terras. Célio até tentou se distanciar da vida no campo. Chegou a trabalhar em algumas empresas da região, mas sempre acabava voltando para a colheita. “Quando você gosta não tem o que fazer. Gosto da terra, de plantar, cuidar e colher alimentos. Gosto de viver ao ar livre e não preso em uma fábrica o dia inteiro sempre com uma rotina”, ressalta. Quando percebeu que não conseguiria viver longe da colheita, deixou o emprego e passou a se dedicar, novamente, ao cultivo de alimentos. Primeiro, o morador do Alto Gasparinho começou a plantar fumo. Percebendo as dificuldades no processo do plantio das mudas, ele partiu para o cultivo de repolho. Há mais de 15 anos é das plantações do vegetal que ele tira boa parte da sua renda mensal. “Não havia quase ninguém que plantava repolho na cidade. Além disso, o cultivo é mais

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simples e até mesmo econômico”, explica. Outro ponto positivo do cultivo do repolho é quanto ao tempo do plantio. No inverno, o tempo total chega a ser de 90 a 100 dias. Já no verão, esse número diminui para 75 dias.

Célio não trocaria a vida de agricultor por nenhuma outra profissão


DO PLANTIO À ENTREGA Com mais de oito mil pés do vegetal plantados em uma área de aproximadamente um hectare, Célio é responsável por abastecer o estoque de dois supermercados da cidade. Todos os dias, logo cedo, ele colhe de 100 a 250 pés de repolho para levar até os estabele-

cimentos. Todo o trabalho, desde o plantio até o transporte aos supermercados, é realizado por ele mesmo, que se mostra feliz por poder exercer o trabalho com tanto empenho. “Às vezes conto com a ajuda de uma pessoa que contrato, mas gosto de estar envolvido em to-

das as etapas do cultivo”. Com todo o tempo dedicado às plantações e carinho no manuseio de cada alimento, o agricultor chega a colher aproximadamente 25 mil pés por ano. Na região do Gasparinho, além de Célio, há mais um agricultor que cultiva repolho. JESSÉ ALMEIDA

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Amor à rotina no campo Não é apenas à plantação de repolho que Célio se dedica. Toda a sua rotina envolve os trabalhos no campo, sendo que muitos deles realiza apenas por prazer. Apesar de prazeroso, vida de agricultor não é fácil, tampouco simples. Diariamente, ele acorda antes do sol nascer, às 5h30. Antes de qualquer outra tarefa, vai logo tirar o leite da vaca e, às vezes, recolher os ovos da galinha. Antes das 7h, já está preparado para ir até a plantação de repolho dar início aos cuidados do dia. “Chega uma hora que você não faz mais tanto pelo dinheiro, mas sim pela

alegria que aquilo te proporciona. Costumo dizer que enquanto eu estiver de pé vou continuar plantando e colhendo”, afirma, com um sorriso no rosto, capaz de transmitir todo amor que sente pela vida que leva. Se naquele dia o cultivo do repolho não lhe toma muito tempo e atenção, parte para os cuidados com os outros alimentos que planta. Entre eles milho, aipim e arroz. “Viver só de um alimento não é fácil. É preciso partir para outros negócios também, por isso arrisco plantar o milho e o arroz”, conta. E não é só isso. Célio ainda dedica um pouco

do seu tempo para a produção de queijos coloniais e os cuidados com os animais de criação, como porcos, galinhas e marrecos. Entre todas as tarefas de agricultor, Célio não se esquece de ser pai, amigo e marido. No meio de tantos afazeres no campo, dedica-se ao máximo para não deixar a família, formada pela esposa e dois filhos, fora dos compromissos diários. “Meus filhos não seguiram meus passos, mas são meus maiores orgulhos. Diferente de mim, eles estudaram e se formaram na faculdade, o que é uma grande alegria em minha vida”, destaca. JESSÉ ALMEIDA

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Nossa homenagem a quem transporta as riquezas deste país com responsabilidade, profissionalismo e dedicação.

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